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quarta-feira, 15 de maio de 2024

A solenidade da ascensão do Senhor na doutrina de São Leão Magno

A solenidade da ascensão do Senhor (c. Biblioteca Apostolica Vaticana)

Ele entrou na glória de Deus e está sentado à sua direita para julgar os vivos e os mortos.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Nós celebramos a solenidade da Ascensão do Senhor. Jesus voltou ao Pai, após ter sido enviado a este mundo em vista da redenção humana. Ele entrou na glória de Deus e está sentado à sua direita para julgar os vivos e os mortos. Junto dele está a nossa humanidade, a natureza humana que unida à natureza divina forma uma só Pessoa, Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado. A seguir ver-se-á a forma como São Leão Magno, papa no século V, tratou do mistério da Ascensão do Senhor, sendo a nossa vitória, 

Quarenta dias após a ressurreição do Senhor

Seguindo a Sagrada Escritura, São Leão Magno, afirmou que a Ascensão ocorreu após quarenta dias da Ressurreição de Jesus (cf. At 1,3). Foram dias santificados, dispostos segundo um plano sagrado e empregado para a instrução, contando a partir da bem-aventurada ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, pois o poder divino reergueu no terceiro dia, o verdadeiro templo de Deus, Jesus Cristo[1]. O Senhor prolongou a sua presença corporal neste espaço de tempo para dar provas necessárias à fé, à sua ressurreição. Ele apareceu às mulheres, aos apóstolos e outros discípulos demonstrando a verdade de sua nova realidade, a sua ressurreição e depois voltou para a glória do Pai.

A morte de Jesus

São Leão Magno disse que a morte de Jesus turbou os corações dos discípulos pelo fato de que eles estavam opressos de tristeza, por causa do suplício da cruz, pelo último suspiro e do sepultamento do Mestre Jesus. Quando as santas mulheres anunciaram que a pedra tinha sido rolada, deslocada no túmulo, o sepulcro estava vazio e os anjos testemunharam que o Senhor estava vivo, suas palavras não receberam muito crédito por parte dos apóstolos (cf. Mc 16,9-13)[2].

O Papa afirmou que o Espírito da Verdade não permitiu que a vacilação proveniente da fraqueza humana penetrasse na mente de seus discípulos, em vista dos fundamentos da fé cristã, católica. Assim eles viram de modo que instruíram outras pessoas, ouviram, deram a sua instrução, tocaram de modo que confirmaram a vida e a pessoa de Jesus[3], o enviado do Pai e ele voltou ao Pai, pela Ascensão.

A Ascensão, motivo de alegria para os discípulos

São Leão disse também que os discípulos ficaram alegres pela Ascensão de Jesus aos céus. Decorridos os dias entre a ressurreição e a Ascensão do Senhor, a Providência de Deus estabeleceu diante dos olhos e dos corações dos discípulos, o reconhecimento do Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado, como verdadeiramente ele havia nascido, crescido, sofrido e morrido. Os apóstolos, atemorizados com a morte do Mestre na cruz e oscilantes da fé na ressurreição, fortaleceram-se com a evidência da verdade que a subida do Senhor aos céus não só entristeceu por verem Jesus subindo, mas encheu-os de grande alegria (Lc 24,52)[4].

A natureza humana elevada

O Papa disse que era grande e inefável motivo de júbilo a elevação da natureza humana na presença acima da dignidade de todas as criaturas celestes, ultrapassar as ordens angélicas, dos santos anjos, e subir mais alto que os arcanjos, atingindo o termo de sua ascensão, sendo assentada junto do eterno Pai, sendo assim associada ao trono de glória daquele a cuja natureza estava sempre em unidade com o Filho[5].

A Ascensão de Cristo é a exaltação humana

A Ascensão do Senhor é, portanto, a exaltação humana e é para lá onde precedeu a glória da Cabeça, é atraída a esperança do Corpo. É fundamental exultar, repletos de alegria com piedosa ação de graças, porque não só o ser humano foi firmado como possuidor do paraíso, mas até ele foi penetrado com Cristo no mais alto dos céus, tendo obtido pela inefável graça de Cristo, muito mais do que foi perdido no início da criação. O Filho de Deus colocou a natureza humana junto de si, à direita do Pai[6].

Páscoa e Ascensão

Para São Leão Magno as duas solenidades estão bem relacionadas, interligadas. Se na solenidade pascal, a ressurreição do Senhor foi causa da alegria para as mulheres, aos discípulos e para a humanidade, a sua Ascensão aos céus é motivo presente de alegria, enquanto faz-se memória e venera-se aquele dia em que a humildade da natureza  humana em Cristo foi elevada acima de todas as milícias celestes, das ordens dos anjos, além das potestades, ao trono de Deus Pai[7]. É preciso ter fé neste mistério porque ele exalta o ser humano além do que é visível, para estar no invisível.

A felicidade da Ascensão

Cristo deu ao ser humano a felicidade porque tendo consumado a pregação evangélica e tendo cumprido os mistérios do Novo Testamento, no quadragésimo dia após a ressurreição, diante de seus discípulos, elevou-se aos céus (Lc 24,52; Mc 16,19). Ele pôs fim à sua presença corporal, pois permanece à direita do Pai até decorreram os tempos determinados por Deus, na propagação da Igreja pelos seus filhos e filhas e ele volte para julgar os vivos e os mortos, com o mesmo corpo com o qual ele subiu[8]. Para o Papa Leão tudo o que havia de visível no Redentor da humanidade, passou para os mistérios[9]. A fé na Ascensão de Jesus fez muitas pessoas seguidoras no passado e também no presente a dar a vida pelo Senhor[10].

A sua presença junto ao seu povo

O Senhor Jesus pela sua Ascensão está na majestade paterna de modo que pela maneira inefável é mais presente pela divindade. São Leão Magno reforçou o dado bíblico que quando Jesus subiu aos céus dois anjos falara para os discípulos para que vivessem a missão junto ao povo, pois o Senhor virá da mesma forma que ele subiu aos céus (At 1,1)[11]. Jesus garantiu a sua presença no meio do povo de Deus, para que a missão de Jesus continuasse nas pessoas deles, através da fé, da esperança e da caridade.

São Leão Magno afirmou que é preciso levantar os olhos dos corações humanos às alturas onde Cristo se encontra. Os desejos da terra não deprimam os espíritos chamados para o alto. Ainda que os fieis passem como peregrinos pelo vale deste mundo[12], muitas vezes de lágrimas, de cruzes, de perseguições, de martírios, mas a vista para o alto, onde está Jesus à direita do Pai dará força para prosseguir os caminhos duros deste mundo. O Senhor estará e está sempre presente pela prática da paz, e do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A Ascensão de Jesus é a vitória humana sobre o mal, porque à direita do Pai está o Senhor com natureza humana.

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[1] Cfr. LXXIII Sermão. Primeiro Sermão na Ascensão do Senhor, 1. In: Sermões. Leão Magno. São Paulo, Paulus, 1996, pg. 168.

[2] Cfr. Idem, pg. 168.

[3] Cfr. Idem, pg. 169.

[4] Cfr. Idem, 2, pgs. 170-171.

[5] Cfr. Idem, 4, pg. 171.

[6] Cfr Idem, 4, pg. 171.

[7] Cfr. LXXIV. Segundo Sermão na Ascensão do Senhor, 1Idem, pgs. 172-173.

[8] Cfr. Idem, 2. pg. 173.

[9] Cfr. Idem, pg. 174.

[10] Cfr. Idem, 3, pg. 174.

[11] Cfr. Idem, 4, pg. 175.

[12] Cfr. Idem, pg. 176. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Isidoro / São Torquato

Santo Isidoro (A12)
15 maio

Santo Isidoro – Lavrador

Santo Isidoro nasceu no ano 181, em Madri. Era filho de camponeses. Foi casado e teve um filho, trabalhava como rendeiro no árduo trabalho do campo, para sustentar sua família. Contam que seu patrão quis surpreender-no pelo que ouvia falar que Isidoro ficava rezando ao invés de trabalhar, indo ao campo indagou: Isidoro, de onde eram as duas juntas de bois que trabalhavam a seu lado e desapareceram quando cheguei? E ele respondeu: Não sei patrão, pois meu único socorro é Deus. Eu invoco-o no começo do meu trabalho e não o perco de vista do resto do meu dia.

Morreu no dia 15 de maio do ano 1170 e foi sepultado no cemitério de Santo André de Madri. Foi canonizado no dia 22 de março de 1622, juntamente com Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, Santa Teresa de Ávila e São Felipe Neri.

Santo Isidoro, rogai por nós!

São Torquato (Catolicanet)

São Torquato (Bispo)

O distintivo dos altos funcionários etruscos era uma pesada cadeia de ouro ao redor do pescoço chamada “torques”, certamente porque retorcida, do verbo latino torques (torcer) daí deriva o nome de Torquato, que foi usado no tempo dos romanos. Entre os santos existe um Torquato muito antigo, que viveu exatamente no século I. Seu culto é bastante popular na Espanha, onde é considerado um dos antigos evangelizadores da península ibérica.

Conforme a antiguíssima tradição espanhola, os apóstolos Pedro e Paulo, em Roma, ordenaram sacerdote Torquato e mais 6 companheiros, enviando-os à Espanha, ainda pagã, para convertê-la a fé. Desembarcando em Cádiz, os 7 apóstolos começaram a pregar e sobretudo a operar milagres, que lhes valeram a admiração e o respeito. As conversões se multiplicaram e Torquato ficou na cidade de Cádiz, da qual tornou-se e primeiro bispo. Os outros se dirigiram para outras cidades da Espanha meridional: Vergium, Ávila, Portillo, Elvira, Gibraltar e Andújar.

Não se sabe de que maneira os sete missionários, e em particular Torquato, encerraram a sua vida. Sabe-se, porém, que o seu culto é muito antigo e vivo na Espanha, nas diversas cidades já mencionadas, que se orgulham de tê-los como fundadores de suas igrejas e padroeiros. Em Cádiz, uma antiga igreja é dedicada a S. Torquato. O seu corpo se encontra no mosteiro de São Bento, perto de Orense, na Galícia. Há quase 20 séculos ele é honrado como o primeiro da imensa fileira de cristãos que levaram a luz do Evangelho à Espanha, fato que não tem confirmações documentais, mas só o peso de sua tradição.

São Torquato, rogai por nós!

Fonte: https://catolicanet.net/

Audiência Geral: ao entardecer da vida seremos julgados pela caridade

Audiência Geral de 15/05/2024 - Papa Francisco (Vatican Media)

Na Audiência Geral desta quarta-feira (15/05), Francisco refletiu sobre a virtude da caridade. “Há um amor maior, que vem de Deus e a Ele se dirige, que nos torna capazes de amá-Lo, de sermos Seus amigos, e que nos permite amar o próximo como Deus o ama”, sublinhou o Papa.

Thulio Fonseca – Vatican News

O Papa Francisco dedicou a reflexão da catequese desta quarta-feira (15/05), sobre a terceira virtude teologal, a caridade. Aos milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Pontífice recordou que esta virtude “é o culminar de todo o caminho que empreendemos com a catequese das virtudes”.

"Pensar na caridade expande imediatamente o coração, e a mente corre para as palavras inspiradas de São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios. Concluindo aquele estupendo hino, o Apóstolo cita a tríade das virtudes teologais e exclama: “Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade” (1Cor 13,13)."

O amor está na boca de muitos

Francisco recorda que o apóstolo Paulo dirige estas palavras a uma comunidade que estava longe de ser perfeita no amor fraterno: os cristãos de Corinto eram bastante briguentos, havia divisões internas, há aqueles que afirmam ter sempre razão e não ouvem os outros, considerando-os inferiores. Paulo lembra a essas pessoas que a ciência incha, enquanto a caridade constrói.

“Provavelmente todos estavam convencidos de que eram boas pessoas e, se questionados sobre o amor, teriam respondido que o amor era certamente um valor importante para eles, assim como a amizade e a família. Ainda hoje, o amor está na boca de muitos “influenciadores” e nos refrões de muitas músicas, mas de fato, o que é o verdadeiro amor?”

Antes da catequese, a tradicional saudação do Papa aos fiéis (Vatican Media)

A caridade tem sua origem em Deus

Segundo o Papa, como em Corinto, também entre nós hoje, há confusão sobre o amor e por vezes não vemos nenhum vestígio da virtude teologal, aquela que vem até nós somente de Deus: “com palavras todos garantem que são boas pessoas, que amam a família e os amigos, mas na realidade sabem muito pouco do amor de Deus”, e completou:

“A caridade é o amor que desce, não aquele que sobe; é o amor que doa, não o que toma; é o amor que se esconde, e não o que busca aparecer. A caridade é, enfim, a maior forma de amor, que tem sua origem em Deus e a Ele se dirige, que nos torna capazes de amá-Lo, de sermos Seus amigos, e que nos permite amar o próximo como Deus o ama.”

Amar o que não é amável

Por fim, o Pontífice sublinhou que “este amor, ou seja, a caridade por causa de Cristo, leva-nos para onde humanamente não iríamos: ao amor pelo pobre, por aquilo que não é amável, por quem não nos quer bem e até mesmo pelo inimigo. Isso é "teologal", ou seja, vem de Deus, é obra do Espírito Santo em nós.

“É um amor tão ousado que parece quase impossível, e mesmo assim é a única coisa que restará de nós. É a 'porta estreita' pela qual passar para entrar no Reino de Deus.”

“Ao entardecer de nossa vida não seremos julgados sobre o amor de forma genérica, mas sobre a caridade que praticamos, ou seja, o amor que realizamos de modo concreto”, concluiu o Papa Francisco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 14 de maio de 2024

Os jovens do Padre Pio (1)

A multidão durante a cerimônia de beatificação de Padre Pio no Vaticano | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 05/2002

Os jovens do Padre Pio

A mídia de massa nunca fala sobre isso. Mas são precisamente eles, os Grupos de Oração, que garantem que São Pio de Pietrelcina não seja apenas uma memória devota. Entre eles há muitos meninos.

por Stefano Maria Paci

Que estranho: abre-se o terceiro milénio, uma era de sensacional progresso científico e tecnológico, a era do mapeamento do genoma e das redes informáticas que unem o planeta, e o santo que o simboliza é um pobre frade que tinha uma fé simples e sem adornos. Uma fé quase banal na sua simplicidade.
Sim, porque sem dúvida ele, São Pio de Pietrelcina, como será chamado a partir de 16 de junho, é o santo mais significativo deste novo milénio. Um santo que movimenta massas de fiéis nunca vistas ao longo dos séculos: para a sua beatificação, a 2 de maio de 1999, Roma temia ser sitiada devido à invasão dos seus devotos, tanto que o autarca escreveu uma carta aos cidadãos do cidade eterna orientando não sair de casa nem sair de férias para não causar transtornos. Para a canonização, 300 mil pessoas poderão assistir à cerimônia – a mais assistida da história – na Praça de São Pedro. Milhões e milhões, em todo o mundo, irão segui-la através da rádio e da TV. Cada drama, jornal, livro que fala sobre ele vira case de recordes de audiência e vendas. Basta colocar o rosto na capa para aumentar a circulação de um jornal. «É simples: se falamos dele, vendemos», explica Paolo Occhipinti, diretor do semanário Oggi .

Na internet existem 40.500 sites que falam do frade com estigmas. Um santo para a era da web? No entanto, a sua fé era simples, quase de outra época, feita de algumas coisas essenciais: orações, missas, rosários (tinha constantemente nas mãos a coroa de Nossa Senhora). Em seu confessionário, conta-nos o Padre Luciano Lotti, o franciscano historiador do Padre Pio, pelo menos um milhão e duzentas mil pessoas se ajoelharam. A fé de Francesco Forgione era a mesma que aprendera com a mãe. Uma fé que para muitos parecia ultrapassada e retrógrada. Mas ainda hoje, no milénio dos descobrimentos e da “Grande Rede”, a fé deste frade fascina e comove pessoas dos cinco continentes. Seja qual for a raça ou cultura a que pertencem.

O milagre da oração

Exemplo disso é uma das maiores obras de Padre Pio, os Grupos de Oração. Fascinado pela fama de prodígios que envolve a imagem do frade (mas o próprio João Paulo II, no dia seguinte à sua beatificação, sublinhou que «o testemunho do Padre Pio constitui uma poderosa lembrança da dimensão sobrenatural, que não deve ser confundida com o milagre, um desvio do qual sempre se defendeu com firmeza"), a mídia nunca fala sobre isso. Mas são precisamente eles, os grupos de oração, que tornam o Padre Pio concretamente presente em todo o mundo e garantem que a sua memória não seja apenas uma memória devota. Foi recordado por um excelente diplomata como o Cardeal Agostino Casaroli, então Secretário de Estado do Vaticano, quando, a 3 de Maio de 1986, após anos de gestação, apresentou os estatutos em San Giovanni Rotondo. É graças aos grupos de oração, disse ele, que o frade de Pietrelcina não só permanece um exemplo consolador do passado, mas «se torna presente nas dioceses, nas paróquias, nas famílias com a sua fé profunda, com o seu exemplo e a sua espiritualidade ».

E foram eles que contribuíram para elevá-lo à glória dos altares. Nos documentos altamente confidenciais do processo canónico, podemos ler que a existência dos grupos de oração é “a prova incontestável da reputação de santidade do Servo de Deus”.

Uma verdadeira força-tarefa espiritual. Que se desenvolveu surpreendentemente nos últimos anos e continua a crescer. Os grupos de oração desejados por Padre Pio eram algumas dezenas em 1960, algumas centenas em 1980, e existem milhares e milhares hoje. «Atualmente são 2.739: 2.332 na Itália e 407 no exterior», afirma Fabio Comparato, responsável pelo Centro Internacional de Grupos de Oração, órgão que os coordena. E as regiões italianas onde estão mais difundidas são Sicília (240), Puglia (220) e Lácio (190). Presente em 34 estados, da Gâmbia ao Sri Lanka, do Peru à Austrália, cada grupo tem entre 30 e 300 membros: centenas de milhares de pessoas espalhadas pelos cinco continentes. «Não temos como dizer o número de participantes nos Grupos, porque não temos cartões de sócio nem vínculos. A fé, por natureza, é gratuita”, explica Comparato, que está próximo do Padre Pio desde o início desta aventura.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Como se fosse um filme: "A experiência do deserto"

"A experiência do deserto" | Opus Dei

Como se fosse um filme: "A experiência do deserto"

A vida de Jesus não foi isenta de dificuldades. Antes de iniciar seu ministério público, ele passou quarenta dias de jejum e penitência no deserto, onde sofreu as tentações do demônio. Essa experiência pode nos mostrar uma maneira de ver as dificuldades como oportunidades de amadurecer nossa vocação cristã.

13/02/2024

O enredo de um bom filme geralmente tem momentos de conflito. Se o protagonista não tivesse que enfrentar problemas, talvez fosse uma história monótona e previsível. Mas são essas reviravoltas que tornam um filme emocionante. O espectador observa como o ator passa por vários contratempos até conseguir o que tanto queria. E, no final desse processo, que teve seus altos e baixos, muitas vezes ele se sentirá transformado: o personagem que começou o filme será diferente daquele do final.

Na história de qualquer pessoa, há também situações de conflito. Não há biografias sem momentos de dor, dúvida ou cansaço. Assim, junto com os bons momentos, essas circunstâncias de conflito também nos permitem crescer nos ideais que inspiram nossa vida. O próprio Jesus quis viver uma experiência semelhante: passou quarenta dias de fome e sede no deserto, onde sofreu as tentações do demônio (cf Mt 4,1-11).

Escolher quem queremos ser

Depois que Cristo recebeu uma manifestação do Paráclito e do amor de seu Pai, nas águas do Jordão, Ele é conduzido por esse mesmo Espírito ao deserto “para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1). Em vez de abraçar o sucesso fácil diante das multidões no Jordão, ele preferiu preparar sua vida pública com o sabor agridoce do abandono e da provação. “Também Jesus foi tentado pelo diabo, e acompanha-nos, a cada um de nós, nas nossas tentações. O deserto simboliza a luta contra as seduções do mal, a fim de aprender a escolher a verdadeira liberdade. De fato, Jesus vive a experiência do deserto pouco antes de começar a sua missão pública. É precisamente através dessa luta espiritual que ele afirma decididamente o tipo de Messias que pretende ser”[1].

Também nós, por meio das tentações que podem surgir na vida cotidiana, podemos afirmar com decisão quem queremos ser. Se Deus as permite, é justamente para que possamos descobrir nossa verdade e purificar nosso amor, de modo que nossos desejos tendam para Ele. “A guerra do cristão é incessante, porque na vida interior se verifica um perpétuo começar e recomeçar, que nos impede de orgulhosamente nos imaginarmos perfeitos. É inevitável que haja muitas dificuldades no nosso caminho; se não encontrássemos obstáculos, não seríamos criaturas de carne e osso. Sempre teremos paixões que nos puxem para baixo, e sempre precisaremos defender-nos contra esses delírios mais ou menos veementes”[2].

O Senhor não nos deixa sozinhos. Ao mesmo tempo em que sofremos tentações, contamos com a mão estendida de Jesus para nos manter firmes. Por meio dessas provações, podemos entender melhor quem queremos ser e escolher livremente os ideais que nos movem. Melhor do que qualquer outra pessoa, Cristo nos entende quando sentimos esse dilema entre quem queremos ser e o bem aparente que a provação coloca ao nosso alcance. A maneira como Ele viveu a experiência do deserto pode nos ajudar a ver as tentações de forma mais realista: não é cedendo a elas ou conversando com elas que encontraremos a paz, mas abraçando resolutamente o amor que inspira nossa vida.

Escutar a fome

Como um verdadeiro homem, após quarenta dias de jejum rigoroso e oração profunda, Jesus sente fome. Não se trata de um apetite isolado, nem de uma mera necessidade humana: é uma fome de sobrevivência. O Senhor está no limite das suas forças humanas. Podemos imaginá-lo exausto, com o olhar percorrendo a paisagem árida e infinita, até se fixar em algumas pequenas rochas distantes. E a imaginação, que sempre transforma a necessidade em sonhos, talvez o levaria pelos caminhos de suas boas lembranças, quando comia os pratos simples, mas saborosos, que sua mãe lhe preparava com tanto carinho. Foi exatamente nessa situação que o tentador entrou em cena: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4,3). Adão e Eva sucumbiram a outra insinuação do demônio quando se deixaram seduzir pela beleza do fruto da árvore, em vez da comunhão com Deus (cf Gn 3,1-6). O povo de Israel também entrou em desespero no deserto por causa da falta de comida, pois se lembrava com nostalgia dos vegetais que comia como escravo no Egito (cf Num 11,5). É uma prova que, no final, nos leva a meditar sobre a hierarquia do nosso coração e a nos perguntar o que realmente conta na vida. “Superar as tentações de submeter Deus a nós mesmos e aos nossos interesses, ou de o pôr num canto, e converter-se à justa ordem de prioridades, reservar a Deus o primeiro lugar, é um caminho que cada cristão deve percorrer sempre de novo”[3].

Quando a necessidade parece se rebelar dentro d’Ele e reivindicar os seus direitos, Jesus mostra a verdadeira fonte da sua paz, aquilo que Ele sabe que o faz feliz: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4:4). Cristo não nega que está com fome. Mas Ele não quer saciá-la com qualquer alimento, mas com aquele que o satisfaz profundamente: ser fiel ao chamado para redimir todos os homens. “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,34), Ele dirá aos discípulos em outra ocasião.

O Senhor revela que, quando a tentação aparece, o primeiro passo é reconhecê-la como tal. Agir como se nada estivesse errado, fingir que não se está realmente com fome, pode provocar uma tensão latente que, pouco a pouco, nos faz desejar e ansiar por aquilo que, a princípio, foi rejeitado. É por isso que Deus nos convida a ouvir a fome em nosso coração, para que não a preenchamos com as primeiras pedras que encontrarmos. Por meio da experiência da nossa necessidade, podemos entender uma mensagem. Percebemos que o Senhor não quer que saciemos essa fome com o fruto de uma árvore ou com os vegetais do Egito, pois eles dificilmente poderão anestesiá-la. Sua proposta diante dessa necessidade é que preenchamos nosso coração com o que é realmente importante em nossa vida: o amor a Deus e o amor ao próximo.

Abraçar a vontade de Deus

O demônio não se dá por vencido. Jesus Cristo permite que ele o tente ainda mais fortemente, para que experimentemos mais vividamente sua identificação com a vontade de seu Pai e a sua profunda proximidade com o homem pecador. O tentador leva Jesus ao topo do templo. O vento batia em seu rosto nu e fatigado; seus pés mal suportavam o peso de seu corpo cambaleante de cansaço. Seus olhos, que em poucos meses chorariam amargamente pelos habitantes da Cidade Santa, penetram com amor em cada telhado e em cada beco. Não seria esse um bom momento para revelar sua verdadeira identidade com toda a clareza? A voz estridente do demônio de repente rompe o denso silêncio da altura. “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: 'Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra'” (Mt 4,5).

Diante de uma insinuação tortuosa da serpente, Adão e Eva passaram a desconfiar de Deus. Por que Ele não quer que comamos dessa árvore? Durante os quarenta anos no deserto, os israelitas também desconfiaram da liberdade que o Senhor lhes havia oferecido. Será que o nosso passado como escravos não era melhor do que essa liberdade cheia de sofrimento? Em toda tentação há a possibilidade da ausência, impotência ou distanciamento de Deus. Talvez Ele seja lembrado como um companheiro do passado, outrora próximo, mas não mais real. Às vezes é fácil reconhecer o Senhor quando as coisas estão indo bem, e aproveitamos as maravilhas do Éden ou contemplamos os prodígios que Ele realizou para libertar Israel da escravidão. Mas quando surgem conflitos, parece que esses sinais desaparecem: ansiamos por uma manifestação extraordinária e mais clara da proximidade de Deus. Podemos então pensar que, se Ele não nos salvar imediatamente, não é realmente um Pai tão bom quanto imaginávamos.

Jesus experimentaria novamente uma tentação semelhante pouco antes de morrer, quando um dos ladrões lhe disse: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!” (Lc 23,39). Esse é um raciocínio que segue uma lógica esmagadora: se você realmente pode fazer tudo, livre-se dessa situação e salve-nos. Por outro lado, a atitude do outro ladrão é diferente: “Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes” (Lc 23,41). Ele não se rebela contra o destino que o aguarda, mas aceita a sua condição. Portanto, não implora ao Senhor que mude a realidade ou resolva todos os seus problemas agora mesmo, mas reconhece sua realeza e pede que não se esqueça dele: “Lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!” (Lc 23,42). Sua oração não foi uma exigência – mostre-me que você é o Salvador – mas um ato de abandono nas mãos do Messias: “Queres, Senhor?... Eu também o quero”[4].

“Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’” (Mt 4,7). Cristo rejeitou a segunda tentação no deserto – e também a tentação dirigida a ele na cruz – abraçando ainda mais fortemente a vontade de seu Pai: ele aceita que a salvação seja feita como Ele quer. Jesus não queria testar a Deus ou buscar atalhos para aliviar a sua dor, pois sabia que Ele buscava apenas o seu bem, mesmo que às vezes fosse difícil descobrir isso. “Quando te abandonares de verdade no Senhor, aprenderás a contentar-se com o que vier, e a não perder a serenidade, se as tarefas – apensar de teres posto todo o teu empenho e utilizado os meios oportunos – não correm a teu gosto… Porque terão ‘corrido’ como convém a Deus que corram”[5].

Libertar-se dos ídolos

Há um teste final à espera de Jesus. O demônio, astuto e perseverante, leva-o a uma montanha muito alta, de onde se pode ver os muitos reinos do mundo, toda a glória e o poder dos homens. Não era Ele o Rei do universo? Não tinha vindo para unir todos os povos e nações no reino dos filhos de Deus? Um único gesto seria suficiente para que o tentador o ajudasse a cumprir sua missão de forma definitiva. “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar” (Mt 4,9). Mas os joelhos de Jesus não se dobraram.

Adão e Eva, desconfiando de Deus, preferiram se colocar como deuses. Os israelitas também, em suas andanças pelo deserto, às vezes decidiam construir suas próprias divindades, na medida de suas ilusões e do reflexo de seus próprios rostos. Sempre que o homem desconfia de seu Pai, ele acaba adorando a si mesmo. E, em vez de depositar sua esperança no misterioso, mas eterno, poder divino, ele escolhe se contentar com sua própria glória passageira, por menor que seja e que se desvanece facilmente. O diabo pode não nos oferecer hoje “todos os reinos do mundo” (Mt 4,8), mas ele nos oferece pequenos reinos que podemos desejar secretamente em nosso coração e nos convence de que isso nos fará felizes o suficiente para continuarmos caminhando. Assim, divinizamos realidades que não são Deus, mas “correntes que escravizam”.

O Senhor nos criou para que nossos anseios sejam dirigidos a Ele. Fomos criados para compartilhar a sua natureza divina – como Adão e Eva pretendiam – e para sermos felizes – como os israelitas buscavam no deserto. E isso significa aprender a nos libertar dos ídolos que nos desviam do caminho para a realização. “O dinamismo do desejo está sempre aberto à redenção. Também quando ele se adentra por caminhos desviados, quando persegue paraísos artificiais e parece perder a capacidade de ansiar pelo bem verdadeiro. Também no abismo do pecado não se apaga no homem aquela centelha que lhe permite reconhecer o verdadeiro bem, saboreá-lo, e assim iniciar um percurso de subida, no qual Deus, com o dom da sua graça, nunca deixa faltar a sua ajuda. De resto, todos temos necessidade de percorrer um caminho de purificação e de cura do desejo. Somos peregrinos rumo à pátria celeste, rumo àquele bem pleno, eterno, que nada jamais nos poderá extirpar. Por conseguinte, não se trata de sufocar o desejo que se encontra no coração do homem, mas de o libertar, para que possa alcançar a sua verdadeira altura”[6].

O orgulho insinua que não precisamos do Senhor. Mas Jesus não se deixa enganar pela miragem que o demônio lhe apresenta. Ele sabe que nos arredores de Jerusalém, no Calvário, as portas do paraíso se abrirão para sempre. Da Cruz, ele nos ensinará em que consiste a verdadeira felicidade: dar a vida por amor. “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: 'Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto'” (Mt 4,10).

* * *

São Mateus termina seu relato das tentações destacando que o demônio foi embora e os anjos se aproximaram e serviram a Jesus (cf. Mt 4,11). Às vezes, as forças do demônio parecem invencíveis. As tensões a que ele as submete parecem nunca ter fim. É exatamente isso que ele busca: roubar-nos a esperança e fazer-nos acreditar que a única saída é ceder ao que ele propõe. Mas a maneira como Jesus experimenta a tentação nos mostra que essa abordagem está errada e que a vitória é possível. “O diabo é o grande mentiroso, o pai da mentira. Ele sabe falar bem, sabe até cantar para nos enganar. Ele é um derrotado, mas se move como um vencedor. Sua luz é brilhante como fogos de artifício, mas não dura, ela se apaga, enquanto a luz do Senhor é suave, mas permanente”[7].

Cristo pode nos ajudar a aceitar as tentações com serenidade e a vencer o medo nos momentos de dúvida e fraqueza, pois sabe que nenhuma ação do demônio será superior à força humana auxiliada pela graça (cf 1 Co 10, 13). Em nenhum momento Jesus entra em diálogo com o tentador, imaginando o que aconteceria se Ele aceitasse alguma de suas propostas. Em vez disso, Ele o interrompe de forma decisiva, tomando uma resolução firme. É assim que responde aos convites do demônio: escolhendo o bem que procura esconder dele. Não quer se alimentar de pão, mas da palavra divina. Não quer colocar Deus à prova, mas confia nele. Ele não quer os reinos do mundo, mas servir somente a seu Pai.

Dessa forma, o Evangelho nos mostra o Senhor como “o novo Adão, que ficou fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpre à perfeição a vocação de Israel: contrariamente aos que provocaram outrora a Deus durante quarenta anos no deserto (cfr. Sal 95,10), Cristo se revela como o Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina”[8]. A vitória do Senhor sobre o tentador também é benéfica para nós: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas que foi provado em tudo, como nós, exceto no pecado” (Hb 4,15). “Cristo não somente conhece, como Deus, a fraqueza da nossa natureza, mas também, como homem, experimentou os nossos sofrimentos, embora não tivesse pecado. Por conhecer nossa fraqueza, é capaz de nos dar a ajuda de que precisamos e, ao nos julgar, Ele o fará tendo em mente essa fraqueza”[9].

Depois desse episódio, Jesus começará sua vida pública. Naqueles quarenta dias no deserto, Ele queria fortalecer seu espírito para sua missão redentora que seria difícil e exigente. Os desertos pelos quais podemos passar em nossas vidas – tentações, crises, contratempos – também podem servir como um impulso para amadurecer nossa vocação cristã e podem ser um momento de graça. Cristo nos ajudará a passar por eles de mãos dadas, sabendo que Deus se esconde em todo deserto.


[1] Francisco, Ângelus, 6/03/2022.

[2] É Cristo que passa, n. 75.

[3] Bento XVI, Audiência, 13/02/2013.

[4] Caminho, n. 762.

[5] Sulco, n. 860.

[6] Bento XVI, Audiência, 7/11/2012.

[7] Francisco,Homilia, 8/05/2018.

[8] Catecismo da Igreja Católica, n. 539.

[9] Teodoreto de Ciro, Interpretatio ad Hebraeos, ad loc.

 Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Papa: diante do descarte e solidão na velhice, coragem em não abandonar os idosos

"A solidão e o descarte tornaram-se elementos freguentes no contexto em que estamos imersos" (VATICAN MEDIA - Divisione Foto)

O Papa divulgou nesta terça-feira (14/05) a mensagem para o IV Dia Mundial dos Avós e dos Idosos que será celebrado em 28 de julho. "Na velhice, não me abandones" (Sal 71, 9) é o tema de reflexão proposto pelo Pontífice: "à atitude egoísta que leva ao descarte e à solidão, contraponhamos o coração aberto e o rosto radioso de quem tem a coragem de dizer «não te abandonarei!»".

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco divulgou nesta terça-feira (14) a mensagem para o IV Dia Mundial dos Avós e dos Idosos celebrado todo quarto domingo de julho, próximo à memória litúrgica dos Santos Joaquim e Ana, avós de Jesus. Neste ano, será comemorado em 28 de julho e o Pontífice oferece uma reflexão proposta do Salmo 71, "Na velhice, não me abandones" (Sal 71, 9), voltando a tratar da rejeição na melhor idade, quando as pessoas enfrentam contextos de solidão e sentimentos de descarte.

A mensagem começa encorajadora, ao recordar que "Deus nunca abandona os seus filhos; nem sequer quando a idade vai avançando e as forças já declinam, quando os cabelos ficam brancos e a função social diminui, quando a vida se torna menos produtiva e corre o risco de parecer inútil. O Senhor não olha para as aparências (cf. 1 Sam 16, 7)," destaca o Papa no texto. Esse "amor fiel do Senhor", do "modo como Deus cuida de nós", continua ele, é revelado em toda Sagrada Escritura e, sobretudo, nos salmos: "aliás, segundo a Bíblia, é sinal de bênção poder envelhecer".

A solidão na velhice

Mas, nos próprios salmos, também encontramos "esta sentida invocação ao Senhor: «Não me rejeites no tempo da velhice» (Sal 71, 9). Uma frase forte, crua. Faz pensar no sofrimento extremo de Jesus, quando gritou na cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27, 46)". Assim, encontramos na Bíblia tanto "a certeza da proximidade de Deus" como "o temor do abandono, especialmente na velhice e nos períodos de sofrimento". Isso porque é um reflexo da realidade, já que os idosos "com frequência", encontram a solidão.

"Muitas vezes me sucedeu, como bispo de Buenos Aires, ir visitar lares de terceira idade, dando-me conta de como raramente recebiam visitas aquelas pessoas: algumas, há muitos meses, não viam os seus familiares."

O Papa Francisco, então, traz algumas causas dessa solidão, provenientes, por exemplo, de situações de pobreza e conflitos, migrações e hostilidades dos jovens em relação aos idosos - essa uma mentalidade que deve ser "combatida e erradicada", escreve o Pontífice, para não alimentar "uma certa conflitualidade geracional": "se pensarmos bem, está hoje muito presente por todo o lado esta acusação, lançada contra os velhos, de «roubar o futuro aos jovens»":

"O contraste entre as gerações é um equívoco, um fruto envenenado da cultura do conflito. Opor os jovens aos idosos é uma manipulação inaceitável: 'O que está em jogo é a unidade das idades da vida'."

O descarte dos idosos

"A solidão e o descarte dos idosos não são casuais nem inevitáveis, mas fruto de opções – políticas, econômicas, sociais e pessoais – que não reconhecem a dignidade infinita de cada pessoa", continua Francisco na mensagem ao acrescentar nesse pacote triste da terceira idade, o descarte. O Papa afirma o quanto os idosos e as próprias famílias acabam sendo vítimas da "cultura individualista" porque, quando se envelhece, as pessoas ficam sem ajuda de ninguém: "cada vez mais «perdemos o gosto da fraternidade» (FRANCISCO, Carta enc. Fratelli tutti, 33)".

“Isto acontece quando se perde vista o valor de cada pessoa, tornando-se ela apenas uma despesa que, em alguns casos, aparece demasiado elevada para pagar. O pior é que, muitas vezes, acabam dominados por esta mentalidade os próprios idosos que chegam a considerar-se como um fardo, sendo os primeiros a quererem desaparecer.”

"A solidão e o descarte tornaram-se elementos frequentes no contexto em que estamos imersos". Mas, a Sagrada Escritura apresenta opções diferentes face à velhice, porque "viver sozinhos não pode ser a única alternativa". Diante de um «não me abandones», é possível responder «não te abandonarei!», cuidando "de um idoso ou simplesmente demonstrando diariamente solidariedade a parentes ou conhecidos que não têm mais ninguém". Manter-se junto aos idosos, comenta ainda Francisco, reconhecer "o papel insubstituível que eles têm na família, na sociedade e na Igreja, também nós receberemos muitos dons, tantas graças, inúmeras bênçãos!".

“Neste IV Dia Mundial a eles dedicado, não deixemos de mostrar a nossa ternura aos avós e aos idosos das nossas famílias, visitemos aqueles que estão desanimados e já não esperam que seja possível um futuro diferente. À atitude egoísta que leva ao descarte e à solidão, contraponhamos o coração aberto e o rosto radioso de quem tem a coragem de dizer «não te abandonarei!» e de seguir um caminho diferente.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

"Uma Igreja Sinodal: ser missionário no ambiente digital"

Ser missionário no ambiente digital (missaosalesiana)

“UMA IGREJA SINODAL: SER MISSIONÁRIO NO AMBIENTE DIGITAL”

Dom Arnaldo Carvalheiro Neto
Bispo de Jundiaí (SP)

1. A Igreja Católica Apostólica Romana inserida no contexto histórico da primeira metade deste século XXI, sob o Pontificado do Papa Francisco, coloca-se em movimento “Igreja em Saída”. A Igreja “é chamada a ser um hospital de campanha”.  À luz da fé o movimento é ação do Espírito Santo. O Espírito Santo foi prometido por Jesus (João 14, 16-17), está presente na tradição apostólica (Atos 2, 1ss), os padres da Igreja reconhecem a ação do Espírito Santo (Basílio de Cesareia Sec. IV), os santos ao longo da história da Igreja moveram-se pela ação do Espírito Santo. Nós cremos que o Espírito Santo move a Igreja hoje. O Sínodo para a sinodalidade (2021-2024), convocado pelo Papa Francisco traz em seu relatório de síntese o título “Uma Igreja Sinodal em Missão”. O Papa Francisco, movido pelo Espírito Santo, à luz da tradição da Igreja e seguindo os passos do Concílio Vaticano II nos orienta a sempre voltarmos às origens da fé. Esse caminho foi percorrido por São João Paulo II e por Bento XVI. “Caras irmãs, caros irmãos, «todos nós fomos batizados num só Espírito para sermos um só Corpo» (1Cor 12,13)”. Essa convocação sinodal nos remete à unidade-comunhão, tal como exortava o Apóstolo Paulo. A Igreja nos convida a vivermos a essência da fé: Jesus Cristo. À luz da fé, não há dúvida de que o Espírito Santo nos coloca em ação para voltarmos às origens. No início do cristianismo estão o próprio Cristo e os apóstolos cultivando um modelo de Igreja: 1. Sinodal e 2. Missionária. Não nos fechemos a ação do Espírito Santo que conclama a Igreja a ser, no Século XXI, sinodal e missionária em sua essência.

2. A Igreja sinodal e missionária que peregrina no contexto histórico do século XXI tem diante de si a realidade do mundo que hoje é tecida em ambiente digital. O Espírito Santo não abandonou a Igreja e a tem movido a dialogar com a contemporaneidade e sua razão. Assim faz o Decreto Inter Mirifica (1963), o Papa Paulo VI instituiu o 1º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 1967, a ser celebrado, anualmente, na Festa da Ascensão do Senhor. Já na Instrução Pastoral Communio et Progressio, 1971, o então Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais reconheceu a positividade dos meios de comunicação e incentivou a Igreja a valorizar a Pastoral da Comunicação em todas as Igrejas Particulares. Já na carta Encíclica Redemptoris Missio, a Igreja assim se expressa profeticamente:

O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações, que está a unificar a humanidade, transformando-a — como se costuma dizer — na «aldeia global». Os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais. Principalmente as novas gerações crescem num mundo condicionado pelos mass-média” (RM, 37c).

A Igreja sinodal e missionaria do século XXI, iluminada pelo Espírito Santo, reflete sobre o “ambiente digital” reconhecendo:

A cultura digital representa uma mudança fundamental no modo como concebemos a realidade e nos relacionamos conosco mesmos, entre nós, com o ambiente que nos rodeia e também com Deus. O ambiente digital modifica os nossos processos de aprendizagem, a percepção do tempo, do espaço, do corpo, das relações interpessoais e todo a nosso modo de pensar. O dualismo entre real e virtual não descreve adequadamente as realidades e a experiência de todos nós, sobretudo dos mais jovens, os chamados “nativos digitais”. (Uma Igreja Sinodal em Missão. Relatório do sínodo, parte III, 17, a)

À luz do Magistério, compreendemos que, nesse atual contexto histórico, o Espírito Santo nos inspira a sermos missionários no ambiente digital.

3. Ser missionário católico no ambiente digital

Precisamos discernir os fenômenos recentes do cristianismo, à luz da tradição da Igreja. É o caso dos denominados “influenciadores digitais católicos”. Jesus nos constituiu para sermos missionários: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 16-20). É do Cristo que vem o mandato para a missão. É própria da Igreja a sua natureza missionária! É do Espírito Santo que vem a força para o missionário agir! O missionário vive da fé. Jesus nos dá autoridade para a missão. Exige que nos sustentemos só pelo Espirito Santo e nos convida a não levar nada: “Não leveis para a viagem, nem bastão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; tampouco tenhais duas túnicas” (Lucas 9, 3). A ação do missionário produz frutos. Isso implica fazer com que seja anunciado o Cristo (Kerigma em Atos 2, 14-26) e que se traduza no seguimento de Jesus: “vem e segue-me” (Lucas 18,22). O missionário fala em nome de Jesus, o missionário coloca-se à serviço do Espírito Santo, o missionário promove a comunhão na comunidade, o missionário comunga do corpo místico da Igreja. Tudo o que o missionário anuncia não é dele, é do Espírito Santo, portanto, ele humildemente aponta o caminho.

A Igreja, quando permeada pelo “ambiente digital”, vê-se diante do recente fenômeno dos influenciadores digitais católicos. Primeiramente devemos saber que o termo influenciador nasce com o advento da internet e a utilização desta pela estrutura do capital e do mercado. Esse fenômeno promove determinadas pessoas que, ao adotarem certos produtos e suas marcas, tornar-se-ão representantes destas, “influenciando” outras pessoas. Os jovens iniciados na cultura digital são os mais influenciáveis a consumirem seus produtos e ideias e, por isso, foram os primeiros a validar e potencializar essa prática. Este modelo de influenciador é insuflado pela velocidade da propagação tecnológica das redes e pela dinâmica fluída da internet. Todavia, seus discursos e conteúdos são profissionalmente plastificados para servir à lógica algorítmica das redes. Hoje, o ambiente digital está povoado de influenciadores que vendem moda, perfumes, estilos de vida, consultoria sentimental, consultoria espiritual etc. Seus objetivos e pretensões se misturam desmesuradamente aos interesses mercadológicos, numa confusão nem sempre proposital, mas sempre refém das inúmeras consequências do multiverso virtual e do capital.

Numa mescla de interesses nem sempre condizentes com a verdade do Evangelho e alheios a qualquer verificação normativa, magisterial ou teológica, os conteúdos dos influenciadores digitais católicos parecem trilhar caminhos solitários que, não raramente, desembocam em individualismo e promoção pessoal. O Espírito Santo nos conclama à sabedoria de uma purificação. Não se trata de silenciá-los, mas examinar as obras e os frutos promovidos por essa prática. Constatamos o impacto de alguns influenciadores dividindo a comunidade cristã, confrontando as autoridades da Igreja, abertamente atacando o Santo Padre Papa Francisco, os bispos constituídos, conteúdos da doutrina, a liturgia, o Concílio Vaticano II. Isso faz emergir em nossas comunidades, um magistério, uma liturgia, uma catequese que apontam para uma vida cristã paralela quando não, concorrente ao corpo da Igreja (I Cor 12, 12-30).  Podemos nos perguntar: Com qual autoridade isso é feito? Quais os frutos desta ação? Que Igreja persistirá na era vindoura, pós-influenciadores? Quais modelos de igreja estão aí promovidos? O mandato de Jesus não é para influenciar é para evangelizar. O mandado é para ser missionário no mundo digital. O critério posto é o Evangelho ou a lógica do mercado que opera por trás com a produção e atendimento dos algoritmos que potencializam visualizações, seguidores virtuais e vendas de cursos? Milhares de compartilhamentos e visualizações são os critérios para a penetração do evangelho na cultura digital? A monetização que sustenta o trabalho dos influenciadores possui destino evangélico? Essa prática favorece o entendimento e a vivência da sinodalidade, à luz do Espírito, ou a confusão de uma Babel em plena construção entre nós?

A Igreja que, pelo Espírito Santo, anuncia o Evangelho no ambiente digital, também é chamada a estabelecer o critério da evangelização a luz do Cristo.  Não nos esqueçamos que Jesus tocou os corpos, olhou face a face, seu corpo foi erguido na cruz e perfurado. A salvação e a remissão acontecem na história. Um cristianismo excessivamente midiatizado, virtualizado, tecido na lógica da emoção e dos algoritmos, podem, de fato, nos inserir no século XXI, marcado por uma profunda uma crise de fé.

Pentecostes se aproxima. O Espírito Santo de Deus há de nos iluminar diante desse desafio, como sempre fez na história da humanidade. Não nos recusemos a empreender esforços na reflexão e compreensão desses fatos. Há um longo caminho a percorrer. Sejamos missionários nessa grande seara das redes sociais, sigamos os passos daquele que nos conduz pelas trilhas da verdade, mesmo que em tempos sinuosos. Anunciar é muito mais que influenciar! Sejamos discípulos que escutam o Mestre! Ouçamos o clamor e os rumos que o Espírito quer dar à Igreja. E, sobretudos, ofereçamos o nosso sim ao chamado que a missão exige.

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BÍBLIA DE JERUSALÉM: nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edições CNBB, 2024.

Cesareia, Basilio. Tratado sobre o Espírito Santo. São Paulo: Paulus, 1999.

JOÃO PAULO II, Papa. Carta Encíclica Redemptoris Missio. Disponível em www.vatican.va

Uma Igreja Sinodal em Missão. XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos:

Relatório de Síntese. www.synod.va

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

NAZARENO: Se não vos tornardes como as crianças... (Jesus e os pequeninos, os dez leprosos) - (41)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 41 - Se não vos tornardes como as crianças... (Jesus e os pequeninos, os dez leprosos)

Felipe e Bartolomeu chegam com Jesus a Cafarnaum. Para dar as boas-vindas, há uma multidão de crianças barulhentas. Outras são levadas ao Mestre porque seus pais queriam que ele lhes impusesse as mãos e fizesse uma oração. Jesus se senta para descansar um pouco e, em pouco tempo, é cercado por elas. Um dos pequeninos se chama Benjamim. A criança pula nos ombros de Jesus e o abraça. Começam a conversar. Mas os discípulos presentes as repreendiam. Jesus, todavia, disse: “Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, pois delas é o Reino dos Céus”.

Enquanto se afastavam, o Nazareno explica a seus amigos o significado daquelas palavras. As crianças têm um coração simples e puro; as crianças dependem em tudo de seus pais, precisam do olhar deles para se sentirem seguras, precisam deles para serem livres. Assim também nós dependemos de Deus.

Jesus sabe que aqueles dias na Galileia são os últimos. Certa manhã, nas proximidades de Efraim, quando Jesus e seus discípulos estavam prestes a entrar na cidade, dez leprosos vieram ao encontro deles. Pararam à distância e clamaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”. Sabiam quem era, tinham ouvido falar dele. Vendo-os ele lhes disse: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. Partiram imediatamente. E enquanto iam, ficaram purificadosUm dentre eles, vendo-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por terra, agradecendo-lhe. Pois bem, era um samaritano. Tomando a palavra, Jesus lhe disse: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve, acaso, quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?”. Em seguida disse-lhe: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”.

Mais uma vez, o testemunho de fé não veio de perto, mas de longe, não daqueles que compartilhavam a mesma fé, mas de "estrangeiros".

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/05/09/16/137939670_F137939670.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF