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sábado, 12 de abril de 2025

A Via-Sacra dos Invisíveis cruza olhares e histórias em Roma

A Via-Sacra dos Invisíveis (Vatican Media)

Entre as ruas adjacentes à Estação Termini, um local de abrigo para muitos sem-teto, a Paixão de Jesus, pelo segundo ano, foi marcada pelos mesmos passos de muitas pessoas frágeis que fizeram da rua a sua casa. O bispo auxiliar da diocese do Papa, dom Michele Di Tolve, sublinhou que somente o olhar de Jesus nos torna capazes de encontrar os olhos dos invisíveis.

Benedetta Capelli – Vatican News

Há uma cidade que se aglomera em torno da Estação Termini, formada por pessoas que correm para não perder o trem, para chegar em tempo a um compromisso combinado ou para esperar alguém que talvez esteja voltando de férias. Mas há também outra cidade que dificilmente se mistura com a primeira: é a cidade das caixas de papelão que se transformam em camas, das sacolas de compras que são guarda-roupas que devem ser segurados com firmeza, de uma garrafa e um cigarro que fazem companhia. É a cidade dos invisíveis, das pessoas que provavelmente não escolheram viver na rua, os “pobres Cristos”, como são frequentemente chamados.

Cristos que escolheram reviver a paixão de Jesus nas ruas próximas à estação e junto com aqueles rostos que se tornaram familiares por terem se cruzado no refeitório “João Paulo II” ou no albergue da Cáritas “Don Luigi Di Liegro”, duas realidades que oferecem abrigo e calor para aqueles que vivem às margens da Estação. A Via Sacra dos Invisíveis se concentra no olhar que se torna abertura para o outro, relacionamento, cuidado. Agora em sua segunda edição, a iniciativa foi organizada pela Cáritas de Roma em colaboração com os Salesianos da Basílica do Sagrado Coração de Jesus em Castro Pretorio.

No olhar, encontramos Deus

Dentro da Basílica, vive-se a primeira estação: Jesus nos olha com amor. “Nesta noite”, lemos no livreto de meditação, "escolhemos não apenas ver as pessoas ao nosso redor, mas sermos vistos por nossa vez, sermos tocados pelo olhar do outro, que pode ter um poder de mudança profunda. Conscientes de que nesse olhar podemos encontrar Deus". A procissão formada por pessoas comuns, hóspedes do albergue Di Liegro, pobres, freiras e padres, se desloca para fora, na Via Marsala. As orações marcam os passos junto com o barulho do tráfego de sexta-feira, dos anúncios vindos da estação, daqueles que estão correndo para algo importante. O contraste, no entanto, vai se suavizando aos poucos, há quem observe com curiosidade essa humanidade caminhando, quem pare, quem faça o sinal da cruz. Não há indiferença, mas talvez curiosidade em entender essa Via Sacra que parece incomum em um lugar como esse.

A Via-Sacra dos Invisíveis (Vatican Media)

Dom Michele: “O relacionamento nos faz viver”

Dom Michele Di Tolve, bispo auxiliar da Diocese de Roma, liderou a procissão. “Devemos nos lembrar do olhar de Jesus sobre Zaqueu”, destacou à mídia do Vaticano, “se nos deixarmos encontrar pelo olhar do nosso irmão, percebemos que é o Senhor que nos procura nesse olhar, é isso que queremos testemunhar, caminhando humildemente entre os outros, mas encontrando o olhar das pessoas”. O convite do bispo é reconhecer naqueles que consideramos diferentes precisamente nós mesmos, “porque somos frágeis, pobres, necessitados, a necessidade do outro deve nos fazer perceber as nossas necessidades”, acrescenta, “e isso nos faria bem, muitas vezes estamos muito agitados para alcançar metas estabelecidas que nos distraem do relacionamento que, ao contrário, nos faz viver”.

Diretor da Cáritas: a Via Sacra da esperança

Enquanto o sol se põe, essa humanidade de invisíveis continua a caminhar em direção ao albergue na Via Marsala, a última parada da Via Sacra. “Esta é uma cidade”, explica Giustino Trincia, diretor da Cáritas de Roma, "de invisíveis que são muito visíveis, mas muitas vezes não se quer ver. Assim, o tema que também trazemos para essa Via Sacra, por um lado, é o dos olhares, convidando todos a olharem para essas pessoas e também a serem olhados, mas, por outro lado, é também o grande tema da esperança. A Via Sacra é também um caminho que sela a esperança, porque no final da Via Sacra está Jesus Cristo, morto, mas ressuscitado, que vence a morte". Uma esperança que se transforma em apoio, solidariedade, proximidade, se a pessoa encontra o olhar do outro, porque neste cruzamento ela se vê “reconhecida como pessoa, com sua própria dignidade, porque não há nada pior do que a pobreza material do que ser evitado ou até mesmo considerado um problema”. “Não nos damos conta”, conclui o diretor da Cáritas, “de que, de fato, tudo isso não é a causa, mas o efeito das grandes desigualdades, das injustiças de uma economia, de uma sociedade que não coloca no centro a pessoa, a dignidade do ser humano”.

Andrea e sua cruz

Há sete estações em que várias pessoas, entre elas também Andrea, carregam a cruz. Ele mora no albergue, tem olhos muito claros, é impossível não encontrar aquele olhar que mostra um sofrimento antigo, um pecado que ele ainda não perdoou a si mesmo porque sente a gravidade de ter batido em seu próprio pai. Há uma palavra que ele sempre repete: “família”, ele sente a necessidade dela, ele a procura, ele gostaria de reconquistá-la, ele anseia por ela. Ele quer voltar a ser pai de sua filha Michela e sente falta de sua parceira, mas sabe que agora precisa continuar no caminho de renascimento em que embarcou, pelo qual agradece sinceramente aos operadores que o estão apoiando. "Por que você participou da Via Sacra? Foi um gesto que tive que fazer, que senti vontade de fazer, porque - é a resposta dele - todos nós somos um pouco invisíveis". “Na minha opinião, na vida é importante rezar, tocar música e saber como se reconciliar com Deus”. Neste Jubileu da Esperança, ele volta a falar sobre aquele olhar que é o fio condutor da Via Sacra. “A esperança é a luz dos nossos olhos, é encontrar e falar diretamente com as pessoas, seja sobre coisas boas, coisas ruins, as quedas, as viagens, os quilômetros que ainda faltam percorrer especialmente para me reunir um dia com minha família, não posso mais ficar longe, mas sei que lá em cima há quem está do meu lado, só devo rezar!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Jubileu Eucarístico celebra os 525 anos da Primeira Missa no Brasil

Coroa Vermelha, Santa Cruz Cabrália - Foto: arquivo da Paróquia Sagrada Família 

Para marcar essa data histórica, a Diocese de Eunápolis promove o Jubileu Eucarístico dos 525 anos da Primeira Missa, entre os dias 24 e 26 de abril de 2025, com uma programação que une espiritualidade, cultura e civismo.

Sara Gomes - CNBB Regional Nordeste 3

Neste ano, em profunda comunhão com a Igreja que vivencia o Jubileu dos 2025 anos do nascimento de Jesus, como peregrinos de esperança, o Brasil, de modo especial a CNBB Regional Nordeste 3 - formada pelas arquidioceses e dioceses da Bahia e de Sergipe -, celebra um marco fundamental de sua história religiosa e cultural: os 525 anos da Primeira Missa celebrada em solo brasileiro. Realizada em 26 de abril de 1500, na região de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália (BA), essa celebração simboliza o início da evangelização no país e representa um ponto de encontro entre culturas, fé e identidade nacional.

Para marcar essa data histórica, a Diocese de Eunápolis promove o Jubileu Eucarístico dos 525 anos da Primeira Missa, entre os dias 24 e 26 de abril de 2025, com uma programação que une espiritualidade, cultura e civismo. O evento também conta com o apoio do Governo da Bahia, da Prefeitura de Porto Seguro e da Prefeitura Municipal de Santa Cruz Cabrália, e terá transmissão oficial da TV Aparecida.

A celebração é um convite à renovação da fé e à valorização das raízes cristãs do povo brasileiro, reafirmando o papel da Eucaristia como fonte de unidade e missão evangelizadora.

Um aspecto marcante é a presença do povo Pataxó, cujas aldeias estão fortemente enraizadas na região de Coroa Vermelha. Muitos dos paroquianos da Igreja local são indígenas Pataxós, que mantêm viva sua cultura e espiritualidade, e participam ativamente da vida eclesial. Sua presença no Jubileu traz um profundo significado de reconciliação histórica, diálogo entre culturas e reafirmação do protagonismo dos povos originários na construção da fé no Brasil.

PROGRAMAÇÃO OFICIAL

24 de abril (quinta-feira) – Abertura Solene

16h30 - Abertura Cívica do Jubileu Eucarístico no Centro Histórico de Santa Cruz Cabrália, com hasteamento das bandeiras, execução do Hino Nacional pela Filarmônica local e acolhida da Gestão Municipal aos Arcebispos e Bispos da CNBB Regional Nordeste 3;

17h - Missa Solene com os Arcebispos e Bispos do Regional Nordeste 3, na Igreja Nossa Senhora da Conceição.

25 de abril (sexta-feira)

Visitas Jubilares em lugares de devoção e fé em Porto Seguro, como a Igreja de Nossa Senhora D’Ajuda, Vale Verde e Centro Histórico;

9h - Jubileu dos Militares com a Celebração da Páscoa dos Militares na Igreja Nossa Senhora da Pena, em Porto Seguro;

15h - Terço da Misericórdia pelo Brasil, na Praça do Cruzeiro, em Coroa Vermelha;

17h - Missa Solene na Paróquia Nossa Senhora da Pena, em Porto Seguro.

26 de abril (sábado) – Dia dos 525 anos da Primeira Missa

5h - Alvorada festiva com fogos e Filarmônicas;

10h - Encenação do Auto de Pindorama, na Praça do Cruzeiro;

10h - Chegada e acolhida da Cruz Original da Primeira Missa, no Aeroporto Internacional de Porto Seguro;

12h - Bênção dos Peregrinos, na Praça do Cruzeiro em Coroa Vermelha; salva de fogos e badalar dos sinos em todas as paróquias da Diocese de Eunápolis;

13h - Carreata da Fé com a Cruz da Primeira Missa do Brasil, saindo da Paróquia São Sebastião, em Porto Seguro;

14h30 - Procissão de Nossa Senhora da Esperança, saindo da Praça da Juventude, em Coroa Vermelha;

16h - Missa Pontifical dos 525 anos da Primeira Missa do Brasil, na Praça do Cruzeiro, em Coroa Vermelha;

18h - Encerramento com show pirotécnico e show religioso.

A celebração promete reunir fiéis de diversas partes do Brasil, transformando a Costa do Descobrimento em um grande santuário a céu aberto. Em um tempo que clama por reconciliação e esperança, celebrar a Eucaristia onde tudo começou é reafirmar a presença de Deus na história e no futuro do povo brasileiro.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Cardeal Gantin: Em memória do Cardeal Bernardin Gantin (I)

Cardeal Bernardin Gantin | 30Gioirni

Arquivo 30Dias n. 05 - 2008

Em memória do Cardeal Bernardin Gantin

Em 13 de maio, aniversário da primeira aparição mariana em Fátima, o Cardeal Bernardin Gantin encerrou sua vida terrena. Poucos dias antes, em 8 de maio, dia da Súplica a Nossa Senhora de Pompéia, ele havia completado 86 anos. Com seu desaparecimento, a Igreja na África perde uma de suas figuras mais significativas. De fato, em 1960, Gantin foi o primeiro arcebispo metropolitano negro de seu continente. Ele foi posteriormente o primeiro africano a ser chamado para cargos de grande responsabilidade na Cúria Romana. Primeiro, em 1971, como secretário adjunto da Propaganda Fide, depois como presidente da «Iustitia et Pax» e da «Cor Unum», e depois, a partir de 1984, como prefeito da Congregação para os Bispos. Vindo da África negra, ele se viu à frente do departamento que mais colabora com o Papa na seleção de bispos “brancos” (para os territórios de missão, de fato, essa tarefa cabe à Propaganda Fide).

A morte do Cardeal Gantin também é uma perda para a Igreja universal. O cardeal participou do Concílio Vaticano II e dos dois conclaves de 1978. De 1993 até o final de 2002, ele também foi decano do Colégio Cardinalício. Depois, quando completou oitenta anos, pediu para retornar à sua terra natal com o título de deão emérito.

Profundamente ancorado em suas raízes, Gantin também era profundamente romano. E não apenas porque ele passou bons 31 anos de sua vida na Cidade Eterna. Se há um aspecto da figura do Cardeal Gantin que sempre impressionou seus interlocutores, é seu amor a Roma e ao Bispo de Roma, o Papa. É proverbial que, enquanto pôde, o cardeal nunca quis perder a missa que é celebrada todo dia 6 de agosto na cidade para comemorar a morte de Paulo VI, daquele Papa Montini que o havia chamado a Roma para servir na Cúria Romana. Ele lembra com que carinho sempre falava de João Paulo I. O cardeal sempre teve enorme estima e respeito por João Paulo II. Por fim, o vínculo com Bento XVI era muito especial: de fato, Ratzinger e Gantin foram criados cardeais no mesmo consistório, o de 1977, o último de Paulo VI. Não só isso. Entrevistado por 30Giorniem 2002, o cardeal, explicando a sua dor pelas «muitas críticas… muitas vezes injustificadas» que ouviu dirigidas à Cúria Romana ao longo dos anos, indicou o próprio Cardeal Ratzinger como uma figura «exemplar», «um verdadeiro modelo para toda a Cúria». "Aqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo pessoalmente", acrescentou, "puderam apreciar a delicadeza, a sensibilidade, a cortesia e a simplicidade com que Ratzinger lida com os casos muitas vezes difíceis que lhe são submetidos". O cardeal não pôde expressar fisicamente seu voto no conclave de 2005.

 Mas um jornalista americano escreveu que o Cardeal Gantin, ao deixar o cargo de decano do Colégio, favoreceu a nomeação para este cargo do então vice-decano, que era Ratzinger, e assim, de alguma forma, ajudou objetivamente a eleição de Bento XVI. A história não é feita de "ses", é claro, mas não nos importamos em imaginar que as coisas aconteceram exatamente dessa maneira.

Em suma, o Cardeal Gantin sempre amou o Papa, o Bispo de Roma. E ele sempre amou Roma, tanto que quis voltar para a África, como sempre repetia, como “missionário romano”. Em sua missa de despedida em Roma, celebrada na manhã de 3 de dezembro de 2002, o cardeal exclamou: "Que minha língua se cole ao meu palato e que minha mão direita fique paralisada se eu algum dia me esquecer de ti, ó Roma, nova Jerusalém, meta de tantos peregrinos de todo o mundo..."

Por fim, o falecimento do Cardeal Gantin também é uma perda para nossa revista, à qual ele nunca deixou de demonstrar sua paternal benevolência. De fato, o cardeal não deu entrevistas, com exceção daquelas concedidas ao nosso Gianni Cardinale. E para lembrá-lo pensamos em publicar nas páginas seguintes duas de suas conversas mais significativas com nossa revista mensal.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Existe algo que deixa as pessoas mais felizes do que sexo e chocolate?

Liliya Kandrashevich | Shutterstock

Susan E. Wills - publicado em 22/03/15 - atualizado em 11/04/25

Uma pesquisa feita no Reino Unido encontrou respostas surpreendentes.

As revistas femininas, pelo menos aquelas posicionadas estrategicamente nos caixas dos supermercados, parecem obcecadas com a propriedade que o sexo e os chocolates têm de produzir euforia. As revistas masculinas parecem focadas nas mais recentes “ótimas ideias” para torná-los desejados pelas mulheres e invejados pelos outros homens.
 
Mas um novo estudo sugere que os homens e as mulheres poderiam se sentir melhor se… olhassem os álbuns de família.
 
Uma pesquisa da Opinion Matters ouviu 2.040 adultos no Reino Unido e descobriu que 80% dos entrevistados “eram mais felizes quando relembravam os velhos tempos passados com amigos e familiares”.
 
O chocolate (com 17%) e “até mesmo sexo (38%)” ficaram atrás das lembranças (45%) na lista das “fontes de maior e mais prolongado impulso emocional”.
 
E quais são os eventos que produzem as lembranças mais felizes?
 
1. O nascimento dos filhos, citado por 45% dos entrevistados;
2. Uma determinada viagem de lazer ou férias, para 32%;
3. O encontro com o(a) parceiro(a), para 30%;
4. Natal, aniversários e outras celebrações (% não informado);
5. O dia do casamento, citado por 20%.
 
A “lembrança favorita” menos popular foi a promoção no trabalho, citada por apenas 4% dos entrevistados.
 
A pesquisa também perguntou sobre o tipo de lembrança que tem “maior poder emocional” para o entrevistado e descobriu que “olhar fotos antigas de momentos felizes” vem em primeiro lugar, para 53% das pessoas. “Recordar o passado em conversas com parentes” ocupa o segundo lugar, com 36% de menções. Em terceiro lugar, para 25% dos entrevistados, “ver fotos de pais e avós”.
 
O realizador do estudo, Richard Grant, divulgou os resultados junto com o lançamento do Lifetile, um serviço online gratuito, criado por ele, que permite aos usuários “reconstituir e organizar com segurança a história da sua vida e compartilhá-la, inteira ou em partes, com as pessoas que mais lhe importam”. Ele comenta:
 
“Chegamos a uma época em que estamos tão ocupados capturando tudo no mesmo instante em que acontece que corremos o risco de perder de vista o porquê de estarmos fazendo isso! Esquecemos de parar e olhar para trás, para a história da nossa vida, para as coisas que realmente importam, e ficamos indo de uma atualização para a próxima no nosso status nas redes sociais”.
 
Mas por que as lembranças boas são experiências mais interessantes do que as vivências atuais, que deveriam nos parecer mais vivas? A neurociência explica que as nossas mentes reveem e embelezam as nossas memórias, tornando-as menos factuais e, talvez, mais felizes (ou mais assustadoras) do que de fato foram.
 
Eu acho, porém, que a resposta está no fato de que os chocolates e a intimidade sexual (mesmo dentro do casamento) não chegam perto de satisfazer os anseios mais profundos do coração humano; pelo menos não durante muito tempo. A felicidade duradoura está no dom de si mesmo, no ato de oferecer e receber verdadeiro amor, aquele amor sacrificial, em que os interesses e as necessidades do outro (e de muitos outros, espera-se) são colocados à frente dos nossos próprios. O papa João Paulo II identificou exatamente nisto o sentido da vida humana.
 
No nascimento do primeiro filho, eu acho que a maioria dos pais se sente atingida por uma avalanche de emoções que eles nunca tinham experimentado antes: um amor (deveria haver outra palavra, específica só para isso!) palpável por aquela pequena criatura que eles agora estão segurando nos braços… Depois do nascimento do meu primeiro neto, a minha filha me confidenciou: “Eu nunca tinha entendido até hoje o quanto você realmente me ama”. E os nascimentos seguintes foram todos recapturando aquela alegria na união dos membros da família.

 
Quanto às pessoas que citaram alguma viagem de férias com a maior das suas felicidades, não pense que elas estavam viajando sozinhas. Você já foi ver um filme sozinho? O prazer é tão menor quando comparado ao de compartilhar a experiência com a família ou com amigos!
 
As viagens de lazer são especiais não por causa do destino, mas por causa do tempo compartilhado com os entes queridos. Amigos e casais sem filhos podem descobrir e compartilhar novas experiências. Para as famílias com filhos, são tempos preciosos em que a mãe e o pai, temporariamente livres das responsabilidades que ocupam a maior parte da sua vida diária, conseguem esbanjar toda a sua atenção com os filhos (que chegam a ficar surpresos e agradecidos!).
 
Todas as nossas lembranças mais felizes, em suma, envolvem relacionamentos com as pessoas que nos amam e a quem nós amamos.
 
Será que a cultura de hoje reconhece esta verdade? Considerando a nossa busca febril de entretenimento, de prazer sensual, de riqueza material, de celebridade e de poder, parece que não.
 
O conceito de “níveis de felicidade” vem de um lampejo da mente de Aristóteles e é promovido até hoje.
 
O nível 1 da felicidade, o dos prazeres sensuais que a nossa mídia de celebridades e as nossas corporações comerciais elevaram ao nível mais alto, aciona um único e fugaz prazer, que precisa ser constantemente reexperimentado ou substituído por outros novos e melhores.
 
O nível 2 da felicidade é o da satisfação do ego, o de sentir-se superior, mais admirado, mais popular e mais bem sucedido que os outros. Esse nível nos isola e não consegue produzir uma felicidade duradoura, porque, primeiro, nesse nível não estamos dando os nossos talentos, o nosso amor e o nosso próprio ser a ninguém e, segundo, porque estaremos sempre inseguros sabendo que outros poderão nos ofuscar amanhã.
 
O nível 3 da felicidade, encontrado nas respostas a essa pesquisa britânica, reflete o desejo humano (ou pelo menos dos humanos saudáveis, maduros e psicologicamente equilibrados) de cuidar dos outros, de se entregar e de fazer do mundo um lugar melhor, contribuindo para o bem comum.
 
E o nível 4 da felicidade reconhece que o desejo humano de bondade, verdade, beleza e justiça nos leva a Deus e a uma vida espiritual e criativa que transcende os aspectos mundanos da existência terrena.
 
A pesquisa diz o que as revistas não vão dizer: “Direcionem o seu coração para os outros e não para as coisas que só trazem o prazer fugaz”. E eu acrescento: “Direcionem o seu coração para Deus. Ele vai lhes mostrar como viver a vida ao máximo!”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2015/03/22/existe-algo-que-deixa-as-pessoas-mais-felizes-do-que-sexo-e-chocolate

Do Tratado sobre a fé de Pedro, de São Fulgêncio de Ruspe, bispo

O sacrifício de Cristo (Editora Cléofas)

Do Tratado sobre a fé de Pedro, de São Fulgêncio de Ruspe, bispo

(Cap.22.62: CCL 91A, 726.750-751)

(Séc. VI)

Cristo ofereceu-se por nós

Os sacrifícios das vítimas materiais, que a própria Santíssima Trindade, Deus único do Antigo e do Novo Testamento, tinha ordenado que nossos antepassados lhe oferecessem, prefiguravam a agradabilíssima oferenda daquele sacrifício em que o Filho unigênito de Deus feito carne iria, misericordiosamente, oferecer-se por nós.

De fato, segundo as palavras do Apóstolo, ele se entregou a si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor (Ef 5,2). É ele o verdadeiro Deus e o verdadeiro sumo-sacerdote que por nossa causa entrou de uma vez para sempre no santuário, não com o sangue de touros e bodes, mas com o seu próprio sangue. Era isto que outrora prefigurava o sumo-sacerdote, quando, uma vez por ano, entrava no santuário com o sangue das vítimas.

É Cristo, com efeito, que, por si só, ofereceu tudo o quanto sabia ser necessário para a nossa redenção; ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo. Sacerdote, por quem somos reconciliados; sacrifício, pelo qual somos reconciliados; templo, onde somos reconciliados; Deus, com quem somos reconciliados. Entretanto, só ele é o sacerdote, o sacrifício e o templo, enquanto Deus na condição de servo; mas na sua condição divina, ele é Deus com o Pai e o Espírito Santo.

Acredita, pois, firmemente e não duvides que o próprio Filho Unigênito de Deus, a Palavra que se fez carne, se ofereceu por nós como sacrifício e vítima agradável a Deus. A ele, na unidade do Pai e do Espírito Santo, eram oferecidos sacrifícios de animais pelos patriarcas, profetas e sacerdotes do Antigo Testamento. E agora, no tempo do Novo Testamento, a ele, que é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, a santa Igreja católica não cessa de oferecer em toda a terra, na fé e na caridade, o sacrifício do pão e do vinho.

Antigamente, aquelas vítimas animais prefiguravam o corpo de Cristo, que ele, sem pecado, ofereceria pelos nossos pecados, e seu sangue, que ele derramaria pela remissão desses mesmos pecados. Agora, este sacrifício é ação de graças e memorial do Corpo de Cristo que ele ofereceu por nós, e do sangue que o mesmo Deus derramou por nós. A esse respeito, fala São Paulo nos Atos dos Apóstolos: Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo vos colocou como guardas, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho (At 20,28). Antigamente, aqueles sacrifícios eram figura do dom que nos seria feito; agora, este sacrifício manifesta claramente o que já nos foi doado.

Naqueles sacrifícios anunciava-se de antemão que o Filho de Deus devia sofrer a morte pelos ímpios; neste sacrifício anuncia-se que ele já sofreu essa morte, conforme atesta o Apóstolo: Quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado (Rm 5,6). E ainda: Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho (Rm 5,10).

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Cabo-verdianos na Europa preparam-se para viver “Jubileu C500”

Jubileu da Diáspora Cabo-verdiana na Europa a ter lugar em Paris, no âmbito do C500 (Vatican News)

A comunidade cabo-verdiana residente na Europa é convidada a viver momentos de grande significado espiritual e histórico na cidade de Paris-França: a celebração solene da abertura do Jubileu da Europa, integrada no decénio de preparação das comemorações dos 500 anos da Diocese de Santiago de Cabo Verde, a realizar-se em 2033.

Rádio Nova de Maria - Cabo Verde

As atividades irão decorrer de 9 a 12 de Maio próximo, em Paris, Versailles e outras cidades, confirma o Bispo de Santiago e cardeal Dom Arlindo Furtado.

Encontro já realizado em Luxemburgo (Vatican News)

As Basílicas do Sagrado Coração de Jesus de Montmatre e Santo Sulpício, em Paris, recebem as celebrações que serão presididas pelo prelado de Santiago. Será uma ocasião de fé, encontro e partilha que une filhos e filhas das ilhas espalhados pelo mundo, reafirmando os laços que os ligam às suas raízes, assegura Dom Arlindo Furtado.

Depois de Paris e Verssailles, segue a cidade de Marselha onde existe um grande número de crioulos e depois Roma-Itália e os países de expressão portuguesa, na África.

O Projeto C500 é a Celebração dos Quinhentos Anos da Diocese de Santiago de Cabo Verde. As comemorações incluem eventos temáticos em Cabo Verde e na Diáspora, culminando em 2033.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Ramos, sinal da esperança que passa pela paixão e a cruz

Símbolos da Semana Santa (nossasenhoradalapa)

RAMOS, SINAL DA ESPERANÇA QUE PASSA PELA PAIXÃO E A CRUZ 

Dom Roberto Francisco Ferrreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

O Domingo de Ramos e da Paixão inicia a Semana Maior da Liturgia, constituindo um grandioso portal que mostra e apresenta intensamente o drama da salvação da humanidade que terá seu ápice no Tríduo Pascal.  

Nos leva a vivenciar um contraste e um paradoxo profundo e radical, nossa alegria conduzida pela esperança decorrentes de seguir acompanhar a Cristo se encontram com a Cruz, que integra e dá sentido a redenção. Nem todos naquele dia e hoje mesmo entendem este dia marcado pelo sinal de contradição que configura Cristo e sua missão libertadora. Certamente que nos ajuda muito a avaliar nosso discipulado e a autenticidade de nosso seguimento.  

Os apelos de uma sociedade individualista voltada para o consumo e a adrenalina do fruir e do possuir, podem nos levar a um cristianismo light de compensações e devoções externas que não nos colocam na trilha do Reino e não possibilitam o renascer esplendoroso da Páscoa. Neste domingo deveríamos espelhar-nos nos jovens hebreus, com seus cantos esperançosos que identificam e louvam a Jesus, como a razão do seu viver e a promessa de cumprimento dos sonhos do Pai.  

Domingo da fraternidade que acalenta compromissos e projetos este ano 2025, de unirmo-nos na Paixão de Cristo a tantas pessoas crucificadas em razão do sofrimento causado pela crise climática, vítimas de enchentes, desastres ecológicos, refugiados climáticos, nativos que ficam sem alimentação pela contaminação dos seus rios e as queimadas das florestas. Situações de vulnerabilidade e destruição que levam a toda a humanidade a repensar os rumos e o futuro da sua habitação na Terra. Porém é necessário afirmá-lo com decisão e convicção, a Cruz da Paixão não é fracasso e muito menos esquecimento, ao contrário revela a mais clara manifestação da misericórdia divina e da sua infinita compaixão por cada um de nós e por cada criatura do planeta.  

Cristo abre com sua paixão fiel e amorosa caminhos de esperança verdadeira e como a âncora aos pés da cruz jubilar, fortalece e impulsiona dando peso e firmeza a nossa missão de anunciá-lo e testemunhá-lo até o fim, entregando-nos por inteiro para juntos com Ele trazer vida em abundância, construindo um Céu e uma Terra nova onde habite a justiça. Que a Cruz de Cristo seja sempre nossa luz e nossa esperança! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Haiti, apelo do arcebispo de Porto Príncipe: “O país está destruído. Quem virá nos ajudar?"

Haitianos protestam contra a violência crescente na Ilha caribenha (Vatican News)

Em uma mensagem à mídia do Vaticano, Dom Max Leroys Mésidor, arcebispo de Porto Príncipe e presidente da Conferência Episcopal do Haiti, relata a dolorosa situação de sua arquidiocese: “Aqui, 28 paróquias foram completamente fechadas e o trabalho pastoral de outras 40 continua em ritmo lento porque muitos bairros da cidade estão nas mãos de gangues armadas”. Forte condenação dos bispos pela violência em Mirebalais e pelo assassinato das duas freiras.

Federico Piana – Vatican News

"O Haiti está em chamas e sangrando: aguarda um apoio urgente. Quem virá para ajudar?". Com uma mensagem confiada à mídia do Vaticano, o arcebispo de Porto Príncipe e presidente da Conferência Episcopal Haitiana, Dom Max Leroys Mésidor, lança um preocupado apelo, chamando a atenção do mundo inteiro para a dor que está assolando seu coração aflito pelo ressurgimento da violência que está devastando cada vez mais a nação caribenha. Nos últimos dias, denunciou o prelado com veemência, a situação em sua arquidiocese piorou dramaticamente: 28 paróquias foram completamente fechadas e o trabalho pastoral de outras 40 continua de forma lenta e precária porque muitos bairros da cidade estão nas mãos de gangues armadas. “Nossa Quaresma”, escreveu, “é de fato um calvário, mas nós a oferecemos em comunhão com os sofrimentos de Cristo”.

A indignação dos bispos

Profunda tristeza e indignação também foram expressas oficialmente na sexta-feira (04) pela Conferência dos Bispos do Haiti, que condenou em termos inequívocos o ataque de gangues armadas em Mirebalais, uma populosa cidade a poucos quilômetros de Porto Príncipe, a capital do país caribenho, que na segunda-feira (31/03) causou a morte de várias pessoas, incluindo duas religiosas da Congregação das Irmãzinhas de Santa Teresa do Menino Jesus. Na ocasião, os membros das gangues, unidos no cartel criminoso chamado Vivre Ensemble, atacaram uma delegacia de polícia e a penitenciária local, de onde teriam fugido dezenas de detentos, causando um longo e sangrento combate com a polícia.

Crime hediondo

“Esses trágicos eventos mergulham mais uma vez a nossa nação e a nossa Igreja no luto”, advertiram os bispos, que julgaram o assassinato das duas religiosas, Evanette Onezaire e Jeanne Voltaire, "um crime hediondo que nos recorda a extensão do mal que aflige nossa sociedade. Suas vidas de serviço ao Evangelho e aos mais vulneráveis permanece um testemunho luminoso do amor de Cristo".

A inércia das autoridades

Mas os bispos foram ainda mais longe: denunciaram a inação das autoridades que, apesar de terem diante de si a escalada de violência que está lançando toda a nação no caos, “ainda não tomaram as medidas necessárias para evitar essa tragédia”. A falta de uma resposta eficaz à contínua insegurança é uma falha grave que coloca em risco uma nação deixada à mercê de forças destrutivas".

Raiva crescente

Tentando apaziguar a raiva crescente entre o povo haitiano, que acusa as autoridades de não fazerem o suficiente para pôr fim aos confrontos, ontem o líder do Conselho Presidencial de Transição, Fritz Alphonse Jean, prometeu novas medidas drásticas para deter o derramamento de sangue, depois de reconhecer publicamente que o país se tornou um inferno para todos. "Entendemos a sua miséria. Conhecemos sua dor e seu sofrimento. Povo haitiano: vocês falaram e nós os ouvimos", disse Fritz Jean à margem da grande manifestação na capital na quarta-feira (02/01), que mobilizou milhares de pessoas em frente à sede do Governo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 9 de abril de 2025

ANÁLISE: O chamado para uma vida bela

Mariapia Carraro, O coração da vida. Irmã M. Francesca Del Papa. Irmã da Menina Maria, Ancora, Milão 2006, pp. 160. | 30Giorni

Arquivo 30Dias n. 05 - 2007

O chamado para uma vida bela

Este é o legado que a Irmã Maria Francesca Del Papa deixou para as muitas pessoas que a conheceram: desde os pobres das cidades do sul da Itália onde trabalhou, aos estudantes dos colégios burgueses onde lecionou, até os muitos prisioneiros que auxiliou. Um livro a lembra seis anos após sua morte.

por Pina Baglioni

Em um diário de 1994, em 25 de dezembro, Irmã Maria Francesca Del Papa desenhou um coração e escreveu nele a data de seu batismo: 16 de dezembro de 1943. Ao lado, uma nota: "O maior presente que já recebi". Cinquenta e sete anos depois, no início de dezembro de 2000, o coração de Francesca parou, partido pelo cansaço, enquanto ela caminhava sozinha por uma rua da velha Bari.

Seis anos após sua morte, um livro de Mariapia Carraro conta sua história: O coração da vida. Irmã M. Francesca Del Papa. Irmã da Criança Maria . "Dedicado a todas as pessoas que a conheceram", escreve a autora, "diretamente ou por meio destas páginas e que desejam preservar sua memória como uma lembrança de uma vida linda."

Muitas pessoas a conheceram: os pobres da velha Bari e os "burgueses" do exclusivo Colégio Margherita. O povo enlutado do distrito de Sanità, em Nápoles, e o de Rettifilo, em Capaccio, uma terra desolada na província de Salerno. Retraçando sua vida através do belo livro de Carraro, também freira de Maria Bambina, emerge um amor especial dessa freira especial pelos prisioneiros, ou como ela os chamava, "meus bandidos". Por eles, ele aprendeu a navegar pelo emaranhado de obstáculos burocráticos, solicitando entrevistas com familiares e falando com diretores de prisões para agilizar autorizações. Ele ensinou literatura e arte aos internos e transmitiu-lhes sua paixão pelo teatro, criando “companhias” dentro das instituições penais. Ele distribuiu comida, roupas, cigarros, imagens da Madona e se tornou uma “ponte” entre eles e suas famílias. Acima de tudo, ele transmitiu a todos seu amor apaixonado por Jesus Cristo.

Os Anos de Espera

«Uma jovem um tanto... misteriosa, de uma elegância contida e muito refinada. Ela sempre usava um colar de pérolas, lindo e discreto…». No final da década de 1960, uma de suas alunas do colégio Bartolomea Capitanio, em Bérgamo, lembrava-se de Maria Francesca dessa maneira. Graduada brilhantemente em literatura clássica, ela havia acabado de começar a lecionar quando decidiu ingressar como postulante nas Irmãs de Maria Bambina, as freiras da infância, frequentadas na paróquia e na escola maternal de Lapedona, sua cidade natal na província de Ascoli Piceno. Anos mais tarde, outra de suas alunas, desta vez de Margherita, o liceu da rica Bari, diria dela: «A Irmã Francesca era uma mulher de verdade, era uma “dama”, era uma cristã de classe, era definitivamente uma freira de caridade […]. Ela era o rosto de Cristo em minha vida."

Essa elegante moça, pertencente à classe média alta e já prometida em casamento a um jovem promissor, terá um destino diferente: o de viver seu amor exclusivo pelo Senhor "inteiramente consagrada à caridade". Convencida, como se pode ler em um de seus doze diários escritos com minúcia, de que "Deus usa os ineptos para o seu reino".

Maria Francesca Del Papa iniciou seu noviciado em Roma em 8 de setembro de 1970 e sete anos depois foi admitida aos votos perpétuos. Durante esse período, ela experimenta uma espécie de retaliação dolorosa: ela gostaria de viver ao lado dos pobres. A qualquer tipo de pobreza, seja qual for a sua manifestação. Seus santos favoritos eram São Francisco de Assis e Santa Teresa de Lisieux, de quem ele havia escrito um pensamento em um de seus diários: «Eu te buscarei, Senhor, na humildade e no nada; Ficarei o mais longe possível de tudo o que brilha." Mas Francesca terá que esperar um pouco para realizar sua aspiração. E obedecer. A superiora geral, Madre Angelamaria Campanile, reconhecendo sua habilidade para o ensino e sua grande capacidade de ser amada e seguida pelos jovens, enviou-a para lecionar literatura na Margherita, a faculdade mais exclusiva de Bari. "Ficamos fascinados por sua vivacidade e simpatia", diz uma aluna da Margherita, "ela era muito boa, exigente como professora, mas também sabia jogar bola conosco." Todas as manhãs, ele entra na sala de aula sorrindo para suas queridas alunas "burguesas" da Margherita, transmitindo carinho, paixão e vivacidade. Até que, em outubro de 1978, eis um novo destino: Nápoles, bairro Sanità, onde uma pequena comunidade de freiras trabalha naquele bairro pobre. Parece que a aspiração de Maria Francesca pode se realizar. Mas não, porque a enviam para cursar a Faculdade de Teologia. As pessoas ao seu redor frequentemente a flagram chorando por causa de livros. Tanto assim que o Cardeal Anastasio Ballestrero, assistente espiritual de Maria Francesca por mais de vinte anos, escreveu para consolá-la: «Respondo à sua longa carta agradecendo ao Senhor junto com você porque Ele está colocando você à prova […]. Para o seu trabalho, também prefiro o bairro à Faculdade de Teologia […]. Que a oração permaneça a fonte da sua fidelidade e da sua força." 

Os pobres, os donos das nossas vidas

Não passa um ano sem que ele tenha que deixar Nápoles e ir para Capaccio, uma grande cidade composta por pelo menos quinze aldeias na planície de Paestum, na província de Salerno. Maria Francesca viveu lá de 1979 a 1985 junto com outras quatro freiras em um apartamento alugado próximo à paróquia de San Vito. O pároco lhe confiará em particular o vilarejo de Rettifilo, habitado por pessoas com décadas de trabalho precário e marginalização. Na escola e na igreja, Irmã Maria Francesca ensina catecismo. Junto com suas irmãs, ela arregaçou as mangas e, graças à compra de um mimeógrafo, conseguiu produzir materiais didáticos para crianças, para ex-alunos desempregados e para adultos. Festas, viagens e procissões são organizadas. Um coral de vozes mistas é formado como uma oportunidade de orar e estar juntos. O eco de tanta alegria move a generosidade de muitas pessoas boas, o que nos permitirá ajudar os mais pobres.

Em setembro de 1985, Maria Francesca teve que fazer as malas novamente e retornar ao Colégio Margherita, em Bari. Alguns anos se passariam entre o ensino, as tarefas domésticas e a atenção constante às irmãs mais velhas, que ela colocava "em primeiro lugar". Enquanto isso, ele espera poder dedicar seu tempo aos mais pobres.

Maria Francesca Del Papa, em Subiaco, seu refúgio de oração durante os anos difíceis da escolha. | 30Giorni

A última parada: o encontro com os presos

Um dia, ela descobre que uma de suas alunas é filha do diretor da prisão de Turi, a poucos quilômetros de Bari. Esse encontro não só lhe abre as portas da prisão como também lhe oferece a oportunidade de conhecer as famílias dos prisioneiros. Assim começa a última etapa da vida de Irmã Maria Francesca: "Tira as sandálias: esta é uma terra abençoada porque é uma terra de dor", são as palavras que um prisioneiro lhe dirige atrás das grades da cela, no primeiro dia em que pisa na prisão. E então Francesca percebe que lá dentro é preciso "despojar-se de toda tentação de superioridade e deixar-se "contar entre os pecadores" [...]. Diante de Deus não existem bons e maus, existem apenas filhos amados, tal como são." Ele nunca se permitirá julgá-los, dar-lhes sermões moralistas. Aqueles que a conheceram lembram-se dela anotando centenas de pedidos de seus amigos presos em seus famosos diários. Pedidos de todos os tipos e de todas as prisões. Como a de Marco, detido em confinamento solitário na prisão de Asinara: «Assim que puderes, vai visitar o Homem da Catedral [o Crucifixo na cripta da Catedral de Trani, ed. ]: Eu só o sinto […]. Ontem eu estava olhando aquelas fotos dele que você me enviou, mas na minha mente eu me lembro melhor dele: eu me lembro de uma imagem de beleza absoluta. Quando estiver diante dele, basta olhá-lo como eu o olhei, naquele dia, agora distante, em que você me surpreendeu, sozinha, diante dele. O homem vai entender que eu estou nesse seu olhar. Depois você vai me contar como você achou [...]». 

A Casa de Santa Maria

Maria Francesca sente o desejo de ir morar no centro histórico de Bari, povoado por ex-presidiários, batedores de carteira, mulheres enlutadas e castigadas pela vida, e prostitutas. Enquanto continuava a ensinar em Margherita, Irmã Maria Francesca obteve permissão da superiora para morar em um pequeno quarto no Vicolo Santa Maria, bem no meio da rede de ruas do “Borgo antico” de Bari. Inaugurada em 21 de novembro de 1994, no meio de uma multidão de crianças, freiras e mães, a partir daquele momento passou a se chamar Casa Santa Maria. «Muitas vezes preciso consultar o mapa para me orientar no emaranhado de vielas, sob o olhar benevolente dos santos, aos quais a maioria deles é dedicada», anota nos seus diários. E enquanto isso, aquele quarto, que para Maria Francesca "não é um 'centro de escuta', mas um lugar de evangelização mútua", torna-se destino de crianças em busca de doces e brinquedos, de mães, esposas e irmãs ansiosas por notícias da prisão. As pessoas nos becos veem a Irmã Maria Francesca correndo com uma bolsa de lona branca da qual ela tira tudo. E se lhe sobrar tempo, detém-se na penumbra da igreja de Santa Escolástica, em frente ao sacrário: «Devemos caminhar rezando; "Se alguém não reza, torna-se juiz", ainda encontramos anotado em um de seus diários.

Talvez ela estivesse rezando naquele 1º de dezembro, dia de sua morte, enquanto caminhava sozinha e apressada pelas ruas estreitas do "Borgo Antico" de Bari, quando foi encontrada sem vida, ainda de joelhos.

No dia seguinte, quando a maior parte da cidade, consternada, se dá conta de que nunca mais verá a Irmã Maria Francesca, uma jovem aluna do IV Ginásio de Margherita escreve: "[...] Você mesma nos disse que, ao nos deixar, ninguém deveria derramar lágrimas, mas sim alegrar-se, porque você tinha que encontrar aquele Homem que sempre foi o mais importante em sua vida [...]. Obrigada".

Fonte: https://www.30giorni.it/

Chamei-vos amigos (5): Vejam que bons amigos (V)

Chamei-vos amigos (5): Vejam que bons amigos

A amizade que um cristão oferece a aqueles que o rodeiam foi sempre motivo de admiração. Com o passar do tempo surgem sempre novas circunstâncias e novos desafios.

08/09/2020

Correm os últimos anos do século II. Os cristãos que vivem no Império Romano são perseguidos com violência. Um jurista chamado Tertuliano, que pouco tempo antes havia abraçado o cristianismo, sai em defesa de seus irmãos na fé, fé que ele agora conhece melhor. E ele o faz através de um tratado no qual procura informar os governadores das províncias romanas sobre a verdadeira vida daqueles que eram acusados injustamente. Ele mesmo os havia admirado, especialmente os mártires, antes de tornar-se cristão; mas agora, acolhendo a opinião de muitos, Tertuliano resume em um único comentário o que se diz sobre aquelas pequenas comunidades: “Vede como se amam!”[1].

São muitos os testemunhos desta amizade que os primeiros cristãos viviam. Pouco antes, no início do mesmo século, o bispo Santo Inácio de Antioquia, enquanto se dirigia a Roma para o seu martírio, escreveu uma carta ao jovem bispo Policarpo. Entre vários conselhos, exorta-o a aproximar-se “com mansidão” daqueles que estão longe da Igreja, já que não teria mérito amar só “os bons discípulos”[2]. Sabemos, com efeito, que Cristo se faz presente na história através da sua Igreja, dos seus sacramentos, da Sagrada Escritura, mas também através da caridade com que nós, cristãos, tratamos aqueles que nos rodeiam. A amizade é um desses “caminhos divinos da terra”[3] que Deus abriu ao ter-se feito homem, amigo de seus amigos. Trata-se de um terreno no qual se apalpa, de modo especial, essa cooperação misteriosa entre a iniciativa de Deus e a nossa correspondência.

A CONFIANÇA ENTRE OS AMIGOS CRESCE GERALMENTE NO MEIO DE UMA ATIVIDADE COMUM

Por isso, para que Cristo chegue aos outros através de nossas relações, é importante crescer na virtude e na arte da amizade; desenvolver a capacidade de amar aos outros e de amar com os outros; deixar que a nossa vida seja moldada por esse desejo de compartilhá-la com outros. Procuramos, portanto, que o nosso caráter se forme – ou se reforme – para tornar-nos amáveis e construir pontes. Queremos inclusive que os nossos gestos, o nosso modo de falar, de trabalhar ou de mexer-nos, favoreçam o encontro com os outros. Tudo isto, contando sempre com a nossa própria maneira de ser e com as nossas limitações pessoais, já que existem infinitos modos de ser bom amigo.

Um ao lado do outro

Dizia C. S. Lewis que imaginamos os apaixonados “com o rosto voltado um para o outro, mas amigos estarão lado a lado; seus olhos voltados para a frente”[4], para algo a fazer, a alcançar juntos. Um amigo não ama somente o amigo, ama com ele; apaixona-se pelas atividades, projetos e ideais valiosos da outra pessoa. Aquela amizade brota muitas vezes simplesmente compartilhando tarefas que são verdadeiros bens comuns e, assim, os amigos crescem juntos nas virtudes necessárias para alcançá-los.

Neste sentido como ajuda entusiasmar-se por coisas boas, ter ambições nobres. Pode ser um empreendimento profissional ou acadêmico; ou uma iniciativa cultural, educativa ou artística, desde ler ou ouvir música em grupo, até promover atividades para o grande público; formas de serviço social ou cívico; pode também tratar-se de uma iniciativa de formação, como um clube juvenil ou familiar, ou uma atividade destinada à difusão da mensagem cristã. A amizade se consolida também compartilhando tarefas domésticas como decoração, cozinha, artesanato, jardinagem e, evidentemente, em meio à prática de algum esporte, excursões, jogos e outros hobbies. Todas estas atividades constituem ocasião de divertir-se com outros, daí crescem pouco a pouco a confiança e a abertura mútua para outras dimensões da própria vida. É difícil afinal – e inclusive, talvez, desnecessário – saber se fazemos todas estas coisas para estar com nossos amigos ou se temos amigos para fazer coisas boas com eles.

Pelo contrário, quem enfrenta a vida de um modo meramente funcional, encarando tudo do ponto de vista prático, terá a sua capacidade de fazer amigos muito diminuída. Poderá ter, no máximo, colaboradores em certas tarefas úteis ou cúmplices para passar o tempo. É então que se instrumentaliza a amizade, já que ela é posta somente a serviço de um projeto focado em si mesmo.

“Assim deveria ser”

Mas a amizade não é apenas fazer coisas juntos. Deve ser “amizade ‘pessoal’ sacrificada, sincera: de tu a tu, de coração a coração”[5]. Embora entre os amigos não sejam necessárias com frequência palavras, conversar é próprio de amigos. Constitui toda uma arte aprender a suscitar boas conversas, com uma ou várias pessoas. Por isso, quem quer crescer em amizade, evita o ativismo frenético e procura momentos propícios para estar com os amigos, sem olhar o relógio nem o celular. Se procuramos proporcionar este intercâmbio pessoal, o lugar, o ambiente tampouco são indiferentes. Por isso é de grande ajuda dispor de espaços comuns, com recantos que tornem aconchegantes os encontros entre as pessoas. São Josemaria dava grande importância à decoração dos centros da Obra, que deviam facilitar materialmente o ambiente de amizade, com o bom gosto e o ar familiar.

AS BOAS CONVERSAS, SEM PRESSA, SÃO MOMENTOS DE FELICIDADE E DE ABERTURA MÚTUA DE HORIZONTES

Convidar alguém para aproximar-se de um grupo de amigos, para que compartilhe uma experiência inspiradora ou reflexões sobre um tema interessante, contribui normalmente para que essa pessoa melhore com naturalidade o nível de sua conversa. Ajuda igualmente empreender leituras em comum, já que isso implica participar desse grande debate com os autores do presente e do passado onde se congregam tantos possíveis novos companheiros de viagem. Não menos importante – e reflete uma profunda verdade sobre o homem – é o fato de que a amizade nos reúne com frequência em torno de uma mesa, para usufruir juntos de boa comida e de uma bebida que torne mais leve o espírito. Tantas vezes, naquelas longas conversas, antecipamos o céu: “De repente percebemos algo: sim, isto seria precisamente a verdadeira ‘vida’, assim deveria ser”[6].

Mas a verdadeira amizade não se satisfaz apenas com a conversa entre os que formam um grupo de amigos. Requer também momentos de solidão, de certa intimidade, onde se possa falar de “coração a coração”. Os bons amigos e familiares compreendem essa necessidade e abrem esse espaço sem inveja nem desconfiança. É assim que se cria o contexto propício para as “discretas indiscrições”[7], para o mútuo conselho, para a confidência. Deus se serve também desses momentos para acompanhar espiritualmente as almas e inclusive para abrir “insuspeitáveis horizontes de zelo”[8], aos amigos, como pode ser compartilhar uma missão divina no mundo.

A amizade em um mundo agitado

É bom considerar também, com realismo, alguns traços da cultura contemporânea que representam um desafio para o modo como vivemos a amizade. É preciso dizer, em primeiro lugar, que não se trata de obstáculos intransponíveis. Por um lado, porque temos toda a graça de Deus. Mas também porque é fácil ver que, onde a amizade é menos frequente e profunda, é mais necessária e desejada de modo mais intenso pelos corações dos homens e das mulheres. Parafraseando São João da Cruz, poderíamos dizer: “Onde não há amizade, põe amizade e tirarás amizade”.

Pensemos, por exemplo, no tom excessivamente competitivo de algumas profissões ou ambientes. Isto se traduz, às vezes, numa mentalidade pragmática ou desconfiada, embora envolvida em uma boa educação meramente externa. Parece que, se trabalhássemos com outra atitude, os outros se aproveitariam de nós. Não podemos, sem dúvida, ser ingênuos, mas tal ambiente precisa ser purificado a partir de dentro, por pessoas que mostrem um modo diferente de viver. Não é preciso pressionar, gritar, enganar ou aproveitar-se dos outros, para atingir metas profissionais. Um cristão lembra sempre que o trabalho é um serviço. Por isso, aspira a ser um chefe, um colega, um cliente ou um professor de quem se pode chegar a ser um bom amigo, sem que se deixe de respeitar as normas próprias de cada profissão.

ONDE NÃO HÁ AMIZADE, PÕE AMIZADE E TIRARÁS AMIZADE

Poderemos igualmente criar ambientes propícios para amizade evitando que sejam contagiados por estresse excessivo, ativismo ou dispersão. É verdade que, em nosso mundo agitado, é difícil às vezes conseguir a serenidade necessária para ter novas amizades; e isso também porque, inclusive quando se descansa, a correria costuma ser acompanhada de modos de desconexão. Esta é precisamente uma oportunidade para – com humildade e conhecimento de nossa fragilidade – oferecer aos outros um exemplo atraente próprio de quem “lê a vida de Jesus Cristo”[9]: andar com tranquilidade, sorrir, desfrutar do momento, contemplar, descansar com coisas simples, ter criatividade para planos alternativos, etc. [10].

Ter esperança no que nos une

Manter uma “atitude positiva e aberta diante da transformação atual das estruturas sociais e das formas de vida”[11], como recomendava São Josemaria, facilita a amizade com muitas pessoas, também quando há distância de gerações. Além disso, é preciso um profundo amor à liberdade alheia, sem cair na rigidez quando algo admite pontos de vista diferentes. “certas maneiras de se expressar – recorda o prelado do Opus Dei – podem atrapalhar ou dificultar a criação de um ambiente de amizade. Por exemplo, ser categórico demais ao expressar a própria opinião, dando a impressão de que achamos que nossas colocações são as definitivas, ou não se interessar ativamente pelo que os outros dizem, são maneiras de agir que nos fecham em nós mesmos”[12].

É verdade que, em vários lugares, estendeu-se uma visão da vida na qual é difícil aceitar alguns princípios básicos da lei moral. Isto implica que, às vezes, se negue, inclusive, a própria possibilidade do amor de benevolência: desejar o bem do outro por si mesmo. Talvez esta visão veja nas relações humanas apenas um cálculo de utilidade ou sentimentos de simpatia sem muito fundamento. Isto, logicamente, pode vir a ser fonte de incompreensão e até de conflito. É importante, diante desta situação, não confundir o diálogo próprio da amizade com a argumentação filosófica, jurídica ou política; o diálogo amistoso não implica tentar convencer o outro de nossas ideias, inclusive quando essas ideias forem formulações clássicas ou magistrais de algum tipo de verdade. E isto não significa “não chamar as coisas por seu nome” ou perder a capacidade de discernir o bem do mal. O que acontece é que nossos raciocínios têm valor dentro de um diálogo só quando se parte de algum princípio ou autoridade comum[13]. Embora na amizade também haja tempo para a conversão pessoal, é melhor normalmente procurar pontos de acordo em vez de destacar o que nos separa; é o momento para oferecer nossa própria experiência, sem grandes elaborações intelectuais, com toda a força de quem compartilha as suas preocupações, tristezas e alegrias. E é sempre importante ouvir, porque a amizade – como dizia São Josemaria – mais do que em dar, está em compreender[14].

O DIÁLOGO ENTRE AMIGOS É UM LUGAR IDÔNEO PARA TRANSMITIR A PRÓPRIA EXPERIÊNCIA, PARA FORTALECER OS PONTOS QUE NOS UNEM AOS DEMAIS

Pode ser útil notar que a maioria das pessoas, na maior parte do tempo, vive movida pelos desejos profundos de todo coração humano: amar e ser amada. Esse desejo insaciável de sentido, de unidade, de plenitude, embora possa ser anestesiado durante muito tempo por múltiplas razões, volta sempre a manifestar-se. O bom amigo – embora não seja sempre plenamente correspondido – sabe esperar; sabe estar perto quando os próprios esquemas entram em crise e o coração se abre à luz que intuiu precisamente no carinho do outro.

Uma imagem da paciência de Deus

São Paulo, no famoso hino à caridade de sua Epístola aos coríntios, declara que “a caridade é paciente” (1 Cor 12, 4). Por isso, o prelado do Opus Dei recorda que “uma amizade tem muito de dom inesperado, por isso também requer paciência. Às vezes, certas más experiências ou preconceitos podem fazer com que o relacionamento pessoal com alguém que temos perto leve algum tempo para se tornar amizade. Isso também pode ser dificultado pelo temor, respeito humano ou uma atitude de prevenção. É bom tentar se colocar no lugar dos outros e ser pacientes”[15].

São Josemaria animava sempre a andar “com o ritmo de Deus”. Em sua vida é inegável a audácia apostólica com que vivia, a ousadia – também humana – com que saía ao encontro das pessoas, mesmo que estivessem muito longe, mesmo pondo em perigo a sua própria vida. Basta pensar naquela conversa com Pascual Galbe, um juiz amigo que tinha conhecido durante seus estudos universitários; eram tempos de perseguição religiosa e o Padre esquivou-se de vários perigos ao ir à sua casa em Barcelona unicamente com a intenção de reencontrar seu amigo. Em uma conversa prévia, pelas ruas de Madri, Galbe lhe tinha perguntado: “O que você quer de mim, Josemaria?” Ao que o fundador do Opus Dei respondeu: “O que eu quero é você. Não preciso de nada. Só desejo que você seja um homem bom e justo”. E a mesma coisa voltou a dizer-lhe na vez seguinte, quando foi ouvir suas confidências naqueles momentos difíceis, sem deixar de ajudá-lo a encontrar a verdade[16].

O fundador do Opus Dei não deixava de recomendar aquela paciência “que nos impulsiona a ser compreensivos com os outros, persuadidos de que as almas, como o bom vinho melhoram com o tempo”[17]; devemos procurar ter com os outros a mesma paciência que Deus tem conosco. A verdade é que, como lembrava Bento XVI, “o mundo é redimido pela paciência de Deus e destruído pela impaciência dos homens”[18]. Ter paciência não quer dizer que não soframos às vezes, por falta de correspondência de outras pessoas a nosso carinho, ou porque vemos algum amigo empreender caminhos que provavelmente não saciarão os seus desejos de felicidade. Trata-se, na verdade, de sofrer com o coração de Jesus, identificando-nos cada vez mais com seus sentimentos, sem nos deixarmos levar pela tristeza ou a desesperança.

A experiência do perdão dos amigos é motivo de esperança nos momentos mais obscuros da vida. A certeza de que um amigo nos espera, apesar das nossas indelicadezas, constitui para nós a viva imagem de Deus: esse primeiro amigo que aguarda que voltemos para seus braços de Pai e que nos perdoa sempre.

Ricardo Calleja


[1] Tertuliano, Apologético, XXXIX.

[2] Cfr. Santo Inácio de Antioquia, Carta a Policarpo, II.

[3] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 314.

[4] C.S. Lewis, Os quatro amores, Thomas Nelson, Rio de Janeiro, 2017, p. 94.

[5] São Josemaria, Sulco, n. 191.

[6] Bento XVI, Carta encíclica Spe Salvi, n. 11.

[7] Cfr. São Josemaria, Caminho, n. 973 .

[8] Ibid.

[9] São Josemaria, Caminho, n. 2.

[10] Cfr. Francisco, Carta encíclica Laudato si’ , nn. 222-223.

[11] São Josemaria, Sulco, n. 428.

[12] Mons. Fernando Ocáriz, Carta 1-XI-2019, n. 9.

[13] São Tomás de Aquino, Quodlibet IV , .9 , a. 3.

[14] Cfr. São Josemaria, Sulco, n. 463.

[15] Mons. Fernando Ocáriz, Carta 1-XI-2019,, n. 20.

[16] Cfr Jordi Miralbell, Días de espera en guerra, Palabra, Madri, 2017, pp. 75, 97 e ss.

[17] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 78.

[18] Bento XVI, Homilia 24-IV-2005, Missa de início de seu pontificado.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/chamei-vos-amigos-5-vejam-que-bons-amigos/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF