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terça-feira, 7 de março de 2023

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (13/16)

O cristianismo e as religiões | Politize!

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

III. 2. A questão da revelação

88. A especificidade e irrepetibilidade da revelação divina em Jesus Cristo se funda em que só em sua pessoa se dá a autocomunicação do Deus trino. Daí, em sentido estrito, não mais se poder falar de revelação de Deus a não ser enquanto Deus dando-se a si mesmo. Cristo é ao mesmo tempo o mediador e a plenitude de toda a revelação (cf. DV 2). O conceito teológico de revelação não pode ser confundido com o da fenomenologia religiosa (religiões de revelação, aquelas que se consideram fundadas em uma revelação divina). Somente em Cristo e em seu Espírito, Deus se deu completamente aos homens; por conseguinte, apenas quando se dá a conhecer essa autocomunicação se dá a revelação de Deus em sentido pleno. A doação que Deus faz de si mesmo e sua revelação são dois aspectos inseparáveis do acontecimento de Jesus.

89. Antes da vinda de Cristo, Deus revelou-se de modo peculiar ao povo de Israel como o único Deus vivo e verdadeiro. Enquanto testemunho dessa revelação, os livros do Antigo Testamento são palavra de Deus e conservam um valor perene (cf. DV 14). Apenas no Novo Testamento os livros do Antigo recebem e manifestam sua significação completa (cf. DV 16). Porém, no judaísmo persiste a verdadeira revelação divina do Antigo Testamento. Certos elementos da revelação bíblica foram recolhidos pelo Islã, que os interpretou em um contexto diferente.

90. Deus se deu a conhecer e continua dando-se a conhecer aos homens de muitas maneiras: por meio das obras da criação (cf. Sb 13,5; Rm 1,19-20); por meio dos juízos da consciência (cf. Rm 2,14-15) etc. Deus pode iluminar os homens por caminhos diversos. A fidelidade a Deus pode dar lugar a certo conhecimento por conaturalidade. As tradições religiosas foram marcadas por "muitas pessoas sinceras inspiradas pelo Espírito de Deus" (Diálogo e Anúncio, 30). A ação do Espírito não deixa de ser percebida de algum modo pelo ser humano. Se, segundo o ensinamento da Igreja, nas religiões se encontram "sementes do Verbo” e "raios da verdade”, não podem ser excluídos delas elementos de um verdadeiro conhecimento de Deus, mesmo com imperfeições (cf. RM 55). A dimensão gnosiológica não pode estar de todo ausente onde reconhecemos elementos de graça e de salvação.

91. No entanto, ainda que Deus tenha podido iluminar os homens de maneiras diferentes, nunca temos a garantia da reta acolhida e interpretação dessas luzes em quem as recebe. Só em Jesus há a garantia da plena acolhida da vontade do Pai. O Espírito assistiu de maneira especial os apóstolos no testemunho de Jesus e na transmissão de sua mensagem; da pregação apostólica surgiu o Novo Testamento, e também graças a ela a Igreja recebeu o Antigo. A inspiração divina que a Igreja reconhece nos escritos do Antigo e Novo Testamentos assegura que neles se recolheu tudo e só o que Deus queria que se escrevesse.

92. Nem todas as religiões têm livros sagrados. E embora não se possa excluir, nos termos expostos, alguma iluminação divina na composição desses livros (nas religiões que os têm), é mais adequado reservar o qualificativo de inspirados aos livros canónicos (cf. DV 11). A denominação de "palavra de Deus" reservou-se na tradição aos escritos dos dois testamentos. A distinção é clara inclusive nos antigos escritores eclesiásticos que reconheceram sementes do Verbo nos escritos filosóficos e religiosos. Os livros sagrados das diferentes religiões, ainda quando possam fazer parte de alguma preparação evangélica, não podem ser considerados como equivalentes ao Antigo Testamento, que constitui a preparação imediata para a vinda de Cristo ao mundo.

Fonte: https://www.vatican.va/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF