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domingo, 13 de julho de 2025

O túmulo dos apóstolos: São Pedro (Parte (2/2)

A Basílica de São Pedro no Vaticano vista da extremidade da colina do Gianículo, antigamente esta fazia parte dos Jardins de Nero onde ocorreu o martírio dos cristãos de Roma depois do incêndio de 19 de julho do ano 64 | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 10 - 2008

O túmulo dos apóstolos

São Pedro

O discípulo que aprendeu a humildade.

de Lorenzo Bianchi

Entre 1939 e 1949, por vontade de Pio XII, uma escavação arqueológica sob o altar-mor da Basílica Vaticana foi levada a cabo por quatro estudiosos de arqueologia, arquitetura e história da arte – Bruno Maria Apollonj-Ghetti, padre Antonio Ferrua, S.J., Enrico Josi e padre Engelbert Kirschbaum, S.J. –, sob a direção de dom Ludwig Kaas, secretário da Insigne Fábrica de São Pedro. Inicialmente, eles encontraram o monumento de Constantino, um paralelepípedo com cerca de três metros de altura, revestido de mármore pavonáceo e pórfiro. A face anterior desse monumento tinha uma abertura que corresponde ao atual Nicho dos Retábulos, nas Grutas Vaticanas; a posterior, parcialmente recuperada, ainda pode ser vista atrás do altar da Capela Clementina. Escavando ao longo dos lados do monumento constantiniano, foi possível encontrar debaixo dele o túmulo de Pedro. As escavações revelaram uma pequena capela, formada por uma mesa sustentada por duas pequenas colunas de mármore e apoiada num muro rebocado e pintado de vermelho (o chamado “muro vermelho”) em posição correspondente à de um nicho; no chão, diante do nicho, sob uma pequena laje, um túmulo escavado diretamente na terra. A pequena capela, que pode ser datada do século II, logo foi identificada como sendo o “troféu de Gaio”. Mas o túmulo encontrado estava vazio.

Pio XII, como dissemos antes, fez o anúncio do achado. Passado algum tempo desde o fim das escavações e sua publicação, teve início uma segunda fase de já havia sido notado durante as escavações, em novembro de 1941, antes que os pesquisadores chegassem ao túmulo escavado por baixo, na terra, mas, de imediato, sua importância não fora compreendida. Segundo a reconstrução elaborada mais tarde pela arqueóloga Margherita Guarducci, desse lóculo havia sido retirada grande parte do material que continha, a ponto de, no dia seguinte de sua descoberta, um dos escavadores, padre Antonio Ferrua, já tê-lo visto vazio. O certo é que, como viemos a saber vários anos depois do fim das escavações e de sua publicação, provinha dali um importantíssimo documento epigráfico, um fragmento extremamente pequeno (3,2 x 5,8 cm) de reboco vermelho, que ali se depositara, vindo do “muro vermelho” adjacente; sobre esse fragmento, estava grafitado, em grego, a expressão “PETR[Oc] ENI”, ou seja, “Pedro está aqui”, como a interpretou Guarducci. Seus estudos, realizados entre 1952 e 1965, levaram à decifração dos grafitos do “muro g” (que continha o lóculo), mostrando que estes continham uma ampla série de invocações a Cristo, a Maria e a Pedro, sobrepostas e combinadas. Os mesmos estudos, compostos de pesquisas complexas e bem articuladas, realizadas com o máximo rigor científico, levaram também ao reconhecimento do que estava contido no lóculo, ou seja, as relíquias de Pedro, que para lá tinham sido transferidas, antes dos trabalhos ordenados por Constantino, depois de retiradas do túmulo escavado na terra. Encontradas numa pequena caixa nas dependências das Grutas Vaticanas, onde haviam sido depositadas pela pessoa que, anos antes, as extraíra do lóculo, as relíquias, depois de analisadas, revelaram-se pertencentes a um só homem, de compleição robusta, que morrera em idade avançada. Tinham incrustações de terra e mostravam ter sido envolvidas num pano de lã colorida de púrpura, com trama de ouro; as relíquias eram compostas de fragmentos de todos os ossos do corpo, exceto dos ossos dos pés, dos quais não havia o menor vestígio. Esse pormenor, realmente singular, não podia deixar de trazer à memória a circunstância da crucifixão inverso capite (de cabeça para baixo), atestada por uma antiga tradição como símbolo da humildade de Pedro; os resultados desse tipo de crucifixão, ou seja, a separação dos pés, eram visíveis nos restos do corpo encontrado. A mesma circunstância correspondia perfeitamente a um conhecimento bem sólido, do ponto de vista histórico: o do costume romano de tornar espetaculares, para a satisfação do povo, as execuções dos condenados à morte. O cadáver dos executados, privado do direito de sepultura, era abandonado no lugar do suplício. Foi o que ocorreu a Pedro, levado à morte sem nenhuma distinção, entre muitos outros; só quando foi possível recuperar o corpo é que o apóstolo foi sepultado na terra, da maneira mais humilde – provavelmente às pressas, no lugar mais próximo à disposição.

A crucificação inverso capite de Pedro, entre as colinas do Gianículo e do Vaticano, Sancta Sanctorum, cerca de 1277-1280, Roma | 30Giorni

As relíquias que Margherita Guarducci identificou como sendo de Pedro foram reconhecidas como tais pelo papa Paulo VI, que, em 26 de junho de 1968, ligando-se às palavras pronunciadas em 1950 pelo papa Pio XII, anunciou a descoberta durante a audiência pública na Basílica Vaticana: “Novas pesquisas, feitas com extrema paciência e cuidado, foram realizadas nos últimos anos, chegando a um resultado que nós, confortados pelo juízo de pessoas competentes, valorosas e prudentes, acreditamos ser positivo: as relíquias de São Pedro também foram, enfim, identificadas, de um modo que podemos considerar convincente, pelo qual louvamos a quem empregou tamanho e tão longo estudo, e grande esforço. Não se esgotam, com isso, as pesquisas, as verificações, as discussões e as polêmicas. Mas, de nossa parte, parece-nos um dever, no presente estado das conclusões arqueológicas e científicas, dar a vós e à Igreja este anúncio feliz, obrigados como somos a honrar as sagradas relíquias, sufragadas por uma séria prova de sua autenticidade [...]; no caso presente, tanto mais solícitos e exultantes devemos ser, quando temos razões para considerar que foram encontrados os poucos, mas sacrossantos, restos mortais do Príncipe dos Apóstolos”.

Reintroduzidas no dia seguinte no lóculo do “muro g” (com exceção de nove fragmentos, que o Papa pediu e conservou em sua capela privada), as relíquias voltaram há poucos anos a ser expostas aos fiéis.

No que diz respeito aos lugares ligados a Pedro em Roma, é oportuno também assinalar a epígrafe do papa Dâmaso (366-384) na Memoria Apostolorum da Via Ápia ad catacumbas (hoje Basílica de São Sebastião), na qual podemos ler: “Quem quer que sejas, que buscas conjuntamente os nomes de Pedro e Paulo, sabe que esses santos aqui repousaram [habitasse] um tempo”. Com base nesse texto, e na presença de numerosas inscrições de invocação conjunta de Pedro e Paulo nas catacumbas, foi formulada a hipótese de um traslado temporário das relíquias dos dois fundadores da Igreja de Roma para esse lugar no período da perseguição iniciada pelo imperador Valeriano (258); mas, aqui, estamos apenas no campo das hipóteses de estudo.

Devemos lembrar ainda que, dentro das pesquisas realizadas por Guarducci, foi também feito o reconhecimento científico das relíquias que uma tradição medieval identificava como provenientes da cabeça de Pedro, presentes desde o século VIII no Sancta Sanctorum e para lá transferidas pelo papa Urbano V, em 16 de abril de 1369, no interior de um dos dois bustos que se encontram atualmente dentro do baldaquino da Basílica de Latrão. Os resultados desse reconhecimento não negam em nada, porém, a validade do reconhecimento das relíquias de Pedro sob a Basílica Vaticana.

Fonte: Fonte: https://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF