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quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

ESPIRITUALIDADE: Amor sem limites (Parte 16/19)

Capa: Fragmento de um ícone de meados de
século XVII atribuída a Emanuel Lombardos.

Um Monge da Igreja do Oriente

AMOR SEM LIMITES

Tradução para o português:
Pe. André Sperandio
Ecclesia

32. O puro e o impuro

Também eu, Senhor-amor, como o teu servo Pedro no terraço de Joppe, vejo descer do céu um mantel (toalha de mesa) atado nos quatro cantos e transportado com todas as delícias terrenas.

Isto é para mim o espetáculo de todas as coisas que há em meu entorno, e vejo que os homens as desejam e parecem viver delas. Muitas são boas. Muitas se apresentam como próprias do amor, porém contradizem o amor.

Senhor-amor, a questão do puro e do impuro, em seu sentido mais amplo, coloca-se assim, diante de mim:

Devo, de imediato, rejeitar esta mistura e dizer: "Longe de mim tudo isso! Não vou tocar o que está contaminado"? Devo afastar de mim uns e outros para apagar esta distinção no passado e no presente? Eu lhes direi, "Não quero conhecê-los, quero ignorá-los, a vós e ao que praticais?"

Ou deveria tentar ir com eles, com elas, o mais longe possível ao longo de seu caminho? Embrenhar-me em um caminho de compromisso mental, se não físico? Senhor-amor, que devo fazer, afinal?

Meu filho, eu quero te mostrar o que poucos sabem:

Eu quero ensinar-te a adorar o amor sem limites, mesmo no pecado cometido pelo pecador. Sejamos absolutamente claros sobre isso.

Meu filho, bem sabes que eu não posso aprovar o pecado. Não posso incentivar o pecador a pecar; isto não faz o menor sentido, não se pode sequer cogitar.

Mas não sou, de alguma forma, presente e ativo no ato do pecado em si?

Com isto quero apenas dizer que, condenando o ato do pecado, eu sigo amando a pessoa do pecador. E, tem mais:

Tudo o que acontece, o mal como o bem, tem suas raízes no ser divino. E, é que Deus dá - ou melhor, dispensa - o ser aos homens que continuam existindo mesmo quando cometem um pecado. Neste momento, meu filho, eu poderia lhes retirar o ser. Eu poderia destruí-los. Mas eu os mantenho nessa existência que receberam de mim, mesmo que usem contra mim o dom que lhes fiz.

Além disso, na minha infinita misericórdia, no meu amor sem limites para com os homens, admito que certos elementos positivos separados do egoísmo, que atuam sobre um dom, uma ternura autêntica, podem penetrar no pecado sem confundir-se com ele.

Uma faísca da sarça ardente pode penetrar nesse pecado. Compreenda-me bem, meu filho. Eu não estou dizendo que essa faísca tenha abolido o que era uma violação do amor absoluto. Não digo que tenha um efeito redentor, que dê a todo ato desse pecado a conversão ao amor e às suas claras exigências. Porém, o amor sem limites abriu uma porta; de alguma forma, entrou. Infiltrou-se numa situação "separada" do amor total. Depositou na alma, talvez duas, germes poderosos que poderão um dia se desenvolver em frutos de salvação.

Meu filho, entre as coisas chamadas "impuras" não estão apenas as que purifiquei e as que não tenham sido purificadas. Há também, e isso é o que se desconhece - as que estão em processo de purificação.

O importante é o reconhecimento adorante de minha presença em um ato "culpável" e, ao mesmo tempo, separar radicalmente desta presença tudo o que é estranho ao amor sem limites e o que vai ao seu encontro. Aprender a distinguir os caminhos inesperadas e sempre novos pelos que me revelo sem alteração e sem mistura. Revelo-me como o compassivo.

Filho meu, diante de uma mesa repleta de manjares puros e impuros, permanece como tendo à disposição uma espada que separa os elementos inteiramente negativos dos elementos positivos presentes nas faltas ou em torno delas.

Assimila tudo o que no pecador, através de todos os desvios, procede de mim e permanece a ser meu. Descubra a ação secreta de minha absoluta pureza, a generosidade do amor em meio às impurezas e egoísmos visíveis.

Junta-te ao meu esforço em transfigurar o que não é meu. Por tua oração fraterna, por tua simpatia, não pelo pecado, mas pelo pecador, participa em minha obra de purificação.

® NARCEA, S.A. EDIÇÕES
Dr. Federico Rubio e Galí, 9. 28039 - Madrid
® EDITIONS ET LIBRAIRIE DE CHEVETOGNE Bélgica
Título original: Amour sans limite
Tradução (para o espanhol): CARLOS CASTRO CUBELLS
Tradução para o português: Pe. André Sperandio
Capa: Fragmento de um ícone de meados de século XVII atribuída a Emanuel lombardos
ISBN: 84-277-0758-4
Depósito Legal: M-26455-1987
Impressão: Notigraf, S. A. San Dalmácio, 8. 28021 - Madrid

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF