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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Tratado sobre amor de Deus, de São Bernardo de Claraval

Renata Sedmakova | Shutterstock
Por Vitor Roberto Pugliesi Marques

Entenda o que são "os quatro graus do Amor", segundo este grande santo.

Este artigo analisa, de modo assaz conciso, o Tratado sobre o amor de Deus (São Paulo: Paulus, 2015), escrito pelo grande São Bernardo de Claraval (1090-1153), abade cisterciense e doutor da Igreja.

O prefácio da obra já nos traz o motivo pelo qual ela foi escrita. Trata-se de uma resposta a questionamentos feitos a São Bernardo por um senhor chamado Henrique, cardeal e chanceler da Igreja romana. Ao que parece (não é colocado no texto que chega até nós as perguntas objetivamente feitas), esse clérigo deve tê-lo interpelado sobre como o Amor de Deus se manifesta e, inferimos, pela teor do texto escrito, que deveria o senhor Henrique ter ainda indagado o como e o porquê corresponder a esse Amor. Ora, se todo ser humano, mesmo sem fé, deve amar a Deus, muito mais há de fazê-lo o cristão que tem, diante de si, na pessoa de Cristo, a imensa prova do grande amor do Pai por nós. Ele nos enviou – para sofrer e morrer na cruz – o seu próprio Filho quando ainda éramos pecadores (cf. Rm 5,8). Há maior prova de amor do que esta?

Isso posto, tratemos, agora, sobre os quatro graus do Amor. primeiro grau consiste no amor do homem a si próprio. Seria natural e justo que antes de tudo amássemos o Autor de tudo. Todavia, explica-nos São Bernardo, que “a natureza é muito frágil e muito fraca para seguir tal recomendação. Ela começa por amar a si mesma” (p. 55). Desde que exercido dentro da devida moderação e justiça, não há nada de errado nesse amor. Contudo, se ele dita-se em excesso, torna-se egoísta e não compatível com o que Deus deseja de nós. Em se tratando de amor próprio, caso extrapole os limites, deve-se lembrar do preceito que ordena: amarás o teu próximo como a ti mesmo (cf. Mt 22,38). No ato de amar a si com a devida moderação, ou seja, abrindo-se também ao próximo, está o exercício correto do primeiro grau do amor. Entretanto, não é possível amar perfeitamente o próximo se não for em Deus. Vai nos dizer, pois, o Tratado que “devemos então começar por amar a Deus, se se quer amar o próximo nele, de sorte que Deus, que é o autor de todos os outros bens, o é também de nosso amor por ele” (p. 58).

segundo grau consiste no amor do homem a Deus, mas com finalidade em si mesmo, buscando o seu próprio benefício. Podemos perceber muita fragilidade nesse amor, todavia, nos diz São Bernardo, que “há alguma sabedoria nele [nesse amor] por saber [o homem] do que é capaz por si mesmo e o que não pode fazer sem a ajuda de Deus, e por se tentar manter irrepreensível aos olhos daquele que lhe conserva as forças” (p. 61). Ou seja, nesse grau de amor, o homem já reconhece que não é autossuficiente, e que precisa de Deus para as empreitadas da vida. É obrigado, assim, a recorrer, e com frequência, a Deus. 

terceiro grau consiste no amor do homem a Deus com a finalidade de unir-se a Ele, mas ainda não de forma plena ou total. Com o progresso na vida de oração, vai se reconhecendo o quanto Deus é bom, disso chega-se a um ponto que se torna fácil amar o próximo, pois o amamos em Deus. “Quem ama com esse amor, ama tanto quanto é amado, e não busca, por sua vez, senão os interesses de Jesus Cristo, não mais os seus próprios” (p. 63). 

quarto grau consiste no amor em sua plenitude com Deus. Nesse ponto da caminhada, o homem não ama a si mesmo senão por Deus. “Chegar a esse ponto é ser deificado. Igual a uma pequena gota d’água que, misturada a uma grande quantidade de vinho, parece desaparecer, impregnando-se do gosto e da cor desse líquido” (p. 67). 

Para enquadrarmos os quatro graus do amor descrito por São Bernardo no modelo clássico das vias da santificação, podemos dizer que a via purgativa está nos primeiros dois graus do amor; a iluminativa no terceiro grau e a unitiva no quarto grau do amor. 

Leitura sapiencial a cada ser humano que, com a graça de Deus, luta para ser santo como o Pai celeste é santo (Mt 5,48).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF