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segunda-feira, 28 de junho de 2021

A Regra de São Bento aplicada aos negócios

S. Bento | Public Domain
Por Patrícia Navas González

Entrevista com o prior da comunidade de Montserrat, um dos criadores do curso "Valores e liderança: a Regra de São Bento, caminho para uma boa gestão".

A Regra de São Bento, que inspirou a vida dos monges durante mais de 1.500 anos, também pode ser aplicada às empresas e aos negócios atuais, pois oferece grandes princípios de gestão. A Aleteia entrevistou o prior da comunidade beneditina de Montserrat, Ignasi Fossas, um dos criadores do curso “Valores e liderança: a Regra de São Bento, caminho para uma boa gestão”.

O que a Regra de São Bento pode oferecer a uma empresa de hoje?

Ela pode oferecer a experiência de séculos da sabedoria monástica condensada em um texto que serviu para inspirar a vida dos monges, também em sua vertente de trabalho e, portanto, também de organização econômica.

Como se aplica esta ampla experiência em um âmbito tão diferente de um mosteiro?

A Regra de São Bento oferece o que nas escolas de negócios chamam de job profiles, o perfil para determinadas funções. Por exemplo, o capítulo dedicado ao âmbito econômico (capítulo 31 da Regra) oferece um perfil ideal do CEO de uma empresa. Outro exemplo: os capítulos dedicados ao abade oferecem o perfil ideal do presidente de uma companhia. Ou o mesmo enfoque do mestre de noviços. Ainda que a Regra esteja muito focada na vocação monástica, ela pode oferecer também elementos adequados para a direção de pessoas.

Há outros elementos mais gerais, como o domínio do idioma, mais do que o silêncio; é o que a regra chama de “taciturnitas” no capítulo 6, ou seja, o uso adequado da palavra. Ou o valor da humildade, a capacidade de delegar as próprias responsabilidade etc.

A vantagem da sabedoria monástica beneditina, neste sentido, é que todos os mosteiros têm uma experiência empresarial, sejam eles pequenos, com uma simples loja para vender lembrancinhas ou comercializar os produtos que elaboram, sejam eles grandes, com universidades, empresas de serviços que lidam com a gestão de muitas pessoas, porque a própria Regra incentiva os mosteiros a serem autossustentáveis, o que implica organização.

Não se trata apenas de uma teoria recolhida em um texto clássico, mas de princípios contrastados pela prática secular. Uma história de 1.500 anos na qual houve de tudo, mas que funciona.

Um elemento interessante é que, em nossa curta experiência, vemos que as pessoas que participam destes cursos  ficam positivamente surpresas ao descobrir um texto culturalmente tão próximo de nós, como é o caso da Regra de São Bento, no qual podem encontrar elementos de inspiração, porque, para a maioria, este era um texto desconhecido. E nos perguntam: “Por que nunca nos disseram que vocês tinham isso?”.

Que pessoas costumam participar destes cursos?

É um público muito variado, de gestores de empresas familiares de diversos tamanhos a proprietários de empresas que precisam repensar seu negócio totalmente no momento atual. Também há consultores.

Não é a primeira vez que se fala da aplicação da Regra de São Bento à empresa. Que iniciativas já houve, neste sentido?

Na Alemanha, sobretudo, trabalham nisso há anos nos mosteiros beneditinos, especialmente o Pe. Anselm Grün, que é ecônomo do mosteiro de Münsterschwarzach. No âmbito anglo-saxônico também, principalmente nos EUA e na Inglaterra.

Então, achamos que poderia valer a pena. Há cerca de 4 anos, eu comecei algo parecido com uma professora da Universidade Bocconi de Milão.

Em Montserrat, reunimos um grupo de 8-10 pessoas do mundo dos negócios, da empresa, gestores, dois professores, o ecônomo atual de Monteserrat, Pe. Manuel Gash, e eu. Então, já tínhamos um pouco de experiência com isso e demos conferências a grupos mais uniformes, por exemplo, um grupo completo de uma empresa só, que nos havia pedido.

Na sua opinião, por que tantas empresas fracassam?

Não sou especialista e não tenho soluções. Suponho que há muitos motivos, alguns estruturais, outros por deficiências no modelo de gestão; e os princípios incidem em tudo isso, ou seja, nas atitudes e valores com que as decisões são tomadas.

Quais são os erros mais comuns de gestão empresarial que a Regra poderia ajudar a solucionar?

Há algo que me parece importante: a primazia da pessoa, a preocupação por cada pessoa concretamente, por definir bem o papel de cada um, a flexibilidade dentro da estrutura, que seria complementar à definição e ao fato de que a estrutura esteja muito clara. A Regra prevê certa flexibilidade para desenvolver determinadas responsabilidades. Algumas podem ser deixadas de lado, sem problemas.

A estrutura monástica tem uma diferença importante com relação a uma empresa: o objetivo da atividade econômica do mosteiro não é diretamente remunerar os acionistas nem os proprietários, mas melhorar ou favorecer o serviço que se pretende oferecer, ou manter o patrimônio, para que, assim, possa continuar com a atividade que se leva a cabo.

Em uma empresa, isso é diferente, não precisa ser necessariamente assim. Este é um elemento interessante: ao apresentar a possível utilidade da Regra na gestão empresarial, acho que é preciso ser honrado também e apresentar o que pode ser útil para as empresas, que é diferente.

As pessoas entram no mosteiro porque sentem a vocação e, portanto, comprometem de alguma maneira toda a sua vida e toda a sua pessoa. No âmbito empresarial, as pessoas também se comprometem, mas não a vida toda nem toda a pessoa necessariamente. Não queremos que os empresários sejam como monges.

Qual é a sua experiência como empresário de Montserrat?

Eu estive 6 anos trabalhando como administrador e, para mim, uma lição essencial é a importância das relações humanas. A porcentagem mais elevada do meu trabalho é dedicada às relações humanas e isso é fundamental: ter uma boa equipe, estabelecer relações saudáveis com os colaboradores, saber motivar, lidar também com as diferenças, abordar os problemas de maneira positiva etc.

Em segundo lugar, poder descobrir que a gestão, que parece o elemento mais material da vida do mosteiro, pode ser precisamente uma oportunidade de crescimento espiritual, inclusive uma aventura espiritual.

Alguns dizem que conhecemos melhor as pessoas quando elas lidam com o dinheiro…

Nós começamos o curso dizendo que qualquer trabalho (todos têm alguma dimensão de liderança) afeta a pessoa inteira: corpo, alma, espírito. Por isso, é uma oportunidade privilegiada para desenvolver todos estes aspectos da pessoa, porque é preciso enfrentar a si mesmo, confrontar-se com a própria realidade, com o melhor e o pior de si mesmo; e, quanto mais alta é a responsabilidade, mais intensa é esta confrontação.

Por isso, quando se aproveita a oportunidade, a pessoa pode se desenvolver, crescer pessoalmente. As pessoas passam uma parte muito importante da sua vida no trabalho. Portanto, é normal que seja este um dos melhores lugares para conhecê-las.

Fonte: Aleteia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF