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sábado, 12 de agosto de 2017

Crônica: O semeador de tâmaras e a solidariedade cristã

O semeador de tâmaras e a solidariedade cristã - REUTERS
Dubai (RV*) - Amigas e amigos da Rádio Vaticano, recebam uma saudação de paz das Arábias.
Morando e exercendo a atividade missionária nas Arábias, fico maravilhado como o conhecimento das Sagradas Escrituras das três religiões monoteístas que surgiram no Oriente Médio aumenta, em contato com a natureza e o povo dessa região desértica.
Entre a escassa vegetação do deserto é inevitável divisar, mesmo de longe, a imponente e bela tamareira. Crescendo lentamente, ela vai conquistando as alturas, infiltrando as raízes de sua touceira por entre as fendas das rochas à procura de água. Não possui uma raiz principal, insinuando supremacia, como nas demais árvores.  Todas são iguais e juntas vão à procura de umidade e nutrientes. Elas trabalham sem cessar para que o tronco se eleve bem alto e lá exiba a imensa copa de folhas azuladas, entremeadas de flores amarelas que darão origem as cobiçadas tâmaras.
A respeito do cultivo das tâmaras, o ditado árabe diz: “Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras.” Isso por que, antes dos avanços das tecnologias, uma tamareira demorava de 80 a 100 anos para produzir frutos.  Apesar de não viver o suficiente para saboreá-los, os antigos plantavam as sementes.
Conta-se que um jovem, vendo um adulto pondo na terra a semente da bela palmeira disse: “Mas por que o senhor perde tanto tempo plantando o que não irá colher?” Calmamente o senhor respondeu: “Se todos pensassem como você, ninguém no mundo jamais colheria tâmaras. Se hoje sei o sabor da tâmara é porque um dia alguém plantou uma tamareira”.
Contemplando a majestosa palmeira do deserto, apreciamos a solidariedade de quem a plantou, indicando que cada geração deve plantar as sementes para as gerações futuras. Assim, nas inóspitas terras das Arábias de antigamente, aprendemos que o cultivador de tâmaras não colhe seus frutos, mas dissemina a solidariedade.
Não importa se vamos colher o que plantamos. O importante é o que vamos deixar. Por isso é preciso plantar, cultivar, fazer crescer o bem não só para nós, mas para que as gerações futuras se beneficiem de nossa solidariedade.
*Missionário Pe. Olmes Milani CS. das Arábias para a Rádio Vaticano
Rádio Vaticano

Dia dos Pais: Dom Sérgio da Rocha diz que o melhor presente é aquele que brota do coração

Dia dos Pais: presidente da CNBB diz que o melhor presente é aquele que brota do coração
Cardeal Dom Sérgio da Rocha
Neste segundo domingo do mês de agosto, se comemora o Dia dos Pais, ocasião especial para demonstrar a gratidão, o carinho e o apoio aos pais – homens que deixam marcas de amor e de fé na história dos filhos. Por ocasião de data tão especial, o arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Sergio da Rocha, concedeu entrevista ao portal da entidade sobre os pais.
O religioso disse que os presentes mais importantes que se podem oferecer aos pais neste dia, não são aqueles que se compram em lojas, mas os que brotam do coração: a gratidão, o carinho, o respeito e a convivência fraterna. 
“Os pais certamente querem ver suas famílias unidas em paz, com os filhos convivendo fraternalmente. Esse é o maior presente que nós podemos dar aos nossos pais nesse dia”, ressalta o cardeal.
Entre tantos pais, vale refletir sobre José, o pai adotivo de Jesus, o “Patrono Universal da Igreja Católica”. José assistiu Jesus, acompanhou e testemunhou o seu crescimento: “E o menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele”. (Lc 2, 40).
Nesta data, também é momento de abraçar todas as famílias dando início à Semana Nacional da Família. De 13 a 19 de agosto, a igreja convoca os cristãos a refletirem sobre o tema proposto pela semana: “Família, uma luz para a vida em sociedade”.
“A semana da família é um momento especial de valorizar a missão de cada pai na família e ao mesmo tempo para valorizar a própria família. É importante acompanhar nossos pais conviver com eles como filhos que trazem no coração uma gratidão muito sincera ”.
Padre quer dizer pai
No dia dos pais, não se pode esquecer dos pais espirituais que são os sacerdotes, homens que tem a missão de gerar filhos para Deus. A palavra “padre” significa: “pai”. Segundo o artigo escrito pelo arcebispo de Palmas (TO), dom Pedro Brito Guimarães, Não foi nenhum Concílio que definiu o padre com esta missão, mas foi o carinho, o capricho e o amor das comunidades eclesiais que chamou o sacerdote de pai. Uma verdadeira profecia, pois, de fato o é.
“Deus escolhe um homem para se tornar padre para que ele se torne pai de uma multidão como as areias do mar e as estrelas do céu. O padre todo dia gera, no seu coração, amor, alegria e paz nos corações dos fiéis. O padre gera cotidianamente uma pessoa nova, uma comunidade nova, uma paróquia nova, uma igreja nova, uma sociedade nova, um novo céu e uma nova terra”, escreveu o bispo no artigo.
A arte de ser pai é um ato de educação, é a arte da aprendizagem, e mais, um ato de amor.
Origem da comemoração no Brasil
No Brasil, o dia dos pais só foi comemorado pela primeira vez em 1953, no dia 16 de agosto. Ela foi pensada por um publicitário chamado Sylvio Bhering, à época diretor do jornal O Globo e da rádio homônima. O objetivo de Bhering era tanto social quanto comercial. No entanto, nos anos seguintes, a data também foi deslocada para um domingo, o segundo domingo do mês de agosto – e assim permanece até hoje.
Fonte:
GUIMARÃES, Pedro Brito. Arcebispo de Palmas – TO. Artigo “Padre quer dizer Pai” publicado em 08/7/2017 . Disponível em http://cnbb.net.br/padre-quer-dizer-pai/
FERNANDES, Cláudio.    “História do Dia dos Pais”; Brasil Escola. Disponível em . Acesso em 10 de agosto de 2017.
CNBB

19º Domingo do Tempo Comum: Senhor, Salva-me!

+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília
O Evangelho nos apresenta um momento muito difícil vivido pelos discípulos (Mt 14,22-33). As expressões utilizadas por Mateus ressaltam bem a situação vivida por eles: era “noite”, com o “vento contrário” e a barca “agitada pelas ondas”. Os discípulos sentem medo, ficam apavorados, e um deles, Pedro, ao querer caminhar, começa até mesmo a afundar, pela fragilidade de sua fé. Apesar de “homem fraco na fé”, o discípulo é capaz de gritar a Jesus, suplicando “Senhor, salva-me!”.
As palavras dirigidas por Jesus aos discípulos, naquela hora de provação, devem animar também a nossa fé, hoje, em meio a tantas dificuldades: “Coragem!”, “Não tenhais medo!”, “Sou eu”, “Vem!”, isto é, caminha, não desanime, tenha fé! Com Pedro, possamos dizer, com confiança, “Senhor, salva-me!”. Com ele e os discípulos, possamos repetir, de coração: “Tu és o Filho de Deus!”.
A travessia de situações de sofrimento é muito exigente. Mas, não estamos sozinhos. Jesus vem ao nosso encontro. Ele está sempre com a mão estendida para nos segurar. É ele quem estendeu a mão e segurou Pedro. Cabe a nós, como ocorreu com o discípulo, aceitar a mão de Jesus estendida, reconhecendo humildemente a nossa fraqueza na fé.
Os discípulos tiveram dificuldade para reconhecer a presença de Jesus que caminhava ao encontro deles, assim como pode acontecer conosco quando passamos por provações. Por isso, torna-se ainda mais importante a oração. A narrativa fala justamente de Jesus que sobe ao monte “para orar, a sós” (Mt 14,23). Na oração, experimentamos o amor de Deus na própria vida, reconhecemos os sinais de sua presença e discernimos o que ele quer de nós.   
Estamos iniciando, hoje, a Semana da Família. Rezemos pelas famílias! A fé em Jesus possa iluminar sempre a vida de nossas famílias, especialmente as que passam por maiores dificuldades. A oração faça parte da vida das famílias. A fé seja vivida por todos, testemunhada pelos pais e transmitida aos filhos. Na família, o pai ocupa lugar de especial importância, juntamente com a mãe. 
Neste Dia dos Pais, rezemos agradecidos a Deus Pai, suplicando pelos pais que continuam a sua missão, assim como, pelos pais falecidos. Os filhos possam oferecer aos pais os presentes mais preciosos que brotam generosamente do coração: as orações, o amor, o respeito, a gratidão, o esforço sincero pela união e a paz. Rezemos, com a nossa família e em nome dela, o refrão do Salmo desta missa (Sl 84): “Mostrai- nos, ó Senhor vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!”
Continuamos a viver, em todo o Brasil, o Mês Vocacional. Rezemos pelas vocações e procuremos refletir sobre como temos vivido a vocação recebida de Deus.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

“A barca golpeada pelas ondas e pelo vento…”

COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

Domingo XIX
Ciclo A
Textos: 1 Re 19, 9.11-13; Rm 9, 1-5; Mt 14, 22-33
Pe. Antônio Rivero, L.C. Doutor em Teologia Espiritual, professor e diretor espiritual no Centro de Noviciado e Humanidades clássicas da Legião de Cristo em Monterrey (México).
Ideia principal: A barca sacudida pelas ondas porque o vento era contrário.
Resumo da mensagem: este é um dos episódios evangélicos que melhor ilustra, por uma parte, a situação da comunidade cristã (a de Mateus e a de todos os tempos) no seu caminho histórico em meio da dificuldade e da tribulação; e por outra, a presença permanente do Senhor ressuscitado na barca de Pedro.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, de que barca se trata? A barca golpeada pelas ondas e pelo vento são bom símbolo de muitas situações pessoais e comunitárias que se repetem na história e na nossa vida. E se trata de ventos fortes. Não só alísios –ventos suaves, regulares, não violentos-, mas monções –quentes com chuvas-, e gélidos e mortais. Elias, depois de muito sucesso contra os profetas e os sacerdotes de Baal, fugiu para o deserto perseguido de morte pela rainha Jezabel. Perdeu a paciência. Já não queria ser profeta. Tudo eram decepções. Para que continuar? Do mesmo modo, vemos o caso de Pedro no Evangelho: sua barca, símbolo da Igreja, cujo primeiro piloto seria ele mesmo, encontra-se em situação comprometida. Parece que vai afundar. Não vai dar pé. Vinte e um séculos de tempestades e ondas encrespadas contra a barca de Pedro, começando com as perseguições romanas, passando pelas heresias e cismas, e hoje por tanta confusão doutrinal, que querem fazer naufragar esta barca em matéria, moral, matrimonial, litúrgica e exegética.
Em segundo lugar, que Pedro e seus companheiros fazem? O medo se apodera deles. Pedro não teme afundar, mas afunda porque teme. A dúvida faz com que perca a segurança e começa a afundar. Mateus quer mostrar o itinerário espiritual do primeiro apóstolo: quando Jesus se apresenta, então ele o reconhece; solicita seu chamado e o segue com confiante audácia. Titubeia, falha na hora do perigo, mas Jesus o salva. Figura exemplar para a Igreja. A comunidade em meio da tormenta se esquece do Jesus da solidariedade e o vê como um fantasma se aproximando na escuridão. Quer ir até Ele, mas se deixa amedrontar pelas forças adversas. O Evangelho nos convida a fazer uma experiência total de Jesus, rompendo nossos prejuízos e nossas seguranças. Devemos deixar que Jesus nos fale através do livro da Bíblia, da Tradição da Igreja e do Magistério, e do livro da vida. Cristo nos convida a não duvidar, pois Ele está na barca. Ele nos diz: “Coragem, sou eu, não tenhais medo”.
Finalmente, que devemos fazer quando parece que nos afogamos num copo d’água? Entre o temor e a esperança, devemos desejar a presença do Senhor. Resignar-se à ausência não é bom sinal para a fé. A fé gera confiança e esta se manifesta na ousadia que vence o medo. Afundamos quando nos apoiamos só em nossas forças ou razões. Não são nosso próprio poder e saber o que nos mantém de pé, mas é a força do Senhor. A autoestima é boa conquanto não degenere na autossuficiência. Não nos cansemos de confessar em nossa barca diariamente: “Realmente, tu és o Filho de Deus”. Este é o anúncio que deve se desprender de nossos lábios e de nossa vida.
Para refletir: quais ondas agitam a minha barca? Clamo a Jesus com a força da fé para que Ele me salve? Quantas vezes escutei de Cristo: “Homem de pouca fé”? Penso que minha vida cristã deve ser sempre um mar de rosas?
Você pode entrar em contato com o Pe. Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
ZENIT

De escritos diversos da História da Ordem dos Pregadores

(Libelus de principis O.P.: Acta canonizationis sancti Dominici: Monumenta O. P. Mist. 16, Romae 1935, pp. 30s.,146-147)            (Séc.XIII)

Falava com Deus ou de Deus
Domingos possuía tão grande nobreza de comportamento, e o ímpeto do divino fervor tanto o arrebatava que, sem dificuldade, era reconhecido como vaso de honra e de graça. Possuía serenidade de espírito extremamente constante,a não ser que a compaixão e a misericórdia a turbassem; e visto que o coração jubiloso alegra o semblante, revelava exteriormente a placidez do homem interior pela benignidade visível e alegria do rosto. 
Em toda parte, mostrava-se homem evangélico por palavras e atos. Durante o dia, com os irmãos e companheiros, ninguém mais simples, ninguém mais agradável. À noite, ninguém mais vigilante, nem mais insistente de todos os modos na oração. Falava raramente; vivia com Deus na oração, e sobre isto exortava seus irmãos. 
Havia um pedido a Deus que lhe era frequente e especial: que lhe concedesse a verdadeira caridade, eficaz em atender e em favorecer a salvação dos homens. Assim fazia porque julgava que só seria verdadeiramente um bom membro de Cristo, quando se entregasse totalmente à salvação dos homens, como o Salvador de todos, o Senhor Jesus, que se ofereceu todo para nossa salvação. Para este fim, após madura e demorada deliberação, fundou a Ordem dos Frades Pregadores. 
Exortava constantemente por palavras e por escrito os irmãos desta Ordem a que sempre se aplicassem ao Novo e ao Antigo Testamento. Trazia sempre consigo o evangelho de Mateus e as epístolas de São Paulo; lia-os tanto, a ponto de sabê-los quase de cor. 
Por duas ou três vezes, eleito bispo, recusou sempre, preferindo viver na pobreza com os irmãos a possuir um episcopado. Guardou ilibada até o fim a limpidez de sua virgindade. Desejava ser flagelado, ser cortado em pedaços e morrer pela fé cristã. Dele afirmou Gregório IX: “Conheci um homem, que seguiu em tudo o modo de vida dos apóstolos; não há dúvida de que esteja unido nos céus à glória dos mesmos apóstolos”.
www.liturgiadashoras.org

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Da chamada Carta de Barnabé

(Cap.2,6-10;3,1.3;4,10-14:Funk 1,7-9.13)                (Séc.II)


A nova lei de nosso Senhor
Deus ab-rogou, portanto, tudo, a fim de que a nova lei de nosso Senhor Jesus Cristo, não submetida ao jugo da necessidade, contenha a oblação não feita pelos homens. Pois disse-lhes em outro lugar: Acaso mandei eu a vossos pais, ao saírem do Egito, que me oferecessem holocaustos e sacrifícios? Ao invés, ordenei-lhes: Que nenhum de vós excogite o mal em seu coração contra o próximo nem façais falso juramento (cf. Jr 7,22-23). 
Temos então de compreender, se não somos insensatos, o senso de bondade de nosso Pai. Mostra-nos o modo de nos aproximarmos dele, por não querer que, à semelhança dos antepassados, andemos errantes em sua busca. Por isso ele nos fala assim: Sacrifícios para o Senhor é o coração contrito; odor de suavidade, o coração que glorifica aquele que o plasmou (cf. Sl 50,19). Com todo o cuidado, irmãos, investiguemos o que se relaciona com a nossa salvação, para que o Maligno sedutor não se insinue em nós e nos lance fora de nossa vida. 
Sobre isto lhes fala também em outra passagem: Por que jejuais para mim, diz o Senhor, de modo que hoje se escute vossa voz aos brados? Não é este o jejum que escolhi, diz o Senhor, não é o homem a humilhar sua alma (Is 58,4-5). A nós, porém, diz: Eis o jejum que eu escolhi, diz o Senhor: quebra toda cadeia de injustiça, desata os laços dos pactos violentos, deixa ir livres os oprimidos e rasga todo contrato iníquo. Parte teu pão com os famintos, ao veres um nu, cobre-o; faze entrar em tua casa aqueles que não têm teto. (cf. Is 58,6-10). 
Fujamos de toda vaidade, tenhamos ódio profundo pelas obras dos caminhos maus. Não vos isoleis, fechando-vos sobre vós mesmos, como se já estivésseis justificados. Ao contrário, congregados na unidade, buscai aquilo que é do proveito de todos. A Escritura ensina: Ai dos prudentes para si mesmos e sábios aos próprios olhos (Is 5,21). Tornemo-nos espirituais, sejamos perfeito templo de Deus. Na medida do possível, meditemos sobre o temor de Deus e lutemos por guardar seus mandamentos, para nos alegrar com seus juízos. O Senhor julgará o mundo sem acepção de pessoas (cf. 1Pd 1,17). Cada um receberá conforme viveu; se houver sido bom, sua justiça o precederá; se mau, a paga da maldade estará diante dele. Não aconteça que, descansando em nossa vocação, durmamos em nossos pecados e o príncipe do mal, tendo obtido poder sobre nós, nos arrebate do reino do Senhor. 
Entendei ainda isto, irmãos meus: se, como vedes, depois de tantos sinais e prodígios feitos em Israel, no entanto, eles são abandonados, estejamos atentos para que não se cumpra em nós o que está escrito, muitos os chamados, poucos os escolhidos (Mt 22,14).
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domingo, 6 de agosto de 2017

Do Sermão no dia da Transfiguração do Senhor, de Anastásio Sinaíta, bispo

Imagem relacionada
(Nn.6-10: Mélanges d’archéologie ET d’histoire 67[1955],241-244)             (Séc.VII)


É bom nós estarmos aqui
Jesus manifestou a seus discípulos este mistério no monte Tabor. Havia andado com eles, falando-lhes a respeito de seu reino e da segunda vinda na glória. Mas talvez não estivessem muito seguros daquilo que lhes anunciara sobre o reino. Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do reino dos céus. Foi como se dissesse: Para que a demora não faça nascer em vós a incredulidade, logo, agora mesmo, eu vos digo, alguns dos que aqui estão não provarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo na glória de seu Pai (cf. Mt 16,28). Mostrando o Evangelista ser um só o poder de Cristo com sua vontade, acrescentou: E seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte alto e afastado. E transfigurou-se diante deles; seu rosto brilhou como o sol, as vestes se fizeram alvas como a neve. E eis que apareceram Moisés e Elias a falar com ele (cf. Mt 17,1-3). 
São estas as maravilhas da presente solenidade, é este o mistério de salvação para nós que agora se cumpriu no monte: ao mesmo tempo, congregam-nos agora a morte e a festa de Cristo. Para penetrarmos junto àqueles escolhidos dentre os discípulos, inspirados por Deus, na profundeza destes inefáveis e sagrados mistérios, escutemos a voz divina que do alto, do cume da montanha, nos chama instantemente.  
Para lá, cumpre nos apresarmos, ouso dizer, como Jesus, que agora nos céus é nosso chefe e precursor, com quem refulgiremos aos olhos espirituais – renovadas de certo modo as feições de nossa alma – conformados à sua imagem; e à semelhança dele, incessantemente transfigurados, feitos consortes da natureza divina e prontos para as alturas.  
Para lá corramos cheios de ardor e de alegria; entremos na nuvem misteriosa, semelhantes a Moisés e Elias ou Tiago e João. Sê tu também como Pedro, arrebatado pela divina visão e aparição, transfigurado por esta linda Transfiguração, erguido do mundo, separado da terra. Deixa a carne,abandona a criatura e converte-te para o Criador a quem Pedro, fora de si, diz:Senhor, é bom para nós estarmos aqui (Mt 17,4). 
Sim, Pedro, verdadeiramente é bom para nós estarmos aqui com Jesus e aqui permanecermos pelos séculos. Que pode haver de mais delicioso,de mais profundo, de melhor do que estar com Deus, conformar-se a ele, encontrar-se na luz? De fato, cada um de nós, tendo Deus em si, transfigurado em sua imagem divina, exclame jubiloso: É bom para nós estarmos aqui, onde tudo é luminoso, onde está o gáudio, a felicidade e a alegria. Onde no coração tudo é tranquilo, sereno e suave. Onde se vê a Cristo, Deus. Onde ele junto com o Pai tem sua morada e ao entrar, diz: Hoje chegou a salvação para esta casa (Lc 19,9). Onde com Cristo estão os tesouros e se acumulam os bens eternos. Onde as primícias e figuras dos séculos futuros se desenham como em espelho.
www.liturgiadashoras.org

A relíquia de S. Nicolau que o Vaticano levou para a Rússia

(ZENIT – Ciudad del Vaticano, 27 Jul. 2017).- O presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o Cardeal Kurt Koch, declarou ao L’Osservatore Romano, que a acolhida que a relíquia de São Nicolau recebeu na Federação Russa, onde foi venerada por mais de 2,5 milhões de fiéis, foi um grande acontecimento ecumênico.
Foi “muito importante porque a veneração das relíquias pode ajudar a envolver os fiéis no esforço pelo diálogo. De fato, é bonito que os líderes das Igrejas se encontrem, mas é muito importante que também o povo o faça”, disse.
O purpurado guia a delegação que amanhã sexta-feira 28, de São Petersburgo vai trazer de volta à cidade italiana de Bari a relíquia do Santo bispo de Myra.
São Nicolau é um dos Santos mais venerados no mundo, reconhecido por fiéis de diferentes Igrejas e Confissões cristãs, como defensor dos fracos e dos perseguidos, protetor da infância, dos marinheiros, das crianças. A substancial universalidade de seu culto, que alimentou riquíssimas tradições populares, acabou criando uma verdadeira ponte entre o Oriente e o Ocidente.
O dominicano Hyacinthe Destivelle, oficial do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, também ele presente na delegação que partiu de Roma disse: “É simbolicamente muito bonito que este traslado da relíquia tenha sido feito após o encontro em Cuba entre o Papa Francisco e o Patriarca Kirill em 2016, como sinal de amizade, para confiar à São Nicolau a aproximação entre nossas Igrejas”.
“A extraordinária afluência de fiéis em Moscou e em São Petersburgo não surpreende. São Nicolau está muito ligado à história russa. Um terço das igrejas levam o seu nome e em todas as casas há um ícone seu diante do qual se pede a proteção para a família”, indicou o dominicano.
E concluiu: “Nicolau não é somente o protetor dos marinheiros, mas aquele que vem em socorro em todas as decisões concretas da vida de todos os dias. É o santo que indica o bom caminho”.
Na noite desta quinta-feira, 27, o Cardeal Koch, após ter visitado as principais igrejas de São Petersburgo e celebrado a missa na Basílica católica de Santa Catarina, encontra o Metropolita Hilarion de Volokolamsk, Presidente do Departamento para as Relações eclesiásticas Externas do Patriarcado.
Na sexta-feira, a delegação terá um encontro com o Patriarca Kirill. Católicos e ortodoxos rezarão juntos, diante da relíquia de São Nicolau, antes de seu retorno à Itália na parte da tarde, com chegada prevista ao Aeroporto de Bari às 19 horas.
Imediatamente a relíquia será levada até a Basílica onde, com uma solene procissão e a récita das Vésperas, será colocada no sepulcro do Santo na presença de um escrivão, chamado para redigir o ato formal que registrará para a história, “o retorno de São Nicolau” a Bari.
Com o Cardeal viajaram, entre outros, o Arcebispo de Bari-Bitonto, Dom Francesco Cacucci, o Reitor da Basílica de São Nicolau, Padre Ciro Capotosto, e uma representação do Patriarcado de Moscou.
A delegação foi recebida na Rússia pelo Bispo Nazarij di Kronstadt, que hospedará os visitantes nestes dias de permanência na Federação Russa.
ZENIT

sábado, 5 de agosto de 2017

Transfiguração do Senhor

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+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília
No centro da passagem da Transfiguração encontra-se o convite do Pai para escutar a voz de Jesus Cristo: Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o” (Mt 17,5). Esta é a atitude a ser cultivada por todos nós. Este é o caminho para que a “transfiguração” aconteça na vida das pessoas, das famílias e da sociedade, tantas vezes, desfiguradas pelas situações de pecado ou de angústia causada pela grave crise que sofremos.
É preciso ter a sua Palavra “diante dos olhos, como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em nossos corações”, conforme a Segunda Carta de Pedro. Para isso, necessitamos ser discípulos que se disponham a subir a “alta montanha”, conforme a expressão empregada por Mateus (Mt 17,1); “para orar”, segundo explicita Lucas (Lc 9,28).
Contudo, o discípulo não sobe sozinho o monte da Transfiguração; não realiza tal experiência por sua própria conta. “Sobe” porque o Senhor o “toma consigo”. A graça de Deus precede e acompanha a subida; a acolhida da graça nos leva a caminhar para o alto. Além disso, o discípulo não sobe só, mas em comunhão; sobem juntos! Os discípulos que vivem da oração e da escuta da Palavra se revelam, ao mesmo tempo, como discípulos em comunhão.
Aqueles que sobem o Tabor, uma vez encontrando-se com o Senhor transfigurado, não podem se instalar comodamente sobre o monte, ainda que seja sincero o desejo de construir tendas e de lá permanecer. É preciso descer o Monte para a missão, na certeza que o Senhor ressuscitado nos acompanha e sustenta. Jesus tocando os discípulos disse-lhes: “levantai-vos e não tenhais medo”. E eles desceram em direção à multidão, especialmente, aos doentes e a toda a gente sofrida.
Devemos sair ao encontro das ovelhas feridas e caminhar em busca das ovelhas desgarradas, revelando-lhes o rosto misericordioso de Jesus. A Igreja orante, que vive da Palavra e da Eucaristia, se faz Igreja solidária e servidora dos que mais sofrem. A Igreja que contempla a glória do Senhor sobre o monte Tabor se dispõe a contemplar o rosto de Cristo Sofredor no calvário, reconhecendo-o nas feições dos pobres, dos enfermos e das vítimas das muitas formas de violação à vida e à dignidade das pessoas.  É preciso subir o Tabor para dispor-se a subir o Calvário, com Cristo.
Neste primeiro domingo do mês vocacional, somos convidados a rezar especialmente pelas vocações sacerdotais, refletindo sobre a sua importância na Igreja. Agradeçamos cordialmente a dedicação pastoral de nossos padres e rezemos por eles, para que sejam fiéis e felizes na vivência do sacerdócio, contando sempre com a graça de Deus, com a oração e o apoio da comunidade.
Arquidiocese de Brasília

Padre, um homem de Deus

Rio de Janeiro (Sexta-feira, 04-08-2017, Gaudium Press) A Igreja Católica comemora nesta sexta-feira, 4 de agosto, a memória de São João Batista Vianney, conhecido popularmente como Santo Cura d'Ars, Padroeiro dos párocos e sacerdotes. Por ocasião desta data importante, a Gaudium Press transcreveu abaixo o mais recente artigo escrito pelo Cardeal Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro.
O sacerdote é dom porque o seu ministério sacerdotal, desdobrado em conduta, serviços, vivências e posturas, é manifestação e concretização deste amor. O Padre, homem escolhido entre homens e constituído em favor de todos, é discípulo missionário servidor do povo de Deus. E sustentado pela contínua busca da santidade de vida, é facilitador desse indispensável e inadiável encontro pessoal com o Cristo vivo, levando todos ao reconhecimento e à sabedoria de pautar a sua vida tendo Deus como seu centro e fonte inesgotável do seu sentido. O sacerdote, por isso mesmo, faz anteceder às suas muitas tarefas no labor de cada dia a serviço do povo, anunciando o Evangelho, o cuidado e o compromisso com a condição do seu ser. É a santidade de vida que alavanca, fecunda e torna exitoso o serviço prestado na condição própria de sacerdote.

O sacerdócio é uma verdadeira mediação salvífica-sacramental que expressa através do seguimento peculiar de Cristo Bom Pastor. A consciência de eleição pessoal amorosa de Deus influenciará muito na vida e na espiritualidade do sacerdote. O ministério sacerdotal é um seguimento de totalidade, expressado em termos de pobreza, generosidade, associação esponsal e humidade (Sequela Christi).
Na realidade há um só Pastor: Nosso Senhor Jesus Cristo. E Ele é a fonte e o modelo dos demais pastores. A caridade pastoral é a nota característica do ministério sacerdotal como prolongação do autor e da disponibilidade de Cristo Pastor. A caridade que arranca uma consagração que se orienta para uma missão universal e que exige a imolação da própria vida. É o serviço pastoral como sintonia à proximidade e humilhação "Kenosis" (esvaziamento de si).
O modelo para todos os padres é sempre Cristo o Bom Pastor. Pouco a pouco o Senhor irá nos formando de tal forma que experimentaremos a alegria de senhor, através da Igreja, colocou para levarmos adiante no caminho da santidade. Um dos segredos de um bom pastoreio é justamente amar o povo que é Deus e, com Cristo, dar a vida por esse mesmo povo, à semelhança d' Aquele que, entregando por nós Sua Vida, nos impulsiona para viver esse grande dom, que é também nossa grande alegria! Quanto mais estivermos empenhados nessa direção mais os nossos corações estarão imersos na experiência de Deus que nos ama e que nos convida a anunciar o Seu amor a todos na construção desse mundo novo.
Lembremos do magistério pontifício acerca do sacerdócio:
São João XXIII- "Nós desejaríamos, veneráveis irmãos, que todos os padres das vossas dioceses se deixassem convencer, pelo testemunho do santo cura d'Ars, da necessidade de serem homens de oração e da possibilidade de o serem, qualquer que seja a sobrecarga por vezes extrema dos trabalhos do seu ministério. Mas para isso ‚ necessária uma fé viva, como a que animava João Maria Vianney e o fazia realizar maravilhas. "Que fé! - exclamava um dos seus colegas. Chegaria para enriquecer uma diocese inteira".
Concílio Vaticano II, Beato Paulo VI na "Christus Dominus"
Os principais colaboradores do Bispo são, todavia, os párocos, a quem, como pastores próprios, é confiada, sob a autoridade do Bispo, a cura de almas numa parte determinada da diocese. [...] Com os seus coadjutores, exerçam de tal maneira o seu ministério de ensinar, santificar e governar, que os fiéis e as comunidades paroquiais se sintam de facto membros tanto da diocese como do todo que forma a Igreja universal.
São João Paulo II
O Sacerdócio de Jesus Cristo é, efetivamente, a primeira fonte e expressão da incessante e sempre eficaz solicitude pela nossa salvação, que nos leva a ver n'Ele exatamente o Bom Pastor. As palavras «o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas" não se referem, porventura, ao Sacrifício da Cruz, o ato definitivo do Sacerdócio de Cristo? E, uma vez que o Senhor Jesus Cristo nos tornou participantes do seu Sacerdócio, mediante o sacramento da Ordem, não estão essas mesmas palavras a indicar-nos a todos o caminho que também nós devemos percorrer? Não nos dizem que a nossa vocação é singular solicitude pela salvação do próximo? E não nos dizem que tal solicitude constitui particular razão de ser da nossa vida sacerdotal? E não dizem que é essa solicitude, precisamente, que lhe dá sentido, e que só por meio dela nós poderemos encontrar o significado pleno da nossa mesma vida, perfeição e santidade? Este tema é tratado em várias passagens do Decreto conciliar Optatam Totius . Este problema, torna-se, todavia, mais compreensível à luz das palavras do Mestre, quando diz: "Ouem quiser salvar a vida, perdê-la-á; mas quem a perder por causa de mim e do Evangelho, salvá-la-á" (Discurso de São João Paulo II no ano de 1979 a todos os padres por ocasião da quinta-feira santa. 
Papa Bento XVI
"A Igreja tem necessidade de sacerdotes santos, de ministros que ajudem os fiéis a experimentar o amor misericordioso do Senhor e sejam suas testemunhas convictas. Na adoração eucarística, após a celebração das Vésperas, pediremos ao Senhor que inflame o coração de cada presbítero com essa caridade pastoral capaz de fundir seu "eu" no de Jesus sacerdote, para assim poder imitá-lo na mais completa entrega de si mesmo. Que nos obtenha esta graça a Virgem Mãe, de quem amanhã contemplaremos com viva fé o Coração Imaculado. O Santo Cura de Ars vivia uma filial devoção por ela, até o ponto de que, em 1836, antecipando-se à proclamação do dogma da Imaculada Conceição, já havia consagrado sua paróquia a Maria "concebida sem pecado". E manteve o costume de renovar frequentemente esta oferenda da paróquia à Santa Virgem, ensinando aos fiéis que "basta dirigir-se a ela para ser escutados", pela simples razão de que ela "deseja sobretudo ver-nos felizes". (Pensamento retirado da homilia de abertura do ano sacerdotal.
Papa Francisco
"Reiterando a importância da formação humana, o Pontífice afirmou que um padre em paz consigo mesmo saberá "difundir serenidade" até mesmo nos momentos mais difíceis, "transmitindo a beleza do encontro com o Senhor". "Não é normal que um padre seja frequentemente triste, nervoso ou duro de caráter; não está bem e não faz bem, nem ao padre, nem a seu povo. Nós, sacerdotes, somos apóstolos da alegria, anunciamos o Evangelho, a ‘boa nova".
O sacerdote é, sobretudo, um homem de Deus - "vir-Dei". Ao cumprimentar todo o querido presbitério do Rio de Janeiro, com meu afeto e a minha gratidão, suplico a São João Maria Vianney, que Deus Nosso Pastor e guia nos ilumine e nos guarde para que a cada dia possamos desempenhar bem a nossa missão. Deus nos faz servos e testemunhas da verdade e do seu amor. Assim, Cristo sacerdote prolonga sua realidade sacerdotal na Igreja, especialmente através do ministério apostólico.
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro


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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF