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sábado, 11 de setembro de 2021

ESTUDOS BÍBLICOS: «Como ler a Bíblia» (Parte 2/4)

Revista Paróquias

«Como ler a Bíblia»

Bispo Kallistos Ware
Trad. por Dra. Rosita Diamantopoulos

Entendendo a Bíblia através da Igreja

Em segundo lugar, devemos receber e interpretar a Escritura através da Igreja e na Igreja. A nossa aproximação à Bíblia não é apenas obediente, mas também eclesiástica. É a Igreja quem nos dirá o que significa a Escritura. Um livro não faz parte da Escritura apenas devido a alguma teoria em particular sobre sua datação e autoria. Mesmo que pudesse ser provado, por exemplo, que o quarto Evangelho não foi realmente escrito por João, o Discípulo Amado do Senhor, isto não alteraria o fato de que a Igreja Ortodoxa aceita-o como Sagrada Escritura. Por que? Porque o Evangelho de João é aceito pela Igreja e na Igreja.

É a Igreja quem nos diz quais são as Escrituras e também é a Igreja quem nos diz como elas devem ser entendidas. Falando sobre o Etíope ao ler o Velho Testamento em sua carruagem, o Apóstolo Felipe perguntou-lhe: "Entendes o que lês?" E o etíope respondeu-lhe: "Como eu poderia, a não ser se fosse guiado por um homem?" (Atos 8:30-31). Todos nós estamos na mesma posição do etíope. As palavras da Sagrada Escritura não são auto-explicativas, Deus fala diretamente ao nosso coração quando lemos a Bíblia. A leitura das Escrituras é um diálogo pessoal entre cada um de nós e Cristo, mas precisamos de um guia, e o nosso guia é a Igreja. Podemos usar o nosso entendimento em plenitude, assistidos pelo Espírito Santo, podemos usar os achados de nossas pesquisas Bíblicas modernas, mas sempre submetemos a nossa opinião privada, seja a individual ou de nossos alunos, à total experiência da Igreja em todos estes séculos.

A opinião da Igreja Ortodoxa aqui se resume à questão utilizada pelos recém-convertidos nos serviços introdutórios da Igreja Ortodoxa:

"Você reconhece que a Sagrada Escritura deve ser aceita e interpretada de acordo com a nossa fé herdada de nossos Santos Patriarcas, a qual a Santa Igreja Ortodoxa, nossa Mãe, sempre guardou e ainda guarda?"

Lemos a Bíblia pessoalmente, mas não como indivíduos isolados, mas sim como membros de uma família, a família da Igreja Ortodoxa. Quando a lemos não podemos dizer "eu," mas sim "nós," lemos em comunhão com outros membros do Corpo de Cristo, em todas as partes do mundo e em todas as gerações temporais. O teste decisivo e criterioso para o nosso entendimento do que é a Sagrada Escritura é o pensamento da Igreja. A Bíblia é o livro de nossa Igreja.

Por onde começarmos para descobrir qual é o pensamento da Igreja? Nosso primeiro passo é observar como a Escritura é usada em seus trabalhos, como as lições Bíblicas são particularmente escolhidas para serem lidas em diferentes festividades. Igualmente devemos consultar as anotações de nossos Patriarcas e ponderar como eles interpretaram a Bíblia, porque a maneira Ortodoxa da leitura Bíblica é, igualmente, litúrgica e patriarcal. E isto, como podemos perceber na prática, não é fácil de ser feito, porque dispomos de poucos comentários Ortodoxos das Escrituras em português, e a maior parte não engloba a visão patriarcal.

Como um exemplo do que significa interpretar as Escrituras liturgicamente, guiados pelas que são usadas em nossas festividades, podemos procurar no Velho Testamento pelas lições apontadas para a Festa da Anunciação, que são três: Gênesis 28:10-17, relatando o sonho de Jacó com a escada que ia da Terra ao Céu, Ezequiel 43:27—44:4, relatando a visão do Profeta sobre o Santuário de Jerusalém, com a porta fechada onde ninguém, com exceção do príncipe poderia passar e Provérbios 9:1-1, uma das mais sábias passagens do Antigo Testamento que diz "— A Sabedoria construiu a sua casa." Estes textos do Antigo Testamento portanto, uma vez selecionados para a Festividade da Anunciação, devem ser entendidos como profecias sobre o nascimento da Virgem Maria, que é descendente de Jacó, e supriu a forma carnal da entrada de Deus em nosso mundo humano. Maria é o portão fechado pelo qual pariu uma criança e permaneceu inviolada. Maria forneceu a casa na qual a nossa visão cristã de Deus (1 Cor 1:24) baseia-se. Explorando dessa forma a escolha das lições Bíblicas para as diferentes festividades, descobrimos camadas de interpretação Bíblica não evidenciadas em uma primeira leitura.

Tomando outro exemplo, no Sábado de Aleluia, a primeira parte da antiga Vigília Pascal tem quinze lições no Antigo Testamento, que iniciam-se para nós como um esquema inteiro da História Sagrada enquanto, ao mesmo tempo, subentendem uma maneira mais profunda de encarar a Ressurreição de Cristo. A primeira lição é Gênesis 1:1-13, a descrição da Criação: a Ressurreição de Cristo é uma nova Criação. A quarta lição, integralmente no livro de Jonas, descrevendo a permanência do Profeta por três dias no interior de uma baleia sugere, mesmo que por uma sombra, a Ressurreição de Cristo em sua tumba após três dias (conforme Mateus 12:40). A sexta lição nos lembra a passagem dos israelitas pelo Mar Vermelho (Êxodo 13:20 — 15:19), que nos antecipa a nova passagem da morte para a vida (conforme Coríntios 5:7; 10:1-4). A lição final é a história dos três jovens no caldeirão (Daniel 3), mais um tipo de profecia do renascimento de Cristo de sua tumba.

Este é o efeito eclesiástico da Escritura, na Igreja e com a Igreja. Ao estudarmos liturgicamente o Antigo Testamento com a ajuda de nossos Patriarcas, podemos encontrar em todos os sinais apontando para o Mistério de Cristo e de sua Santa Mãe. Lendo o Novo Testamento à luz do Antigo, e o Antigo à luz do Novo, como nos encoraja a Santa Igreja, descobrimos a unidade do Espírito Santo. Uma das melhores maneiras de identificar as correspondências entre o Antigo e o Novo testamento é usar uma boa concordância Bíblica, que pode nos dizer um pouco mais sobre o significado das Escrituras e seus comentários.

Em estudos bíblicos em grupo, é interessante encarregar uma pessoa de anotar quais as passagens do Antigo Testamento usada para uma festividade em particular, para que as razões para isso possam ser discutidas, tendo como base a palavra dos patriarcas, como, por exemplo, as homilias de São Crisóstomo, que fora traduzidas em inglês. Os cristão sempre devem persistir na mente encontrar a Cristo quer onde procurem.

Fonte: https://www.ecclesia.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF