Um canto de louvor e amor: o Trium puerorum
O Trium Puerorum é um canto de louvor a Deus, que a Igreja aconselha rezar depois da Santa Missa. A natureza inteira, com o sol, as estrelas, os raios, as nuvens e os mares, se une a esse canto iniciado por três jovens judeus do Antigo Testamento.
05/04/2021
Com toda a Igreja
Com este modo de proceder, São Josemaria distinguia dois
momentos na ação de graças depois da Missa, para os centros da Obra. O primeiro
tem a ver com o diálogo silencioso de cada um com Deus Pai, Filho e Espírito
Santo: “o amor a Cristo, que se oferece por nós, incita-nos a saber encontrar,
uma vez terminada a Missa, alguns minutos para uma ação de graças pessoal e
íntima, que prolongue no silêncio do coração essa outra ação de graças que é a
Eucaristia”[5].
Além disso, o segundo momento quer realçar a dimensão
eclesial da ação de graças, que não se reduz somente a uma experiência
individual de intimidade de Jesus. O dom de Deus na Eucaristia é tão grande que
nenhuma criatura por si só pode expressar o agradecimento devido. Esta oração
nos permite agradecer-Lhe juntos por ter vindo à nossa casa. Por isso, quando
rezamos o Trium puerorum, não somente estamos agradecendo a
Jesus a nossa Comunhão, mas também a dos que estão à nossa volta. É como se
disséssemos: “Obrigado por ter vindo a cada um, por ter-se feito presente por
nós, por todos os cristãos”.
Precisamente para que as nossas vozes possam unir-se mais
facilmente ao canto de louvor e amor com o que a Igreja vive cada encontro
eucarístico, São Josemaria pensou que se recitasse o Trium puerorum.
Dedicar um tempo da ação de graças a este cântico nos ajuda, portanto, a
crescer na comunhão com todos os cristãos por meio da Eucaristia. Pois é nela
que a Igreja “renasce e se renova continuamente como a communio que
Cristo trouxe ao mundo, realizando assim o desígnio eterno do Pai (cf. Ef 1,
3-10). De modo especial na Eucaristia e pela Eucaristia, a Igreja encerra em si
o germe da união definitiva em Cristo de tudo o que existe nos céus e de tudo o
que existe na terra, tal como disse Paulo (cf. Ef 1,10): uma comunhão realmente
universal e eterna”[6].
Um laboratório de louvor
O Trium puerorum é um convite constante a
glorificar e louvar ao Senhor. Recorda-nos que a vocação mais íntima de todas
as criaturas é dar glória a Deus, Uno e Trino. A Comunhão é inseparável do
desejo afetivo e efetivo de louvá-lo, de reconhecer a sua grandeza e sua
onipotência.
Este movimento da alma é coerente com a celebração
eucarística, pois a Missa, principalmente a oração eucarística, é uma grande
oração de ação de graças, que começa com um canto de louvor – o Santo,
santo, santo – e termina com uma solene glorificação de Deus Pai por
Cristo, com Ele e n’Ele. O Trium puerorum prolonga esta
oração. É um momento que poderíamos ver como um laboratório em que aprendemos a
transformar as nossas relações com o cosmos – a natureza – e com os outros em
um canto de louvor à Trindade. Desta forma, rezar o Trium puerorum antes
de começar os nossos afazeres cotidianos nos lembra a atitude com que devemos
encarar cada dia: “Dá ‘toda’ a glória a Deus. – ‘Espreme’ com a tua vontade,
ajudado pela graça, cada uma de tuas ações, para que nelas não fique nada que
cheire a humana soberba, a complacência do teu ‘eu’”.[7]
Neste laboratório se reúnem todas as
criaturas espirituais e materiais. Recapitulam-se todos os elementos do cosmos
e do povo de Israel, começando pelos mais materiais e terminando pelos que têm
mais capacidade vital. O auge deste crescendo é ocupado pelos
“humildes de coração” (Dan 3, 87), entre os quais se contam Ananias, Azarias e
Misael. Para que todos possamos unir-nos a eles e assim se cumpra o projeto
original da criação – “tudo o que respira louve ao Senhor” (Sal 150, 6) – a Igreja
conclui o Trium puerorum com uma petição articulada em um
pai-nosso, alguns versículos dos salmos e três orações. Neles ressoam os mesmos
desejos antes expressados, mas, desta vez, convertidos em uma intensa súplica
para que nós, que também nos encontramos em meio ao fogo das
provas interiores e exteriores, experimentemos o alívio da ajuda divina e assim
possamos converter toda a nossa jornada em um Magnificat à
misericórdia divina.
Juan Rego
Tradução: Mônica Diez
Fotografía: Ravi Pinisetti (Unplash)
[5] São
Josemaria, É Cristo que passa, n. 92.
[6] São
João Paulo II, Audiência geral, 15/01/1992.
[7] São
Josemaria, Caminho, n. 784.
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