Translate

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

NEUROCIÊNCIA: Estudo revela que ter amigos é bom para a saúde

Amigos se abraçando: quanto mais fortes os vínculos, mais lento se mostra o envelhecimento celular - (crédito: Freepik)

Pesquisa mostra como a construção e o acúmulo de laços sociais fortes e profundos servem como uma espécie de "conta de aposentadoria biológica", gerando benefícios à saúde por toda a vida.

Por Isabella Almeida

postado em 23/11/2025 04:50

Cultivar bons laços sociais e amizades fortes não é somente uma questão de bem-estar emocional, mas pode ser, também, um fator determinante para a saúde física e o funcionamento do cérebro. Estudos recentes reforçam que conexões profundas e duradouras influenciam desde processos biológicos fundamentais do envelhecimento até padrões de comportamento e atividade neural.

Uma pesquisa publicada na revista Brain, Behavior and Immunity Health, baseada em dados de mais de 2.100 adultos, revelou que o acúmulo das chamadas vantagens sociais ao longo da vida — que vão do afeto parental na infância às relações comunitárias, de fé e de amizade na vida adulta — está associado a um envelhecimento biológico mais lento. 

Os pesquisadores, liderados por Anthony Ong, professor de psicologia da Universidade Cornell, observaram que indivíduos que desenvolveram mais vínculos sólidos apresentaram perfis mais jovens.

Essa vantagem também se refletiu em níveis mais baixos de inflamação crônica, incluindo concentrações reduzidas de interleucina-6 — molécula associada a doenças cardíacas, diabetes e neurodegeneração. No entanto, os cientistas não encontraram relações significativas entre essas vantagens sociais e marcadores de estresse de curto prazo, como o hormônio cortisol, sugerindo que o impacto positivo dos vínculos sociais ocorre por vias biológicas mais duradouras.

O professor Ong destaca que o diferencial do estudo foi a abordagem multidimensional das relações. Em vez de considerar fatores isolados — como ser casado ou ter muitos amigos —, os pesquisadores analisaram a trajetória completa dos elos. "A vantagem social cumulativa está ligada à profundidade e à amplitude das suas conexões ao longo da vida. Esses recursos se somam e se reforçam, moldando a saúde de maneiras mensuráveis." Para o autor principal, investir cedo e continuamente em vínculos significativos funciona como "uma conta de aposentadoria biológica": quanto mais sólida, mais lento o processo de envelhecimento celular.

Isolamento envelhece

Fernanda Rasia, psiquiatra do instituto Inki, conta como, de acordo com alguns estudos, o isolamento social, ou a perda de vínculos afetivos significativos, acelera o envelhecimento celular por meio do aumento da ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) — que atua na regulação neuroquímica e hormonal. "Isso acaba causando uma elevação sustentada de cortisol, além de uma maior produção de citocinas pró-inflamatórias e a desregulação de neurotransmissores."

Conforme Rasia, esses processos aumentam a vulnerabilidade a transtornos psiquiátricos, tanto por mecanismos diretos de neuroinflamação e estresse oxidativo, quanto pela deterioração da plasticidade neural. "De forma oposta, as amizades de longo prazo parecem atuar na modulação da atividade do sistema nervoso autônomo, na liberação de neuromoduladores como oxitocina e dopamina. Relações sociais estáveis reduzem a ativação crônica do HHA, o que diminui o risco de inflamação sistêmica."

Outra pesquisa, publicada na revista JNeurosci por Jia Jin e colegas da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, na China, complementa esse panorama ao investigar como as amizades influenciam o cérebro e o comportamento. Em experimentos com 175 participantes e neuroimagem de 47 voluntários, os cientistas descobriram que amigos tendem a avaliar produtos de maneira mais parecida e que essa semelhança aumenta conforme o vínculo se aprofunda.

Sincronização neural

As imagens cerebrais revelaram sincronização de atividade neural enquanto amigos assistiam a anúncios juntos. As áreas ativadas estavam ligadas a percepção visual, atenção, memória, julgamento social e processamento de recompensas. Mais surpreendente ainda, padrões de atividade cerebral podiam prever não só as intenções de compra do próprio participante, mas também as de seus amigos próximos.

Segundo os autores, essa convergência neural ajuda a explicar como relações sociais influenciam comportamentos cotidianos, especialmente no consumo. Quanto mais forte a amizade, maior a tendência de alinhamento entre escolhas e preferências.

Conforme Izabelle Santos, psicóloga hospitalar do Hospital Anchieta, em Brasília, as evidências científicas reforçam que cuidar das relações é uma forma de olhar para a própria saúde. "Investimentos consistentes em vínculos sociais trazem benefícios emocionais e biológicos. Envelhecer bem envolve manter-se saudável e conectado, já que o afeto acolhe, fortalece e também protege o corpo."

PALAVRA DE ESPECIALISTA

Cuidado integral

A qualidade das amizades exerce um papel determinante no bem-estar emocional e físico. Isso ocorre porque conexões afetivas de qualidade fortalecem a sensação de apoio emocional, regulam respostas ao estresse e influenciam processos fisiológicos essenciais, contribuindo para uma vida mais saudável e equilibrada. As intervenções psicológicas têm um papel fundamental no fortalecimento das redes de apoio. A meia-idade e a velhice são períodos marcados por mudanças, perdas e redefinições que podem favorecer o isolamento. No consultório, o psicólogo pode auxiliar o paciente no desenvolvimento de habilidades sociais, na ressignificação de vínculos e no engajamento em atividades que favoreçam a convivência. Estratégias terapêuticas que incentivam a participação comunitária e o reconhecimento das próprias necessidades emocionais ajudam a reconstruir laços e a ampliar o senso de pertencimento. Dessa forma, o indivíduo se conecta novamente a relações que sustentam não somente a saúde emocional, mas também a fisiológica.

Izabelle Santos, psicóloga hospitalar do Hospital Anchieta

Remédio para o envelhecimento

Ajudar um amigo de forma prática, auxiliando nas atividades domésticas, preparando uma refeição ou buscando alguma encomenda pode ajudar no bom humor dos idosos. É o que revelou uma nova pesquisa da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicada recentemente na revista Research on Aging, que se aprofundou no impacto emocional do apoio da amizade na terceira idade. 

Crystal Ng, coautora do estudo e pesquisadora da Universidade de Miami, destacou que, apesar da resistência masculina, as amizades têm benefícios únicos para ambos os sexos, algo que nem mesmo a família não consegue substituir. "Como os amigos são escolhidos e geralmente trazem alegria, eles podem ser especialmente importantes para o bem-estar emocional na terceira idade, particularmente para aqueles que são solteiros, viúvos, divorciados ou não têm filhos", disse ela.

Na terceira idade, amizades ajudam a fortalecer senso de pertencimento(foto: Freepik)

A pesquisa é uma das primeiras a examinar, em contextos cotidianos, como a convivência com amigos próximos influencia o humor diário de pessoas mais velhas e como essas relações variam entre homens e mulheres. Para o estudo, os pesquisadores entrevistaram 180 idosos com idade média de 74 anos, que relataram suas interações de apoio e humor a cada três horas, durante cinco ou seis dias. 

O amparo emocional liderou a lista de formas pelas quais os idosos ajudam seus amigos, segundo o estudo, seguido por conselhos e assistência prática. "Existe o estereótipo de que, na velhice, os idosos geralmente só recebem apoio por serem frágeis, mas muitos idosos ainda oferecem ajuda", disse Ng. 

Conexão ativa

As descobertas destacaram novas chances para alimentar o bem-estar e a conexão na terceira idade. Segundo Ng, ações práticas podem refletir um envolvimento ativo e externo e, muitas vezes, envolvem esforço físico ou cognitivo, o que pode reforçar o senso de propósito e utilidade dos idosos. Para os homens mais velhos, em particular, promover essas formas ativas e práticas de ajudar pode se revelar especialmente valioso a longo prazo. 

Para a psicóloga e psicanalista Silvia Oliveira, de Brasília, quando se fala de apoio emocional na velhice, se aborda também o legado. "Muitos idosos desejam deixar marcas positivas em seus vínculos, mas esbarram em modelos rígidos que seguiram por décadas. Reconhecer essas barreiras é o primeiro passo para construir relações mais acolhedoras."

E prossegue: "Vale lembrar: nunca é tarde para aprender novas formas de cuidar e ser cuidado". Segundo ela, o desenvolvimento emocional continua ao longo de toda a vida, e pequenas mudanças de postura podem transformar profundamente a qualidade das relações e a saúde mental na idade avançada.

Além do apoio social diário aos amigos, os pesquisadores planejam examinar no futuro a generosidade baseada na amizade. Além disso, pretendem investigar em pesquisas futuras quem motiva os amigos a prestar cuidados.

Isabella Almeida +

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2025/11/7296158-estudo-revela-que-ter-ter-amigos-e-bom-para-a-saude.html

As "mil Ave-Marias", uma antiga devoção mariana

O abade Mechitar e Nossa Senhora | Vatican News.

A oração da Ave-Maria, que nasceu no Ocidente entre os séculos XIV e XV e foi difundida entre os armênios, graças ao Servo de Deus, abade Mechitar, ainda existe na Ordem Mechitarista dos Padres Armênios, em Veneza, e em algumas aldeias católicas armênias na Geórgia.

Padre Kevork Sarkissian, OMM

No percurso da vida há sinais indicativos, que designam o caminho certo. Para os que pertencem à Igreja de Cristo, o próprio Deus deu uma Mãe para guiar, ensinar e acompanhar todos ao longo de suas vidas, pois, sem esta Mestra amorosa, o homem pode se perder. A maternidade da Virgem Maria é uma graça indefinível para todos os cristãos que a acolhem filialmente. Em 1970, o Papa São Paulo VI, em um discurso, no santuário de Bonaria, Sardenha, disse: “Se quisermos ser chamados cristãos, devemos ser marianos, ou seja, devemos reconhecer a relação essencial, vital e providencial, que une a Virgem Maria a Jesus, que nos abre o caminho que conduz a Ele”.

Do Ocidente ao Oriente

O Servo de Deus, Abade Mechitar (1676-1749), fundador da Ordem Mechitarista e renovador do monasticismo armênio, foi um dos promotores da devoção mariana, sobretudo, a oração do Santo Rosário, entre os povos do mundo oriental. Assim, em 1735, publicou, em língua armênia, o Tetrak Rosari ou Caderno do Rosário.

Mechitar, "grande entre os grandes", como o descreveu o escritor armênio, Shavarsh Narduni, consagrou a sua Congregação à Santíssima Virgem Maria, quando a fundou em 1700. O biógrafo de Mechitar, Padre Stepanos Akonz, em seu livro intitulado "História da vida e obras de Mechitar de Sebaste", define assim a identidade da sua Ordem: “Ao sair da oração, repletos de consolação divina, unidos, uns aos outros, no Senhor e com seu superior e, em uníssono, num só corpo e numa só alma, estiveram unidos no serviço ao Senhor e à sua Mãe. Desde então, pela graça da Santíssima Virgem, passaram a adotar a seguinte inscrição, como próprio sigilo, em quatro letras iniciais: “Filhos adotivos da Virgem, Mestres (Vardapet) da Penitência Ո Կ Վ Ա, que indicam o carisma específico da Ordem fundada por intermédio da Bem-aventurada Virgem Maria”. A vida peregrina e os hinos do Fundador são um bom exemplo de seu amor e devoção filial mariana.

A visão da Virgem

Esta materna proteção começara já em 1692, quando Mechitar, ainda jovem diácono, estava no mosteiro de Sevan, Armênia, onde recebera o dom de uma visão da Virgem Maria, que lhe perguntou: "O que você quer, Mechitar?" E ele respondeu: "O que a Senhora quiser". E a Mãe acrescentou: "Assim seja". Eis o ponto central da devoção mariana de Mechitar, como explica o Padre Stepanos Akonz: “Desde então, a imagem maravilhosa desta visão jamais se dissipou em sua mente e sempre a tinha diante dos olhos da mente em todas as suas orações. Para ele, esta imagem sempre foi também uma consolação diante de todos os sofrimentos e tribulações, pelos quais passou em sua vida”. Mas, o carisma e o coração do pensamento e da vida de Mechitar sempre foram cristocêntricos, como ele mesmo explica em seu testamento espiritual, na introdução do Dicionário armênio: “Desde o início, a minha missão e a da nossa Congregação sempre foi estar a serviço do povo armênio e da glória de Cristo nosso Deus, bendito para sempre”.

Maria, presente "sempre e em todo lugar"

Assim, Mechitar mantinha a Virgem Maria presente sempre e em todo lugar. Ele ensinou aos seus seguidores a Oração da Ave-Maria, que aprendera, ainda criança, com dois monges do eremitério de Lim, uma ilha no Lago Van, hoje na Turquia. Como escreve o Padre Torossian, os dois eremitas deixaram "nada mais que os exemplos de virtude e o bom costume de rezar, todos os dias, esta Saudação angélica”. Desde então, a piedade mariana passou de Mechitar aos Mechitaristas e, através deles, de seu exemplo constante e da publicação de seus textos, difundiu-se entre o povo, até os dias de hoje.

A antiquíssima devoção das “Mil Ave-Marias” nasceu no Ocidente, entre os séculos XIV e XV. Segundo a tradição, na noite de Natal de 1445, enquanto Santa Catarina de Bolonha recitava as Mil Ave-Marias, recebeu a aparição da Virgem Maria com o Menino Jesus, que lhe concedeu a graça de segurar o Menino Jesus em seus braços, por quinze minutos. Esta devoção mariana de rezar “Mil Ave-Marias” continuou com as Filhas da Santa, no Mosteiro de Corpus Christi, até certo ponto da história.

Uma devoção que continua

Hoje, esta devoção mariana continua ainda entre os Padres Mechitaristas e em algumas aldeias católicas armênias na Geórgia. A tradição local da aldeia é a seguinte: “Todas as famílias, das crianças aos idosos, reúnem-se e se ajoelham e rezam esta piedosa oração, sobretudo, em preparação ao Santo Natal. A família, que os Padres do Concílio Vaticano II chamam "igreja doméstica", ainda existe no Extremo Oriente”. Este Rosário meditativo-afetivo, sensível e materno, destaca quatro características de Maria: Mãe, dar à luz, amamentar e beijar seu Filho. Desta forma, Jesus, na totalidade do amor materno de Maria, é envolvido pelo abraço, nutrido com leite puro e, por fim, acariciado com seu santo beijo.

As dezenas do Rosário

O Santo Rosário tem início no dia 29 de novembro e termina com as “Mil Ave-Marias” em 23 de dezembro, ou seja, durante todo o período de Advento. No entanto, em 24 de dezembro, véspera de Natal, são contemplados os Mistérios Gozosos. A oração mariana divide-se em 25 dias: 40 Ave-Marias em cada dia, com um acréscimo especial para cada dezena. Na tradição armênia, este número de Ave-Marias também é chamado “Rosário de Ouro”, que os fiéis recitam, até hoje, nas festas marianas, ao longo do Ano litúrgico.

Para cada dezena, acrescenta-se, a cada Ave Maria, um suplemento na seguinte ordem:

Primeira dezena: “Bendita a hora, ó Virgem Maria, em que vos tornastes Mãe de Deus” (10 Ave-Marias).

Segunda dezena: “Bendita a hora, ó Virgem Maria, em que deste à luz o Filho de Deus” (10 Ave-Marias).

Terceira dezena: “Bendita a primeira gota de leite, ó Virgem Maria, com a qual o Filho de Deus se alimentou em vosso ventre” (10 Ave-Marias).

Quarta dezena: “Bendito aquele primeiro beijo, ó Virgem Maria, que destes nos divinos lábios do Filho de Deus” (10 Ave-Marias).

Na véspera de Natal, após a reza dos Mistérios Gozosos do Santo Rosário, a corrente dourada da piedosa tradição conclui-se com uma oração dedicada à Santíssima Virgem Maria.

Oração da família e pela família

Aqui, o convite a todas as famílias cristãs de rezar esta humilde, bela e simbólica devoção mariana, repleta de espiritualidade e afeto. Como o Papa São João Paulo II disse em sua Carta apostólica “Rosarium Virginis Mariae”: “O Rosário é uma oração da família e pela família”. Devemos ser educados e formados na sensibilidade materna de Maria, "a mulher da perfeita alegria". Que ela interceda por nós e peça ao seu Filho Jesus que nos conceda um coração de escuta, oração, paz e comunhão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santos André Dung-Lac e Companheiros (mártires do Vietnã)

Santos André Dung-Lac (A12)
24 de novembro
Santos André Dung-Lac e Companheiros (mártires do Vietnã)

Hoje faz-se memória de um grupo de 117 mártires do Vietnã. Deste número, 96 eram vietnamitas, 11 espanhóis, da Ordem dos Pregadores, e 10 franceses da Sociedade de Missões Estrangeiras de Paris, entre sacerdotes, religiosos e leigos. A maioria viveu e pregou entre os anos 1830 e 1870. Destacando-se neste grupo, canonizado por São João Paulo II em 1990, aparece o padre dominicano Santo André Dung-Lac, que, provavelmente, era o mais conhecido.

Tran An Dung era filho de pais muito pobres, que por isso o confiaram desde pequeno à guarda de um catequista. Foi batizado com o nome de André, e veio a ordenar-se sacerdote. Durante seu apostolado, foi vigário e missionário em diversas partes do Império. Em 1833 foi preso pela primeira de várias vezes, e, resgatado por alto valor em dinheiro, mudou o nome de Dung para Lac, tencionado chamar menos atenção e, assim, aventurar-se a evangelizar as províncias mais perigosas de Hanói e Nam-Dihn.

 A praxe do pagamento de resgates não agradava a André, e ele percebeu a necessidade de enfrentar o martírio. No seu último aprisionamento, recusou-se a ser resgatado e a negar a fé, e foi decapitado em 24 de novembro de 1839, em Hanói.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Desde o começo da sua evangelização por missionários europeus, no século XVI, foi muito dura a perseguição aos católicos no Vietnã. Lá a Igreja sofreu quatro séculos de perseguições terríveis e sangrentas. Milhares de cristãos foram assassinados, martirizados e massacrados, indistintamente bispos, padres, catequistas, pais e mães de família, jovens, seminaristas... de 1645 a 1886, morreram 113 mil fiéis. Durante 70 anos, houve um período de calma, quando a Igreja se reorganizou e centenas de milhares de cristãos fervorosos, inspirados pelo sangue de seus mártires, formaram várias dioceses. Mas os martírios e assassinatos de cristãos pelo simples fato de o serem voltaram com o comunismo. No ano de 1955 chineses e russos destruíram todas as instituições cristãs, e o governo comunista prendeu e matou bispos, padres e leigos de maneira cruel e sem limites. Alguns poucos conseguiram fugir através da única maneira possível, em embarcações frágeis que na maioria das vezes naufragaram matando outros milhares de católicos. Muitos ainda se iludem com a “tolerância” comunista à Igreja Católica. Esta ideologia, ateísta, sempre perseguiu os cristãos, em todos os continentes, embora de forma mais disfarçada e menos sangrenta no Ocidente. O comunismo foi reiteradamente condenado pela Igreja, como se vê claramente nos seus documentos oficiais, pois se baseia em princípios meramente materialistas e moralmente condenáveis (apesar da proposta de pretensa justiça social, os meios para este fim são incompatíveis com a doutrina de Cristo). Quem deseja ser fiel a Deus deve estar atento para não se deixar enganar por estas ideias, muitas vezes disfarçadas na política e na cultura; basta lembrar que em 1917 Nossa Senhora, nas aparições em Fátima, explicitamente alertou para os erros e perseguições que esta ideologia desencadearia.

Oração:

Deus de misericórdia, que na Vossa bondade escolhestes Santo André e tantos outros para propagar Vosso Evangelho em terras hostis, dai-nos a disposição necessária para realizar o mesmo apostolado em nossas comunidades, e pela solicitude de Vossa Santíssima Mãe protegei a todos dos enganos e perseguições das falsas ideologias. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 23 de novembro de 2025

TEXTO COMPLETO: Carta apostólica de Leão XIV "In unitate fidei" sobre o concílio ecumênico de Niceia

Papa Leão XIV. Imagem de arquivo. | Daniel Ibáñez/EWTN

Por Papa Leão XIV

23 de nov de 2025 às 10:25

A poucos dias de sua viagem apostólica à Turquia para comemorar o 1700º aniversário do concílio ecumênico de Niceia, o papa Leão XIV publicou uma carta apostólica reafirmando “na unidade da fé” a resposta dos padres conciliares que “confessaram que Jesus é o Filho de Deus”. Segue abaixo o texto completo de In unitate fidei (Na unidade da fé).

1. Na unidade da fé, proclamada desde os primórdios da Igreja, os cristãos são chamados a caminhar em concórdia, guardando e transmitindo com amor e alegria o dom recebido. Isto é expresso nas palavras do Credo: «Cremos em Jesus Cristo, Filho unigénito de Deus, que desceu do céu para a nossa salvação», formuladas pelo Concílio de Nicéia, primeiro evento ecuménico da história da cristandade, há 1700 anos.

Ao preparar-me para realizar a Viagem Apostólica à Turquia, com esta carta desejo encorajar em toda a Igreja um renovado impulso na profissão da fé, cuja verdade – que há séculos constitui o património comum dos cristãos – merece ser confessada e aprofundada de maneira sempre nova e atual. A este respeito, foi aprovado um precioso documento da Comissão Teológica Internacional: Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. O 1.700º aniversário do Concílio Ecuménico de NicéiaRemeto-me a ele, porque oferece perspectivas úteis para aprofundar a importância e a atualidade não só teológica e eclesial, mas também cultural e social do Concílio de Nicéia.

2. «Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus»: assim São Marcos intitula o seu Evangelho, resumindo toda a sua mensagem precisamente no sinal da filiação divina de Jesus Cristo. Da mesma forma, o apóstolo Paulo sabe que é chamado a anunciar o Evangelho de Deus sobre o seu Filho, morto e ressuscitado por nós (cf. Rm 1, 9), que é o “sim” definitivo de Deus às promessas dos profetas (cf. 2 Cor 1, 19-20). Em Jesus Cristo, o Verbo, que era Deus antes dos tempos e por meio do qual todas as coisas foram feitas – recita o prólogo do Evangelho de São João –, «fez-se homem e veio habitar conosco» (Jo 1, 14). N’Ele, Deus tornou-se nosso próximo, de modo que tudo o que fizermos a cada um dos nossos irmãos, fazemo-lo a Ele (cf. Mt 25,40).

É, portanto, uma coincidência providencial que neste Ano Santo, dedicado à nossa esperança que é Cristo, se celebre também o 1.700º aniversário do primeiro Concílio Ecuménico de Nicéia, que proclamou, no ano de 325, a profissão de fé em Jesus Cristo, Filho de Deus. Isto constitui o coração da fé cristã. Ainda hoje, na celebração eucarística dominical, pronunciamos o Credo Niceno–Constantinopolitano, profissão de fé que une todos os cristãos. E a fé nos dá esperança nos tempos difíceis que vivemos, em meio a muitas preocupações e medos, ameaças de guerra e violência, desastres naturais, graves injustiças e desequilíbrios, fome e miséria sofridas por milhões de nossos irmãos e irmãs.

3. Os tempos do Concílio de Nicéia não eram menos turbulentos. Quando ele começou, em 325, as feridas das perseguições contra os cristãos ainda estavam abertas. O Édito de tolerância de Milão (313), promulgado pelos dois Imperadores – Constantino e Licínio – parecia anunciar o início de uma nova era de paz. No entanto, passadas as ameaças externas, logo surgiram disputas e conflitos internos na Igreja.

Ário, um presbítero de Alexandria do Egito, ensinava que Jesus não é verdadeiramente o Filho de Deus; embora não seja uma simples criatura, Ele seria um ser intermediário entre o Deus inatingivelmente distante e nós. Além disso, teria havido um tempo em que o Filho “não era”. Isso estava em consonância com a mentalidade difundida na época e, sendo assim, parecia plausível.

Mas Deus não abandona a sua Igreja, suscitando sempre homens e mulheres corajosos, testemunhas da fé, e pastores que guiam o seu Povo e lhe indicam o caminho do Evangelho. O Bispo Alexandre de Alexandria percebeu que os ensinamentos de Ário não eram de todo coerentes com a Sagrada Escritura. Como Ário não se mostrava disposto à conciliação, Alexandre convocou os Bispos do Egito e da Líbia para um sínodo que condenou o ensinamento de Ário; enviou então uma carta aos outros Bispos do Oriente para os informar detalhadamente. No Ocidente, entrou em ação o bispo Ósio de Córdova, na Espanha, que já havia se mostrado um fervoroso confessor da fé durante a perseguição sob o Imperador Maximiano e que gozava da confiança do Bispo de Roma, o Papa Silvestre I.

No entanto, os seguidores de Ário também se uniram. Isso levou a uma das maiores crises na história da Igreja do primeiro milénio. O motivo da disputa, na verdade, não era um detalhe secundário. Tratava-se do cerne da fé cristã, ou seja, da resposta à pergunta decisiva que Jesus fez aos discípulos em Cesareia de Filipe: «Quem dizeis que eu sou?» (Mt 16, 15).

4. Enquanto a controvérsia se intensificava, o Imperador Constantino percebeu que, com o risco para a unidade da Igreja, também a unidade do Império estava ameaçada. Convocou então todos os bispos para um Concílio Ecuménico, ou seja, universal – em Nicéia – para restabelecer a unidade. O Sínodo, chamado dos “318 Padres”, decorreu sob a presidência do Imperador: o número de bispos reunidos era sem precedentes. Alguns deles ainda traziam os sinais das torturas sofridas durante a perseguição. A grande maioria deles era proveniente do Oriente, enquanto parece que apenas cinco eram ocidentais. O Papa Silvestre confiou na figura, teologicamente abalizada, do Bispo Ósio de Córdova e enviou dois presbíteros romanos.

5. Os Padres do Concílio testemunharam a sua fidelidade à Sagrada Escritura e à Tradição apostólica, tal como era professada durante o batismo, de acordo com o mandato de Jesus: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» ( Mt 28, 19). No Ocidente, existiam várias fórmulas, entre as quais o chamado Credo dos Apóstolos. [1] Também no Oriente existiam muitas profissões batismais, semelhantes entre si na estrutura. Não se tratava de uma linguagem erudita e complicada, mas sim – como se disse mais tarde – de uma linguagem simples e compreensível para os pescadores do mar da Galileia.

Com base nisso, o Credo Niceno começa professando: «Cremos em um só Deus, Pai onipotente, artífice de todas as coisas visíveis e invisíveis». [2] Com isso, os Padres conciliares expressaram a fé no Deus único. No Concílio, não houve controvérsia a esse respeito. Em vez disso, foi discutido um segundo artigo, que também usa a linguagem da Bíblia para professar a fé em «um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus». O debate deveu-se à necessidade de responder à questão levantada por Ário sobre como se deveria entender a afirmação “Filho de Deus” e como ela poderia ser conciliada com o monoteísmo bíblico. Assim, o Concílio foi chamado a definir o significado correto da fé em Jesus como “o Filho de Deus”.

Os Padres confessaram que Jesus é o Filho de Deus na medida em que é «da substância ousiado Pai [...] gerado, não criado, da mesma substância ( homooúsios) do Pai». Com esta definição, a tese de Ário foi radicalmente rejeitada. [3] Para expressar a verdade da fé, o Concílio usou duas palavras, «substância» ( ousia) e «da mesma substância» ( homooúsios), que não se encontram na Escritura. Ao fazê-lo, não quis substituir as afirmações bíblicas pela filosofia grega. Pelo contrário, o Concílio utilizou estes termos para afirmar com clareza a fé bíblica, distinguindo-a do erro helenizante de Ário. A acusação de helenização não se aplica, portanto, aos Padres de Nicéia, mas à falsa doutrina de Ário e seus seguidores.

De forma positiva, os Padres de Nicéia quiseram permanecer firmemente fiéis ao monoteísmo bíblico e ao realismo da encarnação. Eles quiseram reafirmar que o único Deus verdadeiro não está inatingivelmente distante de nós, mas, pelo contrário, aproximou-se e veio ao nosso encontro em Jesus Cristo.

6. Para expressar a sua mensagem na linguagem simples da Bíblia e da liturgia, familiar a todo o Povo de Deus, o Concílio retoma algumas formulações da profissão batismal: «Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro». Assim, o Concílio retoma a metáfora bíblica da luz: «Deus é luz» (1 Jo 1, 5; cf. Jo 1, 4-5). Como a luz que irradia e comunica a si mesma sem se extinguir, também o Filho é o reflexo (apaugasma) da glória de Deus e a imagem (character) do seu ser (hipóstase) (cf. Hb 1, 3; 2 Cor 4, 4). O Filho encarnado, Jesus, é, portanto, a luz do mundo e da vida (cf. Jo 8, 12). Através do batismo, os olhos do nosso coração são iluminados (cf. Ef 1, 18), para que também nós possamos ser luz no mundo (cf. Mt 5, 14).

Finalmente, o Credo afirma que o Filho é «Deus verdadeiro de Deus verdadeiro». Em muitos lugares, a Bíblia distingue os ídolos mortos do Deus verdadeiro e vivo. O Deus verdadeiro é o Deus que fala e age na história da salvação: o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, que se revelou a Moisés na sarça ardente (cf. Ex 3, 14), o Deus que vê a miséria do povo, ouve o seu clamor, o guia e o acompanha através do deserto com a coluna de fogo (cf. Ex 13, 21), fala-lhe com voz de trovão (cf. Dt 5, 26) e tem compaixão dele (cf. Os 11, 8-9). O cristão é, portanto, chamado a converter-se dos ídolos mortos para o Deus vivo e verdadeiro (cf. Act 12, 25; 1 Ts 1, 9). Neste sentido, Simão Pedro confessa em Cesareia de Filipe: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo» (Mt 16, 16).

7. O Credo de Nicéia não formula uma teoria filosófica. Professa a fé no Deus que nos redimiu por meio de Jesus Cristo. Trata-se do Deus vivo: Ele quer que tenhamos vida e que a tenhamos em abundância (cf. Jo 10, 10). Por isso, o Credo continua com as palavras da profissão batismal: o Filho de Deus que “por causa de nós homens e da nossa salvação, desceu, se encarnou e se fez homem, e padeceu, ressuscitou ao terceiro dia e subiu ao céu, havendo de vir para julgar os vivos e os mortos”. Isto torna claro que as afirmações cristológicas de fé do Concílio estão inseridas na história da salvação entre Deus e as suas criaturas.

Santo Atanásio, que havia participado no Concílio como diácono do Bispo Alexandre e sucedeu-lhe na cátedra de Alexandria do Egito, sublinhou várias vezes e com grande força a dimensão soteriológica expressa no Credo Niceno. Com efeito, escreve que o Filho, descido dos céus, «tornou-nos filhos do Pai e, tornando-se Ele mesmo homem, divinizou os homens. Não tornou-se Deus a partir da sua humanidade, mas a partir da sua divindade tornou-se homem para poder divinizar-nos». [4] Isto é possível somente se o Filho é verdadeiramente Deus: nenhum ser mortal pode, com efeito, derrotar a morte e nos salvar; só Deus pode fazê-lo. Foi Ele quem nos libertou no seu Filho feito homem para que fôssemos livres (cf. Gl 5, 1).

Merece destaque, no Credo de Nicéia, o verbo descendit, “desceu”. São Paulo descreve com palavras fortes este movimento: «[Cristo] esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo, tornando-se semelhante aos homens» (Fl 2, 7). De modo semelhante escreve São João no prólogo do seu Evangelho: «o Verbo fez-se homem e veio habitar conosco» (Jo 1, 14). Por isso – ensina a Carta aos Hebreus – «não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, exceto no pecado» (Hb 4, 15). Na noite antes da sua morte, inclinou-se como um escravo para lavar os pés dos discípulos (cf. Jo 13, 1-17). E, só quando pôde colocar os dedos na ferida do lado do Senhor ressuscitado, o apóstolo Tomé confessou: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).

É precisamente em virtude da sua encarnação que encontramos o Senhor nos nossos irmãos e irmãs necessitados: «sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Assim sendo, o Credo Niceno não nos fala de um Deus distante, inatingível, imóvel, que repousa em si mesmo, mas de um Deus que está perto de nós, que nos acompanha no nosso caminho pelas estradas do mundo e nos lugares mais obscuros da terra. A sua imensidão manifesta-se quando se faz pequeno e despoja-se da sua majestade infinita, tornando-se nosso próximo nos pequenos e nos pobres. Esta realidade revoluciona as concepções pagãs e filosóficas de Deus.

Há outra palavra do Credo Niceno que se torna para nós hoje particularmente reveladora. A afirmação bíblica “fez-se carne”, precisada com a inserção da palavra “homem” após a palavra “encarnado”. Assim, Nicéia distancia-se da falsa doutrina segundo a qual o Logos teria assumido apenas um corpo como revestimento externo, mas não uma alma humana, dotada de intelecto e livre–arbítrio. Pelo contrário, quer afirmar o que o Concílio de Calcedônia (451) declararia explicitamente: em Cristo, Deus assumiu e redimiu todo o ser humano, com corpo e alma. O Filho de Deus fez-se homem – explica Santo Atanásio – para que nós, homens, pudéssemos ser divinizados. [5] Esta inteligência luminosa da Revelação divina foi preparada por Santo Irineu de Lião e Orígenes, desenvolvendo-se depois com grande riqueza na espiritualidade oriental.

A divinização não tem nada a ver com a auto–deificação do homem. Pelo contrário, a divinização nos protege da tentação primordial de querer ser como Deus (cf. Gn 3, 5). O que Cristo é por natureza, nós nos tornamos por graça. Através da obra da redenção, Deus não só restaurou a nossa dignidade humana como imagem de Deus, mas Aquele que nos criou de forma maravilhosa nos tornou participantes, de forma ainda mais admirável, da sua natureza divina (cf. 2 Pd 1, 4).

Logo, a divinização é a verdadeira humanização. É por isso que a existência do homem aponta para além de si mesmo, procura além de si mesmo, deseja algo além de si mesmo e está inquieta enquanto não descansa em Deus: [6] Deus enim solus satiat, só Deus satisfaz o homem! [7] Só Deus, na sua infinitude, pode satisfazer o desejo infinito do coração humano, e por isso o Filho de Deus quis tornar-se nosso irmão e redentor.

8. Dissemos que Nicéia rejeitou claramente os ensinamentos de Ário. Porém, Ário e os seus seguidores não desistiram. O próprio Imperador Constantino e os seus sucessores alinharam-se cada vez mais com os arianos. O termo homooúsios tornou-se ponto de discórdia entre nicenos e antinicenos, desencadeando assim outros graves conflitos. São Basílio de Cesareia descreve a confusão que se produziu com imagens eloquentes, comparando-a a uma batalha naval noturna em uma violenta tempestade, [8] enquanto Santo Hilário testemunha a ortodoxia dos leigos em relação ao arianismo de muitos bispos, reconhecendo que «os ouvidos do povo são mais santos do que os corações dos sacerdotes». [9]

A rocha do credo niceno foi Santo Atanásio, irredutível e firme na fé. Apesar de ter sido deposto e expulso cinco vezes da sede episcopal de Alexandria, ele sempre voltou como Bispo. Mesmo no exílio, continuou a guiar o Povo de Deus através dos seus escritos e cartas. Tal como Moisés, Atanásio não pôde entrar na terra prometida da paz eclesial. Esta graça estava reservada a uma nova geração, conhecida como os “jovens nicenos”; no Oriente, os três Padres Capadócios: São Basílio de Cesareia (aprox. 330–379), a quem foi dado o título de “Magno”; seu irmão São Gregório de Nissa (335–394) e o maior amigo de Basílio, São Gregório Nazianzeno (329/30–390). No Ocidente, foram importantes Santo Hilário de Poitiers (aprox. 315–367) e o seu aluno São Martinho de Tours (aprox. 316–397). Além destes, sobretudo Santo Ambrósio de Milão (333–397) e Santo Agostinho de Hipona (354–430).

O mérito dos três Capadócios, em particular, foi o de levar a cabo a formulação do Credo Niceno, mostrando que a Unidade e a Trindade em Deus não são de forma alguma contraditórias. Neste contexto, foi formulado o artigo de fé sobre o Espírito Santo no primeiro Concílio de Constantinopla, em 381. Assim, o Credo, que desde então passou a ser chamado Niceno–Constantinopolitano, diz: «Cremos no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida, e procede do Pai. Com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, e falou por meio dos profetas». [10]

A partir do Concílio de Calcedônia, em 451, o Concílio de Constantinopla foi reconhecido como ecumênico e o Credo Niceno–Constantinopolitano foi declarado universalmente vinculativo. [11] Ele, portanto, constituiu um elo de unidade entre o Oriente e o Ocidente. No século XVI, também foi mantido pelas comunidades eclesiais surgidas da Reforma. O Credo Niceno–Constantinopolitano é, assim, a profissão de fé comum a todas as tradições cristãs.

9. O caminho que se desenvolveu da Sagrada Escritura à profissão de fé de Nicéia, à sua aceitação nos Concílios de Constantinopla e Calcedônia, passando pelo século XVI e chegando ao nosso século XXI, foi longo e linear. Todos nós, como discípulos de Jesus Cristo, somos batizados, fazemos sobre nós mesmos o sinal da cruz e somos abençoados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Concluímos sempre a oração dos salmos na Liturgia das Horas com “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”. A liturgia e a vida cristã estão, portanto, firmemente ancoradas no Credo de Nicéia e Constantinopla: o que dizemos com a boca deve vir do coração, para que seja testemunhado na vida. Devemos, em consequência, perguntar-nos: o que acontece hoje com a aceitação interior do Credo? Sentimos que ele também diz respeito à nossa situação atual? Compreendemos e vivemos o que professamos todos os domingos, e o que significa isso para a nossa vida?

10. O Credo de Nicéia começa professando a fé em Deus, o Todo-Poderoso, o Criador do céu e da terra. Hoje, para muitos, Deus e a questão de Deus quase não têm mais significado na vida. O Concílio Vaticano II salientou que os cristãos são, pelo menos em parte, responsáveis por esta situação, porque não testemunham a verdadeira fé e escondem o verdadeiro rosto de Deus com estilos de vida e ações distantes do Evangelho. [12] Guerras foram travadas, pessoas foram mortas, perseguidas e discriminadas em nome de Deus. Em vez de anunciar um Deus misericordioso, falou-se de um Deus vingativo que castiga e inspira terror.

O Credo de Nicéia convida-nos, então, a um exame de consciência. O que significa Deus para mim e como testemunho a minha fé n’Ele? O único e verdadeiro Deus é realmente o Senhor da vida, ou existem ídolos mais importantes do que Deus e os seus mandamentos? Deus é para mim o Deus vivo, próximo em todas as situações, o Pai a quem me dirijo com confiança filial? É o Criador a quem devo tudo o que sou e tenho, cujos vestígios posso encontrar em cada criatura? Estou disposto a partilhar os bens da terra, que pertencem a todos, de forma justa e equitativa? Como trato a criação, que é obra das suas mãos? Faço uso dela com reverência e gratidão, ou exploro-a, destruo-a, em vez de a guardar e cultivar como casa comum da humanidade? [13]

11. No centro do Credo Niceno–Constantinopolitano está a profissão de fé em Jesus Cristo, nosso Senhor e Deus. Este é o coração da nossa vida cristã. Por isso, comprometemo-nos a seguir Jesus como Mestre, companheiro, irmão e amigo. Contudo, o Credo Niceno pede mais: lembra-nos, com efeito, que não devemos esquecer que Jesus Cristo é o Senhor (Kyrios), o Filho do Deus vivo, que «pela nossa salvação desceu do céu» e morreu «por nós» na cruz, abrindo-nos o caminho para uma vida nova com a sua ressurreição e ascensão.

Seguir Jesus Cristo certamente não é um caminho largo e confortável, mas este caminho, muitas vezes exigente ou mesmo doloroso, conduz sempre à vida e à salvação (cf. Mt 7, 13-14). Os Atos dos Apóstolos falam da nova via (cf. Act 19, 9.23; 22, 4.14-15.22), que é Jesus Cristo (cf. Jo 14, 6): seguir o Senhor compromete os nossos passos no caminho da cruz, que através do arrependimento nos conduz à santificação e à divinização. [14]

Se Deus nos ama com todo o seu ser, então também nós devemos amar-nos uns aos outros. Não podemos amar a Deus, que não vemos, sem amar também o irmão e a irmã que vemos (cf. 1 Jo 4, 20). O amor a Deus sem o amor ao próximo é hipocrisia; o amor radical ao próximo, sobretudo o amor aos inimigos, sem o amor a Deus, é um heroísmo que nos oprime e esmaga. No seguimento de Jesus, a ascensão a Deus passa pelo abaixamento e pela dedicação aos irmãos e irmãs, sobretudo aos últimos, aos mais pobres, abandonados e marginalizados. O que fizemos ao menor destes, fizemos a Cristo (cf. Mt 25, 31-46). Perante as catástrofes, as guerras e a miséria, só podemos testemunhar a misericórdia de Deus às pessoas que duvidam d’Ele, quando elas experimentam a sua misericórdia através de nós. [15]

12. Por fim, o Concílio de Nicéia é atual pelo seu altíssimo valor ecuménico. A este respeito, alcançar a unidade de todos os cristãos foi um dos principais objetivos do último Concílio, o Vaticano II[16] Há exatamente trinta anos, São João Paulo II continuou e promoveu a mensagem conciliar na Encíclica Ut unum sint (25 de maio de 1995). Assim, com o grande aniversário do primeiro Concílio de Nicéia, celebramos também o aniversário da primeira Encíclica ecuménica, que pode ser considerada como um manifesto que atualizou os mesmos fundamentos ecuménicos estabelecidos pelo Concílio de Nicéia.

Graças a Deus, o movimento ecuménico alcançou muitos resultados nos últimos sessenta anos. Embora a plena unidade visível com as Igrejas Ortodoxas e Ortodoxas Orientais e com as Comunidades eclesiais nascidas da Reforma ainda não nos tenha sido concedida, o diálogo ecuménico levou-nos, com base no único batismo e no Credo Niceno–Constantinopolitano, a reconhecer nos irmãos e irmãs das outras Igrejas e Comunidades eclesiais, os nossos irmãos e irmãs em Jesus Cristo e a redescobrir a única e universal Comunidade dos discípulos de Cristo em todo o mundo. Com efeito, compartilhamos a fé no único Deus, Pai de todos os homens, confessamos juntos o único Senhor e verdadeiro Filho de Deus, Jesus Cristo, e o único Espírito Santo, que nos inspira e nos impele à plena unidade e ao testemunho comum do Evangelho. Realmente, o que nos une é muito mais do que o que nos divide! [17] Assim, num mundo dividido e dilacerado por muitos conflitos, a única Comunidade cristã universal pode ser sinal de paz e instrumento de reconciliação, contribuindo de forma decisiva para um compromisso mundial pela paz. São João Paulo II recordou-nos, em particular, o testemunho dos muitos mártires cristãos provenientes de todas as Igrejas e Comunidades eclesiais: a sua memória une-nos e exorta-nos a ser testemunhas e operadores de paz no mundo.

Para podermos desempenhar este ministério de forma crível, devemos caminhar juntos para alcançar a unidade e a reconciliação entre todos os cristãos. O Credo de Nicéia pode ser a base e o critério de referência deste caminho. Propõe-nos efetivamente um modelo de verdadeira unidade na legítima diversidade. Unidade na Trindade, Trindade na Unidade, porque a unidade sem multiplicidade é tirania, a multiplicidade sem unidade é desintegração. A dinâmica trinitária não é dualista, como um aut–aut excludentemas sim um vínculo envolvente, um et–et: o Espírito Santo é o vínculo de unidade que adoramos juntamente com o Pai e o Filho. Devemos, portanto, deixar para trás as controvérsias teológicas, que perderam a sua razão de ser, para adquirir um pensamento comum e, mais ainda, uma oração comum ao Espírito Santo, para que nos reúna a todos numa única fé e num único amor.

Isso não significa um ecumenismo de retorno ao estado anterior às divisões, nem um reconhecimento mútuo do atual status quo da diversidade das Igrejas e das Comunidades eclesiais, mas um ecumenismo voltado para o futuro, de reconciliação no caminho do diálogo, de troca dos nossos dons e patrimónios espirituais. O restabelecimento da unidade entre os cristãos não nos torna mais pobres: ao contrário, nos enriquece. Tal como em Nicéia, este objetivo só será possível através de um caminho paciente, longo e, por vezes, difícil de escuta e acolhimento recíproco. Trata-se de um desafio teológico e, mais ainda, de um desafio espiritual, que exige arrependimento e conversão da parte de todos. Por isso, precisamos de um ecumenismo espiritual de oração, louvor e culto, como aconteceu no Credo de Nicéia e Constantinopla.

Invoquemos, portanto, o Espírito Santo, para que nos acompanhe e nos guie nesta obra:

Santo Espírito de Deus, Vós guiais os fiéis no caminho da história.

Nós vos agradecemos por terdes inspirado os Símbolos da fé e por suscitardes no coração a alegria de professar a nossa salvação em Jesus Cristo, Filho de Deus, consubstancial ao Pai. Sem Ele, nada podemos.

Vós, Espírito eterno de Deus, de época em época rejuvenesceis a fé da Igreja. Ajudai-nos a aprofundá-la e a voltar sempre ao essencial para a anunciar.

Para que o nosso testemunho no mundo não seja inerte, vinde, Espírito Santo, com o teu fogo de graça, para reavivar a nossa fé, para nos inflamar de esperança, para nos inflamar de caridade.

Vinde, divino Consolador, Vós que sois a harmonia, para unir os corações e as mentes dos crentes. Vinde e dai-nos o prazer da beleza da comunhão.

Vinde, Amor do Pai e do Filho, para nos reunir no único rebanho de Cristo.

Mostrai-nos os caminhos a seguir, para que, com a vossa sabedoria, voltemos a ser o que somos em Cristo: uma só coisa, para que o mundo acredite. Amém.

Vaticano, 23 de novembro de 2025, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo

LEÃO PP. XIV

267º Papa da Igreja, eleito em 8 de maio de 2025.

LEIA A CARTA APOSTÓLICA DO PAPA NA ÍNTEGRA

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/65589/texto-completo-carta-apostolica-de-leao-xiv-in-unitate-fidei-sobre-o-concilio-ecumenico-de-niceia

Papa: "Em Cristo, nos tornamos cantores da graça"

Santa Missa e Angelus, 23/11/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

No Jubileu dos Coros, Leão XIV recorda que a música litúrgica é um instrumento precioso através do qual se presta o serviço de louvor a Deus e se manifesta a alegria da Vida nova em Cristo.

https://youtu.be/D3he4sXdARY

Vatican News

Na Solenidade de Cristo Rei do Universo, o Papa Leão presidiu à Santa Missa na Praça São Pedro por ocasião do Jubileu dos Coros, com a presença de 60 mil fiéis. E foi justamente o canto o elemento principal da homilia do Santo Padre.

"As grandes civilizações nos deram a música para que pudéssemos expressar o que sentimos no fundo do coração e que nem sempre as palavras conseguem transmitir", afirmou o Pontífice, acrescentando que todos os sentimentos e emoções que nascem no nosso íntimo podem encontrar voz na música. Como lembra Santo Agostinho: “o canto é próprio de quem ama”.

Para o Povo de Deus, o canto expressa a invocação e o louvor, é o “cântico novo” que Cristo Ressuscitado eleva ao Pai, fazendo com que todos os batizados participem dele. Quem canta na igreja, contribui para a edificação espiritual dos irmãos, afirmou Leão XIV:

“Em Cristo, tornamo-nos cantores da graça, filhos da Igreja que encontram no Ressuscitado a causa do seu louvor. A música litúrgica torna-se assim um instrumento preciosíssimo através do qual prestamos o serviço de louvor a Deus e manifestamos a alegria da Vida nova em Cristo.”

O Papa citou novamente o Bispo de Hipona, que exortava a caminhar cantando, como viajantes afadigados, que encontram no canto uma antecipação da alegria que sentirão quando alcançarem o seu destino. "Canta, mas caminha […] avança no bem» (Sermo 256, 3)", escrevia ele. Com efeito, fazer parte de um coro significa avançar juntos, consolando nos sofrimentos, exortando para não ceder ao cansaço. Cantar, disse o Santo Padre, nos lembra que "somos Igreja em caminho, autêntica realidade sinodal, capaz de partilhar com todos a vocação ao louvor e à alegria, numa peregrinação de amor e esperança".

Dirigindo-se diretamente aos membros dos coros, o Papa afirmou que se trata de um verdadeiro ministério, que exige preparação, fidelidade, compreensão mútua e, acima de tudo, uma vida espiritual profunda. Mas não só, requer ainda disciplina e espírito de serviço. O coro é uma comunidade, ninguém está à frente, mas todos contribuem para torná-la mais unida. Para o Pontífice, o coro é um pouco um símbolo da Igreja que, voltada para o seu destino, caminha na história louvando a Deus. O canto torna a viagem mais leve e traz alívio e consolo.

O convite, portanto, é para transformar os coros num "prodígio de harmonia e beleza", imagem luminosa da Igreja que louva o seu Senhor. Leão XIV pediu que estudem o Magistério contido nos documentos conciliares, de modo a desempenhar da melhor forma o serviço. Acima de tudo, a exortação é para fazer com que o povo de Deus participe sempre, "sem ceder à tentação da exibição que exclui a participação ativa de toda a assembleia litúrgica no canto". Assim, serão um sinal eloquente da oração da Igreja, que através da beleza da música, demonstra o seu amor a Deus. 

O Papa concluiu confiando todos os cantores à proteção de Santa Cecília, a virgem e mártir que, em Roma, elevou com a sua vida o mais belo canto de amor, entregando-se totalmente a Cristo e oferecendo à Igreja o seu luminoso testemunho de fé e amor. "Continuemos cantando e façamos nosso, uma vez mais, o convite do Salmo responsorial da liturgia de hoje: «Vamos com alegria para a casa do Senhor»."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

JOÃO PAULO I: Aquele encontro em Fátima (Parte 1/2)

A estátua de Nossa Senhora de Fátima durante uma vigília de oração noturna | 30Giorni.

JOÃO PAULO I

Arquivo 30Dias nº 01 - 2007

Aquele encontro em Fátima

Em julho de 1977, Albino Luciani conheceu a Irmã Lucia. Como aconteceu esse encontro e como ele se desenrolou? Pela primeira vez, o secretário do Patriarca Luciani relata e revela... Uma entrevista com Monsenhor Mario Senigaglia.

Entrevista com Mario Senigaglia por Stefania Falasca

Há fatos e fatos. Alguns, com o tempo, permanecem como são. Outros se perdem e se desvanecem até se tornarem lenda. Vejamos um. Local: Coimbra. Data: 11 de julho de 1977. Encontro entre o Patriarca de Veneza, Albino Luciani, e a Irmã Lúcia dos Santos, a vidente de Fátima. Eis um dos muitos que foram cobertos de tinta.

Diz-se que foi a própria Irmã Lúcia quem pediu para se encontrar com o Patriarca Luciani. Diz-se que a vidente o acolheu chamando-o de "Santo Padre". Diz-se também que ela previu a brevidade de seu pontificado e que o Patriarca saiu daquele encontro perturbado. Diz-se... E não foi difícil, então, explorar esses "rumores", a ponto de retratar Luciani como obcecado por essa profecia. Atormentado por essa sombra oculta nas linhas do terceiro segredo. A única voz dissonante no coro crescente desses "rumores" tem sido, nos últimos anos, a do Cardeal Tarcisio Bertone. O cardeal, tendo questionado a própria Irmã Lúcia sobre essa conversa em dezembro de 2003, reiterou repetidamente que a freira não tinha qualquer pressentimento a respeito de Albino Luciani. Em suma, esses rumores têm algum fundamento ou são apenas mais uma velha história de um típico caso de profecia ex eventu ? É melhor navegar pelas águas frias da história e voltar às notícias. Revisitá-las desde o início. Passo a passo. Com aqueles familiarizados com as circunstâncias que levaram a esse encontro.

Monsenhor Mario Senigaglia foi pároco da igreja de Santo Stefano, em Veneza, por trinta anos. O próprio Luciani o acompanhou a Santo Stefano, em outubro de 1976. Por sete anos, Dom Mario esteve ao seu lado como seu secretário particular. Sua presença discreta e atenta durante aqueles conturbados anos venezianos foi retribuída pela estima e confiança de Luciani, que se mantiveram ao longo do tempo. Em julho de 1977, Senigaglia encontrou-se com Luciani alguns dias após seu retorno de Fátima. "Sim, ele me ligou e eu fui vê-lo no patriarcado..." começa ele, "mas espere", interrompe, virando-se para uma prateleira, "vamos pegar o diário do patriarca..."
Nossa história começa aqui. 

Excelentíssimo Senhor, vejamos o que está escrito no diário... 

MARIO SENIGAGLIA: Sim. Vamos ler... Sexta-feira, 8 de julho de 1977: o patriarca está em Pádua. Sábado, dia 9, pronto: ele parte para Fátima. Domingo, dia 10: ele concelebra a missa na bacia da Cova da Iria. Segunda-feira, dia 11: ele celebra com outros sacerdotes na capela do mosteiro carmelita em Coimbra. Ele retorna a Veneza na terça-feira, dia 12, e no dia 13 preside o capítulo geral das freiras franciscanas... é tudo.

É o que diz o boletim. Mas como aconteceu o encontro com a Irmã Lúcia no claustro de Coimbra?
SENIGAGLIA: Em primeiro lugar, Luciani não entrou sozinho.
Como? Ele não estava sozinho naquele encontro? SENIGAGLIA: Não. Uma nobre veneziana o acompanhou e estava presente. 

E quem era ela? 

SENIGAGLIA: A Marquesa Olga Morosini de Cadaval. 

Espere um momento... vamos entender os fatos desde o início. De onde veio essa nobre? E por que Luciani foi a Fátima? Havia algum motivo, alguma ocasião específica...? 

SENIGAGLIA: Não. Nenhuma motivação específica. Ele foi a Fátima simplesmente em peregrinação. Todos os anos, aqui em Veneza, o padre jesuíta Leandro Tiveron, que também havia sido confessor de Luciani, organizava uma peregrinação a algum santuário mariano. E naquele ano ele escolheu Fátima. Luciani já havia ido a Lourdes várias vezes. Mas nunca tinha ido a Fátima. O padre Tiveron então sugeriu que ele fosse, e ele aceitou. Assim, o patriarca juntou-se ao grupo de peregrinos, cerca de cinquenta pessoas. No dia 10 de julho, visitaram o santuário e participaram na celebração eucarística em Fátima. No dia seguinte, viajaram para Coimbra para assistir à missa no convento carmelita. Foi a Marquesa de Cadaval, que tinha ligações ao convento, quem sugeriu e organizou a paragem no mosteiro de clausura em Coimbra. 

E como é que esta nobre senhora era tão familiarizada com o convento de Coimbra a ponto de ter acesso ao claustro? SENIGAGLIA: A Marquesa de Cadaval era casada com um português, um latifundiário do sul. Era uma mulher de grande cultura e sensibilidade, mas também de profunda piedade, e durante as suas estadias em Portugal, trabalhou como enfermeira da Cruz Vermelha no santuário de Fátima, tornando-se também, pouco depois, benfeitora do convento de Coimbra. Lá conheceu a Irmã Lúcia, com quem estabeleceu uma estreita relação de confiança. Durante anos, trabalhou como sua colaboradora. Auxiliou a Irmã Lúcia na tradução da sua correspondência. Durante a guerra, ela chegou a ser encarregada de entregar pessoalmente, muitas vezes de cor, mensagens a Pio XII e, de lá, à Irmã Lúcia. Pacelli conhecia a Marquesa desde a juventude. Cadaval, aliás, havia estudado na universidade em Roma e tinha um bom relacionamento com a família do futuro Pontífice. Assim, ela também se viu atuando como intermediária entre a Irmã Lúcia e o Papa. Em 1977, ela já era idosa, provavelmente na casa dos setenta anos.

 Luciani a havia conhecido antes disso? 

SENIGAGLIA: Ele a vira em algumas ocasiões em Veneza. 

E você a conhecia pessoalmente?
SENIGAGLIA: Sim. Ela era uma das minhas paroquianas. Durante suas estadias em Veneza, ela morava a um passo da igreja de Santo Stefano e, todos os dias, bem cedo pela manhã, vinha à missa na paróquia. Foi assim que a conheci. E foi numa dessas manhãs, depois da missa, que, enquanto conversávamos sobre a peregrinação a Fátima, surgiu a ideia de uma visita a Coimbra.

Então, o encontro de Luciani com a Irmã Lúcia foi iniciativa da Marquesa; não foi a vidente de Fátima que perguntou por ele...
SENIGAGLIA: Enquanto conversávamos sobre a visita a Coimbra, a Marquesa disse: "Se o Patriarca vier... eu ficaria feliz em apresentá-lo, nesta ocasião, à Irmã Lúcia." Foi assim que aconteceu. E o resto da história foi mais ou menos assim: "Se você quiser...", eu respondi, "tente perguntar a ele..." "Mas tenha cuidado", acrescentei, "se você mencionar essa possibilidade ao Patriarca antes de partir, é provável que ele diga não." Luciani, de fato, sempre foi discreto e relutante em relação a essas coisas. Ele tinha o cuidado de nunca incomodar ninguém. E, "certamente", eu disse a Cadaval, "se você perguntar a ele primeiro, ele vai objetar que se separar dos peregrinos não seria apropriado, que seria uma perda de tempo... Mas se você disser a ele ali mesmo, no último minuto, então... talvez ele finalmente aceite apenas para dizer olá." E assim ele fez, em acordo com o Padre Tiveron.

E como foi o encontro?
SENIGAGLIA: Cadaval já estava no mosteiro quando os peregrinos chegaram e havia informado a Irmã Lúcia da presença do Patriarca Luciani. Quando chegou a hora, ao final da celebração eucarística, ela disse ao patriarca que a Irmã Lúcia teria prazer em cumprimentá-lo. Juntamente com a priora do convento, eles entraram no claustro. Cadaval o acompanhou até a Irmã Lúcia e permaneceu com eles. Como Luciani entendia português muito bem, afastou-se e, após a conversa, acompanhou-o até onde seu secretário, Dom Diego Lorenzi, o esperava para almoçar com os outros.

Dom Diego disse que a reunião durou uma hora e meia. Outros acreditam que durou mais. O próprio Luciani relatou que conversaram por um longo tempo…
SENIGAGLIA: Mas… é verdade que um longo tempo para Luciani poderia ter sido meia hora. Para quem esperava, pode ter parecido ainda mais… De qualquer forma, nem Luciani nem Cadaval jamais mencionaram esse tempo como algo excepcional. Sei que ele se juntou aos outros no restaurante e que, depois do almoço, no carro fornecido por Cadaval, voltou para Lisboa e depois para Veneza, onde tinha compromissos. Só isso.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Solenidade de Cristo Rei do Universo (C)

Solenidade de Cristo Rei do Universo.  (©Renáta Sedmáková - stock.adobe.com)

O Evangelho nos fala que Cristo não só reuniu o Povo de Deus disperso, mas veio salvar o que estava perdido, isto é, convertendo os corações ao Pai, mostrando que ele é um rei que reina nos corações das pessoas, que essa é sua verdadeira vitória, que ele é o rei do amor, da paz, da vida!

Vatican News

A primeira leitura nos fala da proclamação de Davi como rei de Israel. Mas por que ele foi feito rei? Qual sua autoridade? Ao governar a tribo de Judá, Davi mostrou sua grandeza. Agora as tribos de Israel querem seu governo. Isso nos mostra que, por detrás de um povo unido está a lucidez e o temor de Deus de um grande líder. A autoridade de Davi estava no estabelecimento da justiça, da paz, da segurança e pela convivência com os diferentes.

Neste domingo celebramos Jesus Cristo, Rei do Universo. Como será, como é a realeza de Cristo? Como a de Davi? Com essa autoridade? Sim e muito mais.  Davi foi um leve sinal do Rei Jesus Cristo. O Evangelho nos fala que Cristo não só reuniu o Povo de Deus disperso, mas veio salvar o que estava perdido, isto é, convertendo os corações ao Pai, mostrando que ele é um rei que reina nos corações das pessoas, que essa é sua verdadeira vitória, que ele é o rei do amor, da paz, da vida!

A cena do Calvário, onde sobre a cabeça de Jesus, pregado na cruz, está também pregado nela uma taboazinha onde se lê: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus, nos mostra alguns diálogos entre o Senhor e dois bandidos. Sim, o Senhor, rei do Universo está sendo supliciado como um bandido, no meio de bandidos, por pessoas que se diziam cumpridoras da justiça.

Para um dos malfeitores, Jesus é um derrotado e incapaz de realizar o maior desejo deles, escapar daquele suplício. Para o outro, não. Em meio a tantas desilusões, decepções e desesperanças surge um sentimento de esperança. Crê no poder de Jesus. Não olha para seu passado de crimes, de pecados e nem se deixa impressionar pela fragilidade de seu ilustre companheiro de sorte. Ao contrário, é o único a reconhecer-se pecador e a professar sua fé em Jesus. “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Ele não pede perdão, não procura justificativas, mas confessa-se pecador e professa sua fé no poder amoroso do Rei Jesus. Na nossa vida, o importante não é ficarmos olhando para o nosso passado, para o que fizemos, mas reconhecermo-nos pecadores e cremos na misericórdia e no poder de Jesus. Isso basta!

Por seu lado, Jesus age como agiu o pai do “filho pródigo”. Imediatamente o Senhor, sem palavras de correção e, muito menos de condenação, diz: “...ainda hoje estarás comigo no Paraíso”. Ele não deixa seus súditos passarem vergonha!

Ele nos amou e continua nos amando. É o rei do amor! Como cidadãos do Reino de Cristo somos levados a viver no Amor. Como nos dizem as Sagradas Escrituras, o amor de Cristo nos impele a que nos amemos uns aos outros, como o Senhor nos amou.

Vivamos como cidadãos do Reino de Cristo, praticando a justiça, o amor, a paz e o perdão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Basílica de São Clemente: uma viagem ao passado

Stefano_Valeri | Shutterstock

Marinella Bandini - publicado em 01/03/21

Reviva a antiga tradição quaresmal dos cristãos romanos descobrindo as “igrejas estacionárias” .

A Basílica de São Clemente é uma verdadeira viagem de volta ao passado. Em sua estrutura atual, ela agrega três etapas distintas que marcaram sua construção: o aspecto de hoje data do século XII, mas apresenta ainda características da antiga basílica, que remonta ao século IV e que, por sua vez, foi erguida sobre edifícios romanos do século I. 

A basílica guarda os restos do quarto Papa, Clemente (92-101). Segundo a tradição, Clemente teria sido condenado a trabalhos forçados na Crimeia e ali sofreu seu martírio: foi lançado ao Mar de Azov com uma âncora ao pescoço. Pouco depois, as águas recuaram milagrosamente, revelando um túmulo construído por anjos, que haviam dado a Clemente um enterro decente.

Desde então, uma vez por ano, o mar recuava, revelando o túmulo. Em uma dessas ocasiões – segundo a lenda – uma criança foi engolida pela água e foi encontrada um ano depois, a salvo, no túmulo de São Clemente. 

Os restos mortais do Papa foram encontrados e levados a Roma no século IX pelos santos Cirilo e Metódio, irmãos que evangelizaram os povos eslavos. Acredita-se também que Cirilo também tenha sido enterrado na basílica.

A arquitetura da igreja é dominada por mosaicos na ábside (Séc. XII): a Cruz é a árvore da vida, da qual brotam as águas da salvação e que estende seus ramos no tempo e no espaço. 

Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. (Lc 6,36)

Abrir a galeria de fotos:

https://pt.aleteia.org/slideshow/basilica-de-sao-clemente/?from_post=381551

Fonte: https://pt.aleteia.org/2021/03/01/a-basilica-de-sao-clemente-uma-viagem-ao-passado/

sábado, 22 de novembro de 2025

Vampiros de energia: identifique-os e proteja suas emoções

Estrada Anton/Shutterstock

Karen Hutch - publicado em 30/10/25 - atualizado em 30/10/25

Cuidado com pessoas que se tornam vampiras de energia, pois elas podem destruir suas emoções.

As pessoas apelidadas de "vampiros energéticos” são aqueles que, consciente ou inconscientemente, absorvem a energia emocional dos outros para se sentirem melhor, deixando a pessoa que interage com eles exausta e sem energia.

Todos nós, em algum momento, já convivemos com alguém que, depois de uma conversa, nos deixa emocionalmente esgotados. Não estamos falando de magia ou ficção: estamos falando dos chamados “vampiros de energia”.

O desgaste da sua saúde mental

Conversar sobre o assunto e conhecer pessoas que compartilham esse traço de personalidade é essencial para que você possa detectar como elas se aproximam de você e proteger sua saúde mental, além de compreendê-las e orientá-las.

Hoje em dia, é mais difícil manter a mente limpa e livre de estresse e ansiedade. No entanto, o estilo de vida atual nos mantém constantemente em alerta, expondo-nos a situações que nos esgotam emocionalmente.

Sinais de que você conhece um vampiro de energia

Egocentrismo excessivo: Eles mantêm um ego enorme em relação a si mesmos, então colocam os outros de lado e só pensam em si mesmos e em seu bem-estar.

Negatividade constante ou vitimismo: Essas pessoas tendem a reclamar de tudo e de todos. Concentram-se apenas no negativo e invalidam aqueles que cometem erros.

Manipulação emocional (culpa, chantagem): Essas pessoas tendem a se vitimizar constantemente em quase qualquer situação em que não se sintam confortáveis, culpando os outros e criando drama desnecessário.

Necessidade constante de atenção: Algumas dessas pessoas costumam apresentar traços narcisistas,  são manipuladores e controladores.

Resistência à mudança ou feedback: Geralmente, têm dificuldade em aceitar mudanças, então as coisas precisam ser do seu jeito, sem ceder ou mudar sua estrutura. Quando alguém tenta corrigi-los fraternalmente, eles não aceitam e se sentem atacados, pois acham que estão sempre certos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/30/vampiros-de-energia-identifique-os-e-proteja-suas-emocoes/

Leão XIV: como Dorothy Day, transformar esperança em decisão e serviço

Audiência Jubilar, 22/11/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

O Papa recordou, na Audiência Jubilar deste sábado (22/11), o que o caminho da esperança começa com um desejo que se torna decisão e pede coragem diante das injustiças. Inspirando-se no Evangelho e no testemunho de Dorothy Day, o Pontífice insistiu: Jesus trouxe o fogo que impele cada cristão a tomar posição e transformar indignação em comunhão.

https://youtu.be/C9015_w_z4Q

Thulio Fonseca – Vatican News

Na Audiência Jubilar deste sábado, 22 de novembro, o Papa Leão XIV acolheu milhares de fiéis e peregrinos na Praça São Pedro. Na catequese, o Pontífice voltou ao núcleo da espiritualidade jubilar: a esperança como força que move e transforma, jamais como espera passiva.

Logo no início, o Papa recordou o significado da peregrinação e convidou todos a revisitar o momento interior que deu origem ao caminho: “Para muitos de vocês, estar hoje em Roma é a realização de um grande desejo. (…) Alguma coisa, no início, se moveu dentro de vocês. (…) O próprio Senhor os tomou pela mão: um desejo e depois uma decisão. Sem isso, vocês não estariam aqui.”

“A quem muito foi dado, muito lhe será pedido”

Ao comentar o Evangelho proclamado, Leão XIV destacou as palavras exigentes que Jesus dirige aos discípulos mais próximos:  “‘A quem muito foi dado, muito lhe será pedido; se a alguém muito se confiou, muito mais se exigirá’.” Em seguida, o Pontífice aplicou o ensinamento à vida da Igreja: 

“Também nós recebemos muito do caminho percorrido até aqui, estivemos com Jesus e com a Igreja e, mesmo que a Igreja seja uma comunidade com os limites humanos, recebemos muito. Então, Jesus espera muito de nós. É um sinal de confiança, de amizade. Ele espera muito, porque nos conhece e sabe que somos capazes!”

Esperar é tomar posição

O Papa retomou a imagem central da catequese: o fogo. “Jesus veio trazer o fogo: o fogo do amor de Deus na terra e o fogo do desejo nos nossos corações.” Esse fogo, explicou, desinstala e compromete:

“De certa forma, Jesus nos tira a paz, se pensarmos na paz como uma calma inerte. (…) Às vezes, gostaríamos de ser ‘deixados em paz’. (…) Não é a paz de Deus. A paz que Jesus traz é como um fogo e exige muito de nós.”

Por isso, insistiu Leão XIV, o discípulo não pode permanecer neutro: “Diante das injustiças, das desigualdades, onde a dignidade humana é pisada, onde aos frágeis é tirada a palavra: tomar posição. (…) Esperar é tomar posição.”

Dorothy Day e a esperança que se torna ação

Como modelo espiritual, o Papa evocou na catequese deste sábado a jornalista e ativista norte-americana Dorothy Day: “Ela tinha o fogo dentro de si. (…) Compreendeu que o sonho para muitos era um pesadelo, que como cristã devia se envolver com os trabalhadores, com os migrantes, com os descartados por uma economia que mata.”

Leão XIV destacou a capacidade de Dorothy de unir reflexão e serviço: “É importante unir mente, coração e mãos. Isso é tomar posição.” E ainda: “Ela escrevia como jornalista, ou seja, pensava e fazia pensar. (…) E também servia refeições, dava roupas, vestia-se e comia como aqueles a quem servia.” O Papa recordou ainda o impacto de sua obra: “Dorothy Day envolveu milhares de pessoas. Abriram casas em muitas cidades, em muitos bairros… não grandes centros de serviços, mas pontos de caridade e justiça onde se chamavam pelo nome, se conheciam um a um e transformavam a indignação em comunhão e ação.”

Reavivar a chama da esperança

Ao concluir sua reflexão, Leão XIV fez um forte apelo: “É assim que são os operadores da paz: tomam posição e assumem as consequências, mas seguem em frente”, e completou:

“Esperar é tomar posição, como Jesus, com Jesus. O seu fogo é o nosso fogo. Que o Jubileu o reavive em nós e em toda a Igreja!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF