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quarta-feira, 29 de outubro de 2025

ROBÓTICA: E se um robô cuidar de você ou dos seus pais na velhice? (Parte 1/2)

Pepper, o pequeno robô humanoide, já conduziu aulas de alongamento com moradores de uma casa de repouso - (crédito: AFP via Getty Images)

ROBÓTICA

E se um robô cuidar de você ou dos seus pais na velhice?

Parece coisa de filme de ficção científica — mas alguns cientistas acreditam que essa tecnologia inovadora pode ajudar a aliviar a pressão sobre o sistema de cuidados.

BBC NEWS

Pallab Ghosh - Correspondente de ciência

postado em 28/10/2025 18:18 / atualizado em 28/10/2025 22:25

Escondidas em um laboratório no noroeste de Londres, três mãos robóticas de metal preto se movem lentamente sobre uma bancada de engenharia.

Nada de garras ou pinças — cada uma tem quatro dedos e um polegar, articulados de forma quase humana.

"Não estamos tentando criar um Exterminador do Futuro", brinca Rich Walker, diretor da empresa que as desenvolveu.

De aparência mais hippie do que o estereótipo de um engenheiro, Walker se orgulha de mostrar o que considera um passo importante na robótica.

"Queríamos construir um robô que ajude as pessoas, que torne a vida melhor — um assistente capaz de fazer qualquer tarefa doméstica, de varrer o chão a preparar uma refeição."

Mas a ambição vai além das tarefas cotidianas: pesquisadores e empresas apostam que robôs desse tipo podem ajudar a enfrentar uma das maiores questões do futuro — como cuidar de uma população cada vez mais idosa, com menos profissionais disponíveis para prestar assistência.

No Reino Unido, essa discussão vem ganhando força diante do envelhecimento rápido da população, mas o debate é global.

Pepper, o pequeno robô humanoide, já conduziu aulas de alongamento com moradores de uma casa de repouso (AFP via Getty Images)

A aposta em robôs de cuidado cresce em vários países, com governos e empresas investindo em tecnologias capazes de oferecer apoio físico, companhia e monitoramento a pessoas que vivem sozinhas ou têm limitações de mobilidade.

No Reino Unido, isso vem sendo visto como uma possível resposta à escassez de cuidadores e ao envelhecimento acelerado da população — desafios que também se repetem em boa parte do mundo desenvolvido.

A promessa é tentadora: máquinas que aliviam a sobrecarga dos sistemas de saúde e oferecem mais autonomia aos idosos.

Mas também levanta dilemas éticos e emocionais: será que queremos — e podemos confiar — que uma máquina cuide de nós quando estivermos mais vulneráveis?

Treinos com o robô Pepper

O Japão oferece um vislumbre de um futuro em que robôs convivem entre nós.

Há dez anos, o governo japonês começou a oferecer subsídios a fabricantes de robôs para desenvolver e popularizar o uso dessas máquinas em casas de repouso — uma iniciativa impulsionada pelo envelhecimento da população e pela escassez relativa de profissionais de cuidado.

O professor James Wright, especialista em inteligência artificial e pesquisador visitante da Queen Mary University, em Londres, passou sete meses observando esse fenômeno — em especial, como esses robôs funcionavam no ambiente de uma casa de repouso japonesa.

Ao todo, três tipos de robôs foram estudados. O primeiro, chamado **HUG**, foi desenvolvido pela Fuji Corporation, no Japão, e se parecia com um andador altamente sofisticado.

Ele tinha apoios acolchoados que permitiam às pessoas se inclinar com segurança, ajudando cuidadores a transferi-las da cama para uma cadeira de rodas ou para o banheiro, por exemplo.

O robô de cuidados HUG, desenvolvido pela Fuji Corporation, no Japão, foi projetado para ajudar cuidadores a erguer pessoas (NurPhoto via Getty Images)

O segundo robô, por sua vez, parecia uma pequena foca e se chamava Paro. Criado para estimular pacientes com demência, ele foi programado para responder a carinhos com movimentos e sons.

O terceiro era um pequeno robô humanoide de aparência simpática chamado Pepper. Ele podia dar instruções e demonstrar exercícios movendo os braços — e chegou a conduzir aulas de ginástica na casa de repouso.

Antes mesmo de começar suas observações, o professor Wright já havia se deixado levar um pouco pelo entusiasmo em torno dessas tecnologias.

"Eu esperava que os robôs fossem facilmente adotados pelos cuidadores, que estão sobrecarregados e extremamente atarefados", contou.

"O que encontrei foi quase o oposto."

Pepper podia dar instruções e demonstrar exercícios movendo os braços — mas algumas pessoas que o testaram acharam sua voz aguda demais (Getty Images)

Ele descobriu que, na verdade, o que mais consumia o tempo da equipe das casas de repouso era limpar e recarregar os robôs — e, principalmente, resolver falhas quando algo dava errado.

"Depois de algumas semanas, os cuidadores concluíram que os robôs davam mais trabalho do que ajuda e começaram a usá-los cada vez menos, porque simplesmente não tinham tempo para isso", contou.

"O HUG precisava ser movido o tempo todo para não atrapalhar os moradores. O Paro causou angústia em uma residente que acabou se apegando demais a ele. E os exercícios do Pepper eram difíceis de acompanhar — ele era baixo demais para ser visto por todos e sua voz aguda dificultava a compreensão."

O Paro se parece com uma pequena foca e foi projetado para reagir com movimentos e sons quando é acariciado (The Washington Post via Getty Images)

As equipes responsáveis pelos robôs tiveram suas próprias respostas à pesquisa do professor Wright.

Os desenvolvedores do HUG afirmam que, desde então, aprimoraram o design para torná-lo mais compacto e fácil de usar. Takanori Shibata, criador do Paro, disse que o robô vem sendo utilizado há 20 anos e apontou estudos que comprovariam "evidências clínicas de seus efeitos terapêuticos". O Pepper agora pertence a outra empresa, e seu software foi significativamente atualizado.

Ainda assim, o estudo não foi desprovido de valor.

Walker, da Shadow Robot, é enfático ao afirmar que o uso de robôs em cuidados não deve ser descartado. Ele argumenta, entre outras coisas, que a próxima geração desses robôs será muito mais capaz.

BBC

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2025/10/7280763-e-se-um-robo-cuidar-de-voce-ou-dos-seus-pais-na-velhice.html

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF