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domingo, 12 de dezembro de 2021

Consagração a Nossa Senhora: é errado dizer “filho” em vez de “coisa”?

Immaculate | Shutterstock

"Guardai-me e defendei-me como coisa e propriedade vossa"... ou "como filho e propriedade vossa"?

A consagração a Nossa Senhora é uma antiga devoção que remonta aos primeiros séculos da Igreja e que foi ganhando diversas fórmulas ao longo dos séculos.

Santo Agostinho, São Bernardo de Claraval, São Domingos de Gusmão e Santo Afonso Maria de Ligório estão entre os grandes autores católicos de textos devocionais e doutrinais sobre a Santíssima Virgem Maria. São Luís Maria Grignion de Montfort compôs um método específico de consagração pessoal a ela.

Um dos textos mais conhecidos e rezados de consagração a Nossa Senhora é este – às vezes encontrado com pequenas variações:

Ó Senhora minha! Ó minha Mãe! Eu me ofereço todo(a) a Vós e, em prova da minha devoção para convosco, Vos consagro neste dia e para sempre: os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração e inteiramente todo o meu ser. E porque assim sou vosso(a), ó incomparável Mãe, guardai-me e defendei-me como coisa e propriedade vossa; lembrai-Vos de que Vos pertenço, terna Mãe, Senhora nossa“.

Uma das variações que mais costumam gerar discussões é a frase “…guardai-me e defendei-me como ‘coisa’ e propriedade vossa”, que muitos preferem substituir por “como ‘filho’ e propriedade vossa”. O motivo seria a interpretação de que “coisa” teria uma conotação depreciativa, ao passo que “filho” conferiria maior dignidade e reconhecimento ao fato de que, afinal, é o que somos.

Entretanto, na “Consagração de Escravidão a Jesus e Maria” segundo a doutrina de São Luís Maria, não haveria essa conotação depreciativa no uso do termo “coisa”. Esta palavra remete, antes, ao fato de que as pessoas costumam preservar com carinho objetos que recordam pessoas ou vivências preciosas: comparativamente, a prece pede que Maria nos guarde como tais preciosidades, traçando um paralelo com a afirmação bíblica de que Cristo pagou um alto preço para nos resgatar: “De fato, fostes comprados, e por preço muito alto” (1Cor 6,20a).

A versão desta consagração em latim, de fato, utiliza o termo “coisa”, na frase “ut rem ac possessionem tuam” (literalmente, “como coisa e propriedade vossa“).

Mas será errado dizer “como filho e propriedade vossa” em vez disso?

Quem se manifestou a respeito, em sua rede social, foi o pe. Allan Victor Almeida Marandola, que escreveu:

“O pessoal adora inventar preceitos. Sobre a Consagração a Nossa Senhora, insistem em dizer que ‘o certo’ é dizer ‘coisa’, não ‘filho’.Deve-se considerar que se trata de uma devoção privada. Não existe ‘certo’ ou ‘errado’. Como qualquer devoção privada, o fiel ou a comunidade pode adaptar do modo que mais favorecer sua espiritualidade. Se à pessoa ajuda rezar dizendo ‘filho’, nenhum mal há nisso. Até porque conserva-se o termo ‘propriedade’.O que se pode alegar, e com razão, é que não apenas a oração original traz ‘coisa’, mas também o costume é dizer ‘coisa’. Sempre há benefícios em se rezar fielmente uma oração consagrada pelo tempo e pelo uso.Mas não erra quem diz ‘filho’, usando a oração original apenas como inspiração. É diferente de uma prece litúrgica que contém uma rubrica que deve ser observada cirurgicamente”.

Em resumo: não se trata de uma fórmula litúrgica e muito menos sacramental que precise ser respeitada na sua versão oficialmente definida pela Igreja, mas sim de uma prece privada, que, portanto, pode ser ligeiramente adaptada desde que sem contradizer a reta doutrina católica. A fórmula original desta consagração certamente usa o termo “coisa” em vez de “filho”, mas não há maiores problemas caso alguém prefira o termo “filho”.

E viva Nossa Senhora, a Santíssima Virgem Maria, mãe de Jesus e mãe nossa, de quem somos filhos e coisas preciosas!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF