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segunda-feira, 6 de março de 2023

Preparação para o Sacramento do Matrimônio (4/6)

Sacramento do Matrimônio | Presbíteros

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA

PREPARAÇÃO PARA O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

B. Preparação próxima

32. A preparação próxima desenrola-se durante o período do noivado. Articula-se em cursos específicos e é distinta da imediata, que geralmente se concentra nos últimos encontros entre os noivos e os agentes de pastoral, antes da celebração do matrimônio. Parece oportuno que, durante a preparação próxima, seja dada a possibilidade de verificar a maturidade dos valores humanos próprios da relação de amizade e de diálogo que caracterizam o noivado. Em vista do novo estado de vida que será vivida como casal, dê-se oportunidade para aprofundar a vida de fé e, sobretudo, aquilo que se refere ao conhecimento da sacramentalidade da Igreja. É esta uma etapa muito importante de evangelização, em que a fé deve incluir a dimensão pessoal e comunitária tanto dos noivos quanto de suas famílias. Nesse aprofundamento será também possível perceber as suas eventuais dificuldades em viver uma autêntica vida cristã.

33. O período desta preparação vem a coincidir em geral com a época da juventude; pressupõe-se portanto tudo o que é próprio da pastoral juvenil propriamente dita, que se ocupa do crescimento integral da fé. A pastoral juvenil não se pode separar do âmbito da família, como se os jovens formassem uma espécie de « classe social » separada e independente. Ela deve reforçar o sentido social dos jovens, em primeiro lugar com os membros da sua família, orientando os seus valores para a futura família que formarão. Os jovens terão já sido coadjuvados no discernimento da sua vocação através do empenho pessoal, e com a ajuda da comunidade, principalmente dos pastores. Isto deve iniciar-se ainda antes do compromisso do noivado. Quando a vocação se concretiza em direção ao matrimônio, será apoiada, em primeiro lugar, pela graça e depois por uma preparação adequada. A dita pastoral juvenil terá contudo presente que, por dificuldades de vários géneros, como o fato duma « adolescência prolongada » e, portanto, duma mais longa permanência na família – fenómeno novo e preocupante -, o compromisso matrimonial dos jovens de hoje, é, não poucas vezes, excessivamente adiado.

34. Tal preparação próxima deverá basear-se, antes de mais, numa catequese alimentada pela escuta da Palavra de Deus, interpretada com a orientação do Magistério da Igreja, em vista de uma compreensão cada vez mais plena da fé, e de um testemunho na vida concreta. O ensinamento deverá ser proposto no contexto de uma comunidade de fé entre famílias, especialmente no âmbito da paróquia, que – para tal fim – participam e colaboram segundo os próprios carismas e as próprias funções, para a formação dos jovens, alargando a sua influência a outros grupos sociais.

35. Os noivos deverão ser instruídos sobre as exigências naturais ligadas ao relacionamento interpessoal homem-mulher no plano de Deus sobre o matrimônio e sobre a família: o conhecimento em ordem à liberdade de consentimento como fundamento da sua união, a unidade e indissolubilidade matrimonial, a reta concepção de paternidade-maternidade responsável, os aspectos humanos da sexualidade conjugal, o ato conjugal com as suas exigências e finalidades, a reta educação dos filhos. Tudo isto orientado para o conhecimento da verdade moral e para a formação da consciência pessoal.

A preparação próxima deverá certamente prever que os noivos possuam os elementos basilares de carácter psicológico, pedagógico, legal e médico, concernentes ao matrimónio e à família. Todavia, especialmente no que se refere à doação total e à procriação responsável, a formação teológica e moral deverá ter um aprofundamento particular. De facto, o amor conjugal é amor total, exclusivo, fiel e fecundo (cf. Humanae Vitae, 9).

Hoje está firmemente reconhecida a base científica (2) dos métodos naturais de regulação da fertilidade. É útil o seu conhecimento; o seu emprego, quando existam causas justas, não deve permanecer mera técnica de comportamento, mas deve ser inserido na pedagogia e no processo de crescimento do amor (cf. EV 97). É então que a virtude da castidade entre os cônjuges leva a viver a continência periódica (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 2366-2371).

Esta preparação deverá contudo garantir que os noivos cristãos tenham ideias exatas, e um sincero « sentire cum ecclesia », sobre o próprio matrimónio, sobre os papéis mútuos da mulher e do homem no casal, na família e na sociedade, sobre a sexualidade e a abertura aos outros.

36. É também óbvio que se deverão ajudar os jovens a tomar consciência de eventuais carências psicológicas e ou afetivas, especialmente da incapacidade de abrir-se aos outros e de formas de egoísmo que possam tornar vão o empenho total da sua doação. Tal ajuda levará contudo a descobrir as potencialidades e exigências de crescimento humano e cristão da sua existência. Por isso, os responsáveis preocupar-se-ão também de formar solidamente a consciência moral dos noivos para que estejam preparados para a livre e definitiva escolha do matrimônio que se exprimirá no consentimento mutuamente dado diante da Igreja, por meio do pacto conjugal.

37. Durante este momento do itinerário serão necessários encontros frequentes, num clima de diálogo, de amizade, de oração, com a participação de pastores e de catequistas. Estes deverão sublinhar que « a família celebra o Evangelho da vida com a oração diária, individual e familiar: nela, agradece e louva o Senhor pelo dom da vida e invoca luz e força para enfrentar os momentos de dificuldade e sofrimento, sem nunca perder a esperança ». (EV 93). E, além disso, os casais de esposos cristãos apostolicamente empenhados, numa visual de são optimismo cristão, podem contribuir para iluminar cada vez melhor a vida cristã no contexto da vocação ao matrimônio e na complementaridade de todas as vocações. Este período, portanto, não será somente de aprofundamento teórico, mas antes um caminho de formação, no qual os noivos, com o auxílio da graça e fugindo a qualquer forma de pecado, se preparam para se doar a si mesmos, como casal, a Cristo que sustém, purifica, nobilita o noivado e a vida conjugal. Adquire assim sentido pleno a castidade pré-matrimonial, e outras expressões como o mariage coutumier no processo de crescimento do amor.

38. Segundo os sãos princípios pedagógicos da gradualidade e globalidade do crescimento da pessoa, a preparação próxima não deve desatender a formação para as tarefas sociais e eclesiais próprias daqueles que deverão, com o seu matrimónio, dar início às novas famílias. A intimidade familiar não seja concebida como intimismo fechado em si mesmo, mas antes como capacidade de interiorizar as riquezas humanas e cristãs, ingénitas na vida matrimonial em vista de uma cada vez maior doação aos outros. Por isso, a vida conjugal e familiar, numa concepção aberta da família, exige dos cônjuges que se reconheçam sujeitos que têm direitos mas também deveres para com a sociedade e a Igreja. A este respeito, será muito útil convidar a ler, e a refletir, os seguintes documentos da Igreja que são uma densa e encorajante fonte de sabedoria humana e cristã: a Familiaris Consortio, a Carta às Famílias Gratissimam Sana, a Carta dos Direitos da Família, a Evangelium Vitae e outros.

39. Assim, a preparação próxima dos jovens fará compreender que o empenho que vão assumir dando o seu consentimento « diante da Igreja », exige já no período do noivado que se inicie – abandonando, se tal for o caso, práticas contrárias – um caminho de fidelidade recíproca. Este empenho humano será valorizado pelos dons específicos que o Espírito Santo concede aos noivos que o invocam.

40. Visto que o amor cristão é purificado, aperfeiçoado e elevado pelo amor de Cristo para com a Igreja (cf. GS 49), os noivos imitem este modelo progredindo na consciência da doação, sempre ligada ao respeito mútuo e à renúncia de si que ajudam a crescer nele. Portanto, a doação recíproca envolve cada vez mais o intercâmbio de dons espirituais e apoio moral, para um crescimento no amor e na responsabilidade. « O dom da pessoa exige ser duradouro e irrevogável. A indissolubilidade do matrimônio deriva primariamente da essência de tal dom: dom da pessoa à pessoa. Nesta doação recíproca, manifesta-se o carácter esponsal do amor » (Gratíssimam Sane, 11).

41. A espiritualidade esponsal, envolvendo a experiência humana, nunca separada da vida moral, tem as suas raízes no Baptismo e na Confirmação. O itinerário de preparação dos noivos deverá, portanto, incluir uma recuperação dos dinamismos sacramentais com um papel particular dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia. O sacramento da Reconciliação glorifica a misericórdia divina para com a miséria humana, faz crescer a vitalidade baptismal e os dinamismos próprios da Confirmação. Daqui o poder da pedagogia do amor redimido que faz descobrir com assombro a grandeza da misericórdia de Deus diante do drama do ser humano, criado por Deus e mais maravilhosamente remido. A Eucaristia, celebrando a memória da doação de Cristo à Igreja, desenvolve o amor afetivo próprio do matrimônio na doação quotidiana ao cônjuge e aos filhos, sem esquecer e deixar de atender a que « a celebração que dá significado a qualquer forma de oração e de culto é a que se exprime na existência quotidiana da família, quando esta é uma existência feita de amor e doação » (EV 93).

42. Para esta múltipla e harmônica preparação, é preciso encontrar e formar adequadamente encarregados « ad hoc ». Será oportuno, portanto, criar um grupo, a diversos níveis, de agentes que saibam ser enviados pela Igreja, constituído especialmente por casais de esposos cristãos, entre os quais não faltem, possivelmente peritos em medicina, em leis, em psicologia, com um presbítero, para que sejam preparados para as funções a desempenhar.

43. Por isso, os colaboradores e responsáveis sejam pessoas de doutrina segura e fidelidade indiscutível ao Magistério da Igreja, de modo que possam transmitir, com um conhecimento suficiente e aprofundado e com o testemunho de vida, as verdades de fé e as responsabilidades ligadas ao matrimónio. É mais do que óbvio que estes agentes pastorais, enquanto educadores, deverão estar também providos de capacidade de acolhimento aos noivos, qualquer que seja o seu estrato sociocultural, a sua formação intelectual e capacidades concretas. Além disso, o seu testemunho de vida fiel e de alegre doação é uma condição indispensável para desempenharem o seu cargo. Estas experiências de vida e os seus problemas humanos poderão ser ponto de partida para iluminar os nubentes com sabedoria cristã.

44. Isto implica um adequado programa de formação dos agentes. Tal preparação destinada aos formadores torná-los-á idóneos para expor, com adesão clara ao Magistério da Igreja, com metodologia idónea e com sensibilidade pastoral, as linhas fundamentais da preparação para o matrimónio, de que falámos, e levar também o contributo específico, segundo a sua competência, à preparação imediata, conforme os nn. 50-59. Os agentes deverão receber a sua formação em Institutos Pastorais expressamente para esse fim, e deverão ser cuidadosamente escolhidos pelo Bispo.

45. Assim, o resultado final deste período de preparação próxima será constituído por um claro conhecimento das notas essenciais do matrimônio cristão: unidade, fidelidade, indissolubilidade, fecundidade; a consciência de fé sobre a prioridade da Graça sacramental, que associa os esposos, sujeitos e ministros do sacramento, ao Amor de Cristo Esposo da Igreja; a disponibilidade em viver a missão própria das famílias no campo educativo social e eclesial.

46. Como recorda a Familiaris Consortio, o itinerário formativo dos jovens noivos deverá, por isso, prever: o aprofundamento da fé pessoal e a redescoberta dos valores dos sacramentos e experiência de oração; a preparação específica para a vida a dois « que, apresentando o matrimônio como uma relação interpessoal do homem e da mulher em contínuo desenvolvimento, estimule a aprofundar os problemas da sexualidade conjugal e da paternidade responsável, com os conhecimentos médico-biológicos essenciais que lhe estão anexos, e os leve à familiaridade com métodos adequados de educação dos filhos, favorecendo a aquisição dos elementos de base para uma condução ordenada da família » (FC 66); a « preparação para o apostolado familiar, para a fraternidade e colaboração com as outras famílias, para a inserção ativa nos grupos, associações, movimentos e iniciativas que têm por finalidade o bem humano e cristão da família » (ibid.).

Além disso, os nubentes sejam ajudados preventivamente, de modo a poderem depois manter e cultivar o amor conjugal; a comunicação interpessoal-conjugal; as virtudes e dificuldades da vida conjugal; e como superar as inevitáveis « crises » conjugais.

47. Todavia, o centro de tal preparação deverá ser constituído pela reflexão na fé, através da Palavra de Deus e da orientação do Magistério, sobre o sacramento do Matrimônio. Dar-se-ão portanto aos nubentes a consciência de que o tornar-se « una caro » (Mt 19, 6) em Cristo, na força do Espírito, com o matrimônio cristão, significa imprimir à própria existência uma nova conformação da vida batismal. O seu amor tornar-se-á, com o sacramento, expressão concreta do amor de Cristo pela sua Igreja (cf. LG 11). À luz da sacramentalidade, os próprios atos conjugais, a procriação responsável, a ação educativa, a comunhão de vida, a apostolicidade e a missionaridade ligadas à vida dos cônjuges cristãos, são considerados momentos válidos de experiência cristã. Cristo, embora de modo não ainda sacramental, sustenta e acompanha o itinerário de graça e de crescimento dos noivos para a participação no seu mistério de união com a Igreja.

48. A propósito de um eventual diretório, que recolha as melhores experiências em ordem à preparação para o matrimônio, parece oportuno recordar o que o Santo Padre João Paulo II disse no discurso de conclusão da Assembleia Plenária do Conselho Pontifício para a Família, realizada de 30 de Setembro a 5 de Outubro do ano de 1991: « É indispensável que à preparação doutrinal sejam dados o tempo e os cuidados necessários. A segurança do conteúdo deve ser o centro e o objetivo essencial dos cursos, numa perspectiva que torne mais consciente a celebração do Matrimônio e tudo o que dele brota em relação à responsabilidade da família. As questões relativas à unidade e à indissolubilidade do matrimônio, e aquilo que se refere ao significado da união e da procriação da vida conjugal e do seu ato específico, devem ser tratadas com fidelidade e diligência, segundo o ensinamento claro da Encíclica Humanae Vitae (cf. 11-12). Igualmente, tudo o que se refere ao dom da vida, que os pais devem acolher de maneira responsável, com alegria, como colaboradores do Senhor. É bom que nos cursos seja privilegiado não só o que se refere a uma liberdade madura e vigilante daqueles que desejam contrair matrimônio, mas também à missão própria dos pais, primeiros educadores dos filhos e primeiros evangelizadores ».

Este Conselho Pontifício constata, com profunda satisfação, que cresce a corrente que leva a um maior empenho e consciência da importância e dignidade do noivado. De forma semelhante exorta que a duração dos cursos específicos não seja de tal modo breve que se reduzam a uma simples formalidade. Deverá, pelo contrário, dar-se o tempo suficiente para uma boa e clara apresentação dos assuntos fundamentais acima indicados.3

O curso pode ser realizado nas paróquias se o número de noivos for suficiente e se houver colaboradores preparados, ou nas Vigararias episcopais ou Vigararias forâneas, formas ou estruturas de coordenação paroquial. Às vezes podem ser realizados por encarregados dos Movimentos familiares, Associações ou grupos apostólicos orientados por um sacerdote competente. É um campo que deveria ser coordenado pelo organismo diocesano, que opere em nome do Bispo. Os conteúdos, sem esquecer aspectos vários da psicologia, da medicina e de outras ciências humanas, devem ser centrados sobre a doutrina natural e cristã do matrimônio.

49. Nesta preparação, especialmente hoje, é necessário formar e fortalecer os nubentes nos valores que se referem à defesa da vida. De modo peculiar pelo facto de se tornarem igreja doméstica e « Santuário da vida » (EV 92-94) farão parte a novo título do « povo da vida e pela vida » (EV 6, 101). A mentalidade contraceptiva, que hoje impera em tantos lugares, e as legislações permissivas espalhadas, com tudo o que comportam de desprezo pela vida desde o momento da concepção até à morte, constituem um conjunto de ataques múltiplos a que a família está exposta, ferindo-a no mais íntimo da sua missão e impedindo o seu desenvolvimento segundo as exigências de um autêntico crescimento humano (cf. Centesimus Annus, 39). Portanto, hoje mais do que nunca, é necessária uma formação da mente e do coração dos componentes e novos lares domésticos para não se conformarem com as mentalidades dominantes. Poderão assim contribuir um dia, com a sua vida de novas famílias, para criar e desenvolver a cultura da vida, respeitando e acolhendo, no íntimo do seu amor, as novas vidas como testemunho e expressão do anúncio, celebração e serviço para com cada vida (cf. EV 83-84, 86, 93).

Alfonso Card. López Trujillo
Presidente do Conselho Pontifício
para a Família

+ S.E.R. Mons. Francisco Gil Hellín
Secretário

Fonte: https://presbiteros.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF