Paulo
Teixeira - publicado em 17/11/25
As novas gerações, à primeira vista, parecem estar distantes da fé. Elas são laicas, digitais e alérgicas a qualquer forma de autoridade. No entanto, um movimento surpreendente e inesperado está em curso: a religião está voltando à moda e os padres da internet exemplificam isso.
No Censo de 2010, os sem religião eram 8% da população
brasileira, ou mais de 15 milhões de pessoas. As pesquisas Datafolha de
2022, por exemplo, mostram que, em nível nacional, 49% dos entrevistados se
dizem católicos, 26% evangélicos e 14% sem religião — já acima dos 8% sem
religião identificados no último Censo. Entre os jovens de 16 a 24, o
percentual dos sem religião chega a 25% em âmbito nacional. Mesmo nesse
cenário muitos padres pregam e são ouvidos.
Mas se olharmos além dos números percebemos pelo cenário
digital que há sinais de um retorno da religião em toda parte. No Brasil o
religioso Frei Gilson tem mais de 9 milhões de seguidores
nas redes sociais e com um “produto midiático” que parece não ser atraente: a
quaresma de São Miguel que consiste em 40 dias de oração entre agosto e
setembro. Claro que a oração é atraente, mas o horário não é
convencional: mais de um milhão de pessoas acompanham a live às 4 horas da
madrugada!
Também Padre Adriano Zandoná, religioso da Canção
Nova, mostra que a mensagem da fé está viva e tem muitos que dão atenção. Ele
tem 2 milhões de seguidores no Instagram, 1,6 milhão no YouTube e 1,4 milhão no
Facebook, o sacerdote tem uma disciplina de influencer nas redes sociais, com
publicações diárias, lives e "cortes".
O Padre Reginaldo Manzotti, de
Curitiba – PR, há mais de duas décadas evangeliza pelo rádio e TV e não sai de
moda, pelo contrário, cresce em audiência entre os internautas. O sacerdote já
soma 6,3 milhões de seguidores no Instagram, 4,9 milhões no YouTube e 1,7
milhão no TikTok.
Religiosas também despontam nesse cenário levanto a alegria
dos conventos para as telas dos celulares.
A resistência da fé
Em uma época onde tudo é “brand e performance",
a fé surge como um ato quase subversivo. Vivemos em uma era de
autodeterminação que é, por vezes, "quase tóxica", na qual somos
ensinados que devemos trabalhar duríssimo pelos nossos objetivos.
Neste contexto, a religião oferece um caminho oposto, que
pode ser libertador: Certamente é importante trabalhar duríssimo, mas
existe um algo a mais, existe um ser superior que acompanha o fiel nos sucessos
e fracassos.
Em um mundo caótico em que muitas propostas de vida
desorganizam os pensamentos, esse olhar mais “tradicional” sobre a existência,
por meio da religião, pode oferecer um antídoto essencial para o mundo
caótico. Nesse sentido, a religião “retorna à moda” como
objeto de escândalo, mas também como fonte de fascínio. Ela oferece algo que a
sociedade moderna parece ter esquecido: O direito de não saber, de não
ser sempre o centro e de se abandonar a algo maior. Quase uma rendição que nos
pode tornar livres.
Convenhamos, entre tantos conteúdos na internet, entre
tantas coisas diferentes, padres com o discurso católico não parecem dialogar
com a sociedade atual. Mas, o segredo da batina deles é revelado na internet,
talvez a mensagem da Igreja não seja antiquada como alguns pensam, talvez
ela seja o antídoto para os males da sociedade de hoje.

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