Leão XIV encontra no Vaticano os movimentos e associações
que deram origem à “Arena da Paz”. Entre eles, também o israelense Inon e o
palestino Sarah, que há um ano, em Verona, foram os protagonistas, na presença
de Francisco, de um abraço corajoso e significativo diante de 12 mil pessoas.
“A não violência como método e como estilo", incentiva o Pontífice,
"deve caracterizar nossas decisões, as nossas relações, as nossas ações”.
Antonella Palermo - Vatican News
Querer a paz implica a criação de instituições de paz. É
essa a mensagem central do discurso de Leão XIV na audiência da manhã desta
sexta-feira (30/05) a representantes de movimentos populares e associações da
cidade italiana de Verona que deram origem à “Arena da Paz”, uma realidade
dinâmica na qual convergem grupos pluralistas, pacifistas e populares, fruto da
colaboração entre a diocese de Verona, a Fundação Nigrizia, os
padres combonianos, o jornal católico italiano Avvenire e a
revista italiana Aggiornamenti sociali.
No grupo de cerca de 300 pessoas reunidas na Sala Clementina
do Palácio Apostólico desta sexta-feira (30/05) também estava o israelense Maoz
Inon, cujos pais foram mortos pelo Hamas, e o palestino Aziz Sarah, que teve o
irmão morto pelo exército israelense, e que agora são amigos e colaboradores.
Eles foram os protagonistas daquele abraço histórico e corajoso há um ano em
Verona, na presença do Papa Francisco, que permanece, como reconhece Prevost,
“testemunho e sinal de esperança”.
O caminho pela paz é comunitário
Em discurso, Leão XIV parte justamente da perspectiva
compartilhada e incentivada por Bergoglio no encontro de 18 de maio de 2024 na
arena da cidade veneziana, ou seja, a perspectiva das vítimas. Colocar-se no
lugar delas, afirma o Pontífice, “é essencial para desarmar os corações, os
olhares, as mentes e denunciar as injustiças de um sistema que mata e se baseia
sobre a cultura do descarte”. A paz e o bem comum estão interligados, sublinha
o Papa, citando São João Paulo II quando falava da paz como um bem indivisível.
No discurso desta sexta (30/05) do Sucessor de Pedro, reitera-se, em suma, que
a paz não é algo inerte, mas um ativador das consciências.
O caminho pela paz requer corações e mentes treinados e
formados para a atenção ao outro e capazes de reconhecer o bem comum no
contexto atual. O caminho que leva à paz é comunitário, passa pelo cuidado das
relações de justiça entre todos os seres vivos.
As diferenças devem ser reconhecidas, assumidas, superadas
Construir a paz pode significar longos processos de formação
para a paz, tempos que devem ser buscados em uma época em que, ao contrário, se
prefere a velocidade e o imediatismo.
A paz autêntica é aquela que toma forma a partir da
realidade (territórios, comunidades, instituições locais e assim por diante) e
na escuta dela. Precisamente por isso, percebemos que essa paz é possível
quando as diferenças e os conflitos que ela acarreta não são removidos, mas
reconhecidos, assumidos e superados.
Há muita violência no mundo
O Papa elogia o empenho dos movimentos pela paz,
definindo-os como “preciosos”. São realidades “de baixo”, dialogantes, que
colocam em campo “criatividade e genialidade”. É assim, precisa o Papa, que se
gera esperança. Os jovens "precisam de experiências que eduquem para a
cultura da vida, do diálogo, do respeito mútuo”, afirma ainda o Papa, que
constata amargamente: “há muita violência no mundo, há muita violência nas
nossas sociedades”.
Do nível local e cotidiano até aquele de ordem mundial,
quando aqueles que sofreram injustiça e as vítimas da violência sabem resistir
à tentação da vingança, tornam-se os protagonistas mais credíveis dos processos
não violentos de construção da paz. A não violência como método e como estilo
deve caracterizar as nossas decisões, as nossas relações, as nossas ações.
O “nós” deve se traduzir em nível institucional
Em nível nacional e internacional é necessário que as
instituições políticas, econômicas, educativas e sociais se sintam interpeladas
a cooperar pela cultura da paz. O Papa Leão XIV recorda a Fratelli
tutti e aquele “nós” que, salienta, deve se traduzir também em nível
institucional. Daí o incentivo final ao compromisso e à presença, acompanhado
pela oração, para que o trabalho pela paz seja sempre animado pela paciência e
tenacidade:
[...] Presentes na massa da história como fermento de
unidade, de comunhão, de fraternidade. A fraternidade precisa ser descoberta,
amada, experimentada, anunciada e testemunhada, na confiante esperança de que
ela é possível graças ao amor de Deus.
Um mosaico de compromisso pela paz
Entre os grupos e movimentos presentes no Vaticano na manhã
desta sexta-feira (30/05) em audiência com o Papa, havia um mundo diversificado
e unido por um mesmo caminho para a construção da justiça social e da paz:
estavam presentes a Mediterranea Human Saving, Libera, Rete
Italiana Pace e Disarmo; as presidências da Ação Católica, da Acli, do
Movimento Não Violento, Médicos Sem Fronteiras, a associação Comunidade Papa
João, Economia de Francisco, Anpi, Agesci, Cipax, Colibrì, Pax Christi,
Fundação Perugia Assisi, Il mondo di Irene, Beati i
costruttori di pace, Movimento dos Focolares, Aipec, Anistia, Comunidades
Cristãs de Base, Mamme NoPFas, Ultima Generazione.
Participaram também a Assopace Palestina e a Un Ponte
Per, sempre empenhadas com uma presença constante nos territórios
palestinos. Além disso, estava presente Olga Karach, ativista bielorrussa
exilada na Lituânia, que por seu empenho em nome da objeção de consciência está
ameaçada de morte.
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