Estudando o Catecismo: “O pecado”
23/07/2024
Confira o que ensina o Catecismo da Igreja Católica sobre o
pecado:
ARTIGO 8
O PECADO
I.
A misericórdia e o pecado
O Evangelho é a revelação, em Jesus Cristo, da misericórdia
de Deus para com os pecadores. O anjo assim o disse a José: «Pôr-Lhe-ás o nome
de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1,
21), o mesmo se diga da Eucaristia, sacramento da Redenção: «Isto é o meu
sangue, o sangue da Aliança, que vai ser derramado por todos para a remissão
dos pecados» (Mt 26, 28). (1876)
«Deus, que nos criou sem nós, não quis salvar-nos sem nós».
O acolhimento da sua misericórdia exige de nós a confissão das nossas faltas.
«Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos, e a verdade não está em nós. Se
confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos
pecados e para nos purificar de toda a maldade» (1 Jo 1, 8-9).
(1847)
Como afirma São Paulo: «Onde abundou o pecado, superabundou
a graça» (Rm 5, 20). Mas para realizar a sua obra, a graça tem de
pôr a descoberto o pecado, para converter o nosso coração e nos obter «a
justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor» (Rm 5,
21). Como um médico que examina a chaga antes de lhe aplicar o penso, Deus,
pela sua Palavra e pelo seu Espírito, projeta uma luz viva sobre o pecado:
«A conversão requer o reconhecimento do pecado. Contém
em si mesma o juízo interior da consciência. Pode ver-se nela a prova da ação
do Espírito de verdade no mais íntimo do homem. Torna-se, ao mesmo tempo, o
princípio dum novo dom da graça e do amor: “Recebei o Espírito Santo”. Assim,
neste “convencer quanto ao pecado”, descobrimos um duplo dom: o
dom da verdade da consciência e o dom da certeza da redenção. O Espírito da
verdade é o Consolador». (1848)
II.
Definição de pecado
O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a reta
consciência. É uma falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o
próximo, por causa dum apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e
atenta contra a solidariedade humana. Foi definido como «uma palavra, um ato ou
um desejo contrários à Lei eterna». (1849)
O pecado é uma ofensa a Deus: «Pequei contra Vós, só contra
Vós, e fiz o mal diante dos vossos olhos» (Sl 51, 6). O pecado
é contrário ao amor que Deus nos tem e afasta d’Ele os nossos corações. É, como
o primeiro pecado, uma desobediência, uma revolta contra Deus, pela vontade de
os homens se tornarem «como deuses», conhecendo e determinando o que é bem e o
que é mal (Gn 3, 5). Assim, o pecado é «o amor de
si próprio levado até ao desprezo de Deus». Por esta exaltação orgulhosa de si
mesmo, o pecado é diametralmente oposto à obediência de Jesus, que realizou a
salvação. (1850)
É precisamente na paixão, em que a misericórdia de Cristo o
vai vencer, que o pecado manifesta melhor a sua violência e a sua
multiplicidade: incredulidade, ódio assassino, rejeição e escárnio por parte
dos chefes e do povo, cobardia de Pilatos e crueldade dos soldados, traição de
Judas tão dura para Jesus, negação de Pedro e abandono dos discípulos. No
entanto, mesmo na hora das trevas e do príncipe deste mundo, o sacrifício de
Cristo torna-se secretamente a fonte de onde brotará, inesgotável, o perdão dos
nossos pecados. (1851)
III.
A diversidade dos pecados
É grande a variedade dos pecados. A Sagrada Escritura
fornece-nos várias listas. A Epístola aos Gálatas opõe as obras da carne aos
frutos do Espírito: «As obras da natureza decaída (“carne”) são claras:
imoralidade, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, inimizades,
discórdias, ciúmes, fúrias, rivalidades, dissensões, facciosismos, invejas,
excessos de bebida e de comida e coisas semelhantes a estas. Sobre elas vos
previno, como já vos tinha prevenido: os que praticam ações como estas, não
herdarão o Reino de Deus» (Gl 5, 19-21). (1852)
Os pecados podem distinguir-se segundo o seu objeto, como
todo o ato humano; ou segundo as virtudes a que se opõem; por excesso ou por
defeito; ou segundo os mandamentos que violam. Também podem agrupar-se segundo
outros critérios: os que dizem respeito a Deus, ao próximo, à própria pessoa do
pecador; pecados espirituais e carnais: ou, ainda, pecados por pensamentos,
palavras, obras ou omissões. A raiz do pecado está no coração do homem, na sua
vontade livre, conforme o ensinamento do Senhor: «do coração é que provêm
pensamentos malévolos, assassínios, adultérios, fornicações, roubos, falsos
testemunhos, maledicências – coisas que tornam o homem impuro» (Mt 15,
19). Mas é também no coração que reside a caridade, princípio das obras boas e
puras, que o pecado ofende. (1853)
IV.
A gravidade do pecado: pecado mortal e
pecado venial
Os pecados devem ser julgados segundo a sua gravidade. A
distinção entre pecado mortal e pecado venial, já perceptível na Escritura, impôs-se
na Tradição da Igreja. A experiência dos homens corrobora-a. (1854)
O pecado mortal destrói a caridade no
coração do homem por uma infracção grave à Lei de Deus. Desvia o homem de Deus,
que é o seu último fim, a sua bem-aventurança, preferindo-Lhe um bem inferior.
O pecado venial deixa subsistir a caridade, embora ofendendo-a
e ferindo-a. (1855)
O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a
caridade, torna necessária uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma
conversão do coração que normalmente se realiza no quadro do sacramento da
Reconciliação:
«Quando […] a vontade se deixa atrair por uma coisa de si
contrária à caridade, pela qual somos ordenados para o nosso fim último, o
pecado, pelo seu próprio objeto, deve considerar-se mortal […], quer seja
contra o amor de Deus (como a blasfêmia, o perjúrio, etc.), quer contra o amor
do próximo (como o homicídio, o adultério, etc.) […] Em contrapartida, quando a
vontade do pecador por vezes se deixa levar para uma coisa que em si é
desordenada, não sendo todavia contrária ao amor de Deus e do próximo (como uma
palavra ociosa, um risco supérfluo, etc.), tais pecados são veniais». (1856)
Para que um pecado seja mortal, requerem-se,
em simultâneo, três condições: «É pecado mortal o que tem por objeto uma
matéria grave, e é cometido com plena consciência e de propósito deliberado».
(1857)
A matéria grave é precisada pelos dez
Mandamentos, segundo a resposta que Jesus deu ao jovem rico: «Não mates, não
cometas adultério, não furtes, não levantes falsos testemunhos, não cometas
fraudes, honra pai e mãe» (Mc 10, 18). A gravidade dos pecados
é maior ou menor: um homicídio é mais grave que um roubo. A qualidade das
pessoas lesadas também entra em linha de conta: a violência cometida
contra pessoas de família é, por sua natureza, mais grave que a exercida contra
estranhos. (1858)
Para que o pecado seja mortal tem de ser cometido com plena
consciência e total consentimento. Pressupõe o conhecimento do
carácter pecaminoso do ato, da sua oposição à Lei de Deus. E implica também um
consentimento suficientemente deliberado para ser uma opção pessoal. A
ignorância simulada e o endurecimento do coração não diminuem, antes aumentam,
o carácter voluntário do pecado. (1859)
A ignorância involuntária pode diminuir, ou
mesmo desculpar, a imputabilidade duma falta grave. Mas parte-se do princípio
de que ninguém ignora os princípios da lei moral, inscritos na consciência de
todo o homem. Os impulsos da sensibilidade e as paixões podem também diminuir o
carácter voluntário e livre da falta. O mesmo se diga de pressões externas e de
perturbações patológicas. O pecado cometido por malícia, por escolha deliberada
do mal, é o mais grave. (1860)
O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade
humana, tal como o próprio amor. Tem como consequência a perda da caridade e a
privação da graça santificante, ou seja, do estado de graça. E se não for
resgatado pelo arrependimento e pelo perdão de Deus, originará a exclusão do
Reino de Cristo e a morte eterna no Inferno, uma vez que a nossa liberdade tem
capacidade para fazer escolhas definitivas, irreversíveis. No entanto, embora
nos seja possível julgar se um ato é, em si, uma falta grave, devemos confiar o
juízo sobre as pessoas à justiça e à misericórdia de Deus. (1861)
Comete-se um pecado venial quando, em
matéria leve, não se observa a medida prescrita pela lei moral ou quando, em
matéria grave, se desobedece à lei moral, mas sem pleno conhecimento ou sem
total consentimento. (1862)
O pecado venial enfraquece a caridade, traduz um afeto
desordenado aos bens criados, impede o progresso da pessoa no exercício das
virtudes e na prática do bem moral; e merece penas temporais. O pecado venial
deliberado e não seguido de arrependimento, dispõe, a pouco e pouco, para
cometer o pecado mortal. No entanto, o pecado venial não quebra a aliança com
Deus e é humanamente reparável com a graça de Deus. «Não priva da graça
santificante, da amizade com Deus, da caridade, nem, portanto, da bem-aventurança
eterna».
«Enquanto vive na carne, o homem não é capaz de evitar
totalmente o pecado, pelo menos os pecados leves. Mas estes pecados, que
chamamos leves, não os tenhas por insignificantes. Se os tens por
insignificantes quando os pesas, treme quando os contas. Muitos objetos leves
fazem uma massa pesada; muitas gotas de água enchem um rio; muitos grãos fazem
um monte. Onde, então, está a nossa esperança? Antes de mais, na confissão…».
(1863)
«Todo o pecado ou blasfêmia será perdoado aos homens, mas a
blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoada» (Mt 12,
31). Não há limites para a misericórdia de Deus, mas quem recusa
deliberadamente receber a misericórdia de Deus, pelo arrependimento, rejeita o
perdão dos seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Tal
endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna. (1864)
V.
A proliferação do pecado
O pecado arrasta ao pecado; gera o vício, pela repetição dos
mesmos atos. Daí resultam as inclinações perversas, que obscurecem a
consciência e corrompem a apreciação concreta do bem e do mal. Assim, o pecado
tende a reproduzir-se e reforçar-se, embora não possa destruir radicalmente o
sentido moral. (1865)
Os vícios podem classificar-se segundo as virtudes a que se
opõem, ou relacionando-os com os pecados capitais que a
experiência cristã distinguiu, na sequência de São João Cassiano e São Gregório
Magno. Chamam-se capitais, porque são geradores doutros pecados e doutros
vícios. São eles: a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a
preguiça ou negligência (acídia). (1866)
A tradição catequética lembra também a existência de «pecados
que bradam ao céu». Bradam ao céu: o sangue de Abel; o pecado dos
sodomitas; o clamor do povo oprimido no Egito; o lamento do estrangeiro, da
viúva e do órfão; a injustiça para com o assalariado. (1867)
O pecado é um ato pessoal. Mas, além disso, nós temos
responsabilidade nos pecados cometidos por outros, quando neles
cooperamos:
– tomando parte neles, direta e
voluntariamente;
– ordenando-os. aconselhando-os, aplaudindo-os ou aprovando-os;
– não os denunciando ou não os impedindo, quando a isso obrigados;
– protegendo os que praticam o mal. (1868)
Assim, o pecado torna os homens cúmplices uns dos outros,
faz reinar entre eles a concupiscência, a violência e a injustiça. Os pecados
provocam situações sociais e instituições contrárias à Bondade divina; as
«estruturas de pecado» são expressão e efeito dos pecados pessoais e induzem as
suas vítimas a que, por sua vez, cometam o mal. Constituem, em sentido
analógico, um «pecado social». (1869)
Fonte: Catecismo da Igreja Católica, nº 1846 a 1869.
Nenhum comentário:
Postar um comentário