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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (3/16)

O cristianismo e as religiões | Politize!

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

1.2. A discussão sobre o valor salvífico das religiões

8. A questão de fundo é a seguinte: as religiões são mediação de salvação para seus membros? A essa pergunta há os que respondem negativamente; mais ainda, alguns nem sequer vêem sentido em que ela seja levantada. Outros dão uma resposta afirmativa que, por sua vez, provoca outras perguntas: as mediações salvíficas são autônomas ou é a salvação de Jesus Cristo que nelas se realiza? Trata-se, portanto, de definir o estatuto do cristianismo e das religiões como realidades socioculturais em relação com a salvação do homem. Não se deve confundir essa questão com a da salvação dos indivíduos, cristãos ou não. Nem sempre se levou devidamente em conta essa distinção.

9. Tentou-se classificar de muitas maneiras as diferentes posições teológicas diante desse problema. Vejamos algumas dessas classificações: Cristo contra as religiões, nas religiões, acima das religiões, junto às religiões. Universo eclesiocêntrico ou cristologia exclusiva; universo cristocêntrico ou cristologia inclusiva; universo teocêntrico com uma cristologia normativa; universo teocêntrico com uma cristologia não-normativa. Alguns teólogos adotam a divisão tripartite exclusivismoinclusivismopluralismo, que se apresenta como paralela a outra: eclesiocentrismocristocentrismoteocentrismo. Como temos de escolher uma dessas classificações para prosseguir nossa reflexão, ficaremos com esta última, mas a completaremos com as outras caso necessário.

10. O eclesiocentrismo exclusivista, fruto de determinado sistema teológico, ou de uma compreensão errada da frase "extra Ecclesiam nulla salus", já não é defendido pelos teólogos católicos depois das claras afirmações de Pio XII e do concílio Vaticano II sobre a possibilidade de salvação para os que não pertencem visivelmente à Igreja (cf. por exemplo LG 16; GS 22).

11. O cristocentrismo aceita que a salvação possa acontecer nas religiões, porém lhes nega uma autonomia salvífica devido à unicidade e universalidade da salvação de Jesus Cristo. Essa posição é sem dúvida a mais comum entre os teólogos católicos, embora haja diferenças entre eles. Procura conciliar a vontade salvífíca universal de Deus com o fato de que todo homem se realiza como tal dentro de uma tradição cultural, que tem na respectiva religião sua expressão mais elevada e sua fundamentação última.

12. O teocentrismo pretende ser uma superação do cristocentrismo, uma mudança de paradigma, uma revolução copernicana. Tal posição brota, entre outras razões, de certa má consciência devida à união da ação missionária do passado com a política colonial, embora olvidando às vezes o heroísmo que acompanhou a ação evangelizadora. Trata de reconhecer as riquezas das religiões e o testemunho moral de seus membros e, em última instância, pretende facilitar a união de todas as religiões para um trabalho conjunto pela paz e pela justiça no mundo. Podemos distinguir um teocentrismo em que Jesus Cristo, sem ser constitutivo, se considera normativo da salvação, e outro em que nem sequer se reconhece a Jesus Cristo tal valor normativo. No primeiro caso, sem negar que outros possam também mediar a salvação, reconhece-se em Jesus Cristo o mediador que melhor a exprime; o amor de Deus revela-se mais claramente em sua pessoa e em sua obra, e assim ele é o paradigma para os outros mediadores. Porém, sem ele não ficaríamos sem salvação, mas tão-só sem sua manifestação mais perfeita. No segundo caso, Jesus Cristo não é considerado nem como constitutivo nem como normativo para a salvação do homem. Deus é transcendente e incompreensível, de modo que não podemos julgar seus desígnios por nossos padrões humanos. Tampouco podemos avaliar ou comparar os diversos sistemas religiosos. O "soteriocentrismo" radicaliza ainda mais a posição teocêntrica, pois tem menos interesse na questão sobre Jesus Cristo (ortodoxia) e mais no compromisso efetivo de cada religião com a humanidade que sofre (ortopráxis). Desse modo, o valor das religiões está em promover o Reino, a salvação, o bem-estar da humanidade. Tal posição pode caracterizar-se, assim, como pragmática e imanentista.

Fonte: https://www.vatican.va/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF