Cibele
Battistini - publicado em 08/12/25
Desde o início do pontificado de Leão XIV, assim como no
de seu predecessor Francisco, vários textos foram publicados pelo Dicastério
para a Doutrina da Fé (DDF) para alertar contra certos desvios relacionados à
devoção mariana.
O novo Papa segue a linha do anterior, adotando uma postura
prudente, garantindo que a figura de Maria seja honrada sem jamais ofuscar a
primazia de Cristo na fé cristã.
Nos últimos meses, a questão mariana voltou ao centro das
atenções da Igreja, impulsionada por uma série de esclarecimentos doutrinais.
Em 4 de novembro, o DDF publicou a nota doutrinal Mater Populi fidelis (A
Mãe do povo fiel), fazendo um ponto de situação sobre certos títulos atribuídos
à Virgem Maria — especialmente “corredentora” e “mediadora”. O documento
esclarece a posição do magistério sobre o status e o papel de Maria, recordando
que, segundo a fé católica, “somente Deus pode conceder a graça”.
Roma alerta contra qualquer consideração sobre a Virgem que
“afaste de Cristo ou a coloque no mesmo nível que o Filho de Deus”. Contudo,
“não se trata de corrigir, mas de valorizar, admirar e encorajar a piedade do
povo fiel de Deus”, afirma a nota, que destaca a “cooperação” particular de
Maria na salvação realizada por Jesus, entendida como uma “maternidade
espiritual” em relação aos seres humanos.
Embora sua publicação tenha gerado muitos comentários, Mater
Populi fidelis não foi impulsionada por Leão XIV, pois foi escrita
durante o pontificado de Francisco. Mas o texto foi aprovado pelo novo Papa
duas vezes: o cardeal Robert Prevost o aprovou como membro do dicastério em 26
de março — antes da morte de Francisco — e novamente como Papa em 7 de outubro.
“Nossa Mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar próxima
de nós, ajudar-nos por sua intercessão e por seu amor.”
Algumas semanas antes da publicação, durante a missa do
Jubileu da espiritualidade mariana, dedicada a grupos e movimentos devotos à
Virgem, o pontífice americano-peruano afirmou que “a espiritualidade mariana,
que alimenta nossa fé, tem Jesus como centro”. Palavras com a mesma tonalidade
das da nota doutrinal.
No livro Leão XIV, retrato de um papa peruano (2025,
Fayard), a teóloga Véronique Lecaros relata a “atitude muito pragmática”
adotada pelo padre Robert Francis Prevost diante de supostas visões e mensagens
do além durante seu tempo como missionário no Peru. Segundo um de seus próximos
colaboradores, César Piscoya, o agostiniano advertia: “Pense que 103 vezes
essas visões vêm da imaginação; é possível que, na 104ª vez, seja uma mensagem
inspirada…”
Outros documentos de esclarecimento foram publicados
recentemente pelo Vaticano. Em 9 de julho, o DDF concedeu o nihil
obstat às aparições marianas do Monte Zvir, na Eslováquia, embora
alertando contra algumas mensagens ambíguas atribuídas à mãe de Jesus. Em 12 de
novembro, o “Guardião do dogma” decretou que o fenômeno das presumidas
aparições de Dozulé, na Normandia, “deve ser considerado, de modo definitivo,
como não sobrenatural”.
Mais uma vez, não há novidade nesses veredictos: foi no
pontificado de Francisco que, em maio de 2024, uma nova metodologia de
investigação sobre fenômenos místicos foi implementada. Essas normas
estabeleceram seis “níveis” de avaliação, permitindo destacar aspectos
positivos e negativos em um mesmo fenômeno. O estudo desses dossiês continua,
portanto, sob o pontificado de seu sucessor.
Um brasão papal com o lírio mariano
Desde seus primeiros instantes como Papa, Leão XIV expressou
sua devoção pessoal à Virgem Maria. Saudando a multidão da varanda da Basílica
de São Pedro logo após sua eleição, o novo papa destacou que 8 de maio marca o
dia da Súplica a Nossa Senhora de Pompeia. “Nossa Mãe Maria quer sempre
caminhar conosco, estar próxima de nós, ajudar-nos por sua intercessão e por
seu amor”, afirmou antes de convidar os fiéis a rezar uma Ave-Maria.
Em seu livro, Véronique Lecaros comenta a escolha do brasão
papal — o mesmo que o brasão episcopal de Robert Prevost — que retoma os
símbolos característicos dos agostinianos, incluindo a flor-de-lis, “o símbolo
mariano por excelência”. “A devoção mariana, de forma sapiencial e meditativa,
harmoniza-se bem com a espiritualidade agostiniana e representa também uma
dimensão pessoal de Leão XIV”, escreve a autora.
No dia seguinte à sua eleição, a primeira saída do Papa Leão
XIV fora de Roma também teve uma tonalidade mariana: ele foi a Genazzano para
se recolher no santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho, fundado no século XV
por uma religiosa agostiniana, a beata Petruccia.
“Mãe da Igreja, acolhe-nos com benevolência, para que, sob
teu manto, encontremos refúgio.”
Durante o jubileu da espiritualidade mariana, o sucessor de
Pedro declarou que “a espiritualidade mariana autêntica torna atual na Igreja a
ternura de Deus, sua maternidade”. “A espiritualidade mariana nos mergulha na
história sobre a qual o céu se abriu; ela nos ajuda a ver os soberbos dispersos
pelos pensamentos de seu coração, os poderosos derrubados de seus tronos, os
ricos enviados embora de mãos vazias”, acrescentou, evocando temas do
Magnificat.
Ao final da celebração, Leão XIV pronunciou uma oração ao
Coração Imaculado de Maria, apresentando-a como “perfeita discípula do Senhor”
e confiando a ela “o mundo inteiro e toda a humanidade”. “Mãe da Igreja,
acolhe-nos com benevolência, para que, sob teu manto, encontremos refúgio e
sejamos sustentados por tua ajuda materna nas provações da vida”, suplicou.

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