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sábado, 25 de março de 2023

Papa aos confessores: “não atuem como psiquiatras”

TIZIANA FABI | AFP

“Vocês só devem pensar em perdoar”, declarou o Papa Francisco aos sacerdotes confessores durante o XXXIII curso sobre o foro íntimo, realizado no Vaticano neste dia 23 de março. Francisco pediu que os confessores não tentem dialogar com o diabo nem brinquem de psiquiatras.

Durante a audiência, o Papa exortou a Igreja a redescobrir a confissão, especialmente na véspera do Jubileu de 2025, pedindo que os programas pastorais das Igrejas locais garantam “um lugar legítimo” para este sacramento.

Recomendou que os confessionários não sejam “abandonados”, mas sim que haja “presença regular de um confessor, com longas horas, em todos os ambientes pastorais”. E acrescentou: “Nunca um confessionário vazio (…) As pessoas não aparecem? Leia alguma coisa, ore, mas espere: elas irão”.

O Papa também ordenou aos confessores que “nunca conversem com o diabo”, nem “comecem a bancar o psiquiatra, o psicanalista… não”. E enfatizou: “Se algum de vocês tem esta vocação, pode fazê-lo em outro lugar, mas não no tribunal da penitência”.

A missão do confessor, explicou o pontífice, é “acolher a todos sem preconceitos” e “procurar a porta por onde o perdão possa entrar”. E “quando não se consegue entrar pela porta, entra-se pela janela”, acrescentou, sugerindo que, se não puderem despertar o arrependimento, os confessores despertem pelo menos o desejo de arrependimento.

O chefe da Igreja Católica pediu aos padres que não condicionem o perdão, porque “Deus não diz ‘só isso…’, diz ‘tudo'” e perdoa “sempre mais”.

“Se alguém não se sente doador da misericórdia, não vá ao confessionário”, exortou ainda o bispo de Roma, lamentando o caso de um confessor de uma basílica papal que despeja reprovações e aplica uma penitência inviável. “Não é assim. Misericórdia. Você está lá para perdoar”, disse ele.

Num mundo com muitos “focos de ódio e vingança”, os confessores devem multiplicar os “focos de misericórdia”, continuou o Papa, referindo-se a uma “luta sobrenatural” em que a vitória de Cristo é alcançada “toda vez que um penitente é absolvido”. O Sucessor de Pedro encerrou: “Nada expulsa e vence o mal mais do que a misericórdia divina”.

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Hoje o mundo celebra o Dia do Nascituro

Dia Mundial do Nascituro | diocesesaocarlos

REDAÇÃO CENTRAL, 25 Mar. 23 / 08:00 am (ACI).- O Dia do Nascituro é celebrado internacionalmente a cada 25 de março para comemorar, promover e defender a vida humana desde o momento em que foi concebida no ventre materno até a morte natural. Embora, no Brasil, o Dia do Nascituro seja celebrado em 8 de outubro, no marco da Semana Nacional da Vida.

A data foi instituída na Argentina em dezembro de 1998 pelo então presidente Carlos Saúl Menem. O presidente, poucos dias antes desta festa ser celebrada em 1999, incentivou os presidentes de toda a América Latina a aderirem à iniciativa.

São João Paulo II enviou uma carta ao presidente argentino em dizia: "que a celebração do Dia do Nascituro favoreça uma opção positiva em favor da vida e do desenvolvimento de uma cultura orientada nessa direção, que garanta a promoção da dignidade em todas as situações”.

Em 1999, a celebração do Dia do Nascituro foi instituída por lei na Guatemala e na Costa Rica. No ano seguinte, na Nicarágua. Também em 2000 a Bolívia aderiu. A República Dominicana aderiu em 2001, o Peru, em 2002, e o Paraguai em 2003.

A festa também é comemorada em 25 de março em El Salvador, Uruguai, Espanha, México, Áustria, Eslováquia, Cuba, Filipinas, Equador, Chile e Porto Rico.

A data coincide com a Solenidade da Anunciação, celebrada no dia 25 de março. Neste dia a Igreja Católica recorda o anúncio do Anjo Gabriel à Virgem Maria e o corajoso "Sim" a Deus que a faz conceber o Menino que salvou a humanidade.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Inauguração, em Roma, do Memorial dos Novos Mártires dos séculos XX e XXI

Memorial dos Novos Mártires dos séculos XX e XXI (Vatican News)

Na cripta da Basílica de São Bartolomeu na Ilha, em Roma, - que São João Paulo II quis como memorial simbólico dos cristãos que, no século XX, morreram em defesa da fé -, estão expostas ao público dezenas de relíquias e objetos de mártires dos cinco continentes. Esta exposição foi promovida pela Comunidade romana de Santo Egídio com a ajuda da Arquidiocese norte-americana de Chicago.

Michele Raviart – Vatican News

O "Memorial dos novos Mártires" foi inaugurado, na última quinta-feira, 23, na Basílica de São Bartolomeu na Ilha, em Roma, por iniciativa da Comunidade romana de Santo Egídio.

Entre as numerosas relíquias e objetos pessoais dos mártires de todos os continentes, expostos na cripta da Basílica, encontram-se: a casula de Monsenhor Óscar Romero morto em São Salvador, em 1980; a estola do Padre Pino Puglisi, assassinado pela máfia em Palermo, em 1993; o livro de orações do Padre Maximiliano Kolbe, morto em Auschwitz; as ferramentas de Charles de Foucauld, com as quais construiu sua ermida no Saara; como também o breviário do Padre Jacques Hamel, assassinado a tiros por Jihadistas, na França, em 2016; os objetos litúrgicos do Arcebispo caldeu, Bulos Faraj Rahho, do sacerdote caldeu Ragheed Aziz Ghanni, assassinados em Mosul pelo Estado Islâmico.

Memorial (Vatican News)

Memorial dedicado aos mártires modernos

Depois do Jubileu de 2000, por desejo de São João Paulo II, a Basílica da Ilha Tiberina, em Roma, tornou-se um lugar para recordar a memória dos mártires do século XX, vítimas, sobretudo, do totalitarismo nazista e comunista.

A este respeito, o pároco da Basílica, padre Ângelo Romano, explicou: “Ao longo dos anos, centenas de relíquias foram doadas e expostas na Capela desta igreja. Agora, após várias obras de restauro, foi inaugurado um novo espaço, na cripta da Basílica, que, na Roma antiga, era um templo pagão, com um poço dedicado a Esculápio, deus da medicina”.

Na cripta encontram-se numerosos objetos e vestígios de testemunhos cristãos, expostos, segundo critérios geográficos, para demonstrar que, em todos os lugares do mundo, ainda hoje, tantas pessoas arriscam a própria vida pela sua fé em Cristo.

Memorial (Vatican News)

Um lugar em continuidade com a história de Roma

O Cardeal Vigário de Roma, Dom Ângelo de Donatis, ao ser entrevistado pela Rádio Vaticano, Vatican News, recordou o vínculo especial da Cidade de Roma, não apenas com os mártires das primeiras comunidades cristãs, mas também com aqueles que perderam a vida pela sua fé em Cristo: “Na história da Igreja, jamais houve tantos perseguidos por causa do Evangelho. Ainda hoje há certa continuidade, porque a Igreja de Roma sempre honrou os mártires. Em nossos dias, ainda há muitos mártires”. E o Cardeal De Donatis acrescentou: “São João Paulo II quis que este lugar fosse dedicado à memória dos mártires modernos, para mostrar, em primeira mão, que o martírio é uma realidade ainda existente na Igreja. Em muitas regiões do mundo, numerosos cristãos são perseguidos e, algumas vezes, de forma sutil e imperceptível. Esta é a realidade em que vivemos, ainda hoje”.

Um sacrifício que une os cristãos

Por outro lado, o arcebispo Fábio Fabene, Secretário do Dicastério das Causas dos Santos, afirma. “Na verdade, como diz o Papa, aqui tocamos com mão o que significa martírio de sangue, que une todos os batizados, além das diversas confissões religiosas. É impressionante como, através de imagens, escritos, recordações e testemunhos concretos de cristãos, podemos ver a doação da vida de tantos dos nossos irmãos, que foram martirizados, sobretudo, nos séculos XX e XXI”. É bem verdade o que o Papa nos diz: “o nosso tempo ainda é um tempo de mártires”.

Aqui, o arcebispo aproveitou para anunciar que, em vista do Jubileu de 2025, será instituída uma Comissão para reunir “os nomes e os testemunhos das pessoas que, nas últimas décadas, edificaram a Igreja com seu exemplo e seu sangue”.

Necessidade de recordar os mártires do século XX

Andrea Riccardi, fundador da Comunidade romana de Santo Egídio, recordou, nesta quinta-feira, 23, na inauguração do “Memorial dos novos Mártires”, na Basílica de São Bartolomeu na Ilha, em Roma, a figura de São João Paulo II, que escolheu esta Basílica, também visitada por Bento XVI e Papa Francisco, como lugar simbólico do martírio: “O Papa Wojtyla sabia bem o significado de martírio. Ele contribuiu para revelar ao mundo que o martírio não era apenas uma experiência dos primeiros séculos do cristianismo, mas um drama que acompanhou todo o século XX: desde os armênios até os cristãos na Rússia e na Europa Oriental, durante o comunismo”.

A vida cristã precisa do testemunho do Evangelho e do Ressuscitado

A arquidiocese de Chicago, nos EUA, dirigida pelo Cardeal Blase Cupich, titular da Basílica romana de São Bartolomeu na Ilha, também deu uma importante contribuição financeira para as obras de restauro do “Memorial dos novos Mártires”. Na sua inauguração, o Cardeal disse: “Este memorial dos novos mártires é um símbolo para todos os cristãos, porque recorda que a vida cristã precisa do testemunho diário do Evangelho e de Cristo ressuscitado. Espero que todos os cristãos e católicos possam visitá-lo”.

Por que é tão importante a Anunciação do Anjo a Maria, que celebramos hoje

Fra Angelico
25 de março

É uma data-chave na história da Salvação: graças ao SIM de Maria, o Verbo de Deus Se faz carne e vem habitar entre nós.

A Igreja celebra no dia 25 de março a Solenidade da Anunciação a Maria, isto é, o dia em que o Arcanjo Gabriel lhe anunciou que ela conceberia por obra do Espírito Santo e daria à luz Jesus Cristo, o Filho de Deus.

A celebração ocorre simbolicamente nesta data porque são exatos nove meses antes do Natal, representando assim os nove meses da gestação de Jesus. Existe, porém, uma exceção: nos anos em que esta solenidade cai na Semana Santa, o Missal Romano estabelece que ela seja transferida para a segunda-feira posterior ao segundo domingo de Páscoa.

Trata-se do episódio da história da Salvação em que Maria diz sim ao Plano de Deus. Esta aceitação humilde e repleta de fé por parte dela transforma a trajetória da humanidade, pois o sim de Maria permite que Deus Se encarne para nos remir.

Francisco Rizi | Public Domain

Há um notável paralelo entre a Anunciação a Maria e a anunciação a Zacarias, o pai de São João Batista. Em ambos os casos, o Arcanjo Gabriel lhes aparece para transmitir a notícia dos respectivos nascimentos de Jesus e do Seu precursor, mas as reações de Zacarias e de Maria são bem diferentes num aspecto crucial: a fé.

Zacarias questiona como poderia saber se o aquilo que o Arcanjo estava lhe dizendo era verdade. Ou seja, ele duvida.

Já Maria pergunta diretamente como aconteceria aquele anúncio. Ou seja, ela acreditou imediatamente que aconteceria, mas queria compreender o modo.

O Arcanjo Gabriel então lhe disse:

“O Espírito virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com Sua sombra. Por isso, o Menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus”.

Murillo | Public Domain

Fica clara, portanto, a intervenção das três Pessoas da Santíssima Trindade na Encarnação Divina: pela ação do Espírito Santo, o Pai faz que o Filho seja concebido como homem no ventre de uma virgem, sem que haja um pai humano. O Arcanjo deixa explícito, além do mais, que o Menino que vai nascer é o Filho de Deus encarnado.

E Maria acolhe, como serva humilde e fiel, a vontade de Deus:

“Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

É o que recordamos diariamente na oração do Ângelus.

São Dimas

São Dimas | arquisp
25 de março

São Dimas

O Evangelho fala pouco deste Santo. Nem mesmo o nome, os evangelistas fixaram. O que sabemos foi trazido pela tradição que são os nomes: Dimas, o Bom Ladrão e Simas, o mau ladrão.

Sem dúvida alguma, se trata de um santo original, único, privilegiado, que mereceu a honra de ser canonizado em vida por Jesus Cristo, na hora solene de nossa Redenção. Os outros santos só foram solenemente reconhecidos, no outro milênio, a partir do ano 999. A Igreja comemorava os mártires e confessores, mas sem uma declaração oficial e formal. Enquanto que, a de São Dimas quem proclamou foi o próprio Fundador da Igreja.

Dimas foi o operário da última hora, o que nos fez ver o mistério da graça derradeira. O mau ladrão resistiu, explodiu em blasfêmias. Rejeitou a graça, visivelmente dada pelo Redentor. O Bom Ladrão, depois de vacilar (Mt 27,44 -Mc 15,32), confessou a própria culpa, reclamou da injustiça contra Aquele que só fez o bem, reconheceu-O como Rei e lhe pediu que se lembrasse dele, quando estivesse no seu Reino.

Segundo a tradição, Dimas não era judeu, mas sim egípcio de nascimento. Dimas e Simas praticavam o banditismo nos desertos de passagem para o Egito. Lá a Sagrada Família, que fugia da perseguição do rei Herodes, foi assaltada por dois ladrões e um deles a protegeu. Era Dimas. Naquela época, entre os bandidos havia o costume de nunca roubar, nem matar, crianças, velhos e mulheres. Assim, Dimas deu abrigo ao Menino Jesus protegendo a Virgem Maria e São José.

Dimas foi um bandido muito perigoso da Palestina. E isso, realmente pode ser afirmado pelo suplício da cruz que mereceu. Essa condenação horrível era reservada somente aos grandes criminosos e aos escravos.

O Martirológio Romano diz apenas no dia 25 de Março: "Em Jerusalém comemoração do Bom Ladrão que na cruz professou a fé de Jesus Cristo". E no mundo todo São Dimas passou a ser festejado neste dia.

O Bom Ladrão ou São Dimas foi o primeiro que entrou no céu: "Ainda hoje estarás comigo no Paraíso". (Lc 23,43). Ele passou a ser popularmente considerado o "Padroeiro dos pecadores arrependidos da hora derradeira, dos agonizantes, da boa morte". Morreu sacramentado pela absolvição do próprio Cristo, e por Ele conduzido ao Paraíso.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

sexta-feira, 24 de março de 2023

Por que Maria é como Abraão na Bíblia

Wikipedia | Domínio Público
Abraão e Sara

Maria e Abraão são convidados por Deus a confiarem com fé sobrenatural no Seu plano.

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Ao contemplar a resposta da Santíssima Virgem Maria ao arcanjo Gabriel na Anunciação, São João Paulo II observou uma notável semelhança com a resposta de Abraão no Antigo Testamento.

Ele comparou os dois casos numa homilia proferida na solenidade da Anunciação em 2000, explicando que, “De muitas maneiras, Maria é claramente diferente de Abraão; mas, de maneira mais profunda, ‘o amigo de Deus’ (cf. Is 41,8) e a jovem de Nazaré são muito parecidos”.

São João Paulo II enumerou então as muitas semelhanças entre Abraão e Maria, destacando em particular a sua resposta fiel ao convite de Deus:

“Abraão e Maria recebem uma maravilhosa promessa de Deus. Abraão ter-se-ia tornado pai de um filho, do qual iria nascer uma grande nação. Maria tornar-se-ia Mãe de um filho que seria o Messias, o Ungido do Senhor. Gabriel diz: ‘Eis que vais ficar grávida, terás um Filho… o Senhor dar-lhe-á o trono de Seu pai David… e Ele reinará para sempre’ (Lc 1, 31-33).

Tanto Abraão como Maria não esperavam de modo algum esta promessa. Deus muda o decurso quotidiano da vida deles, modificando os seus ritmos consolidados e as normais expectativas. Quer a Abraão quer a Maria a promessa parece ser impossível. A esposa de Abraão, Sara, era estéril e Maria ainda não é casada: ‘Como vai acontecer isso’, perguntou Maria, ‘se não vivo com nenhum homem?’ (Lc 1, 34)”.

Em ambas as situações, Abraão e Maria respondem generosamente a Deus, apesar de não saberem exatamente como Deus cumprirá sua promessa.

“Assim como a Abraão, também foi pedido a Maria que respondesse ‘sim’ a algo que jamais acontecera antes. Sara é a primeira mulher estéril da Bíblia que vai conceber através do poder de Deus, precisamente como Isabel será a última. Gabriel fala de Isabel para tranquilizar Maria: ‘Também a tua parenta Isabel, apesar da sua velhice, concebeu um filho’ (Lc 1, 36).

Como Abraão, também Maria deve caminhar às escuras, entregando-se àquele que a chamou. Contudo, também a sua pergunta ‘como vai acontecer isso?’ sugere que Maria está disposta a responder ‘sim’, apesar dos receios e incertezas. Maria não pergunta se a promessa se pode realizar, mas unicamente como acontecerá. Por conseguinte, não surpreende que conclua pronunciando o seu fiat: ‘Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1, 38). Com estas palavras Maria demonstra-se verdadeira filha de Abraão e torna-se a Mãe de Cristo e a Mãe de todos os crentes”.

Embora Maria não seja frequentemente comparada com Abraão, está claro que ela é uma “verdadeira filha de Abraão”, seguindo os seus passos ao responder a Deus com fé total.

IV Pregação da Quaresma 2023 "mysterium fidei!" - texto integral

Quarta Pregação da Quaresma 2023 (Vatican News)

O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, propôs à Cúria Romana, nesta sexta-feira, 24 de março, a quarta pregação da Quaresma intitulada "mysterium fidei!" - reflexões sobre a liturgia . O Papa Francisco participou deste momento.

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

MYSTERIUM FIDEI!

Reflexões sobre a Liturgia

Quarta Pregação da Quaresma de 2023

Após aquelas sobre a evangelização e sobre a teologia, gostaria de propor hoje algumas reflexões sobre a liturgia e sobre o culto da Igreja, sempre com o intuito de dar uma contribuição, por mais modesta e indireta, aos trabalhos do Sínodo. A liturgia é o ponto de chegada, aquilo a que tende a evangelização. Na parábola evangélica, os servidores são enviados pelas estradas e encruzilhadas para convidar todos ao banquete. A Igreja é a sala do banquete e a Eucaristia, “a ceia do Senhor” (1Cor 11,20) nela preparada.

Iniciemos, em nossas reflexões, de uma palavra da Carta aos Hebreus: Quem se aproxima de Deus – diz ela – deve crer que ele existe” (Hb 11,6). Antes ainda, contudo, de crer que ele existe (que é já um aproximar-se), é necessário sentir ao menos o “aroma” da sua existência. Isto é o que chamamos de senso do sagrado e que um famoso autor chama “o numinoso”, qualificando-o como “mistério tremendo e fascinante”[1]. Santo Agostinho antecipou surpreendentemente esta descoberta da moderna Fenomenologia religiosa. Dirigindo-se a Deus, nas Confissões, diz: “Quando te conheci pela primeira vez..., tremi de amor e de assombro: contremui amore et orrore[2]. E ainda: “Estremeço e inflamo” (et inhorresco et inardesco): estremeço pela distância, inflamo pela semelhança”[3].

Se viesse a faltar completamente o senso do sagrado, viria a faltar o próprio terreno, ou o clima, em que desabrocha o ato de fé. Charles Péguy escreveu que “a assustadora penúria e indigência do sagrado é a marca profunda do mundo moderno”. Se caiu o senso do sagrado, dele permaneceu, contudo, o lamento que alguém definiu, de forma laica, “saudade do Totalmente Outro” (Max Horkheimer).

https://youtu.be/x8zoy3MBt-o

Os jovens, mais do que todos, percebem esta necessidade de serem transportados para fora da banalidade do cotidiano, de escapar, e inventaram seus próprios modos de satisfazer esta necessidade. Foi observado por estudiosos da psicologia de massa que os jovens que participaram há um tempo de famosos shows de rock, como os de Elvis Presley ou o Festival de Woodstock de 1969, eram transportados para fora do seu mundo cotidiano e projetados em uma dimensão que lhes dava a impressão de algo transcendente e sagrado.

Não diversamente, acontece para aqueles que participam hoje dos megashows de cantores e grupos musicais. O fato de estarem em muitos e vibrarem em uníssono com uma massa, amplifica infinitamente a própria emoção. Tem-se o sentimento de fazer parte de uma realidade diversa, superior, que dá lugar a uma espécie de “devoção”. O termo “fã” (abreviação, como sabemos de fanatic, isto é, fanático) é o corresponde secularizado de “devoto”. A qualificação de “ídolos” dada aos seus queridos tem uma profunda correspondência com a realidade.

Essas reuniões de massa podem ter o seu valor artístico e por vezes veicular mensagens nobres e positivas, como a paz e o amor. São “liturgias”, no sentido originário e profano do termo, isto é, espetáculos oferecidos ao público, por dever, ou para obter o seu favor. Não têm, contudo, nada a ver com a autêntica experiência do sagrado. No título “Divina liturgia”, o adjetivo “divina” foi acrescentado justamente para distingui-la das liturgias humanas. Há uma diferença qualitativa entre as duas coisas.

Tentemos ver por quais meios a Igreja pode ser, para os homens de hoje, o lugar privilegiado de uma verdadeira experiência de Deus e do transcendente. A primeira ocasião a que se pensa, também pela semelhança externa, são a grandes reuniões promovidas pelas várias Igrejas cristãs. Pensemos, por exemplo, nas Jornadas Mundiais da Juventude, e nos inúmeros eventos – congressos, convenções e convocações – dos quais tomam parte dezenas (às vezes centenas) de milhares de pessoas em todo o mundo. É incontável o número de pessoas pelas quais tais eventos foram ocasião de uma forte experiência de Deus e o início de uma relação nova e pessoal com Cristo.

O que faz a diferença entre este tipo de encontros de massa e aqueles acima descritos é que aqui, o protagonista não é uma personalidade humana, mas Deus. O senso do sagrado que se experimenta neles é o único verdadeiramente genuíno, e não uma substituição, pois é suscitado pelo Santo dos Santos e não por um “ídolo”.

Todavia, são eventos extraordinários, dos quais nem todos e nem sempre podem participar. A ocasião por excelência e mais comum, para uma experiência do sagrado na Igreja, é a liturgia. A liturgia católica se transformou, em pouco tempo, de ação com forte traço sacral e sacerdotal, a ação mais comunitária e participada, onde todo o povo de Deus tem a sua parte, cada um com o próprio ministério.

Gostaria de tentar dizer como eu vejo e explico a mim mesmo esta mudança. Não é absolutamente para me colocar como juiz do passado, mas para compreender melhor o presente. O presente, na Igreja, jamais é negação do passado, mas seu enriquecimento; ou ainda, como neste caso, superação do passado recente para recuperar o mais antigo e originário.

Na evolução da Igreja entendida como povo, acontece algo parecido ao que acontece à Igreja entendida como edifício. Pensemos em algumas célebres basílicas e catedrais: quantas transformações arquitetônicas no curso dos séculos para responder às necessidades e aos gostos de cada época! Mas é sempre a mesma Igreja, dedicada ao mesmo santo. Se há uma tendência geral em ato em época moderna, é aquela de reportar tais edifícios – quando isso é possível e vale a pena – à sua estrutura e estilo originários. A mesma tendência está em ato para a Igreja como povo de Deus e, particularmente, para a sua liturgia. O Concílio Vaticano II foi um seu momento decisivo, mas não o início absoluto. Ele colheu os frutos de muito trabalho precedente.

Certamente, não é o caso de adentrarmos aqui na história secular da Liturgia – outros o fizeram e, justamente do ponto de vista que nos interessa[4]. Gostaria apenas de evidenciar a evolução que se refere ao senso do sagrado. No início da Igreja e para os três primeiros séculos, a liturgia é realmente uma “liturgia”, isto é, ação do povo (laos, povo, está entre as componentes etimológicas de leitourgia). De São Justino, da Traditio Apostolica de Santo Hipólito e outras fontes do tempo, obtemos uma visão da Missa certamente mais próxima àquela reformada de hoje, do que aquela dos séculos que temos às costas. O que aconteceu depois de então? A resposta é, em uma palavra que não podemos evitar, mesmo se exposta a abuso: clericalizarão! Em nenhum outro âmbito ela agiu mais vistosamente do que na liturgia.

O culto cristão e, particularmente, o sacrifício eucarístico, transformou-se rapidamente, no Oriente e no Ocidente, de ação do povo em ação do clero. Por séculos e séculos, a parte central da Missa, o Cânon, era pronunciado em latim pelo sacerdote a voz baixa, atrás de uma cortina o um muro (um templo no templo!), fora da vista e da escuta do povo. O celebrante aumentava a voz apenas nas palavras finais do Cânon: “Per omnia saecula saeculorum”, e o povo respondia “Amém!” ao que não tinha ouvido e muito menos entendido. O único contato com a Eucaristia, anunciado pelo som dos sinos ou da campainha, era o momento da elevação da Hóstia. Há um evidente retorno ao que acontecia no culto do Antigo Testamento, quando o Sumo Sacerdote entrava no Sancta sanctorum, com incensos e sangue das vítimas, e o povo permanecia fora trêmulo, extenuado pelo senso da majestade e inacessibilidade de Deus.

O senso do sagrado é fortíssimo aqui, mas, após Cristo, é aquele o justo e genuíno? Esta é a pergunta crucial. Lemos na Carta aos Hebreus: De fato, não vos aproximastes... de um fogo palpável e ardente, de escuridão, treva e tempestade, da trombeta retumbante e do clamor das palavras... O espetáculo era tão medonho, que Moisés disse: “Estou apavorado e tremendo” (Ex 19,16-18; Dt 9,19). Vós, ao contrário, vos aproximastes... de Jesus, o mediador da nova aliança e da aspersão com um sangue mais eloquente que o de Abel (Hb 12,18-24). Cristo penetrou além do véu e não fechou o limite atrás de si (Hb 10,20).

O sagrado mudou o modo de se manifestar: não mais como mistério de majestade e poder, mas como infinita capacidade ficar à parte, de se esconder. Após a consagração, o celebrante diz ou canta: “Eis o mistério da fé!”. Alguns de nós, mais idosos, recordarão que outrora esta exclamação era inserida até mesmo no meio da fórmula de consagração do vinho: “Hic est enim calix sanguinis mei, novi et aeterni testamenti – Mysterium fidei! – qui pro vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum”. Como se a Igreja se detivesse, à metade da narrativa, estupefata com o que estava dizendo!

A reforma fez bem, naturalmente, em deslocar tal exclamação para o final da consagração, mas não deveríamos perder o senso de estupor encerrado naquela exclamação e, sobretudo, entender qual deve ser o verdadeiro motivo vero do nosso estupor. Ele deve ser do mesmo gênero daquele que se lê nos versos do Servo de Javé:

Assim também espantará a muitas nações.
por causa dele, reis levarão a mão à boca,
pois estarão vendo coisas que ninguém jamais lhes tinha contado
e contemplarão o que não tinham ouvido.

(Is 52,15-53,1)

Estupor e maravilha, sim, mas diante do quê? Não à majestade, mas à humilhação do Servo! Alguém que tinha muito afinado este sentimento era Francisco de Assis: “Pasme o homem inteiro – escrevia em sua carta a toda a Ordem –, estremeça todo o mundo e exulte o céu quando, sobre o altar, na mão do sacerdote, está Cristo, Filho do Deus vivo”. Mas “pasmar e estremecer” pelo quê? Escutemos o que segue: “Ó admirável alteza e estupenda condescendência! Ó humildade sublime! Ó sublimidade humilde, pois o Senhor do Universo, Deus e Filho de Deus, de tal maneira se humilha que, por nossa salvação, se esconde sob uma pequena forma de pão! Vede, irmãos, a humildade de Deus!”[5].

Trata-se apenas de não arruinar esta possibilidade oferecida pela liturgia renovada com improvisações arbitrárias e bizarras, e manter a necessária sobriedade e compostura também quando a Missa é celebrada em situações e ambientes particulares.

Em todas as orações eucarísticas passadas e presentes, o convite que segue imediatamente a consagração é sempre aquele a recordar: “Unde et memores”, “celebrando, pois, a memória”. É a resposta ao mandamento de Jesus: “Fazei isto em memória de mim!”. Mas, dele, o que devemos sobretudo recordar? “Todas as vezes que comerdes desse pão e beberdes desse cálice, proclamais a morte do Senhor” (1Cor 11,26).

Tentemos ir uma vez além das palavras, ou melhor, dar às palavras um conteúdo existencial e não apenas ritual. Voltemos ao momento em que Jesus as pronunciou; busquemos – pelo que as narrativas evangélicas nos permitam saber – captar em que condições interiores aquela palavra “Fazei isto em memória de mim!”, saiu da boca do Redentor. Ele vê com clareza ao encontro do que está indo. Várias vezes falou disso, mas como ao longe. Agora, o momento chegou; não há nem mesmo o intervalo de tempo para atenuar a angústia. As palavras: “Este é o cálice do meu sangue” não deixam dúvidas. É alguém que está indo ao encontro da morte, e uma morte horrível. “Qui pridie quam pateretur”: na véspera de sua paixão...

E o que acontece ao seu redor? Os apóstolos encontram o modo de discutir ainda uma vez sobre quem é o maior (Lc 22,24-27), como irmãos que brigam por dividir entre si a herança ao redor do leito de morte do próprio pai. Um deles, em poucas horas, irá vendê-lo por 30 moedas de prata: “In qua nocte tradebatur”: na noite em que ia ser entregue. Nestas condições institui o sacramento com o qual se compromete em permanecer com os seus até o fim do mundo. Onde achar um mistério mais “tremendo e fascinante” do que este? O dia que o Senhor nos concedesse, apenas por um momento, lançar um olhar até o fim deste abismo de amor e de dor, creio que não poderíamos mais viver como antes. Isso explica porque São Pio de Pietrelcina parecia lutar na Missa e não conseguir levar a termo a consagração.

Mas agora devemos completar a nossa releitura da Missa. Ela não é somente o Cânon com a consagração; há também a Liturgia da Palavra e a Comunhão. Temos à disposição alguns meios que não havia no passado, para valorizar a Liturgia da Palavra e fazer também dela ocasião para uma experiência do sagrado. Graças ao caminho que a Igreja tem feito nesse meio-tempo em muitos campos, nós temos um acesso novo, mais direto, à Palavra de Deus. Ela pode ressoar com uma riqueza e inteligência maiores do que no passado.

A atual liturgia é riquíssima de Palavra de Deus, disposta sabiamente, segundo a ordem da história da salvação, em um quadro de ritos frequentemente em relacionados com a linearidade e simplicidade das origens. Devemos valorizar estes meios. Nada pode romper o coração do homem e lhe fazer sentir a transcendente realidade de Deus, melhor do que uma viva palavra de Deus, proclamada com fé e aderência à vida, durante a liturgia. A fé – afirma São Paulo – pelo ouvir; e o ouvir, pela palavra de Cristo: Fides ex auditu (Rm 10,17).

Tantas palavras de Jesus, possivelmente escutadas pouco antes no Evangelho do dia, no momento da consagração, voltam a ressoar no coração, como se pronunciadas de novo pelo seu autor vivo e realmente presente sobre o altar. Recordarei sempre o dia que, após ter comentado no Evangelho a palavra de Jesus: “Aqui está quem é mais do que Jonas; aqui está quem é mais do que Salomão” (cf. Mt 12,41-42), ao me levantar da genuflexão após a consagração, veio-me exclamar, dentro de mim, envolvido e cheio de estupor: “Aqui está quem é mais do que Salomão!”.

Também a leitura do Antigo Testamento, a partir da relação com o trecho evangélico, desencadeia significados novos e iluminadores. Na passagem da figura à realidade, a mente – dizia Santo Agostinho – se acende como “uma tocha em movimento”[6]. Como aos dois discípulos de Emaús, Jesus continua a nos explicar “o que em todas as Escrituras se referia a ele” (cf. Lc 24,27).

E depois, eu dizia, a Comunhão. Como a liturgia pode fazer, também deste momento, a ocasião para uma experiência do sagrado, não apenas em nível individual, mas também comunitário? Eu diria, com o silêncio. Existem duas espécies de silêncio: um silêncio que podemos chamar ascético e um silêncio místico. Um silêncio com o qual a criatura busca se elevar até Deus e um silêncio provocado por Deus que se aproxima da criatura. O silêncio que segue a Comunhão é um silêncio místico, como aquele que se observa nas teofanias do Antigo Testamento. Após a comunhão, deveríamos repetir a nós mesmos a palavra do profeta Sofonias (1,7): “Silêncio, diante do Senhor Deus!”. Jamais deveria faltar algum momento, ainda que breve, de absoluto silêncio após a Comunhão.

A tradição católica sentiu a necessidade de prolongar e dar mais espaço a este momento de contato pessoal com o Cristo eucarístico e desenvolveu, nos séculos, sobretudo partir do séc. XIII, o culto da Eucaristia fora da Missa. Não é um culto à parte, separado e independente do sacramento; é um continuar a “fazer memória” de Cristo: dos seus mistérios e das suas palavras, um modo de “receber” Jesus sempre em maior profundidade em nossa vida. Um modo de interiorizar o mistério recebido. A adoração eucarística é o sinal mais claro de que a humildade e o esconderijo de Cristo na Eucaristia não nos fazem esquecer que estamos na presença do "Santíssimo", daquele que, com o Pai e o Espírito Santo, criou o céu e a terra .

Onde é praticado – por paróquia, indivíduos e comunidades –, os seus frutos são visíveis, também como momento de evangelização. Uma igreja cheia de fiéis em perfeito silêncio, durante uma hora de adoração diante do Santíssimo exposto, diria a quem entrasse, por acaso, naquele momento: “Aqui está Deus!”. Recordo o comentário de um não católico, ao término de uma hora de adoração eucarística silenciosa, em uma grande igreja paroquial dos Estados Unidos, lotada de fiéis: “Agora entendo – disse ele a um amigo – o que vocês, católicos, querem dizer quando falam de “presença real”!

Se há um motivo pelo qual eu lamento o latim, é que, com o seu desaparecimento, está desaparecendo o uso de alguns cantos nascidos para estes momentos e que têm servido a gerações de fiéis de todas as línguas para expressar a sua fervorosa devoção ao Jesus da Eucaristia: o Adoro te devote, o Ave verum, o Panis angelicus. Sobrevivem quase que apenas pela música que célebres artistas escreveram para eles.

Nós, “ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1Cor 4,1), e, de modos diversos, todo fiel empenhado com o culto da Igreja, poderíamos nos sentir pressionados e impotentes diante de uma tarefa tão sublime. Teríamos toda razão para isso. Como ajudar os homens de hoje a fazer, na liturgia, uma experiência do sagrado e do sobrenatural, nós que experimentamos em nós mesmos todo o peso da carne e a sua refratariedade ao espírito? Também aqui, a resposta é sempre a mesma: “Tereis a força do Espírito Santo!”. Ele, que é definido “a alma da Igreja”, é também a alma da sua liturgia, a luz e a força dos ritos.

É um dom que a reforma litúrgica do Vaticano II tenha posto no coração da Missa a epiclese, isto é, a invocação do Espírito Santo: primeiro sobre o pão e o vinho e depois sobre todo o corpo místico da Igreja. Tenho um grande respeito pela veneranda oração eucarística do Cânon Romano e amo utilizá-la ainda, algumas vezes, sendo aquela com que fui ordenado sacerdote. Não posso, contudo, não notar, com pesar, a total ausência do Espírito Santo nela. No lugar da atual epiclese consecratória sobre o pão e o vinho, encontramos, aí, a fórmula genérica: “Dignai-vos, ó Pai, aceitar e santificar estas oferendas...”.

Isso também foi uma triste consequência da polêmica entre Oriente e Ocidente. No passado, levou a nós latinos a colocar o papel do Espírito Santo entre parênteses para atribuir toda a eficácia às palavras de instituição, e levou os gregos a colocar as palavras de instituição entre parênteses para atribuir toda a eficácia à ação do Espírito Santo. Como se o mistério fosse realizado por uma espécie de reação química cujo momento exato pode ser determinado.

Há entretanto uma pérola que o Cânon Romano transmitiu de geração em geração, e que a reforma litúrgica conservou justamente e inseriu em todas as novas orações eucarísticas: justamente a doxologia final: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre”: Per ipsum, cum ipso et in ipso est tibi, Deo Patri omnipotenti, in unitate Spiritus Sancti, omnis honor et gloria per omnia saecula saeculorum. Esta fórmula expressa uma verdade fundamental que São Basílio formulou no primeiro tratado escrito sobre o Espírito Santo. No plano do ser, ou da saída das criaturas de Deus, escreve que tudo parte do Pai, passa pelo Filho e chega a nós no Espírito; na ordem do conhecimento, ou do retorno das criaturas a Deus, tudo começa com o Espírito Santo, passa pelo Filho Jesus Cristo e retorna ao Pai[7]. Sendo a liturgia o momento por excelência do retorno das criaturas a Deus, tudo nela deve partir e tomar ímpeto do Espírito Santo.

O missal antigo continha toda uma série de orações que o sacerdote devia recitar em preparação à Missa. Hoje, não poderíamos nos preparar melhor à celebração com uma breve, mas intensa oração ao Espírito Santo, para que renove em nós a unção sacerdotal e ponha em nosso coração o mesmo impulso que pôs no coração de Cristo, para nos oferecermos ao Pai em sacrifício de suave odor? A Carta aos Hebreus diz que, “em virtude do Espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (Hb 9,14). Oremos para que o que aconteceu na Cabeça aconteça também em nós, membros de seu corpo.

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, ofmcap

[1] Cf. Rudolph Otto, Il Sacro (Das Heilige, 1917).

[2] Cf. Santo Agostinho, Confissões, VII, 10.

[3] Ib. XI, 9.

[4] Cf. Mario Righetti, Storia Liturgica, vol. III (La Messa), Milano 1966.

[5] Francisco de Assis, Carta a toda a Ordem, 26-28.

[6] Cf. Agostinho, Ep. 55, 11, 21.

[7] Cf. Basílio de Cesareia, Tratatdo sobre o Espírito Santo XVIII, 47 (PG 32, 153).

O significado da esmola

A esmola | comshalom

O SIGNIFICADO DA ESMOLA

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

Antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade. (Dt, 15-8) 

A Quaresma é um período litúrgico muito importante para nós católicos, que começa na Quarta-Feira de Cinzas e se estende até o Domingo de Ramos, que marca o início da Semana Santa. Durante esse tempo, os fiéis são convidados a fazer um caminho de conversão, a fim de se prepararem para a celebração da Páscoa, que é a festa da ressurreição de Jesus Cristo. Uma das práticas mais tradicionais da Quaresma é a esmola, que consiste em dar aos mais necessitados parte dos bens materiais que possuímos. 

A esmola é uma prática presente em todas as grandes religiões e, no cristianismo, tem uma importância especial, já que Jesus Cristo ensinou que devemos amar o próximo como a nós mesmos e que devemos ajudar os mais necessitados. Na Quaresma, a esmola ganha um sentido ainda mais profundo, pois é um gesto concreto de solidariedade que nos ajuda a viver a caridade e a partilha, valores que são essenciais para o caminho de conversão que estamos percorrendo. 

Para praticar a esmola na Quaresma, podemos fazer uma reflexão sobre as nossas posses e identificar aquilo que podemos compartilhar com os mais necessitados. Pode ser dinheiro, alimentos, roupas, objetos pessoais, tempo e talento, entre outras coisas. O importante é que essa doação seja feita de forma voluntária, generosa e desinteressada, sem esperar nada em troca. 

Existem várias formas de fazer a esmola na Quaresma. Uma delas é contribuir com projetos sociais que atendam pessoas em situação de vulnerabilidade, como asilos, creches, abrigos, hospitais e entidades que cuidam de pessoas em situação de rua. Outra opção é ajudar as pessoas que estão próximas de nós e que precisam de auxílio, seja um parente, um vizinho ou um amigo que esteja passando por dificuldades. 

Além disso, a esmola pode ser praticada através de gestos simples, como dar comida ou dinheiro a um pedinte na rua, ajudar um idoso a atravessar a rua, oferecer uma carona a alguém que precisa, ou mesmo dedicar um tempo para ouvir e aconselhar alguém que esteja passando por problemas. 

A prática da esmola na Quaresma não deve ser vista como um mero gesto de caridade, mas sim como uma oportunidade de vivenciar a solidariedade e a partilha, valores que são fundamentais para a vida cristã. Ao praticar a esmola, estamos seguindo o exemplo de Jesus Cristo, que se fez pobre para nos enriquecer com sua graça e nos ensinou que o amor ao próximo é o caminho para a verdadeira felicidade. 

Saudações em Cristo!

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF