O 20 de Novembro e a força que transforma o Brasil
Mais que uma data, o Dia da Consciência Negra é um convite a
reconhecer o valor, a resiliência e as conquistas da população negra no país.
Por Opinião
postado em 20/11/2025 06:04
JUVENAL ARAÚJO, subsecretário de Políticas de
Direitos Humanos e Igualdade Racial da Secretaria de Justiça e Cidadania do
Distrito Federal
O 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, vai muito além
de uma homenagem a Zumbi dos Palmares. É uma data para celebrar o protagonismo
da população negra e refletir sobre os caminhos que o Brasil ainda precisa
percorrer para garantir igualdade de oportunidades. A luta contra o racismo e a
exclusão não é um tema restrito a grupos ou ideologias — é um compromisso de
toda a sociedade com a justiça, o mérito e o desenvolvimento humano.
Mais da metade dos brasileiros se declara preta ou parda,
segundo o IBGE. Essa maioria, porém, ainda enfrenta grandes obstáculos para
acessar posições de destaque no mercado de trabalho e nas estruturas de poder.
As barreiras vão desde a desigualdade educacional até a falta de
representatividade em cargos de liderança. Não se trata de falta de talento,
mas de oportunidades desiguais, muitas vezes determinadas por fatores
históricos e sociais que o país ainda não superou.
Apesar disso, o que mais se destaca é a força dessa
população, que tem transformado adversidades em caminhos de ascensão. O 20 de
Novembro não deve ser lembrado com um olhar de vitimismo, e, sim, como símbolo
de superação, capacidade e competência. A cada conquista, a população negra
reafirma que não há limite quando o talento encontra espaço.
Um exemplo inspirador é Rachel Maia, que iniciou a carreira
como estagiária e se tornou a primeira mulher negra CEO de uma grande
multinacional no Brasil, a Pandora. Sua trajetória é símbolo de excelência e
liderança. Outra referência é Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta, o maior
evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, responsável por
fortalecer milhares de pequenos negócios. No campo da ciência, Jaqueline Goes
de Jesus, biomédica que coordenou o sequenciamento do genoma do coronavírus no
país, demonstrou ao mundo a competência e a contribuição dos cientistas negros
brasileiros.
Essas histórias provam que o mérito floresce quando encontra
oportunidade. Porém, os números revelam o quanto ainda há a avançar. O
Instituto Ethos mostra que menos de 5% dos executivos nas 500 maiores empresas
do país são negros. Na média salarial, a diferença entre brancos e negros
ultrapassa 40%. Mesmo com diplomas iguais e desempenhos semelhantes, o peso do
preconceito ainda limita o reconhecimento profissional.
O que o Brasil precisa compreender é que promover
diversidade não é apenas um ato de justiça social — é uma estratégia
inteligente de crescimento. Um estudo da McKinsey & Company demonstra que
empresas com maior diversidade racial têm desempenho até 36% superior às
demais. A pluralidade de ideias e experiências amplia a inovação, fortalece as
equipes e aproxima as organizações da realidade do país.
A presença negra também cresce no setor público, na política
e na educação. Jovens negros e negras, muitas vezes os primeiros de suas
famílias a ingressar na universidade, transformam o conhecimento em ferramenta
de mobilidade social. Professores, gestores e empreendedores têm criado
referências e exemplos para futuras gerações.
O 20 de Novembro é, portanto, um chamado à consciência
coletiva. Um lembrete de que o racismo não se combate apenas com leis, mas com
atitudes concretas: valorizando competências, apoiando o empreendedorismo,
ampliando o acesso à educação e combatendo estereótipos que limitam sonhos.
A população negra brasileira é feita de força, inteligência
e criatividade. É a base da cultura, da economia e da inovação nacional. Do
samba ao hip-hop, das periferias às universidades, dos pequenos comércios aos
altos cargos, essa força constrói o país todos os dias, mesmo quando o
reconhecimento ainda não vem na mesma medida.
O desafio é fazer com que o mérito e o esforço se
sobreponham aos preconceitos. Que empresas e instituições públicas enxerguem o
potencial, e não o estigma. Que os talentos negros deixem de ser exceção e
passem a ser regra em um Brasil mais justo, competitivo e plural.
Celebrar o 20 de Novembro é celebrar o Brasil que dá certo
quando aposta na própria diversidade. É reconhecer que o povo negro não busca
privilégios, mas o direito de competir de forma igual e ser valorizado por sua
competência. É compreender que o país só alcançará sua verdadeira potência
quando todos tiverem as mesmas condições de crescer.
Mais do que uma data, o 20 de Novembro é um espelho. Ele
reflete as conquistas, denuncia as desigualdades e projeta um futuro em que o
sucesso não tenha cor. O Brasil tem no povo negro uma das suas maiores riquezas
— humana, cultural e econômica. E é reconhecendo essa força que poderemos,
enfim, construir um país onde a igualdade não seja um ideal distante, mas uma
realidade possível.

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