Translate

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Esperança que permanece entre os homens irmãos

Descida do Espírito Santo, Maestà de Duccio di Buoninsegna, Museu da Obra, Sena

Arquivo 30Dias - 05/2007

Esperança que permanece entre os homens irmãos

“Talvez haja quem ainda não se deu conta disto: os cristãos vivem no mundo tamquam scintillae in arundineto, como fagulhas espalhadas pelo canavial. Vivemos na diáspora. Mas a diáspora é a condição normal do cristianismo no mundo”. Entrevista com o cardeal Godfried Danneels, primaz da Bélgica.

Entrevista com o cardeal Godfried Danneels de Gianni Valente

Mechelen, 24 de maio de 2007. Sua eminência parece em forma, ocupado com mil coisas. Concentrou todos os seus compromissos no mês de maio, pois havia programado para junho uma viagem a Pequim e à Mongólia chinesa, para encontrar as comunidades cristãs que nasceram nessas regiões graças também à obra dos missionários belgas de Scheut. Só que a longa viagem para o ex-Império Celeste foi adiada: “A carta que o Papa dirigirá aos católicos chineses está para ser publicada, e eu não queria que, enquanto estivesse lá, desabasse algum temporal sobre minha cabeça...”. Poucos dias antes do Pentecostes, Godfried Danneels, primaz da Bélgica, lembra o que disse o metropolita ortodoxo Ignatios de Lattakia em 1968, no encontro ecumênico de Uppsala: “Quando o Espírito Santo não está presente, Cristo fica no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a autoridade parece uma dominação, a missão é uma propaganda, o culto é uma invocação, o agir cristão se transforma numa moral de escravos”.

O cardeal Godfried Danneels / 30Giorni

Essas palavras parecem atuais.
GODFRIED DANNEELS: Elas valem para todos os tempos. Desde a Ascensão de Cristo até o fim do mundo, sempre será assim. Para mim, há apenas uma coisa que podemos acrescentar: sem o Espírito Santo, a Igreja fica no medo. É o que se vê também no dia do Pentecostes: ali, no cenáculo, o que vencia era o medo. O Espírito Santo, então, acaba com o medo e concede o dom de anunciar o Evangelho não apenas a quem vivia segundo a lei judaica, mas também aos pagãos. A Igreja tem como tarefa, entre outras coisas, conservar a Tradição. Mas é o Espírito Santo quem livra do medo e concede viver as mesmas coisas em circunstâncias diferentes. Na Igreja, é o próprio Espírito quem guarda o depositum fidei. Ele é o único que é capaz de ser fiel ao passado e que está preparado para o futuro, pois não pertence nem ao passado nem ao futuro, é atual. Fora da obra do Espírito Santo, o futuro da Igreja é sempre a extrapolação de pedaços do passado que procuramos atualizar, mas nunca existe nada que faça realmente novas todas as coisas.
A Igreja hoje também se preocupa com o fato de nas sociedades ocidentais o consenso em torno de alguns valores morais fundamentais estar cada vez mais rarefeito.
DANNEELS: Esse é um dado que mostra que não existe mais uma Civitas cristã, que o modelo medieval de Civitas cristã não vale para o momento atual. Talvez haja quem ainda não se deu conta, mas os cristãos vivem no mundo tamquam scintillae in arundineto, como fagulhas espalhadas num canavial. Nós vivemos na diáspora. Mas a diáspora é a condição normal do cristianismo no mundo. A outra condição, a sociedade completamente cristianizada, é que é exceção. O modo normal de os cristãos estarem no mundo é aquele que já era descrito na Carta a Diogneto, no século II. Os cristãos “não moram em cidades suas, nem usam um jargão que se diferencie”. Vivem “em sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cidadãos e de tudo são apartados como estrangeiros. Qualquer terra estrangeira é pátria para eles, e qualquer pátria é estrangeira”. É dessa forma que nós somos cidadãos da nova sociedade secularizada.
Mas, sendo minoria, não é o momento de lutar, ousando até empregar palavras contundentes?
DANNEELS: Quando o Papa foi à Espanha e falou sobre a família, jamais usou fórmulas em negativo. Simplesmente apresentou e mostrou sua admiração pela beleza da família cristã. Alguns talvez tenham ficado decepcionados. Eu não. O cristianismo é antes de mais nada um fermento bom, o dom de coisas boas a ser oferecido ao mundo, e não se preocupa com a vitória sobre o mundo. São Bernardo repetia a seus contemporâneos: tenham piedade de vossas almas.
Não se corre o risco de um otimismo sentimental?
DANNEELS: O Concílio Vaticano II tirou o título de seu documento sobre a Igreja no mundo das duas primeiras palavras do texto: Gaudium et spes. As duas palavras que vinham em seguida eram luctus et angor, tristeza e angústia. Se o Concílio fosse hoje, talvez os padres conciliares invertessem a ordem, e começassem por luctus et angor. O entusiasmo daquele período talvez fosse exagerado. Havia um elemento de reação contra o pessimismo dos tempos anteriores. Mas naquela audácia ingênua havia também uma coisa bonita. Era um sinal de juventude. Como quando uma garota vai a um baile pela primeira vez. Depois vem a idade adulta. Aí se viu que todas as quatro palavras do incipit devem ser levadas em conta.
Qual seria hoje o seu ponto de partida para descrever a relação entre a Igreja e o mundo?
DANNEELS: O mundo é uma criação de Deus. É verdade que, para o Evangelho de São João, o mundo está nas trevas e se opõe a Deus. Mas essa não é a situação original: as criaturas saem boas das mãos de Deus, omnis creatura Dei est bona. E essa também não será a situação final, quando o Kósmos todo será redimido. É uma condição transitória, e quem a causou não foi Deus, fomos nós, com o nosso pecado. A Igreja sempre denunciou o gnosticismo, que considerava o mal como traço originário da criação, e de certa forma de Deus mesmo.
Mas por isso mesmo não é preciso sublinhar com força que a lei natural, com toda a sua objetividade, é um dado originário, inscrito no coração de todos?
DANNEELS: Sim, mas reconhecendo que, se depender de nós, nós, cristãos, em primeiro lugar nos encontramos impotentes para obedecer, crer, rezar e viver bem, para praticar a vida boa. A desobediência das origens ainda nos fere; nós só nos livramos dela graças à obediência de Jesus. É a obediência d’Ele que traça uma linha de cura em meio às nossas traições e doenças. O reconhecimento disso deveria desaconselhar qualquer tipo de soberba. E dar espaço a olhar com maior misericórdia para todos os homens.
Há quem tema que, quando se fala em misericórdia, seja pela vontade de se esquivar da tarefa impopular de dizer verdades opportune et importune, por exemplo sobre questões de ética e moral.
DANNEELS: A missão da Igreja não se esgota em anunciar a verdade, mas em difundir a reconciliação oferecida e realizada por Deus. E a misericórdia não é uma espécie de anistia obrigatória, que sepulta nossas misérias na indiferença. Não é uma geladeira sempre cheia, onde podemos fazer nosso self-service. Nós não a merecemos. Mas, quando ela toca gratuitamente os corações, ela então os muda, os cura, e nos leva a sair de nós mesmos, a nos dirigir mais para o alto. Ela é atrativa. É também o remédio da misericórdia que concede as lágrimas de dor por nossos pecados e misérias, que nós nem percebíamos mais. Como também aconteceu ao primeiro dos discípulos, no pátio da casa do sumo sacerdote: “Então o Senhor, voltando-se, olhou para Pedro. E Pedro se lembrou das palavras que o Senhor lhe havia dito... E, saindo, chorou amargamente”.

