Capa: Fragmento de um ícone de meados de século XVII atribuída a Emanuel Lombardos. |
Um Monge
da Igreja do Oriente
AMOR SEM LIMITES
32. O puro e o impuro
Também
eu, Senhor-amor, como o teu servo Pedro no terraço de Joppe, vejo descer do céu
um mantel (toalha de mesa) atado nos quatro cantos e transportado com todas as
delícias terrenas.
Isto
é para mim o espetáculo de todas as coisas que há em meu entorno, e vejo que os
homens as desejam e parecem viver delas. Muitas são boas. Muitas se apresentam
como próprias do amor, porém contradizem o amor.
Senhor-amor,
a questão do puro e do impuro, em seu sentido mais amplo, coloca-se assim,
diante de mim:
Devo,
de imediato, rejeitar esta mistura e dizer: "Longe de mim tudo isso! Não
vou tocar o que está contaminado"? Devo afastar de mim uns e outros para
apagar esta distinção no passado e no presente? Eu lhes direi, "Não quero conhecê-los,
quero ignorá-los, a vós e ao que praticais?"
Ou
deveria tentar ir com eles, com elas, o mais longe possível ao longo de seu
caminho? Embrenhar-me em um caminho de compromisso mental, se não físico?
Senhor-amor, que devo fazer, afinal?
Meu
filho, eu quero te mostrar o que poucos sabem:
Eu
quero ensinar-te a adorar o amor sem limites, mesmo no pecado cometido pelo
pecador. Sejamos absolutamente claros sobre isso.
Meu
filho, bem sabes que eu não posso aprovar o pecado. Não posso incentivar o
pecador a pecar; isto não faz o menor sentido, não se pode sequer cogitar.
Mas
não sou, de alguma forma, presente e ativo no ato do pecado em si?
Com
isto quero apenas dizer que, condenando o ato do pecado, eu sigo amando a
pessoa do pecador. E, tem mais:
Tudo
o que acontece, o mal como o bem, tem suas raízes no ser divino. E, é que Deus
dá - ou melhor, dispensa - o ser aos homens que continuam existindo mesmo
quando cometem um pecado. Neste momento, meu filho, eu poderia lhes retirar o
ser. Eu poderia destruí-los. Mas eu os mantenho nessa existência que receberam
de mim, mesmo que usem contra mim o dom que lhes fiz.
Além
disso, na minha infinita misericórdia, no meu amor sem limites para com os
homens, admito que certos elementos positivos separados do egoísmo, que atuam sobre
um dom, uma ternura autêntica, podem penetrar no pecado sem confundir-se com
ele.
Uma
faísca da sarça ardente pode penetrar nesse pecado. Compreenda-me bem, meu
filho. Eu não estou dizendo que essa faísca tenha abolido o que era uma
violação do amor absoluto. Não digo que tenha um efeito redentor, que dê a todo
ato desse pecado a conversão ao amor e às suas claras exigências. Porém, o amor
sem limites abriu uma porta; de alguma forma, entrou. Infiltrou-se numa
situação "separada" do amor total. Depositou na alma, talvez duas,
germes poderosos que poderão um dia se desenvolver em frutos de salvação.
Meu
filho, entre as coisas chamadas "impuras" não estão apenas as que
purifiquei e as que não tenham sido purificadas. Há também, e isso é o que se desconhece
- as que estão em processo de purificação.
O
importante é o reconhecimento adorante de minha presença em um ato
"culpável" e, ao mesmo tempo, separar radicalmente desta presença
tudo o que é estranho ao amor sem limites e o que vai ao seu encontro. Aprender
a distinguir os caminhos inesperadas e sempre novos pelos que me revelo sem
alteração e sem mistura. Revelo-me como o compassivo.
Filho
meu, diante de uma mesa repleta de manjares puros e impuros, permanece como
tendo à disposição uma espada que separa os elementos inteiramente negativos
dos elementos positivos presentes nas faltas ou em torno delas.
Assimila
tudo o que no pecador, através de todos os desvios, procede de mim e permanece
a ser meu. Descubra a ação secreta de minha absoluta pureza, a generosidade do
amor em meio às impurezas e egoísmos visíveis.
Junta-te ao meu esforço em transfigurar o que não é meu. Por tua oração fraterna, por tua simpatia, não pelo pecado, mas pelo pecador, participa em minha obra de purificação.
® NARCEA, S.A. EDIÇÕES® EDITIONS ET LIBRAIRIE DE CHEVETOGNE Bélgica
Título original: Amour sans limite
Tradução (para o espanhol): CARLOS CASTRO CUBELLS
Tradução para o português: Pe. André Sperandio
Capa: Fragmento de um ícone de meados de século XVII atribuída a Emanuel lombardos
ISBN: 84-277-0758-4
Depósito Legal: M-26455-1987
Impressão: Notigraf, S. A. San Dalmácio, 8. 28021 - Madrid
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