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quinta-feira, 13 de abril de 2023

Ressurreição: o nosso Deus é um Deus vivo!

A face de Cristo / Vatican News

Mas se este Jesus está vivo, por que aparece ainda pregado na cruz? Pode alguém perguntar. A cruz é o símbolo do gesto máximo do Amor de Cristo por nós. É a recordação de quanto custou ao Deus feito homem a nossa libertação: sua vida, seu sangue, seu martírio.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça - Chanceler da Diocese de Nova Friburgo

Entre as sombras da dúvida, do nada, do silencio do peito, do esvaziamento do cosmo, surge a vida! O glorioso Sol rasga as trevas, numa manhã solene de Ressurreição! O túmulo vazio. Os guardas atônitos. Os apóstolos vibrantes de certeza! "Nosso Cristo está vivo!" , Os materialistas repetem desde sempre a mesma mentira: " Roubaram o corpo";" Jesus Cristo foi apenas um homem contra o sistema e está morto", Míopes em suas mancas afirmações e adoradores da surda-muda matéria , teimam em não sair de suas cavernas frias para a luz aquecedora do Amor de Cristo.

Os nossos domingos já não podem ser os mesmos! Existe um brilho diferente no ar, na calma da natureza apoteótica a bradar Aleluia! Como naquele dia luminoso, aos olhos perplexos dos discípulos, o Senhor se elevava aos céus e prometia o seu Espírito e a sua nova vinda para recolher.

Mas se este Jesus está vivo, por que aparece ainda pregado na cruz? Pode alguém perguntar. A cruz é o símbolo do gesto máximo do Amor de Cristo por nós. É a recordação de quanto custou ao Deus feito homem a nossa libertação:  sua vida, seu sangue, seu martírio. Se alguém dá a vida por nós, não podemos esquecer tal ato. O sacrifício da cruz é o grande sinal do Amor cristão, o Amor que não só vibra com a festa da vida, mas se solidariza e se doa nos sofrimentos e cruzes do irmão. Para nós, católicos, Jesus está vivo, sim, presente entre nós, Ressurreto, fulguroso e poderoso, mas sabemos o quanto sofreu por nós e , por isso, a sua cruz é para todos  um instrumento-símbolo de salvação.

Nestes ventos de Ressurreição, devemos nos perguntar sobre nossos passos , sobre nossos rumos, sobre nossos corações...A luz que se acendeu há quase dois mil anos não se apagou...Ela se multiplica nos círios, no peito, nos sacrários do mundo inteiro, na chama da fé dos povos, na esperança ígnea que não se prostra nem mesmo com as bombas e perseguições, nem com as explosões de néon do ateísmo, do capitalismo selvagem. Ela se expande no brilho simples da verdade que quebra os sofisticados e ocos sofismas, meticulosamente talhados nas indústrias da exploração humana.

Este Deus vive entre nós. Vive em nós. Sua ação pasma a História, abrindo o mar com mão firme , curando toda enfermidade, transformando água em vinho, transubstanciando o próprio vinho em seu sangue, o pão em sua carne :Eucaristia-Ressurreição! Os véus do templo se rasgam de cima a baixo. Seu Sudário permanece de século em século, questionando a análise dos químicos, médicos, cientistas em geral, ou de qualquer cético que queira apalpar a configuração do Senhor. Ei-lo! Eis o Homem! Como apresentou Pilatos. Todo chagado e marcado por chicotes ferinos . Eis o Cristo de olho vazado pelos espinhos da coroa e sobre esta vista a imagem de uma moeda romana, conforme o costume. Vejam o que queriam ver. Um Deus-homem impresso em negativo em um linho antiquíssimo, com pólen do século primeiro, pela explosão luminosa de sua Ressurreição! Reconheçam que não há pintura em negativo com sangue AB judeu de quase dois mil anos que permaneça nítida após tantas intempéries. Figura que não é pintada e que após fotografia de um pesquisador, curiosamente aparece em positivo e apresenta tridimensionalmente o Senhor sofredor, sem nenhuma distorção em computador (o que normalmente aconteceria), o que só hoje, no século XXI, os cientistas conseguiram colocar impresso em 3D.

A precisão dos traços e marcas da Paixão...funduras das chagas, inchações, todo o desenho anatômico das lesões, constatado por renomados cirurgiões, digitais de quem o transportou nas plantas dos seus pés... O que mais falta? O que mais? Frente às exigências empíricas dos que no fundo acham incômodo CRER, Jesus ressuscitado diz ao Tomé de cada século: "Vem e vê. Poe o teu dedo em minhas chagas e no meu lado! Sou eu! Estive morto, mas venci a morte! Abre teu coração agora e abandona tua soberba! Tu creste porque viste. Felizes aqueles que creem, mesmo sem ver"

Caros irmãos, o nosso Deus é um Deus vivo! E você é convidado a viver e a beber desta fonte e a nunca mais ter sede!

Feliz Páscoa!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Três lugares podem ser Emaús, onde Jesus ressuscitado apareceu

Jesus ressuscitado e os discípulos de Emaús /Domínio Público-
Wikipédia
Por Abel Camasca

JERUSALÉM, 12 Abr. 23 / 12:02 pm (ACI).- Os franciscanos presentes na Terra Santa participaram de uma celebração pascal no lugar onde acreditam que Jesus ressuscitado apareceu aos discípulos de Emaús. Duas outras cidades, no entanto, afirmam ser o lugar da aparição.

O último capítulo do Evangelho de São Lucas (24,13-35) narra que Jesus apareceu a dois dos seus seguidores que iam a caminho de Emaús, um dos quais é chamado de Cléofas.

O Ressuscitado falou com eles como um forasteiro e, ao ouvir que eles estavam tristes com a morte do Messias, explicou-lhes as Escrituras até muito tarde. Os discípulos pediram-lhe então que ficasse com eles na cidade e só o reconheceram quando Cristo partiu o pão. No entanto, o Senhor naquele momento desapareceu.

Segundo a Custódia da Terra Santa, há três locais que dizem ser o local onde ocorreu este evento bíblico.

Os cristãos do século III acreditavam que a aparição ocorreu em Emaús-Nicópolis. Embora o nome coincida, a cidade não fica à mesma distância dada por são Lucas que diz explicitamente que a cidade ficava a 60 estádios, mais ou menos 12 km, de Jerusalém. Emaús-Nicópolis dista 30 km de Jerusalém.

Por volta do século XII, na época das cruzadas, procurou-se um local mais próximo da Cidade Santa. Foi proposta antiga cidade de Kiriat-Yaarim, , conhecida hoje como Abu-Ghosh, onde os cruzados haviam erguido a fortaleza de Fontenoid.

Tradições populares se referem a um terceiro lugar: a cidade de El Qubeibeh, porque fica junto a um caminho que levava a Jerusalém e à distância dita pelo evangelista. Acredita-se que tudo isso influenciou os franciscanos a se instalarem ali no século XIV.

Foi nesse local, os frades da Custódia da Terra Santa se reuniram na basílica da Manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo na segunda-feira (10).

Pela manhã houve uma missa rezada pelo padre Francesco Patton, Custódio da Terra Santa. Em seguida, alguns pães abençoados foram distribuídos aos fiéis, recordando assim o gesto do pão partido que Jesus deu aos discípulos de Emaús.

Fonte: https://www.acidigital.com/

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Exemplos de fé: o profeta Elias

O profeta Elias é levado aos céus em um carro de fogo (Opus Dei)

Exemplos de fé: o profeta Elias

Quarto texto sobre a virtude da fé, o ponto de partida é a vida do profeta Elias, que teve uma grande intimidade com Deus.

24/10/2014

Depois de Abraão, Moisés e David, surge um dos homens mais célebres do Antigo Testamento: o profeta Elias, que o Catecismo da Igreja Católica designa como «o pai dos profetas, “da geração dos que procuram Deus, dos que buscam a Sua Face” (Sal 24, 6)»[1], e que, como Moisés, foi um grande amigo de Deus. O seu exemplo pode servir-nos para considerar uma exigência da fé: a necessidade de uma grande intimidade com o Senhor. A vida de Elias – que «era um homem semelhante a nós»[2] – mostra como Deus ajuda aqueles que recorrem a Ele por meio da oração, especialmente nas dificuldades.

O profeta Elias no deserto (Opus Dei)

Que todo este povo saiba que Tu, Javé, és Deus

Elias, o tisbita, viveu no reino de Israel durante o século VIII a.C. O seu nome, que significa «o meu Deus é Javé», sintetiza o aspeto central da sua missão: lembrar que Javé é o único e verdadeiro Deus e que só a Ele se deve dar culto. E fazê-lo precisamente quando o rei Acab, por influência da sua mulher Jezabel, adorava um deus estrangeiro e o culto ao verdadeiro Deus convivia com a idolatria[3]. «O povo adorava Baal, o ídolo tranquilizador do qual se acreditava que derivava o dom da chuva e ao qual, por isso, se atribuía o poder de dar fertilidade aos campos e vida aos homens e ao gado. Embora pretendesse seguir o Senhor, Deus invisível e misterioso, o povo procurava a segurança também num deus compreensível e previsível, do qual julgava que podia obter a fecundidade e a prosperidade»[4].

Nesta situação, Deus escolherá Elias para ser seu porta-voz diante dos homens. O profeta anuncia a Acab as consequências da sua apostasia: «pela vida do Senhor, Deus de Israel, a quem sirvo: nestes anos não haverá nem orvalho nem chuva, senão quando eu disser!»[5].

Anos mais tarde, quando os efeitos da seca se tornaram dramáticos[6], o Senhor envia de novo Elias ao rei. O profeta pede a Acab que reúna todo Israel e os profetas de Baal no monte Carmelo. O rei concorda, e então Elias lança o seu desafio: «Eu sou o único profeta do Senhor que resta, ao passo que os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta. Que nos deem dois novilhos. Eles que escolham um novilho e, depois de cortá-lo em pedaços, o coloquem sobre a lenha, sem pôr fogo por baixo. Eu prepararei depois o outro novilho e o colocarei sobre a lenha, e também não lhe porei fogo. Em seguida, invocareis o nome de vosso deus e eu invocarei o nome do Senhor. O deus que ouvir, enviando fogo, este é o Deus verdadeiro»[7]. A proposta foi colocada para que todos possam reconhecer quem é o verdadeiro Deus, já que o pecado do povo não consistia em ter esquecido completamente o Senhor, mas em colocá-lo junto a outro deus.

As invocações dos numerosos profetas de Baal prolongam-se por várias horas, porém não conseguem nada. Ao contrário, a oração de Elias encontra uma resposta imediata: cai fogo do céu que consome o novilho, a lenha e inclusive a água que o profeta havia mandado derramar em abundância sobre a vítima do sacrifício. Diante da evidência, o povo exclama unânime, com o rosto por terra: «O Senhor é o verdadeiro Deus!»[8] O culto a Baal, deus da chuva, tinha-se revelado falso e a existência de outros deuses além de Javé fica descartada.

Durante o confronto, Elias move-se com a serenidade da fé, com a certeza de quem sabe que se encontra nas mãos de quem é mais forte do que a natureza e do que os homens. As zombarias que dirige aos profetas de Baal enquanto invocam o seu deus são o resultado bem eloquente da sua confiança em que o Senhor intervirá em seu favor: «Gritem mais alto, já que ele é um deus. Quem sabe se está meditando, ou ocupado, ou viajando. Talvez esteja a dormir e precise de ser despertado.» [9].

Com razão se pode chamar a Elias o profeta do primeiro mandamento, que manda crer em Deus e adorá-Lo, amando-O sobre todas as coisas, sem ir atrás de outros deuses[10]. Elias defende a primeira consequência do preceito: dar culto só ao Senhor.

Explicava Bento XVI: «somente assim Deus é reconhecido por aquilo que é, Absoluto e Transcendente, sem a possibilidade de lhe pôr ao lado outros deuses, que O negariam como Absoluto, tornando-o relativo. Esta é a fé que faz de Israel o povo de Deus; trata-se da fé proclamada no conhecido texto do Shemá Israel: “Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, toda a tua alma e todas as tuas forças” (Dt 6, 4-5)»[11].

O homem não pode pôr o único Deus junto a outros deuses. Mesmo que tenham passado muitos séculos e as circunstâncias atuais sejam diferentes das do antigo Israel, a tentação de tirar Deus do lugar que lhe corresponde continua tão presente como outrora.

Ao descobrir na nossa própria vida interesses, gostos, ou preocupações que tendem a ocupar o primeiro lugar na cabeça ou no coração, podemos pedir ao Senhor que avive a nossa fé e a torne realmente operativa, de modo que nada – nem uma criatura, nem um pensamento ou desejo do nosso próprio eu – diminua a dedicação total que Lhe devemos.

Como nos recorda o Papa Francisco, «cada um de nós, na própria vida, de maneira consciente e talvez às vezes sem dar-nos conta, tem uma ordem muito precisa das coisas consideradas mais ou menos importantes. Adorar o Senhor quer dizer dar-Lhe o lugar que Lhe corresponde; adorar o Senhor quer dizer afirmar, crer – mas não simplesmente de palavra – que unicamente Ele guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o Senhor quer dizer que estamos convencidos que Ele é o único Deus, o Deus da nossa vida, o Deus da nossa história»[12].

A atuação de Elias anima-nos também a ser valentes à hora de dar testemunho público da nossa fé, diante das intenções – velhas, mas que se renovam continuamente – de reduzir a religião a uma questão particular. Pretende-se excluir da vida social toda a referência a Deus, como se falar Dele ofendesse algumas sensibilidades.

Para Elias, a sua própria fidelidade ao Senhor não é suficiente. No Monte Carmelo reza para que todo o Israel saiba que Javé é o verdadeiro Deus, que converte os corações[13]. A fé não pode ficar fechada: «nasce da escuta, e fortalece-se no anúncio»[14], «implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que crer é um facto privado»[15].

Elías e Moisés acompanham o Senhor na Transfiguração (Opus Dei)

Toma a minha vida, pois eu não sou melhor do que os meus pais!

Após o holocausto do Carmelo, o povo reconhece que Javé é Deus. Pouco depois o rei será testemunha de como o profeta consegue do Senhor o fim da seca[16]. Porém no momento em que se poderia considerar o maior triunfo de Elias, a sua história sofre uma reviravolta inesperada: a esposa do rei, indignada pelo que ele fez, propõe-se executá-lo. Diante da ameaça, Elias tem medo e foge, fugindo deserto adentro. Extenuado pela caminhada e pela amargura que devia experimentar ao ver-se abandonado diante do ódio da rainha, desejou a morte dizendo: «agora basta, Senhor, toma a minha vida, pois não sou melhor do que os meus pais»[17].

Durante anos, Elias foi a única testemunha de Deus em Israel; além disso acabara de enfrentar quatrocentos e cinquenta profetas de Baal diante de todo o povo e com a hostilidade do rei. Agora, em troca, aterroriza-se diante das ameaças de Jezabel e foge para o mais longe possível. Onde ficou a sua segurança? Já não confia no Senhor, que o acompanhou até agora com tantos prodígios?

Também há episódios na vida de S. Josemaria em que, como Elias, experimentou o medo. Por exemplo, na véspera do dia 2 de outubro de 1936. Eram os primeiros meses da guerra civil espanhola, e o nosso Fundador estava escondido em Madrid com outras pessoas, quando lhe anunciaram uma rusga militar iminente que lhes poderia acarretar o fuzilamento. Ante a proximidade da morte, sentiu «por um lado, a alegria imensa de ir unir-me definitivamente com a Trindade; por outro, a clareza com que Ele me fazia ver que eu não valho nada, não posso nada, e, por isso, tremia com autêntico medo»[18].

Elías com a viúva de Sarepta e o seu filho (Opus Dei)

Talvez não tenhamos passado por uma situação tão extrema, mas podemos ter sentido o desalento ao receber uma má notícia, ou diante de um aparente fracasso apostólico, ou ao comprovar o tamanho da própria miséria. No entanto, Deus conhece melhor que nós o pouco que somos: só nos pede «a humildade de o reconheceres e a luta para retificares, para O servires cada vez melhor, com mais vida interior, com uma oração contínua, com a piedade e com o emprego dos meios adequados para santificares o teu trabalho.»[19]

Como a Elias, as circunstâncias adversas devem levar-nos a invocar confiada e sinceramente o Senhor. É o momento de exercitar a virtude da fé, que, unida à esperança, se torna mais necessária na hora da solidão e do aparente fracasso do que na hora do triunfo e da aclamação popular. A oração de Elias nesse momento de desânimo foi uma oração agradável a Deus, porque vinha de um coração sincero e humilde, que ardia de zelo pelas coisas do Senhor e aceitava tudo o que dele pudesse vir. E diante dessa oração, a resposta não demora a chegar: por duas vezes, Deus envia um anjo, que o acorda e manda que coma e beba. Elias «levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus»[20].

Nosso Senhor não abandona os que trabalham por Ele. Elias, o homem de Deus, viveu Dele em todo o momento; Deus sustentou-o nas adversidades, ajudando-o a perseverar, deu-lhe os meios de que necessitava para cumprir a sua missão. Apesar das dificuldades e dos altos e baixos, vemos que a sua vida foi fecunda, serena, feliz. Os profetas de Baal, pelo contrário, recebiam o seu alimento na corte. Talvez pensassem que adulando a rainha, dobrando os joelhos diante de Baal, asseguravam para si uma vida tranquila. Não foi assim: é preferível sentar-se à mesa do Senhor que à dos ídolos; é melhor ser escravo do Senhor que escravo do pecado[21].

Não há maior liberdade para o homem do que a de reconhecer a sua condição de criatura e adorar a Deus: esse é o remédio mais eficaz contra todas as idolatrias: «quem se inclina perante Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno, mesmo que seja forte. Nós, cristãos, só nos ajoelhamos diante do Santíssimo Sacramento»[22].

Juan Carlos Ossandón

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[1] Catecismo da Igreja Católica, 2582.

[2] Tg 5, 17.

[3] Cf. 1 Re 16, 31.

[4] Bento XVI, Audiência geral, 15/06/2011.

[5] 1 Re 17, 1.

[6] Cf. 1 Re 18, 5.

[7] 1 Re 18, 22-24.

[8] 1 Re 18, 39.

[9] 1 Re 18, 27.

[10] Cf. Dt 6, 14.

[11] Bento XVI, Audiência geral 15/06/2011.

[12] Francisco, homilia, 14/04/2013.

[13] Cf. 1 Re 18,37

[14] Francisco, homilia, 14/04/2013

[15] Bento XVI, Motu próprio Porta fidei, 11/10/2011, n. 10

[16] Cf. 1 Re 18, 41-46

[17] 1 Re 19,4

[18] Palavras de S. Josemaria publicadas em J. Echevarría, Lembrando o Beato Josemaría Escrivá. Diel, Lisboa, 2000

[19] S. Josemaria, Forja, n. 379

[20] 1 Re 19,8

[21] Cf. Amigos de Deus, nn. 34-35

[22] Bento XVI, homilia na solenidade do Corpus Christi, 22/05/2008

Fonte: https://opusdei.org/pt-pt

Manuscrito mostra como a Páscoa era calculada na Idade Média

Wikimedia Commons | domena publiczna
Por Daniel R. Esparza

O raro manuscrito que ajuda o leitor a determinar a data da Páscoa está agora à venda por cerca de 16.500 dólares.

A Coleção Raab é um nome reconhecido internacionalmente em importantes documentos históricos. De acordo com seu site, eles “pesquisam o mundo, encontrando documentos históricos importantes e levando-os à nossa clientela historicamente apaixonada”.

Agora, eles podem ter encontrado um raro tesouro tardio-medieval: um dispositivo mnemônico escrito em latim (um Cipher) que só pode ser lido (ou seja, literalmente decifrado) por alguns poucos instruídos, de um breviário do século XV. O manuscrito está avaliado em 16.500 dólares e está atualmente à venda.

Antes de 1420, os livros de devoção (na maioria breviários) eram feitos sob encomenda, refletindo assim os interesses e devoções de determinada pessoa. Os breviários continham trechos de salmos, leituras do evangelho, hinos e orações para orientar o leitor em sua oração diária no horário canônico fixo.

Segundo o Medievalists.com, o manuscrito encontrado, de origem flamenga ou luxemburguesa, “usa uma série complexa de letras e frases para ajudar o leitor a determinar o que permanece uma festividade móvel: a Páscoa”.

Na época medieval, sua data tinha que ser calculada usando uma combinação de matemática e astronomia – isto é, computus.

Computus, a ciência medieval de calcular horas e datas, usava a poesia como um dispositivo mnemotécnico. Isto facilitava a memorização de algumas informações por parte dos estudantes.

Computus foi muitas vezes aplicada “ao complicado e às vezes controverso cálculo da data da Páscoa, uma data altamente variável e ocasionalmente controversa que se baseia em calendários lunares, na data da celebração judaica da Páscoa, e se o observador está ou não no calendário juliano ou gregoriano”, explica o site da Raab. Na verdade, a Páscoa permanece celebrada em dias diferentes no Ocidente do que no Oriente até hoje, devido a essas diferenças de cálculo.

O manuscrito oferecido pela Coleção Raab é uma coleção de páginas de um livro outrora maior, incluindo uma cifra rara desenvolvida em 1402 por um inglês chamado John de Foxton.

Foxton é o autor de uma obra enciclopédica chamada Liber Cosmographiae, que incluía uma linha de poesia acompanhada de várias cartas não relacionadas, escritas em vermelho, que atuam como um desses dispositivos mnemônicos para descobrir a data da Páscoa.

O manuscrito foi provavelmente encomendado por um clérigo que usou seu livro de orações tanto para as devoções diárias quanto para os assuntos mais complexos do calendário cristão.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Dom Murilo Krieger: A vitória do amor

Dom Murilo S. R. Krieger, scj (Vatican Media)

Dom Murilo: "nossa vida, mesmo em seus momentos mais simples, tem um valor imenso, porque estão revestidos da marca da eternidade. Afinal, somos conduzidos por uma certeza: Jesus Cristo está vivo".

Dom Murilo S. R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia

É comum, em algumas regiões do Oriente, os cristãos saudarem-se mutuamente de maneira otimista: "Cristo ressuscitou!”, proclama um. “Sim, ele ressuscitou verdadeiramente!", responde o outro. Por trás dessa saudação há uma convicção: esse é o fato central da vida cristã.

Tal afirmação é tão importante que, no início da pregação do Evangelho, quando chegavam em um lugar que nada sabia a respeito de Jesus Cristo, os apóstolos começavam anunciando sua ressurreição: “Jesus Cristo ressuscitou. Ele está vivo!”  A convicção e a esperança que os pregadores transmitiam por falarem de alguém que morreu e agora estava vivo despertava o interesse dos ouvintes. A partir daí, pouco a pouco, os evangelizadores passavam a falar também de outros aspectos da vida e da mensagem de Jesus de Nazaré. 

Dirigindo-se aos que estavam em Jerusalém, no dia de Pentecostes, o apóstolo Pedro foi claro: "Deus ressuscitou este mesmo Jesus, e disso todos nós somos testemunhas" (At 2,32). O apóstolo Paulo, por sua vez, de tal maneira estava marcado por esse acontecimento que considerava vazia e sem sentido a vida cristã, se não estivesse baseada na ressurreição de Cristo: "Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé... Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados” (1Cor 15,14-17).

"Cristo ressuscitou! Sim, ressuscitou verdadeiramente!" Não é fácil acreditar e ser otimista, quando tudo nos convida ao contrário: a guerra na Ucrânia que parece não ter fim; uma série de conflitos se multiplicam pelo nosso planeta; os meios de comunicação divulgam notícias a respeito de desemprego e do aumento do número de pobres e famintos; o egoísmo domina o relacionamento humano; cresce o império da pornografia, das armas e das drogas; os direitos humanos são pisoteados um pouco por toda a parte e muitos passam a ter a impressão de que o filósofo Hobbes tinha razão, quando afirmava: "O homem é o lobo do homem".

Talvez seja difícil para muitos acreditar, hoje, em Jesus Cristo, em sua mensagem de amor e de perdão, em seu anúncio marcado pela esperança e pela paz. Quanto mais não terá sido difícil acreditar quando aquele que é a razão de nossa fé e de nossa esperança estava pendurado na cruz? Ficavam sem resposta os apelos dos que contemplavam: "Se és o filho de Deus, desce da cruz... Salva-te a ti mesmo!... Desce da cruz e acreditaremos em ti.". Provavelmente eles não ouviram uma pregação de Cristo em que outros já haviam pedido sinais extraordinários: "Esta geração pede um sinal e não terá outro sinal que o do profeta Jonas... Como Jonas esteve no ventre da baleia três dias e três noites, assim também o filho do homem estará no seio da terra três dias e três noites" (Mt 12,38-40).

No centro de nossa fé há uma grande certeza, que é garantia de nossa vitória: "Cristo ressuscitou!" Foi essa a certeza dada pelo Anjo às mulheres que, na manhã do terceiro dia, foram ao sepulcro de Jesus (cf. Mt 28,1-8). “Ele ressuscitou dos mortos!”, completou o Anjo. Essa afirmação queria deixar claro que ele morreu verdadeiramente, e não apenas aparentemente. Morreu como qualquer homem. Mas a morte não teve a última palavra. A última palavra é da vida: ele está vivo! O Anjo foi além: “Ressuscitou como havia dito!” Portanto, aquele que ressuscitou é o mesmo Jesus que havia pregado na Palestina e que havia antecipado a sua morte. Esta, pois, é a “boa nova” que, a partir daí, os apóstolos passaram a proclamar: “Jesus de Nazaré ressuscitou!” Aqui está o núcleo central da mensagem cristã!

 Nossa vida, mesmo em seus momentos mais simples, tem um valor imenso, porque estão revestidos da marca da eternidade. Afinal, somos conduzidos por uma certeza: Jesus Cristo está vivo; ele está no meio de nós, acompanha nossos passos e espera que lhe sejamos fiéis para nos dar, um dia, o prêmio eterno!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Oitava de Páscoa

Oitava de Páscoa e Círio Pascal (comunidadeoasis)

OITAVA DA PÁSCOA

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou. Não morrerei, mas ao contrário, viverei para cantar as grandes obras do Senhor! (Sl 117) 

Durante os primeiros oito dias do Tempo Pascal, também conhecido como Oitava de Páscoa, celebramos solenemente a Ressurreição de Jesus. É um período em que vivenciamos e festejamos este acontecimento tão importante para a nossa fé. A Oitava da Páscoa é um momento de relembrar a importância do sacrifício de Jesus e de renovar a nossa fé em Deus. 

A Oitava da Páscoa faz parte do Tempo Pascal, um período de 50 dias que se estende até a celebração de Pentecostes. Durante esse período, o Círio Pascal é aceso em todas as celebrações, simbolizando o Cristo Ressuscitado ou a Luz de Cristo. O Círio é consagrado e preparado na Vigília Pascal e permanece aceso até o domingo de Pentecostes. Essa imponente coluna de luz nos conduz para a libertação total da vida. 

A Páscoa de Jesus deve ser uma realidade diária em nossas vidas e na ação pastoral da Igreja, mas é durante esses oito dias que a celebração é ainda mais vigorosa. Durante a Oitava da Páscoa, o hino de louvor é entoado em todas as missas. 

Devido à grande relevância deste acontecimento em nossa história e em nossas vidas, na Oitava Pascal celebramos a cada dia como se fosse domingo, solenizando a Ressurreição de Jesus como se fosse um único dia. Isso nos convida a experimentar a Vida Nova em Cristo e a renovar constantemente a nossa fé nesta grande promessa divina. Convém, também, cantar nestes dias a Sequência Pascal. 

Com fé e confiança no Novo Tempo que se inicia, devemos ser corajosos e permanecer na luz daquele que foi crucificado e ressuscitou: Jesus Cristo. 

Nesse período, somos chamados a meditar sobre a mensagem de esperança e salvação que é transmitida pela ressurreição de Jesus. É um momento de reflexão sobre o amor de Deus por nós e sobre a necessidade de seguirmos os seus mandamentos e vivermos de acordo com a sua vontade. 

A Oitava da Páscoa é também um momento de união e confraternização entre os fiéis. É uma oportunidade para estreitar os laços de amizade e fraternidade, compartilhando a alegria da ressurreição de Jesus com os outros. 

Além disso, a Oitava da Páscoa nos lembra da importância da nossa própria ressurreição. Assim como Jesus ressuscitou dos mortos, nós também teremos a oportunidade de ressuscitar e viver eternamente junto a Deus, desde que vivamos de acordo com a sua vontade. 

Vivamos plenamente este tempo de graça que a Igreja nos oferece e possamos desfrutar de suas bênçãos. A Igreja nos presenteia com oito dias de Oitava Pascal, porque compreende que um mistério tão grandioso não pode ser celebrado em apenas um dia, necessitando-se de mais tempo para fazê-lo.  

Que seja um tempo de agradecimento e louvor a Deus por tudo o que Ele fez por nós. Um momento de reconhecimento da sua bondade e misericórdia, que nos permitiram ter acesso à vida eterna por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo. 

Que possamos renovar a nossa fé em Deus, compartilhar a nossa alegria com os outros e refletir sobre a mensagem de esperança e salvação que é transmitida pela ressurreição de Jesus. Que possamos viver de acordo com a vontade de Deus e estar prontos para a nossa própria ressurreição, para viver eternamente junto a ele. 

Saudações em Cristo Ressuscitado! Aleluia, Aleluia, Aleluia!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Da árvore da cruz germina a verdadeira esperança

Papa Francuisco (osservatoreromano)

Catequese — Reflexão do Papa Francisco na vigília do Tríduo pascal

«Olhemos para a árvore da cruz, para que em nós brote a esperança: aquela virtude diária... silenciosa, humilde, mas que nos mantém em pé nos ajuda a ir em frente», pois «sem esperança não se pode viver», sugeriu o Papa Francisco na audiência geral de quarta-feira 5 de abril, na véspera do Tríduo pascal, oferecendo aos fiéis presentes na praça de São Pedro e aos que o seguem através dos meios de comunicação social uma catequese sobre o tema: “O Crucifixo, fonte de esperança”.

Estimados irmãos e irmãs
bom dia!

No domingo passado a Liturgia fez-nos ouvir a Paixão do Senhor. Ela termina com as seguintes palavras: «Selaram a pedra» (Mt 27, 66). Tudo parece ter acabado. Para os discípulos de Jesus, aquela pedra marca o fim da esperança. O Mestre foi crucificado, morto da maneira mais cruel e humilhante, pendurado num patíbulo infame fora da cidade: um fracasso público, o pior final possível — naquela época era o pior. Pois bem, aquele desânimo que oprimia os discípulos não nos é totalmente estranho hoje. Também em nós se adensam pensamentos obscuros e sentimentos de frustração: por que tanta indiferença em relação a Deus? Isto é curioso: por que tanta indiferença em relação a Deus? Por que tanto mal no mundo? Mas, reparai, há o mal no mundo! Por que as desigualdades continuam a aumentar e não chega a paz tão almejada? Por que somos apegados assim à guerra, a fazer mal uns aos outros? E, no coração de cada um, quantas expetativas esvaecidas, quantas desilusões! E ainda aquela sensação de que os tempos passados eram melhores e de que no mundo, talvez até na Igreja, as coisas não são como outrora... Em síntese, até hoje a esperança parece às vezes selada sob a pedra da desconfiança. Convido cada um de vós a pensar nisto: onde está a tua esperança? Tu tens uma esperança viva ou selaste-a ali, ou puseste-a na gaveta como uma lembrança? Mas a tua esperança impele-te a caminhar ou é uma recordação romântica como se fosse algo que não existe? Onde está a tua esperança hoje?

Na mente dos discípulos permanecia fixa uma imagem: a cruz. E ali acabou tudo. Ali estava concentrado o fim de tudo. Mas pouco tempo depois descobririam na própria cruz um novo início. Prezados irmãos e irmãs, é assim que a esperança de Deus germina, nasce e renasce nos buracos negros das nossas expetativas desiludidas; e ela, a esperança verdadeira, ao contrário, nunca desilude! Pensemos precisamente na cruz: do mais terrível instrumento de tortura, Deus obteve o maior sinal do amor. Aquele madeiro de morte, transformado em árvore de vida, lembra-nos que os inícios de Deus começam muitas vezes a partir dos nossos fins: é assim que Ele gosta de fazer maravilhas. Então, hoje olhemos para a árvore da cruz, para que em nós brote a esperança: aquela virtude diária, aquela virtude silenciosa, humilde, mas aquela virtude que nos mantém em pé, que nos ajuda a ir em frente. Sem esperança não se pode viver. Pensemos: onde está a minha esperança? Hoje, olhemos para a árvore da cruz para que germine em nós a esperança: para sermos curados da tristeza — mas, quanta gente triste... A mim, quando podia ir pelas ruas, agora não posso porque não me deixam, mas quando eu podia ir pelas ruas na outra Diocese, gostava de ver o olhar das pessoas. Quantos olhares tristes! Gente triste, gente que falava consigo mesma, que caminhava só com o telemóvel, mas sem paz, sem esperança. E onde está a tua esperança hoje? É necessária um pouco de esperança para sarar da tristeza de que adoecemos, para sarar da amargura com que poluímos a Igreja e o mundo. Irmãos e irmãs, olhemos para o Crucifixo. E o que vemos? Vemos Jesus nu, Jesus despojado, Jesus ferido, Jesus atormentado. É o fim de tudo? Ali está a nossa esperança.

Então vejamos como nestes dois aspetos a esperança, que parece morrer, renasce. Em primeiro lugar, vejamos Jesus despojado: com efeito, «depois de o terem crucificado, dividiram as suas vestes entre si, lançando a sorte» (v. 35). Deus despojado: Aquele que tem tudo deixa-se privar de tudo. Mas aquela humilhação é o caminho para a redenção. É assim que Deus vence as nossas aparências. Com efeito, nós temos dificuldade em despojar-nos, em fazer a verdade: procuramos cobrir sempre as verdades porque não nos agradam; revestimo-nos de exterioridade, que procuramos e cuidamos, de máscaras para nos disfarçarmos e nos mostrarmos melhores do que somos. É um pouco o hábito da maquiagem: maquiagem interior, parecer melhor do que os outros... Pensamos que o importante é ostentar, parecer, de tal modo que os outros falem bem de nós. E adornamo-nos de aparências, adornamo-nos de aparências, de coisas supérfluas; mas assim não encontramos a paz. Depois a maquiagem vai embora e tu olhas para o espelho com o rosto feio que tens, mas verdadeiro, aquele que Deus ama, não aquele “maquiado”. Jesus despojado de tudo lembra-nos que a esperança renasce fazendo a verdade sobre nós — dizer a verdade a si mesmo — abandonando as ambiguidades, libertando-nos da convivência pacífica com as nossas falsidades. Às vezes, habituamo-nos de tal modo a dizer-nos falsidades que convivemos com as falsidades como se fossem verdades e acabamos envenenados pelas nossas falsidades. Isto é necessário: regressar ao coração, ao essencial, a uma vida simples, despojada de tantas coisas inúteis, que são sucedâneos de esperança. Hoje, quando tudo é complexo e corremos o risco de perder o fio da meada, temos necessidade de simplicidade, de redescobrir o valor da sobriedade, o valor da renúncia, de limpar o que polui o coração e deixa triste. Cada um de nós pode pensar em algo inútil de que se pode livrar para se reencontrar. Imagina, quantas coisas inúteis. Aqui, há quinze dias, em Santa Marta, onde moro — que é um hotel para muitas pessoas — surgiram vozes de que nesta Semana Santa seria bom olhar para o armário e despojar-se, mandar embora as coisas que temos, que não usamos... não imaginais a quantidade de coisas! É bom despojar-se das coisas inúteis. E tudo foi levado aos pobres, às pessoas que necessitam. Também nós, temos muitas coisas inúteis dentro do coração — e também fora. Olhai para o vosso armário: olhai para ele. Isto é útil, isto é inútil... e fazei limpeza. Olhai para o armário da alma: quantas coisas inúteis tens, quantas ilusões estúpidas. Voltemos à simplicidade, às coisas verdadeiras, que não precisam de maquiagem. Eis um bom exercício!

Demos uma segunda vista de olhos ao Crucifixo e vejamos Jesus ferido. A cruz mostra os pregos que lhe furam as mãos e os pés, o lado aberto. Mas às feridas do corpo acrescentam-se as da alma: mas quanta angústia! Jesus está sozinho: traído, entregue e renegado pelos seus, pelos seus amigos, inclusive pelos seus discípulos, condenado pelo poder religioso e civil, excomungado, Jesus experimenta até o abandono de Deus (cf. v. 46). Na cruz aparece também o motivo da condenação: «Este é Jesus, o rei dos judeus» (v. 37). É um escárnio: Ele, que fugira quando procuraram fazê-lo rei (cf. Jo 6, 15), é condenado por se ter feito rei; embora não tenha cometido crime algum, é colocado entre dois malfeitores e a Ele preferem o violento Barrabás (cf. Mt 27, 15-21). Em síntese, Jesus está ferido no corpo e na alma. Pergunto-me: de que modo isto ajuda a nossa esperança? Assim, Jesus nu, privado de tudo, de tudo: o que diz isto à minha esperança, como me ajuda?

Também nós estamos feridos: quem não o está na vida? E muitas vezes com feridas escondidas que ocultamos pela vergonha. Quem não carrega as cicatrizes de escolhas passadas, de incompreensões, de dores que permanecem dentro e são difíceis de superar? Mas também de injustiças sofridas, de palavras cortantes, de juízos inclementes? Deus não esconde aos nossos olhos as feridas que lhe trespassaram o corpo e a alma. Mostra-as para nos indicar que na Páscoa se pode abrir uma nova passagem: fazer das próprias feridas furos de luz. “Mas, Santidade, não exagere”, alguém pode dizer-me. Não. É verdade: tenta; tenta. Tenta fazê-lo. Pensa nas tuas feridas, aquelas que só tu sabes, que cada um tem escondidas no coração. E olha para o Senhor. E verás, verás como daquelas feridas saem furos de luz. Jesus na cruz não recrimina, ama. Ama e perdoa quantos o ferem (cf. Lc 23, 34). Assim converte o mal em bem, assim converte e transforma a dor em amor.

Irmãos e irmãs, a questão não é ser ferido pouco ou muito pela vida, o ponto é o que fazer das minhas feridas. As pequeninas, as grandes, aquelas que deixarão um sinal no meu corpo, na minha alma sempre. O que faço com as minhas feridas? O que fazes tu e tu com as tuas feridas? “Não, Padre, não tenho feridas” — “Está atento, pensa duas vezes antes de dizer isto”. E pergunto-te: o que fazes com as tuas feridas, aquelas que só tu sabes? Podes deixá-las infetar no rancor, na tristeza, ou posso uni-las às de Jesus, a fim de que também as minhas chagas se tornem luminosas. Pensai em quantos jovens não toleram as próprias feridas e procuram no suicídio uma via de salvação: hoje, nas nossas cidades, muitos, muitos jovens que não veem uma maneira de sair, que não têm esperança e preferem ir além com a droga, com o esquecimento... pobrezinhos. Pensai neles. E tu, qual é a tua droga, para cobrir as feridas? As nossas feridas podem tornar-se fontes de esperança quando, em vez de nos comiserarmos ou de as esconder, enxugamos as lágrimas dos outros; quando, em vez de ter ressentimento pelo que nos é tirado, cuidamos do que falta aos outros; quando, em vez de nos inquietarmos, nos debruçamos sobre quantos sofrem; quando, em vez de ter sede de amor por nós próprios, saciamos a sede de quem precisa de nós. Pois só nos reencontraremos, se deixarmos de pensar em nós mesmos. Mas se continuarmos a pensar em nós mesmos já não nos encontraremos. E é agindo assim — diz a Escritura — que a nossa ferida em breve cicatrizará (cf. Is 58, 8), e a esperança voltará a florescer. Pensai: o que posso fazer pelos outros? Estou ferido, estou ferido de pecado, estou ferido de história, cada um tem a própria ferida. O que faço: lambo as minhas feridas assim, a vida inteira? Ou olho para as feridas dos outros e vou com a experiência ferida da minha vida, curar, ajudar os outros? Este é o desafio de hoje, para todos vós, para cada um de vós, para cada um de nós. Que o Senhor nos ajude a ir em frente.

Fonte: https://www.osservatoreromano.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF