Translate

sábado, 18 de outubro de 2025

Escalas de trabalho podem afetar os rins, conclui pesquisa

x. Além de dor intensa, os cálculos nos rins estão ligados ao risco aumentado de insuficiência renal crônica e a doenças cardiovasculares - (crédito: Divulgação)

Estudo com mais de 226 mil pessoas indica que turnos irregulares aumentam em 22% o risco de formação de cálculos, uma das doenças urológicas mais comuns. Funcionários noturnos também são prejudicados.

Por Paloma Oliveto

postado em 17/10/2025 05:30

Trabalhar em escalas aumenta em 15% o risco de desenvolver cálculo renal, a famosa pedra nos rins, comparado a quem mantêm uma rotina laboral regular. Entre os que atuam frequentemente em turnos alternados ou noturnos, como profissionais das áreas de segurança, medicina e transporte, a chance é ainda maior: 22%. A conclusão é do maior estudo já realizado sobre saúde ocupacional e doenças renais, que incluiu dados de 226 mil pessoas, acompanhadas por 14 anos. 

Também conhecido como nefrolitíase, o cálculo renal é uma das doenças urológicas mais comuns, com prevalência que varia de 1% a 13% da população mundial. Embora geralmente curável, metade dos pacientes sofre recorrência em até 10 anos. Além da dor intensa, o problema está ligado ao risco aumentado de insuficiência renal crônica e doenças cardiovasculares. Também é uma das principais causas de afastamento do trabalho. 

No Brasil, estima-se que cerca de 10% dos adultos sofram ao menos um episódio de cálculo ao longo da vida, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e, segundo dados do Ministério da Saúde, o número de internações hospitalares associadas ao problema tem aumentado anualmente. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que cerca de um em cada cinco trabalhadores no mundo realiza algum tipo de trabalho em turnos; a estimativa nacional mais recente, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de que 6,9 milhões exerçam suas funções laborais em horários atípicos. 

Hormônios

Os autores do estudo, da Universidade Sun Yat-sen, na China, explicam que a exposição contínua a horários irregulares, principalmente à noite, afeta o ritmo circadiano (o relógio biológico), o metabolismo e a secreção hormonal, fatores que repercutem na função renal. Estudos anteriores já haviam apontado que trabalhadores noturnos são mais propensos a obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares, condições que também favorecem o desenvolvimento de cálculos. 

Segundo o urologista Irineu Neto, da Amplexus Saúde Especializada, o ciclo circadiano regula funções essenciais do rim, como a filtração glomerular, a reabsorção de eletrólitos e a concentração urinária. Quando uma pessoa trabalha à noite ou no esquema de escalas, há uma desorganização desse sistema, com consequências diretas no órgão. Entre elas, a alteração na secreção do hormônio antidiurético (ADH). "O organismo tende a concentrar mais a urina durante o turno noturno, aumentando o risco de supersaturação urinária e precipitação de cristais", explica.

Neto também diz que interrupções no ciclo circadiano promovem mudanças no metabolismo de cálcio, fosfato e ácido úrico, com aumento da excreção de sais que participam da formação de cálculos. "Além disso, há maior estresse oxidativo e inflamação renal, o que prejudica os mecanismos protetores das células tubulares contra a cristalização. Assim, o desalinhamento do relógio biológico com o ciclo claro-escuro favorece o acúmulo de cristais e a formação de cálculos renais."

Estilo

O estilo de vida pode justificar parte da associação encontrada na pesquisa, publicada na revista Mayo Clinic Proceedings. Até 22% do efeito do trabalho em turnos sobre o risco renal está associado ao aumento do peso corporal. Tabagismo e sono inadequado respondem, cada um, por cerca de 6%. Por outro lado, a ingestão de líquidos — especialmente água, chá e café — demonstrou papel protetor, reduzindo a chance de cálculo nos rins em quase 18%.

Os autores do estudo argumentam que os impactos do turno irregular vão além do desequilíbrio do relógio biológico. "Fumar, dormir mal, permanecer longos períodos sentado e ter índice de massa corporal elevado foram identificados como mediadores importantes da relação entre trabalho em turnos e formação de cálculos renais", escreveram Man He e Yin Yang, principais autores do artigo. 

O estudo usou estatísticas do UK Biobank, um banco de dados britânico que reúne informações genéticas, clínicas e comportamentais de meio milhão de voluntários. Foram excluídas as pessoas que já tinham histórico de cálculo renal, totalizando 226.459 participantes empregados ou autônomos, com idades entre 37 anos e 73 anos no início da pesquisa. Durante o período de acompanhamento — de 2006 a 2023 — 2.893 deles desenvolveram nefrolitíase. 

Sedentarismo

Os efeitos foram observados mais em profissionais com menos de 50 anos e que realizam atividades de baixo esforço físico. "Aparentemente, a menor ingestão de líquidos entre trabalhadores com atividades sedentárias ajuda a explicar esse resultado", observa o artigo.

Para Yin Yang, epidemiologista e coautor do estudo, os resultados reforçam a necessidade de políticas de saúde voltadas a trabalhadores com horários não convencionais. "Nossas descobertas indicam que o trabalho em turnos deve ser considerado um fator de risco para cálculos renais. É preciso promover estilos de vida saudáveis nesse grupo, incluindo hidratação adequada, manutenção do peso, sono regular e redução do sedentarismo e do tabagismo", destaca o pesquisador.

"Os resultados do estudo destacam a necessidade de explorar iniciativas que busquem remediar os fatores de risco para cálculos renais, incluindo maior flexibilidade nos horários de trabalho", acredita Felix Knauf, da Divisão de Nefrologia e Hipertensão da Clínica Mayo, em Rochester, que escreveu um editorial sobre a pesquisa. Knauf cita, entre outras iniciativas, o incentivo a check-ups regulares com exames renais simples, como ultrassonografia; a promoção de campanhas sobre hidratação e controle de peso, e a oferta de ambientes de descanso apropriados. 

Os autores do artigo concordam que pequenas mudanças podem reduzir significativamente o risco de pedra nos rins. "Nossos resultados indicam que intervir em fatores modificáveis, como peso corporal e hábitos de sono, pode evitar uma parcela considerável dos casos de cálculo renal entre trabalhadores em turnos", escreveram. "Cuidar do corpo e respeitar o ritmo biológico é essencial — mesmo quando o relógio insiste em dizer o contrário."

Quatro perguntas para...

Rafael Buta, urologista, especialista em cirurgia robótica da Clínica Veridium 

De que forma a alteração do ritmo circadiano pode favorecer o acúmulo de cristais nos rins?

O trabalho em turnos, especialmente o noturno, desregula nosso relógio biológico (ritmo circadiano). Essa alteração impacta o metabolismo e pode levar à obesidade, elevando os níveis de cálcio no organismo. O excesso de cálcio na urina é um dos principais componentes da maioria dos cálculos. Além disso, a desregulação circadiana causa estresse oxidativo e inflamação, que estão envolvidos diretamente na formação de cristais de oxalato de cálcio nos rins, aumentando o risco de cálculos.

De que modo fatores como sono inadequado e sedentarismo influenciam o risco de doença renal a longo prazo?
Com o tempo, o sono inadequado eleva o estresse oxidativo e a inflamação no corpo, processos que facilitam a formação de cristais nos rins. Já o sedentarismo prolongado pode desencadear a síndrome metabólica, que é um conhecido fator de risco para o desenvolvimento de cálculos renais. Ambos afetam o equilíbrio do corpo, tornando-o mais propenso a essa condição.

O consumo de café ou chá, comuns em quem trabalha à noite, pode contribuir positivamente para a hidratação?

O estudo sugere que o consumo de café pode estar associado a uma menor incidência de cálculos renais, mesmo considerando seu teor de oxalato. Café, chá e água são contabilizados na ingestão total de líquidos. Manter uma boa hidratação ajuda a diluir a urina e a eliminar cristais, reduzindo o risco de formação de pedras nos rins. Portanto, essas bebidas podem, sim, contribuir positivamente para a hidratação.

Que medidas preventivas poderiam ser implementadas em empresas com regimes noturnos?

Empresas com regimes noturnos podem promover hábitos saudáveis. Isso inclui oferecer horários de trabalho flexíveis para minimizar a desregulação circadiana e implementar programas educativos focados em: manejo do peso, aumento da ingestão de líquidos, bons hábitos de sono, redução do sedentarismo e abandono do tabagismo. Incentivar uma alimentação equilibrada também é fundamental. (PO)

Hábitos protetores

O urologista Irineu Neto ensina como reduzir o risco de cálculos renais: 

1. Hidratação: as diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomendam que adultos ingiram uma média de 2,5l a 3l de líquidos diários; 

2. Manter rotina de sono regular, mesmo nos dias de folga, e dormir em ambiente escuro e silencioso;

3. Reduzir o consumo de sal (menos de 5g/dia) e de proteína animal, pois aumentam a excreção de cálcio e ácido úrico;

4. Evitar bebidas açucaradas e energéticos, muito usados em turnos, que favorecem a litogênese;

5. Consumir frutas ricas em citrato, como limão e laranja, que inibem a cristalização;

6. Urinar com frequência, evitando longos períodos de retenção;

7. Manter peso corporal adequado e praticar atividade física regularmente.

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2025/10/7272352-escalas-de-trabalho-podem-afetar-os-rins-conclui-pesquisa.html

TEOLOGIA: Introdução à História da Teologia Ortodoxa (Parte 3/3)

Igreja Ortodoxa (FASBAM)

TEOLOGIA

Introdução à História da Teologia Ortodoxa

Capítulo 10 da Obra «Os Grandes Teólogos do Século Vinte» - Vol. 2 - Os Teólogos protestantes e ortodoxos.

Battista MONDIN

Teólogo católico

Os estudiosos não estão de acordo sobre a divisão da história da teologia ortodoxa. Segundo Jugie, não existem na teologia oriental escolas teológicas e sistemas que possam oferecer um “fundamentum divisionis”[1]. Segundo outros estudiosos, ao contrário, há razões de tempo, lugar e outros gêneros que justificam sua divisão em dois ou mais períodos. Também somos dessa opinião, parecendo-nos justo dividir toda a história bimilenar da teologia oriental em sete grandes períodos.

VII. O Renascimento Moderno (séculos XIX-XX)

Nos séculos XIX e XX, a teologia ortodoxa se renova sobretudo em duas nações, Grécia e Rússia. Neste último país, nem mesmo a revolução bolchevique, com todas as suas dolorosas consequências para a Igreja, conseguiu impedir o grande florescimento teológico em curso no início do nosso século, ainda que tenha obrigado quase todos os mais insignes cultores da ciência sagrada a buscarem refúgio no exterior, pois eles reconstituíram em Paris e Nova York dois centros de teologia ortodoxa dotados de uma prodigiosa vitalidade.

Podemos dividir a história contemporânea da teologia ortodoxa em três partes: russa, grega e da Diáspora. Vamos examiná-las uma por uma, começando pela russa.

1. O renascimento russo

No início do século XIX, o epicentro da teologia ortodoxa desloca-se de Kiev para Moscou. A faculdade de teologia da capital começa a ascender durante o patriarcado de Filarete Drozdov (+ 1867).

As principais causas do renascimento foram duas: um maior contato com as fontes bíblicas e patrísticas (em 1812, foi fundada a Sociedade Bíblica Russa) e a introdução da língua russa em lugar do latim. Com o desaparecimento do latim, decai também a influência escolástica.

Os maiores artífices da renovação antes da Revolução Russa foram quatro: o metropolita Macário, Khomiakov, Svetlov e Soloviev.

O metropolita Macário (o seu nome de nascimento era Mikhail Petrovic Bulgakov) é o autor de uma famosa História da Igreja Russa em doze volumes e de uma Teologia Dogmática Ortodoxa, sendo que esta última chegou a ser premiada pela Academia de Ciências de Moscou. Ela é considerada por N. Glubokovski, um historiador da teologia russa, como “uma grandiosa tentativa de classificação científica do material teológico acumulado no passado”[9]. A obra foi adotada não só como manual para a formação de padres ortodoxos na Rússia, mas também como critério de ortodoxia. Com efeito, as posições de Macário correspondiam exatamente às do Santo Sínodo de Moscou no rígido conservadorismo, na interpretação literal da Escritura, no tom apologético e numa forte intolerância para com as outras confissões. Por esse motivo, além da escassa originalidade da obra, os teólogos russos deste século julgam-na bem menos favoravelmente do que seus colegas do século passado[10].

Enquanto o metropolita Macário é o expoente máximo da teologia “oficial”, Alexis Khomiakov (+ 1860) é o teólogo mais representativo do movimento eslavófilo. Esse movimento nasceu como reação contra a ocidentalização da intelectualidade. Para combater esta ocidentalização os “eslavófilos” recorriam ao velho mito do messianismo russo e ao pan-eslavismo religioso, rujas raízes haviam penetrado na consciência nacional desde os tempos dos grandes tzares do século XVI.

Teórico e teólogo do “eslavofilismo”, Khomiakov afirma que a antropologia, a sociologia e a teologia orientais estão separadas do “racionalismo cristão” do Ocidente por uma oposição radical. Contra o caráter jurídico dos latinos, exalta a Sobornost’ eslava. A nova eclesiologia de que ele é fundador baseia-se toda na ideia da comunidade unânime de todos os fiéis, isto é, a Sobornost’. Em sua opinião, é nela que residem a unidade e a infalibilidade da Igreja. Consequentemente, não pode haver nenhuma diferença essencial entre Igreja docente e Igreja discente, entre hierarquia e povo: toda decisão da hierarquia, para tornar-se autorizada e infalível, deve ser aceita por todo o povo. Assim, segundo Khomiakov, viria a realizar-se na Igreja Ortodoxa aquela perfeita harmonia entre liberdade e união que não seria possível no catolicismo nem no protestantismo; no primeiro, porque a união suprime a liberdade; no segundo, porque a liberdade suprime a união. No século passado, essas teorias de Khomiakov foram duramente criticadas e condenadas pela hierarquia ortodoxa e seu autor foi asperamente censurado. A publicação de suas obras só foi autorizada vinte anos depois de sua morte. Hoje, porém, a teologia de Khomiakov é muito difundida entre os teólogos ortodoxos.

Pavel I. Svetlov (+ 1942) foi quem mais contribuiu para consolidar e difundir as doutrinas de Khomiakov. Suas obras mais importantes são: A Doutrina Cristã Apresentada em Forma Apologética e A Ideia do Reino de Deus no seu Significado Relativo à Concepção Cristã do Mundo. Ele assume uma posição conciliatória nos pontos controversos entre ortodoxos e latinos, como por exemplo na questão da processão do Espírito, em que ele não encontra nenhuma diferença substancial entre as doutrinas grega e latina, e na questão da Imaculada Conceição. Svetlov critica particularmente os teólogos ortodoxos que consideram que as confissões não-ortodoxas não pertencem à Igreja de Cristo. Contra essa tese, afirma que “as Igrejas Oriental e Ocidental não são dois corpos completamente separados um do outro e mutuamente estranhos, mas simplesmente partes do único e verdadeiro Corpo de Cristo: a Igreja universal; ambas as comunidades cristãs estão da mesma forma unidas a Cristo através da sucessão apostólica, da verdadeira fé e dos sacramentos. Portanto, em consequência da aparente divisão, a Igreja universal parece subsistir em dois corpos, enquanto, de fato, é uma só. O obstáculo à sua reunião é constituído pela ideia errada, profundamente radicada em ambas as partes da cristandade, de que depois da divisão só uma parte se identifique com o todo, com a Igreja universal… As diferenças entre as duas Igrejas não são de substância, mas foram aumentadas pela inimizade e pela polêmica; frequentemente, são apenas aparentes”[11].

Soloviev (+ 1900), além de grande filósofo, foi um dos mais válidos representantes do renascimento teológico ortodoxo. Sua obra mais importante são as Lições sobre a Divino-humanidade, um profundo ensaio cristológico no qual a Encarnação é concebida como um evento que tem lugar no próprio coração do ser, sendo o seu evento interior, e depois, por extensão, se amplia a tudo o que é humano, colocando a história sob o signo da “cristificação” universal. De tal modo, o Cristo-Deus-Homem se cumpre no Cristo-Deus-Humanidade. Em harmonia com esse “teandrismo“, Soloviev elaborou uma “sofiologia” que, através das malhas do idealismo alemão e de um misticismo por vezes equívoco, tenta reler as afirmações da Bíblia e de Orígenes sobre a Sabedoria, que ele vê sair da Trindade para criar o mundo, divinizá-lo e reintegrá-lo em sua fonte. Florensky e Bulgakov retomariam depois por sua conta os elementos essenciais dessa teoria, esforçando-se por libertá-la dos seus elementos cabalísticos e gnósticos. 

3. O renascimento grego

O ponto de partida do renascimento da teologia ortodoxa na Grécia foi a fundação da Universidade de Atenas, poucos anos depois da expulsão dos turcos. A Faculdade de Teologia ocupava o lugar de honra entre as quatro faculdades com que teve início a nova universidade. Num primeiro momento, a principal função da faculdade foi a formação do clero e dos mestres de religião no novo Estado. Em seguida, contudo, passou-se a cuidar sempre mais da pesquisa científica. Essa orientação favoreceu consideravelmente o despertar da ciência teológica. Já no século XIX surgiram alguns autores de valor, como Constantino Kontogonis e Nicola Damalas. Este último é autor de um livro, Princípios Científicos e Eclesiásticos da Teologia Ortodoxa, que ainda hoje goza de grande fama.

Mas, foi sobretudo neste século que a Grécia produziu uma série respeitável de grandes teólogos. O primeiro de todos foi Christos Antroutsos (+ 1935), do qual Bratsiotis escreveu:

“Em minha opinião pessoal e interpretando também a opinião de todos os cientistas imparciais, posso assegurar que nossa escola teológica ainda não viu um teólogo tão capaz e genial e nunca ouviu um mestre tão metódico e atraente como ele”[13].

Suas inúmeras obras teológicas e a qualidade de suas monografias, estudos e discursos científicos constituem a demonstração mais eloquente da fecundidade de seu gênio. No Simbolismo do Ponto de Vista Ortodoxo, uma de suas obras mais originais, através de um penetrante estudo da Sagrada Escritura e dos Padres, ele procura identificar e descrever as diferenças entre as principais Igrejas e precisar o pensamento da Igreja Ortodoxa.

Outros teólogos importantes são Amilcas Alivizatos, Panaghiotis Bratsiotis, Panaghiotis Trembelas, João Karmiris e Nikos Nissiotis.

Amilcas Alivizatos, além de teólogo, é também um personagem bem conhecido tanto na Grécia como no resto da Europa. Ocupou numerosos e variados cargos nos governos do seu país. Teve um papel determinante na preparação da Carta Constitucional de 1923. Participou ativamente de muitas assembleias ecumênicas. Suas maiores obras são: A Continuidade Ininterrupta da Igreja Ortodoxa Grega com a Igreja Indivisa (1934); Posição Contemporânea da Teologia Ortodoxa (1931 ); O Culto na Igreja Ortodoxa (1952). Quanto ao pensamento, “Alivizatos é o descendente espiritual da tradição patrística liberal dos tempos em que florescia o cristianismo helênico, da Ortodoxia e do espírito ecumênico da Igreja antiga”[14].

Panaghiotis Bratsiotis é eminente sobretudo como exegeta. De 1929 a 1960, ocupou a cátedra de Introdução e Interpretação do Antigo Testamento. Suas principais obras são: O Judaísmo Palestino na Palestina (192O); João Batista como Profeta (1921); Estudos sobre os LXX (1926); Introdução ao Antigo Testamento (1937); Comentário a Isaías (1956).

Panaghiotis Trembelas, talento multiforme e fecundo não negligenciou nenhum campo do saber teológico, da apologética à teologia fundamental, da exegese à liturgia, da moral à dogmática. Neste último campo, sua principal obra é A Dogmática da Igreja Católica Ortodoxa, em três volumes, publicados entre 1959 e 1961. Nela, o autor se propõe a dar a conhecer o espírito dos Santos Padres; na realidade, entre suas qualidades, a sua dogmática tem a qualidade de ser verdadeiramente patrística. Um mérito de Trembelas foi ter renovado a exposição da teologia dogmática grega, aprofundada de há muito pelos trabalhos de Androutsos, os quais, porém, já se encontravam um pouco ultrapassados.

João Karmiris é um teólogo que se formou no Ocidente, nas universidades de Berlirh e Bonn, tendo começado a conquistar fama nos ambientes internacionais com a tradução neo-helênica da Summa Theologiae de são Tomás de Aquino. São bastante numerosas suas publicações no campo histórico-dogmático. A sua obra-prima é A Tradição Histórica e Simbólica da Igreja Católica Ortodoxa, em dois volumes, publicados respectivamente em 1952 e 1953. Seus estudos “esclareceram a posição da Igreja Ortodoxa diante das várias tentativas dos Reformadores e fortaleceram o zelo e a altivez dos ortodoxos”[15].

Nikos A. Nissiotis (nascido em Atenas em 1925) está exercendo considerável influência especialmente nos ambientes ecumênicos. Atualmente, exerce o cargo de diretor do Instituto Ecumênico de Bossey (Suíça). Sua atividade teológica inspira-se constantemente nas exigências de sua função: o estudo dos problemas ecumênicos mais importantes do momento. Durante e depois do Concílio Vaticano II, granjeou apreço por suas penetrantes análises dos documentos conciliares desde o ponto de vista ortodoxo. Sua principal obra intitula-se O Problema da Fé em Kierkegaard e no Existencialismo Moderno.

E assim concluímos nossa visão panorâmica da história da Teologia Oriental. Breve síntese que, no entanto, não nos impediu de constatar como essa história é rica e variada. É bem verdade que ela teve momentos de pausa e declínio, como qualquer outra história, mas também teve longos períodos de grande esplendor, principalmente o período patrístico e neopatrístico e, depois, o período moderno e contemporâneo.

Neste século, a teologia ortodoxa registrou um reflorescimento semelhante ao das teologias irmãs, a católica e a protestante. Seus Bulgakov, Berdiaev, Florovsky e Lossky não são menores do que os nossos Rahner, Congar, Guardini, de Lubac e Chenu.

Esse é um fato bastante prometedor para o futuro da Cristandade. Faz brotar a esperança de que, por meio do diálogo entre os grandes teólogos e mediante o confronto de suas posições, as Igrejas Católica, Protestante e Ortodoxa possam reencontrar a unidade na fé. 

Notas:

[1] M. JUGIE, Theologia Dogmatica Christianorum Orientalium ab Ecclesia Cathotica Dissidentium, Paris, 1926-1935, v. 11, p. 18, nota.

[9] N. GLUBOKOVSKI, Russische Theologische Wissenschaft in lhrer Geschichtlichen Entwicklung uni lhren Heutigen Zustand, Varsóvia, 1928, p. 4.

[10] G. FLOROVSKY mostra-se severo em relação a Macário na obra Os Caminhos da teologia Russa (em ruSSO). Cf. pp. 222ss. 9. Os grandes teólogos … Vol. 2.

[11] Citação em J. CHRYSOSTOMUS, O.c., pp. 105-106.

[12] N. BERDIAEV, Autocoscienza, Esperimento di Autobiografia Filosofica, Paris, 1949, p. 99.

[13] Citado por P. DUMONT, “La Teologia Greca Odierna” em Oriente Cristiano, 1966, n. I, pp. 36-37.

[14] G. KONIDARIS, citado por P. DUMONT, “La Teologia Greca Odierna” em Oriente Cristiano, 1967, n. 4, p. 20.

[15] Idem, ibidem, n. 4, p. 53.

Fonte: https://byblos.ecclesia.org.br/teologia/

HISTÓRIA DOS JUBILEUS: A Igreja Triunfante e a Humildade Cristã

Roberto Bellarmino | 30Giorni

HISTÓRIA DOS JUBILEUS

Arquivo 30Dias nº 03 - 1999

A Igreja Triunfante e a Humildade Cristã

O ano é 1600. O primeiro Jubileu do novo século é diferente dos anteriores. Desta vez, todas as iniciativas visam exaltar o triunfo da Igreja. O elemento espetacular torna-se central em cada evento religioso. Apenas alguns, como Cesare Baronio, Roberto Bellarmino e Camillo de Lellis, não se conformam...

por Serena Ravaglioli

O rigor austero que caracterizara a vida religiosa no período imediatamente posterior ao Concílio de Trento, e que, portanto, também caracterizara as celebrações do Jubileu de 1575, foi gradualmente substituído, nos últimos anos do século, por um conceito diferente, voltado para a exaltação do "triunfo" da Igreja por meio da magnificência, da pompa e da exuberância.

Isso marcou o início da grande era do Barroco Romano. O elemento espetacular tornou-se central em todos os eventos – religiosos, artísticos e culturais – e foi esse gosto por cerimônias suntuosas, por procissões imponentes, por "pompa maravilhosa e sagrada", para usar as palavras de Torquato Tasso, que foi a característica marcante do Jubileu de 1600, no qual as confrarias, romanas e estrangeiras, foram protagonistas principais.
De fato, foram as confrarias que organizaram os eventos mais espetaculares.

Estas também eram muito apreciadas pelos romanos, que, privados das celebrações mais queridas e populares (o Carnaval, suspenso ainda em 1600 para o Jubileu), satisfaziam seu desejo de espetáculo desfrutando da teatralidade das cerimônias religiosas. Não passava um dia sem que uma procissão solene cruzasse a cidade: as irmandades romanas, cujos membros também se distinguiam por suas longas e coloridas vestes, marchavam para escoltá-los em suas visitas a locais sagrados. Uma dessas procissões, à noite, é descrita por Montaigne em seu diário de viagem: "Eles marcham em procissão com vestes de linho: cada irmandade tem sua própria cor, seja branco, vermelho, azul, verde, preto, a maioria com o rosto coberto... assim que escurecia, a cidade parecia em chamas por toda parte, todos aqueles irmãos marchando em fila em direção a São Pedro, cada um segurando uma tocha, a maioria de cera branca. Acredito que pelo menos doze mil tochas passaram diante de mim, pois das oito horas da noite até a meia-noite a rua permaneceu sempre cheia dessa procissão procedendo em tão bela ordem e com tanta compostura que, embora fosse composta por diferentes companhias e partisse de lugares diferentes, não vi uma lacuna nem uma interrupção".

As crônicas registram 408 procissões somente durante o mês de julho. O desfile de várias irmandades da Apúlia, que marcharam descalças pela cidade, batendo-se com correntes de ferro, causou grande comoção. No entanto, fontes contemporâneas concordam que a procissão mais suntuosa foi a da Confraria da Misericórdia de Foligno, que chegou a Roma na noite de 9 de maio, iluminada por muitas tochas. Foi precedida por uma procissão de crianças vestidas de anjos, seguidas por vários fiéis vestidos como figuras do Antigo Testamento. Em seguida, passou uma série de carros alegóricos carregando representações figurativas altamente realistas de todas as cenas da Paixão, de Jesus no Horto até Cristo Ressuscitado; seguidos por músicos, crianças carregando flores e ramos de oliveira, as piedosas mulheres e toda a congregação. A procissão durou várias horas. Outra procissão das irmandades da Úmbria foi inspirada na vida de São Francisco: jovens de Gubbio, ricamente vestidos e liderados por um Francisco como o príncipe da juventude, relembraram o período mundano da vida do santo e foram seguidos por setecentos fiéis de Assis que, em vez disso, vestiram o hábito e representaram Francisco como penitente.

César Barônio | 30Giorni

Às vezes, o espetáculo não era tão edificante: houve, de fato, casos em que, talvez por razões triviais de precedência, membros de uma confraria entraram em choque com os de outra. Assim, por exemplo, na ponte do Castelo de Santo Ângelo, a Confraria dos Gonfalones entrou em choque com a da Trindade; então, quando uma terceira confraria, esta de napolitanos, entrou na disputa, as duas confrarias romanas uniram forças contra os forasteiros, e o nobre Don Ferrante d'Avalos, que marchava à frente dos napolitanos carregando a cruz, achou mais prudente deixá-la de lado e desembainhar a espada. A Confraria dos Gonfalones também esteve no centro de outras façanhas semelhantes, enquanto entre os peregrinos de fora, os mais inquietos parecem ter sido os de Castelli, muito barulhentos e frequentemente embriagados.

Mas nem a teatralidade nem os episódios de intemperança devem nos levar a desconsiderar a sinceridade da devoção manifestada durante aquele Jubileu. Um grande promotor e exemplo disso foi o próprio Papa Clemente VIII Aldo Brandini, apesar de sua saúde precária, que o obrigou a inaugurar o Ano Santo vários dias depois do previsto, em 31 de dezembro em vez do dia 24.

O zelo religioso do Pontífice durante o Jubileu foi intenso: visitou as quatro Basílicas sessenta vezes, em vez das trinta prescritas, visitou frequentemente as Sete Igrejas e subiu regularmente a Escada Santa de joelhos. Não se limitou, contudo, a práticas devocionais, dando constantes provas de caridade e abnegação. Serviu frequentemente no hospício Trinità dei Pellegrini e dedicou-se ao lava-pés. Durante a Quaresma, acolheu doze pobres à sua mesa todos os dias e ajudou incansavelmente os peregrinos necessitados com suas esmolas. Em particular, ele providenciou uma casa em Borgo, especialmente disponibilizada para esse fim, para abrigar, às suas expensas, padres sem meios de subsistência que viessem a Roma por dez dias.

Clemente VIII, cujo pai nasceu em Florença, acolheu com particular cordialidade as confrarias daquela cidade, para as quais celebrou missa na Basílica de São Pedro, distribuindo pessoalmente a comunhão, e a quem também ofereceu café da manhã nos palácios do Vaticano.

O exemplo de generosidade do Pontífice foi seguido por muitos cardeais (aliás, o Papa havia proibido os cardeais de usar a púrpura o ano todo): entre eles, destacam-se Cesare Baronio e, especialmente, Roberto Bellarmino, ambos assiduamente dedicados à pregação. Roberto Bellarmino era o teólogo oficial de Clemente VIII, mas, devido à sua disponibilidade e espírito de serviço, era conhecido como o "porteiro das Congregações".

Roberto Bellarmino | 30Giorni

Vale a pena recordar outra figura de grande e ativa caridade, atuante em Roma naquele ano: Camilo de Lellis, fundador da Ordem dos Ministros dos Enfermos. As datas marcantes de sua vida parecem singularmente ligadas aos Anos Santos. Ele nasceu no Pentecostes de 1550, e sua conversão remonta a 1575. Já por ocasião daquele Jubileu, ele havia viajado para Roma, onde, após completar os atos devocionais prescritos, dedicou-se a servir os doentes no Hospital de San Giacomo degli Incurabili, onde já havia sido internado. Foi sua observação do tratamento frio reservado aos doentes, especialmente aos pobres, que o levou, em 1586, a fundar sua Ordem, que se comprometia a servir os doentes por puro amor a Deus, sem qualquer recompensa material, e "com o carinho que uma mãe amorosa dispensa ao seu único filho doente". Em 1600, Camilo fez trinta visitas às Basílicas com fervorosa devoção, entre janeiro e a Páscoa, como relata sua biografia: "Ele não se importava que as janelas e as ruas estivessem severamente danificadas pela chuva e lama constantes daquele inverno. Todos que o conheciam ficavam surpresos e se perguntavam como ele, com uma perna tão dolorida, conseguia continuar visitando as Basílicas por três ou quatro dias seguidos, sempre em jejum, pois era Quaresma. Mas o que dava um sinal maior de sua profunda perfeição era que, ao retornar das visitas mencionadas, ele sempre ia dormir à noite no Hospital do Espírito Santo.

Lá, em vez de descansar do grande cansaço do dia, ele infalivelmente se levantava à meia-noite e vigiava, permanecendo acordado até a manhã seguinte à refeição dos doentes... Ele também praticava um pouco de caridade para com os pobres peregrinos que iam a Roma, hospedando muitos deles em nossa casa, lavando seus pés e servindo-os à mesa." No mesmo ano de 1600, quatorze anos após sua fundação, Clemente VIII dedicou uma bula papal à Ordem de São Camilo, que entretanto havia estendido sua atividade de Roma para outras localidades da Itália, nas quais se estabeleceram seus novos objetivos e novas necessidades.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dia Mundial das Missões

Dia Mundial das Missões (P.O.M.)

Dia Mundial das Missões: Vaticano divulga estatísticas da Igreja Católica

17 outubro 2025

Por ocasião do 99º Dia Mundial das Missões, que se celebra no domingo, 19 de outubro de 2025, com o tema “Missionários de esperança entre os povos”, a Agência Fides apresenta, como de costume, algumas estatísticas compiladas para oferecer um panorama da Igreja missionária no mundo.

Todos os dados deste dossiê, e a posterior elaboração das tabelas, foram retirados do último “Anuário Estatístico da Igreja” publicado este ano e referem-se aos membros da Igreja, às suas estruturas pastorais, às atividades nos campos da saúde, assistência e educação. Os dados contidos no volume relativos à população mundial total e ao número de batizados católicos estão atualizados em 30 de junho de 2023. Os restantes dados estão atualizados em 31 de dezembro de 2023.

A Igreja Católica no mundo: síntese dos dados

Em 30 de junho de 2023, a população mundial era de 7,9 bilhões de pessoas, com um aumento de 75,6 milhões em relação ao ano anterior. A tendência positiva se confirma em todos os continentes, incluindo a Europa.

Também a 30 de junho de 2023, o número de católicos era de 1,4 bilhão de pessoas, com um aumento total de 15.881.000 (quinze milhões, oitocentos e oitenta e um mil) de católicos em relação ao ano anterior. Também neste caso, o aumento de católicos ocorre nos cinco continentes, incluindo a Europa, onde se inverte a tendência de queda observada na medição anterior, na qual foi registrada uma diminuição em 2022 em relação a 2021.

Tal como nos anos anteriores, o aumento é maior na África (+8,3 milhões) e na América (+5,6 milhões). Seguem-se a Ásia (+954 mil), a Europa (+740 mil) e a Oceania (+210 mil).

A percentagem de católicos na população mundial aumentou ligeiramente (+0,1) em relação ao ano anterior, e equivale a 17,8%.  No que diz respeito aos diferentes continentes, as variações deste dado em relação ao relatório anterior são mínimas.

O número de Bispos em todo o mundo aumentou para 5.430. Aumentam os bispos diocesanos (+84) e diminuem os bispos religiosos (-7). Os bispos diocesanos são 4.258, enquanto os religiosos são 1.172.

O número total de sacerdotes no mundo continua a diminuir, situando-se em 406.996 (-734 no último ano). Mais uma vez, é a Europa (-2.486) que apresenta um declínio consistente, seguida da América (-800) e da Oceania (-44). Tal como no ano passado, registam-se aumentos significativos na África (+1.451) e na Ásia (+1.145). O número de sacerdotes diocesanos no mundo diminuiu globalmente em 429, situando-se em 278.742. Diferentemente do ano passado, regista-se um declínio nos sacerdotes religiosos, que são atualmente 128.254 (-305).

De acordo com o último anuário, o número de diáconos permanentes no mundo continua a aumentar (+1.234), atingindo 51.433. O aumento é registado na América (+1.257) e na Oceania (+57). Registam-se ligeiras quedas na Ásia (-1), África (-3) e Europa (-27).

Os religiosos não sacerdotes diminuíram (-666) em relação ao ano anterior, totalizando 48.748. As diminuições são registadas na Europa (-308), América (-293), Ásia (-126) e Oceania (-46), enquanto aumentam apenas na África (+107).

Nas estatísticas deste ano, também se confirma a tendência de diminuição global das religiosas em curso há algum tempo: são 589.423 (-9.805). Os aumentos são registados novamente na África (+1.804) e na Ásia (+46), e as diminuições na Europa (-7.338), América (-4.066) e Oceania (-251).

O número de seminaristas maiores, tanto diocesanos como religiosos, também diminuiu na última contagem anual: em todo o mundo são 106.495 (eram 108.481 no ano anterior). Os aumentos são apenas na África (+383), enquanto diminuem na América (-362), Ásia (-1.331), Europa (-661) e também na Oceania (-15).

O número de seminaristas menores, diocesanos e religiosos, também diminuiu, situando-se em 95.021 (-140). Em detalhe, inverte-se a tendência na África, passando do aumento registado no inquérito anual anterior (+1.065) para a diminuição registada no último inquérito (-90); também se registam descidas na Europa (-169) e na Oceania (-31), mas um forte aumento na Ásia (+123) e um ligeiro aumento na América (+27).

No campo da instrução e da educação, a Igreja administra no mundo 74.550 escolas maternais frequentadas por 7.639.051 alunos; 102.455 escolas primárias com 36.199.844 alunos; 52.085 escolas secundárias com 20.724 alunos. Além disso, 2.688.615 estudantes frequentam institutos superiores e 4.468.875 institutos universitários ligados à Igreja Católica.

Os institutos de saúde, beneficência e assistência administrados no mundo pela Igreja englobam 103.951 e incluem: 5.377 hospitais e 13.895 postos de saúde; 504 leprosarias; 15.566 casas para idosos, doentes crónicos e deficientes; 10.858 creches; 10.827 consultórios matrimoniais; 3.147 centros de educação ou reeducação social e 35.184 instituições de outros tipos.

As circunscrições eclesiásticas (ou seja, Metropolitanas, Arquidioceses, Dioceses, Abadias territoriais, Vicariatos apostólicos, Prefeituras apostólicas, Missões sui iuris, Prelaturas territoriais, Administrações apostólicas e Ordinariatos militares) dependentes do Dicastério para a Evangelização, Seção para a Primeira Evangelização e as Novas Igrejas Particulares, são no total 1.130, de acordo com a última variação registada (+7). A maior parte das circunscrições eclesiásticas confiadas ao Dicastério com sede na Piazza di Spagna, em Roma, encontram-se na África (530) e na Ásia (483). Seguem-se a América (71) e a Oceania (46).

Fonte: Agência Fides

https://pom.org.br/

Papa a ciganos: trabalho e oração, força para derrubar muros da desconfiança e do medo

Jubilei dos Ciganos e Povos Intinerantes, 18/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

Leão XIV recebeu na manhã deste sábado, 18 de outubro, os participantes do Jubileu dos Ciganos e Povos Itinerantes, reunidos na Aula Paulo VI, no Vaticano. Música, cantos, danças, leitura de escritos, testemunhos, antes da chegada do Pontífice, que exorto a serem “protagonistas da mudança de época em curso”, fazendo “conhecer a beleza da sua cultura” e “compartilhando a fé, a oração e o pão fruto do trabalho honesto”.

https://youtu.be/bgUm_RnJuzM

Vatican News

Após dar-lhes as boas-vindas, recebendo-os na Sala Paulo VI, no Vaticano, por ocasião do Jubileu dos Ciganos e Itinerantes, Leão XIV disse que eles vieram a Roma de toda a Europa — alguns até de fora da Europa — como peregrinos de esperança neste Jubileu. Com a sua presença, lembramo-nos de que "a esperança é itinerante" — o título do nosso encontro — e hoje todos nos sentimos impelidos a caminhar pelo dom que trazem com vocês ao Papa: a sua fé forte, a sua esperança inabalável somente em Deus, a confiança sólida que não cede às fadigas de uma vida muitas vezes à margem da sociedade.

“Que a paz de Cristo esteja em seus corações”, disse-lhes! “E que a paz esteja também nos corações dos numerosos agentes pastorais que aqui estão presentes e que caminham incansavelmente com vocês”.

A celebração jubilar de hoje ocorre sessenta anos após o histórico primeiro encontro mundial que o Papa São Paulo VI teve com as suas comunidades, em Pomezia, em 26 de setembro de 1965. Quase como testemunha desse acontecimento, está aqui hoje, a imagem de Nossa Senhora, que o próprio Pontífice coroou como "Rainha dos Ciganos, dos Sinti e dos Itinerantes". Ao longo destes sessenta anos, os encontros com os meus predecessores têm-se verificado cada vez com mais frequência, em diversos contextos, sinal de um diálogo vivo e de um cuidado pastoral especial para com vocês, "porção predileta do povo peregrino de Deus". Sim, Deus Pai os ama e os abençoa, e a Igreja também os ama e os abençoa.

Vocês podem ser testemunhas vivas da centralidade destas três coisas: confiar somente em Deus, não se apegar a nenhum bem mundano e mostrar uma fé exemplar em ações e palavras. Viver assim não é fácil. Aprende-se acolhendo a bênção de Deus e permitindo que ela trabalhe para transformar o nosso coração. "O coração da Igreja, por sua própria natureza, é solidário com os pobres, os excluídos e os marginalizados, com aqueles considerados 'descarte' da sociedade. [...] No coração de cada fiel, há a necessidade de ouvir aquele grito que vem da obra libertadora da graça em cada um de nós; portanto, esta não é uma missão reservada apenas a alguns".

Por quase mil anos, vocês foram peregrinos e nômades num contexto que construiu progressivamente modelos de desenvolvimento que se mostraram injustos e insustentáveis em muitos aspectos. Por essa razão, as chamadas sociedades "progressistas" os descartaram consistentemente, marginalizando-os sempre: as margens das cidades, as margens dos direitos, as margens da educação e da cultura. No entanto, o próprio modelo de sociedade que os marginalizou e os tornou itinerantes, sem paz nem acolhimento — primeiro em caravanas sazonais, depois em acampamentos nas periferias das cidades, onde às vezes ainda vivem sem eletricidade ou água — foi o que criou as maiores injustiças sociais em todo o mundo ao longo do último século: enormes desigualdades econômicas entre indivíduos e povos, crises financeiras sem precedentes, desastres ambientais e guerras.

Mas nós, na fé em Jesus Cristo, sabemos que "a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular", e assim somos cada vez mais fortalecidos na convicção de que os mesmos valores que os pobres defendem com grande dignidade e orgulho são aqueles para os quais todos devemos olhar para mudar de rumo. A sua presença nas periferias do Ocidente é, de fato, ao qual fazer referência no campo da eliminação de muitas estruturas de pecado, para o bem e o progresso da humanidade rumo a uma convivência mais pacífica e justa, em harmonia com Deus, com a criação e com os outros.

O Santo Padre exortou-os a não desanimarem! Ao estarem mais próximos da condição de Cristo, pobre e humilhado, vocês lembram à humanidade o "paradigma da vida cristã", disse, encorajo-os a acreditar na beleza salvadora que a sua cultura e a sua situação itinerante trazem consigo. Leão XIV retomou o apelo sincero que o Papa Francisco, em 2019, fez aos ciganos e itinerantes:

"Peço-lhes, por favor, que tenham um coração maior, ainda mais amplo: sem ressentimentos. E que sigam em frente com dignidade: a dignidade da família, a dignidade do trabalho, a dignidade de ganhar o pão de cada dia - é isso que os faz seguir adiante - e a dignidade da oração."

“Que a dignidade do trabalho e a dignidade da oração sejam a sua força para derrubar os muros da desconfiança e do medo”, exortou-os, por sua vez, o Papa Leão XIV.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Uma investigação sobre o Salmo 47: por que Deus é “terrível”?

Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 16/10/25

Entenda a polêmica da tradução que incomoda, mas é mantida por especialistas em várias línguas. A resposta não está no dicionário, mas na história e na teologia.

Estava lendo em casa minha Bíblia e me deparei com o Salmo 47 (46) e, em um dos versos, a palavra "terrível" surge para descrever o Altíssimo. Logo isso me causou estranheza. Afinal, um Deus de amor, misericórdia e bondade pode ser chamado de "terrível"? A controvérsia não é nova, e as traduções litúrgicas oficiais parecem preferir manter a palavra, mesmo com a existência de sinônimos mais "suaves" como "sublime" ou "excelso". Mas por quê? 

O ponto de partida para essa discussão não é a sensibilidade do ouvinte, mas a precisão da tradução. Especialistas em Bíblia e linguística, responsáveis por traduzir os textos sagrados, explicam que a palavra "terrível" é a que mais se aproxima do original hebraico. Em outras palavras, não é uma escolha aleatória, mas um esforço para ser fiel ao texto que saiu do forno há milênios. 

O Salmo em sua essência

A questão central é que a tradução de um texto antigo não pode se basear apenas em dicionários contemporâneos. A palavra hebraica por trás de "terrível" carrega um significado muito mais complexo do que o "medonho" ou "violento" que associamos hoje. Para os antigos, essa palavra evocava uma mistura de reverência, poder avassalador e admiração. 

Imagine a força de um furacão, a grandiosidade de uma montanha ou o mistério de um eclipse solar. Esses fenômenos são "terríveis" no sentido de que inspiram uma mistura de medo e fascínio. Eles nos lembram de nossa pequenez e do poder imenso que os criou. É essa dimensão de poder transcendente que a palavra "terrível" tenta capturar. 

O que os especialistas argumentam é que sinônimos como "excelso" ou "sublime", embora agradáveis, já estão contidos na palavra "Altíssimo", gerando uma redundância. Além disso, esses termos perdem a nuance de poder e majestade que o termo original contém. 

A Bíblia de Jerusalém  e a Bíblia Pastoral, por exemplo, mantêm a palavra. As Bíblias em línguas românicas (espanhol, francês, italiano) também a adotam, o que sugere uma escolha técnica e não uma simples convenção de tradução. 

Do medo ao temor: a diferença teológica

A Bíblia está repleta de adjetivos que, à primeira vista, parecem "duros" para descrever Deus. Ele é o "Justo Juiz", o "Deus dos Exércitos", e o Credo diz que "há de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos". A teologia por trás disso é que Deus, além de amor, é também justiça. E sua onipotência, expressa no termo "Todo-poderoso", não significa que ele é um "déspota" ou um "prepotente", mas que sua força é ilimitada. 

Outro exemplo é o "temor de Deus", um dos sete dons do Espírito Santo. Ele não significa "ter medo" de Deus no sentido de que ele vai nos punir, mas sim um medo de ofendê-lo, uma profunda reverência por sua santidade e grandeza. 

A tradução litúrgica, portanto, não é um exercício de "agradar" o fiel, mas de educá-lo. Ao manter a palavra "terrível", ela convida a uma reflexão mais profunda sobre a totalidade de Deus: um ser que é amor incondicional, mas também justiça e poder absolutos. 

A sensibilidade moderna pode se chocar com a dureza de certas palavras, mas a tradição teológica insiste que a Bíblia deve ser compreendida em seu próprio contexto. Afinal, a tradução perfeita é aquela que captura não só a letra, mas também o espírito do texto original. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/16/uma-investigacao-sobre-o-salmo-47-por-que-deus-e-terrivel/

TEOLOGIA: Introdução à História da Teologia Ortodoxa (Parte 2/3)

Igreja Ortodoxa (FASBAM)

TEOLOGIA

Introdução à História da Teologia Ortodoxa

Capítulo 10 da Obra «Os Grandes Teólogos do Século Vinte» - Vol. 2 - Os Teólogos protestantes e ortodoxos.

Battista MONDIN

Teólogo católico

Os estudiosos não estão de acordo sobre a divisão da história da teologia ortodoxa. Segundo Jugie, não existem na teologia oriental escolas teológicas e sistemas que possam oferecer um “fundamentum divisionis”[1]. Segundo outros estudiosos, ao contrário, há razões de tempo, lugar e outros gêneros que justificam sua divisão em dois ou mais períodos. Também somos dessa opinião, parecendo-nos justo dividir toda a história bimilenar da teologia oriental em sete grandes períodos.

IV. O período de Gregório Palamas (séculos XIV-XV)

Por volta do fim da Idade Média, a teologia ortodoxa é dominada pela figura de Gregório Palamàs (+ 1359). Escritor muito fecundo e original, Palamàs efetuou uma síntese do pensamento patrístico na teologia da Glória de Deus. Suas teses mais características são três:

a) O homem não pode conhecer a essência de Deus transcendente;

b) Pode, porém, conhecer suas ações, suas operações, seus atributos;

c) Portanto, em Deus deve haver uma distinção real entre essência incognoscível e atributos cognoscíveis.

Em 1351, a doutrina palamita foi canonizada pelo Sínodo de Constantinopla como a expressão mais autêntica da fé ortodoxa.

Gregório Palamàs teve numerosos discípulos, entre os quais Nilo Cabasilas (+ 1363), sucessor de seu mestre na cadeira de Tessalônica e autor, entre outras coisas, de Regula Theologica, De Causis Dissentionum in Ecclesia e De Papae Imperio, e Filóteo Coccinus (+ 1376), primeiro abade do monte Athos e mais tarde patriarca de Constantinopla, autor de um Encomium sobre Gregório Palamàs.

Mas, Palamàs também teve muitos adversários. Os mais dignos de nota são: Nicéforo Gregoras (+ 1360), que escreveu Onze Orações contra Gregório Palamas, e Prócoro Cydones (+ 1368), cujo nome está ligado sobretudo às traduções em grego de santo Agostinho e são Tomás. Do Aquinense, ele traduziu parte da Summa Theologiae e toda a Summa Contra Gentes.

Durante esse período, nasceu a controvérsia em torno da Epíclese (a oração que se dirige ao Pai depois da consagração, para que ele mande o Espírito Santo para transformar os dons divinos do pão e do vinho no corpo e no sangue do Salvador). A historiografia recente pôde estabelecer que a fórmula “ea transmutans” foi introduzida na liturgia ortodoxa somente no século XV. De qualquer modo, a Epíclese torna-se um novo motivo de discórdia com os latinos. Com efeito, enquanto estes afirmavam que a consagração ocorre no momento em que se repete as palavras de Cristo “este é o meu corpo” e “este é o meu sangue”, os ortodoxos sustentavam que, além dessas palavras, é preciso também a Epíclese, ou então que a Epíclese basta por si só.

V. A Teologia da Diáspora (séculos XVI-XVII)

Em 1453, quando os turcos ocuparam Constantinopla, a teologia ortodoxa recebeu um golpe mortal: as escolas teológicas fechadas, muitas bibliotecas foram destruídas, muitos teólogos exilados.

Foi então que se constituiu a teologia ortodoxa da Diáspora. Essa teologia é marcada pelos sinais do ambiente em que se desenvolve: denota influência do catolicismo quando se desenvolve em países católicos e mostra influência do protestantismo quando se desenvolve em países protestantes.

No início, obviamente, é mais forte a influência católica (dado que os protestantes nasceriam somente no século XVI), mas depois a influência protestante também adquire um considerável peso.

Dentre os teólogos influenciados pelo catolicismo, podemos recordar Melésio Figas, um cretense que realizou seus estudos na Universidade de Pavia. Em 1590, foi nomeado patriarca de Alexandria. A formação católica não o impediu de protestar energicamente quando, em 1595, os ucranianos subscreveram a reunião com Roma. Então, escreveu um ensaio intitulado Sobre o Primado do Papa, em que conclamava os ucranianos a desfazerem o acordo com Roma. Em seu escrito, Figas repete sem grande originalidade os argumentos tradicionais dos ortodoxos contra o primado romano e contra os pretensos erros dos latinos.

Seguindo o exemplo de Figas, um outro teólogo, Máximo de Peloponeso, elaborou um Enchiridion Contra o Cisma dos Papistas.

Entre os teólogos mais sensíveis à influência protestante, podemos recordar Cirilo Lucaris (+ 1638), fervoroso promotor do calvinismo na Grécia. Em 1629, publicou em Genebra o seu Orientalis Ecclesiae Confessionem Christianae Fidei, uma obra profundamente impregnada de calvinismo. O Sínodo de Constantinopla de 1638 condenou as suas doutrinas.

Os desvios “catolicizantes” e “protestantizantes” não tardaram em provocar a reação de diversos teólogos, que, preocupados em salvaguardar a integridade da fé ortodoxa, marcaram seus escritos por uma forma fortemente polêmica.

Entre os polemistas ortodoxos, podemos ressaltar Melésio Syrigos (+ 1667), cuja maior obra é intitulada Confutação Ortodoxa dos Capítulos e das Questões da Confissão de Cirilo Lukaris, e Dositeu, patriarca de Jerusalém (+ 1707), autor do Enchiridion Contra os Erros de Calvino.

VI. A Escola de Kiev (séculos XVII-XVIII)

Enquanto a teologia da Diáspora se apagava lenta e fatalmente, o primeiro lugar no mundo da cultura ortodoxa passava para a Rússia, único país da Ortodoxia que conseguira furtar-se ao domínio turco. No século XVII, a Rússia torna-se o centro de gravidade da ortodoxia, sobretudo graças à escola de Kiev.

Esta fora fundada por Pedro Moghila (+ 1647), que a estruturara pelo modelo das universidades dos jesuítas: língua latina e método escolástico. O seu texto oficial, A Confissão Ortodoxa da Fé, era calcado no esquema do catecismo de Pedro Canísio. E mesmo na liturgia frequentemente eram imitadas as práticas católicas[7].

A obra-prima de Moghila, A Confissão Ortodoxa da Fé, muito embora refletisse uma clara romanização da ortodoxia, gozou de elevadíssimo prestígio durante uns dois séculos. Sobre ela o patriarca de Moscou, Adriano (+ 1700), escreveu:

“O reverendíssimo metropolita Pedro, dito Moghila, homem de grande inteligência e vasta erudição, elaborou esse livro inspirado por Deus… Tudo aquilo que corresponde ao juízo desse livro é indubitavelmente ortodoxo. Já aquilo que não concorda com ele, mas está em conflito, não faz parte da doutrina da nossa Igreja e, portanto, não merece ser escutado”[8].

Durante todo o século XVIII, A Confissão foi classificada entre os Livros Simbólicos da Igreja Ortodoxa, sendo-lhe atribuída a mesma autoridade dos decretos dos primeiros concílios.

A escola de Kiev produziu numerosos teólogos, entre os quais Lasar Baranovich (+ 1693) e Antônio Radivilovski (+ 1688).

Notas:

[1] M. JUGIE, Theologia Dogmatica Christianorum Orientalium ab Ecclesia Cathotica Dissidentium, Paris, 1926-1935, v. 11, p. 18, nota.

[7] G. Florovsky julgou muito severamente a orientação da escola de Kiev, acusando-a de “compromisso”, de “cripto-catolicismo romano”, de “barroquismo teológico”. Cf. FLOROVSKY, “Westliche Einflüsse in der Russischen Theologie” em Proces-Vetbaux du ler Congres de Théologie Orthodoxe à Athenes, 29 nov.-6 dez. 1936, Atenas, 1939, pp. 214-215; Puti Russkovo Bogoslovi; a (em russo), Paris, 1937, pp. 4ss.

[8] Citação de J. CHRYSOSTOMUS, “Die Tbeologie der Russisch-orthodoxen Kirche em Vorabend der Revolution von 1917” em Una Sanefa, 1968, p. 100.

Fonte: https://byblos.ecclesia.org.br/teologia/

Tutela dos Menores: segundo relatório propõe medidas corretivas contra abusos

O logotipo do Relatório Anual sobre Políticas de Tutela na Igreja Católica (Vatican News)

O documento publicado pela Pontifícia Comissão apresenta um manual com recomendações para uma "escuta informada" e para o apoio econômico, psicológico e espiritual às vítimas. Destaca a necessidade de uma comunicação mais transparente, de uma assunção pública de responsabilidade por parte da Igreja e de uma simplificação dos mecanismos de denúncia.

Edoardo Giribaldi – Vatican News

Um manual operacional, elaborado a partir da escuta de quem sofreu abusos. Estas diretrizes visam auxiliar as comunidades eclesiásticas na implementação de "medidas restaurativas", acompanhando passo a passo o processo de denúncia e buscando sua simplificação geral. Entre as recomendações: "escuta informada" inicial, acesso a informações sobre o caso e apoio financeiro, psicológico e espiritual. Tudo isso coadjuvado por declarações oficiais transparentes que "reconhecem o dano causado" e assumem publicamente a responsabilidade. Uma "peregrinação perpétua", como definiu dom Thibault Verny — presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, nomeado pelo Papa Leão XIV em julho passado — a missão que se concretiza no II Relatório Anual sobre Políticas de Tutela na Igreja Católica, publicado nesta quinta-feira, 16 de outubro.

Escuta direta das vítimas e organizações não eclesiais

Assim como o I Relatório Anual, o estudo também foi elaborado em consulta com o Grupo de Escuta de Vítimas/Sobreviventes do Relatório Anual (Annual Report Focus Group) da Comissão. Elaborado de forma voluntária, o estudo foi selecionado com base em critérios de diversidade em termos de idade, gênero e origem étnica, abrangendo quatro regiões globais. Esses dados são complementados por pesquisas coletadas por organizações não eclesiais. As questões críticas identificadas incluem a "necessidade de uma Igreja mais atenta" e a "falta de estruturas claras para denúncia e assinalação".

Medidas reparadoras

A primeira parte do Relatório concentra-se em medidas reparadoras para vítimas de abuso, baseadas na "escuta informada" e proporcionais aos danos sofridos. O manual para comunidades locais apela principalmente à criação de "espaços seguros" onde vítimas/sobreviventes possam partilhar as suas experiências, inclusive diretamente com autoridades eclesiásticas. Explora o conceito de "reparação", que a Encíclica Dilexit nos destaca não apenas como "um dever individual, mas como uma responsabilidade partilhada por toda a comunidade — com exceção das vítimas/sobreviventes —, com o objetivo de promover um ambiente de cuidado e respeito mútuo". A Igreja é então chamada a emitir declarações oficiais "reconhecendo o dano causado" e assumindo publicamente a sua responsabilidade.

Apoio completo

Depois, o tema do apoio — articulado em diversas áreas — com o objetivo de fornecer aconselhamento profissional e apoio espiritual às vítimas/sobreviventes, "com atenção especial ao longo prazo". Isso acresce uma ajuda financeira adequada para as despesas incorridas em decorrência dos abusos, incluindo assistência médica e psicológica. O manual também prevê o fortalecimento da tutela das vítimas por meio da imposição de sanções significativas contra quem cometeu ou facilitou o abuso. As vítimas "não devem ser deixadas na incerteza quanto à assunção de responsabilidade dos autores dos abusos e daqueles que os facilitaram ou encobriram ".

Transparência e conscientização

O Relatório enfatiza a necessidade "fundamental" de acesso à informação sobre o caso, um elemento essencial no percurso de cura, e apela à implementação de programas de conscientização destinados ao clero, aos religiosos e aos fiéis leigos, a fim de promover "um processo de cura coletiva".

Procedimentos simplificados e comunicação clara

Entre outras conclusões significativas, a Comissão reitera a importância de desenvolver um "procedimento simplificado" para a remoção de líderes eclesiásticos envolvidos em "ações administrativas passadas e/ou omissões que tenham causado mais danos às vítimas/sobreviventes". Recomenda também uma "comunicação clara" dos motivos das demissões ou remoções e uma avaliação eficaz dos progressos alcançados pelas Igrejas locais e ordens religiosas na implementação concreta de políticas de proteção. Para tal fim, propõe-se a criação de uma "rede acadêmica internacional" que envolva centros universitários católicos especializados em direitos humanos, prevenção de abusos e tutela, para coletar dados relevantes nos países objeto do Relatório.

Apoiar o "ministério da proteção"

Recomenda-se também a criação de um "mecanismo sistemático e obrigatório de denúncia/reclamação", que possa ser utilizado por diversos órgãos de proteção em nível local. A comunidade eclesial, observa o Relatório, tem a capacidade de "promover maior transparência e exercício de responsabilidade institucional", em linha com o pedido do Papa Francisco de fornecer "relatórios confiáveis ​​sobre o que está acontecendo e o que ainda precisa mudar, para que as autoridades competentes possam agir". Por fim, reafirma-se o papel fundamental dos núncios apostólicos nas Igrejas locais, que prestam apoio e orientação no "ministério da proteção".

As Igrejas locais examinadas

Na Seção 1, o Relatório examina as atividades de tutela das Igrejas locais em vários países, incluindo Itália, Gabão, Japão, Guiné Equatorial, Etiópia, Guiné (Conacri), Bósnia e Herzegovina, Portugal, Eslováquia, Malta, Coreia, Moçambique, Lesoto, Namíbia, Mali, Quênia, Grécia e a Conferência Episcopal Regional do Norte da África (que inclui Argélia, Marrocos, Saara Ocidental, Líbia e Tunísia). Os dados baseiam-se na análise de informações coletadas por meio do processo ad limina da Comissão e complementadas por outras fontes.

O caso italiano

Na Itália, foram visitadas as dioceses de Lácio, Ligúria, Lombardia, Sardenha, Sicília, Emília-Romanha e Toscana. Ao longo dos anos, afirma o Relatório, houve progressos significativos no desenvolvimento de "instrumentos e políticas abrangentes" para prevenção e proteção. A Comissão reconhece o trabalho realizado pela Conferência Episcopal Italiana (CEI) na criação de um sistema multinível (nacional, regional, diocesano e interdiocesano) de "coordenação, formação e supervisão", com o objetivo de apoiar as igrejas locais com pessoal profissional e adequadamente formado A Conferência relata a existência de 16 serviços regionais de proteção, 226 serviços diocesanos e interdiocesanos e 108 centros de escuta. Estes oferecem um serviço pastoral para acolher e receber denúncias. No entanto, alguns desafios permanecem: a Comissão observa que, embora algumas Igrejas locais tenham empreendido iniciativas pioneiras e colaborado com a sociedade civil, ainda existem "disparidades entre diferentes regiões" e a falta de um escritório centralizado para receber e analisar as assinalações, o que é necessário para garantir uma gestão uniforme e eficaz dos casos.

Igrejas continentais e práticas exemplares

No âmbito global, o documento observa que, embora algumas Igrejas nas Américas, Europa e Oceania mostrem um forte compromisso com as reparações, há uma "confiança excessiva" na compensação econômica, o que corre o risco de limitar uma "compreensão integral" do processo de cura. Além disso, muitas áreas da América Central e Latina, África e Ásia ainda carecem de recursos adequados para apoiar vítimas/sobreviventes. No entanto, práticas exemplares são destacadas, como: a prática tradicional de cura comunitária Hu Louifi, em Tonga; o relatório anual sobre serviços de apoio a vítimas nos Estados Unidos; os processos de revisão de diretrizes em andamento no Quênia, Maláui e Gana; e o projeto de busca da verdade "A coragem de olhar", na Diocese de Bolzano-Bressanone.

Cúria Romana e colaboração interdicasterial

A terceira seção do documento explora as responsabilidades da Cúria Romana em matéria de proteção, promovendo uma abordagem interdicasterial. O Relatório analisa especificamente a contribuição do Dicastério para a Evangelização – Seção para a Primeira Evangelização e Novas Igrejas Particulares, que apoia as comunidades eclesiásticas locais em diversos territórios, supervisionando não apenas a administração geral, mas também as iniciativas de proteção. Esta Seção auxilia aproximadamente 1.200 circunscrições eclesiásticas e participou ativamente da elaboração do Relatório.

Ministérios sociais e tutela

A Seção 4 do documento analisa as diversas dimensões da Igreja na sociedade, destacando as iniciativas que promovem os direitos de menores e adultos vulneráveis. A edição deste ano apresenta uma metodologia piloto aplicada à associação laical Obra de Maria – Movimento dos Focolares. A Comissão acolhe com satisfação as reformas recentemente adotadas pelo Movimento, como a criação de uma Comissão central independente para a gestão de casos de abuso; uma política de informação sobre abuso sexual; e diretrizes para apoio e reparação financeira às vítimas.

A Iniciativa Memorare

A seção final do documento concentra-se nos progressos da Iniciativa Memorare: instituída pela Comissão em 2022, a iniciativa arrecadou fundos provenientes das conferências episcopais, ordens religiosas e fundações filantrópicas para apoiar Igrejas com menos recursos no Sul Global. Atualmente, existem 20 acordos em vigor para apoiar as Iniciativas Memorare locais em todo o mundo, e uma dúzia está em negociação. Entre as entidades envolvidas estão: Ruanda, Venezuela, Arquidiocese da Cidade do México (México), AMECEA – Associação dos Membros das Conferências Episcopais da África Oriental, Província Eclesiástica de Chubut (Argentina), Honduras, Uruguai, Haiti, Província Eclesiástica de Mombasa (Quênia), Província Eclesiástica de San Luis Potosí (México), Tonga, República Centro-Africana, Maláui, Província Eclesiástica do Paraná (Argentina), Paraguai, IMBISA – Encontro Inter-regional dos Bispos da África Austral, Panamá, Província Eclesiástica de Santa Fé (Argentina), Costa Rica e Zimbábue.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A comunhão dos santos: mais unidos que nunca

Foto: Miltiadis Fragkidis, disponível em Unsplash

A comunhão dos santos: mais unidos que nunca

Trabalhar por dentro, acompanhar e velar pelas pessoas que amamos, que talvez estejam longe, mas muito perto de nosso coração cristão. E por todos. É um maravilhoso programa de vida espiritual para estes dias duros de confinamento e quarentena.

10/04/2020

“Não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18). São palavras carinhosas de Jesus a seus apóstolos – seus amigos, como gosta de chamá-los – em sua despedida terrena antes de dirigir-se a sua paixão. Não quer que se sintam sós nos momentos difíceis que vão chegar. É lógico que fiqueis tristes – parece dizer – quando presenciardes minha paixão e morte na cruz; será, porém, uma tristeza passageira. Logo “voltarei a ver-vos e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará vossa alegria” (Jo 15, 11).

A melhor companhia

Nada, ninguém tira a alegria de um coração cristão que se sabe sempre acompanhado pelo maior amor que se pode imaginar. O amor infinito e incondicional de um Deus que me criou, redimiu e perdoou tantas vezes. Um Deus que, por amor, fez-se um de nós para ficar o mais perto possível, compartilhar a nossa história e morrer por pecados que ele não cometeu. Um amor que não conhece limites, mais forte do que a morte. Deus – Jesus Cristo, sempre vivo – está continuamente ao nosso lado. Ele o prometeu explicitamente: “Estarei convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

Nesta situação peculiar, difícil – com tons dramáticos – que estamos vivendo com a expansão da pandemia da Covid-19, as verdades de nossa fé – como esta da contínua presença amorosa de Deus a nosso lado – enchem-nos de consolo e esperança.

Não estamos nunca sozinhos, Jesus Cristo vivo está ao nosso lado e nos acompanha sempre. É uma presença real, não imaginária. Uma presença poderosa, íntima, próxima. A presença de Jesus Cristo que, unido ao Pai no Espírito, se torna mais íntimo a nós do que a nossa própria intimidade: intimior intimo meo, dizia Santo Agostinho com a paixão da própria experiência.

Estes dias constituem uma ocasião preciosa para olhar para dentro, orar, descobrir – ou revitalizar – essa presença de Deus em nossas vidas. Junto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Três Pessoas muito próximas, que me chamam por dentro e por fora; que me procuram, que abrem em nossa intimidade – quando sabemos ouvir e aceitar livremente o dom – um diálogo apaixonante, cheio de luz e de consolo. Um diálogo que ressoa, às vezes de modo inefável, no mais profundo do nosso espírito.

Fomos criados para essa companhia. Deus é a melhor companhia: a que nos preenche de verdade, a que dá um sentido novo, pelo amor, a todas as situações, também a essas da dor e da morte que se apresentam com sua aparente falta de sentido dilacerante.

“Se conhecesses o dom de Deus” (Jo 4, 10), dizia Jesus à samaritana, convidando-a assim a não deixar de procurar. Se nestes dias de encerramento forçoso descobríssemos um pouco mais o dom de Deus... O convite ressoa sempre em nossas vidas, chamando-nos – mais ainda quando a dificuldade recrudesce – a procurar sem desfalecer. Como nos negará Deus seu dom se nos sentimos necessitados e o pedimos e o procuramos...

A comunhão dos santos

Deus nos acompanha sempre também através dos outros. Uma proximidade que vai além da presença física, para penetrar nos mistérios da nossa união com Deus. O amor nos une. Como entendemos bem isso quando não podemos estar fisicamente junto das pessoas que amamos. O amor supera os limites de espaço e tempo para unir as pessoas que estão longe e que se amam de verdade no Amor que tudo une, que tem um rosto de Pessoa do qual todos os outros rostos participam. Trata-se de uma das verdades de nossa fé que confessamos tantas vezes no Credo: “creio na comunhão dos santos”.

A comunhão dos santos é uma realidade maravilhosa – de certa forma é a própria Igreja – pela qual todos os crentes formam um só corpo com Cristo, que é a cabeça. A vida de Cristo no Espírito Santo se estende a todos nós que estamos unidos a Ele e unidos entre nós como membros do seu próprio corpo, explica o Catecismo da Igreja Católica (cfr. n. 947).

Lemos assim também que a expressão “comunhão dos santos” tem dois significados estreitamente relacionados: “comunhão nas coisas santas” e “comunhão entre as pessoas santas” (n. 948).

Os bens espirituais constituem um “fundo comum” que há na Igreja, dons universais e ilimitados porque vêm de Deus em Cristo. Cristo é a fonte inesgotável da qual procedem esses bens: a fé comum, a graça dos sacramentos e os dons, carismas e bens materiais que são distribuídos entre os membros do próprio corpo de Cristo ( cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 949-952).

O fruto dos sacramentos pertence a todos. A vida e a graça que qualquer membro do corpo recebe, repercute no corpo inteiro. Algo de bom que acontece a um é algo de bom que acontece a todos os outros.

Quanto pode nos ajudar esta verdade de nossa fé a sentir-nos unidos a todos, especialmente em situações difíceis. Minha oração é um bem para todos os meus irmãos na fé, para todos aqueles que amo, ainda que estejam longe fisicamente, inclusive ainda que não os conheça. Tudo o que une a Cristo, tudo o que vem dele, é compartilhado por todos, ajuda-nos a todos. Os sacramentos, que nestes momentos em muitos lugares estão limitados, estão atuando em todos. Ainda que só se celebrasse uma eucaristia no planeta, vivemos todos dela, porque nela se torna atual a fonte infinita da redenção: a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Meu amor a Deus com uma oração serena e confiada, minhas devoções a Santa Maria, a São José, aos santos; meu trabalho, meus deveres cotidianos realizados com amor, minhas contrariedades suportadas com paciência... tudo é um bem para toda a Igreja: para os meus familiares, amigos, seres queridos...; também para aqueles que passam necessidades, talvez desconhecidos, mas nunca ignorados; para os defuntos; para todos! Os doentes, moribundos, afetados pela situação, também estão recebendo a vida de Deus através da minha união com Deus: minha oração, minha penitência, meu trabalho, meu serviço em casa, meus detalhes cotidianos de amor, etc.

O amor que me leva a procurar ter espírito de serviço, a dar um consolo, a atender materialmente, é o mesmo amor que, com sentido sobrenatural, me leva a rezar e oferecer pequenos sacrifícios por pessoas talvez longe fisicamente, mas muito próximas no coração de Cristo. Trata-se de uma ajuda real e de um amor e de um carinho efetivo.

Mais juntos que nunca

“Nenhum de nós vive para si mesmo; como tampouco ninguém morre para si mesmo” (Rm 14, 7). “Se um membro sofre, todos os outros sofrem com ele” (1 Co 12, 26-27). O Catecismo afirma: “O menor de nossos atos realizado com caridade repercute em benefício de todos, nesta solidariedade em benefício de todos, vivos ou mortos, que se fundamenta na comunhão dos santos” (n. 953).

Todos estamos juntos pela participação na mesma vida de Cristo. Todos nos ajudamos, todos nos acompanhamos. Todos juntos: com os santos do céu aos quais recorremos como intercessores; com os defuntos que já nos deixaram e que ainda se purificam (pelos quais rezamos). Todos juntos, unidos a Cristo, nós que peregrinamos aqui na terra, às vezes em meio de dificuldades e sofrimentos. Todos juntos!

Com esta realidade de fundo de nossa fé, como nos sentimos acompanhados, com que força havemos de atuar, com que segurança e confiança. Sempre foi tradição na Igreja recorrer à intercessão dos santos aos quais temos devoção. E com a força da sua companhia e da nossa união com Deus, estar atentos uns aos outros, ajudando-nos por esta comunhão dos santos.

São Josemaría, em circunstâncias duríssimas de guerra e perseguição, teve que viver um isolamento forçoso – verdadeiro amontoamento – com alguns de seus filhos espirituais. Foi entre os meses de abril e agosto de 1937, em um minúsculo espaço da legação de Honduras em Madri, durante a guerra civil na Espanha. Conservam-se alguns textos de sua pregação durante aqueles dias.

Cheio de preocupação e dor por tantas pessoas queridas, fisicamente longe e espalhadas pelo território espanhol, sem poder ter contato algum com elas; e, ao mesmo tempo, cheio de serenidade e sentido sobrenatural e confiança em Deus, dizia: “Pela comunhão dos santos, nunca podemos sentir-nos sozinhos, pois nos chega constantemente alento espiritual... A consideração desta realidade nos impulsiona a um detido exame de nossa conduta neste lugar, que é como que uma prisão para nós. Porque aqui, nesta aparente inatividade, contamos com a possibilidade de trabalhar muito por dentro e acompanhar cada um de vossos irmãos em perigo, e velar por eles” (Notas da meditação de 8/04/1937).

Trabalhar por dentro, rezar, acompanhar e velar pelas pessoas que amamos, que estão longe talvez, mas muito perto do nosso coração cristão. E por todos. É um esplêndido programa de vida espiritual para estes dias duros de confinamento e quarentena. Não temos outro remédio senão diminuir as nossas atividades, mas... não diminuímos o nosso amor! Não cessamos de enviar, através desta comunhão de vida e de amor na Igreja, nossa ajuda a todos, a toda a humanidade. Manifestamos a nossa proximidade através dos meios a nosso alcance. Não diminuímos, pelo contrário, ampliamos a nossa oração diária por todos, verdadeira ajuda espiritual para os outros. E nos sentimos mais acompanhados e amados do que nunca.

Se os santos nos acompanham e nos ajudam do céu – dizia São Josemaría naquela mesma ocasião – com quanta mais razão se ocupará de nós nossa Mãe Imaculada. Que confiança nos dá a sua intercessão! E recorremos também a São José, que Deus pôs à frente de sua família na terra, para que cuide de nós e nos ensine a cuidar de todos com generosidade, vivendo esta companhia e união de todos no amor de Deus.

José Manuel Fidalgo Alaiz

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/a-comunhao-dos-santos-mais-unidos-que-nunca/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF