ROBÓTICA
E se um robô cuidar de você ou dos seus pais na velhice?
Parece coisa de filme de ficção científica — mas alguns
cientistas acreditam que essa tecnologia inovadora pode ajudar a aliviar a
pressão sobre o sistema de cuidados.
BBC NEWS
Pallab Ghosh - Correspondente de ciência
postado em 28/10/2025 18:18 / atualizado em 28/10/2025 22:25
Escondidas em um laboratório no noroeste de Londres, três
mãos robóticas de metal preto se movem lentamente sobre uma
bancada de engenharia.
Nada de garras ou pinças — cada uma tem quatro dedos e um
polegar, articulados de forma quase humana.
"Não estamos tentando criar um Exterminador do
Futuro", brinca Rich Walker, diretor da empresa que as desenvolveu.
De aparência mais hippie do que o estereótipo de um
engenheiro, Walker se orgulha de mostrar o que considera um passo importante na
robótica.
"Queríamos construir um robô que ajude as pessoas, que
torne a vida melhor — um assistente capaz de fazer qualquer tarefa doméstica,
de varrer o chão a preparar uma refeição."
Mas a ambição vai além das tarefas cotidianas: pesquisadores
e empresas apostam que robôs desse tipo podem ajudar a
enfrentar uma das maiores questões do futuro — como cuidar de uma população cada vez mais idosa, com menos profissionais
disponíveis para prestar assistência.
No Reino Unido, essa discussão vem ganhando força diante
do envelhecimento rápido da população, mas o debate é
global.
A aposta em robôs de cuidado cresce em vários países, com
governos e empresas investindo em tecnologias capazes de oferecer apoio físico,
companhia e monitoramento a pessoas que vivem sozinhas ou têm limitações de
mobilidade.
No Reino Unido, isso vem sendo visto como uma possível
resposta à escassez de cuidadores e ao envelhecimento acelerado da população —
desafios que também se repetem em boa parte do mundo desenvolvido.
A promessa é tentadora: máquinas que aliviam a sobrecarga
dos sistemas de saúde e oferecem mais autonomia aos idosos.
Mas também levanta dilemas éticos e emocionais: será que
queremos — e podemos confiar — que uma máquina cuide de nós quando estivermos
mais vulneráveis?
Treinos com o robô Pepper
O Japão oferece um vislumbre de um futuro em que robôs
convivem entre nós.
Há dez anos, o governo japonês começou a oferecer subsídios
a fabricantes de robôs para desenvolver e popularizar o uso dessas máquinas em
casas de repouso — uma iniciativa impulsionada pelo envelhecimento da população
e pela escassez relativa de profissionais de cuidado.
O professor James Wright, especialista em inteligência artificial e pesquisador visitante da
Queen Mary University, em Londres, passou sete meses observando esse fenômeno —
em especial, como esses robôs funcionavam no ambiente de uma casa de repouso
japonesa.
Ao todo, três tipos de robôs foram estudados. O primeiro,
chamado **HUG**, foi desenvolvido pela Fuji Corporation, no Japão, e se parecia
com um andador altamente sofisticado.
Ele tinha apoios acolchoados que permitiam às pessoas se
inclinar com segurança, ajudando cuidadores a transferi-las da cama para uma
cadeira de rodas ou para o banheiro, por exemplo.
O segundo robô, por sua vez, parecia uma pequena foca e se
chamava Paro. Criado para estimular pacientes com demência, ele foi programado
para responder a carinhos com movimentos e sons.
O terceiro era um pequeno robô humanoide de aparência
simpática chamado Pepper. Ele podia dar instruções e demonstrar exercícios
movendo os braços — e chegou a conduzir aulas de ginástica na casa de repouso.
Antes mesmo de começar suas observações, o professor Wright
já havia se deixado levar um pouco pelo entusiasmo em torno dessas tecnologias.
"Eu esperava que os robôs fossem facilmente adotados
pelos cuidadores, que estão sobrecarregados e extremamente atarefados",
contou.
"O que encontrei foi quase o oposto."
Ele descobriu que, na verdade, o que mais consumia o tempo
da equipe das casas de repouso era limpar e recarregar os robôs — e,
principalmente, resolver falhas quando algo dava errado.
"Depois de algumas semanas, os cuidadores concluíram
que os robôs davam mais trabalho do que ajuda e começaram a usá-los cada vez
menos, porque simplesmente não tinham tempo para isso", contou.
"O HUG precisava ser movido o tempo todo para não
atrapalhar os moradores. O Paro causou angústia em uma residente que acabou se
apegando demais a ele. E os exercícios do Pepper eram difíceis de acompanhar —
ele era baixo demais para ser visto por todos e sua voz aguda dificultava a
compreensão."
As equipes responsáveis pelos robôs tiveram suas próprias
respostas à pesquisa do professor Wright.
Os desenvolvedores do HUG afirmam que, desde então,
aprimoraram o design para torná-lo mais compacto e fácil de usar. Takanori
Shibata, criador do Paro, disse que o robô vem sendo utilizado há 20 anos e
apontou estudos que comprovariam "evidências clínicas de seus efeitos
terapêuticos". O Pepper agora pertence a outra empresa, e seu software foi
significativamente atualizado.
Ainda assim, o estudo não foi desprovido de valor.
Walker, da Shadow Robot, é enfático ao afirmar que o uso de
robôs em cuidados não deve ser descartado. Ele argumenta, entre outras coisas,
que a próxima geração desses robôs será muito mais capaz.
BBC





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