O fato é que, no debate público, acaba-se muitas vezes por identificar os cristãos como aquelas pessoas que, com as suas lutas, são cruéis com as misérias humanas. Péguy diria: gente com uma alma bela e acabada.
DANNEELS: Os homens da nossa época não têm a percepção de viverem numa condição infantil ou primitiva, do ponto de vista moral. Sentem-se moralmente evoluídos. Talvez até acabem teorizando práticas e comportamentos fora da lei moral natural, mas esse é um outro problema. Na situação atual, não sei o quanto seja conveniente usar a estratégia do não: repetir sempre o que não deve ser feito, acabando quase por esconder o bem que dizemos querer defender. Bento XVI, antes da viagem a Colônia, disse que ser cristão “é como ter asas” e que o cristianismo não é uma montanha de proibições, “uma coisa difícil e opressiva de viver”.
Mas o que fazer diante das legislações civis e dos novos projetos de lei que entram em conflito com os princípios da moral cristã?
DANNEELS: A lei civil não coincidir com os preceitos do Evangelho e da moral cristã representa a situação normal. É verdade que, se a lei aprova por exemplo as uniões homossexuais, o valor pedagógico da lei desaparece. A lei se transforma numa espécie de termômetro, que se limita a registrar e regular os comportamentos individuais tal como são, renunciando a sua função de ser também um termostato. Mas este é um dado nas nossas sociedades modernas: as leis muitas vezes não educam mais. Não é uma coisa boa, mas este é o lugar em que nos é dado viver. É preciso denunciar os riscos, mas também viver o Evangelho numa situação como essa, que não fomos nós que criamos. Não será a primeira vez.
Estado terminal da vida, contracepção, casais de fato. Há controvérsias sobre a maneira como os legisladores cristãos devem se comportar diante desses temas. Sem entrar em detalhes sobre cada caso, que critérios deveriam ser seguidos?
DANNEELS: É sempre saudável distinguir as coisas que são intoleráveis das que são definidas “leis imperfeitas”, que podem ser toleradas com base na categoria tradicional do mal menor. Além do mais, em relação ao comportamento dos indivíduos, a Igreja possui uma sabedoria, uma capacidade de olhar para a realidade como ela é, que durante séculos foi exercida sobretudo no confessionário.
O olhar com que se olha para o mundo dentro da Igreja condiciona de certa forma toda a sua missão. Hoje se aposta muito na eficácia pública do anúncio, na sua capacidade de dar respostas críveis aos desafios culturais da mentalidade atual.
DANNEELS: Os profissionais de venda dirigem sua atenção e estudo sobretudo para o campo no qual deve cair sua mensagem: analisam o terreno, calculam as chances de produtividade. Não semeiam onde o húmus oferece poucas possibilidades de obter resultados. A evangelização, há décadas, também parece apostar tudo no estudo do terreno. Mas qualquer bom lavrador sabe que o florescimento do grão, que ele lançou no campo trabalhado com tanto cuidado, depende da chuva e do sol. No anúncio cristão, isso vale mais ainda: a fertilidade vem do alto, como o sol e a chuva.
Mas não é preciso também revolver o terreno?
DANNEELS: Quem anuncia e testemunha o evangelho com sua vida não pretende decidir, por si mesmo, qual é a terra boa. Além disso, o campo ideal não existe. Como na parábola de Jesus, o campo apresenta todas as dificuldades possíveis. A semente é sempre boa, pois é a semente do Senhor. O bom semeador deve apenas semear. Ele nada mais faz a não ser pegar a semente e jogá-la no campo. Não é ele quem produz os frutos. Semeia com generosidade, sem ficar pensando demais no fato de haver partes do campo mais ou menos aptas. Ele mantém a esperança de que em algum lado do campo sempre haja um pedaço de terra boa, que chegará a frutificar e dar a messe, mesmo que não saiba onde esse pedaço está.
Hoje também é muito freqüente na Igreja a insistência na categoria da razão, de modo a mostrar aos homens atuais a aliança fecunda entre a posição cristã e uma razão aberta ao transcendente. O que o senhor pensa dessa abordagem?
DANNEELS: A inteligência é um dom que deve ser levado a frutificar. Não se deve cair no fideísmo, que é próprio das seitas do continente americano, mas também da Europa. A fé não é racional, mas é razoável. O Papa, quando fala dessa questão, também sugere essa abertura. Sendo assim, não é possível compreender racionalmente os mistérios da fé. Como é que Deus é uno e trino? Como é que Jesus se encarna e nasce da Virgem Maria? Como é que ressuscita depois da morte? E como é que está presente em corpo, sangue, alma e divindade no pão e no vinho? Às vezes, nós desanimamos, porque pensamos que o sucesso seja uma obra nossa, que é quase como se coubesse a nós demonstrar tudo isso, e convencer, e vencer o mundo. Nesse sentido, a condição de exílio e diáspora vivida pela Igreja pode também ser vista como uma purificação.
De que forma?
DANNEELS: Na Bíblia, antes do exílio, os judeus pensavam que podiam fazer tudo sozinhos. Tudo ia bem sem Deus. Depois, foram deportados para a Babilônia e, lá, não tinham mais nada. Nem rei, nem sinagoga, nem templo, nem monte santo. Lá, como diz Daniel, “recebemos um coração humilde e arrependido”. E isso vale mais do que qualquer outra coisa. Nas Igrejas de cristandade antiga, nós, há anos, pensávamos que tudo podia ir para a frente mesmo sem a graça. Não dizíamos isso assim, mas pensávamos. Tínhamos sempre a idéia de que, quando Jesus disse “sem mim nada podeis fazer”, disse isso por assim dizer. Hoje, nós vemos realmente que, se o cristianismo perdura, é por um milagre.
A propósito de milagres, o senhor disse que os que Jesus realizou no Evangelho são como que antecipações dos sacramentos.
DANNEELS: O milagre testemunha que acontecem coisas que não dá para explicar a partir das premissas admitidas. Sugere que as conclusões não são sempre aquelas que se seguem das premissas. Assim, com o milagre nós estamos sempre no trampolim da esperança. Os sacramentos também são gestos de Jesus. Nesse sentido, são a continuação dos milagres. Muito menos espetaculares, mas ainda mais fortes e necessários, pois existem para a alma e por graça.
Uma eficácia silenciosa, que o senhor num artigo aproximou da “discrição” com a qual o próprio Jesus ressuscitado age...
DANNEELS: Jesus, ao ressuscitar, não impõe sua presença, por mais que a Páscoa marque a vitória evidente sobre a morte e o pecado. Ele aparece aos seus furtivamente, aqui e ali, em lugares apartados. Não dissipa imediatamente todas as dúvidas de seus discípulos. Simplesmente mostra-se a eles tal como é. E isso não é um refúgio no intimismo: os apóstolos logo recebem a missão de anunciá-Lo ao mundo inteiro.
Eu gostaria de fazer algumas perguntas sobre vida da Igreja atualmente. O que o tem impressionado de maneira particular, nos últimos tempos?
DANNEELS: A exortação apostólica Sacramentum caritatis me parece boa, ainda que seja um pouco longa. Encontrei coisas nela que nunca havia lido, por exemplo a respeito da beleza da liturgia. Além disso, diminuiu a produção de documentos vaticanos, e isso é uma coisa boa.

Cristo e a samaritana no poço / 30Giorno

Como o senhor avalia as polêmicas que surgiram recentemente em torno de alguns discursos do Papa?
DANNEELS: O Papa faz sempre uma abordagem teológica das questões, e às vezes não é compreendido. Quando disse que a Igreja não impôs o Evangelho aos povos indígenas, disse coisas verdadeiras do ponto de vista teológico, pois a alma naturaliter christiana dos índios estava aberta e, portanto, não assassinamos essa alma indígena ao levar-lhe o Evangelho. Por outro lado, a forma histórica como isso aconteceu não foi isenta de problemas. E o Papa reconheceu isso, ao falar numa audiência alguns dias depois. Da mesma forma como esclareceu o sentido das palavras de Regensburg, depois da famosa polêmica. Seria melhor que não fosse obrigado a se corrigir sempre.
Mais de dois anos atrás, na liturgia de agradecimento pela eleição de Bento XVI, o senhor disse que o afeto, a caridade e a lealdade dos fiéis moldam o pastor, e constituem o “biotopo” adequado para que “a força da graça extraia frutos surpreendentes de seus dons naturais”.
DANNEELS: É verdade. João Paulo II era alguém para ser visto, mas podia-se pular amplas partes de seus discursos oficiais, e não se perdia muito. Em Bento XVI, as palavras é que são importantes, não o show. Ele é um teólogo. Um professor. Além do mais, em Bento XVI a função que ele exerce não é neutralizada por sua personalidade. E isso é sempre salutar. Quando o carisma pessoal passa a condicionar demais o exercício do ministério petrino, isso pode ser negativo. É a função que é importante, não tanto as preferências, qualidades e limites de quem a exerce.
Alguém ainda o pinta como uma espécie de castigador universal.
DANNEELS: Não se pode dizer que o papa Ratzinger seja um castigador. O sucessor de Pedro é aquele que antes de mais nada carrega nas costas as ovelhas feridas pelos ataques dos lobos ou pelos espinhos da vida. É por isso que as cinco cruzes do pálio papal são vermelhas: é o sangue das ovelhas feridas que marca as costas do bom pastor.
Como é que o senhor avalia o papel da Cúria neste período?
DANNEELS: Não estive em Roma nos últimos tempos, não tenho nenhuma percepção do que a Cúria faz neste momento. Mas, certamente, ela deve continuar a ser um órgão de execução nas mãos do Papa. A Cúria é secundária; assiste, mas não deve tomar o comando em suas mãos.
No passado, o senhor já apresentou uma proposta de instituição de um “Conselho da Coroa”. O senhor a reapresentaria na situação atual?
DANNEELS: Continuo ainda convencido de que reunir de vez em quando, em torno do papa, um pequeno conselho de personalidades da Igreja provenientes de diversos países, cujos membros possam variar talvez a cada dois ou três anos, seria uma ajuda para o papa, que poderia assim estar seguro de que consegue sentir a temperatura da Igreja. A Cúria não consegue sentir e registrar essa temperatura, não é tarefa dela. É claro que já existe o Sínodo dos Bispos e o Colégio Cardinalício. Mas o que eu chamo “Conselho da Coroa” poderia ser um instrumento mais elástico, circunstancial, contingente, que certamente não estaria acima do papa, mas seria apenas um órgão de apoio ao seu serviço.
A respeito do Sínodo, como o senhor avalia os novos estatutos, que abrem a possibilidade de que se tomem medidas deliberativas sobre temas isolados, com o consenso do papa?
DANNEELS: Não me parecem variações substanciais. Mesmo antes, se todos os bispos exprimissem uma vontade comum sobre pontos e decisões isoladas, não era possível deixar de levar isso em conta, e o Sínodo, enquanto organismo consultivo, tornava-se deliberativo de fato.
O próximo Sínodo será sobre a Sagrada Escritura.
DANNEELS: Como o cardeal Martini, eu também desejava esse Sínodo há pelo menos dez anos. Não tenho certeza de que estarei nele, pois no ano que vem chego aos 75 anos e terei de apresentar meu pedido de demissão. E participei de todos os Sínodos desde 1980. Veremos o que meus colegas bispos da Bélgica vão querer desta vez.

Fonte: http://www.30giorni.it/

O que a “Pacem in Terris” diz sobre a liberdade religiosa

Gorodenkoff | Shutterstock
Por Philip Kosloski

A Igreja Católica tem sido uma firme defensora da liberdade religiosa, como explica São João XXIII.

Um dos direitos fundamentais de todo ser humano é o direito de adorar a Deus em liberdade, sem ser coagido nem perseguido por suas crenças.

São João XXIII acreditava firmemente neste direito, e escreveu sobre isso em sua encíclica Pacem in Terris.

“Pertence igualmente aos direitos da pessoa a liberdade de prestar culto a Deus de acordo com os retos ditames da própria consciência, e de professar a religião, privada e publicamente. Com efeito, claramente ensina Lactâncio, ‘fomos criados com a finalidade do prestarmos justas e devidas honras a Deus, que nos criou; de só a ele conhecermos e seguirmos. Por este vínculo de piedade nos unimos e ligamos a Deus, donde deriva o próprio nome de religião'”.

A Igreja Católica tem sido uma firme defensora da liberdade religiosa ao longo dos anos, como explica São João XXIII.

“Sobre o mesmo assunto nosso predecessor de imortal memória Leão XIII assim se expressa: ‘Esta verdadeira e digna liberdade dos filhos de Deus que mantém alta a dignidade da pessoa humana é superior a toda violência e infúria, e sempre esteve nos mais ardentes desejos da Igreja. Foi esta que constantemente reivindicaram os apóstolos, sancionaram nos seus escritos os apologetas, consagraram pelo próprio sangue um sem número de mártires'”.

Enfim, a verdadeira e duradoura paz na terra deve incluir este direito fundamental à liberdade religiosa.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A bem-aventurança da fé

A bem-aventurança da fé / comshalom

A BEM-AVENTURANÇA DA FÉ

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

Há oito dias celebramos a Páscoa e a vida cristã vai se renovando a partir do mistério pascal. A oração da coleta do segundo domingo da Páscoa reza: “Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis a fé do vosso povo na renovação da festa pascal, aumentai a graça que nos destes. E fazei que compreendamos melhor o batismo que nos lavou, o espírito que nos deu nova vida, e o sangue que nos redimiu”. A Palavra de Deus deste domingo (Atos 2,42-47; Salmo 117, 1Pedro 1,3-9 e João 20,19-31) relata a vida nova dos apóstolos após se encontrarem com o Cristo ressuscitado; o livro de Atos apresenta os traços das primeiras comunidade cristãs nascidas da fé no ressuscitado e Pedro reflete sobre a esperança viva e a fé dos batizados. 

“Bem-aventurados os que creem sem terem visto!” É a bem-aventurança da fé que Jesus pronuncia após se encontram com Tomé e pela segunda vez com os outros apóstolos. A primeira pessoa que recebeu este reconhecimento foi Maria, a Mãe do Salvador. Quando foi visitar sua prima Isabel foi-lhe dito: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque se cumprirá o que lhe foi dito da parte do Senhor” (Lc 1,45). A bem-aventurança da fé tem em Maria o modelo. Ela acompanhou Jesus em todos os passos, esteve presente aos pés da cruz e depois se manteve com os apóstolos reunidos no cenáculo em oração (At 1,14).  

A 1ª Carta de São Pedro também fala da fé. Com grande entusiasmo São Pedro indica aos recém-batizados as razões da esperança cristã e da sua alegria. “Pela ressurreição de Cristo dentre os mortos, ele nos fez nascer de novo, para uma esperança viva, para uma herança incorruptível (…). Graças à fé, e pelo poder de Deus, vós fostes guardados para a salvação (…) Isto é motivo de alegria para vós (…). Sem ter visto o Senhor, vós o amais. Sem o ver ainda, nele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação”.  

A comunidade cristã descrita no livro de Atos somente é compreensível e somente se torna real se for formada por batizados que vivem a bem-aventurança da fé. É uma nova geração e um novo modo de viver diferente de uma comunidade natural. Ela está estruturada sobre quatro colunas que sustentam o novo edifício espiritual. O primeiro é que “eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos”. Não existe comunidade cristã sem conhecimento dos fundamentos da fé, sem anúncio de Jesus Cristo, sem pregação (Rm 10,14). Uma comunidade cristã vive de Cristo ressuscitado e cresce graças à perseverança na adesão a Ele. A perseverança permite à comunidade cristã viver a fé não como algo adquirido para sempre, mas uma realidade dinâmica, que se expande e se aprofunda sempre mais. 

O segundo fundamento é a perseverança na “comunhão fraterna”. É a autêntica comunhão, não simplesmente uma amizade e nem uma sintonia de bons propósitos comuns ou motivações. A comunhão fraterna se realiza pela comunhão plena por meio de Jesus Cristo. Ele é a fonte da comunhão que passa pela preocupação mútua, pela partilha de bens materiais, pelo atendimento aos mais fragilizados e necessitados. 

O terceiro e quarto fundamento revela que eram perseverantes na “fração do pão e nas orações”. A fração do pão é o modo como São Lucas designa a Eucaristia (At 20,7). A comunidade se reunia para realizar aquilo que Jesus pediu: “Fazei isto em memória de mim”. Isto e, reunir-se e fazer memória da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus.  

Uma comunidade cristã faz a experiência de não estar reunida em torno de um ideal comum, por mais nobre que seja, mas em torno de Nosso Senhor Jesus Cristo vivo e ressuscitado. São os bem-aventurados da fé, os felizes e cheios de esperança sem terem visto.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Os Papas e a Misericórdia

Papa Francisco durante a missa no Domingo da Divina Misericórdia (2020) 
(Vatican Media)

Jesus disse à Santa Faustina: "A humanidade não encontrará paz, enquanto não se voltar com confiança para a misericórdia divina" (Diário, pág. 132). A misericórdia, de fato, foi um traço de unidade característico entre os pontificados dos últimos papas.

Ir. Grazielle Rigotti, ascj - Vatican News

O tema da misericórdia divina, manifestada através da vida de Jesus Cristo, é recorrente em diversos pontificados. Pode-se até mesmo afirmar que tal atributo divino perpassou os pontificados como poucos, e de forma singular. Ainda nos dias atuais, os fiéis se voltam para a misericórdia e celebram no segundo domingo da Páscoa a festa da Divina Misericórdia. Esta, porém foi um traço presente nos pontificados e documentos papais ao longo dos anos na história da Igreja.

Papa Pio XII

Pode-se iniciar o caminho traçado pelos pontífices e a misericórdia no Ano Santo de 1950, onde Papa Pio XII havia evocado a misericórdia divina em sua radiomensagem de Natal de 1949: “A nossos filhos, a todos os homens de bem, seja estimado o compromisso de não decepcionar as esperanças do Pai comum, que tem seus braços erguidos para o céu, para que a nova efusão da misericórdia divina sobre o mundo possa exceder todas as medidas.”

De fato, em seus discursos, Eugenio Pacelli ainda faz questão de destacar as obras de misericórdia como sendo a “essência própria do evangelho”. (Audiência de 19.7.1939)

O mesmo Pontífice ainda marcou seu pontificado com a Encíclica Haurietis Aquas de 15 de maio de 1956, sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, e onde também cita seu predecessor, Pio XI, e sua encíclica Miserentissimus Redemptor. Papa Pacelli reitera: “Assim como amou a Igreja, Cristo continua amando-a intensamente, com aquele tríplice amor de que falamos (cf. 1 Jo 2,1); e esse amor é que o impele a fazer-se nosso advogado para nos obter do Pai graça e misericórdia, "estando sempre vivo para interceder por nós" (Hb 7, 25) (44), e ainda recorda que “ao mostrar o Senhor o seu coração sacratíssimo – de modo extraordinário e singular quis atrair a consideração dos homens para a contemplação e a veneração do amor misericordioso de Deus para com o gênero humano”. (52)

Papa Paulo VI

Em 12 de abril de 1968, papa Paulo VI após a Via Sacra no Coliseu, descreveu a misericórdia como uma torrente que jorrava da cruz.

Em seu discurso, afirma: “Jesus morreu não só porque nós o matamos; ele morreu por nós. Ao morrer na cruz, Ele nos salvou. Por nós, Ele sofreu e morreu. E assim como tantas representações da Cruz na arte cristã fazem jorrar riachos de água límpida aos pés daquela árvore da vida para indicar graça, amizade com Deus, os Sacramentos, assim também da Cruz brota uma torrente de misericórdia e nos oferece, a todos nós, o destino inestimável de sermos perdoados, de sermos redimidos. Tanto que, com a liturgia da Igreja, chamaremos "abençoada" a Paixão cruel do Senhor: pois ela é a fonte do nosso renascimento e da nossa felicidade. Não mais a cruz é, portanto, uma forca de ignomínia e morte, mas um símbolo de vitória: in hoc signo vinces. Vemo-lo aqui sob o arco de Constantino, triunfante desde que o destino da Cruz de Cristo abriu novos horizontes radiantes para a história da Igreja.”

João Paulo II

Pode-se dizer também que São João Paulo II baseou muito de seu pontificado na misericórdia, coroando como aspectos particulares de seu magistério o Grande Jubileu do ano 2000 e a instituição da celebração da Divina Misericórdia, sendo realizada no segundo domingo de Páscoa. Tal instituição foi anunciada por ocasião da canonização de Maria Faustyna Kowalska. Além disso, ele havia dedicado também sua segunda encíclica ao tema da Misericórdia, Dives in Misericordia em 1980. Foi neste documento que o pontífice afirmou: "em Cristo e por Cristo, Deus com a sua misericórdia torna-se também particularmente visível; isto é, põe-se em evidência o atributo da divindade, que já o Antigo Testamento, servindo-se de diversos conceitos e termos, tinha chamado «misericórdia». "(2)

Bento XVI

“As mãos de quem vos ajuda em nome da misericórdia sejam uma prolongação destas grandes mãos de Deus.” Em sua viagem à Polônia em maio de 2006, o papa Bento XVI enfatizou o parentesco entre o que ele chamou de dois mistérios: a fragilidade humana e a misericórdia divina. Nesta ocasião ele estava em um encontro com os doentes. O papa continuou seu discurso afirmando que à primeira vista, estes dois mistérios parecem ser opostos um ao outro. Mas quando tentamos mergulhar neles à luz da fé, vemos que eles estão em harmonia mútua. Isto é graças ao mistério da cruz de Cristo.

Papa Francisco

Utilizando-se de outras palavras, mas resgatando ainda o mistério do encontro entre fragilidade humana e acolhida divina, faz-se memória da Carta Apostólica do Papa Francisco, Misericordia et misera, datada do quarto ano do seu pontificado, e por ocasião do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Nela, lê-se que “A misericórdia é esta ação concreta do amor que, perdoando, transforma e muda a vida. É assim que se manifesta o seu mistério divino. Deus é misericordioso (cf. Ex 34, 6), a sua misericórdia é eterna (cf. Sal 136/135), de geração em geração abraça cada pessoa que confia n’Ele e transforma-a, dando-lhe a sua própria vida.”

O atual Pontífice também, recentemente, em março de 2023, em um encontro com os participantes do Curso sobre o Foro Interno promovido pela Penitenciaria Apostólica, Papa Francisco afirmou que “vivendo da misericórdia e oferecendo-a a todos, a Igreja se realiza e cumpre sua ação apostólica e missionária. Quase poderíamos dizer que a misericórdia está incluída nas "notas" características da Igreja, em particular faz resplandecer a santidade e a apostolicidade.”

Como conclusão, e tomando como luz as palavras de Francisco no mesmo discurso, pode-se enfim afirmar que "desde sempre, a Igreja, com estilos diferentes nas várias épocas, expressou esta "identidade de misericórdia", dirigida tanto ao corpo quanto à alma, desejando, com seu Senhor, a salvação integral da pessoa. A obra da misericórdia divina coincide assim com a própria ação missionária da Igreja, com a evangelização, porque nela resplandece o rosto de Deus como Jesus nos mostrou".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Um arrepiante canto ortodoxo para o Tempo Pascal

Dennis Debono | Shutterstock
Por J-P Mauro

As origens do tropário pascal remontam ao século V.

Para manter viva a fortaleza e a alegria do Tempo Pascal, apresentamos um canto bizantino chamado tropário pascal, um sublime canto grego que causa arrepios. 

A letra deste hino vem da mensagem levada a Maria Madalena e à “outra Maria” quando chegaram ao túmulo de Cristo. Ali, o anjo lhes disse:

“Não temais! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Não está aqui: ressuscitou como disse. Vinde e vede o lugar em que ele repousou.”

Mt 28, 5-6

O hino é um lembrete de que todos os fiéis um dia serão ressuscitados dentre os mortos para a vida eterna por meio da crença em Cristo.

O tropário é mais comumente cantado no final da vigília pascal. Suas raízes remontam ao século V ou VI. 

A breve estrofe às vezes é separada por um recitativo dos Salmos. Os cantores produzem um grande som no salão vazio com apenas quatro homens. Embora poucas informações sejam fornecidas sobre os artistas, a presença do vídeo no canal Orthodox Finland sugere que eles podem ser finlandeses.

https://youtu.be/KiZAIS4zw9I

Fonte: https://pt.aleteia.org/

As provas da Ressurreição de Jesus

As provas da Ressurreição de Jesus / Cléofas

As provas da Ressurreição de Jesus

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um evento histórico e transcendente. No §639 o Catecismo afirma: “O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já S. Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: Eu vos transmiti… o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze” (1Cor 15,3-4). O apóstolo fala aqui da viva tradição da Ressurreição, que ficou conhecendo após sua conversão às portas de Damasco.

O primeiro acontecimento da manhã do Domingo de Páscoa foi a descoberta do sepulcro vazio (cf. Mc 16, 1-8). Ele foi a base de toda a ação e pregação dos Apóstolos e foi muito bem registrada por eles. São João afirma: “O que vimos, ouvimos e as nossas mãos apalparam isto atestamos” (1 Jo 1,1-2). Jesus ressuscitado apareceu a Madalena (Jo 20, 19-23); aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-25), aos Apóstolos no Cenáculo, com Tomé ausente (Jo 20,19-23); e depois, com Tomé presente (Jo 20,24-29); no Lago de Genezaré (Jo 21,1-24); no Monte na Galiléia (Mt 28,16-20); segundo S. Paulo “apareceu a mais de 500 pessoas” (1 Cor 15,6) e a Tiago (1 Cor 15,7).

S. Paulo atesta que Ele “…ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e foi visto por Cefas, e depois pelos Onze; depois foi visto por mais de quinhentos irmãos duma só vez, dos quais a maioria vive ainda hoje e alguns já adormeceram; depois foi visto por Tiago e, em seguida, por todos os Apóstolos; e, por último, depois de todos foi também visto por mim como por um aborto” (1 Cor 15, 3-8).

“Deus ressuscitou esse Jesus, e disto nós todos somos testemunhas” (At 2, 32), disse São Pedro no dia de Pentecostes. “Saiba com certeza toda a Casa de Israel: Deus o constituiu Senhor (Kýrios) e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes” (At 2, 36). “Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14, 9). No Apocalipse, João arremata: “Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos, e tenho as chaves da Morte e da região dos mortos” (Ap 1, 17s).

Toda a pregação dos Discípulos estava centrada na Ressurreição de Jesus. Diante do Sinédrio Pedro dá testemunho da Ressurreição de Jesus (At 4,8-12). Em At 5,30-32 repete. Na casa do centurião romano Cornélio (At 10,34-43), Pedro faz uma síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreição de Jesus como ponto central. S. Paulo em Antioquia da Pisídia faz o mesmo (At 13,17-41).

A presença de Jesus ressuscitado era a manifestação salvífica definitiva de Deus, inaugurando uma nova era na História humana; era a força do Apóstolos. Jesus ressuscitado caminhou com eles ainda quarenta dias e criou a fé dos discípulos e não estes que criaram a fé no Ressuscitado.

A primeira experiência dos Apóstolos com Jesus ressuscitado, foi marcante e inesquecível: “Jesus se apresentou no meio dos Apóstolos e disse: “A paz esteja convosco!” Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito. Mas ele disse: Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! “Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, como, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: “Tendes o que comer?” Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o então e comeu-o diante deles” (Lc 24, 34ss).

Os Apóstolos não acreditavam a princípio na Ressurreição do Mestre. Amedrontados, julgavam ver um fantasma, Jesus pede que o apalpem e verifiquem que tem carne e ossos. Nada disto foi uma alucinação, nem miragem, nem delírio, nem mentira, e nem fraude dos Apóstolos, pessoas muito realistas que duvidaram a princípio da Ressurreição do Mestre. A custo se convenceram. O próprio Cristo teve que falar a Tomé: “Apalpai e vede: os fantasmas não têm carne e osso como me vedes possuir” (Lc 24,39). Os discípulos de Emaús estavam decepcionados porque “nós esperávamos que fosse Ele quem restaurasse Israel” (Lc 24, 21).

Estes depoimentos “de primeira hora”, concebidos e transmitidos pelos discípulos imediatos do Senhor, são argumentos suficientes para dissolver qualquer teoria que quisesse negar a ressurreição corporal de Cristo, ou falar dela como fraude. Esta fé não surgiu “mais tarde”, como querem alguns, na história das primeiras comunidades cristãs, mas é o resultado da missão de Cristo acompanhada dia a dia pelos Apóstolos.

Com os Apóstolos aconteceu o processo exatamente inverso do que se dá com os visionários. Estes, no começo, ficam muito convencidos e são entusiastas, e pouco a pouco começam a duvidar da visão. Já com os discípulos de Jesus, ao contrário, no princípio duvidam. Não creem em seguida na Ressurreição. Tomé duvida de tudo e de todos e quer tocar o corpo de Cristo ressuscitado. Assim eram aqueles homens: simples, concretos, realistas. A maioria era pescador, não eram nem visionários nem místicos. Um grupo de pessoas abatidas, aterrorizadas após a morte de Jesus. Nunca chegariam por eles mesmos a um autoconvencimento da Ressurreição de Jesus. Na verdade, renderam-se a uma experiência concreta e inequívoca.

Impressiona também o fato de que os Evangelhos narram que as primeiras pessoas que viram Cristo ressuscitado são as mulheres que correram ao sepulcro. Isto é uma mostra clara da historicidade da Ressurreição de Jesus; pois as mulheres, na sociedade judaica da época, eram consideradas testemunhas sem credibilidade já que não podiam apresentar-se ante um tribunal. Ora, se os Apóstolos, como afirmam alguns, queriam inventar uma nova religião, por que, então, teriam escolhido testemunhas tão pouco confiáveis pelos judeus? Se os evangelistas estivessem preocupados em “provar” ao mundo a Ressurreição de Jesus, jamais teriam colocado mulheres como testemunhas.

Os chefes dos judeus tomaram consciência do significado da Ressurreição de Jesus, e, por isso, resolveram apaga-la: “Deram aos soldados uma vultosa quantia de dinheiro, recomendando: “Dizei que os seus discípulos vieram de noite, enquanto dormíeis, e roubaram o cadáver de Jesus. Se isto chegar aos ouvidos do Governador, nós o convenceremos, e vos deixaremos sem complicação”. Eles tomaram o dinheiro e agiram de acordo com as instruções recebidas. E espalhou-se esta história entre os judeus até o dia de hoje” (Mt 28, 12-15). A ressurreição corporal de Jesus era professada tranquilamente pela Igreja nascente, sem que os judeus ou outros adversários a pudessem apontar como fraude ou alucinação.

Os Apóstolos só podiam acreditar na Ressurreição de Jesus pela evidência dos fatos, pois não estavam predispostos a admiti-la; ao contrário, haviam perdido todo ânimo quando viram o Mestre preso e condenado; também para eles a ressurreição foi uma surpresa.

Eles não tinham disposições psicológicas para “inventar” a notícia da ressurreição de Jesus ou para forjar tal evento. Eles ainda estavam impregnados das concepções de um messianismo nacionalista e político, e caíram quando viram o Mestre preso e aparentemente fracassado; fugiram para não ser presos eles mesmos (Cf. Mt 26, 31s); Pedro renegou o Senhor (cf. Mt 26, 33-35). O conceito de um Deus morto e ressuscitado na carne humana era totalmente alheio à mentalidade dos judeus.

E a pregação dos Apóstolos era severamente controlada pelos judeus, de tal modo que qualquer mentira deles seria imediatamente denunciada pelos membros do Sinédrio (tribunal dos judeus). Se a ressurreição de Jesus, pregada pelos Apóstolos não fosse real, se fosse fraude, os judeus a teriam desmentido, mas eles nunca puderam fazer isto.

Jesus morreu de verdade, inclusive com o lado perfurado pela lança do soldado. É ridícula a teoria de que Jesus estivesse apenas adormecido na Cruz.

Os vinte longos séculos do Cristianismo, repletos de êxito e de glória, foram baseados na verdade da Ressurreição de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu e cresceu em cima de uma mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do que a própria Ressurreição do Senhor.

Será que em nome de uma fantasia, de um mito, de uma miragem, milhares de fiéis enfrentariam a morte diante da perseguição romana? É claro que não. Será que em nome de um mito, multidões iriam para o deserto para viver uma vida de penitência e oração? Será que em nome de um mito, durante já dois mil anos, multidões de homens e mulheres abdicaram de construir família para servir ao Senhor ressuscitado? Será que uma alucinação poderia transformar o mundo? Será que uma fantasia poderia fazer esta Igreja sobreviver por 2000 anos, vencendo todas as perseguições (Império Romano, heresias, nazismo, comunismo, racionalismo, positivismo, iluminismo, ateísmo, etc.)? Será que uma alucinação poderia ser a base da religião que hoje tem mais adeptos no mundo (2 bilhões de cristãos)? Será que uma alucinação poderia ter salvado e construído a civilização ocidental depois da queda de Roma? Isto mostra que o testemunho dos Apóstolos sobre a Ressurreição de Jesus era convincente e arrastava, como hoje.

Na verdade, a grandeza do Cristianismo requer uma base mais sólida do que a fraude ou a debilidade mental. É muito mais lógico crer na Ressurreição de Jesus do que explicar a potência do Cristianismo por uma fantasia de gente desonesta ou alucinada. Como pode uma fantasia atravessar dois mil anos de história, com 266 Papas, 21 Concílios Ecumênicos, e hoje com cerca de 4 mil bispos e 416 mil sacerdotes? E não se trata de gente ignorante ou alienada; muito ao contrário, são universitários, mestres, doutores.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

quinta-feira, 13 de abril de 2023

CAMINHO NEOCATECUMENAL: PARÓQUIA COMUNIDADE DE COMUNIDADES

Paróquia - Comunidade de Comunidades / neocatechumenaleiter

PARÓQUIA COMUNIDADE DE COMUNIDADES

Depois do anúncio do Kerigma, surgem comunidades na paróquia, irmãos que vivem esta iniciação cristã. Progressivamente começam a aparecer entre eles os sinais da Fé, o amor ao inimigo. Este milagre moral chamará os afastados ao encontro com Jesus Cristo. E a comunidade cristã levará o Amor de Deus a todos os homens.

“Vós não fazeis o apostolado só pelo fato de serdes isso que sois num estímulo para o redescobrimento e a recuperação dos valores cristãos verdadeiros, autênticos, efetivos, que de outro modo poderiam ficar esquecidos, adormecidos e quase diluídos na vida cotidiana. Não! Vós os colocais em evidência, em emergência e lhes dais um esplendor moral verdadeiramente exemplar, justamente porque assim, com esse espírito cristão, vós viveis esta Comunidade Neocatecumenal.

Quanta alegria e quanta esperança nos dais com vossa presença e com vossa atividade! Sabemos que em vossas comunidades vos esforçais todos juntos em compreender e desenvolver as riquezas do vosso Batismo e suas consequências pela vossa pertença a Cristo…

Viver e promover esse despertar é considerado por vocês como uma forma de catecumenato pós-batismal, que poderá renovar nas comunidades cristãs de hoje aqueles efeitos de amadurecimento e de aprofundamento que na Igreja primitiva eram realizados no período de preparação ao Batismo…

Vós o fazeis depois: o antes ou o depois, diria, é secundário. O fato é que vós olhais para a autenticidade, para a plenitude, para a coerência, para a sinceridade da vida cristã.”

S. Paulo VI, 8 de maio de 1974

“A prática e a norma da Igreja introduziram o santo costume de dar o Batismo aos recém-nascidos, deixando que o rito batismal se concentre liturgicamente na preparação que nos primeiros tempos, quando a sociedade era profundamente pagã, precedia o Batismo e que se chamava Catecumenato. Mas no ambiente social de hoje, este método precisa ser integrado a uma instrução, a uma iniciação ao estilo de vida próprio do cristão, após o Batismo, ou seja, dar uma assistência religiosa, conferir um treinamento prático à fidelidade cristã e realizar uma inserção efetiva na comunidade dos fiéis, que é a Igreja…

Portanto, eis o renascimento do nome “Catecumenato”, que certamente não quer invalidar nem diminuir a importância da disciplina batismal vigente, mas quer aplicar um método de evangelização gradual e intensivo, que lembra e renova, de certo modo, o Catecumenato de outros tempos. Aquele que foi batizado precisa compreender, repensar, apreciar, apoiar a inestimável riqueza do sacramento recebido.”

S. Paulo VI, 12 de janeiro de 1977

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br

O que é a encíclica “Pacem in Terris”?

Papa São João XXIII / Public domain
Por Philip Kosloski

Promulgado em 1963, o documento de São João XXIII explica como a dignidade da pessoa humana implica direitos e deveres.

Pacem in Terris, promulgada em 11 de abril de 1963, foi uma das encíclicas mais significativas escritas por São João XXIII durante o seu pontificado. Com profundidade, tocou na dignidade da pessoa humana e no bom ordenamento dos assuntos civis.

São João XXIII começa sua encíclica escrevendo:

“A paz na terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus”.

Em seguida, proclama o objetivo principal da sua encíclica, explicando como a dignidade da pessoa humana implica certos direitos e deveres:

“Em uma convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais, invioláveis, e inalienáveis”.

É uma encíclica poderosa que pretende ser fonte primária de inspiração para todos os assuntos civis.

São João XXIII termina sua encíclica apelando a Jesus, o “Príncipe da Paz”:

“Esta paz, peçamo-la com ardentes preces ao Redentor divino que no-la trouxe. Afaste ele dos corações dos homens quanto pode pôr em perigo a paz e os transforme a todos em testemunhas da verdade, da justiça e do amor fraterno. Ilumine com sua luz a mente dos responsáveis dos povos, para que, junto com o justo bem-estar dos próprios concidadãos, lhes garantam o belíssimo dom da paz.

Inflame Cristo a vontade de todos os seres humanos para abaterem barreiras que dividem, para corroborarem os vínculos da caridade mútua, para compreenderem os outros, para perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias. Sob a inspiração da sua graça, tornem-se todos os povos irmãos e floresça neles e reine para sempre essa tão suspirada paz”.

Fonte:  https://pt.aleteia.org/

CNBB divulga dados atualizados do episcopado no Brasil

Bispos / CNBB

COM A PROXIMIDADE DA 60ª ASSEMBLEIA GERAL, CNBB DIVULGA DADOS ATUALIZADOS DO EPISCOPADO NO BRASIL

No próximo dia 19 de abril, às 8h30, acontece a sessão solene de abertura da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (AG CNBB), no Centro de Convenções Padre Vítor Coelho de Almeida, do Santuário Nacional de Aparecida, em Aparecida (SP). O encontro do episcopado brasileiro se estende até o dia 28, com 22 sessões ao longo das duas semanas.

Dada a proximidade do evento, o portal da CNBB divulga os dados atualizados do episcopado no Brasil, com informações estratégicas para que os jornalistas conheçam tudo sobre as circunscrições eclesiásticas, as dioceses vacantes, o número de bispos ativos e os eméritos.

Atualmente, a Igreja no Brasil conta com um total de 326 bispos ativos e o número de 157 bispos eméritos, aqueles que, de acordo com o Código de Direito Canônico, perdem “o ofício por limite de idade ou por renúncia aceite”.

Circunscrições eclesiásticas

A Igreja no Brasil possui 279 circunscrições eclesiásticas, ou seja, territórios ou “Igrejas Particulares” confiadas aos cuidados de um bispo. A circunscrição eclesiástica pode ser uma prelazia, uma diocese, arquidiocese, eparquia ou exarcado para fiéis de ritos específicos, e também circunscrições que não tem uma limitação territorial, como a administração apostólica pessoal.

De acordo com as informações sistematizadas pela Secretaria Técnica da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) as circunscrições eclesiásticas estão divididas assim: 219 são dioceses, 45 arquidioceses, 7 prelazias, 3 eparquias, 1 exarcado, 1 rito próprio, 1 Ordinariado militar, 1 administração apostólica pessoal e 1 arquieparquia. Cada uma delas conta com um bispo eleito pelo Papa para administrar o governo pastoral.

Dioceses vacantes

O levantamento mostra também que, até esta quarta-feira, 12 de abril, 10 dioceses brasileiras estão vacantes, ou seja, sem o bispo titular à frente do governo. Renúncia, transferência, falecimento ou perda de ofício são alguns dos motivos que podem tornar uma sede vacante, expressão oriunda do latim que significa trono vazio e que é usada pela Igreja para dizer que uma Sede Episcopal está sem o seu ocupante no governo pastoral.

Neste período, a Igreja Particular fica aos cuidados de um administrador diocesano, eleito pelo Colégio de Consultores, que pode desempenhar algumas funções limitadas pelo Código de Direito Canônico; ou por um administrador apostólico, um bispo nomeado pelo Papa.

Confira, abaixo, as 11 dioceses vacantes:

Diocese de Almenara (MG)
Diocese de Amargosa (BA)
Diocese de Cametá (PA)
Diocese de Divinópolis (MG)
Diocese de Januária (MG)
Diocese de Jataí (GO)
Diocese de Marajó (PA)
Diocese de Parnaíba (PI)
Diocese de Quixadá (CE)
Diocese de Tubarão (SC)
Diocese de Tocantinópolis (TO)

Observações:

* Nesta quarta-feira, 12 de abril, novos bispos foram nomeados para as dioceses de Cametá, no Pará, e a de Almenara, em Minas Gerais. No entanto, elas só deixarão de estar vacantes após a ordenação e a posse dos novos bispos. Por isso ainda são contabilizadas junto ao número total de vacantes.

* O balanço da Secretaria Técnica já contabilizou no número total de circunscrições eclesiásticas e de dioceses, a diocese de Araguaína, no Tocantins, criada no dia 31 de janeiro, pelo Papa Francisco. Sua instalação irá ocorrer no dia 15/04.

Fonte: https://www.cnbb.org

A Bíblia já foi inteiramente traduzida para 733 idiomas – e, parcialmente, para outros 2.877

JHDT Productions / Shutterstock
Por Francisco Vêneto

Até 2038, a Federação Mundial das Sociedades Bíblicas quer a Sagrada Escritura traduzida para outras 1.200 línguas.

A federação das Sociedades Bíblicas Unidas (United Bible Societies), sediada na cidade inglesa de Swindon e composta por 160 Sociedades Bíblicas presentes em mais de 180 países e territórios, informou no seu mais recente relatório anual que 3.610 idiomas contam hoje com a tradução de pelo menos um livro da Bíblia.

A tradução completa de todos os livros da Sagrada Escritura, por sua vez, está disponível atualmente em 733 línguas.

Segundo dados do relatório destacados pela agência de notícias Gaudium Press, foram concluídos em 2022 os projetos iniciais de tradução das Sagradas Escrituras para 57 idiomas, sendo que em 14 deles se trata da Bíblia completa. Em 2021, tinham sido concluídas as traduções da Bíblia para 81 idiomas.

Até 2038, a federação mundial das Sociedades Bíblicas pretende estender a tradução da Sagrada Escritura para outras 1.200 línguas.

Acesso direto a milhões de falantes

Entre as recentes traduções com maior impacto em termos de quantidade de falantes está a Bíblia em língua tay, falada por 1,8 milhão de habitantes do norte do Vietnã. Trata-se de um idioma do mesmo grupo linguístico do tailandês, com o qual, porém, não deve ser confundido: o tailandês é falado por mais de 20 milhões de pessoas e já conta com a tradução da Bíblia completa há muito mais tempo.

Outro exemplo de alcance numeroso de novas traduções da Bíblia é constituído pelos idiomas oromo e hadia, ambos falados em regiões da Etiópia por um total combinado de aproximadamente 7 milhões de habitantes.

Estima-se que existam entre 7.100 e 7.300 idiomas no planeta hoje, dos quais cerca de 3.000 estão em extinção por restarem pouquíssimos indivíduos que ainda os falam. Por outro lado, considerando-se apenas o número de pessoas que os aprenderam como primeira língua, os 8 idiomas com mais falantes nativos somam 2,8 bilhões de pessoas, o equivalente a cerca de 35% do total da humanidade: trata-se, nesta ordem, dos idiomas mandarim, espanhol, inglês, hindi, bengali, português, russo e japonês.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF