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terça-feira, 17 de agosto de 2021

Os ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio (Parte 4/5)

Presbíteros
Os Ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio: uma resposta aos desafios de um mundo secularizado.

3. «Empresto ao Senhor minhas mãos».

Amor a liturgia e obediência a Igreja.

Na Santa Missa, é Cristo aquele que, através do sacerdote, oferece-se ao Pai pelo Espírito Santo. As mãos do presbítero, ungidas durante a cerimônia de ordenação, sempre foram veneradas pelos cristãos, porque trazem a Cristo, porque são dispensadoras dos tesouros da redenção.

São Josemaría tinha uma via consciência de que a liturgia é ação divina, sagrada, e não ação humana. Se um mundo descristianizado caracteriza-se, em boa parte, pela ausência do sagrado, o sacerdote tem hoje um grande desafio de esmerar-se no cuidado da liturgia, “emprestando a Deus suas mães” e seu ser por inteiro.

Isto significa evitar protagonismos que podem obscurecer a ação divina. Também no serviço litúrgico é válida a fórmula de São Josemaría: “Ocultar-se e desaparecer é comigo mesmo, que somente Jesus brilhe” (São Josemaría, Carta com motivo das bodas de ouro sacerdotais, 28-I-1975). Este princípio corresponde a lógica da fé e da visão sobrenatural. Somente desde a fé se pode entender em profundidade a eficácia sobrenatural que encerra o princípio de “emprestar ao Senhor minhas mãos”; e se aceitam com gosto as consequências práticas as quais conduz: fidelidade à fé e à doutrina católica, e obediência delicada às normas litúrgicas:

“Que coloqueis sempre um particular empenho em seguir com toda docilidade o Magistério da Santa Igreja; e, como consequência, que também cumpris, com delicada obediência, todas as indicações da Santa Sé em matéria litúrgica, adaptando-os com generosidade as possíveis modificações – que sempre serão acidentais – que o Romano Pontífice possa introduzir na lex orandi” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 22).

As mãos do sacerdote devem ser as mãos de uma pessoa enamorada, que sabe tratar com delicadeza as coisas do Senhor e, muito especialmente, tudo o que se relaciona com o culto divino. O descuido de igrejas, altares e objetos de culto transmite inevitavelmente certa sensação de ausência de Deus ou de indiferença. Para fazer frente ao mundo materialista, é necessário um cuidado atento de tudo aquilo relacionado com a presença sacramental do Senhor na Eucaristia. Numa celebração litúrgica imbuída de espírito de adoração encerra-se uma sóbria beleza, que eleva o espírito a Deus e comunica a presença do Sagrado. São Josemaría viveu sempre com a preocupação de que nunca é demais a dignidade do culto.

“Tratai bem os objetos de culto: é manifestação de fé, de piedade e dessa nossa bendita pobreza que, se nos leva a destinar ao culto o melhor daquilo que podemos dispor, nos obriga por isso mesmo a trata-lo com a mais sensível delicadeza: sancta sancte tractanda! São joias de Deus. Os cálices sagrados e as alfaias santas e o demais que pertence a Paixão do Senhor… por seu consorcio com o Corpo e o Sangue do Senhor devem ser venerados com a mesma reverência que seu Corpo e seu Sangue (S. Jerônimo, Epist. 114, 2)” (Ibid., n. 23).

+ Javier Echevarría / Prelado do Opus Dei

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Tertuliano de Cartago: Tratado sobre a Oração (Parte 4/11)

Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor
Tratado sobre a Oração

VI

“Dá-nos hoje o nosso pão cotidiano”

1. Com que arte a sabedoria divina dispõe as partes desta oração! Depois das coisas do céu, isto é, depois do nome de Deus, da vontade de Deus e do Reino de Deus, podemos pedir por nossas necessidades terrestres. O Senhor, com efeito, já havia declarado: “Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus, e recebereis a mais as outras coisas por acréscimo” (Mt 6,33).

2. Na verdade, devemos entender, antes, em sentido espiritual o pedido: “Dá-nos hoje o nosso pão cotidiano”. O Cristo, com efeito, é nosso pão, porque o Cristo é vida, e o pão também é vida. Aliás, ele disse: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,35), e um pouco antes: “O pão é a Palavra do Deus vivo, que desceu do céu” (cf. Jo 6,32). Ademais, como ele disse: “Isto é o meu corpo” (Lc 22,19), cremos que o seu corpo está presente no pão. Assim, pedindo o pão cotidiano, rogamos a Deus viver sempre em Cristo e inseparáveis do seu corpo.

3. Mas, se compreendermos em sentido literal estas palavras, não poderia ser à custa do seu caráter religioso e do ensino espiritual dado pelo Senhor. Com efeito, ele manda que peçamos o pão, como a única coisa necessária aos que têm fé. Dos outros bens, são os pagãos que vão em busca (cf Mt 6,32-33). Para nos fazer compreender isto, o Senhor usa exemplos e emprega parábolas, como, por exemplo, quando pergunta: “Acaso tira o pai o pão dos seus filhos e o atira aos cães?” (Mt 15,26Mc 7,27). E ainda: “Acaso ele dá uma pedra ao filho que pede pão?” (Mt 7,9). Ele mostra, assim, o que devem os filhos esperar do pai. E o homem que bate à porta do seu amigo em plena noite, ele o faz para obter pão (cf. Lc 11,5-8).

4. Com razão, o Senhor acrescenta: “Dá-nos hoje”. Porque já antes prevenira: “Não vos preocupeis com o que havereis de comer amanhã” (cf. Mt 6,34). No mesmo sentido, ele utiliza aquela parábola do homem preocupado em ampliar seus celeiros para reservar as colheitas abundantes e, assim, gozar de segurança por muito tempo. Mas nessa mesma noite ele morreu! (cf. Lc 12,l6ss).

VII

“Perdoa-nos as nossas dívidas”

1. É óbvio que, depois de venerar a generosidade de Deus, roguemos também a sua clemência. De que nos serviria o alimento, se aos olhos de Deus não fôssemos senão como um touro a engordar para ser sacrificado? O Senhor sabe que só ele é sem pecado. É por isso que ele nos ensina a pedir: “Perdoa-nos as nossas dívidas”. Pedir perdão já é uma confissão, pois quem pede perdão, confessa ter pecado. Assim, a penitência se revela agradável a Deus, porque ele a prefere à morte do pecador (cf. Ez 18,21-23).

2. Na Escritura, a palavra “dívida” significa pecado, no sentido de se faltar ao dever. Ao juiz submete-se esta dívida, cujo pagamento é exigido por ele. Só se pode escapar ao pagamento da divida, se o juiz a perdoar. Como o caso daquele servo a quem o patrão perdoou sua dívida (cf. Mt 18,23-35). A parábola inteira é um exemplo do que dizemos. O senhor liberta o servo da sua dívida, mas este, por sua vez, não perdoa ao seu devedor. Acusado junto do seu patrão é entregue ao algoz até que pague o último centavo, isto é, até mesmo pela falta mais leve (cf. Mt 5,25ss). Tudo isso tem o mesmo sentido daquilo que afirmamos: “Perdoamos aos nossos devedores”.

3. Em outro lugar, o Senhor diz, empregando as mesmas palavras desta oração: “Perdoai, e vos será perdoado” (Lc 6,37). E quando Pedro perguntou se devia perdoar sete vezes ao irmão, o Senhor respondeu: “Mais ainda, setenta e sete vezes” (Mt 18,21-22). Deste modo, o Senhor aperfeiçoava a Lei, visto que no livro do Génesis se declara que Caim será vingado sete vezes e Lamec setenta e sete (cf. Gn 4,15.24).

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

Padres e religiosos se preparam para deixar o Afeganistão

Talibãs no Afeganistão / Crédito: EWTN Notícias

REDAÇÃO CENTRAL, 17 ago. 21 / 10:57 am (ACI).- A Caritas italiana informou que os poucos sacerdotes e religiosos que estão em Cabul, capital do Afeganistão, se preparam para deixar o país que foi retomado pelos radicais muçulmanos do Talebã depois que os EUA retiraram suas tropas do país.

“Junto com o pessoal das embaixadas, também os pouquíssimos sacerdotes, religiosos e religiosas que estão em Cabul estão se preparando para um inevitável retorno”, informou a Caritas italiana, presente no país de maioria muçulmana desde a década de 90, antes de que os talibãs assumissem o poder pela primeira vez, em 1996.

Os talibãs foram derrubados anos depois, pelos rebeldes da Aliança do Norte e com o apoio dos Estados Unidos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

“Depois de uma guerra de 20 anos, com custos humanos incalculáveis e com milhares de euros gastos, a retirada das forças armadas norte-americanas está deixando o país em um trágico abismo”, afirmou Caritas em um comunicado.

“Como sempre, os mais fracos pagarão o preço mais caro, com dezenas de milhares fugindo das zonas de combate, enquanto os talibãs agora estão na capital, Cabul”, diz a nota.

Em 8 de julho de 2021, o presidente americano Joe Biden afirmou que a retirada de seus militares, iniciada em maio, será “concluída em 31 de agosto”.

Os talibãs, extremistas muçulmanos da etnia Pashtun, chegaram às portas de Cabul no domingo, 15 de agosto, depois de terem controlado quase todo o país. Tomaram o palácio presidencial, após a saída do presidente Ashraf Ghani.

Em seu comunicado, a Caritas lembrou o chamado do papa Francisco no Angelus do domingo, 15 de agosto, e lembrou que “a comunidade cristã é uma pequena, mas significativa comunidade que, nos últimos anos, deu testemunho com sua atenção aos mais pobres e frágeis”.

No Afeganistão só há uma igreja, que fica dentro da embaixada italiana. Foi construída em 1921 e confiada aos missionários barnabitas pelo papa Pio XI, em 1932. A atual capela foi construída em 1960.

Nos primeiros séculos da cristandade, o cristianismo esteve presente no território afegão, mas foi eliminado pelo Império Otomano. Em 1919, a Itália foi o primeiro país a reconhecer a independência do Afeganistão, que perguntou o que poderia dar em troca. A Itália não pediu favores comerciais ou privilégios particulares, mas a possibilidade de construir um local de culto, ampliando de forma eficaz a liberdade religiosa.

A capela foi confiada à missão “sui iuris” do Afeganistão, liderada pelos padres barnabitas que estão no país desde 1934. Em 1992, após o fim da dominação soviética, os barnabitas apresentaram um projeto para a construção de uma igreja no país, que não prosperou por causa da guerra civil e da sucessiva tomada do poder dos talibãs. Na Igreja, uma missão “sui iuris” é uma presença católica num território onde a fé católica não é reconhecida. Diversos missionários atuam no Afeganistão.

Desde a década de 1990, a Caritas Italiana iniciou seu trabalho no Afeganistão. Nos “primeiros anos do ano 2000, sustentou um amplo programa de ajuda de urgência, reabilitação e desenvolvimento, a construção de quatro escolas no vale do Ghor, o regresso de 483 famílias de refugiados no vale do Panshir com a construção de 100 alojamentos tradicionais para as famílias mais pobres e a assistência às pessoas com deficiência”.

Entre junho de 2004 e dezembro de 2007, dois agentes da Caritas Italiana se alternaram no país para coordenar e facilitar as atividades no local.

Segundo a Caritas, com a atual instabilidade “crescem os temores sobre a possibilidade de manter uma presença também no futuro, além da segurança dos poucos afegãos de confissão cristã”.

A Caritas disse que “nessas horas uma massa crescente de refugiados está fugindo das zonas de guerra, aumentando a pressão nos países vizinhos. No Paquistão, a Caritas fará uma avaliação, a partir desta segunda-feira, da situação na região de Quetta, na fronteira com o Afeganistão”.

Fonte: ACI Digital

Lesbos, irmãs scalabrinianas ao lado de migrantes e refugiados

Campo de refugiados na ilha grega de Lesbos | Vatican News

Acaba de partir para a ilha grega, pelo segundo ano consecutivo, a missão itinerante de um grupo de religiosas, em colaboração com a Comunidade romana de Santo Egídio, para apoiar milhares de pessoas que buscam a salvação na Europa.

Francesca Sabatinelli – Vatican News

Entre as muitas mãos estendidas àqueles que se refugiam na área de fronteira da ilha grega de Lesbos, à qual chegam migrantes e refugiados após viagens intermináveis, exaustivas e perigosas, estão as das irmãs scalabrinianas. Para elas, cujo carisma é o serviço evangélico e missionário aos migrantes, estar em Lesbos significa "servir o Cristo Peregrino, o Cristo migrante". Sua presença faz parte da atividade solidária de verão, até 31 de agosto, realizada pela Comunidade romana de Sant'Egidio ao lado dos refugiados no campo denominado Moria 2, após o incêndio que em setembro do ano passado destruiu o campo de Moria e que, até hoje, abriga cerca de 4.500 pessoas, que vivem em tendas e contêineres colocados ao longo do mar.

Campo de refugiados na Grécia | Vatican News
Sete scalabrinianas a serviço dos refugiados de Lesbos

Sete irmãs scalabrinianas no total estão trabalhando em Lesbos durante os meses de verão, incluindo uma italiana, Irmã Patrizia Bongo, nascida em 1975, enfermeira e missionária na Suíça. Ela disse ao Vatican News que conhece a migração em primeira pessoa, porque viveu a maior parte de sua vida na Alemanha, para onde seu avô emigrou muitos anos antes.

Sou a filha de uma emigração rica", ressalta a religiosa, "fui para a Alemanha de carro, não tenho a experiência do meu avô que, pobre homem, não sabia onde ele iria parar". Ele entrou no trem na Puglia (região do sul da Itália, ndr) e desceu em uma estação alemã sem saber onde estava".

“Experimentei a emigração do não ser compreendida por causa das dificuldades linguísticas, posso me identificar com as condições de um emigrante, mas não com as de um refugiado, de uma pessoa deslocada, porque não as experimentei, e ver estas situações aqui é realmente de partir o coração.”

Lesbos, a tragédia sem fim | Vatican News
Barricadas, arame farpado e polícia

Em Lesbos, há um alarme constante ao qual todos devem responder, explicam as scalabrinianas, chamadas a ajudar todos aqueles que continuam lotando as rotas do Mediterrâneo e cuja atividade missionária, na ilha grega, não é somente em resposta a necessidades concretas, mas também à busca de conforto daqueles que perderam tudo, sobretudo as pessoas mais queridas.

"Como irmãs scalabrinianas - diz a Irmã Patrizia - aqui em Lesbos somos uma gota de água muito simples no vasto oceano, nosso papel é dar um sorriso, nossa amizade, dar amor". Antes de chegar a Lesbos, Patrizia estava entusiasmada, ela havia se informado através da Comunidade de Santo Egídio, havia olhado algumas fotos, mas nunca teria imaginado o que encontrou.  "Quando cheguei aqui à ilha e me aproximei do campo, vendo aquelas barricadas, o arame farpado, vendo a polícia nos controles, isso me fez lembrar muito do campo de Auschwitz. Tive um sentimento de tristeza porque vejo que a situação aqui é muito complicada. Embora os migrantes, refugiados, estejam localizados na orla marítima, deve-se dizer que é uma área muito quente, com mais de 45 graus, um calor muito sufocante, é cansativo viver nesses contêineres que são pequenos e nos quais há 8/9 pessoas".

Sobrevivência diária

As palavras das irmãs são dramáticas, mas além de contar o sofrimento das milhares de pessoas confinadas no campo, elas também revelam a tenacidade dos muitos voluntários provenientes de toda a Europa para ajudar. A Irmã Patrizia continua: "Vejo o empenho que é dado na tentativa de ensinar os migrantes a lavar as mãos, a higienizá-las, existe uma associação que também distribui máscaras.... Mas o que está faltando, por exemplo, é água corrente, não há um poço, eles vivem de baldes, pequenas latas de água para escovar os dentes ou lavar a louça". E, entre os mais vulneráveis, há também pessoas paralisadas, vivendo em cadeiras de rodas, cujo caminho é inviabilizado pelo chão não pavimentado.

Visita do Papa Francisco a Lesbos, na Grécia | Vatican News
As orações e a indiferença da Europa

Onde os coletes salva-vidas são jogados, as irmãs prepararam um canto para a oração, e é ali que elas pedem a Deus para ajudar a todos aqueles que são forçados a migrar. A religiosa scalabriniana acrescenta: "Só podemos oferecer nosso sorriso, apesar das máscaras", porque são os olhos que falam de um futuro de esperança. E tudo isso também a fim de responder ao pedido do Papa Francisco, que foi a Moria cinco anos atrás, para ir em direção às periferias humanas, para ser a Igreja em saída. "Nosso carisma se compromete a seguir o que o Papa também deseja e nos indica para acolher, promover, integrar e proteger", quatro verbos que as religiosas carregam no coração, comprometendo-se a implementá-los em sua vida cotidiana, mas que não impedem a Irmã Patrizia que ela faça uma pergunta dramática: "Pergunto-me por que, hoje, no primeiro mundo que é a Europa, ainda existe toda esta dificuldade, esta situação complicada, desastrosa e pouco humana, que a Europa não considera".

Fonte: Vatican News

Santa Clara de Montefalco

Sta. Clara de Montefalco | ACI Digital
17 de agosto

SANTA CLARA DA CRUZ, DE MONTEFALCO, ABADESSA AGOSTINIANA

Santa Clara de Montefalco nasceu em Montefalco, em 1268. O nome de seus pais eram, Damiano e Iacopa Vengente, que tiveram 4 filhos no total. Sua irmã mais velha, Giovanna de 20 anos e sua amiga Andreola, estabeleceram uma Ermida, aonde se dedicaram a uma vida de oração e de sacrifício.

No ano 1274 recebeu aprovação das autoridades eclesiásticas e foi então que, Giovanna pôde receber mais irmãs à Ordem. A primeira candidata foi sua irmã Clara, de 6 anos de idade.

O exemplo de seus pais, que tinham uma grande devoção ao Senhor e a sua Mãe, e o de sua Irmã e sua companheira, contribuíram para que se desenvolvesse em Clara o desejo de amar e eservir o Senhor através de uma vida de oração. Ela era uma menina muito viva a que todos viam que ultrapassava às meninas de sua idade. Era além disso, extremamente amorosa.

Desde que entrou para o convento mesmo sendo mais mais jovem que as demais, mantinha-se ao mesmo nível que suas duas companheiras, tanto na oração como na penitência.

Desde muito pequena, teve um ardente amor pelo Senhor, especialmente por sua Paixão. Este fogo interior foi o que lhe deu a energia, o zelo e a força, para viver uma vida que para muitos seria impossível. Desde pequena teve grande apetite, e tinha que lutar contra seus desejos de comer os pratos que mais gostava, jejuando constantemente, especialmente durante a Quaresma.

Ainda quando nenhuma Regra Religiosa se estabeleceu, Clara praticou uma estrita obediência a sua irmã Giovanna, que era a líder do grupo. Uma vez, que Clara quebrou a Regra do silêncio dada por sua irmã, impôs-se a penitência de ficar sobre um cubo gelo, com os braços para cima rezando 100 vezes o Pai Nosso.

Em 1278 e dois anos depois de ter entrado para o Convento entrou Marina, amiga de Clara, e foi seguida de muitas outras pelo que tiveram que mudar-se a uma montanha perto da cidade, onde construíram outra Ermida.

Levantou-se uma grande perseguição contra elas, não só por parte de leigos da cidade, mas também pelos Franciscanos do lugar que diziam que a cidade era muito pequena para ter outra comunidade pedindo esmola. Mas o Senhor que é justo, moveu o oficial do Ducado a votar para que elas ficassem. Com a Ermida tendo o teto pela metade, passando frio e fome, a pequena comunidade era sustentada por sua fé e chamado, que era mais forte que a perseguição das pessoas da cidade.

Durante esta época poucas pessoas lhes davam algo para comer, e se sustentaram de ervas silvestres. Clara que tinha um dom para cozinhar, fazia bolos de plantas com tanto amor, que as irmãs recordavam estes tempos como tempos de fartura em vez de miséria...

Finalmente Giovanna obteve permissão para enviar algumas irmãs para pedir esmola. Clara que tinha 15 anos, insistiu tanto em ir que, venceu as objeções de sua irmã, e ela junto com Marina, saíram durante 40 dias em busca de esmolas; nunca retornavam sem ter completado seu encargo. Sua irmã Giovanna, pensando em proteger Clara, não lhe permitiu sair mas, e Clara esteve no convento pelo resto de seus anos.

Clara passava de oito a dez horas diárias em oração, e pelas noites caía de joelhos rezando o Pai Nosso.

Praticava atos tão severos de mortificação, que sua irmã Giovanna teve que pôr restrições em suas práticas. Sempre estava procurando uma forma mais ascética de oração.

No ano de 1288, quando Clara tinha 20 anos. Parecia que estava chegando a alcançar a completa união com Jesus, quando o Senhor a provou adentrando-a em um deserto. Foi uma prova dada pelo Senhor para castigar seu orgulho e para que ela visse que sem Ele não podia fazer nada. Clara entrou no deserto. Perseguida por todo tipo de tentações, vítima das emoções. Sentia que Deus a tinha abandonado. Esta tortura durou onze anos de sua vida, através da qual esteve sem a assistência espiritual que ela desesperadamente ansiava. Clara carregava o peso de seus sentimentos de insegurança em seu coração.

Como não recebia as penitências desejadas, começou a impor-lhe ela mesma, causando tanto dano físico que sua irmã teve que detê-la outra vez.

Em 22 de novembro de 1291, morre sua irmã Giovanna. Foi um golpe muito duro para Clara pois via em sua irmã o exemplo a seguir e a pessoa que a formava em sua vida espiritual.

O representante do Bispo chegou para a eleição da nova Abadessa. As monjas unanimemente escolheram Clara. Sentindo-se totalmente indigna, rogou-lhes que escolhessem a alguma mais, que fora Santa e sábia, dizendo que ela não era nenhuma das duas coisas; mas sua petição não foi escutada.

Aceitou sua responsabilidade, embora se sentisse indigna, e se converteu em Madre, Mestra, e Diretora Espiritual. Ensinava a suas irmãs a oferecer ao Senhor todas suas necessidades individuais, para que fossem moldadas nas necessidades da comunidade, formando assim nelas um verdadeiro corpo, com uma vida em comum.

Balançando a oração e o trabalho necessário do mosteiro, trazia para a comunidade alegria e amor. Sensível àquelas que sentiam o chamado a mais oração, permitia-lhes fazê-lo, mas com a condição de que todo mundo teria que fazer trabalho manual.

Ela dirigia, pessoalmente, e incesantemente as irmãs em suas necessidades espirituais e corporais. Dizia: "Quem ensina à alma, a não ser Deus? Não há melhor instrução para o mundo que a que vem de Deus". Ajudava-as e instruía a reconhecer a voz do Espírito e a discernir Quem era o poder em suas vidas. Mas, quando era necessário, corrigia e admoestava as irmãs, fazendo-as conscientes dos perigos a suas almas. Velava por todas, até às custas de sua saúde.

A irmã Tomasa dizia: "Ela permanecia acordada até tarde da noite, mas sempre estava acordada desde muito cedo.

Como Clara foi tão provada e sofreu tantas lutas e dúvidas, podia falar com autoridade a outros. Através de sua experiência podia relacionar-se com a batalha espiritual sofrida por outros. Podia ministrar às pessoas fora da comunidade, que vinham avê-la, contando com os dons de conhecimento e sabedoria que lhe tinha dado o Senhor.

Por seu amor e cuidado genuíno, Clara atraía ao mosteiro sacerdotes, teólogos, bispos, juízes, Santos e pecadores. Nunca descuidou suas responsabilidades para suas irmãs dentro do mosteiro por seu apostolado com aqueles de fora do claustro.

Clara tinha um amor muito grande pelos pobres e perseguidos. Enviava as irmãs externas com comida e medicamentos para os necessitados. Dava a amigos e inimigos igualmente, e às vezes mais aos inimigos. Assim como era amorosa, generosa e entregue, mais ainda era firme. Enfrentava a todos seus perseguidores com estas qualidades, nunca retrocedendo diante deles. Ela se atreveu a ser impopular, enfrentando o pensamento popular do mundo, assim como ao de suas próprias freiras, se ela pensava que estava incorreto. Testemunhas afirmam que ela tinha o dom de bilocação.

Embora ela era uma mística, geralmente em contemplação de seu Amado Senhor Jesus Cristo (especialmente em sua paixão), e em adoração estática a Deus Pai, ao Filho e o Espírito Santo na Santíssima Trindade, estava consciente do mundo a seu redor. Ela não estava afastada dele, mas envolta nele, orando e fazendo penitência por sua salvação.

O ano 1294 foi um ano decisivo na vida de Clara. Na festa da Epifania, depois de ter feito uma confissão geral diante de todas as irmãs, caiu em êxtase e permaneceu assim por várias semanas. As irmãs a mantinham com vida dando-lhe água e açúcar. Durante este tempo, Clara teve uma visão, em que se viu sendo julgada diante de Deus,"viu o inferno com todas as almas perdidas sem esperança e o céu com os Santos, gozando perfeita felicidade na presença de Deus. Viu Deus em toda sua majestade. Revelou-lhe quão incondicionalmente fiel uma alma deve ser a ele para viver de verdade nele e com Ele. Ao recuperar-se, resolveu "nunca pensar ou dizer algo que a separasse de Deus". Também dizia: Se Deus não me protegesse, seria a pior mulher no mundo".

No ano de 1303 conseguiu construir a Igreja que tanto sonhou, que não somente serviria ao convento, mas também à comunidade do povo. A primeira pedra foi abemçoada em 24 Junho de 1303 pelo Bispo de Espoleto e nesse dia a Igreja foi dedicada à Santa Cruz. Clara teve também a visão de Jesus vestido como um peregrino pobre. Seu rosto arrasado pelo peso da cruz e seu corpo mostrando os sinais de um caminho duro carregando a cruz. Clara estava de joelhos tratando de evitar que Ele continuasse caminhando, e lhe perguntando Senhor, aonde vai?"; Jesus lhe respondeu:" procurei no mundo inteiro por um lugar forte onde plantar firmemente esta Cruz, e não encontrei nenhum". Clara o olha e toca a cruz, mostrando ao Senhor o desejo de tantos anos de compartilhar sua cruz. O rosto de Jesus já não estava exausto, mas brilhando de amor e de gozo. Sua viagem tinha terminado. Ele lhe diz: "Sim Clara, aqui encontrei um lugar para minha cruz; ao fim encontro alguém a quem posso confiar minha cruz", e a implantou em seu coração. A intensa dor que sentiu em todo seu corpo, ao receber a Cruz de Jesus em seu coração, permaneceu com ela. Desde esse primeiro momento, sempre esteve consciente da cruz, que não somente sentia mas sim a sentia com cada fibra de seu ser. Era parte dela, seu Amor Jesus e ela era um em sua Cruz.

"A vida de uma alma é o amor a Deus", dizia Clara. Ela orava para que todo aquele que ela conhecesse experimentasse a Nosso Senhor Jesus Cristo, profundamente em seu coração. Ela orava, sofria e ardia de paixão, como o fez nosso Senhor, porque lhe tinha entregue totalmente ao seu coração. devido a suas penitências de tantos anos, seu corpo começou a debilitar-se e em Julho de 1308 já não pôde levantar-se mas de sua cama. O demônio a atacava incansavelmente, tratando de fazê-la sentir que ela era indigna de Deus; que Deus não a encontrava agradável, que se tinha equivocado em tudo o que ela havia dito e feito; levando assim muitas almas à perdição. Mas com a fortaleza do Senhor e sua fé não cedeu às insinuações do demônio.

Na noite de 15 de Agosto, chamou as freiras e lhes deixou seu último testamento espiritual:

"Eu ofereço minha alma por todas voces e pela morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sejam abençoadas por Deus e por mim. E oro, minhas filhas, que vocês se comportem bem e que todo o trabalho que Deus me tem feito fazer por vocês seja abençoado. Sejam humildes, obedientes; sejam tais mulheres, que Deus seja louvado sempre através de vocês".

Depois de falar, pediu o Sacramento de Extrema Unção. Quando uma irmã estava morrendo era o costume que cada irmã fosse e fizesse o sinal da cruz na testa. Quando estavam fazendo nela, disse-lhes: "Porque me fazem o sinal da Cruz?. Eu tenho Jesus crucificado em meu coração".

Na sexta-feira 16 de Agosto, à tarde, Clara pediu que viesse seu irmão Francisco. Nessa noite chegou e a encontrou muito cansada; mas na manhã seguinte, Clara parecia estar se recuperando. Francisco partia quando duas irmãs o chamaram e levaram a ver cCara, que sentada na cama, com a cor do rosto aceso e sorrindo, parecia completamente recuperada. Deu a seu irmão aconselhamento espiritual, já que ela era sua diretora espiritual e mestra, falando longamente com ele. Um ambiente de alegria e celebração começou a se espalhar pelo convento, quando Clara chamou frei Tomaso, o capelão do convento, e lhe disse: "Eu confesso ao Senhor e a você todas minhas faltas e ofensas", e mais tarde, dizia a suas freiras: "Agora já não tenho nada mais que lhes dizer. Vocês estão com Deus porque eu vou com Ele. E se manteve assim, sentada na cama, seus olhos olhando o céu, sem mover-se. Passaram vários minutos e Francisco tomou o pulso; olhando às irmãs, chorando anunciou-lhe que Clara tinha morrido.

Morreu no sábado 17 de Agosto, de 1308, às nove da manhã. As freiras imediatamente prepararam o corpo de Clara para que todos pudessem vê-la. Primeiro lhe tiraram o coração e o puseram em um caixa florida de madeira. A Missa funeral foi celebrada em 18 de Agosto. Nessa noite, as irmãs abriram o coração de Clara para prepará-lo e pô-lo em um relicário, para seu assombro, as palavras de Clara se fizeram vida; diante delas estavam as marcas da Paixão de Jesus.

Dentro do coração estava a forma perfeita de Jesus Crucificado, ainda a coroa de espinhos na cabeça e a ferida da lança no lado. Além disso, feitos de ligamentos ou tendões, os flagelos usados na flagelação, com as pontas mostrando as bolas de metal com os ossos para rasgar a carne e os ossos do Senhor. A notícia deste milagre se propagou imediatamente.

Outro achado foi o de 3 pedras dentro de sua bexiga. Quando as freiras investigaram mais, descobriram que as 3 pedras, do tamanho de uma noz, eram perfeitamente iguais em tamanho, forma e peso. Todas pesavam o mesmo, uma pesava tanto como dois, dois como três e uma como três. As irmãs interpretaram isto como um sinal do amor tão grande que Clara tinha para a Santíssima Trindade.

O corpo de Clara produzia tal fragrância, que não puderam enterrá-la. Seu corpo, depois de 700 anos, nunca se decompôs.

O processo ordinário da vida da Santa Clara, suas virtudes, suas revelações e milagres testemunhados graças a sua intercessão depois de sua morte, começou em 1309. O processo Apostólico chegou ao Papa em 1328, mas sua canonização em São Pedro, ocorreu em oito de Dezembro de 1881, Festa da Imaculada Conceição.

Na Igreja da Santa Cruz em Montefalco se conserva até hoje o corpo incorrupto da Santa Clara de Montefalco. Podem-se contemplar as relíquias de seu coração com as marcas da paixão e as três pedrinhas da bexiga.

No jardim do mosteiro (junto à Igreja), encontram-se umas árvores muito valiosas. Resulta que Jesus se apareceu a Santa Clara no jardim com um cajado, que pediu a Sta. Clara que o plantasse. Perguntou-lhe como fazer já que não era uma planta. Jesus lhe disse que igual como se fosse uma planta. Em obediência, Sta. Clara planta o cajado e de repente se torna uma árvore milagrosa que deu frutos. A Santa utilizava suas sementes para fazer rosários com os que orava pelos doentes e que se curavam.

Os descendentes da árvore milagrosa até estão no jardim do convento de Montefalco. As irmãs do convento, continuam até hoje, fazendo estes rosários. Podem ser adquiridos na lojinha da igreja.

Fonte: ACI Digital

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Solidariedade para o Haiti: Francisco próximo das vítimas do terremoto

Terremoto no Haiti  (ANSA)

Uma Ave Maria coral na Praça São Pedro. O Papa rezou com os fiéis no final do Angelus pelas centenas de mortos e milhares de feridos no terremoto que destruiu o sul da ilha caribenha neste sábado. O Papa também fez um forte apelo à participação ativa da comunidade internacional.

Gabriella Ceraso, Silvonei José – Vatican News

“Nas horas passadas, verificou-se um forte terremoto no Haiti, causando inúmeros mortos, feridos e grandes danos materiais. Gostaria de expressar minha proximidade àquelas queridas populações que foram duramente atingidas pelo terremoto. Ao elevar minhas orações ao Senhor pelas vítimas, dirijo minha palavra de encorajamento aos sobreviventes, na esperança de que a comunidade internacional demonstre um interesse comum por elas e que a solidariedade de todos possa aliviar as consequências da tragédia. Rezemos juntos a Nossa Senhora pelo Haiti: Ave Maria...."

Uma oração coral a Maria, envolvendo os fiéis da Praça de São Pedro e aqueles do mundo inteiro, encerra as palavras do Papa Francisco imediatamente após a recitação do Angelus na Solenidade da Assunção. Palavras que olham para o céu e também, infelizmente, para os escombros e o luto que nessas horas estão tentando quantificar naquele país. Enquanto as equipes de resgate trabalham desde ontem em busca de sobreviventes. A área mais atingida é o sul: destruição e morte em lugares de difícil acesso, particularmente em Jeremie, Grand'Ande, Nippes, Les Anglais, Aquinoise e les Cayese. O epicentro do terremoto estava a 20 km da cidade de Petit Trou de Nippes, cerca de 150 km a oeste da capital Port-au-Prince, a uma profundidade de 10 km, mas foi sentido tão distante quanto a Jamaica.

Papa - Angelus | Vatiacn News
Mais de 700 mortos e mais de 2.000 feridos em um balanço que se agrava de hora em hora. Nos olhos e corações de todos ainda o pensamento do desastre de 2010, quando outro terremoto devastador tirou 200.000 vidas e desalojou milhares de pessoas. Agora o país também está sob uma crise política - depois que o presidente Jovenel Moise foi assassinado em sua casa há pouco mais de um mês por um comando de homens armados - e agravado pela pandemia que já causou mais de 20.000 casos e 570 vítimas, colocando o sistema de saúde haitiano de joelhos. Agora a máquina de solidariedade foi posta em marcha: Caritas, Unicef e a ajuda dos Estados Unidos imediatamente ordenada pelo Presidente Biden, mas os danos são difíceis de estimar.

Bispos América Latina: "Somos todos Haiti!”

"Estamos com vocês, somos todos Haiti!": com este forte grito de encorajamento, a Igreja da América Latina e do Caribe expressa sua proximidade e solidariedade para com o Haiti, atingida neste sábado por dois fortes terremotos, respectivamente de magnitude 7,2 e 6,6, na escala Richter. No momento, o balanço é de mais de 300 mortos e cerca de 2.000 feridos, mas os números estão crescendo a cada hora. Em uma mensagem o CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano), CLAR (Confederação Latino-americana de Religiosos), ICE (Confederação de Educação Católica Intra-Americana), CLAMOR (Rede Eclesial para Migrantes, Deslocados e Refugiados) e a Cáritas Continental lançaram um apelo para "apoiar o Haiti nesta hora de incerteza e dor" que se soma à "prolongada e complexa crise social, econômica e política que o país está vivendo".

Daí o forte apelo à solidariedade: "Queremos unir forças para acompanhá-los e ajudá-los", lê-se na mensagem, "fazendo nossa a situação deles neste momento de emergência, a fim de desenvolver ações pastorais conjuntas destinadas a reconstruir o tecido social, realizar ações humanitárias para o cuidado da vida e apoiar a missão evangelizadora da Igreja do Haiti". É "um gesto eclesial de solidariedade que pretende ser uma expressão de comunhão e caridade em chave sinodal", afirmam os signatários da nota conjunta.

Terremoto no Haiti | Vatican News
"Unirem-se a esta causa pelo Haiti"

O mesmo apelo é dirigido às nações da América Latina e do Caribe, assim como a outras instituições e órgãos em todo o mundo, para "unirem-se a esta causa pelo Haiti", pensando "não apenas como países individuais, mas também como uma única família humana". Finalmente, invocando a intercessão da Virgem de Guadalupe, Padroeira do continente americano, os signatários da mensagem pedem ao Senhor para apoiar a ilha haitiana "na fé, na esperança e na caridade". "Estamos com vocês, somos todos haitianos", conclui a nota conjunta.

Fonte: Vatican News

Os desafios da Igreja no continente mais católico do mundo

Shutterstock | Yandry_kw
Por Fundação AIS

Um desafio contínuo para o trabalho da Igreja é o crescimento dos subúrbios nas grandes cidades.

Um em cada dois católicos do mundo vive na América Latina. Com quase 500 milhões de católicos, apesar da crescente influência das seitas, 44% dos católicos do mundo vivem hoje na América Latina. Se somarmos os 60 milhões de hispânicos que, segundo o censo dos Estados Unidos, vivem nesta parte do continente, pode dizer-se que quase metade dos Católicos do mundo são latino-americanos.

“Os Católicos da América Latina são uma comunidade viva, apaixonada e dinâmica, que nutre um grande respeito pela dignidade da pessoa humana, valorizam muito a família e têm um profundo sentido de comunidade. Tudo isto é muito positivo. Os valores cristãos, como a procura do bem comum e o bem-estar de todos, especialmente dos mais pobres e vulneráveis, estão muito presentes”, explica Rafael D’Aqui, chefe da secção para a América Latina da Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Mas os católicos latino-americanos, apesar de seu grande número, enfrentam grandes desafios. As desigualdades sociais são altas e as rendas baixas. A pobreza torna a vida muito difícil. Tudo isto gera níveis altíssimos de violência e outros problemas sociais que afectam as famílias e até são transmitidos para as novas gerações.

Êxodo rural: um dos grandes desafios da Igreja Católica.

Um desafio contínuo para o trabalho da Igreja é o crescimento dos subúrbios nas grandes cidades. Por causa da pobreza dos meios rurais, a população desloca-se para as cidades em busca das melhores empregos que a vida na cidade oferece. Isso acontece na maioria dos países do continente, como o Peru, onde os Católicos representam 76% da população, de longe a maior comunidade religiosa deste país, mas onde o êxodo rural continua a aumentar. Muitos peruanos, principalmente jovens, mudam-se para as cidades e subúrbios urbanos, em ambientes onde correm o perigo do vício das drogas, a perda das próprias raízes culturais e a ruptura dos laços familiares.

As migrações para as cidades não páram de aumentar e este crescimento populacional é um desafio para a Igreja, que se vê obrigada a criar novas paróquias para estar perto da população, mas não pode avançar com a mesma velocidade por falta de meios. No entanto, o cuidado espiritual é vital para muitas pessoas, porque a Igreja representa, muitas vezes, a última esperança que resta nessas novas situações. “Se a urbanização é tão rápida que não é possível construir um local de culto logo no início, seguramente mais tarde será mais difícil oferecer à população um local para praticar a sua fé”, explica D’Aqui.

Outra consequência grave do aumento do número de fiéis no continente é a falta de padres e catequistas para o trabalho pastoral. Na Bolívia, cerca de 80% dos 11 milhões de Bolivianos são católicos, mas dar assistência aos fiéis torna-se uma tarefa muito complicada em cidades cuja população não pára de aumentar por causa do êxodo rural: “Por exemplo, a capital La Paz, localizada nos Andes a 3.600 metros de altitude, que contava com 766.468 habitantes em 2012, já conta com um milhão de habitantes devido à chegada de povos indígenas provenientes das zonas rurais. São necessários mais padres com urgência, por isso a Fundação AIS procura responder aos pedidos das dioceses afectadas e apoia especialmente a formação dos futuros sacerdotes”, explica D’Aqui.

Grandes territórios e poucos recursos

Outro grande problema para a evangelização é a grande extensão das dioceses no continente americano. Por exemplo, a Diocese de Óbidos na Amazónia brasileira tem mais de 182.000 km2, o que representa quase duas vezes o tamanho de Portugal. Com sete paróquias e quatro áreas de missão, apenas uma é acessível por via terrestre a partir da cidade de Óbidos. Esta diocese é apenas um exemplo das grandes distâncias e da imensidão dos territórios, cobertos por selva, que circundam a Amazónia. As vias de comunicação e transporte são extremamente difíceis e, na maioria dos casos, o único meio de transporte possível é o barco.

A Amazónia atrai a atenção internacional sobretudo pelo seu interesse económico e não tanto porque haja uma preocupação do ponto de vista religioso ou ético. É uma área que precisa de evangelização, de valores. “É o poder do Evangelho que traz dignidade às pessoas. A Igreja, com o seu amor maternal, cuida do homem. É uma área onde predomina a pobreza, apesar de existirem muitos recursos naturais. Devemos proteger os povos indígenas, acompanhá-los na sua fé, respeitando os seus costumes, língua, valores… ” explica D’Aqui.

A região possui grandes recursos, mas a população local está em extrema necessidade. A Igreja desempenha um papel chave no apoio aos mais pobres e esquecidos. A Fundação AIS fornece transporte e combustível para os missionários se poderem deslocar na região, já que as comunidades cristãs locais não podem pagar. A organização apoia as comunidades indígenas e a pastoral vocacional. “Há jovens de famílias indígenas dispostos a oferecer a sua vida ao serviço sacerdotal e precisam do apoio dos nossos benfeitores para financiar a sua formação”, acrescenta Rafael D’Aqui.

A ameaça das seitas na América Latina

A escassez de padres e a falta de presença da Igreja Católica tem permitido que grupos evangélicos e seitas agressivas se espalhem cada vez mais por todo o continente. Estas seitas aproveitam-se da falta de formação e conhecimento sobre a própria fé do povo. Na ausência de cuidado pastoral da Igreja Católica, as pessoas procuram o que está mais próximo e acabam por engrossar as fileiras destas seitas, que são muito acessíveis. A corrupção política, o desemprego, a crise económica e a destruição do meio ambiente fazem com que muitos fiéis se deixem enganar pelas falsas promessas de salvação das seitas.

Para evitar o crescimento destas seitas é importante promover a família e a educação cristã: “A família desempenha um papel crucial na transmissão da fé e no cuidado da comunidade: dá apoio a outras famílias, cuida dos idosos… Quando a família é destruída os valores desaparecem e cria-se um vazio que às vezes é ocupado pelas seitas, que oferecem o afecto de uma ‘família'”.

A Igreja na América Latina é um pilar para o mundo: muitos missionários da Europa e de África nascem da entrega generosa de muitas vocações deste continente. Mas é importante apoiar esta Igreja para superar os seus grandes desafios. Por isso, a Fundação AIS dá prioridade à formação de sacerdotes, seminaristas e religiosas, para que as pessoas não fiquem como “ovelhas sem pastor” e para que este grande número de católicos seja efectivamente um futuro promissor para todo o mundo.

Fonte: Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF