Translate

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Tempestades da vida

Guadium Press
Analisando os acontecimentos ao longo da História, veremos que Deus permite às almas e às grandes instituições momentos de grande tribulaçãoPor que?

Redação (20/06/2021 09:29Gaudium Press): Lê-se nas Escrituras que Nosso Senhor, em meio às longas jornadas, ensinando e pregando ininterruptamente ao povo, buscava descanso em três refúgios: no monte, no deserto ou no barco.[1]

Após o sermão da Montanha e a realização de sinais e curas em Cafarnaum, encontra-se, na liturgia de hoje, a decisão do Divino Mestre de partir com seus discípulos rumo ao mar, pois Cristo buscava descanso para Si e para os seus.

No entardecer daquele dia, – descreve o Evangelho – tendo os discípulos despedido as multidões, entraram com Jesus na barca. Mal tinham adentrado nas águas, uma forte ventania soprou, e as ondas lançavam-se com violência sobre a embarcação, de modo que esta já começava a encher. Contudo, Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Então, os discípulos, tomados de pavor, acordaram-No e disseram:

“‘Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?’ Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: ‘Silêncio! Cala-te!’ O vento cessou e houve uma grande calmaria. Então Jesus perguntou aos discípulos: ‘Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?’ Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: ‘Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?’ (Mc 4, 38-41)

            Ao comentar esta passagem do Evangelho de São Mateus, São João Crisóstomo ressalta certo pormenor despercebido por São Marcos: antes mesmo de dar ordens ao mar, Jesus primeiramente se dirige aos Apóstolos, dizendo: “Homens de pouca fé, por que tendes tanto medo?” (Mt 8, 26). Ou seja, “antes mesmo de acalmar a tempestade, apazigua-lhes a [tempestade] de suas almas, e repreende-os pela falta de fé, pois ainda não eram capazes de acreditar que Jesus fosse capaz de realizar um milagre, estando dormindo”.[2]

Ora, por que Nosso Senhor permitiu esta tempestade? Será um castigo pela falta fé dos Apóstolos? Crisóstomo responde: “O Senhor permitiu esta tempestade para exercitá-los na fé, e dar-lhes esta prova como um prelúdio das tormentas que lhes sobreviriam”.[3]

As tormentas interiores

Se analisarmos os acontecimentos, veremos que, ao longo de toda a História, Deus também permitiu às almas e às grandes instituições momentos de grande tribulação.

Nesta linha, o santo carmelita, João da Cruz, denomina tais provas como “noites escuras”. Isto é, ocasiões em que “quanto mais a alma se aproxima de Deus, mais profundas são as trevas que sente, maior a escuridão, por causa de sua própria fraqueza”.[4] Às vezes, em meio à tempestade, um ou outro raio cai nas águas agitadas de nossa alma, e ilumina nosso horizonte, mas logo as trevas obscurecem esta luz, e encontramo-nos novamente na escuridão. São as “águas tenebrosas, símbolo da escuridão de nosso entendimento, e da toldada contemplação de Deus”.[5]

Como então se unir ao Criador? “Se queres, ó alma, unir-te e desposar-te comigo, hás de vir interiormente vestida de fé”.[6] Pois “esta brancura da fé reveste a alma na saída desta noite escura, quando caminha em meio às trevas interiores”.[7]

Deus prova, pois, a alma deste modo, porquanto quer vê-la “despojada das coisas do mundo, tirando o seu coração de todas elas – sem prendê-lo a nada –, para elevá-la com vivacidade e ânimo, às alturas da vida eterna”.[8] Por isso, “confiem em Deus, pois Ele não abandona aos que O buscam com simples e reto coração. Não lhes deixará de dar o necessário para o caminho até conduzi-los à clara e pura luz do Amor”.[9]

Santa Catarina de Sena, a grande mística do século XIV, foi uma representação de inteira correspondência em meio às “noites escuras” de sua vida. Conta-se que ainda jovem, pouco tempo depois de ter recebido o hábito da Ordem de São Domingos, padeceu duras tentações contra a pureza. Muitos demônios a rodeavam, repetindo palavras impuras e obscenas em seus ouvidos. Ela, porém, se refugiava na oração e clamava a Deus em seu interior para que a tempestade se acalmasse. Todavia, nenhuma voz se fazia ouvir, nenhum auxílio sobrenatural parecia vir em seu socorro. Naquela procela interior em que se encontrava, Deus parecia repousar em um profundo sono…

Certo dia, entretanto, ao voltar da Igreja, Nosso Senhor apareceu-lhe radiante de luz, e Catarina, transbordante de alegria, exclamou:

– Senhor, onde estáveis Vós quando meu coração se sentia atormentado de tantas impurezas?

– Catarina – respondeu-lhe Nosso Senhor – Eu estava em teu coração! Eu obrava em ti, defendia teu coração contra o inimigo, estava em teu interior e não permitia as acometidas do demônio, senão quando podiam redundar em tua salvação”.[10]

Em meio às tormentas da barca de Pedro

Ora, como anteriormente mencionado, não é apenas sobre as almas que advêm estas “noites escuras”. A Santa Igreja, ao longo de dois mil anos de sua existência, também percorreu por vezes estes itinerários de tribulações: heresias, martírios, traições e horrendas abominações desencadearam-se sobre Ela. Momentos estes em que a barca de Pedro parecia soçobrar inevitavelmente, no mais profundo dos mares da completa rejeição dos maus, e da tibieza dos bons. No entanto, as palavras de Cristo: “As portas do inferno não prevalecerão contra Ela”, sempre ressoaram nas trevas das calamitosas tempestades, fazendo-A ressurgir ainda mais rejuvenescida, Santa e Imaculada.

Se nas atuais circunstâncias, Deus parece “dormir”, não duvidemos: próxima está Sua intervenção, pois Ele prometeu: “Eis que estarei convosco até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).

Por Guilherme Motta


[1] Cf. REMÍGIO. Apud TOMMASO D’AQUINO. Catena aurea: Vangelo secondo Marco IV, 35-41. Bologna: ESD, 2012, v. 3, p. 169.

[2] JUAN CRISOSTOMO. Homilías sobre San Mateo XXVIII, n. 1. Madrid: BAC, 2007, v. 57, p. 568.

[3] Ibid., p. 570.

[4]  JOÃO DA CRUZ. A Subida do Monte Carmelo, Noite Escura, Cautelas. Rio de Janeiro: Vozes, 1960, p. 377.

[5] JOÃO DA CRUZ. A Subida do Monte Carmelo, Noite Escura, Cautelas. Rio de Janeiro: Vozes, 1960, p. 377-378.

[6] Ibid., p. 394.

[7] JOÃO DA CRUZ. A Subida do Monte Carmelo, Noite Escura, Cautelas. Rio de Janeiro: Vozes, 1960, p. 377-378.

[8] Ibid., p. 394-395.

[9] Ibid., p. 315.

[10] Cf. ALVAREZ, Paulino. Santa Catalina de Sena. ed. 3. Vitoria: Vergara, 1926, p. 74-75.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Papa pede acolhimento aos deslocados no Dia Mundial do Refugiado

O papa presidiu a oração do Angelus no palácio apostólico.
Foto: Vatican Media
Por Miguel Pérez Pichel

Vaticano, 20 jun. 21 / 12:00 pm (ACI).- Neste domingo, 20 de junho, Dia Mundial do Refugiado, o papa Francisco voltou a pedir acolhimento para as pessoas que precisam fugir dos seus países e que se embarcam numa perigosa viagem, para salvar suas vidas ou buscar novas oportunidades.

“Hoje celebra-se a o Dia Mundial do Refugiado, promovido pelas Nações Unidas, com o tema ´Juntos conquistamos tudo´. Abramos os nossos corações aos refugiados, façamos com que as suas tristezas e as suas alegrias sejam também as nossas. Aprendamos com a sua valente resiliência, e assim, todos juntos, faremos crescer uma comunidade mais humana, uma grande e única família”, foram as palavras do pontífice ao finalizar a oração do Angelus dominical, no palácio apostólico do Vaticano.

O Dia Mundial do Refugiado foi criado no dia 4 de dezembro de 2000, através da resolução 55/76 do gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e foi aprovado pela assembleia geral das Nações Unidas no dia 12 de fevereiro de 2001.

A data escolhida para a jornada foi o dia 20 de junho. A intenção da jornada é homenagear o trabalho realizado pelo ACNUR “em favor dos repatriados, apátridas e deslocados internos”, e recordar os propósitos das Nações Unidas (ONU) ao promover “a paz, os direitos humanos e o desenvolvimento”.

A origem do ACNUR remonta à situação da Europa após a segunda guerra mundial, quando o continente estava arrasado pelo confronto bélico e milhões de pessoas tinha sido deslocadas, tanto pela guerra como pela redefinição dos limites fronteiriços. Em 1950, o ACNUR foi criado para “ajudar milhões de europeus que fugiram ou perderam as suas casas” durante a grande guerra.

ACI Digital

Patris corde

Patris corde - LEV | Vatican News

Patris corde

Carta apostólica por ocasião do 150º aniversário da declaração de são José como padroeiro da Igreja.

Giuseppe Merola

Este é o texto da Carta Apostólica emitida pelo Papa Francisco por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como Patrono da Igreja Católica, feita pelo Beato Pio IX em 8 de dezembro de 1870. Depois de Maria, Mãe de Deus, nenhum santo ocupa tanto espaço no Magistério papal como José, seu esposo.

As reflexões do Papa Francisco retomam a mensagem contida nos poucos versículos transmitidos nos Evangelhos para destacar ainda mais, assim como seus antecessores, o papel central de José na história da Salvação: o Beato Pio IX o declarou "Padroeiro da Igreja Católica", o Venerável Pio XII o apresentou como "Padroeiro dos Trabalhadores", e São João Paulo II como "Guardião do Redentor".

Esta edição inclui também o Decreto Jubilar um ensaio sobre São José e os Papas (de Pio IX ao Papa Francisco) e orações a São José. 

Confira o link:

Patris corde

Fonte: Vatican News



São Luís Gonzaga, religioso

S. Luís Gonzaga | Paulus
21 de junho
São Luís Gonzaga

Ferrante Gonzaga, marquês de Castiglione delle Stiviere e irmão do duque de Mântua, gostaria que o seu primogênito Luís, nascido a 9 de março de 1568, seguisse seus passos de soldado e comandante no exército imperial. Com a idade de cinco anos, Luís já vestia uma couraça, com escudo, capacete, cinturão e espada e marchava atrás do exército do pai, aprendendo dos rudes soldados o uso das armas e o seu vocabulário colorido. Um dia aproveitou-se até da distração de um sentinela para pôr fogo a uma pequena peça de artilharia. Mas aquele menino daria fama à família Gonzaga com armas totalmente diferentes. Enviado a Florença na qualidade de pajem do grão-duque da Toscana, aos dez anos Luís imprimiu em sua própria vida uma direção bem definida, voltando-se à perpétua virgindade.

Também uma viagem à Espanha, onde ficou alguns anos como pajem do Infante Dom Diego, serviu-lhe para o estudo da filosofia na universidade de Alcalá de Henares e a leitura de livros devotos, como o Compêndio da vida espiritual, de Luís de Granada. Aos doze anos, após ter recebido a primeira comunhão das mãos de são Carlos Borromeu, decidiu entrar para a Companhia de Jesus. Mas foram necessários mais dois anos para vencer as resistências do pai, que o despachou para as cortes de Ferrara, Parma e Turim. “Também os príncipes — Luís escreverá mais tarde — são pó como os pobres: talvez, cinzas mais fedidas”.

Para que sua alma se perfumasse mais das virtudes cristãs, Luís renunciou ao título e à herança paternas e aos catorze anos entrou no noviciado romano da Companhia de Jesus, sob a direção de são Roberto Belarmino. Esqueceu totalmente sua origem de nobreza e escolheu para si as incumbências mais humildes, dedicando-se ao serviço dos doentes, sobretudo na epidemia que atingiu Roma em 1590. Acabou contraindo a terrível doença provavelmente por algum gesto de piedade: encontrando um moribundo na estrada, carregou-o nas costas até o sanatório, aos pés de Capitólio, onde trabalhava.

Morreu aos vinte e três anos, no dia por ele preconizado, a 21 de junho de 1591. O corpo de são Luís, “Patrono da juventude”, repousa na igreja de santo Inácio, em Roma. Este santo, ao contrário do que é apresentado em certos livros, era dotado de temperamento forte. As duras penitências às quais se submeteu são sinais de determinação não comum, rumo a uma meta que se havia proposto claramente desde a primeira adolescência.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

Fonte: https://www.paulus.com.br/

domingo, 20 de junho de 2021

MEIO MILHÃO DE VIDAS PERDIDAS: ENTIDADES DO PACTO PELA VIDA E PELO BRASIL SE MANIFESTAM DIANTE DAS MORTES PELA COVID

Crédito: CNBB
MEIO MILHÃO DE VIDAS PERDIDAS

A CNBB, juntamente com a Ordem dos Advogados do Brasil, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Academia Brasileira de Ciências, a Associação Brasileira de Imprensa e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, escreveram uma carta em que prestam solidariedade às milhares de famílias afetadas pela perda de entes queridos pela Covid-19.

As entidades também manifestaram indignação pelas manifestações contrárias às medidas recomendadas por organismos sanitários no cuidado e na promoção da vida. Por fim, ainda destacaram a importância do trabalho da CPI da Pandemia, instalada no Congresso Nacional, para investigar as ações da gestão pública diante da crise da pandemia.

As seis entidades signatárias dessa carta se sensibilizaram com a situação provocada pela pandemia e se uniram desde abril do ano passado, quando lançaram o Pacto Pela Vida e Pelo Brasil, endossado por organizações e pessoas de todo o país. Naquela época, logo no início da pandemia, as entidades perceberam que eram necessárias medidas firmes, guiadas pela ciência, para conter o seu alastramento. Previa-se que a crise sanitária atingiria de forma desigual a população brasileira, afetando particularmente os mais vulneráveis.

Leia a carta Meio milhão de vidas perdidas na íntegra:

MEIO MILHÃO DE VIDAS PERDIDAS

Em sete de abril de 2020, Dia Mundial da Saúde, as seis entidades signatárias desta carta manifestaram-se diante da expansão da Covid-19, lançando o Pacto Pela Vida e Pelo Brasil, endossado por organizações e pessoas de todo o país. Sinais indicavam se tratar de um vírus de alta transmissão, com impactos graves sobre o organismo humano, pedindo medidas firmes, guiadas pela ciência, para conter o seu alastramento. Previa-se que a crise sanitária atingiria de forma desigual a população brasileira, afetando particularmente os mais vulneráveis.

O Brasil contava, então, com 688 óbitos pelo coronavírus. Hoje, passado pouco mais de um ano, são 500 mil óbitos, meio milhão de vidas perdidas. O equivalente a duas vezes e meia o número de mortos pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945.

Uma palavra de esperança sempre será necessária para confortar as milhares de famílias afetadas pela perda de entes queridos. A todas, nosso sentimento e nossa solidariedade. Contudo, continua causando estranheza, e também indignação, as manifestações contrárias às medidas recomendadas por organismos sanitários, no cuidado e na promoção da vida humana.

É incompreensível, especialmente por parte do Presidente da República, no exercício de suas atribuições constitucionais, a promoção de aglomerações com objetivos ideológico-políticos, estimulando comportamentos sociais com risco epidemiológico. Tais atitudes são um atentado contra a vida e contra os valores democráticos.

Manifestações de autoridades promovendo o uso de medicação sem eficácia no combate ao vírus, o descrédito propagado em torno da ciência, a omissão em relação às vacinas, a multiplicação de fake news, a desorientação sanitária e a falta de coordenação nacional no enfrentamento da pandemia cooperaram para que o número de doentes e mortos alcançasse níveis exorbitantes.

Pertinente e indispensável é a CPI instalada no Senado Federal, que se debruça sobre um mar de informações, convergindo para uma certeza: negacionismo mata. Desejamos que a CPI, ao concluir seus trabalhos, elucide a verdade dos fatos para os brasileiros, podendo abrir um novo capítulo em nossa história democrática.

Importante ressaltar que a falsa oposição entre salvar vidas e salvar a economia, que ainda alimenta o discurso oficial, revela a estratégia de quem não faz nem uma coisa nem outra. A população sofre com a falta de vacinas, cuja compra foi sistematicamente negligenciada por órgãos oficiais, assim como sofre pela falta de trabalho e de perspectivas. A concentração de renda, uma das maiores do mundo, segue seu curso, enquanto a fome se instala em milhões de lares. E o necessário auxílio emergencial, que deveria continuar a ser de R$ 600, serve como paliativo, jamais como solução.

O Estado democrático de direito, com amplo respeito às instituições, promove o convívio social pacífico, estimulando o entendimento e a disposição para a construção de uma nação mais justa e fraterna. Porém, não é nessa direção que caminham alguns setores da sociedade e parcela dos governantes. O vazio de políticas públicas, ao lado das políticas da desconstrução, não só no âmbito da saúde, mas em educação, cultura, meio ambiente, moradia, emprego, geração de renda, apoio à ciência e inovação, revela a sociedade que se sente confusa, abandonada e adoecida.

Expressamos aqui a nossa solidariedade, com uma palavra de conforto. Se, por um lado, a morte de tantos requer o silêncio respeitoso e as preces dos que têm fé, de outro lado, conclamamos mais uma vez a união nacional em defesa da vida e da democracia no Brasil. Dias melhores virão. Seja esta a bandeira de um novo tempo. Vidas perdidas não serão esquecidas.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB

Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB

José Carlos Dias, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns

Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências – ABC

Paulo Jeronimo de Sousa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa – ABI

Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC

Fonte: CNBB

Cooperativismo jesuítico-guarani, uma semente de fraternidade (Parte 3/3)

Caminho das Missões, em Jesus PY - Foto; José Roberto de Oliveira

Cooperativismo jesuítico-guarani

"Um processo de cooperação é extremamente importante para o mundo novo que nós sonhamos, para esse mundo mais igualitário, mais fraternal". A cooperação deve ser o fundamento do nosso mundo cristão, porque é um jeito de romper os individualismos que existem dentro de cada um de nós, afirma o pesquisador das Missões jesuítico-guaranis, uma "utopia" que existiu na América do Sul nos séculos XVII e XVIII.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Essa “experiência” vivida no sul da América do Sul, das Reduções jesuítico-guaranis, foi um sonho que acabou sendo destruído pelo conflito de interesses entre as Coroas portuguesa e espanhola. Há vozes que dizem que haveria por parte dos próprios jesuítas, não de maneira geral, escravização de indígenas dentro das Reduções. O que você poderia dizer sobre esse tipo de observação, que vem inclusive de alguns antropólogos.

Veja, tu tens razão, todavia, eu sou um defensor do processo histórico-cultural que aconteceu aqui. A história ela é inexorável! Em 1629 em diante, os luso-brasileiros, os bandeirantes especialmente, buscaram os índios guaranis como escravos. Todo mundo sabe disso, apesar de que, por exemplo no Brasil, o bandeirantismo é louvado como o “grande herói pátrio”. Mas veja, só eles, os bandeirantes, naquele período entre 1629 e 1645, eles mataram 600 mil guaranis. 300 mil levando como escravos e depois na maioria deles dava uma tristeza, o Banzo que os negros chamam, morriam de tristeza ali em São Paulo, Rio, na região de São Vicente. Nos ataques, mas 300 mil foram mortos, ou seja, então 600 mil foram mortos naquele período, isso no mundo luso-brasileiro. No mundo espanhol, os índios eram encomendados, os seja, las encomiendas. O que é isso? Quando você ganhava um conjunto de terra, eram grandes áreas, duas, três, quatro, cinco, seis sesmarias, ou seja, multiplica por 8.600 hectares qualquer um desses números, então dentro dessa área, no mundo espanhol, havia obviamente indígenas que viviam milenarmente naquele lugar ali, famílias, aldeias. Então esses indígenas eram encomendados, ou seja, era uma espécie de escravidão, mas no mundo espanhol era proibido se falar e dizer que você tinha escravos. Eram escravos também, todo mundo sabe disso. Por quê? Porque eram obrigados a dar tantos dias de serviço ao dono da terra, ao novo dono da terra que ganhou do governo espanhol. Veja que os guaranis reduzidos eles tinham uma terceira hipótese.

Quer dizer, a primeira hipótese, ou você era encomendado, do mundo espanhol, ou era escravo do mundo português - porque eles buscavam os guaranis, porque eles eram os únicos agricultores nessas terras planas da América, no Sul América do Sul. Então os guaranis plantavam milenarmente batata-doce, amendoim, mandioca, toda sua produção, que era o normal deles, eles eram agricultores, eram seminômades, é verdade, mas eram agricultores. Então eles precisavam muito de mão de obra, tanto no mundo espanhol como no mundo luso-brasileiro.

“Então, as Reduções são uma via possível de não ser escravizado no modelo bandeirante ou das encomiendas.”

Então veja que havia uma escolha livre. O cooperativismo exige isso, que as pessoas escolham livremente estar naquele processo, isso é elemento central do cooperativismo. Então veja que eles ficavam nas Reduções jesuíticas exatamente porque não queriam ser escravizados. E o que eu chamo de inexorável? Inexorável é isso, havia três hipóteses: ou ser escravo, ou ser encomendado ou ficar nas Reduções. Claro, que alguns índios ficaram na selva, como por exemplo os mbiás [Mbyá, M'byá, Guarani Mbya, Mbyá-Guarani ou embiás] que hoje estão mais perto das cidades, foram terminando essas grandes áreas de florestas, e os mbiás hoje estão presentes, como estão aqui na região. Mas os guaranis que foram cristianizados não foram os mbiás, foram outras tradições guaranis. Então centralmente é isso.

Mas veja que o modelo de cooperação, ele exige que as pessoas deem isso, cada um de acordo com sua capacidade. Então, veja que o modelo que se trabalhou foi um modelo de cooperação. E a história é inexorável. Ajudaram, colaboraram, fizeram, por exemplo os jesuítas mais importantes dentro da Igreja, naquele período dos anos 1600-1700? Sim! Agora ocorreu um grande desenvolvimento em termos de tecnologia, de educação, de conhecimento para essas famílias? Também sim! Então buenas, vamos dizer, cada um que vê, olha com os seus olhos. Talvez um antropólogo dissesse: ‘Ah! Os jesuítas nunca podiam ter cristianizado os guaranis!’ Mas veja, que a história é inexorável. A vinda deles para a América, vem exatamente nessa linha do desenvolvimento do cristianismo, do conhecimento, da educação, do processo da industrialização que é o centro dos jesuítas, que é isso, um cristão dos fazeres, não é um cristão do rezar. Claro que reza também, mas é acima de tudo um cristão que faz coisas, que desenvolve econômica e socialmente aquela sociedade. E este processo é o processo que se deu. Então é possível que alguém olhe com esses olhos que a tua pergunta fez, é possível, mas essa pessoa esquece o inexorável processo histórico daquele passado, daqueles anos 1600-1700, quem sabe um pouquinho até antes, os 1585 em diante. Então é muito importante e hoje eu vejo que a sociedade analisa isso, mas eu faço essa minha fala nesse sentido, de que é importantíssimo que não se veja simplesmente com os olhos simplesmente de 2021, mas que se olhe com os olhos daquele 1585, do 1609 ou do 1700. Como era a sociedade e como eram as exigências tanto do rei de Espanha como do reinado de Portugal. Como eles exigiam...

“Se há uma coisa inexorável é 1492, que foi o descobrimento, a ocupação da América.”

Quer dizer, essa data é inexorável, porque a partir disso os europeus, como todo mundo sabe, exigiam que se retirasse, se encontrasse nestas terras as riquezas, as que haviam: prata, ouro, pedras preciosas – especialmente esses três elementos – mas quando não tinha isso nas terras, se exigia produção. Então, se algo é inexorável é a história que ocorreu e que foi efetivamente a que ocorreu, e com todas as lutas e com todos os heróis que sucederam neste período todo e com o povo que está aqui vivo hoje na América Latina. Então, nós somos todos – mesmo aquelas famílias alemãs, italianas, polonesas e tantas outras etnias que vieram para cá depois - nós somos muito reflexo desse processo histórico todo e que nos diz, que nos dá os sobrenomes que nós temos hoje, e o nosso modo de ser, que os guaranis chamam de Ñde reko, que é o modo se ser das pessoas, cada um com um pouquinho mais ou um pouquinho menos de inflexão desse processo histórico.

Catedral de Santo Ângelo e peregrinos.
Foto: José Roberto de Oliveira

Fazendo um salto do passado para o presente, mas também com uma perspectiva futura: como o cooperativismo pode representar um contraponto, e também porque não o modelo e uma esperança em um mundo que a gente vive, às vezes tão egoísta individualista?

O processo de cooperação ele nasce dentro de cada um de nós, através de uma coisa que eu chamo de “índice de capacidade humana e social do desenvolvimento”, que esse é meu trabalho de mestrado, é a minha pesquisa toda que eu fiz, ela acabou se transformando num livro chamado “Índice de capacidade humana e social do desenvolvimento”, que é um índice matemático – eu estudei engenharia, então eu penso também em números. Então tem lugares que são mais empreendedores, tem lugares que têm níveis de empreendedorismo, níveis de conhecimento sobre os temas, níveis de confiança, que é fundamental entender por que algumas comunidades desenvolvem e outras não, que é o nível de confiança existente naquele lugar, ou seja, o capital social existente naquele lugar. Então essas relações elas dizem que cada um de nós, ele se integra a um processo de desenvolvimento de diversas formas. Algumas pessoas são extremamente individualistas e que precisamos de pessoas que trabalham com essas ideias mais individualistas no mundo. Mas precisamos também de ideias de mais cooperação no mundo. Então tem pessoas que têm índoles maiores de serem cooperadores com processo de desenvolvimento local, regional e de países. Então, essa forma de pensar da cooperação ela interage e age de diferentes formas dentro de cada um de nós. Algumas pessoas têm índoles para serem funcionários, outras pessoas têm para serem empreendedores, outras querem ser empreendedores, mas têm dificuldades econômicas, essas questões naturais da vida. Então, o processo de cooperação é um processo que pode ser criado dentro das mentes das pessoas, para isso precisa aprender isso e obviamente muito mais que aprender, colocar isso no coração das pessoas.

Então veja que o mundo precisa muito de cooperação, tanto para o desenvolvimento das comunidades mais pobres, você sabe que nós temos em grande quantidade no Brasil e no conjunto todo da América Latina, então a cooperação ela deve ser incentivada, ela deve ser adubada, vamos dizer assim, no conjunto da sociedade, no sentido que nós possamos nos unir e comunidades unidas, elas têm poder imenso, até poder político mesmo, essa coisa do voto mesmo, e no cooperativismo, não importa o tamanho do teu capital, importa é que você tenha o valor de um voto, então todo o processo de cooperação, isso é fundamental. E veja que na vida a gente tem que pensar nas coisas também.

“Então, um processo de cooperação ele é extremamente importante para o mundo novo que nós sonhamos, para esse mundo mais igualitário, mais fraternal.”

Quer dizer, essas ideias lá da Revolução Francesa elas deveriam estar presentes hoje em cada um de nós, na nossa luta diária, no escrever, no dizer, no fazer isso especialmente. E o cooperativismo, a cooperação ela deve ser o fundamento do nosso mundo cristão, porque é um jeito de romper esses individualismos e que está dentro de cada um, sem dúvida nenhuma. Mas veja que é uma luta diária, para nós nos melhorarmos como pessoa, como gente, como cristão, e começar a pensar nesse mundo novo, mais irmão, mais cooperador, mais de ajuda mútua mesmo, com mais “amor”, que é o centro, parece, da ideia da cooperação.

Ruínas de São Miguel Arcanjo.
Foto: José Roberto de Oliveira

Uma mensagem final...

Sempre agradecer pela condição nossa de falar sobre as Missões e convidar as pessoas – eu vejo que as nossas falas têm refletido muito. Eu recebi vários comunicados via whatsapp, telefonemas de gente de vários países, falando da importância que foi a nossa última conversa, e essa de agora com certeza também vai refletir muito e que as pessoas acabam também pensando sobre essas coisas todas e conhecendo toda essa nossa história de Missões. Então nós convidamos as pessoas também para virem para cá, para verem diretamente essa história que ainda está vivíssima, esse mundo bonito da terra vermelha, que aqui une três países e especialmente nós aqui do lado brasileiro. Então convidamos a nossa gente do país, do Brasil, mas também gente de toda a América Latina e europeus que venham conhecer essa experiência cristã, fundamental para o mundo que se construiu e que temos hoje, e que se Deus quiser, teremos no futuro um mundo mais irmão, mais fraterno, mais igualitário.

*José Roberto de Oliveira é natural de Santo Ângelo (RS), engenheiro de formação, na área da Topografia e Cartografia; foi por longo tempo docente na URI (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões); diretor de desenvolvimento do Turismo no Rio Grande do Sul; um dos fundadores do Ministério do Turismo; criador em 2012, junto com os jesuítas, mais argentinos e paraguaios, da “Nação Missioneira”; foi criador do Circuito Internacional Missões Jesuíticas e representante brasileiro no Mercosul, também em função de seu envolvimento no tema das Missões.

Fonte: Vatican News

A oração que o Papa Francisco reza todas as noites

© Sabrina Fusco / ALETEIA

"Se eu faço esta oração, você também pode fazer, em casa. E Jesus ouve-nos sempre", disse o Santo Padre.

Em Audiência Geral de 22 de junho de 2016, o público ficou a par de uma oração que o Papa Francisco faz todas as noites. Trata-se de uma contemplação às chagas de Cristo, sua misericórdia, consolação e proteção.

Afirmou o Papa:

“Senhor, se quiseres, podes purificar-me!” (Lc 5, 12): é o pedido que ouvimos dirigir por um leproso a Jesus. Este homem não pede somente para ser curado, mas para ser «purificado», ou seja, sarado integralmente, no corpo e no coração…

A súplica do leproso demonstra que quando nos apresentamos a Jesus não é necessário fazer longos discursos. São suficientes poucas palavras, contanto que sejam acompanhadas pela plena confiança no seu poder absoluto e na sua bondade. Efetivamente, confiar na vontade de Deus significa entregar-se à sua misericórdia infinita.

Também eu vos contarei um segredo pessoal. À noite, antes de ir para a cama, recito esta breve oração: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!». E rezo cinco vezes o «Pai-Nosso», um para cada chaga de Jesus, porque Jesus nos purificou com as suas chagas. Mas se eu o faço, também vós o podeis fazer, em casa, dizendo: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me!»; e, pensando nas chagas de Jesus, receitai um «Pai-Nosso» para cada uma delas. E Jesus ouve-nos sempre!”.

As cinco chagas de Jesus:

A Chaga do Pé Esquerdo: Santíssima Chaga do pé esquerdo de meu Jesus, Vos adoro.

A Chaga do Pé Direito: Santíssima Chaga do pé direito de meu Jesus, Vos adoro.

A Chaga da Mão Esquerda: Santíssima Chaga da mão esquerda de meu Jesus, Vos adoro.

A Chaga da Mão Direita: Santíssima Chaga da mão direita de meu Jesus, Vos adoro.

A Chaga do Sacratíssimo Peito: Santíssima Chaga do Sacratíssimo Peito de meu Jesus, Vos adoro.

Fonte: Aleteia

Suprema Corte dos EUA decide a favor de organização católica

Bandeira americana. Crédito: Bonnie Kittle (Unsplash)

FILADELFIA, 18 jun. 21 / 10:28 am (ACI).- A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu, nesta quinta-feira, em favor do Catholic Social Service (CSS, Serviço Social Católico na sigla em inglês) no processo contra a cidade de Filadélfia. O tribunal decidiu, por unanimidade, que a cidade violou o livre exercício da religião da organização.

O CSS se orienta pelos ensinamentos da Igreja Católica sobre o matrimônio e a família, que não certifica casais que não estejam casados, independentemente da sua orientação sexual.

O governo da Filadélfia, capital do estado da Pensilvânia, considerou que a política do CSS violava o decreto que proíbe a discriminação a homossexuais e decidiu não trabalhar mais em parceria com o grupo.

Duas mães adotivas, que trabalhavam para a agência, Sharonell Fulton e Toni Simms-Busch, processaram a cidade de Filadélfia pela decisão. Elas argumentaram que, ao rescindir os contratos, a cidade violou o direito à liberdade religiosa protegido pela primeira emenda à Constituição americana. O caso ficou conhecido como Fulton vs. Cidade da Filadélfia

John Roberts, presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, expressou a opinião unânime dos magistrados: “O CSS busca apenas uma acomodação que lhe permita continuar servindo as crianças da Filadélfia de maneira coerente com suas crenças religiosas. Não pretende impor essas crenças a mais ninguém”.

Segundo Becket, escritório de advogados que representa mães adotivas e representou o CSS neste caso, outras 29 agências de acolhimento na Filadélfia trabalham com homossexuais. O escritório também disse o CSS não recusou efetivamente nenhuma união do mesmo sexo até a rescisão dos contratos com a cidade de Filadélfia.

Os juízes Stephen Breyer, Sonia Sotomayor, Elena Kagan, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett acompanharam o juiz John Roberts no parecer majoritário. Os demais juízes apresentaram opiniões separadas mas concordaram com a decisão.

A agência de notícias CNA solicitou uma tomada de posição do porta-voz da cidade de Filadélfia, mas não recebeu resposta.

Fonte: ACI Digital

Região indígena dos Munduruku, no Pará: estamos no meio do fogo cruzado, alerta missionário

Índio Munduruku | Vatican News

O povo indígena Munduruku, da região de Jacareacanga, no sudoeste do Pará, tem sofrido com ameaças contra à vida e à saúde, além da falta de segurança que tem gerado mortes e garimpos ilegais no território. O Vatican News entrou em contato com a Missão Santa Teresa do Tapajós, que atua no local. Os frades confirmaram que a segurança pública federal tem "marcado forte presença" para controlar a situação, mas os conflitos têm obrigado "o comércio a fechar as portas. O povo com medo, se recolhe. Parece quase como uma milícia do Rio de Janeiro. A gente precisa agir com prudência, pois está no meio do fogo cruzado. Agora, após algumas prisões de contraventores, reina uma calmaria, mas sujeita a surpresas", afirma Frei Marcos Juchem Júnior.

Andressa Collet - Vatican News

Termina nesta sexta-feira (18), no Supremo Tribunal Federal, o julgamento sobre medidas a serem adotadas para garantir a proteção da vida, da saúde e da segurança dos indígenas nas terras Yanomami e Munduruku. Na quarta-feira (16), a maioria dos ministros já havia votado - em plenário virtual - a favor de determinar ao governo federal a adoção das medidas em virtude de ação de partidos e entidades indígenas que alegam, entre outros, ataques aos locais que geraram mortes, garimpos ilegais e situação de saúde precária.

Entenda o caso

A região de Jacareacanga, no sudoeste do Pará, há semanas tem sofrido com ataques contra lideranças do povo Munduruku que se opõem ao garimpo ilegal nas suas terras. Tanto que a Justiça Federal em Itaituba/PA, a pedido do Ministério Público Federal, já havia ordenado na terça-feira (15) o retorno do efetivo de segurança pública ao local para restabelecer a ordem pública.

Os indígenas Munduruku, presentes em municípios como Itaituba e Jacareacanga, no Pará, historicamente lutam pelo reconhecimento dos seus direitos e da demarcação das terras na Amazônia. O povo também alega sofrer ameaças e que o território tem sido alvo de mineração e extração de madeira ilegais, gerando uma série de problemas sociais locais, como conflitos entre garimpeiros e indígenas.

O apoio da Igreja no local

O Vatican News entrou em contato com a Missão Santa Teresa do Tapajós, que atua no local. Os frades Marcos Juchem Júnior e Ari de Souza confirmaram que a segurança pública federal tem "marcado forte presença por agora" e que eles têm ajudado a Polícia Federal "a localizar alguma liderança indígena que era contra o garimpo para poder receber proteção, pois estava sendo ameaçada". O Frei Marcos, que inclusive participou de uma reunião com a Polícia Federal, o Ibama e a Força Nacional para falar sobre a situação local, revelou que o ambiente também sofre com posições contrárias, já que há indígenas favoráveis ao garimpo:

“Eles fizeram duas fortes concentrações contra a presença dos homens da lei que vieram reprimir e destruir a atividade garimpeira, inclusive obrigando o comércio a fechar as portas. O povo com medo, se recolhe. Parece quase como uma milícia do Rio de Janeiro. A gente precisa agir com prudência, pois está no meio do fogo cruzado. Agora, após algumas prisões de contraventores, reina uma calmaria. Mas aparecem surpresas, pois a região é imensa de floresta e distâncias.”

O Frei Marcos quando esteve em reunião com representantes
da segurança pública

Leia a seguir a declaração dos frades presentes em Mundurukania sobre a situação dos indígenas:

Frei Marcos Juchem Júnior e Frei Ari de Souza*

Os carmelitas descalços estão aqui na Amazônia desde de junho de 2015. O tema dos indígenas é muito complexo e não se pode com algumas afirmações dar uma panorâmica da realidade daqui. Vamos expor alguns aspectos, que parecem ser de pouca importância, mas no seu conjunto se poderá dar o estado real dos últimos anos e acontecimentos ocorridos em um curto tempo para cá.


É de fato preocupante a situação aqui em Jacareacanga, envolvendo a situação dos nativos Munduruku. Ao ler a entrevista de Maria Leusa, líder indígena, e de algumas outras lideranças, se pode ver o quanto é delicado o contexto que se apresenta no tempo atual: "estamos ficando na miséria, sem rio e sem floresta, com tudo destruído. Estamos com nossos filhos doentes, perdendo nossos anciãos pela Covid por conta da invasão, e perdendo peixe, principalmente naquelas regiões [mais] invadidas." Claro que deveremos entender essa afirmação que, em poucas palavras, apresenta uma fotografia, de alguns aspectos muito centrais e importantes, atingidos pela atividade adversa do garimpo na reserva indígena.

Os rios continuam, alguns poluídos e contaminados pelo garimpo; a floresta da Mundurukania continua 99% de pé, e houve mortes de nativos por causa da Covid-19. Temíamos que seria muito pior, como no início foi alarmado, mas nos solidarizamos com os falecimentos havidos. Mesmo os indígenas tinham prioridade na vacinação, embora alguns se recusem a receber a vacina.
Segundo meu limitado conhecimento de toda a complexidade, no que me é possível, coloco uns pontos para reflexão. Aqui não julgo. E longe de culpar os nativos. Procuro apresentar uns temas e questões que constatamos com o único intuito de despertar a gravidade e delicado contexto aqui presente, para ajudar e conseguirmos formas de ajudar os irmãos indígenas.


Creio que a atual problemática do garimpo é também um reflexo e consequência de uma realidade mais ampla que, agora, recrudesceu, mostrando pontos críticos e delicados presentes nesta região amazônica. É fato que o branco está garimpando muito no Estado do Pará: o ouro, a cassiterita nesta região do sudoeste do Estado. Descobrindo o ouro na Mundurukania, o branco se meteu na área indígena com o assentimento de alguns indígenas, o que causou uma forte divisão entre os nativos, provocando esses conflitos, enfrentamentos entre os indígenas contra e a favor do garimpo, onde o branco - com a sua influência - está presente e, com técnicas e tratores, faz uma exploração forte do ouro e da cassiterita, deixando um grande estrago na natureza.


Existem causas que agudizam esta realidade na Mundurukania, que vem de mais tempo. Apresento alguns pontos delicados e importantes. Nos últimos anos houve um aumento bastante considerável do número de nativos Munduruku. Se 25 anos atrás eram em 5 mil, hoje são 15 mil. Isso requer sempre mais condições e meios para a sua subsistência. Os rios são os mesmos; os peixes já pescados do rio para os nativos se alimentarem, não existem mais. Claro que há a reprodução. Os mesmos nativos sabem que em outras regiões do país os mesmos têm mais meios de vida, cultivando a terra com soja, café, além da criação de peixes...


Igualmente nas festas dos indígenas, como dos padroeiros das aldeias, após as celebrações religiosas, estando presentes os nativos das aldeias vizinhas e parentes, se requer um número considerável de peixes para lhes dar de comer. Como não têm meios de conservar os peixes pescados com dias de antecedência, os mesmos o precisam fazer na véspera. A forma de capturá-los é usar o timbó, uma planta venenosa, que entorpece os peixes, os mata... aqui morrem todos os peixes, também os pequenos. Isto já levou os mesmos indígenas a se oporem a isso. Em parte, o conseguiram, mas não de todo. Algumas aldeias já deixam de oferecer certos alimentos nas festas, por não terem condições de o fazerem.


Quanto à caça, vai na mesma linha: os animais abatidos não existem mais. A caça de agora não é tão silenciosa. Antes feita com flechas, agora se faz com armas de fogo, se abatem alguns animais, mas muitos outros se espantam fugindo para mais longe. Também, manter uma arma de fogo, cada cartucho não é tão barato.

questão religiosa também apresenta os seus problemas. A nossa presença junto aos nativos não é tão forte como quiséramos. O grande número de aldeias, o maior número de nativos, as dispersões e entretenimentos até legítimos, mas que influenciam na recepção e vivência dos sacramentos. As diversas denominações de evangélicos presentes nas aldeias, com alguma denominação que exige que se deixe os costumes, por exemplo, no vestir, em se pintar para as festas ou outras manifestações, é uma diversidade que lhes gera confusões diversas. O que é quase inacreditável, já que alguma denominação evangélica afirma que não é problema destruir o meio ambiente, pois "Jesus está voltando, e logo será o fim".

Uma outra queixa que se houve de alguns caciques é que os mesmos não são obedecidos mais como anteriormente, de modo particular nas aldeias maiores. Isso pode revelar a falta de uma coordenação e liderança mais efetiva entre o povo indígena. Junto a isso, algumas dificuldades na convivência na aldeia entre as famílias, onde as mesmas ou alguns grupos decidem fundar outras aldeias, em geral, mais perto de Jacareacanga, pois lhes facilita o vir para a cidade e, claro, a sempre maior influência da cidade sobre o modo de viver, com possíveis aspectos positivos ou negativos. 

Ao visitar as aldeias, sobretudo as maiores, sinto que há necessidade de haver um estímulo maior e incentivo às escolas, à educação e até às condições materiais de vida, como o acesso aos alimentos. Outra particularidade da Mundurukania é a grande distância e as horas de viagem para os nativos virem pelos rios até Jacareacanga: alguns viajam 4 dias de rabeta, que é um tipo de canoa. O retorno, 6 dias, rio acima, a fim de providenciar as suas necessidades. Aqui em Jacareacanga, os indígenas fazem romarias com vazilhames vazios para conseguir combustível, solicitando ao prefeito e particulares, para retornarem às suas aldeias. São centenas de litros de combustível, já que aqui não é barato.

Tudo isso requer dinheiro. Como vão ter recursos para essas viagens, além de comprar mantimentos necessários para as aldeias?

A natureza oferecia uma abundância em tempos idos para um certo número de nativos. Hoje será que tudo é tão abundante? Creio que há necessidade de colocar na natureza, plantar e cultivar a terra para produzir alimentos. Essa mudança de atitude e visão precisa ser ensinada aos nativos e com condições de cultivar a terra. Na floresta, este cultivar requer um empenho maior: levar sementes, arar a terra, plantar, colher, armazenar para o sustento e industrializar certos produtos, como diversos subprodutos da macaxeira e da mandioca, o transporte para comercializá-los, o combustível necessário para isso.... Quanto dinheiro conseguirão com todo esse trabalho? Também a colheita da castanha ou a extração dos óleos de cobaíba e andiroba.

Muitos nativos vivem na cidade de Jacareacanga e trabalham nos mais diversos setores, desde o comércio, prefeitura, saúde, ensino, e as mulheres, de domésticas... Como também há trabalho nos garimpos fora da área indígena, com os brancos. Isso nos mostra que o nativo quer trabalhar, precisa trabalhar para comprar as coisas, mas não há empregos para tantos aqui na cidade. Ví com satisfação um indígena comprando à vista o seu telefone celular e logo fazer um plano para o uso do mesmo. Acontece também de algum indígena vir pedir esmola ou dinheiro aqui na casa paroquial: lhes damos, porém, com cuidado, pois se sabem que damos para alguns, os contentamos, mas podemos descontentar muitos se não lhes damos.

Vejo que algum recurso que algumas aldeias ou nativos possam conseguir com o ouro dos garimpos será passageiro. As consequências que ficam em geral não são positivas, como a destruição da natureza, o mercúrio que fica na terra e nos rios. Alguns se queixam que não ajudam entre si, uma partilha deste dinheiro. Falando de ouro, quem não gosta dele, até os irmãos de Santa Teresa da Ávila, presentes na América espanhola, o buscaram com avidez, como todos os advindos em busca de riquezas. 

“A grande preocupação - e várias interrogações - são como alavancar e empreender uma vida integrada, digna, saudável para os indígenas, onde os mesmos sejam os primeiros protagonistas neste tempo atual, que já foi submetido a grandes mudanças. E essas se encontram, não estacionadas, mas, sim, num dinamismo constante.”

Diante de tudo isso, o que se pode fazer? Vejo que há necessidade de se conseguir fazer análises profundas, uma radiografia da nova realidade e num diálogo envolvente, participativo dos indígenas e demais estruturas que são corresponsáveis para irem construindo um processo positivo de novas soluções, mantendo também os valores e costumes da sua cultura, a preservação da natureza, como a ecologia, para que os povos originários consigam um equilíbrio em sintonia com as necessidades e aspirações atuais.
*Missão Santa Teresa do Tapajós

Fonte: Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF