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terça-feira, 15 de julho de 2025

DANTE NOS ESTADOS UNIDOS: E então saímos para ver as estrelas e as listas (Parte 2/4)

Paolo e Francesca | 30Giorni

DANTE NOS ESTADOS UNIDOS

Arquivo 30Dias nº 05 - 2006

E então saímos para ver as estrelas e as listas

O interesse por Dante nos Estados Unidos, explicado por uma docente da James Madison University da Virgínia.

de Giuliana Fazzion

Em 1843, Thomas W. Parsons publicou em Boston a primeira tradução americana de uma boa parte da Divina Comédia (os primeiros 10 cantos do Inferno). Devemos dizer que naquele tempo, quando escreviam sobre Dante, os críticos e os escritores se baseavam no modelo inglês. Mas nos círculos intelectuais americanos havia um desejo de independência da influência inglesa tão grande, que deu uma nova vitalidade à cultura nacional. Esses intelectuais americanos puseram sua rebelião em prática importando novas correntes de arte e de pensamento das literaturas do continente europeu. E entre essas correntes, despontando sobre todas as outras, estava a representada por Dante, ao qual todos os intelectuais se dirigiram para encontrar a beleza de novos mundos e novos horizontes de pensamento e de arte. Ergueram para o poeta um monumento próximo aos de Shakespeare e Milton, e Dante se tornou para eles quase o símbolo de uma cultura cosmopolita a ser seguida como ideal de um futuro iminente. Esse movimento levou muitos estudantes e estudiosos americanos a viajarem para a Europa, sobretudo para Florença, Roma, Veneza e Paris. Graças a um contato crescente, chegou-se a considerar a literatura italiana superior à francesa. Num artigo publicado em 1817 na revista literária North American Review, dizia-se que a língua italiana, muito mais que a francesa, se adaptava amplamente a todo tipo de composição; tinha mais dignidade e força, uma ampla facilidade de expressão, uma imensa doçura e harmonia. As revistas literárias North American Review, entre 1815 e 1850, ano de seu encerramento, e American Quarterly Review, em seus dez anos de vida, publicaram mais ensaios, artigos e notas sobre a literatura, a arte e a história italianas do que os que dedicaram à cultura de outros países europeus, como a França e a Alemanha. Já em 1822, traduções inglesas britânicas de Dante, Petrarca, Ariosto e Tasso haviam sido reimpressas na América. E, em 1850, 103 textos italianos (algumas reimpressões de traduções já publicadas na Inglaterra e novas versões feitas nos Estados Unidos) chegaram às tipografias americanas. Esse período corresponde ao Romantismo, quando a América encontrou pela primeira vez a Idade Média. E o melhor guia para conhecer o verdadeiro mundo medieval foi a Divina Comédia, que deu aos americanos o quadro completo desse período histórico, a chave para entrar na poesia e na arte, na filosofia e na teologia, no pensamento religioso e político medievais. Mas Dante e seu mundo não se oferecem facilmente às mentes despreparadas. No canto I do Inferno, Dante diz que “longo estudo” e “grande amor” são o preço a pagar se se quer “penetrar” o segredo de sua arte e a essência do espírito medieval, do qual a Divina Comédia é a mais alta expressão. Deveriam se passar muitos anos de duro trabalho e perseverança antes que Dante e a Idade Média conquistassem o lugar que ocupam hoje na cultura americana.

Como mencionado anteriormente, a primeira tradução americana de um trecho de Dante (o episódio do conde Ugolino) foi publicada em 1791.

Uma das primeiras traduções que chegaram aos EUA foi a do autor inglês Henry Cary, que traduziu o Inferno em 1805 e toda a Divina Comédia em 1814.

Mas mesmo boas traduções como a de Cary não são capazes de oferecer um conhecimento profundo da arte do grande poeta, quando não se é capaz de compreender a língua em que sua Comédia foi escrita.

O primeiro professor oficial de italiano nos Estados Unidos de que temos conhecimento foi Carlo Bellini, a quem, em 1779, graças à ajuda de seu amigo Filippo Mazzei e com a recomendação do presidente Thomas Jefferson, foi conferida a cátedra da faculdade de Línguas da Universidade “William & Mary”. Bellini aproveitou essa oportunidade para iniciar cursos sobre Dante. Deixou a cátedra em 1803.

Numa ainda pequena Nova York viria a estabelecer-se, em 1805, Lorenzo Da Ponte (1749-1838), o aventuroso literato vêneto que, banido de Veneza, mudou-se primeiramente para Dresdem e depois para Viena, a corte do imperador José II, onde preparou, para Mozart, os libretos das Bodas de Fígaro, de Assim fazem todas e do Don Giovanni. Entre amores e intrigas, deixou Viena e foi para Londres. Desposou uma inglesa e depois se estabeleceu nos Estados Unidos. Lá foi o primeiro a abrir uma escola particular, na qual o italiano finalmente era ensinado por um professor competente. Da Ponte, em 1807, fundou a Academia de Manhattan, onde ele e sua esposa ensinavam latim, francês e italiano aos jovens. Naquele mesmo ano publicou em Nova York uma pequena autobiografia em italiano à qual acrescentou em apêndice as traduções do episódio do conde Ugolino e de algumas partes do Inferno. Esse livro, que Da Ponte montara para suas aulas, é importante porque foi o primeiro texto em italiano a ser impresso na América. Da Ponte adorava Dante, e assim que seus alunos começavam a saber usar os verbos, os adjetivos e os substantivos, ele os fazia ler a Divina Comédia e os estimulava a aprenderem versos de cor. Foi chamado a lecionar italiano no Columbia College, e também ali encontrou uma maneira de introduzir temas dantescos. Enquanto Da Ponte lecionava em Nova York, em Boston se estabelecia um jovem siciliano, Pietro D’Alessandro, poeta romântico em exílio político, que ganhava a vida dando aulas de italiano; mais tarde uniu-se a ele outro siciliano, Pietro Bachi, com uma preparação cultural excelente, que o levaria a lecionar italiano em Harvard, onde seria o primeiro professor dessa língua, tornando-se depois assistente de George Ticknor. Este último, professor de Línguas e Literaturas Estrangeiras, em 1831 dedicou a Dante um primeiro curso específico. Ticknor deixaria Harvard em 1835 e seu sucessor na cátedra de Línguas e Literaturas Estrangeiras seria Henry Wadsworth Longfellow. Longfellow, a partir de então, começaria a ensinar Dante intensamente e continuaria a ensiná-lo durante vinte anos, ou seja, durante todo o período em que lecionou em Harvard. No inverno de 1838, Longfellow leu o Purgatório a sua classe de Harvard e o comentou. Foi para esse curso, justamente, que começou a traduzir versos do Purgatório para o inglês. Longfellow iniciou a tradução sistemática do Purgatório em 1843, mas esse foi um lento processo, mesmo porque, nos dez anos que se seguiram, dedicou-se a trabalhos originais. Terminou-a em 1853. Depois de uma outra longa pausa, devida à trágica morte da esposa, voltou à tradução da Divina Comédia em 1861. Desta vez trabalhou com tenacidade e em 1863 completou o Inferno. A Divina Comédia estaria completamente traduzida em 1867.

Fonte: https://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF