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domingo, 2 de abril de 2023

Francisco: um Papa de saúde frágil?

Antoine Mekary | ALETEIA
Por I. Media

Uma retrospectiva dos problemas de saúde que o Pontífice já enfrentou.

O Papa Francisco está hospitalizado no Hospital Gemelli em Roma desde 29 de março de 2023. Oficialmente, ele trata uma infecção respiratória.

De fato, a saúde o Papa foi testada ao longo dos anos.

Desde sua juventude, Jorge Mario Bergoglio foi confrontado com a fragilidade e finitude da vida humana, quando uma doença respiratória quase o levou embora em 1957. O biógrafo Austen Ivereigh reproduz a fala de Bergoglio sobre essa “doença grave” contraída quando ele tinha 21 anos:

“Durante meses eu não sabia […] se ia morrer ou viver. Nem mesmo os médicos sabiam se eu conseguiria. Lembro que um dia pedi a minha mãe, beijando-a, para me dizer se eu ia morrer”.

Bergoglio estava em seu segundo ano do seminário na época. Em 13 de agosto de 1957, vendo sua saúde se deteriorar, um funcionário do seminário o levou ao hospital. O diagnóstico: três quistos no lobo superior de seu pulmão direito e uma efusão pleural.

“Primeiro extraíram um litro e meio de água de meu pulmão, depois me deixaram para lutar entre a vida e a morte”, disse o Papa. Ele foi submetido a uma cirurgia para remover o lobo superior direito de seu pulmão. No livro “A Saúde dos Papas”, do jornalista e médico argentino Nelson Castro, o Papa Francisco descreve esta remoção como uma operação “sangrenta”.

Um problema de coração em 2004

De acordo com Bergoglio, ele foi salvo por duas enfermeiras durante sua hospitalização. “Uma delas era a enfermeira chefe, uma freira dominicana que havia sido professora em Atenas antes de ser enviada a Buenos Aires. Soube mais tarde que, depois que o médico saiu, uma vez terminado o primeiro exame, ela disse às enfermeiras para dobrar a dose do tratamento que ele havia prescrito – penicilina e estreptomicina – porque ela sabia por experiência própria que eu estava morrendo”, diz ele. A outra enfermeira tinha feito o mesmo quando o jovem estava ‘dilacerado pela dor’.

Também no livro “A Saúde dos Papas” o Papa Francisco revelou que, em 2004, quando era arcebispo de Buenos Aires, teve um problema de coração, um “pré-infarto”. Mas depois de ser hospitalizado por alguns dias, ele nunca mais teve nenhum sintoma cardíaco.

O ano de 2021, um ponto de inflexão

Além de doenças sazonais e ciáticas recorrentes que o obrigavam a cancelar audiências de vez em quando, o Papa, uma vez eleito, seguiu um ritmo intenso durante oito anos. Entretanto, o ano 2021 marca uma virada em sua saúde.

Em 1º de janeiro, uma dolorosa ciática o obrigou a cancelar várias celebrações litúrgicas e a adiar o tradicional discurso para o corpo diplomático.

O pontífice se recuperou. No dia 14 de janeiro, recebeu sua primeira dose de vacina contra a Covid e fez um apelo a favor da vacinação: “Creio que, do ponto de vista ético, todos deveriam tomar a vacina”, anunciou ele na televisão italiana. Em 3 de fevereiro, ele recebeu sua segunda dose.

No entanto, o Papa Francisco mostrava sinais de cansaço após sua cansativa viagem ao Iraque, em março. “Confio em vocês que nesta viagem eu estava muito mais cansado do que nas outras”, disse ele aos jornalistas na coletiva de imprensa durante o voo de volta a Roma.

No entanto, o Papa Francisco está mostrando sinais de cansaço após sua cansativa viagem ao Iraque de 5 a 8 de março. “Confio em vocês que nesta viagem eu estava muito mais cansado do que nas outras”, disse ele aos jornalistas na coletiva de imprensa durante o vôo de volta a Roma.

O ano continuou de uma maneira difícil: no domingo 4 de julho, algumas horas após a tradicional oração do Angelus da janela do Palácio Apostólico, a Santa Sé anunciou que o pontífice foi hospitalizado no hospital Gemelli. O Papa Francisco, soube-se, estava sendo operado de uma “estenose diverticular sintomática do cólon”, uma operação comum para uma pessoa de sua idade, mas que não deixava de ser delicada.

33 centímetros a menos de intestino

A cirurgia causou preocupação e especulação sobre a saúde do chefe da Igreja Católica. Francisco teve que permanecer no hospital romano por dez dias – mais do que as primeiras estimativas. Ele chegou até a recitar o Angelus da varanda do hospital em 11 de julho

Francisco celebra o Angelus no hospital Gemelli.
AP/Associated Press/East News

Durante esses dez dias, os boletins de saúde foram minuciosamente examinados por toda a imprensa internacional. Esta atmosfera de incerteza gerou muitos rumores sobre o declínio da saúde de Francisco. Vários especialistas do Vaticano até mesmo iniciaram um debate sobre a necessidade de reformar as regras do conclave.

Em sua primeira entrevista depois da operação, Francisco afirmou: “Sempre que um papa está doente, há sempre uma brisa ou um furacão de conclave”. O pontífice, no entanto, reconheceu a extensão da cirurgia a que ele havia sido submetido dois meses antes. Ele disse que podia “comer tudo”, mas que isto não era possível há algum tempo e que ainda estava tomando medicação pós-operatória, “porque o cérebro tem que registrar que tem 33 centímetros a menos de intestino”, enfatizou. Mas ele concluiu tranquilamente: “Fora isso, tenho uma vida normal, levo uma vida completamente normal”.

O pontífice começou a viajar novamente: Hungria e Eslováquia em setembro, Chipre e Grécia em dezembro. Para Nelson Castro, “ele é um homem de saúde de ferro”.

O ano de 2022: um teste

O Papa Francisco sofre regularmente de problemas no quadril e tem alguma dificuldade para andar. Mas, em 2022, teve um golpe final em suas habilidades motoras. Desde o início do ano, ele falou várias vezes da dor “em sua perna direita”. Em 17 de janeiro, durante uma audiência privada com jornalistas, confessou ter sofrido quando se levantou. Da mesma forma, ao receber a polícia italiana em 3 de fevereiro, o bispo de Roma permaneceu sentado para cumprimentar seus convidados.

No final da audiência geral de 26 de janeiro, ele pediu desculpas por não poder se mover entre os fiéis para cumprimentá-los, como ele costumava fazer. O pontífice explicou que estava com um problema no “ligamento do joelho”.

Pouco a pouco, a doença tornou-se mais clara: era “gonalgia aguda”. O médico do pontífice argentino prescreveu um “período de repouso” e injeções.

A mobilidade do pontífice nunca mais seria a mesma. No início de abril, durante sua viagem a Malta, ele teve que usar um elevador pela primeira vez para entrar e sair do avião.

Um Papa em uma cadeira de rodas

A partir de maio, o Papa Francisco seria visto em uma cadeira de rodas. Uma novidade no Vaticano. Depois, em 10 de junho, a Sala de Imprensa anunciou que o Papa foi obrigado a adiar sua viagem à República Democrática do Congo e ao Sul do Sudão, a fim de “não comprometer os resultados das terapias do joelho ainda em andamento”. Foi a primeira vez que o Papa Francisco adiou uma viagem ao exterior por razões de saúde.

5 de maio de 2022: o Papa chega de cadeira de rodas a uma audiência no Vaticano.
ALBERTO PIZZOLI | AFP

Com sua ausência em celebrações, os rumores de sua possível renúncia se intensificaram, assim como as suspeitas de doenças mais graves, especialmente porque o Papa havia acabado de chamar um consistório para criar novos cardeais no final do verão. Mas, o Francisco disse a um grupo de bispos brasileiros no dia 20 de junho: “Quero viver minha missão até que Deus me permita”.

Em uma entrevista com a Reuters transmitida em 4 de julho, o Papa confidenciou pela primeira vez que havia sofrido uma “pequena fratura” no joelho quando deu um passo errado e um de seus ligamentos já estava inflamado.

Ele também descartou rumores de que o câncer havia sido descoberto durante sua operação em julho de 2021.

Finalmente, após um período de descanso, o pontífice pode viajar para o Canadá de 24 a 30 de julho. Uma viagem que o fez perceber que não poderia mais continuar no ritmo anterior.

Problema no coração?

Em uma entrevista concedida em 24 de janeiro de 2023 à agência de notícias americana AP, o Papa confidenciou que a diverticulose operada em 2021 “voltou”. “Eu poderia morrer amanhã, mas tudo está sob controle”. Estou de boa saúde”, disse o chefe da Igreja Católica.

Em 29 de março, a Santa Sé anunciou que o Papa Francisco estava no hospital, assegurando em uma primeira versão que estes exames estavam agendados. Mas, segundo a jornalista argentina Elisabetta Piqué, que cobre o Vaticano, ele sofreu um problema cardíaco.

Foi no retorno à Casa Santa Marta, após a audiência geral que presidiu na Praça São Pedro, que o Papa começou a sentir “dores no peito”, disse ela ao La Nacion. Seu assistente pessoal, Massimiliano Strappetti, aconselhou-o a ir imediatamente ao hospital Gemelli, para onde foi levado de ambulância.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: Cristo impele-nos a procurá-lo e amá-lo nos abandonados

Papa Francisco na Missa do Domingo de Ramos (Vatican Media)

Cristo na cruz se fez solidário conosco a fim de que possa cada um de nós dizer: nas minhas quedas, na minha desolação, quando me sinto traído, descartado e abandonado, Tu estás presente, Jesus; quando não aguento mais, Tu estás lá, estás comigo; nos meus «porquês» sem resposta, estás comigo. Foi o que disse o Papa na Missa deste Domingo de Ramos, início da Semana Santa, celebrada na Praça São Pedro com a tradicional e solene procissão de ramos.

Raimundo de Lima – Vatican News

Cristo, abandonado, impele-nos a procurá-Lo e a amá-Lo nos abandonados. Porque neles, não temos apenas necessitados, mas temo-Lo a Ele, Jesus Abandonado, Aquele que nos salvou descendo até ao fundo da nossa condição humana. Por isso deseja que cuidemos dos irmãos e irmãs que mais se parecem com Ele, com Ele no ato extremo do sofrimento e da solidão: disse o Papa na Missa este Domingo de Ramos (02/04), celebrada na Praça São Pedro com a tradicional e solene procissão de ramos. Um momento comovente numa praça com mais de cinquenta mil fiéis e peregrinos, com os ramos de oliveira provenientes da região italiana da Úmbria.

«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?»: é a invocação que a Liturgia nos fez repetir hoje no Salmo Responsorial (Sal 22), sendo também – no Evangelho que ouvimos – a única pronunciada na cruz por Jesus. Representam, pois, observou Francisco, as palavras que nos conduzem ao coração da paixão de Cristo, ao ponto culminante dos sofrimentos que padeceu para nos salvar.

Sofrimentos do corpo e da alma

Muitos foram os sofrimentos de Jesus. Foram sofrimentos do corpo: das bofetadas às pancadas, da flagelação à coroa de espinhos, até à tortura da cruz. Foram sofrimentos da alma: a traição de Judas, as negações de Pedro, as condenações religiosa e civil, a zombaria dos guardas, os insultos ao pé da cruz, a rejeição de tantos, a falência de tudo, o abandono dos discípulos. E, contudo, prosseguiu o Pontífice, no meio de todo este sofrimento, restava a Jesus uma certeza: a proximidade do Pai. Ele tinha dito: «Eu e o Pai somos um», «Eu estou no Pai e o Pai está em Mim». Mas agora acontece o impensável; antes de morrer, clama: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste

“O Papa ressaltou que estamos perante o sofrimento mais dilacerante, o do espírito: na hora mais trágica, Jesus experimenta o abandono por parte de Deus. Antes disto, nunca chamara o Pai pelo nome genérico de Deus.”

Na Bíblia, o verbo «abandonar» é forte; aparece em momentos de dor extrema: em amores fracassados, rejeitados e traídos; em filhos enjeitados e abortados; em situações de repúdio, viuvez e orfandade; em casamentos gorados, em exclusões que privam dos laços sociais, na opressão da injustiça e na solidão da doença: em suma, nas mais drásticas dilacerações dos vínculos. Cristo levou tudo isto para a cruz, ao carregar sobre Si o pecado do mundo. E, no auge, Ele – Filho unigênito e predileto – experimentou a situação mais estranha no seu caso: a distância de Deus.

Fez-Se solidário conosco até ao ponto extremo

Mas – podemos perguntar-nos – porque foi tão longe? A resposta é uma só: por nós. Fez-Se solidário conosco até ao ponto extremo, para estar conosco até ao fim, para que nenhum de nós se possa imaginar sozinho e irrecuperável. Experimentou o abandono para não nos deixar reféns da desolação e permanecer ao nosso lado para sempre, enfatizou o Pontífice.

Irmão, irmã, Ele o fez por mim, por ti, para que, quando eu, tu ou qualquer outro se vir encurralado à parede, perdido num beco sem saída, precipitado no abismo do abandono, sorvido no redemoinho dos «porquês», saibamos que há uma esperança. Não é o fim, porque Jesus esteve ali e agora está contigo: Ele, o Pai e o Espírito sofreram a distância causada pelo abandono para acolher no seu amor todas as nossas distâncias. A fim de que possa cada um de nós dizer: nas minhas quedas, na minha desolação, quando me sinto traído, descartado e abandonado, Tu estás presente, Jesus; nos meus falhanços, estás comigo; quando me sinto transviado e perdido, quando não aguento mais, Tu estás lá, estás comigo; nos meus «porquês» sem resposta, estás comigo.

Hoje, tantos «cristos abandonados»

É assim que o Senhor nos salva, a partir de dentro dos nossos «porquês». De lá, descerra a esperança. Um amor assim, que dá tudo por nós, até ao fim, pode transformar os nossos corações de pedra em corações de carne, capazes de piedade, ternura e compaixão, prosseguiu o Santo Padre.

Há hoje tantos «cristos abandonados». Há povos inteiros explorados e deixados à própria sorte; há pobres que vivem nas encruzilhadas das nossas estradas e cujo olhar não temos a coragem de fixar; migrantes, que já não são rostos, mas números; reclusos rejeitados, pessoas catalogadas como problemas. Mas há também muitos cristos abandonados invisíveis, escondidos, que são descartados de forma «elegante»: crianças nascituras, idosos deixados sozinhos, doentes não visitados, pessoas portadoras de deficiência ignoradas, jovens que sentem dentro um grande vazio sem que ninguém escute verdadeiramente o seu grito de dor.

As pessoas rejeitadas e excluídas são ícones vivos de Cristo

Francisco exortou-nos a lembrar sempre que Jesus abandonado nos pede para termos olhos e coração para os abandonados. Para nós, discípulos do Abandonado, ninguém pode ser marginalizado, ninguém pode ser deixado a si mesmo; porque – recordemo-lo – as pessoas rejeitadas e excluídas são ícones vivos de Cristo, recordam-nos o seu amor louco, o seu abandono que nos salva de toda a solidão e desolação.

Em sua homilia, ressaltando a presença de Cristo nos abandonados de hoje e de sempre, deixando por um momento o texto previamente preparado, Francisco lembrou um morador de rua que havia encontrado abrigo sob a cobertura da colunata da Praça São Pedro (Colunata de Bernini) e que meses atrás veio a falecer, ressaltando que Jesus está com cada um desses irmãos abandonados.

Está com cada um deles, abandonados até à morte. Penso algumas semanas atrás, num morador de rua alemão que morreu na colunata, sozinho, abandonado. É Jesus para cada um de nós. Muitos precisam da nossa proximidade, são muitos os abandonados. Também eu preciso que Jesus me acaricie, esteja próximo a mim e por isso vou encontrá-Lo nos abandonados, nos que estão sós.

Peçamos hoje, concluiu o Santo Padre, esta graça: saber amar Jesus abandonado e saber amar Jesus em cada abandonado. Peçamos a graça de saber ver e reconhecer o Senhor que continua a clamar neles. Não permitamos que a sua voz se perca no silêncio ensurdecedor da indiferença. Não fomos deixados sozinhos por Deus; cuidemos de quem é deixado só. Então, só então, faremos nossos os desejos e os sentimentos d’Aquele que por nós «Se esvaziou a Si mesmo».

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Reflexão para o Domingo de Ramos (A)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Jesus entra em Jerusalém, montado em um jumentinho. Isso significa que entra na cidade que é sua para fazer com toda a Humanidade, uma missão de paz, ainda que essa paz tenha como preço sua própria vida.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

“O Senhor é aclamado como se faz a um general romano ou a um herói egípcio quando de sua chegada a sua cidade, à sua terra, após uma gloriosa vitória”.

Apenas algumas diferenças: o Senhor ainda vai consumar sua luta e, enquanto os vencedores trazem consigo o espólio dos vencidos e os próprios vencidos como troféus, será o Senhor o próprio espólio, o grande serviçal, o escravo de todos nós.

Esse gesto nos recorda um trecho da segunda leitura de hoje, da Carta de São Paulo aos Filipenses, que diz: “Não deveis fazer nada por egoísmo, ou para sentir-vos superiores aos outros, mas cada um de vós, com toda a humildade, considere os outros superiores a si mesmo, ninguém procure o próprio interesse, mas antes o dos outros.” O Senhor buscou apenas o nosso interesse, ou melhor, o interesse do Senhor é a nossa salvação.

Jesus entra em Jerusalém, montado em um jumentinho. Isso significa que entra na cidade que é sua para fazer com toda a Humanidade, uma missão de paz, ainda que essa paz tenha como preço sua própria vida.

Cristo entra em Jerusalém para entregar-se como oferta ao Pai, em nome de cada um de nós. Ele se coloca em nosso lugar e sofre as consequências que nosso egoísmo, nossa falta de amor e de perdão ocasionaram. Ele é o verdadeiro cordeiro pascal, a verdadeira vítima. Seu corpo é o pão e seu sangue é o vinho. Somos redimidos, para sempre, por seu sangue derramado de fato, Jesus Cristo é o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.

Outro ensinamento, agora colhido da leitura da Paixão, este ano, a de São Mateus, é sobre a retaliação e a paz. Jesus impede que Pedro continue sua ação de punir o soldado que o ofendera e diz a ele: “Guarde a espada na bainha!” e cura Malcolm. Somos filhos da paz! Nosso Rei é o Príncipe da Paz, o Pacificador.

Que este início da Semana Santa nos comprometa com o projeto de Jesus para nós. Sejamos irmãos, sejamos filhos do mesmo Pai de nosso Senhor.

Que a humildade e a paz sejam nossos tesouros, recebidos através do sacrifício redentor do Filho de Deus!

Nossa libertação do egoísmo e da ira, da raiva, custou o sangue inocente de Jesus.

Valorizemos, com gratidão e amor, o sacrifício do Senhor por nós».

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 1 de abril de 2023

V Pregação da Quaresma 2023 “Tende coragem, eu venci o mundo!” - texto integral

Frei Cantalamessa durante a Quinta Pregação da Quaresma 
(Vatican Media)

O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, propôs à Cúria Romana, nesta sexta-feira, 31 de março, a quinta pregação da Quaresma intitulada “Tende coragem, eu venci o mundo!” No início da pregação, o purpurado convidou os presentes a fazerem uma oração pelo Papa Francisco que se encontra internado no Hospital Policlínico Gemelli.

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

“Tende coragem, eu venci o mundo!”

Quinta Pregação da Quaresma de 2023

“No mundo, tereis aflições, mas tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33). Santo Padre, Veneráveis Padres, irmãos e irmãs, estas estão entre as últimas palavras que Jesus dirige aos seus discípulos, antes de se despedir deles. Elas não são o habitual “Tende coragem!” dirigido a quem fica, da parte de alguém que está prestes a partir. Acrescenta, de fato: “Não vos deixarei órfãos, venho a vós” (Jo 14,18).

O que significa “venho a vós”, se está para deixá-los? De que modo e com que veste virá e permanecerá com eles? Se não entendermos a resposta a esta pergunta, jamais entenderemos a verdadeira natureza da Igreja. A resposta está presente, como uma espécie de tema recorrente, nos discursos de adeus do Evangelho de João e é bom, por uma vez, escutar seguidamente os versículos em que ela se torna a nota dominante. Façamo-lo com a atenção e a emoção com que os filhos escutam as disposições do pai acerca do bem mais precioso que está prestes a lhes deixar:

E eu pedirei ao Pai, e ele vos dará um outro Paráclito, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê, nem o conhece. Vós o conheceis, porque ele permanece junto de vós e está em vós (14,16-17).

Ora, o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito (14,26).

Quando vier o Paráclito, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo (15,26-27).

É bom para vós que eu vá. Se eu não for, o Paráclito não virá a vós, mas se eu for, eu o mandarei a vós (16,7).

Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de suportá-las agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, então ele vos guiará a toda a verdade. Ele não falará de si mesmo, mas dirá tudo quanto tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vos anunciará (16,12-14).

Mas o que é, e quem é o Espírito Santo que ele promete? É ele mesmo, Jesus, ou um outro? Se é ele mesmo, por que diz em terceira pessoa: “Quando vier o Paráclito...”; se é um outro, por que diz em primeira pessoa: “Venho a vós”? Tocamos o mistério da relação entre o Ressuscitado e o seu Espírito. Relação tão estreita e misteriosa, que São Paulo parece às vezes identificá-los. Escreve, de fato: “O Senhor é o Espírito”, mas logo acrescenta sem solução de continuidade: “e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17). Se é o Espírito do Senhor, não pode ser, pura e simplesmente, Senhor.

A resposta da Escritura é que o Espírito Santo, com a redenção, tornou-se “o Espírito de Cristo”; é o modo com que o Ressuscitado assim opera na Igreja e no mundo, tendo sido, “segundo o Espírito de santidade, constituído Filho de Deus com poder, desde a ressurreição dos mortos” (Rm 1,4). Eis porque ele pode dizer aos discípulos: “É bom para vós que eu vá” e acrescentar: “não vos deixarei órfãos”.

Devemos nos libertar completamente de uma visão da Igreja, que foi se formando pouco a pouco e se tornou dominante na consciência de muitos fiéis. Eu a defino uma visão deísta ou cartesiana, pela afinidade que ela tem com a visão do mundo do deísmo cartesiano. Como era concebida a relação entre Deus e o mundo nessa visão? Mais ou menos assim: Deus, no início, cria o mundo e depois se retira, deixando que se desenvolva com as leis que ele deu; como um relógio, ao qual foi dado corda suficiente para funcionar indefinidamente por conta própria. Cada nova intervenção de Deus atrapalharia esta ordem, razão pela qual os milagres são considerados inadmissíveis. Deus, ao criar o mundo, faria como alguém que dá um leve tapa em um balão de gás e o impulsiona para o ar, permanecendo ele por terra.

O que significa esta visão aplicada à Igreja? Que Cristo fundou a Igreja, dotou-a de todas as estruturas hierárquicas e sacramentais para funcionar, e depois a deixou, retirando-se em seu céu, no momento da Ascensão. Como alguém que empurra um pequeno barco ao mar, permanecendo ele à margem.

Mas não é assim! Jesus subiu no barco e está dentro dele. É preciso levar a sério as suas últimas palavras, em Mateus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). A cada nova tempestade, inclusive as hodiernas, ele nos repete o que disse aos apóstolos no episódio da tempestade acalmada: “Por que tendes medo, fracos na fé?” (Mt 8,26). Não estou convosco? Posso eu afundar? Pode afundar no mar aquele que criou o mar?

Notei com alegria que, no Anuário Pontifício, sob o nome do Papa, está apenas o título “Bispo de Roma”; todos os demais títulos – Vigário de Jesus Cristo, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Primaz da Itália, etc. – são elencados como “títulos históricos” na página seguinte. Parece-me justo, sobretudo em relação a “Vigário de Jesus Cristo”. Vigário é alguém que faz as vezes na ausência do chefe, mas Jesus Cristo jamais se ausentou e jamais se ausentará da sua Igreja. Com a sua morte e ressurreição, ele se tornou “Cabeça do corpo, que é a Igreja” (Cl 1,18), e assim continuará a ser até o fim dos tempos: o verdadeiro e único Senhor da Igreja.

A sua não é uma presença, por assim dizer, moral e intencional, não é um senhorio por procuração. Quando não podemos presenciar algum evento pessoalmente, normalmente dizemos: “Estarei presente espiritualmente!”, o que não é de grande consolação ou ajuda a quem nos convidou. Quando dizemos que Jesus está presente “espiritualmente”, esta presença espiritual não é uma forma menos forte daquela física, mas infinitamente mais real e eficaz. É a presença dele ressuscitado, que age no poder do Espírito, age em todo tempo e lugar, e age dentro de nós.

Se, na atual situação de crescente crise energética, se descobrisse a existência de uma fonte de energia nova, inesgotável; se finalmente se descobrisse como utilizar à vontade e sem efeitos negativos a energia solar, que alívio seria para a humanidade inteira! Pois bem, a Igreja tem, em seu campo, uma semelhante fonte inesgotável de energia: o “poder do alto”, que é o Espírito Santo. Jesus pôde dizer dele: “Até agora, nada pedistes em meu nome. Pedi e recebereis, para que vossa alegria seja completa (Jo 16,24).

Há um momento na história da salvação que se aproxima das palavras de Jesus na última ceia. Trata-se do oráculo do profeta Ageu. Diz:

No sétimo mês, no vigésimo primeiro dia do mês, veio a palavra do Senhor por meio do profeta Ageu, nestes termos: “Dize a Zorobabel, filho di Sealtiel, governador de Judá, a Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote, e a todo o resto do povo: Quem é dentre vós o sobrevivente que viu esta Casa na sua primeira glória? E como vós a estais vendo agora? Tal como está, não é como nada a vossos olhos? Agora, sê forte, Josué, filho de Zorobabel, oráculo do Senhor, sê forte, Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote, sê forte, todo povo da terra – oráculo do Senhor – e trabalhai! Pois eu estou convosco, oráculo do Senhor dos exércitos... meu espírito permanecerá em vosso meio; não temais!” (Ag 2,1-5).

É um dos pouquíssimos textos do Antigo Testamento que pode ser datado com precisão: é o dia 17 de outubro de 520 a.C. Não nos parece que é descrita, nas palavras de Ageu, a situação atual da Igreja Católica, e, por tantos aspectos, a de toda a cristandade? Quem de nós é idoso o bastante, recorda com saudade os tempos, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em que as igrejas lotavam aos domingos, matrimônios e batismos se sucediam na paróquia, os seminários e noviciados abundavam de vocações... “E como nós a estamos vendo agora?”, poderíamos dizer com Ageu? Não vale a pena gastar tempo para repetir o elenco dos males presentes, daqueles que, para alguns, aparecem comente ruínas, não diferentes das ruínas da Roma antiga que temos em todo o entorno desta cidade.

Nem tudo o que um tempo reluzia era ouro, e que somos propensos a lamentar. Se tudo fosse ouro maciço, se aqueles seminários cheios fossem forjas de santos pastores e a formação tradicional neles transmitida, sólida e verdadeira, hoje não teríamos que lamentar tantos escândalos... Mas não é o caso de falar disso aqui e, certamente, não sou eu o mais qualificado a fazê-lo. O que me devo captar é a exortação que o profeta dirigiu naquele dia ao povo de Israel. Ele não os exortou a chorar sobre si mesmos, a resignarem-se e estarem preparados para o pior. Não; diz como Jesus: “Sê forte – oráculo do Senhor – e trabalhai! Meu espírito permanecerá em vosso meio”.

Mas atenção: não se trata de um vago e estéril “Sê forte”. O profeta antes disse qual é “o trabalho” a que devem pôr as mãos. E, como ele nos diz respeito de perto, escutemos também o precedente oráculo de Ageu ao povo e aos seus chefes:

Assim diz o Senhor dos exércitos: Este povo diz que ainda não chegou o tempo – o tempo de ser reconstruída a casa do Senhor. Aconteceu que a palavra do Senhor veio por meio do profeta Ageu nestes termos: “É para vós tempo de habitardes em casas revestidas, enquanto esta casa está em ruínas? Pois agora, assim diz o Senhor dos exércitos: refleti em vossos corações sobre vossos caminhos! Semeastes muito e recolheis pouco. Comeis e não ficais saciados, bebeis e não ficais embriagados, vos vestis e não vos aqueceis, e aquele que recebe salário, recebe salário em bolsa furada... Subi ao monte, trazei madeira e construí a Casa. Nela eu me comprazerei e serei glorificado, diz o Senhor” (Ag 1,2-8).

A palavra de Deus, uma vez pronunciada, volta a ser ativa e atual cada vez que é novamente proclamada. Não é uma simples citação bíblica. Somos nós agora “este povo” ao qual é dirigida a palavra de Deus. O que são para nós, hoje, “as casas revestidas” (algumas traduções dizem: “bem decoradas”) em que somos tentados a permanecer tranquilos? Vejo três casas concêntricas, uma dentro da outra, das quais devemos sair para subir ao monte e reconstruir a casa de Deus.

A primeira casa bem revestida, cuidada e decorada, é o meu “eu”: a minha comodidade, a minha glória, a minha posição na sociedade ou na Igreja. É o muro mais difícil de derrubar, o melhor dissimulado. É tão fácil minha honra se passar pela honra de Deus e da Igreja; o apego às minhas ideias, pelo apego à verdade pura e simples. Quem fala, neste momento, não pensa fazer exceções. Estamos dentro desta nossa casca assim como o bicho-da-seda em seu casulo: ao seu redor tudo é seda, mas se o bicho-da-seda não romper o casulo, permanecerá lagarta e jamais se tornará borboleta que voa.

Mas deixemos de lado este assunto, tendo tantas ocasiões para ouvir falar dele. A segunda casa bem revestida, da qual sair para ir trabalhar na “casa do Senhor”, é a minha paróquia, a minha ordem religiosa, movimento ou associação eclesial, a minha Igreja local, a minha a diocese... Não vamos interpretar equivocadamente. Ai de nós se não tivéssemos amor e apego a estas realidades particulares, nas quais o Senhor nos colocou e das quais sejamos até responsáveis.  O mal está em absolutizá-las, não ver para além delas, não nos interessarmos por outras, criticando e desprezando quem não compartilha com elas. Perder de vista, enfim, a catolicidade da Igreja. Esquecer, frequentemente diz o Santo Padre, que “o todo é mais do que a parte”. Somos um só corpo, o corpo de Cristo, e, no corpo, afirma Paulo, “se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele” (1Cor 12,26). O sínodo deveria servir também para isto: a nos tornarmos conscientes e partícipes dos problemas e das alegrias de toda a Igreja Católica.

Mas vamos à terceira casa bem revestida. Sair dela ficou mais difícil pelo fato de que, por séculos, foi-nos inculcado que sair dela seria pecado e traição. Li recentemente, por ocasião da Semana de oração pela unidade dos cristãos, o testemunho de uma mulher católica de um país de religiões diversificadas. Quando jovem, o pároco ensinava que só ao entrar fisicamente em uma igreja protestante se cometia pecado mortal. E suponho que o mesmo se dizia, do outro lado da cerca, ao entrar em uma Igreja católica.

Falo, naturalmente, da terceira casa bem revestida, que é a denominação cristã particular a que pertencemos, e o faço recordando, ainda recentemente, o extraordinário e profético evento do encontro ecumênico do Sudão do Sul, de fevereiro passado.  Todos estamos convictos de que parte da fraqueza da nossa evangelização e ação no mundo deve-se à divisão e à luta recíproca entre cristãos. Verifica-se o que Deus diz, sempre segundo Ageu:

Tendes em vista muito e eis que há pouco; e que trareis para casa, eu o espalharei com um sopro. E por que isto? – oráculo do Senhor dos exércitos – Por que minha Casa está em ruínas, mas vós, vós correis cada um para sua própria casa (Ag 1,9).

Jesus disse a Pedro: “Sobre esta pedra construirei a minha Igreja”. Não disse: “Construirei as minhas Igrejas”. Deve haver um sentido no qual aquilo que Jesus chama “a minha Igreja” abraça todos os crentes nele e todos os batizados. O apóstolo Paulo tem uma fórmula que poderia desempenhar esta tarefa de abraçar todos aqueles que creem em Cristo. No início da Primeira Carta aos Coríntios, ele estende a sua saudação a: “Todos os que, em todo lugar, invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Cor 1,2).

Não podemos nos contentar, certamente, com esta unidade tão vasta, mas tão vaga. E isto justifica o empenho e o confronto, também doutrinal, entre as Igrejas. Mas nem mesmo podemos desprezar e não levar em conta esta unidade de base que consiste em invocar o mesmo Senhor Jesus Cristo. Quem crê no Filho de Deus, crê também no Pai e no Espírito Santo. É muito verdadeiro o que foi repetido em várias ocasiões: “o que nos une é mais importante daquilo que nos divide”.

Nos casos em que não podemos deixar de desaprovar o uso que é feito do nome de Jesus e o modo em que é anunciado o Evangelho, pode nos ajudar a superar a rejeição aquilo que São Paulo dizia de alguns que, em seu tempo, anunciavam o Evangelho “por inveja e rivalidade”. “Que importa?” – escrevia aos Filipenses – “De qualquer maneira, com segundas intenções ou com sinceridade, Cristo está sendo anunciado, e com isso eu me alegro” (Fl 1,16-18). Sem esquecer que também os cristãos de outras denominações encontram em nós, católicos, coisas que não podem aprovar.

O oráculo de Ageu sobre o templo reconstruído conclui com uma promessa radiosa: “Maior será a glória desta futura Casa do que da primeira, diz o Senhor dos exércitos. E neste lugar darei a paz, oráculo do Senhor dos exércitos” (Ag 2,9). Não ousamos dizer que tal profecia se cumprirá também para nós e que a casa de Deus, que é a Igreja do futuro, será mais gloriosa que a do passado, que agora lamentamos; podemos, contudo, esperá-lo e pedi-lo a Deus em espírito de humildade e arrependimento.

Não faltam sinais encorajadores: um entre os mais evidentes é justamente a busca da unidade entre os cristãos. Na entrevista a um jornalista católico, na viagem de retorno do Sudão do Sul, o Arcebispo Welby dizia: “Vemos trabalhar juntas Igrejas que, no passado, eram inimigas declaradas, que se atacavam e queimavam os sacerdotes umas das outras, condenando-se reciprocamente nos mais violentos termos: quando isso acontece, quer dizer que há algo de espiritual que está acontecendo. Há uma libertação do Espírito de Deus que dá grande esperança”[1].

A profecia de Ageu que comentei, Veneráveis Padres, irmãos e irmãs, é relacionada a uma recordação pessoal, e lhes peço desculpas, se ouso relembrá-la novamente nesta sede. Faço-o na certeza de que a palavra profética volta a desencadear a sua carga de confiança e de esperança cada vez que é proclamada e escutada com fé.

No dia em que o meu Superior Geral me permitiu deixar o ensino na Universidade Católica, para me dedicar em tempo integral à pregação, na Liturgia das Horas estava a profecia de Ageu que comentei. Após ter recitado o Ofício, vim aqui na Basílica de São Pedro. Queria rezar ao Apóstolo para abençoar o meu novo ministério. A um certo ponto, enquanto estava na praça, aquela palavra de Deus me voltou à mente com força. Voltei-me à janela do Papa no Palácio Apostólico e me pus a proclamar em alta voz: “Coragem, João Paulo II; coragem, cardeais, bispos e todo povo da Igreja: e trabalhai, pois eu estou convosco, diz o Senhor”. Foi fácil fazê-lo, pois chovia e não havia ninguém ao redor.

Poucos meses depois, em 1980, fui nomeado Pregador da Casa Pontifícia e me encontrei na presença do Papa para iniciar a minha primeira Quaresma. Aquela palavra voltou a ressoar dentro de mim, não como uma citação e uma lembrança, mas como palavra viva para aquele momento. Contei o que tinha feito naquele dia na Praça de São Pedro. Assim, voltei-me ao Papa que, à época, acompanhava a pregação em uma capela lateral, e repeti com força as palavras de Ageu: “Coragem, João Paulo II; coragem, cardeais, bispos e povo de Deus: e trabalhai, pois eu estou convosco, diz o Senhor. O meu Espírito estará convosco”. E, dos olhares, pareceu-me entender que a palavra dava aquilo que prometia: isto é, coragem (ainda que João Paulo II fosse a última pessoa no mundo a quem se tivesse que recomendar para ter coragem!).

Hoje, ouso proclamar de novo aquela palavra, sabendo que não se trata de uma simples citação, mas de uma palavra sempre viva, que volta a operar toda vez aquilo que promete. Portanto, coragem, Papa Francisco! Coragem irmãos cardeais, bispos, sacerdotes e fiéis da Igreja Católica, e trabalhai, pois eu estou convosco, diz o Senhor. O meu Espírito estará convosco!”.

A todos faço votos de uma Santa Páscoa de paz e esperança.

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, ofmcap

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

As bases da Moral Católica

As bases da Moral Católica (Cléofas)

As bases da Moral Católica

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A moral católica é a base do comportamento do cristão, segundo a fé que ele professa recebida de Cristo e dos Apóstolos. No Sermão da Montanha Jesus estabeleceu a “Constituição” do Reino de Deus, e em todo o Evangelho nos ensina a viver conforme a vontade de Deus.

Para quem vive pela fé, a moral cristã não é uma cadeia, antes, um caminho de vida plena e de felicidade. Deus não nos teria deixado um Código de Moral se isto não fosse imprescindível para sermos felizes. As leis morais podem ser comparadas as setas de trânsito que guiam os motoristas, especialmente em estradas perigosas, de muitas curvas, neblinas e lombadas. Se o motorista as desrespeitar, poderá pagar com a própria vida e com as dos outros.

Mas para crer nisto e viver com alegria a Moral é preciso ter fé; acreditar em Deus e no seu amor por nós; e acreditar na Igreja católica como porta voz de Jesus Cristo.

Cristo nos fala pelo Evangelho e pela Igreja. Ele a instituiu sobre Pedro e os Apóstolos para ser a nossa Mãe, guia e mestra.

Jesus disse aos Apóstolos: “Quem vos ouve, a Mim ouve; quem vos rejeita, a Mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,16).

Cristo concedeu à Igreja parte de sua infalibilidade em matéria de doutrina: fé e moral, porque isto é necessário para a nossa salvação, e instituiu a Igreja para nos levar à salvação. Por isso, Cristo não pode deixar que a Igreja erre em coisas essenciais à nossa salvação. O Concílio Vaticano II disse que “a Igreja é o sacramento universal da salvação” (LG,4).

É por Ela que Jesus continua a salvar os homens de todos os tempos e lugares, através dos Sacramentos e da Verdade que ensina. São Paulo disse à São Timóteo que “a Igreja é a coluna e o fundamento (alicerce) da verdade” (1Tm 3,15) e que Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade (1Tm 2,4). Essa “verdade que salva” Deus confiou à Igreja para guardar cuidadosamente, e ela faz isto há vinte séculos. Enfrentou muitas heresias e cismas, muitas críticas dos homens e mulheres sem fé, especialmente em nossos dias, mas a Igreja não trai Jesus Cristo.

Cristo está permanentemente na Igreja – “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20) – e ela sabe que embora os seus filhos sejam pecadores, ela não pode errar o caminho da salvação e da verdade.

Na última Ceia o Senhor prometeu à Igreja (Cristo e os Apóstolos), no Cenáculo, que ela conheceria a verdade plena.

“Ainda tenho muitas coisas para lhes dizer, mas vocês não estão preparados para ouvir agora; mas quando vier o Espírito Santo, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,12-13).

Ao longo dos vinte séculos o Espírito Santo foi ensinando à Igreja esta verdade, através dos Santos, dos Papas, dos Santos Padres…

Se Cristo não concedesse à Igreja a infalibilidade em termos de doutrina (fé e moral) de nada valeria ter-lhe confiado o Evangelho, pois os homens o interpretam de muitas maneiras diferentes, e criaram muitas outras “igrejas”, sem o Seu consentimento, para aplicarem a verdade conforme o “seu” entendimento, e não conforme o entendimento da Igreja deixada por Cristo. A multiplicação das milhares de igrejas cristãs e de seitas, é a consequência do esfacelamento da única Verdade que Jesus confiou ao Sagrado Magistério da Igreja (Papa e Bispos em comunhão com ele) para guardar e ensinar a todos os povos.

Além de confiar à Igreja a Verdade eterna, Cristo lhe garantiu a Vitória contra todos os seus inimigos. Disse a Pedro: “As portas do inferno jamais a vencerão” (Mt 16,17).

Já se passaram vinte séculos, inúmeras perseguições (Império Romano, Nazismo, Comunismo, Fascismo, Ateísmo,…) e a Igreja continua mais firme e forte do que nunca. Quanto mais é perseguida, mais se fortalece; quanto mais apanha, mais corajosa fica.

Tertuliano, um dos escritores da Igreja do terceiro século, escreveu ao imperador romano da época, que perseguia os cristãos, dizendo que não adiantava persegui-los e matá-los, porque “o sangue dos mártires seria semente de novos cristãos”.

O Império Romano desabou, o Comunismo sucumbiu, o Nazismo acabou… mas a Igreja continua mais firme do que nunca. Nenhum chefe de Estado têm tantos embaixadores (Núncios Apostólicos) em outros países como o Vaticano; são cerca de 180.

O mundo chama hoje a Igreja Católica de obscurantista, retrógrada, etc., por ela ser fiel a Jesus; mas ela não se curva diante do pecado do mundo moderno, da mesma forma que não se curvou diante dos carrascos dos seus mártires.

A Igreja não busca a glória dos homens, mas somente a glória de Deus, por isso não se intimida e não desanima diante das ameaças dos infiéis. Ainda que ela fique sozinha, não negará a verdade do seu Senhor.

A Moral Católica não muda ao sabor da vontade dos homens e nem com o passar do tempo, porque a Verdade não muda, seja ela qual for. O teorema de Pitágoras e o princípio do empuxo, de Arquimedes, são os mesmos que esses gregos descobriram vários séculos antes de Cristo. A verdade que foi revogada, nunca foi verdade; pois a verdade de fato não pode mudar. Cristo não nos deixou uma moral transitória, passageira, provisória; não, Ele nos deixou uma Verdade eterna. Ele mesmo é a Verdade.

Os cristãos precisam entender que as questões morais não dependem da “opinião da maioria” e nem se altera com os “avanços” científicos. A moral é que deve dizer quais descobertas da Ciência são válidas para o progresso do homem, e não o contrário. Uma lei moral não se torna lícita só porque é aprovada pelo Governo ou pelo Parlamento.

Muitas vezes a confusão moral e os erros são cometidos por causa de uma incompreensão insuficiente dessas questões. A Igreja, de sua parte, examina com profundidade as questões morais, olhando não apenas o conforto do homem, mas, principalmente a sua dignidade humana.

Diante das leis que não estão de acordo com a Moral católica, os fiéis precisam se manifestar com viva voz; porque se ficarmos calados e submissos, em breve poderemos ter em nosso país muitas leis imorais. Já aprovaram o divórcio, a manipulação e a morte de embriões (vidas humanas!), e em breve poderão aprovar o aborto e a eutanásia. O Papa Leão XIII disse que “a audácia dos maus se alimenta da covardia e omissão dos bons”.

Não podemos mais viver um catolicismo de sacristia; a maioria do povo brasileiro é católico (cerca de 75%) e tem direito de viver em um país com leis católicas; mas isto só acontecerá se fizermos isto acontecer. Jesus já tinha avisado que “os filhos das trevas são mais espertos que os filhos da luz”.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

O Inri na Cruz

O significado INRI (bibliaseensina)

O INRI NA CRUZ

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

               A Semana Santa marca os últimos dias vividos por Cristo antes de sua Paixão, Morte e Ressurreição. As celebrações iniciam no “Domingo de Ramos”, que é o “Domingo da Paixão do Senhor”, em que se celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e também a sua paixão e morte de Cruz. A Semana Santa encerra com a celebração do grande Tríduo Pascal. O Domingo de Ramos reflete sobre a Paixão e Morte de Jesus.  

              Jesus morreu, provavelmente, no dia 14 de Nisã, segundo o calendário da época. Era a Páscoa dos judeus.  As autoridades dos judeus o acusaram de blasfêmia por dizer que era o Messias, Filho de Deus e de subversão por ensinar a perdoar e a amar como expressão da vontade de Deus. Levado a Pilatos e a Herodes, foi acusado de promover desordem entre o povo e de se autoproclamar rei. (Lc 23,1-8). Jesus foi torturado e repudiado pelos soldados romanos. (Jo 19,1-5). Por fim, Pilatos lavou as mãos do sangue inocente de Jesus e o entregou para ser crucificado. (Mt 27,11-26). Ele carregou a própria Cruz até um lugar chamado Gólgota (lugar da caveira). Ali foi crucificado entre dois ladrões.  

              Acima da Cruz, constava o motivo: “O Rei dos Judeus” (INRI = Iēsus Nazarēnus, Rēx Iūdaeōrum). Geralmente, a cruz não passava da altura de um homem. Para se acomodar nela, a vítima devia ser pregada com os joelhos dobrados. Após várias horas de sofrimento, o crucificado tinha suas pernas quebradas, de modo a acelerar a morte. No caso de Jesus, não quebraram suas pernas. Para se certificarem de sua morte, deram-lhe um golpe de lança que perfurou seu peito, quando ele já se encontrava morto.  

  A sentença de morte não surgiu de repente na vida de Jesus; ela foi o preço que Cristo teve de pagar por sua opção fundamental e radical pelo Reino de Deus e sua justiça. Na Cruz, o Filho de Deus sofre e morre pelos últimos deste mundo: os pobres e injustiçados, doentes e rejeitados, pecadores e prostitutas. Jesus chama todos à conversão e revela que o amor é a medida de todas as coisas. 

 As palavras de Jesus eram fortes demais, e as multidões o seguiam. Aclamado como rei, entrou triunfalmente em Jerusalém. Como profeta destemido, apontava as infidelidades a Deus, denunciava as injustiças que o povo sofria e convocava todos à conversão. Como Messias, anunciava, com palavras e obras, a Boa-Nova da chegada do Reino de Deus. Jesus curava em dia de sábado, falava com samaritanos, tocava nos doentes.  

  Tudo isso desafiava os poderes políticos e religiosos estabelecidos na época. A crucifixão de Jesus foi decretada pelo poder romano como pena por agitar o povo e perturbar a ordem pública. Foi considerado um agitador, um perigo ao Império por ter sido aclamado rei pelo povo. A resposta do povo foi crucificar o “Rei dos Judeus”. A crucificação era a pena que se aplicava àqueles que se revoltavam contra a ordem social e política do Império Romano. 

               O amor do Pai, que Jesus revelou, teve uma resposta negativa por parte da humanidade. A doação total de Cristo na Cruz é a resposta à rejeição: “Maior prova de seu amor.” O mistério da Cruz revela o amor de Deus que deseja salvar todos, ainda que nem todos acolham esse sinal infinito de amor.  

             No Madeiro, todo ser humano sabe que, em seu sofrimento, tem alguém que lhe faz companhia, como bem rezou o Papa São Paulo VI: “Obrigado, Senhor, por esta piedosa solidariedade com nossa miséria. Obrigado, Senhor, por ter feito desta fraqueza uma fonte de expiação e salvação! Que eu sinta, como dirigidas a mim, as palavras de Santo Agostinho: ‘A força de Cristo te criou, a fraqueza de Cristo te redimiu’.” 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Como viver a Semana Santa com Maria, a Mãe das Dores

Zvonimir Atletic | Shutterstock

Saiba como se unir a Maria e imitar seu dulcíssimo coração, para que junto da Mãe das Dores você possa acolher o múnus da cruz e a graça da vida nova em Jesus.

Durante nossa vida, todos nós passamos por perdas, que nos fazem sofrer. Os pais, irmãos, esposas e filhos. As partidas são extremamente dolorosas. Uma doença, um acidente, ou em consequência de maus hábitos, os nossos queridos partem ao encontro de suas novas vidas. Mas ao contemplar as últimas horas de Jesus, em meio a torturas físicas inimagináveis, podemos entender o grande sofrimento de Maria, sua mãe.

O tratamento dado a Jesus durante o caminho para o Calvário, foi de dores cruciais, assistidos por uma mãe cuja face exprimia todo seu sofrimento. No entanto não se ouviu um murmúrio, um grito de seus lábios. Acreditava que se estava a fazer os desígnios de Deus, seu Pai. Era como se uma espada lhe transpassasse o coração. Assim se cumpriu uma das sete dores que ela suportou. Esta foi conforme a profecia de Simeão. Assim vemos a imagem de Nossa Senhora das Dores, representada com uma espada a atravessar seu peito.  

Antes do Calvário

Mas mesmo antes do Calvário, as dores de Maria aconteciam. Assim para fugir a sanha de Herodes, que havia mandado matar todas as crianças com menos de dois anos, ela tomou Jesus em seus braços, com o medo a atravessar seu caminho, e, juntamente com José, seu esposo, fugiram para o Egito. A incerteza do caminho assombrava seu espírito, mas a tudo suportou para salvaguardar seu tesouro maior, seu filho Jesus.  

Estando em Jerusalém, Maria percebeu que Jesus, um adolescente de 12 anos, não estava por perto. Tomada de medo pela possível perda de seu filho, ela e José o procuraram pela cidade. Foram encontrá-lo no Templo, onde dissertava para uma multidão, que o ouvia atentamente. O coração de Maria se encheu de alegria por ver seu filho. E perguntou a Ele, por que se afastara. E Ele lhe respondeu, “porque se preocupa, não sabeis que tenho de cuidar dos negócios de meu Pai?”. 

Uma mãe diante do sofrimento do filho

Voltemos ao Calvário. Durante o percurso de Jesus, com a cruz aos ombros, a caminho do Gólgota (calvário em Grego), conseguindo furar o bloqueio da multidão que acompanhava seus passos Maria pode apreciar de perto o rosto sofrido e banhado em sangue, dos espinhos em sua cabeça, de seu filho. Seu coração sangrava tanto quanto estivesse com aqueles espinhos nele cravados.  

Jesus continua seu martírio, até chegar ao alto do monte. Lá pregam seus pés e suas mãos ao madeiro da cruz. Cada martelada é como pancadas no sofrido coração de Maria. Sente-se como que desfalecer, mas mantém-se de pé, pois sabe que seu filho a olha, através do sangue que escorre em sua face. Ali o martírio continua. Só resta acompanhar, minuto a minuto, como se séculos fossem decorridos, o lento sofrimento de seu amado filho. Até o último e derradeiro suspiro que escapa de seus lábios. Ao descerem seu corpo da cruz, ela o recebe para um último e doloroso abraço, em seu regaço. Só resta a última dor. Acompanhar o corpo de seu amado, ao sepulcro, onde, envolto em lençóis, o corpo de Jesus é depositado. A grande pedra é rolada na abertura da rocha, e a visão de seu filho é coberta.

Viver a Semana Santa com Maria  

Convido você a viver com grande devoção a semana mais santa de todas as semanas e contemplar o grande mistério salvífico de Nosso Senhor Jesus Cristo, juntamente com sua Mãe, a Virgem das dores, através do retiro Vivendo a Semana Santa com Maria, Mãe das Dores (clique aqui para se inscrever).

Unamo-nos a Maria e imitemos seu dulcíssimo coração, para que junto da Mãe das dores possamos acolher o múnus da Cruz e a graça da Vida Nova em Jesus. Preparemo-nos e soframos com Maria.

Maria e o sacrifício de todas as mulheres

Percebemos na dor de Maria o sacrifício de todas as mulheres, que, como ela, tem seus filhos entregues ao mundo. As incertezas de sabê-los em casa, depois de suas saídas. A preocupação na demora de chegar. As notícias que chegam esparsas. E as dolorosas notícias da perda. Assim como Maria, espelham em suas faces o orgulho e o medo durante toda sua vida, desde o momento da concepção, antes de vê-los perfeitos, até o momento em que encerram seus olhos para a derradeira viagem.

O orgulho por suas conquistas, são como se a cada uma fossem dadas. As preocupações com suas famílias, que formaram depois de saírem do lar materno. Com seus netos, se porventura os tenham, com a harmonia em seus lares. Cada notícia um pulo em seus peitos, ou de alegria, ou de preocupação. Verdadeiras Marias, que Deus colocou em cada lar.

Rubens Lace, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF