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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Os ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio (Parte 3/5)

Presbíteros
Os Ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio: uma resposta aos desafios de um mundo secularizado.

2. «Empresto ao Senhor minha voz».

Familiaridade com a Palavra e disponibilidade para as almas.

A Eucaristia “reúne em si todos os mistérios do cristianismo. Celebramos, por tanto, a ação mais sagrada e transcendente que os homens, pela graça de Deus, podemos realizar nessa vida” (São Josemaría, Conversaciones, n. 113). O sacerdote empresta a sua voz ao Senhor, de modo inefável ao pronunciar as palavras da consagração, que permitem que a força de Deus Pai, Filho e Espírito Santo realize o prodígio da transubstanciação. A eficácia dessas palavras não está no sacerdote, mas em Deus. O sacerdote, por si mesmo, não poderia dizer eficazmente “isto é o meu corpo”, “este é o cálice do meu sangue”: pois não se produziria a conversão do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo. Isto, que sucede de modo extraordinário durante a celebração eucarística, no momento mais sublime da vida do sacerdote, pode-se estender analogamente a toda sua vida e seu ministério.

A eficácia da palavra do sacerdote – na pregação, na celebração dos sacramentos, na direção espiritual e no trato com as pessoas – provém do mesmo princípio: emprestar sua voz ao Senhor.

a)      Familiaridade com a voz de Deus;

Emprestar ao Senhor a própria voz requer confiança nEle, requer escutar a voz de Deus e incorporá-la na própria vida. Para adquirir essa familiaridade, São Josemaría indica dois caminhos imprescindíveis: a vida de oração e o estudo. O Sacerdote deve dedicar tempo para estudar e meditar a Sagrada Escritura e a aprofundar sua formação teológica, para que ressoe fielmente a voz de Cristo, que fala em sua Igreja.

“A pregação da palavra de Deus exige vida interior: devemos falar aos demais das coisas santas, ex abundantia enim cordis, os loquitur (Mt 12, 34); da abundância do coração, fala a boca. E junto com a vida interior, estudo: (…) Estudo, doutrina que incorporamos na própria vida, e que somente assim saberemos dar aos demais do modo mais conveniente, acomodando-nos as suas necessidades e circunstâncias com dom de línguas” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 25).

O povo cristão está sedento da voz de Deus. E o sacerdote não pode decepcionar esses santos desejos. No mundo de hoje, no qual abunda a confusão, é necessário que o sacerdote seja o porta-voz fiel da Palavra divina: ter vida interior e estudar a doutrina, deve assegurar que a pregação não seja eco de outras vozes que não são de Cristo. Seguir confiadamente o Magistério é garantia que Cristo seja escutado na Igreja e no mundo. São Josemaría animava também aos sacerdotes a pedir luzes ao Espírito Santo, para serem somente instrumentos seus, pois é o Paráclito quem atua no interior da alma (cf. Santo Tomás, STh II-II, q 177, a. 1c.). Emprestar a voz a Deus significa também que o sacerdote não prega sobre si mesmo, mas sim de Cristo Jesus, Nosso Senhor (cf. 2Co 4, 5), fazendo eco do Evangelho. Deste modo, a eficácia da pregação virá do Senhor mesmo.

“Das palavras de Jesus Cristo bem expostas, claras, doces e fortes, cheias de luz, pode depender a solução do problema espiritual de uma alma que os escuta, desejosa de aprender e a determinar-se. A palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração (Hb 4, 12)” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 26).

De alguma maneira, o sacerdote deve aspirar a mesma intimidade com a Palavra de Deus que teve Santa Maria. Bento XVI, a propósito do Magnificat, “completamente costurado pelos fios tomados da Sagrada Escritura”, descreve era familiaridade da Virgem nos seguintes termos: “Fala e pensa com a Palavra de Deus, a Palavra de Deus se converte em sua palavra, e sua palavra nasce da Palavra de Deus. Assim se manifesta, além disso, que seus pensamentos estão em sintonia com o pensamento de Deus, que o seu querer é um querer com Deus” (Bento XVI, Carta Encíclica Deus caritas est, n. 41).

O Santo Padre vai mais além, ao sinalar que a Virgem, “ao estar intimamente penetrada pela Palavra de Deus, pode converter-se em mãe da Palavra encarnada” (Ibid.). algo parecido acontece com o sacerdote; São Josemaría dizia, referindo-se à Eucaristia que, assim como Nossa Mãe trouxa uma vez ao mundo a Jesus, “os sacerdotes o trazem a nossa terra, a nosso corpo e a nossa alma, todos os dias” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).

Emprestar ao Senhor a voz requer humildade: calar opiniões pessoais em questões de fé, moral e disciplina eclesiástica quando são dissonantes; não apegar-se às próprias ideias, buscar a união com desejos de servir. É necessário que o sacerdote fale aos homens de Cristo, comunique a doutrina de Cristo como fruto da própria vida interior e do estudo: com santidade pessoal e conhecimento profundo da vida dos homens e das mulheres do seu tempo.

b)      Disponibilidade para emprestar a voz ao Senhor;

Emprestar a voz requer também disponibilidade. São Josemaría não se cansou de pedir aos sacerdotes que dedicassem tempo na administração do perdão divino. Para que a voz misericordiosa de Deus chegue às almas através do sacramento da Reconciliação, é necessária uma condição, quase óbvia, porém fundamental: estar disponíveis para atender os que se aproximam. Seria um erro pensar que, no nosso mundo, suporia uma perda de tempo. Seria equivalente a fechar a boca de Deus, que deseja perdoar por meio de seus ministros. São Josemaría tinha bem experimentado que, quando o sacerdote, com constância, um dia após o outro, dedica um tempo a esta tarefa, estando fisicamente no confessionário, esse lugar de misericórdia termina por encher-se de penitentes, embora ao princípio não venha ninguém. Assim descrevia a um grupo de sacerdotes diocesanos em Portugal, em 1972, o resultado de perseverar nessa tarefa.

“Não os deixarão viver, nem podereis rezar nada no confessionário, porque vossas mãos ungidas estarão, como as de Cristo – confundidas com elas, porque sois Cristo – dizendo: eu te absolvo. Amai o confessionário. Amai-o, amai-o”! (São Josemaría, Anotações de uma reunião com sacerdotes diocesanos em Enxomil (Oporto), 10-V-1974).

São Josemaría tinha uma fé vivíssima na verdade real de que o sacerdote é Cristo, quando diz: “eu te absolvo”. Com grande sentido sobrenatural e com sentido comum, dava conselhos muito práticos, para que a dignidade do sacramento não se obscurecesse, para que fosse um canal limpo da voz de Jesus Cristo. Por isso amava o confessionário. Entendia que, utilizando esse tradicional instrumento, fomentam-se as disposições adequadas – tanto do penitente como do confessor – para facilitar a sinceridade e o tom sobrenatural próprio de uma realidade sagrada.

“Deus nosso Senhor conhece bem a minha e a vossa debilidade: somos todos nós homens correntes, porém Cristo quis converter-nos num canal que faça chegar as águas de sua misericórdia e de seu Amor a muitas almas” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 1).

Falava da administração do sacramento da Penitência como um exercício deleitável e uma paixão dominante do sacerdote. Sem dúvida, as horas diárias dedicadas a confessar, “com caridade, com muita caridade, para escutar, para advertir, para perdoar” (Ibid., n. 30) fazem parte de esse ocultar-se e desaparecer, tão eficaz para fazer presente a Cristo nas pessoas e nos ambientes onde vivem.

Ao confessar, o sacerdote – no seu papel de juiz, mestre, médico, pai e pastor – experimenta a necessidade de dar doutrina clara, ante as dificuldades que se apresentam na vida dos penitentes. Consciente disso, São Josemaría fomentou entre os presbíteros um vivo afã de conservar e melhorar a ciência eclesiástica, “especialmente a que necessitais para administrar o sacramento da Penitência” (Ibid., n. 15). “Procurai – escrevia em uma oração a sacerdotes – dedicar um tempo do dia – embora sejam somente alguns minutos – ao estudo da ciência eclesiástica” (Ibid.). Com este fom, impulsionou também encontros, convívios, reuniões para os presbíteros, etc.

O renascer da prática da confissão sacramental é um dos grandes desafios do mundo atual, que necessita redescobrir o sentido do pecado e experimentar a alegria da misericórdia de Deus. O sacerdote, estando disponível para celebrar o sacramento da Reconciliação, e procurando – mediante a oração e o estudo – que suas ideias estejam em sintonia com a doutrina da Igreja, é absolutamente insubstituível.

Os fiéis leigos devem sentir também a responsabilidade de levar seus colegas, parentes e amigos ao sacerdote, para que possam “escutar a voz de Deus” e receber seu perdão. A colaboração entre leigos e sacerdotes, neste campo, é especialmente importante na sociedade de hoje.

São Josemaría entendia que o sacerdote, também na tarefa de direção espiritual, é um instrumento para fazer chegar às almas a voz de Deus; nesta tarefa não deve sentir-se nem “proprietário”, nem modelo: “O modelo é Jesus Cristo; o modelador, o Espírito Santo, por meio da graça. O sacerdote é o instrumento, e nada mais” (Ibid., n. 37). A direção, outra das paixões dominantes de São Josemaría, não consiste em mandar, mas em abrir horizontes, sinalizar obstáculos, sugerindo os meios para vencê-los, e impulsionar ao apostolado. Animar,, em definitiva, a que cada um descubra e queira cumprir o desígnio de santidade que Deus tem para ele.

Isto é possível se o mesmo sacerdote está convencido de que propor a busca da santidade é levar as pessoas à felicidade. Esta persuasão surge da luta do presbítero pela própria santificação, é fruto do amor à vontade de Deus e é necessária para combater o pensamento laicista, que tende a excluir a Deus do horizonte da felicidade humana.

+ Javier Echevarría / Prelado do Opus Dei

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Tertuliano de Cartago: Tratado sobre a Oração (Parte 3/11)

Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor
Tratado sobre a Oração

IV

“Seja feita a tua vontade no céu e na terra”

1. Prosseguindo a oração, acrescentamos: “Seja feita a tua vontade no céu e na terra”. Não pensamos que alguém possa impedir que se faça a vontade de Deus, e por isso pedimos-lhe a realização da sua vontade. O que pedimos é que a vontade de Deus se realize em todos os homens. Nesta expressão figurada, o céu é nosso espírito, e a terra é nosso corpo.

2. Se, entretanto, devemos entender de modo mais simples, é idêntico o sentido dessa súplica. Pedimos que se faça em nós a vontade de Deus na terra, a fim de que possa realizar-se em nós igualmente no céu. Que é que Deus quer, senão que andemos conforme os seus ensinamentos? Pedimos, pois, que ele nos leve a aceitar o que ele quer e nos dê o poder de assim agir, para que sejamos salvos tanto no céu como na terra. Pois o que Deus mais quer é a salvação daqueles que adotou como filhos.

3. Também é segundo a vontade de Deus o que fez o Senhor, pregando, agindo e sofrendo. Na verdade, ele mesmo o diz: “Eu não faço a minha vontade, mas a vontade do Pai” (cf. Jo 6,38). É, pois, fora de dúvida que ele fazia a vontade do Pai. E agora ele nos convida a fazer o mesmo que ele, de modo que também nós preguemos a palavra de Deus, trabalhemos e suportemos o sofrimento até à morte. Mas, para podermos agir desse modo, precisamos de aceitar a vontade de Deus.

4. Dizendo, pois, “Seja feita a tua vontade”, desejamos o melhor para nós mesmos, pois não há mal algum na vontade de Deus, mesmo se ele pune alguém por seus pecados que o contrapõem, de certo modo, ao que é santo.

5. Além disso, com essas palavras, criamos coragem para suportar o sofrimento. O próprio Senhor, na iminência da paixão, para mostrar em sua carne a fraqueza da nossa, assim disse: “Pai, se queres, afasta este cálice” (Lc 22,42). Mas, depois, lembrado da sua oração, acrescentou: “Não se faça a minha, mas a tua vontade”. Ele é a vontade e o poder do Pai. Mas, para mostrar como devemos sofrer por causa dos nossos pecados, entregou-se à vontade do Pai.

V

“Venha o teu Reino”

1. Este pedido, como o anterior, refere-se a nós e significa: “Venha em nós o teu Reino”. Mas, quando é que Deus não reina, ele que “tem nas mãos o coração de todos os reis”? (Pr 21,1). Na verdade, quando nós desejamos algo de bom a Deus o pedimos, e a ele atribuímos alcançar tudo quanto esperamos. Deste modo, se a realização do reino do Senhor se funda na vontade de Deus e em nossa atitude, como podem alguns querer para o mundo certas delongas, se o Reino de Deus, que rogamos, tende à consumação do mundo? Nosso maior desejo é reinar quanto antes e não continuar escravos por mais tempo!

2. Mesmo, pois, que não constasse da oração esse pedido, “Venha o teu Reino”, nós o teríamos feito espontaneamente, na ânsia de abraçar as alegrias esperadas (cf. Hb 4,11).

3. As almas dos mártires, sob o altar, clamam ao Senhor, com impaciência: “Até quando, Senhor, tardarás a vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra”? (Ap 6,10). Sim, é fora de dúvida que Deus decidiu vingá-los no fim do mundo.

4. Venha, pois, Senhor, quanto antes o teu Reino, a fim de se cumprir o desejo dos cristãos, para confusão dos pagãos e alegria dos anjos. É para se cumprir tua vontade que estamos abatidos, que lutamos e, sobretudo, que oramos.

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

O “segredo de Maria” é revelado pelo papa Francisco na solenidade da Assunção

Papa Francisco durante a oração do Angelus. Foto: Vatican Medi

Vaticano, 15 ago. 21 / 12:21 pm (ACI).- “A humildade é o segredo de Maria”, disse o papa Francisco, enfatizando que foi “a humildade que atraiu o olhar de Deus para ela”.

Francisco refletiu, durante a recitação do Angelus deste domingo, 15 de agosto, dia da solenidade da Assunção da bem-aventurada Virgem Maria ao céu, sobre o canto do Magnificat.

Segundo o papa, este cântico mostra a humildade de Maria, que se apresenta como “serva” diante de Deus. O Magnificat é “a fotografia da Mãe de Deus”.

O papa disse que “o olho humano busca a grandeza e se deslumbra pelo que é ostentoso. Deus, ao contrário, não olha para as aparências, mas para o coração e adora a humildade”.

Ele afirmou que “hoje, olhando para Maria assunta, podemos dizer que a humildade é o caminho que conduz ao céu”.

Recordou que “Jesus ensina: ´quem que se humilha será exaltado`. Deus não nos exalta por nossos dons, riquezas ou habilidades, mas pela humildade. Deus levanta a quem se abaixa, a quem serve. De fato, Maria não se atribui mais que o ´título` de serva: é ´a escrava do Senhor`. Não diz nada mais de si mesma, não procura nada mais para si mesma”.

Deste modo, Francisco convidou os fiéis a se perguntarem: “Como está a minha humildade? Procuro ser reconhecido pelos outros, reafirmar-me e ser louvado, ou penso em servir? Sei escutar, como Maria, ou só quero falar e receber atenção? Sei guardar silêncio, como Maria, ou estou sempre tagarelando? Sei como dar um passo atrás, apaziguar as brigas e as discussões, ou só trato de sobressair?”.

“Maria, na sua pequenez, conquista primeiro os céus”, ensinou o bispo de Roma. “O segredo do seu sucesso reside precisamente em reconhecer-se pequena, necessitada. Com Deus, só quem se reconhece como nada é capaz de receber tudo. Só quem se esvazia é enchido por Ele. E Maria é a graça, precisamente pela sua humildade”.

Nesse sentido, enfatizou que “também para nós, a humildade é o ponto de partida, o início da nossa fé. É essencial ser pobre de espírito, ou seja, necessitado de Deus. Aquele que está cheio de si mesmo não dá espaço a Deus, mas aquele que permanece humilde permite ao Senhor realizar grandes coisas”.

O papa continuou: “É bonito pensar que a criatura mais humilde e elevada da história, a primeira a conquistar os céus com todo seu ser, corpo e alma, passou sua vida principalmente dentro do lar, no ordinário”.

“Os dias da cheia de graça não tiveram muito de impressionantes”, chamou a atenção. “Frequentemente eles passaram sempre da mesma forma, em silêncio: por fora, nada extraordinário. Mas o olhar de Deus permaneceu sempre sobre ela, admirando a sua humildade, a sua disponibilidade, a beleza do seu coração, nunca tocado pelo pecado”.

“Esta é uma grande mensagem de esperança para nós; para ti, que vives as mesmas jornadas, cansativas e muitas vezes difíceis. Maria recorda-te hoje que Deus também te chama a este destino de glória. Não são palavras bonitas. Não é um final feliz artificial, uma ilusão piedosa ou um falso consolo. Não, é a pura realidade, viva e verdadeira como a Virgem Assunta ao céu. Celebremo-la hoje com amor de filhos, animados pela esperança de estar um dia com ela no céu”, concluiu Francisco.

ACI Digital

Apelo do bispo de Yei: faltam sacerdotes, rezemos por novas vocações

Os cristãos foram exortados a “rezar pelos seminaristas
que estão percorrendo seu caminho de formação,
para que possam chegar à ordenação sacerdotal”

"A Igreja tem necessidade de sacerdotes para servir o ministério de Deus”. “Elevo a minha voz para convidar toda a comunidade cristã a rezar por novas vocações. Temos necessidade de sacerdotes”, disse Dom Erkolano Lodu Tombe.

Vatican News

Com um território de 46 mil quilômetros quadrados, a Diocese de Yei, no Sudão do Sul, está entre as maiores do país. Engloba, de fato, dois Condados: Mundri, no Estado Equatorial Ocidental, e Yei, na Equatoria Central.

Não obstante a vastidão da área administrada, a diocese conta com apenas 12 sacerdotes e o bispo, Dom Erkolano Lodu Tombe. Um número muito baixo para responder às necessidades de todos os católicos e ajudá-los a crescer na fé. Por isso, na homilia do domingo 8 de agosto, presidida na Catedral local dedicada a Cristo Rei, o prelado lançou um apelo à oração por novas vocações.

Mas não só: Dom Tombe convidou também, quer o Sudão como o Sudão do Sul, a "partilhar os sacerdotes, porque a Igreja católica tem um só objetivo: cumprir a missão que Jesus confiou aos seus discípulos".

“Fazemos um apelo às dioceses do Sudão do Sul e do Sudão - disse o bispo de Yei – para que enviem seus sacerdotes entre nós. Somos todos uma Igreja missionária; por isso, devemos ser generosos, não egoístas; devemos dar nossos filhos e nossos filhas para que venham ao mundo para servir.” “Somos muito poucos - observou o prelado - pedimos às outras dioceses que olhem com generosidade para a grande fé de Yei e nos apoiem”. O apelo também foi estendido aos "missionários que trabalham no Sudão do Sul, bem como àqueles que servem em todo o mundo".

Ao mesmo tempo, todos os cristãos foram exortados a “rezar pelos seminaristas que estão percorrendo seu caminho de formação, para que possam chegar à ordenação sacerdotal”, porque “a Igreja tem necessidade de sacerdotes para servir o ministério de Deus”. “Acrescento a minha voz - observou Dom Tombe - para convidar toda a comunidade cristã a rezar por novas vocações. Temos necessidade de sacerdotes”.

Fonte: Vatican News Service - IP

São Roque

São Roque | Rumo da Fé
16 de agosto

SÃO ROQUE, PEREGRINO

São Roque nasceu no ano de 1295, provavelmente em Montpellier, na França. Quando ele nasceu, todos ficaram bastante surpresos por causa de uma marca em seu peito: uma cruz vermelha. Era de família nobre, distinta e abastada. Seu nascimento foi uma grande benção de Deus. Foi fruto e resultado de muita oração. Sua mãe, chamada Libéria era muito devota da Nossa Senhora. Por isso, pedia a insistentemente a Nossa Senhora a graça de poder ter um filho, mesmo já estando em idade avançada. E ela foi atendida. Por isso, imensamente grata a Deus e a Nossa Senhora, dedicou-se à educação de seu amado Roque. Ela soube incutir nele a linda devoção a Nossa Senhora.

Orfandade

Roque ficou órfão dos pais quando tinha entre quinze e vinte anos e herdou uma grande fortuna. Porém, como cristão convicto educado por sua mãe, Roque desejava viver na pobreza, em imitação a Cristo. Por isso, ele quis repartir todos os seus bens entre os pobres. E ia fazer isso em segredo, como disse Jesus. A pouca idade, porém, não permitia que ele se dispusesse de seus bens. Então, ele confiou tudo a um tio. Depois, partiu sem nada para a cidade de Roma, Foi mendigando ao longo do caminho.

Sofrimentos e vitórias de São Roque

São Roque viveu por três anos na cidade de Roma. Passava muito tempo em oração na tumba dos apóstolos. Lá ele contraiu a praga e para não ocupar mais um leito no hospital, arrumou um lugar na floresta para esperar a morte. Pela graça de Deus, ele viu nascer ali, bem perto da cabana onde vivia, uma pequena fonte de água límpida e cristalina. Ao beber e se lavar nas águas ele sentia grande alívio em suas feridas.

Outro fato interessante foi que um cachorro o encontrou e começou a levar pão para São Roque. O dono do cão, notando a regularidade com que o animal fazia isso, seguiu-o e encontrou o santo. Roque ficou curado da doença e conseguiu a conversão de seu benfeitor. Então, ele ficou um tempo em Piacenza e curava os doentes.

Dom de cura de São Roque

Chegando a Toscana, em Aguapendente, na Itália, viu a grande mortalidade causada pela peste. Então, pediu permissão ao administrador do hospital para assistir aos doentes. Logo que Roque se pôs entre os enfermos, cessou a epidemia em toda a cidade. O mesmo aconteceu em Cesena e em outras localidades. Ele curou muitos fazendo apenas o sinal da cruz. Dizia-se que a peste fugia de Roque.

Provação

Ao retornar a Montepellier, sua terra natal, não o reconheceram e ele acabou preso. Pensavam que era um espião disfarçado de peregrino, pois havia uma guerra civil. Ele ficou na prisão por cinco anos. No dia 16 de agosto de 1327, foi encontrado morto em sua cela e, então, realizou seu primeiro milagre depois de morto. O carcereiro, que era manco desde o nascimento, ficou curado ao tocar o corpo de São Roque com o pé, para ver se ele estava vivo, dormindo, ou se estava morto. Ao tirarem sua roupa para sepultá-lo, ele foi reconhecido por causa da cruz marcada em seu peito.

Devoção a São Roque

No Concílio de Constance (1414 – 1418), a praga ainda ameaçava a população. Os dirigentes pediram a proteção e a intercessão de São Roque e a praga acabou. Por isso sua canonização e seu culto foram aprovados rapidamente. As relíquias de São Roque foram levadas para Veneza. Ele é reverenciado e invocado na França e na Itália como protetor contra doenças e pragas.

Representação

São Roque é representado com um cachorro ou como um peregrino usando capa, chapéu, botas e, às vezes, segurando um cajado. Como protetor dos cães, ele é mostrado com o cachorro lambendo suas feridas.

Padroeiro São Roque

São Roque também é invocado como padroeiro dos inválidos, dos cirurgiões e do gado. No Brasil, na cidade de São Roque, interior de São Paulo, encontra-se a principal Igreja consagrada ao Santo. É onde se encontra, também, uma relíquia do santo, uma parte de seu braço. Sua festa é dia 16 de agosto.

Oração a São Roque

São Roque, que vos dedicastes com todo o amor aos doentes contagiados pela peste, embora também a tenhais contraído, daí-nos paciência no sofrimento e na dor. São Roque, protegei não só a mim, mas também aos meus irmãos e irmãs, livrando-nos das doenças infecciosas. Por isso, hoje, rezo especialmente por uma pessoa muito querida (dizer o nome da pessoa), para que fique livre do seu mal. Enquanto eu estiver em condições de me dedicar aos meus irmãos, proponho-me ajuda-los em suas reais necessidades, aliviando um pouco o seu sofrimento.  São Roque, abençoai os médicos, fortalecei os enfermeiros e atendentes dos hospitais e defendei a todos da doenças e do perigos.

Amém.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

Santo Estevão da Hungria

S. Estevão da Hungria | ArquiSP
16 de agosto

SANTO ESTÊVÃO, REI DA HUNGRIA

No final do primeiro milênio, a Europa foi invadida pelos bárbaros nômades vindos da Ásia, que acabaram dominados pelos reis da Alemanha e da França. As tribos magiares, como eram chamadas, instalaram-se na região da Panônia, atual Hungria, e lá conheceram o cristianismo. A partir desse contato, aos poucos foram se convertendo e abraçaram a religião católica.

O duque Gesa, casando com uma princesa cristã, permitiu que os filhos fossem educados no seguimento de Cristo. O seu primogênito, Vaik, que nascera em 969, ao completar dez de idade, foi batizado e recebeu o nome Estêvão. Na cerimônia, o futuro herdeiro do trono teve a felicidade de ver seu pai, convertido, recebendo o mesmo sacramento.

Mas o velho rei morreu sem conseguir o que mais desejava, unir seu povo numa única nação cristã. Esse mérito ficou para seu filho Estêvão I, que passou para a história da humanidade como um excelente estadista, pois unificou as trinta e nove tribos, até então hostis entre si, fundando o povo húngaro. Ele também consolidou o cristianismo como única religião deste povo e ingressou para o elenco dos "reis apostólicos".

Casou-se com a piedosa e culta princesa Gisela, irmã do imperador da Baviera, Henrique II, agora todos venerados pela Igreja. Tendo como orientador espiritual e conselheiro o bispo de Praga, Adalberto, confiou aos monges beneditinos de Cluny a missão de ensinar ao povo a doutrina cristã.

Depois, conseguiu do papa Silvestre II a fundação de uma hierarquia autônoma para a Igreja húngara. Para tanto, enviou a Roma o monge Astric, que o papa consagrou bispo com a função de consagrar outros bispos húngaros.

Com o auxílio da rainha Gisela, Estêvão I fundou muitos mosteiros e espalhou inúmeras igrejas pelas dioceses que foram surgindo. Caridoso e generoso, fundou hospitais, asilos e creches para a população pobre, atendendo, especialmente, os abandonados e marginalizados. Humilde, fazia questão de tratar pessoalmente dos doentes, tendo adquirido o dom da cura. Corajoso e diplomático, soube consolidar as relações com os países vizinhos, mesmo mantendo vínculos com o imperador de Bizâncio, adquirindo também o dom da sabedoria. Assim, transformou a nação próspera e o povo húngaro num dos mais fervorosos seguidores da Igreja Católica.

No dia da Assunção de Maria, em 15 de agosto de 1038, o rei Estêvão I morreu. Logo passou a ser venerado pelo povo húngaro, que fez do seu túmulo local de intensa peregrinação de fiéis, que iam agradecer ou pedir sua intercessão para graças e milagres. A fama de sua santidade ganhou força no mundo cristão, sendo incluído no livro dos santos, em 1083, pelo papa Gregório VII. A festa de santo Estêvão da Hungria, após a reforma do calendário da Igreja de Roma, passou as ser celebrada no dia 16 de agosto, um dia após a sua morte.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

domingo, 15 de agosto de 2021

Qual a vontade de Deus para a família?

Editora Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

“É no seio da família que os pais são para os filhos, pela palavra e pelo exemplo, os primeiros mestres da fé” LG, 11

Deus nos criou para viver em família. Ele mesmo é uma Família, Três Pessoas distintas em uma única natureza, e quis de certa forma que isso se reproduzisse na Terra, em cada lar. Quando o Catecismo fala da família, começa dizendo:

“A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai” (CIC, §2205).

Deus quis a família como a base da humanidade; por isso, se a família se destruir, se desviando do caminho de Deus, como tem feito, a sociedade sofrerá muito; como já tem sofrido. Por que tantas crianças e jovens estão sofrendo, muitos criados longe dos pais, carentes do seu amor? Por que muitos estão no mundo da violência, das drogas, nas cadeias? Certamente por falta de uma boa família.

Então, para o cristão, filho ou pai, fazer a vontade de Deus é cuidar da família como algo sagrado, instituído por Deus para nela sermos felizes. O Papa João Paulo II disse que a família é o Santuário da vida; isto é, o lugar sagrado, onde a vida acontece, lugar onde é gerada por amor, criada por amor, defendida com amor; protegida dos males do mundo, etc. Numa verdadeira família, segundo o coração de Deus, não há lugar para as loucuras do aborto, eutanásia, brigas, divórcios etc.

São Paulo diz algo muito sério: “Quem se descuida dos seus, e principalmente dos de sua própria família, é um renegado, pior que um infiel” (1Tm 5,8).

É vontade de Deus que cada um de nós defenda os valores sagrados da família. O Papa João Paulo II disse na Carta às Famílias, que os inimigos de Deus não podendo destruí-Lo, então, tentam destruir sua obra mais importante, a família.

Os que atentam contra os valores sagrados da família: indissolubilidade do matrimônio, fidelidade conjugal, fertilidade, etc., atentam contra Deus. Os que pregam a defesa dos casamentos de pessoas do mesmo sexo, dos úteros de aluguel, das experiências com embriões, da concepção “in-vitro” (bebê de proveta), da limitação da natalidade por quaisquer meios, estão contra a vontade de Deus.

Vivendo na família de Nazaré, Jesus nos ensinou a importância da submissão e obediência dos filhos aos pais. Ele, mesmo sendo Deus, se fez obediente àqueles que Ele mesmo criou e escolheu para seus pais. Cumpriu em tudo o quarto mandamento que manda “honrar” os pais. Mais do que ninguém obedeceu à Palavra de Deus que diz:

Foi no seio da família que o Menino Jesus foi preparado para a grande missão de Salvador dos homens. A família é a grande escola da vida, é o educandário do amor, da fé, da justiça, da paz e da santidade.

O filho que foi amado e querido por seus pais, até o fim da sua adolescência, jamais será desequilibrado, carente, ou perigoso para a sociedade.

O Catecismo diz que a família “é a sociedade natural onde o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade” (CIC, §2207).

“É no seio da família que os pais são para os filhos, pela palavra e pelo exemplo os primeiros mestres da fé”, ensina a Igreja (LG, n. 11).

Para os pais, a vida conjugal é uma oportunidade riquíssima de santificação, na medida em que, a todo instante, precisam lutar contra o próprio egoísmo, soberba, orgulho, desejo de dominação etc., para se tornar, com o outro, aquilo que é o sentido do matrimônio: “uma só carne”, uma só vida, sem divisões, mentiras, fingimentos, tapeações, birras, azedumes, mau humor, reclamações, lamúrias, etc.

A luta diária e constante para ser “exemplo para os filhos”, para manter a fidelidade ao outro, para “vencer-se a si mesmo”, a fim de se construir um lar maduro e santo, faz com que caminhemos para a nossa santificação.

Além do mais, o conhecimento profundo do “mistério do outro”, a luta para aceitá-lo e entendê-lo, para ajudá-lo a crescer, a paciência, o perdão dado, as renúncias de cada dia, a atenção com o outro para vencer a frieza e a monotonia, o cuidado do lar, da roupa, da comida, do estudo dos filhos, etc., Tudo isso é fazer a vontade de Deus e leva à santidade. Deus assim fez do casamento uma grande escola de santidade. A casa deve ser para o casal e os filhos o que o mosteiro é para o monge.

Prof. Felipe Aquino

Sabia que a primeira Missa da Capela Sistina foi na Solenidade da Assunção?

Capela Sistina / Crédito: Wikimedia Snowdog (CC BY-SA 3.0) -
Assunção da Virgem de Juan del Castillo,
Museu de Bellas Artes de Sevilha /
Crédito: Wikimedia Tiberioclaudio99

Vaticano, 15 ago. 21 / 09:00 am (ACI).- Em um dia como hoje, 15 de agosto de 1483, a Capela Sistina foi consagrada e dedicada à Virgem Maria durante a primeira Missa celebrada neste lugar pelo papa Sisto IV.

A Capela Sistina, pertencente ao Palácio Apostólico da Cidade do Vaticano e conhecida pela celebração de importantes conclaves e cerimônias, recebeu o nome do papa Sisto IV, que ordenou a sua construção entre 1473 e 1481.

O templo é uma reconstrução e ampliação da capela magna, um lugar utilizado pelo papa e pelo seu séquito para o culto diário, que estava grandes falhas na sua estrutura.

Após a sua construção, a Capela Sistina foi decorada pelos pintores renascentistas Sandro Botticelli, Pietro Perugino, Pinturicchio, Domenico Ghirlandaio, Cosimo Rosselli e Luca Signorelli.

Eles fizeram os primeiros afrescos sobre a vida de Moisés e de Cristo, e retratos dos papas que governaram até então.

As pinturas foram instaladas em 1482, mas só no dia 15 de agosto do ano seguinte que o papa Sisto IV celebrou a primeira Missa na Solenidade da Assunção da Virgem Maria.

A etapa seguinte da decoração ficou a cargo de Michelangelo entre 1508 e 1512, a pedido do papa Júlio II.

Originalmente, o artista deveria pintar os doze apóstolos na abóbada da Capela Sistina. Entretanto, Michelangelo propôs e realizou nove cenas do Gênesis, que mostram a Criação, a Relação de Deus com a Humanidade e a Queda do Homem.

Entre 1536 e 1541, o artista também pintou a parede do altar com O Juízo Final, onde tinham pintado as cenas da Natividade e de Moisés e alguns retratos dos papas.

Em 1515, veio a intervenção de Rafael, que a pedido do papa Leão X fez dez pinturas que representam a vida de São Pedro e São Paulo e cuja realização demorou 4 anos.

Continuaram fazendo modificações e restaurações na Capela Sistina, até se tornar um tesouro artístico incalculável, considerado Patrimônio da Humanidade.

Fonte: ACI Digital

Se você soubesse que iria morrer em meia hora, o que faria?

São Domingos Sávio | Public Domain
Por Francisco Vêneto

A célebre resposta de um menino santo que partiu desta vida aos 15 anos de idade.

Se você soubesse que iria morrer em meia hora, o que faria? Esta pergunta, que pode ser angustiante para tanta gente, pode ser também inspiradora para muitos outros.

E foi extamente esta a pergunta que certo padre fez a um grupo de crianças. O sacerdote em questão, que meio mundo conhece hoje como o santo Dom Bosco, estava olhando alguns meninos que brincavam quando decidiu chamar um deles e lhe perguntou: “Se você soubesse que iria morrer daqui a meia hora, o que você faria?”

O menino respondeu: “Iria para a capela rezar”.

O padre então chamou mais um, que, diante da mesma pergunta, declarou: “Eu iria me confessar”.

Por fim, o padre chamou um terceiro pequenino que ali brincava: era um menino quem meio mundo conhece hoje como São Domingos Sávio, que viria de fato a falecer muito cedo, aos 15 anos de idade, com a firme determinação de antes morrer que pecar.

Dom Bosco perguntou também a ele: “Se você soubesse que iria morrer daqui a meia hora, o que você faria?”

O menino olhou para o padre e lhe respondeu, espontâneo e alegre: “Eu continuaria brincando!”

Esta é a pureza de uma alma que está sempre pronta para o encontro com o Pai Eterno.

Fonte: Aleteia

Rembrandt comovido pelo rosto de Jesus

Rembrandt, A ceia de Emaús, 1648, Museu do Louvre, Paris
por Giuseppe Frangi
O grande artista holandês pintou uma série de “retratos” do Senhor, fazendo posar como modelo um judeu de Amsterdã. Para chegar o mais próximo possível da verdade. Pela primeira vez essas obras, geralmente pouco consideradas pela crítica, foram reunidas numa bela mostra, que, depois de passar por Paris, chegou aos Estados Unidos

Em julho de 1656, Rembrandt, à beira da bancarrota, decidiu leiloar todos os bens conservados na grande casa de Jodenbreestraat. Como parte do procedimento, em 24 e 25 daquele mês foi realizado o inventário pela Desolate Boedelskamer de Amsterdã. Um inventário extremamente longo, no qual a certa altura são listadas três tábuas com pinturas do rosto de Cristo. Uma em particular é definida nestes termos: “Cristus tronie nae’t leven”. Literalmente: “Cabeça de Cristo a partir do real”. O que indicava essa especificação “a partir do real”? O primeiro estudioso que publicou esse inventário, em 1834, pensou que se tratasse de um deslize do magistrado holandês, e não achou nada melhor para fazer senão fingir que não era nada e suprimir essa nota. Dois anos depois, um observador atento notou essa censura e, para resolver o enigma, propôs uma interpretação decididamente forçada: “em tamanho natural”. Mas, em holandês, esse “nae’t leven”, contração de “naar het leven”, não deixa espaço para ambiguidades: significa “tomado a partir do real”, ou seja, de modelo vivo. Por que o anônimo inventarista teria sentido a necessidade de especificar isso, quase como se se tratasse de um traço identificador dessa série de pequenas cabeças de Cristo? Para responder a essa pergunta, o Louvre e os museus da Philadelphia e de Detroit uniram forças para organizar uma das mais extraordinárias mostras dos últimos anos. A mostra, que em Paris é intitulada Rembrandt e a figura de Cristo – e que nas etapas americanas da Filadélfia (até 30 de outubro) e de Detroit (de novembro a fevereiro de 2012) terá um título muito mais direto: Rembrandt e o rosto de Cristo –, vem acompanhada por um belíssimo catálogo, publicado por uma editora italiana (Officina Libraria).

O coração da mostra, que reuniu algumas obras-primas absolutas, como as variantes que Rembrandt pintou sobre o tema da Ceia de Emaús, é constituído pela sala em que as três cabeças citadas no inventário foram reunidas e outras quatro, todas em tábua, que a crítica com o tempo recuperou. A importância particular desses quadros para o pintor é demonstrada pelo fato de que dois deles, segundo o inventário, estavam pendurados em seu quarto de dormir: mas isso não bastou para convencer a crítica de sua autografia. Assim, o Rembrandt Research Project, uma instituição que é chamada a “certificar”, entre a imensa massa de obras atribuídas ao mestre holandês, as que são seguramente de sua mão, chegou a suprimir as sete tábuas do catálogo. Hoje, o trabalho desse time de críticos, apoiado também em análises científicas realizadas sobre as obras, voltou a garantir a autografia de quatro dessas Cabeças, deixando para as outras uma atribuição “no ateliê de Rembrandt”. Nesse meio-tempo apareceram também alguns exemplares que certamente documentam uma série de outros originais perdidos. Sinal de que esse era um tema de grande importância para Rembrandt, e de que muitos o pediam a ele.

Mas qual é o motivo de um tão sutil ostracismo da crítica perante essas obras? Certamente tem a ver com aquele “nae’t leven” que deixou confusos os estudiosos por tanto tempo. Rembrandt vivia numa sociedade já solidamente protestante, em que também a concepção da arte tinha mudado profundamente. Décadas antes, em 1566, o conflito com o catolicismo desembocara numa violenta campanha iconoclasta, com a destruição de muitíssimas obras nas igrejas dos Países Baixos. Ao sul do rio Escalda, os católicos tinham retomado o controle da situação, voltando a encher as igrejas de Antuérpia graças à energia fluvial de Pieter Paul Rubens; ao norte, ao contrário, a história foi mudada para sempre. Os artistas tinham-se desviado para cenas da vida cotidiana, alimentando um mercado que já não era caracterizado por grandes encomendas, mas por uma nova classe de ricos compradores. Os temas religiosos tinham-se rarefeito muito, com um claro prevalecimento de cenas do Antigo Testamento. A imagem de Jesus estava no centro de um debate acalorado: um dos alunos de Rembrandt, Jan Victors, chegou mesmo a afirmar que havia o risco de uma “idolatria”.
Rembrandt, Cabeça de Cristo, aproximadamente 1648,
Museum Bredius, Haia, Países Baixos
Nesse contexto, no entanto, Rembrandt agiu com absoluta liberdade. É claro que sua produção circulava privadamente, quando não ficava restrita a ele mesmo. Mas é evidente que ele sentia uma necessidade profunda, quase insuprimível, de estar frente a frente com a figura de Cristo. A experiência de Caravaggio, que tinha tirado as representações da vida de Jesus da perspectiva idealista e as levara a um horizonte de credibilidade realista, forneceram a Rembrandt uma referência essencial. Rembrandt vai além nesse caminho, lidando com o contexto em que se encontrava. Estava muito atento às fontes, pelos pormenores concretos que podiam fornecer. Tinha estudado a história de Flávio José, como demonstra uma gravura de 1659, São Pedro e São Paulo à porta do Templo, em que o edifício é desenhado seguindo as indicações extraídas das Antiguidades judaicas.

O “nae’t leven” de que fala o inventário sugere, nesse sentido, um elemento essencial. Rembrandt, como escreve Lloyd DeWitt, um dos curadores da mostra, procurou um modelo na comunidade judaica de Amsterdã, um pouco para confirmar as boas relações que o ligavam àquela comunidade, mas sobretudo para ter diante de si um tipo humano “etnograficamente próximo de Cristo”. Isso representava “uma recusa tanto dos estereótipos iconográficos quanto da idolatria, por meio do realismo”. Não é por acaso que a mostra e as descobertas relacionadas foram amplamente destacadas pela imprensa israelense. De modo particular pelo jornal Haaretz, que publicou um artigo de título muito significativo: “Rembrandt’s Jewish Iesus”.

Segundo outro crítico, Willem Adolph Visser’t Hooft, “à primeira vista, o retrato parece o de um rabino, o mais profundo e delicado possível. Mas percebemos logo que há qualquer coisa de misterioso. Esse Cristo está longe de nos impressionar por sua majestade. Ao contrário, é ‘sem forma nem beleza’, não ‘eleva a voz’”. Nessas observações está a substância das imagens de Cristo pintadas por Rembrandt. “Sem forma nem beleza” indica a ausência de qualquer retórica, de qualquer idealismo estético. Cristo nos surpreende num contexto de absoluta normalidade, tanto na ambientação quanto na calma reflexiva de sua atitude. E “não eleva a voz”, pois Rembrandt o imagina num instante de diálogo profundo e amigável com quem está à sua volta. Cristo é imaginado num momento de intimidade, nos bastidores da sua aventura pública. Um Cristo anti-heroico, verdadeiro na paixão do seu olhar e na ternura do vínculo que instaura com seu interlocutor. São imagens que se inseriam em continuidade ambiental em relação aos lugares a que eram destinadas, como se sublinhassem sua contemporaneidade. É isso que provavelmente Rembrandt buscava, antes de tudo para si, mas depois também para uma pequena comunidade de pessoas que não se rendia àquele vazio que o protestantismo tinha imposto. Hoje suas Cabeças de Cristo convencem justamente porque em sua elementaridade iconográfica não precisam de chaves de interpretação, não requerem uma “preparação” particular. Pedem apenas que sejam olhadas.

Fonte: Revista 30Dias (ago-set/2011)

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF