A narrativa da Torre de Babel já existia antes que os
primeiros textos das Sagradas Escrituras começassem a ser escritos pelos
judeus, se caracterizando como um dos mitos mais intrigantes da história
humana.
Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto
Histórico Redentorista
A Bíblia continua sendo ainda hoje o livro mais traduzido em
todo o mundo. Segundo um relatório mais recente da Sociedade Bíblica
Internacional, cerca de 3.610 idiomas contam hoje com a tradução de pelo menos
um livro da Bíblia. A tradução completa de todos os livros das Sagradas
Escrituras, por sua vez, está disponível atualmente em 733 línguas. Ainda
assim, muitas perguntas a respeito da bíblia continuam circulando pelo mundo e
uma das mais recorrentes é: A Torre de Babel de fato existiu?
Começando a responder, é importante que a gente saiba que
não é apenas a língua comum ou um território habitado por um mesmo povo que
criam a cultura de uma civilização. Em quase todas as civilizações antigas
certas histórias e mitos são fatores que ajudam a entender a forma como um
determinado povo conta a sua origem e baseia os seus costumes.
Uma história intrigante: realidade ou mito?
A narrativa da Torre de Babel pode ser encontrada no
capítulo 11, versículos de 1 a 9 do Livro de Genesis.
Naquele tempo toda a humanidade falava uma só
língua. Deslocando-se e espalhando-se em direção ao oriente, os homens
descobriram uma planície na terra de Sinar e depressa a povoaram. E
começaram a falar em construir uma grande cidade, para o que fizeram tijolos de
terra bem cozida, para servir de pedra de construção e usaram alcatrão em vez
de argamassa. Depois eles disseram: “Vamos construir uma cidade com uma
torre altíssima, que chegue até aos céus; dessa forma, o nosso nome será honrado
por todos e jamais seremos dispersos pela face da Terra!”
O Senhor desceu para ver a cidade e a torre
que estavam levantando. Vejamos se isto é o que eles já são capazes de
fazer; sendo um só povo, com uma só língua, não haverá limites para tudo o que
ousarem fazer. Vamos descer e fazer com que a língua deles comece a
diferenciar-se, de forma que uns não entendam os outros.
E foi dessa forma que o Senhor os espalhou
sobre toda a face da Terra, tendo cessado a construção daquela cidade. Por
isso, ficou a chamar-se Babel, porque foi ali que o Senhor confundiu
a língua dos homens e espalhou-os por toda a Terra.
A narrativa da Torre de Babel já existia antes que os
primeiros textos das Sagradas Escrituras começassem a ser escritos pelos
judeus, se caracterizando como um dos mitos mais intrigantes da história
humana, ao falar de um povo que começa a construir uma torre para chegar até os
céus a fim de alcançar a Deus, porém, o Senhor não gosta da soberba que
envolvia o projeto, derrubando a torre antes mesmo dela ficar pronta.
Essa história era comum a vários povos da região da
Mesopotâmia. Como a maioria dos povos era politeísta falavam em alcançar os
deuses, no plural. Mais tarde, os hebreus usam da narrativa para falar da
multiplicação dos povos sobre a face da terra, cada um com seus costumes,
línguas e tradições, porque o povo antes de se estabelecer na Terra de Canaã ou
Palestina, circulava no meio destas civilizações, bem mais fortes e poderosas.
Explicações da arqueologia
Se é que existe, ainda não foi encontrada uma explicação que
comprove a existência da Torre de Babel e até hoje a arqueologia nunca
comprovou a existência desta construção, que, segundo a narrativa bíblica
deveria se localizar entre os rios Tigre e Eufrates, onde hoje existe o moderno
Iraque.
A explicação mais aceita sobre a Torre de Babel é que a
narrativa tenha sido inspirada na construção dos templos da antiga Babilônia,
localizados no sul da Mesopotâmia, em homenagem ao deus Marduk.
Estas construções chamadas de Zigurates, que se destacavam
nas imensas planícies da Mesopotâmia eram templos onde os deuses podiam entrar
em contato com os homens. A origem desta essa crença começou provavelmente com
os sumérios.
Outra hipótese para a origem da Torre de Babel está no
início da construção de um templo que um rei da cidade de Ur, localizada no sul
da Caldéia, região onde viveram os antepassados dos judeus, tenha iniciado, mas
nunca concluído. É possível que esta história tenha passado de geração em
geração sendo aumentada continuamente, ganhando coloridos diferenciados.
Porta de Deus
A palavra Babel, em hebraico, significa “porta de Deus”, mas
era também o nome que se dava à capital do Império Babilônico que em seu apogeu
se transformou numa rica e poderosa civilização, chegando a se constituir num
dos maiores centros culturais e econômicos do mundo antigo, para onde os judeus
foram levados em cativeiro.
Existem diversas fontes extra-canônicas, como o chamado
Livro dos Jubileus e o Terceiro Apocalipse de Baruch que chegam a falar das
medidas desta torre, possivelmente localizada na Babilônia. A altura da Torre
de Babel, segundo um desses livros seria de 5.433 cúbitos e 2 palmos, o
equivalente a 2.484 metros de altura, muito mais alta que as mais altas
construções do mundo de hoje.
O valor e as medidas são realmente impressionantes, porém, o
que se quer demonstrar é sim o seu significado que é utilizado para explicar a
dispersão dos grupos humanos pela terra, a grande variedade linguística
existente e, sobretudo, a temeridade que é desafiar a Deus, como fez a
Babilônia impenitente, que na concepção judaica era a simbolização do pecado e
do mal.
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