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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

O 20 de Novembro e a força que transforma o Brasil

Antes da assinatura da lei Áurea, em 3 de maio de 1888, cerca de seis leis abolicionistas foram sancionadas - (crédito: Caio Gomez)

O 20 de Novembro e a força que transforma o Brasil

Mais que uma data, o Dia da Consciência Negra é um convite a reconhecer o valor, a resiliência e as conquistas da população negra no país.

Por Opinião

postado em 20/11/2025 06:04

JUVENAL ARAÚJO, subsecretário de Políticas de Direitos Humanos e Igualdade Racial da Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal

O 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, vai muito além de uma homenagem a Zumbi dos Palmares. É uma data para celebrar o protagonismo da população negra e refletir sobre os caminhos que o Brasil ainda precisa percorrer para garantir igualdade de oportunidades. A luta contra o racismo e a exclusão não é um tema restrito a grupos ou ideologias — é um compromisso de toda a sociedade com a justiça, o mérito e o desenvolvimento humano.

Mais da metade dos brasileiros se declara preta ou parda, segundo o IBGE. Essa maioria, porém, ainda enfrenta grandes obstáculos para acessar posições de destaque no mercado de trabalho e nas estruturas de poder. As barreiras vão desde a desigualdade educacional até a falta de representatividade em cargos de liderança. Não se trata de falta de talento, mas de oportunidades desiguais, muitas vezes determinadas por fatores históricos e sociais que o país ainda não superou.

Apesar disso, o que mais se destaca é a força dessa população, que tem transformado adversidades em caminhos de ascensão. O 20 de Novembro não deve ser lembrado com um olhar de vitimismo, e, sim, como símbolo de superação, capacidade e competência. A cada conquista, a população negra reafirma que não há limite quando o talento encontra espaço.

Um exemplo inspirador é Rachel Maia, que iniciou a carreira como estagiária e se tornou a primeira mulher negra CEO de uma grande multinacional no Brasil, a Pandora. Sua trajetória é símbolo de excelência e liderança. Outra referência é Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta, o maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, responsável por fortalecer milhares de pequenos negócios. No campo da ciência, Jaqueline Goes de Jesus, biomédica que coordenou o sequenciamento do genoma do coronavírus no país, demonstrou ao mundo a competência e a contribuição dos cientistas negros brasileiros.

Essas histórias provam que o mérito floresce quando encontra oportunidade. Porém, os números revelam o quanto ainda há a avançar. O Instituto Ethos mostra que menos de 5% dos executivos nas 500 maiores empresas do país são negros. Na média salarial, a diferença entre brancos e negros ultrapassa 40%. Mesmo com diplomas iguais e desempenhos semelhantes, o peso do preconceito ainda limita o reconhecimento profissional.

O que o Brasil precisa compreender é que promover diversidade não é apenas um ato de justiça social — é uma estratégia inteligente de crescimento. Um estudo da McKinsey & Company demonstra que empresas com maior diversidade racial têm desempenho até 36% superior às demais. A pluralidade de ideias e experiências amplia a inovação, fortalece as equipes e aproxima as organizações da realidade do país.

A presença negra também cresce no setor público, na política e na educação. Jovens negros e negras, muitas vezes os primeiros de suas famílias a ingressar na universidade, transformam o conhecimento em ferramenta de mobilidade social. Professores, gestores e empreendedores têm criado  referências e exemplos para futuras gerações.

O 20 de Novembro é, portanto, um chamado à consciência coletiva. Um lembrete de que o racismo não se combate apenas com leis, mas com atitudes concretas: valorizando competências, apoiando o empreendedorismo, ampliando o acesso à educação e combatendo estereótipos que limitam sonhos.

A população negra brasileira é feita de força, inteligência e criatividade. É a base da cultura, da economia e da inovação nacional. Do samba ao hip-hop, das periferias às universidades, dos pequenos comércios aos altos cargos, essa força constrói o país todos os dias, mesmo quando o reconhecimento ainda não vem na mesma medida.

O desafio é fazer com que o mérito e o esforço se sobreponham aos preconceitos. Que empresas e instituições públicas enxerguem o potencial, e não o estigma. Que os talentos negros deixem de ser exceção e passem a ser regra em um Brasil mais justo, competitivo e plural.

Celebrar o 20 de Novembro é celebrar o Brasil que dá certo quando aposta na própria diversidade. É reconhecer que o povo negro não busca privilégios, mas o direito de competir de forma igual e ser valorizado por sua competência. É compreender que o país só alcançará sua verdadeira potência quando todos tiverem as mesmas condições de crescer.

Mais do que uma data, o 20 de Novembro é um espelho. Ele reflete as conquistas, denuncia as desigualdades e projeta um futuro em que o sucesso não tenha cor. O Brasil tem no povo negro uma das suas maiores riquezas — humana, cultural e econômica. E é reconhecendo essa força que poderemos, enfim, construir um país onde a igualdade não seja um ideal distante, mas uma realidade possível. 

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF