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quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Santíssimo Sacramento é profanado em igreja na Nicarágua

Hóstias profanadas na igreja em Manágua, Nicarágua / 
Paróquia Nossa Senhora dos Desamparados – San Rafael Sur
Por Walter Sánchez Silva

MANÁGUA, 18 Jan. 23 / 02:00 pm (ACI).- O Santíssimo Sacramento foi profanado na paróquia Nossa Senhora dos Desamparados, da área de San Rafael del Sur, em Manágua, Nicarágua.

“Na madrugada de domingo, 15 de janeiro, pessoas de poucos escrúpulos e que não temem a Deus entraram na paróquia pela parte de trás das grades das janelas, abrindo os armários, pegando a chave do Santíssimo Sacramento e profanaram o Santíssimo, deixando o tabernáculo e as hóstias consagradas no chão", disse a paróquia em sua página de Facebook ontem (17).

A paróquia pediu a todos os fiéis locais para “colocar-se em oração”.

Segundo a paróquia Nossa Senhora dos Desamparados, será celebrada “missa de ato de reparação, desagravo e perdão” na quinta-feira (19), às 18h.

A paróquia também convidou a rezar a seguinte “Oração de desagravo a Jesus Sacramentado”:

Senhor, perdoai todos os sacrilégios eucarísticos.
Senhor, perdoai todas as sagradas comunhões recebidas indignamente.
Senhor, perdoai todas as profanações ao Santíssimo Sacramento do altar.
Senhor, perdoai todas as irreverências na Igreja.

Senhor, perdoai todas as profanações, desprezos e abandonos dos tabernáculos.
Senhor, perdoai todos aqueles que abandonaram a Igreja.
Senhor, perdoai todo desprezo pelos objetos sagrados.
Senhor, perdoai todos aqueles que se juntaram às fileiras dos teus inimigos.

Senhor, perdoai todos os pecados do ateísmo.
Senhor, perdoai todos os insultos ao teu Santo Nome.
Senhor, perdoai toda a frieza e indiferença contra o teu amor redentor.
Senhor, perdoai todas as irreverências e calúnias contra o Santo Padre.

Senhor, perdoai todo desprezo aos bispos e sacerdotes.
Senhor, perdoai todo desprezo pela santidade da família.
Senhor, perdoai todo desprezo pela vida humana.

Jesus, eu confio em Vós!

Amém.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Religiões a serviço da paz, do amor e da tolerância

Tolerância religiosa | cristoreimarau

RELIGIÕES A SERVIÇO DA PAZ, DO AMOR E DA TOLERÂNCIA

 

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ) 

No dia 21 de janeiro, celebramos o Dia Mundial da Religião e, no Brasil, o Dia Nacional de Combate à Intolerância religiosa. Estas duas datas nos fazem pensar no contributo e na missão precípua e transcendente das religiões na construção de um mundo mais fraterno e unido.  

O dia mundial da Religião foi iniciativa da fé bahá’í, aprovada pela ONU, em sua Assembleia Geral, de 1949; uma religião fundada na Pérsia e, por ser favorável ao encontro e a união entre as religiões, foi cruel e sistematicamente perseguida. Já o dia nacional de combate à intolerância religiosa, foi instituído em 2007, pela lei 11.635, em homenagem à ialorixá Mãe Gilda que foi vítima de intolerância religiosa.  

Como vemos, a intolerância e os conflitos inter-religiosos têm se acentuado com a globalização gerando fanatismo, fundamentalismo que termina se manifestando em violência, perseguição e morte por motivos de crenças. Há tempos, ainda recentes, afirmava um famoso teólogo cristão que a Paz, no mundo, passa pela paz e o diálogo entre as religiões. O último capítulo da Fratelli Tutti, do Papa Francisco, está consagrado ao Diálogo Inter-religioso e à missão e responsabilidade das religiões para edificar a fraternidade e amizade social, abrindo caminhos de compreensão, amor e bem querência.  

Nesta semana que passou, foi apresentado, no dia 19 de janeiro, o II Relatório sobre intolerância religiosa no Brasil, América Latina e o Caribe. Constata-se, apesar de um crescimento das diversas formas e vítimas da intolerância, também uma maior consciência, em grupos e movimentos inter-religiosos, que vão formando e capacitando agentes e firmando redes de proteção e prevenção, estabelecendo parcerias religiosas, civis e com o poder público, através de conselhos e outros organismos comunitários e públicos.  

Ser religioso e, mais especificamente cristão, é testemunhar o Deus amor, que quer que seus filhos vivam em paz como irmãos(ãs); o Reino instaurado por Cristo nos convida a banir a intolerância, o ódio e a discriminação, pois atentam e ofendem a filiação divina e a dignidade da pessoa humana. Pelo diálogo, a paz, a fraternidade, entre todas as religiões. Deus seja louvado!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

O Papa: Jesus tem saudade de nós. Este é o zelo de Deus

O Papa: Jesus tem saudade de nós | Vatican Media

No ciclo de catequese sobre a paixão evangelizadora e o zelo apostólico, iniciado na semana passada, Francisco reflete sobre Jesus e o seu coração que não deixa que ninguém "se vire". O cristão imita os sentimentos do Pai para testemunhar o seu amor não que esquece ninguém.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na Audiência Geral, desta quarta-feira (18/01), realizada na Sala Paulo VI, o Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico que deve animar a Igreja e cada cristão, convidando a olhar para "o modelo insuperável do anúncio: Jesus".

O fato de Jesus "ser o Verbo, ou seja, a Palavra", nos indica que Ele "está sempre em relação, em saída, nunca isolado. Com efeito, a palavra existe para ser transmitida, comunicada. Assim é Jesus, Palavra eterna do Pai comunicada a nós. Cristo não só tem palavras de vida, mas faz da sua vida uma Palavra, uma mensagem: ou seja, vive sempre voltado para o Pai e para nós. Sempre olhando para o Pai que o enviou e olhando para nós aos quais Ele foi enviado".

Jesus tem "intimidade com o Pai, oração" e "todas as decisões e escolhas importantes são feitas depois de ter rezado. Nesta relação, na oração que o une ao Pai no Espírito, Jesus descobre o sentido do seu ser homem, da sua existência no mundo porque Ele está em missão para nós, enviado pelo Pai a nós". Jesus "nos oferece a chave do seu agir no mundo: despender-se pelos pecadores, tornando-se solidário para conosco sem distâncias, na partilha total da vida". "Falando da sua missão", Jesus "dirá que não veio «para ser servido, mas para servir e dar a sua vida». Todos os dias, depois da oração, Jesus dedica toda a sua jornada ao anúncio do Reino de Deus e a dedica às pessoas, sobretudo aos mais pobres e frágeis, aos pecadores e doentes. Ou seja, Jesus está em contato com o Pai na oração e depois está em contato com as pessoas para a missão, para a catequese, para ensinar o caminho do Reino de Deus".

Ser pastor, um verdadeiro estilo de vida

Jesus nos oferece a sua imagem, "o seu estilo de vida", falando de si como do bom Pastor, aquele que «dá a sua vida pelas ovelhas».

Com efeito, ser pastor não era apenas um trabalho, que exigia tempo e muito esforço; era um verdadeiro estilo de vida: vinte e quatro horas por dia, vivendo com o rebanho, acompanhando-o ao pasto, dormindo entre as ovelhas, cuidando das mais frágeis.

“Em síntese, Jesus não faz algo por nós, mas dá a vida por nós. O seu é um coração pastoral. Ele é um pastor com todos nós.”

"Para resumir numa palavra a ação da Igreja, usa-se muitas vezes o termo “pastoral”. E para avaliar a nossa pastoral, devemos nos confrontar com o modelo, Jesus bom Pastor." "Quem está com Jesus, descobre que o seu coração pastoral bate sempre por quantos estão perdidos, transviados, distantes. E o nosso?", perguntou o Papa, ressaltando que muitas vezes temos uma atitude estranha "com quem é um pouco difícil ou é um pouco difícil para nós", e dizemos: "É problema dele, que se vire". Jesus nunca disse isso, nunca. Ele vai ao encontro de todos, de todos os marginalizados, dos pecadores. Ele era acusado disso: de estar com os pecadores, porque levava aos pecadores a salvação de Deus".

O coração pastoral reage de outra maneira

A seguir, Francisco disse que "se quisermos treinar o nosso zelo apostólico", devemos recordar sempre a parábola da ovelha perdida, contida no capítulo 15 de Lucas. "Ali podemos entender o que é o zelo apostólico". Nessa parábola "descobrimos que Deus não contempla o redil das suas ovelhas, nem as ameaça para que não vão embora. Pelo contrário, se uma sai e se perde, não a abandona, mas vai à sua procura. Não diz: “Foi-se, a culpa é dela, o problema é seu”.

 O coração pastoral reage de outra maneira: sofre e arrisca. Sofre: sim, Deus sofre por quem parte, e na medida em que o chora, ama-o ainda mais. O Senhor sofre quando nos distanciamos do seu coração. Sofre por quem não conhece a beleza do seu amor, nem o calor do seu abraço. Mas, em resposta a este sofrimento, não se fecha, mas arrisca: deixa as noventa e nove ovelhas que estão a salvo e aventura-se em busca da única que se perdeu, fazendo assim algo arriscado e até irracional, mas em sintonia com o seu coração pastoral, que tem saudade de quantos se foram. Quando ouvimos falar que alguém deixou a Igreja o que dizer? Que se vire? Não.

“Jesus nos ensina a saudade daqueles que se foram. Jesus não tem raiva nem ressentimento, mas uma irredutível saudade de nós. Jesus tem saudade de nós. Este é o zelo de Deus!”

Segundo o Papa, "talvez sigamos e amemos Jesus há muito tempo, sem nunca nos perguntarmos se compartilhamos os seus sentimentos, se sofremos arriscamos, em sintonia com o seu coração pastoral! Não se trata de fazer proselitismo, para que outros sejam “dos nossos”, mas de amar a fim de que sejam filhos felizes de Deus". "Evangelizar não é fazer proselitismo. Fazer proselitismo é uma coisa pagã, não é religioso nem evangélico", sublinhou Francisco, convidando a pedir "na oração a graça de um coração pastoral, aberto, próximo a todos, para levar a mensagem do Senhor e ouvir os que têm saudade de Cristo. Sem este amor que sofre e arrisca, correremos o risco de nos apascentarmos unicamente a nós mesmos".

MORAL: O falso drama dos pseudoescrupulosos (3/6)

O falso drama dos pseudoescrupulosos | Presbíteros

O falso drama dos pseudoescrupulosos

Por Pe. José Eduardo Oliveira e Silva

A IGNORÂNCIA SOBRE O MODO DE ATUAR DA ABSOLVIÇÃO SACRAMENTAL

Há em circulação certa glamourização de uma delicadeza de consciência encenada, mais fruto da mania de minúcias que de uma reta compreensão doutrinal das devidas disposições do penitente.

Segundo o Catecismo de São Pio X (preste-se atenção à citação): “Quais são os efeitos do Sacramento da Penitência? O Sacramento da Penitência confere a graça santificante, pela qual são perdoados os pecados mortais e também os veniais que se confessaram com sincero arrependimento” (n. 691).

No imaginário do pseudoescrupuloso existe a necessidade nervosa de uma confissão exaustiva dos pecados, para além da espécie e do número (ou seja, ele tem a necessidade psicológica de contar cada falta detalhadamente para sentir-se aliviado), como se a absolvição fosse conferida individualmente a cada idem do check-list apresentado, como se dependesse mais disso que do poder sacramental mesmo.

Na resposta de São Pio X fica claro que o efeito principal da absolvição sacramental é conferir a graça santificante perdida pelos pecados mortais ou danificada pelos pecados veniais e é mediante a graça santificante que são perdoados os pecados, não o contrário.

A força dessa infusão da graça é tão exuberante que São Pio X afirma: “quem deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa confissão, desde que tenha empregado a devida diligência no exame de consciência” (n. 754), embora com a ressalva de que, “se um pecado mortal esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados, sem dúvida, a acusá-lo na primeira vez que nos confessarmos novamente” (n. 755).

Algumas pessoas, movidas por pura ignorância, querem repetir confissões inteiras por sentirem que as mesmas são invalidadas por causa de um esquecimento.

São Tomás mesmo explica que quem confessa todos os pecados que tem na memória e, de maneira geral, aqueles de que sinceramente se esqueceu não está procedendo dissimuladamente, mas com toda a simplicidade, e, deste modo, alcança o perdão (cf. Suma Teológica, Suplemento, q. 10, a. 5, sed contra), de modo que não há cabimento para considerar como dissimulação aquilo que é apenas um involuntário esquecimento.

Se entendemos bem aquilo que escrevi anteriormente, ou seja, que os pecados se confessam pela espécie e pelo número, e que se deve confessar integralmente aqueles de que se tenha lembrança, não há dúvida de que a graça divina é comunicada pela absolvição sacramental e, portanto, que se recebe validamente o perdão divino dos pecados por força da absolvição mesma.

Quando acentuamos a tônica mais na confissão, e nessa abusivamente detalhada, que na absolvição decaímos em certa tendência protestante, que considera esta última apenas como uma mera declaração de que os pecados confessados são perdoados (cf. Concílio de Trento, Cânones sobre o sacramento da penitência, c. 9) e não como causa instrumental para a infusão da graça.

Em resumo, não quero aqui retirar importância da integridade da confissão, quero apenas mostrar que certa impressão de escrupulosidade é tão somente falta de Catecismo! Para ser íntegra, a confissão precisa ser clara, completa, concisa e concreta: ir direto à espécie do pecado e ao seu número, sem precisar descer a detalhamentos angustiados e a histórias intermináveis.

Assim como um promotor de justiça acusa o réu apenas da espécie do crime, nós devemos sobriamente nos acusar ao sacerdote de nossos pecados. Isto é resultado de uma fé doutrinalmente formada acerca da natureza da absolvição. O que passa disso é ignorância disfarçada de requinte de informação e daí sobra teologia moral mal aprendida e falta o velho e bom catecismo da doutrina cristã.

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Da Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II

Lumen Gentium | Vatican.va

Da Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, do Concílio Vaticano II

(N.2.16)                     (Séc.XX)

Eis que salvarei o meu povo

O Pai eterno criou todo o universo por totalmente livre e secreto desígnio de sua sabedoria e bondade. Decretou elevar os homens à participação da vida divina. Quando caíram na pessoa de Adão, jamais os abandonou, oferecendo-lhes sempre os auxílios para a salvação, em vista de Cristo, o Redentor, que é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura. Antes dos tempos, o Pai conheceu todos os eleitos e os predestinou a se tornarem conformes à imagem de seu Filho, para que este fosse o primogênito entre muitos irmãos.

Determinou, pois, congregar na santa Igreja os que creem em Cristo. Desde a origem do mundo foi a Igreja prefigurada. Admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga Aliança, foi constituída agora, nestes tempos que são os últimos, e manifestada pela efusão do Espírito. No fim dos tempos, será gloriosamente consumada. Então, como se lê nos santos padres, todos os justos desde Adão, do justo Abel até o último eleito, serão reunidos na Igreja universal junto ao Pai.

Aqueles, porém, que ainda não receberam o Evangelho, por diversos modos se ordenam ao Povo de Deus.

Em primeiro lugar, aquele povo a quem foram dados os testamentos e as promessas e do qual nasceu Cristo segundo a carne. Por causa dos patriarcas, segundo a eleição, é um povo caríssimo; pois os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.

O plano da salvação ainda abrange aqueles que reconhecem o Criador. Entre estes destacam-se os muçulmanos que, professando manter a fé abraâmica, adoram conosco o Deus único, misericordioso, juiz dos homens no último dia.

Deus também não está longe dos outros homens, que procuram o Deus desconhecido em sombras e imagens, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e tudo o mais. O Salvador quer que todos os homens se salvem.

Portanto, os que, sem culpa, ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero, tentando, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida através dos ditames da consciência, podem conseguir a salvação eterna. A divina Providência não nega os auxílios necessários à salvação aos que, sem culpa, ainda não chegaram ao expresso conhecimento de Deus e se esforçam, não sem a divina graça, por levar uma vida reta. A Igreja julga tudo quanto de bom e de verdadeiro neles se encontra como uma preparação evangélica, dada por Aquele que ilumina todo homem, para que enfim tenham a vida.

O que a sua inveja pode indicar

Public Domain
Por Pe. Luígi Epícoco

Jesus vem para restaurar a liberdade nas nossas relações com as pessoas e com as coisas.

Ao se ler o Evangelho, fica-se imediatamente com a impressão de que os fariseus fixam os olhos em Jesus e nos seus discípulos para acusá-los de desrespeito à Lei e à Tradição. Poderíamos até dizer que eles estão constantemente os espionando:

“Num sábado, ele estava passando pelas plantações e, enquanto avançavam, seus discípulos começaram a colher espigas. Os fariseus disseram-lhe: ‘Vê. Por que eles estão fazendo o que não é lícito aos sábados?'”.

Mais do que amar a Lei, eles parecem ter inveja da liberdade com que Jesus e seus discípulos se comportam.

Liberdade não é fazer o que se quer. A liberdade surge quando não transformamos as coisas que deveriam nos ajudar a ser livres (como a Lei) em novas escravidões. Afinal, Jesus não veio para contradizer os ensinamentos da Tradição, mas para dar-lhes a sua correta interpretação.

É por isso que ele se refere a Davi, que comeu o pão da Presença com seus companheiros. Ele não está justificando seus discípulos. Em vez disso, ele está dando à lei um horizonte humano, para que ela possa novamente trazer alegria ao povo:

“Ele então lhes disse: ‘O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado; assim, o Filho do Homem é senhor também do sábado'”.

O que o Evangelho quer nos sugerir é que, às vezes, julgamos e invejamos secretamente a vida dos outros porque, no fundo, não estamos contentes com nós mesmos. Não somos livres nem felizes e nos incomodamos quando os outros o são. Jesus vem para restaurar a liberdade nas nossas relações com as pessoas e com as coisas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Relatório sobre a perseguição cristã: hoje uma “Igreja de refugiados"

Igreja destruída no Irã | Vatican Media

A 30ª edição do Relatório da World Watch List, sobre os 50 principais países onde os cristãos são mais perseguidos revela que no último ano 5.621 cristãos foram mortos, 4.542 presos e 5.259 sequestrados.

Tiziana Campisi – Vatican News

Mais de 360 milhões de cristãos sofrem um alto nível de perseguição e discriminação por causa da sua fé, praticamente 1 em cada 7 cristãos. Isto foi revelado na 30ª edição da World Watch List (WWList), a lista dos 50 principais países onde os adeptos do Cristianismo são mais perseguidos, editada pela Open Doors Onlus. E aos cristãos que "sofrem violência na pele", o Papa dirigiu seus pensamentos esta manhã (18) durante a audiência geral, pedindo que rezassem pelo Padre Isaac Achi, que foi morto no domingo passado na diocese de Minna, no norte da Nigéria, o país onde há o maior número de cristãos assassinados: 5.014, de acordo com a WWList.

Em 2022: foram mortos 5.621 cristãos

O Relatório, apresentado hoje na Itália em contemporânea com outros 24 outros países, é o resultado do trabalho de uma equipe de pesquisadores que monitoram a realidade dos cristãos em 100 países do mundo e revela que entre outubro de 2021 e setembro de 2022, 5.621 cristãos foram mortos, 4.542 presos e 5.259 sequestrados - incluindo 4.726 na Nigéria -, enquanto 2.110 igrejas ou edifícios cristãos foram atacados.

Coreia do Norte: país com maior número de cristãos perseguidos

O país com o maior número de cristãos perseguidos é a Coreia do Norte, onde o aumento das prisões e o fechamento de um maior número de igrejas, explica Open Doors, também se deve à nova onda de perseguição promovida pela "Lei contra o Pensamento Reacionário" que, entre outras coisas, torna um crime publicar qualquer material de origem estrangeira, inclusive a Bíblia. Seguem a Somália, Iêmen, Eritréia, Líbia. Nações, em sua maioria, fortemente islâmicas e mais intolerantes para com os cristãos, onde, assinala Open Doors, a perseguição se deve à radicalização das sociedades tribais islâmicas, ao extremismo ativo e à instabilidade endêmica. Nestes países a fé cristã tem que ser vivida em segredo e se for descoberta (especialmente se ex-muçulmanos) corre-se o risco de morte. Os lugares mais perigosos do mundo para os cristãos são a Nigéria, o Paquistão, onde há mais violência anti-cristã, o Irã, onde cristãos e igrejas são vistos como ameaças ao regime islâmico e os convertidos ao cristianismo estão expostos a maiores riscos, o Afeganistão e o Sudão. Em Mianmar, por outro lado, mais de 100 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas, esconder ou fugir do país, e o número de casas, lojas e propriedades cristãs destruídas ou atacadas, mais de mil, ressalta a virada autoritária da junta militar, que tem visado certas minorias percebidas como perturbadoras simplesmente porque professam a fé cristã.

Aumentam os sequestros cristãos

O relatório mostra uma diminuição no número de igrejas atacadas ou fechadas, de 5.110 (WWL 2022) para 2.110 (WWL 2023), mas o aumento dos sequestros de 3.829 para 5.259 e isso é preocupante, dos quais quase 5.000 estão na África, principalmente na Nigéria, Moçambique (32) e na República Democrática do Congo (37). Dezenas de milhares de cristãos foram atacados (espancados ou assediados com ameaças de morte) apenas por causa da sua fé; mais de 29.400 casos surgiram no ano passado, enquanto 4.547 casas e 2.210 lojas e empresas foram atacadas. Além da violência, há também o assédio diário aos cristãos, incluindo discriminação no trabalho, falta de acesso à saúde e educação, pressão e ameaças de renunciar à sua fé, negação de alívio de calamidades e excesso de burocracia.

Os governos mais hostis aos cristãos e a "Igreja de refugiados”

Quanto a outras áreas, a liberdade religiosa na América Latina é ameaçada por má governança, criminalidade. A opressão direta do governo contra os cristãos, percebida como vozes da oposição, é generalizada na Nicarágua, Venezuela e Cuba, onde líderes cristãos foram presos mesmo sem julgamento por seu envolvimento em manifestações. O agravamento da situação na Nicarágua vem desde abril de 2018, quando a repressão governamental se intensificou após protestos públicos e a Igreja era um alvo específico, com edifícios danificados, estações de televisão e escolas fechadas, e líderes religiosos expulsos. Nos cerca de 100 países monitorados, a perseguição está aumentando em termos absolutos: existem 76 nações que têm um nível que pode ser definido como alto, muito alto ou extremo. E o número de cristãos que fogem da perseguição, a chamada "igreja de refugiados", está crescendo. No Oriente Médio, por exemplo, há cada vez menos cristãos devido à privação, discriminação e perseguição, e os jovens continuam a emigrar em busca de um futuro melhor. A WWList também dá uma visão geral dos casos de violência e abuso contra as mulheres, o que não é fácil de monitorar, já que em muitos países os relatos são raros, por razões culturais e sociais. Mas de acordo com o Open Doors, com os testemunhos ouvidos, notificou-se 2.126 casos em um ano, aos quais se somam mais de 717 casamentos forçados.

NOTA DA CNBB: A Vida em Primeiro Lugar

CNBB 

CNBB DIVULGA NOTA EM QUE REPROVA INICIATIVA DO GOVERNO FEDERAL DE FLEXIBILIZAÇÃO DO ABORTO

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na manhã desta quarta-feira, 18 de janeiro, uma nota na qual manifesta reprovação a toda e qualquer iniciativa que sinalize para a flexibilização do aborto a exemplo das últimas medidas do Ministério da Saúde, constantes da Portaria GM/MS de nº 13, publicada no último dia 13. 

A portaria permitiu a revogação de outra portaria que determina a comunicação do aborto por estupro às autoridades policiais. A Nota da CNBB pede esclarecimento do Governo Federal considerando que a defesa do nascituro foi compromisso assumido em campanha e também sobre a desvinculação do Brasil com a Convenção de Genebra.

No documento, a CNBB reitera que “a hora pede sensatez e equilíbrio para a efetiva busca da paz e reforça que é preciso lembrar que qualquer atentado contra a vida é também uma agressão ao Estado Democrático de Direito e configura ataques à dignidade e ao bem-estar social”. Confira, abaixo, a íntegra do documento e aqui a nota em PDF. 

A VIDA EM PRIMEIRO LUGAR

Nota da CNBB

“Diante de vós, a vida e a morte. Escolhe a vida!” (cf. Dt 30,19)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não concorda e manifesta sua reprovação a toda e qualquer iniciativa que sinalize para a flexibilização do aborto. Assim, as últimas medidas, a exemplo da desvinculação do Brasil com a Convenção de Genebra e a revogação da portaria que determina a comunicação do aborto por estupro às autoridades policiais, precisam ser esclarecidas pelo Governo Federal considerando que a defesa do nascituro foi compromisso assumido em campanha.

A hora pede sensatez e equilíbrio para a efetiva busca da paz. É preciso lembrar que qualquer atentado contra a vida é também uma agressão ao Estado Democrático de Direito e configura ataques à dignidade e ao bem-estar social.

A Igreja, sem vínculo com partido ou ideologia, fiel ao seu Mestre, clama para que todos se unam na defesa e na proteção da vida em todas as suas etapas – missão que exige compromisso com os pobres, com as gestantes e suas famílias, especialmente com a vida indefesa em gestação.

Não, contundente, ao aborto!

Possamos estar unidos na promoção da dignidade de todo ser humano.

Brasília-DF, 18 de janeiro de 2023

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-Presidente da CNBB

Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá (MT)
Segundo Vice-Presidente da CNBB

Dom Joel Portella Amado

Bispo auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

MORAL: O falso drama dos pseudoescrupulosos (2/6)

O falso drama dos pseudoescrupulosos | Presbíteros

O falso drama dos pseudoescrupulosos

Por Pe. José Eduardo Oliveira e Silva

A CONFISSÃO E OS (PSEUDO) ESCRUPULOSOS

O que faz uma pessoa se apresentar com trinta páginas escritas em letra miúda, frente e verso, dizendo que quer fazer uma nova confissão geral, pois a que fez na última semana teria sido inválida? O que a faz, na semana seguinte, chegar com vinte novas folhas, do mesmo modo escritas, alegando serem apenas de pecados esquecidos?

De fato, não é o escrúpulo. É a ignorância presunçosa.

O escrúpulo caracteriza-se por um medo do pecado e pela desorientação de uma consciência flutuante, que necessita de ajuda para sair da insegurança, para entender a moralidade dos próprios atos.

As pessoas acima descritas são, ao contrário, munidas de muita segurança: querem confessar cada pecado cometido na vida passada e chegam a passar duas horas aos pés de um padre, muitas fazes fazendo leituras apressadas e até mesmo explicando e repetindo coisas já ditas.

Ora, tais comportamentos se devem apenas à falta de conhecimento da doutrina católica a respeito do modo de confessar-se.

O Concílio de Trento estabeleceu que a confissão dos pecados deve ser pela “espécie” e pelo “número” (De Sacramento Paenitentiae, cc. 7-8 in DS 1707-1708). A mesma referência é tomada na atual Instrução Geral para o Sacramento da Penitência, n. 7. Veja-se também o Catecismo da Igreja Católica, nn. 1456 e 1497).

Deixe-me dar um exemplo hipotético: “Padre, quando eu tinha 19 anos, eu me envolvi com uma moça e fui à sua casa, permaneci duas horas sozinho com ela… Então, começou a surgir um clima entre nós e ela começou a me seduzir. Daí etc. etc.”. Este modo de se acusar está completamente errado e é abusivo. Não interessa ao padre, no caso, um conto erótico. Bastaria dizer: “Cometi um pecado de fornicação (completa ou incompleta)”, esta é a espécie moral.

Estaria igualmente errado alguém confessar os seus pecados pelo “gênero” dos mesmos. Por exemplo, “pequei contra a castidade”. Quantas espécies de pecados contra a castidade existem? Adultério, masturbação, pornografia, fornicação, concubinato, atos homossexuais, etc. Muitos! É nas espécies que se deve confessar, não no gênero nem nos atos individuais.

O Concílio de Trento estabelece, também, que se deve mencionar as “circunstâncias” que podem mudar a espécie do ato. Por exemplo, se uma pessoa diz “padre, cantar é pecado?”, a resposta seria obviamente que “em si, não”. Contudo, se a pessoa cantasse uma música profana para atrapalhar um ato de culto, isso alteraria a espécie moral: a pessoa não estaria propriamente cantando, o culto não seria uma mera circunstância, pois, ao fazê-lo, estaria “interrompendo um ato de culto”, esta é espécie moral.

Portanto, as circunstâncias que interessam são apenas as relevantes para a determinação da espécie do ato. Por exemplo, se uma pessoa diz que cometeu fornicação, mas foi com uma pessoa consagrada, essa “circunstância” alteraria a moralidade do ato, pois, ao invés de cometer apenas uma fornicação, cometeria também um pecado de sacrilégio. No entanto, se isso aconteceu à meia-noite ou ao cantar do galo, estas já não são circunstâncias relevantes.

A distinção numérica, por sua vez, precisaria ser o quanto mais exata possível. Obviamente, isso nem sempre é fácil. No entanto, essa acusação pode ser tanto por ato individual quanto por período.

Exemplificando: seria tão correto dizer “eu disse dez mentiras” como dizer “durante os últimos cinco meses, eu disse cerca de uma mentira a cada quinze dias”. Aqui, mais uma vez, se a mentira, por exemplo, fosse para um padre dentro do sacramento da confissão, essa circunstância alteraria a moralidade do ato, pois não seria apenas uma mentira, mas um sacrilégio que invalidaria a confissão e se constituiria num pecado moral a mais.

Ou exemplo: “durante dez anos de minha vida, faltei todos os domingos à missa”. Pronto! O

pecado está confessado tanto na espécie quanto no número.

Quando uma pessoa confessa os pecados por espécie e por número não consegue encher facilmente tantas folhas… Isso é apenas fruto da ignorância presunçosa. Não é escrúpulo nem muito menos delicadeza de consciência. É tão somente ignorância.

Aconselho aos colegas padres que, em acontecendo tais coisas, mandem a pessoa de volta para casa, após darem essa explicação acima, a fim de que façam uma redução dos pecados à sua espécie e ao seu número. Deste modo, não cooperamos com a ignorância. Ao contrário, ajudamos essas pessoas, muitas vezes egoístas e inoportunas, a ganharem virtudes e a se corrigirem diante de Deus.

Fonte: https://presbiteros.org.br/

As cartinhas de “Nennolina”

Antonietta Meo | 30Giorni
Arquivo 30Dias  - 05/2010

As cartinhas de “Nennolina”

Era uma menina de Roma que morreu em 1937 com seis anos de idade de um tumor. Poderá se tornar a santa mais jovem, não mártir, na história da Igreja. Eis a história da sua vida.

de Stefania Falasca

“Existirão santos entre as crianças!” exclamou S. Pio X quando abriu a eles os tabernáculos eucarísticos, antecipando a idade para receber o sacramento da comunhão. Mas talvez não imaginava que isso aconteceria tão cedo. “Caro Jesus eucaristia, estou muito, mas muito contente por teres vindo ao meu coração. Nunca vás mais embora do meu coração, fica sempre, sempre comigo. Jesus, eu te amo tanto, eu quero me abandonar nos teus braços, faze de mim o que quiseres. [...] Ó Jesus amoroso, dá-me almas, muitas almas!”. Quem escreve é uma criança. Uma criança de apenas seis anos. A grafia e os erros são os de quem aprendeu há pouco pegar o lápis na mão. Chama-se Antonietta Meo e para os familiares: Nennolina. Quando escreveu esta cartinha endereçada ao seu “caro Jesus”, já tinha recebido há pouco tempo a sua primeira comunhão e a doença que há muito tempo a martirizava já lhe custara a amputação de uma perna. Morreu em Roma três meses depois de câncer nos ossos. Era o dia 3 de julho de 1937. Nennolina tinha apenas seis anos e meio. Mesmo assim conversões e graças acompanharão a sua morte. Bilhetinhos de orações e de agradecimentos cobrirão o seu túmulo no cemitério de Verano em Roma. Depois de apenas um ano da sua morte foram publicadas duas biografias. A fama de santidade de Nennolina difundiu-se tão espontânea e imediatamente que ultrapassou não apenas as fronteiras da sua paróquia, Santa Cruz de Jerusalém, como também as fronteiras de Roma e da Itália. Já em 1940, sua biografia foi publicada em línguas estrangeiras, até em armênio. O processo de beatificação foi aberto em 1942 e a fase diocesana foi concluída em 1972. Mas exatamente pelo motivo da idade, encontrando-se no limite da idade considerada a da razão, criou perplexidades aos que examinaram o seu caso e houve não poucas dificuldades no desenvolvimento do processo. Mesmo se nenhuma lei canônica determina, com efeito, os limites de idade para instituir o processo de beatificação, apenas em 1981, através da Declaração da Sagrada Congregação pelas Causas dos Santos, a Igreja reconheceu plenamente que também as crianças podem cumprir atos heróicos de fé, esperança e caridade, e portanto podem ser elevadas às honras dos altares.
Está para ser aberta uma fundação chamada Antonietta Meo na paróquia de Santa Cruz de Jerusalém. E, exatamente daqui, na Basílica que conserva as relíquias da Paixão de Cristo, brevemente serão transladados os seus restos mortais. Se o processo se desenvolver sem empecilhos, esta menina romana logo será a santa mais jovem, não mártir, elevada às honras dos altares, a mais jovem na história da cristandade.

As cartinhas ao “caro Jesus”
Antonietta nasceu dia 15 de dezembro de 1930 numa família de classe média de Roma. A casa da família Meo está a poucos passos de Santa Cruz de Jerusalém. Margherita, sua irmã mais velha, nos mostra as fotografias de Nennolina: cabelos cortados à pajem e dois risonhos olhos negros, com um baldinho e pá, na praia, brincando com outras crianças... Numa outra fotografia está num barquinho do lago da Villa Borghese, parque de Roma, numa outra sorri fantasiada no carnaval... “Minha irmã”, lembra, “era uma menina alegre, vivaz e travessa, como são as crianças naquela idade”. Aos três anos, em outubro de 1933, foi matriculada no Colégio das irmãs ao lado da sua casa. “Frequentava com prazer”, conta a irmã, “e muitas vezes quando brincávamos juntas me dizia: ‘Eu me divirto muito no Colégio... iria até à noite!’. Logo afeiçoou-se à professora e as irmãs diziam à minha mãe: ‘É um movimento perpétuo! Mas é muito esperta e aprende logo. É uma menina madura para a sua idade’”. Ainda não tinha feito cinco anos quando seus pais notaram que o seu joelho esquerdo estava muito inchado e pensaram que fosse uma das suas costumeiras quedas. Depois de alguns diagnósticos e tratamentos errados, chegou a sentença: osteossarcoma. No dia 25 de abril de 1936, foi-lhe amputada a perna. O choque foi grande. Porém, mais para os pais do que para Antonietta, que, depois do primeiro período, apesar da operação e das dificuldades provocadas pelo aparelho ortopédico, continuou a sua vida de sempre: as brincadeiras, a escola. Os seus pais, com a grande satisfação da menina, decidiram antecipar a data da sua primeira comunhão e assim, todas as noites, sua mãe começou a ensinar-lhe um pouco de catecismo. E a partir deste momento Antonietta começou inicialmente a ditar para sua mãe e depois a escrever as suas cartinhas que todas as noites colocava sob a estatueta do Menino Jesus, aos pés da sua cama, “para que ele durante a noite viesse ler”. “Começou por brincadeira”, assim testemunhou sua mãe durante o processo, “quando sugeri a Antonietta que escrevesse uma cartinha à madre superiora das irmãs do seu colégio solicitando a permissão para fazer a primeira comunhão na capela do Colégio na noite de Natal. Depois disso, muitas vezes à noite, depois de ter rezado a oração ao anjo da guarda, Antonietta se acostumou a ditar suas “poesias” (assim ela as chamava). As primeiras eram para mim, depois para seu papai e Margherita, e enfim para Jesus e Nossa Senhora. Eu pegava a primeira folha que encontrava e ficava escrevendo tudo o que ela ditava, sorrindo, indulgente ao que me ditava com tanta simplicidade e segurança”.
A sua primeira cartinha é do dia 15 de setembro de 1936: “Caro Jesus, hoje vou sair para passear, depois vou até a casa das irmãs do meu Colégio e direi a elas que quero fazer a primeira comunhão no Natal. Jesus vem logo no meu coração que eu te abraçarei com muita força e te darei um beijo. Ó Jesus, quero que tu fiques sempre no meu coração”. E depois de alguns dias, “Caro Jesus, eu gosto muito de ti, quero repetir que gosto muito de ti. Dou-te o meu coração. Querida Nossa Senhora, tu és tão boa, pega o meu coração e leva-o até Jesus”. Mas ela tinha também algo que realmente não era normal para uma menina de cinco anos: “Meu bom Jesus, dá-me algumas almas, mas dá-me muitas, de boa vontade te peço para que as faças tornarem-se boas e para que possam vir junto a ti no Paraíso”. E isso Antonietta repetia muitíssimas vezes.
“Via que a menina sabia expressar-se muito mais do que esperava. Mas creio que seja inútil dizer”, esclarece a mãe, “que na nossa casa não se dava a menor importância a estas cartinhas que eram deixadas de lado sem cuidado e muitas delas foram perdidas para sempre”. Este descuido da mãe é confirmado pela irmã de Antonietta. “Minha mãe”, lembra, “era uma mulher reservada, prudente, concreta, uma mulher com os pés na terra, não era por nada do tipo sentimental ou crédula. Quando havia algum entusiasmo excessivo, ela logo cortava: “Olha, eu só acredito nos santos quando são canonizados pela Igreja”. Fazia questão de minimizar os elogios que eram feitos a Antonietta, e não gostava quando falavam dela idealizando-a. Lembro que, logo depois da morte da minha irmã, um sacerdote fez uma conferência na rádio sobre o sentido do sofrimento e falou também de Antonietta. Minha mãe não gostou nem um pouco. Ao contrário, comentou que se tratava de enganos e exageros. Disseram que Antonietta declamava o seu amor a Jesus com amplos gestos... ‘O que é isso? Nunca!’ respondia mamãe. Disseram que Jesus foi a primeira palavra pronunciada por Antonietta. E ela: ‘Não. Mamãe, ela disse mamãe! Como todas as crianças’”.

A Basílica de Santa Cruz de Jerusalém em Roma na década de 1930. Era a paróquia de Antonietta Meo | 30Giorni

“Conserva-me sempre a tua graça”
Logo que Nennolina aprendeu a escrever, frequentando o primeiro ano da escola elementar, ela mesma quis colocar a sua assinatura: “Antonietta e Jesus”. “Meu caro Jesus, hoje aprendi a escrever a letra ‘O’, por isso logo escreverei eu mesma para ti”. Antonietta se dirige a Jesus e Maria com ternura confidencial. As suas cartinhas terminam sempre com abraços, carícias, beijos dirigidos aos seus destinatários celestes. E desta carinhosa confidência são testemunhas também as irmãs, por terem visto várias vezes a menina antes de sair da igreja aproximar-se do tabernáculo e exclamar: “Jesus, vem brincar comigo!”. Escreveu isso também nas suas cartinhas desejando tê-lo sempre próximo: “Caro Jesus, amanhã vem a escola comigo”.
Nos meses que a separam da noite de Natal, as suas cartinhas expressaram todo o seu amor por Jesus e o seu apaixonado desejo de recebê-lo no seu coração. Repete continuamente o mesmo pensamento, chega a contar os dias, as horas, os minutos. A forma das cartinhas é repetitiva e os pensamentos procedem em partes, separados, como acontece no modo das crianças se expressarem, mas sob a forma infantil, o pensamento não é banal, jamais pueril. Às vésperas da primeira comunhão, dita assim à sua mãe: “Caro Jesus, amanhã quando estiveres no meu coração, faz de conta que a minha alma é uma maçã. E, como na maçã existem as sementes, dentro da minha alma, faze que na minh’alma exista um armarinho. E, como sob a casca preta da semente há a semente branca, faze com que dentro do armário esteja a tua graça, que seria como a semente branca”. A estas alturas a sua mãe a interrompe: “’Mas Antonietta, o que você está dizendo! O que significa este dentro, que está dentro? O que quer dizer?’ Tentei em vão dissuadi-la. Enfim Antonietta me explicou: ‘Mamãe, escuta: faz de conta que a minha alma seja uma maçã. Dentro da maçã, há aqueles pontinhos pretos que são as sementes. Depois, dentro da casca da semente há aquela coisa branca? Pois bem, faz de conta que aquela seja a graça’”. “Achei”, continua a mãe, “que a comparação, que eu não conhecia, era profunda, mas não quis me dar por vencida e por isso insisti: ‘Mas quem disse essas coisas para você? A professora na escola mostrou a maçã, para explicar...’. ‘Não, mamãe’, respondeu tranqüilamente, ‘não foi a professora que disse, fui eu que pensei assim’. Depois completou o seu pensamento: ‘Jesus, faz que esta graça fique para sempre, para sempre comigo’”.
Naquela noite de Natal, embora o aparelho ortopédico lhe causasse muitas dores, os que estavam presentes viram que ela no final da missa permaneceu por mais de uma hora ajoelhada, parada, com as mãozinhas juntas.

“Sem a tua graça, nada posso fazer”
Antonietta escreveu 105 cartinhas para Jesus, outras elas endereçou a Maria, a Deus Pai, ao Espírito Santo, uma a Santa Inês e uma a Santa Teresa do Menino Jesus. A Jesus pediu sempre a ajuda da sua graça: “Hoje não me comportei bem, mas tu, bom Jesus pega esta tua menina no colo...”; “mas ajuda-me, pois sem a tua ajuda não posso fazer nada”; “ajuda-me com a tua graça, ajuda-me, pois sem a tua graça nada posso fazer”; “peço-te, bom Jesus, conserva-me sempre a graça da alma”. A Ele e à Sua mãe não deixará de pedir graças pelos que lhe estão próximos, por todos os que pedem a suas orações e pelos pecadores: “Peço ajuda para aquele homem que fez tanta maldade; peço ajuda para aquele pecador que sabes quem é, que está tão velho e que está no Hospital São João”.
“Eis a obra admirável de Deus!”, escreve padre Pierotti comentando as cartinhas, ele que por primeiro organizou a edição: “A graça de Deus escolhe as almas que quer [...]. Somente assim podem ser explicadas as frases, as brincadeiras, os comportamentos, toda a vida de Nennolina”.
“Realmente o Senhor ludit in orbe terrarum”, exclamou o futuro Paulo VI, substituto junto à Secretaria de Estado, ao ler a biografia e as cartas de Antonietta Meo, “e, agindo nas almas pelas vias mais misteriosas, conceda que muitos penetrem, através da leitura da vida desta menina que não tem nem sete anos, no mistério daquela sabedoria, que se esconde aos soberbos e se revela aos pequenos”.
No mês de maio Antonietta recebeu a crisma. Já tinham chegado os últimos dias da sua vida. A sua mãe conta assim: “Depois da crisma, Antonietta começou progressivamente a piorar. A asfixia e a tosse não lhe davam trégua. Não conseguia mais nem ficar sentada e foi obrigada a ficar de cama. Via-se que sofria, mas a todos, até mesmo a mim, dizia sempre: ‘Estou bem!’ Algumas vezes com dificuldade, mas quis sempre rezar as suas pequenas orações pela manhã e pela noite. Depois pediu para que o sacerdote lhe trouxesse a comunhão todos os dias, e as horas que seguiam a comunhão eram sempre as mais calmas [...] Quando se sentia melhor logo queria ditar uma das suas cartinhas”. A última é do dia 2 de junho. E foi esta carta que terminou nas mãos do Papa Pio XI. Assim recorda a sua mãe: “Sentei ao lado da sua cama e escrevi o que Antonietta com dificuldade me ditava. ‘Caro Jesus crucificado, eu gosto muito de ti e te amo tanto! Eu quero estar contigo no Calvário. Caro Jesus, dize ao Santo Pai que amo muito a ele também. Caro Jesus dá-me tu a força para suportar estas dores que te ofereço pelos pecadores’”. “Nestas alturas”, disse sua mãe, “Antonietta teve um violento ataque de tosse e de vômito e, logo que cessou quis recomeçar igualmente a ditar: ‘Caro Jesus, dize ao Espírito Santo que me ilumine de amor e que me cubra com os seus sete dons. Caro Jesus, dize a Nossa Senhora que a amo muito e quero estar próxima a ela. Caro Jesus quero repetir que te amo muito, muito. Meu bom Jesus recomendo a ti o meu pai espiritual e dá-lhe as graças necessárias. Caro Jesus, recomendo a ti os meus pais e Margherita. A tua menina te manda muitos beijos...’. Improvisamente me senti dominada por uma impetuosa rebeldia ao ver o quanto sofria e num impulso de raiva amassei aquela folha e a joguei numa gaveta. Alguns dias depois”, conta, “o professor Milani, médico primário pontifício, veio visitar Antonietta, chamado pelo doutor Vecchi para uma consulta. Disse que a menina estava muito mal e que deveria ser levada para um hospital para ser novamente operada. O professor ficou falando com a menina e surpreendeu-se pelas dores que Antonietta suportava sem se queixar. Meu marido falou-lhe sobre as cartinhas que escrevia. Ele pediu para ver a última e eu não tive coragem de recusar. Peguei a cartinha de onde a tinha jogado naquele dia e mostrei-lhe. Depois de lê-la, disse que queria falar de Antonietta ao Santo Padre e pediu permissão para levar a carta. Respondi com hesitação: ‘Mas... não sei... se...’. ‘Mas senhora’, disse, ‘trata-se do Papa!’.
No dia seguinte um carro do Vaticano parou na frente da nossa casa. Um delegado enviado especialmente pelo Santo Padre Pio XI viera trazer à menina a bênção apostólica. Disse-nos que Sua Santidade ficara muito comovido ao ler a cartinha. Deixou para nós um cartão do professor Milani no qual pedia a Antonietta que se lembrasse dele diante do Senhor e para implorar a ele aqueles dons que ela pedira para si”.
No dia 12 de junho Antonietta piorou. Respirava com dificuldade. Extraíram líquido dos seus pulmões. No dia 23 fizeram a ressecção de três costelas com anestesia local, devido às suas precárias condições gerais. Conta sua mãe: “Não posso falar do sofrimento daquele pequeno corpo supliciado. Naquele dia, contendo com força as lágrimas, disse-lhe: ‘Verás, minha menina... logo que melhorares, iremos em férias, vamos para a praia... tu gostas tanto do mar... poderás também tomar banho, sabes?....’. Ela olhou... e com ternura me disse: ‘Mamãe fique feliz, fique contente... Eu irei embora daqui a dez dias, menos alguma coisa’”. A mãe não sabia que Antonietta lhe dizia exatamente o dia e a hora em que morreria.
Nos dias que seguiram, com um força surpreendente, continuou a sorrir também para as enfermeiras que vinham medicar-lhe as feridas, apesar da metástase já ter invadido e devastado quase todo seu pequeno corpo, apesar da massa tumorosa ter lhe comprimido o peito a ponto de ter provocado o deslocamento do coração. No processo todos testemunharam perplexidade diante da sua extraordinária serenidade. Sua mãe chegou até mesmo a duvidar de que a menina sofresse: “Fui ao médico, e disse-lhe: ‘Doutor, eu não acredito... me diga a verdade, me diga realmente... Antonietta sofre muito?’. ‘Mas senhora, o que quer dizer com isso! Não duvide por nada! As dores são atrozes’. Voltei para a sua cama... não consegui disfarçar a voz, pela primeira vez eu lhe disse: ‘Antonietta, abençoa a tua mamãe... Antonietta, abençoa a tua mãe’. Fazendo um esforço ela marcou na minha fronte uma cruz com a mão”.

A Basílica de Santa Cruz de Jerusalém em Roma na década de 1930. Era a paróquia de Antonietta Meo | 30Giorni
“... que sorri deslizando no sono”
Durante o processo seu pai assim testemunhou: “Um dia, quando piorou muito, pedi que fosse dada a extrema unção à minha menina. Perguntei a Antonietta: ‘Tu sabes o que é o óleo santo?’. ‘O sacramento que é dado aos enfermos’ respondeu. Porém, como não queria agitá-la, acrescentei: ‘Algumas vezes traz saúde ao corpo...’. Antonietta recusou-se. ‘É muito cedo’ disse, e eu não insisti. Mas quando mais tarde o sacerdote lhe disse que o óleo santo aumenta a graça, Antonietta que ouvia atentamente respondeu: ‘Sim, eu quero’. Respondeu com tranquilidade a todas as orações, rezou o ato de arrependimento, depois deu as suas mãozinhas abertas para que o sacerdote as ungisse... Beijou com carinho o crucifixo da sua primeira comunhão. Tudo se deu com simplicidade e paz”.
No dia seguinte um pequeno caixão branco foi transportando no meio de uma multidão comovida na Basílica de Santa Cruz de Jerusalém. Naquela mesma Basílica das relíquias da Paixão de Jesus, na qual, apenas seis anos antes, Nennolina fora batizada. Aquele, era o dia 28 de dezembro de 1930. O dia dos Santos Inocentes.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF