William
Van Ornum - publicado em 12/07/14 - atualizado em
18/12/25
Grandes santos e mártires aprenderam a combater Satanás
nas coisas simples do dia-a-dia.
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Em maio deste ano, o diabo resolveu fazer
uma aparição na Universidade de Harvard, mas acabou não conseguindo roubar
todas as almas que tinham estado ao alcance das suas garras. É que a missa
negra anunciada para acontecer no campus foi cancelada. Pior ainda:
“católicos” começaram a “adorar” em massa o seu inimigo jurado, Jesus Cristo.
Felizmente para Satanás, porém, os seguidores do inimigo só ficaram
incandescentes de fervor durante o mínimo tempo suficiente para estragar a sua
grande noite. Hoje, eles já estão de novo convencidos de que o diabo voltou
para o mundo lá de baixo e mal lhe dedicam alguma lembrança ao longo do dia.
Este é um erro que o escritor C.S. Lewis tentou nos impedir de cometer. Ele
compôs uma espécie de cartilha que denuncia as táticas de Satanás: “As Cartas
do Coisa-Ruim” [The Screwtape Letters]. Escrito em 1939, quando as bombas começaram
a cair sobre a Grã-Bretanha, o livro de Lewis tentava avisar aos seus
compatriotas que existe um inimigo dos cristãos que é ainda pior que os
nazistas (Lewis recebeu mordazes críticas por causa disso).
O livro é um intercâmbio de cartas entre um jovem diabo em
treinamento e seu tio satânico supervisor. O diabinho aprendiz se deleita com a
declaração de guerra, na esperança de que os assassinatos, estupros, destruição
e males de todo tipo se propaguem exponencialmente. O tio o repreende. As
guerras, explica ele, também são oportunidades para o heroísmo e para o
sacrifício pessoal. Elas podem ser um catalisador para muitos homens e mulheres
salvarem as suas almas.
Quando eu lhe disse para não encher as suas cartas com
bobagens sobre a guerra, eu quis dizer, é claro, que não queria ler as suas
rapsódias infantis sobre a morte de gente e a destruição de cidades. Se esta
guerra tem importância para o estado espiritual do seu paciente, eu quero,
naturalmente, relatórios mais completos.
Agora que é certo que os humanos alemães vão bombardear a cidade do seu paciente e que as tarefas dele o manterão no meio do perigo, devemos trabalhar bem a nossa estratégia. Devemos induzi-lo à covardia – ou à coragem, desde seguida do orgulho ou do ódio contra os alemães (Carta 28 do diabo ao sobrinho).
E quanto a nós? Será que passamos os dias pensando em como corrigir os males do
mundo ou tentamos cultivar o remorso e a contrição pelas nossas próprias
falhas?
As “Cartas do Coisa-Ruim” nos apresentam muitas batalhas menores da vida diária
que, no fim, podem importar mais para a nossa salvação do que as grandes
campanhas contra os males globais.
O satânico tio supervisor sugere ao diabinho aprendiz que fazer os cristãos se
voltarem uns contra os outros em questões morais é uma ótima forma de despertar
o orgulho, que é um pecado capital. É possível, afinal, que os cristãos estejam
“certos” em sua postura moral, mas “pequem por orgulho”. E Satanás sabe o que
vem antes de uma queda, não sabe?
Será que não é melhor meditar sobre a própria incapacidade de ser um bom
cônjuge em vez de lamentar constantemente a agenda gay? Ou controlar a própria
raiva prestes a entrar em erupção em vez de lamentar continuamente os males do
terrorismo? Esta lista de prioridades pode, é claro, ser individualizada de
sete bilhões de maneiras. Tenho certeza de que, pensando um pouco, você poderá
criar a sua.
Grandes santos e mártires são pessoas que se tornaram muito hábeis na luta
contra Satanás. Seus locais de combate não eram campos de batalha nem coliseus:
eram qualquer lugar onde eles estivessem no dia-a-dia.
Em primeiro lugar, lembre-se de que a sua salvação eterna é a sua prioridade número um. Todo o resto vem por acréscimo. Um artigo recente na Aleteia lembrava aos leitores da facilidade com que o pecado é subestimado e até mesmo esquecido. C.S. Lewis fala sem papas na língua sobre a prioridade que deve ser dada aos aspectos “sobrenaturais” da fé cristã. O psiquiatra Karl Menninger faz o mesmo em seu livro “O que aconteceu com o pecado” [Whatever Became of Sin]. Mesmo os pequenos pecados são importantes, como ensina o Coisa-Ruim ao sobrinho:
Você dirá que estes são pecados muito pequenos; e, sem dúvida, como todos os tentadores, você está ansioso para me relatar maldades espetaculares. Mas lembre-se: a única coisa que importa é o grau de separação que você consegue implantar entre o homem e o inimigo. Não importa quão pequenos são os pecados, desde que o seu efeito cumulativo seja afastar o homem da Luz e lançá-lo ao Nada. Um assassinato não é melhor do que os jogos de azar, se os jogos de azar bastarem para dar o resultado pretendido (Carta 11).
Em segundo lugar, tenha cuidado com ideologias ou causas morais que fazem os
cristãos brigarem uns com os outros. Em sua época, Lewis denunciou o rancor
entre os pacifistas e os que estavam dando a vida pelo país. “Como poderiam os
pacifistas ser cristãos? É óbvio que eles são covardes”, pensavam muitos dos
fiéis. É de nos perguntarmos o que Lewis destacaria em nossos dias que tivesse
este mesmo impacto.
“Uma nação dividida não pode ficar em pé”, nos diz o Antigo Testamento.
Ao se concentrarem em algumas questões grandiosas, os seres humanos podem se
esquecer de outras importantes:
O desprezo com que, na sua última carta, você fala da gula
como arma para derrubar as almas apenas mostra a sua ignorância. Uma das
grandes conquistas dos últimos cem anos tem sido a de amortecer a consciência
humana no tocante a este assunto, de modo que, hoje, você dificilmente encontre
um sermão pregado ou uma consciência perturbada com isso em toda a Europa
(Carta 17).
Será que não há lições a aprendermos a este respeito, hoje
que a comida chega a ser chamada de “o novo sexo”? Hoje que as pessoas se gabam
nos comerciais de serem “gourmets”? Hoje que a epidemia de obesidade em vários
países não é novidade para ninguém?
Em terceiro lugar, o diabo-mestre instrui o aprendiz a fazer os cristãos se
concentrarem nos seus próprios sentimentos e preferências, em vez de focarem
nas prioridades e nos fatos da fé. Você já presenciou alguma discussão sobre
liturgia? Se sim, você entenderá esta piada: “Qual é a diferença entre um
terrorista e um liturgista? Às vezes, é possível dialogar com um terrorista”.
Lewis considerava a missa um “dever” muito mais importante que qualquer
inclinação pessoal a personalizar palavras, língua ou música.
A abordagem de Lewis era o oposto das abordagens de psicólogos como Freud e
William James. Se Lewis aplaudia a eficácia da terapia para pessoas
problemáticas que não achavam a paz e a cura nem mesmo na oração, o que ele
queria era que as pessoas se envolvessem nas atividades cristãs em vez de se
enredarem em discussões intermináveis sobre
o que elas “experimentavam ou sentiam”.
Em quarto lugar, Lewis considerava os
lírios do campo: eles não se preocupam com o amanhã; e nem Salomão, com toda
sua glória, jamais se vestiu como qualquer deles. Os problemas de cada dia são
suficientes. Lewis citou exemplos extraídos da vida nos anos 1940. Se hoje, por
um lado, o planejamento prudente pode ser crucial para enfrentarmos o
aquecimento global, pouparmos para a aposentadoria e mantermos o colesterol em
bons níveis, corremos o risco, por outro, de nos importar demais com estas
preocupações maiores e de nos esquecer de colocar o Evangelho em prática.
Em quinto lugar, conceda-se com frequência os prazeres adequados. As pessoas
que não conseguem enxergar a beleza das grandes dádivas de
Deus que estão ao seu redor podem acabar se tornando amargas. Muitos dos
prazeres da vida são de graça: amizades, música, jardins, pôr-do-sol, passeios
ao ar livre, exercício, observar as crianças brincarem, viver conforme os
próprios meios. A lista pode ser infinita. Dedicar tempo a tais prazeres
diários mantém o diabo longe. É ainda mais eficiente do que fazer exercícios
moderados para nos manter longe dos cardiologistas.
Em sexto lugar, gratidão. Quando uma pessoa é feliz e
agradecida, as tentações do diabo se tornam irrelevantes. Os Salmos estão
cheios de cânticos de gratidão. É uma virtude encontrada nas Escrituras e uma
característica fundamental na conclusão dos exercícios espirituais inacianos. A
gratidão é também a base de muitos programas de 12 passos, alguns dos quais
desenvolvidos com ajuda de conselheiros espirituais jesuítas.
Satanás é raramente combatido com fanfarras e enormes exércitos. A
batalha é travada principalmente em nossos próprios corações e vontades. Entre
as muitas observações que Lewis ofereceu para a nossa consideração, esta pode
ser uma das mais duradouras.
Quem conhece o mal que se esconde no coração dos homens? Satanás certamente
conhece. Como admitimos muitas vezes na Oração a São Miguel Arcanjo, Satanás
anda ao redor do mundo em busca da perdição das almas. Sua presença não se
limita aos muros de Harvard. Então, fique alerta às maneiras com que você pode
resistir às garras dele na sua vida diária.
Fonte: https://pt.aleteia.org/

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