NASCE UMA FLOR
05/12/2025
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Todos nós construímos, em nosso sentimento e pensamento, uma
imagem ideal de Jesus Cristo. Quando a partilhamos com outras pessoas
percebemos que há semelhanças e diferenças. O mais importante é confrontar a
imagem pessoal com a fisionomia que a Palavra de Deus revela de Jesus
Cristo. Isto evita distorções. A liturgia da Palavra do segundo domingo do
Advento oferece alguns dados para reconstruir a autêntica imagem do Messias
(Isaías 11,1-10; Salmo 71, Romanos 15,4-9 e Mateus 3,1-12).
O profeta Isaías parte da metáfora de um tronco
seco que é sinal de queda, morte e de esterilidade. Outrora foi uma árvore
frondosa, abençoada e com a missão de fazer o bem e produzir frutos
de justiça. Mas com o tempo as infidelidades foram matando a árvore.
Agora, existe somente um tronco seco do qual não se pode se esperar
mais nada. O profeta está se referindo a casa de Davi e seus sucessores.
Humanamente não tem mais nada a fazer. Mais, eis o milagre: “nascerá uma haste
do tronco de Jessé (pai de Davi) e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma
flor”. Algo tão prodigioso somente pode vir de Deus.
Sobre esta “haste” e o “rebento de uma flor” “repousará o
espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de ciência
e temor de Deus; no temor do Senhor encontrará ele seu prazer”. Deus cria
uma nova espera e tudo inicia de novo. As esperanças humanas faliram, mas
as promessas de Deus criam uma nova situação fundada no Espírito do
Senhor. Este personagem terá seis atributos (que depois serão identificados
com os sete dons do Espírito Santo na tradução grega da Bíblia, na Vulgata
e na tradição da Igreja) que iniciará a concretização de
um novo tempo.
Quando Jesus inicia sua missão em Nazaré, se apresenta
como a concretização desta promessa. Lê a profecia de Isaías: “O Espírito
do Senhor está sobre mim…”. Depois afirma: “Hoje se cumpriu esta
palavra da Escritura que acabais de ouvir”. O Messias tem grande efusão do
Espírito, princípio divino transformador da realidade humana. Em toda a vida de
Jesus os atributos anunciados se concretizaram. Ensinava com sabedoria e
autoridade; não julgava pelas aparências ou por ouvir dizer; tinha profunda
intimidade com o Pai e revelou o que se passa na profundeza da alma.
A ação do Messias “trará justiça para os humildes e uma
ordem justa para os homens pacíficos”. Jesus constantemente esteve presente
junto aos humildes e todos os rejeitados manifestando
misericórdia. Reacendeu na vida deles a esperança. Se
foram abandonados pelos homens, não foram rejeitados por Deus.
O ensinamento do Evangelho aparentemente contradiz
a imagem de Messias apresentada na profecia de Isaías. Na
verdade, esclarece como o Messias realiza a esperança. A presença
dele não cria uma situação fantasiosa, irreal.
A esperança se concretiza em ações exigindo empenho e
responsabilidade. Arrepender-se, confessar os pecados e mudar de
vida é o único caminho para produzir uma nova realidade.
João Batista afirma que o Messias batizará com o “Espírito Santo e com fogo”
purificando as consciências e queimando o que é sem valor, os males e
os pecados.
Na carta aos Romanos São Paulo revela outra face do
Messias. Ele é servidor que acolhe a todos e cria fraternidade entre
eles. Por isso, convida a ficar “firme na esperança. O Deus que dá
constância e conforto vos dê a graça da harmonia e concórdia, uns com os
outros, como ensina Cristo Jesus”.
Para nós, tudo isto parece um ideal utópico e
difícil de ser traduzido em fatos. A realidade
dos fatos parece desmentir diariamente este ideal. Sem dúvida
isto se constitui um desafio. Porém, somente quem tem a Grande
Esperança – que é Deus – é mais forte que os fatos.
Quem crê é chamado a propagar e realizar diariamente o que o Messias
fez e deseja continuar fazendo através de nós.

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