A MESSE É GRANDE E AS PESSOAS TRABALHADORAS SÃO POUCAS EM SANTO AGOSTINHO
24/10/2025
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V fez a
interpretação da Palavra de Deus do evangelista São Lucas na qual Jesus disse
aos seus discípulos que é preciso pedir ao dono da messe para que envie mais
pessoas para a messe, pois a messe é grande e as pessoas trabalhadoras são
poucas (cfr. Lc 10, 2). Vejamos como foi a análise do Bispo de Hipona, Santo
Agostinho em vista da atuação e oração pelas vocações.
Os setenta e dois discípulos
O evangelista São Lucas acrescentou aos doze discípulos,
outros setenta e dois discípulos onde Jesus os enviou dois a dois na messe já
pronta, e, necessitada de pessoas na evangelização. A messe na qual é falada
pelo Senhor, segundo Santo Agostinho seria o povo dos judeus1. O Senhor da
messe enviou para ele os ceifeiros, enquanto para as gentes, para outros povos,
Ele enviou os semeadores2. Como é que foi justificada a diferença? O fato era
que a messe cresceu no povo dos judeus, dos quais dentre estes o Senhor
escolheu os apóstolos. Nestes locais e terras já era madura a colheita na qual
fora semeada, porque também os profetas haviam semeado e no tempo de Jesus
pediu que se rezasse para o aumento de pessoas na messe.
O cultivo de Deus
Santo Agostinho afirmou que é bom contemplar o cultivo de
Deus, alegrar-se pelos seus dons e trabalhar no seu campo4. Ele disse ainda que
neste cultivo trabalhou o Apóstolo São Paulo que afirmou que ele tinha doado
mais que todos os outros apóstolos, das quais as forças vinham do Dono da
messe: o Senhor Jesus. Desta forma o apóstolo disse que não era ele, mas a
graça de Deus que atuava nele (cfr. 1 Cor 15,10)5. O Bispo dizia que a
diferença de Paulo e de Pedro era que o apóstolo Paulo fora enviado para os pagãos,
sendo semeador, enquanto para o apóstolo Pedro seria enviado entre os judeus,
circuncisos (cfr. At 15,7), sendo ceifador.
A messe entre dois povos
A messe, o cultivo de Deus deu-se em dois momentos: uma já
passada, e a outra futura. Se a passada foi com o povo dos judeus, a futura
será dada entre os povos pagãos7. Na atualidade é preciso anunciar e viver a
dimensão do Reino de Deus com pessoas disponíveis, vocacionadas, de modo que é
preciso pedir mais pessoas à messe.
Jesus enviou os seus discípulos afirmando a eles que não
estariam isentos de perseguições ao afirmar que eles iriam como ovelhas em meio
aos lobos (cfr. Lc 10,3). Santo Agostinho afirmou também o encontro de Jesus
com a mulher samaritana, quando Ele disse para ela ser o Messias esperado por
todas as pessoas. Ela disse que o Messias, o Cristo deveria chegar pois foi
anunciado por Moisés e pelos profetas (cfr. Jo 4, 25-26). A messe estava bem
presente em Moisés e os profetas como semeadores enquanto os apóstolos seriam
os ceifadores8. A mulher acreditou nas palavras do Senhor de que Ele era o
Messias e por isso ela deixou o balde perto do poço e foi anunciar ao seu povo
que encontrou o Senhor. Se ela tinha a idéia da vinda de Cristo, no entanto ela
acreditou na sua vinda porque ela o viu de modo que acreditou porque outras
pessoas semearam antes pela vinda de Jesus Cristo9. Na verdade, trabalharam
Abraão, Isaac, Jacó e os profetas semeando palavras e ações à vinda do Senhor,
de modo que quando chegou o Senhor, a messe já estava madura, sendo
necessitados de ceifeiros.
O semeador é o Senhor
Jesus é o semeador, porque sem ele não é possível fazer nada
(cfr. Jo 15,5). As sementes caíram em diversos terrenos como aquele ao longo do
caminho, em meio às pedras, entre os espinhos e por fim na terra boa, de modo
que é preciso acolher a Palavra de Deus para produzir ações boas que enalteçam
o Senhor e o Reino de Deus (cfr. Mt 13,23)11. Todo o povo de Deus é chamado a
semear, plantar, acolhendo docilmente a presença do Senhor para que de fato a
messe tenha as pessoas operárias que trabalhem e fazem frutificar a vida pelo
Reino de Deus.
O desprendimento das coisas
Jesus recomendou aos discípulos o desprendimento de muitos
bens para não levar sacola e outras coisas (cfr. Lc 10,4-6). A pessoa que
anuncia o Senhor para outras pessoas é chamada a ser uma pessoa de paz para
aquela casa, seus moradores (cfr. Lc 10,5). Se Jesus pede de seus discípulos o
desprendimento é porque Ele quer que eles não caíam no orgulho, na soberba, na
vaidade de que façam as coisas por atitudes individuais, mas sim por vida
comunitária13. As pessoas missionárias eram chamadas à abertura do espírito,
para que todos amem a missão e tenham vez e voz na vida comunitária, familiar e
no Reino. Se o Senhor pediu fidelidade também no desprendimento para não saudar
nenhuma pessoa ao longo do caminho, era porque a saudação comprometia um tempo
precioso que deveria ser dado ao Evangelho, a boa nova da salvação, ao anuncio
do Reino de Deus, da pessoa de Jesus Cristo (cfr. Lc 10,4).
Os pregadores do Senhor
O Senhor desejou que os seus discípulos fossem os seus
pregadores, anunciando a boa nova do Reino, a salvação. Eles eram chamados a
pregar a paz e possuí-la pela presença do Senhor, não ficando apenas no
discurso, mas porque a possuía em si, deveriam transmiti-la pelo contato com
Jesus15. A paz na terra é amor, caridade entre as pessoas e os povos através da
ação evangelizadora que cada pessoa cristã é chamada a fazer com alegria e com
amor porque Jesus está com os seus discípulos, que os enviou, envia hoje em
missão porque a messe é grande e os operários são poucos. Para isso o Senhor
pede de toda a pessoa seguidora dele, a oração para que mais pessoas trabalhem
na missão, no anúncio da paz, do Reino de Deus aqui e agora e um dia na
eternidade.

Nenhum comentário:
Postar um comentário