Translate

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Providentissimus Deus (Parte 5/5)

Papa Leão XIII | Veritatis Splendor

PROVIDENTISSIMUS DEUSDO PAPA LEÃO XIII

SOBRE OS ESTUDOS BÍBLICOS

Veneráveis irmãos, saúde e benção apostólica

30. Passemos agora à aplicação destas considerações às ciências afins, e nomeadamente á história. É para lamentar que muitos se exponham a grandes fadigas no estudo dos monumentos arqueológicos, dos costumes e instituições dos povos, e doutros assumptos análogos, mas não raro com o propósito de descobrir erros nos Livros sagrados e enfraquecer a sua autoridade divina. Outros há que se dedicam aos mesmos estudos, mas com animo exageradamente hostil e critério apaixonado. Confiam nos livros humanos e nos documentos da antiguidade, como se neles não poderá haver nem ténue sombra de erro, e negam crédito aos Livros da sagrada Escritura á mais leve aparência do erro e sem o mais superficial exame. Pode realmente admitir-se que nos códices escapassem algumas incorreções, devidas á incúria dos copistas, mas isto deve ser maduramente considerado e só admitido nos lugares onde o erro é evidente. Pode ainda admitir-se que seja duvidosa a genuína lição dalgum lugar e para esclarecimento da qual são de grande monta as regras duma boa hermenêutica, mas nunca será lícito ou restringir a inspiração unicamente a algumas partes da sagrada escritura, ou conceder que o autor sagrado errou. Também não pôde tolerar-se o expediente daqueles que julgam desembaraçar-se de dificuldades, não hesitando em conceder que só são divinamente inspirados os pontos de fé e de moral, porque erradamente pensam que, quando se trata de apurar a verdade dum conceito, não deve atender-se tanto ao que Deus disse como a razão por que o disse. E, na verdade, foram escritos sob a inspiração do Espírito Santo todos os livros que a Igreja recebeu como sagrados e canônicos, com todas as suas partes; ora é impossível que na inspiração divina haja erro, visto como a mesma inspiração só por si não somente exclui todo o erro, senão também que o exclui tão necessariamente quanto necessariamente repugna que Deus, Verdade suma, seja autor de erro algum.

31. Esta é a antiga e constante crença da Igreja, solenemente definida nos Concílios de Florença e Trento, confirmada e mais desenvolvidamente declarada no Concilio Vaticano, neste decreto peremptório: — Devem ser recebidos como sagrados e canônicos todos os livros do Velho e Novo Testamento, com todas as suas partes, consoante vêm referidos no decreto do mesmo Concilio (tridentino) e como se contém na antiga edição latina da Vulgata. A Igreja tem estes livros como sagrados e canônicos, não porque fossem compostos só por indústria humana e depois aprovados pela sua autoridade, nem ainda somente porque contém doutrina revelada e verdadeira, mas porque, escritos sob o fluxo do Espírito Santo, têm a Deus como autor. Nem se diga que o Espírito Santo se serviu de homens como de instrumentos para escrever, e que, por isso, os erros que porventura haja nas Escrituras se devem atribuir não a Deus, autor primário dos Livros santos, mas aos hagiógrafos. De feito, assim como o Espírito Santo excitou e moveu os autores sagrados a escrever, assim também lhes assistiu de modo que só escreveram, com pura intenção, fielmente e com verdade infalível, tudo o que lhes ordenou que escrevessem e só isso, aliás não seria Deus o autor de toda a Escritura sagrada. Este foi o sentir constante dos Santos Padres. “Pois que os hagiógrafos, diz Santo Agostinho, só escreveram o que o Espírito Santo lhes inspirou, nunca se pôde dizer que não foi Ele quem escreveu: os escritores sagrados, como membros, só escreveram o que a cabeça lhes ditava”. E S. Gregório Magno: “Ineptamente pergunta quem escreveu as Escrituras aquele que firmemente crê que é o Espírito Santo o seu autor. Escreveu esse que ditou o que se devia escrever; escreveu essa que inspirou a obra”. Desdiz-se daqui que pervertem a noção católica de inspiração divina, ou convertem Deus em autor de erro, os que julgam ser possível haver erros nos lugares autênticos dos Livros sagrados. E tão profundamente arraigada era a crença de todos os Padres e Doutores de que as sagradas Letras, tais como saíram da pena dos hagiógrafos, são absolutamente imunes de todo o erro, que procuram com igual engenho e piedade conciliar entre si os poucos lugares e são precisamente os que a nova crítica argue que parecem encontrados e contraditórios confessando unanimemente que aqueles livros, em toda a sua integridade e em todas as suas partes, são divinamente inspirados, e que, falando Deus pelos hagiógrafos, nada podia inspirar que não fosse verdade. Sirvam de lição para todos, aquelas palavras que o mesmo Santo Agostinho escreveu a S. Jeronimo — “Eu de mim confesso que da tua caridade aprendi a prestar unicamente aos livros das Escrituras, que ora denominamos canônicas, tal respeito e honra, que firmissimamente creio que nenhum dos seus autores caiu, ao escrevê-los, na mais leve sombra de erro. E, se eu achar naqueles livros algo que pareça encontrar a verdade, não hesitarei em confessar ou que o códice não é fiel, ou que o intérprete não alcançou o sentido do que estava escrito, ou que eu não logrei entendê-lo”.

32. Pugnar vantajosamente com os recursos de todas as ciências em prol da santidade das Escrituras empresa é muito superior ao que é justo esperar da indústria dos teólogos e intérpretes. É por isso muito para desejar que tomem a peito tal empresa os sábios católicos de reconhecida competência e autoridade. Nunca faltou à Igreja, mercê de Deus, e oxalá que sempre aumente para acrescentamento da fé, a glória de tais talentos. É sobre toda a ponderação conveniente que sejam em maior número e mais esforçados do que os inimigos da Bíblia, os defensores da verdade, porque nada há mais eficaz para persuadir o vulgo a render-lhe homenagem do que vê-la liberrimamente professada por homens eminentes em qualquer ciência. Além disso, ficará quebrada a audácia dos nossos detratores, e certamente não ousarão afirmar com tanta petulância que a ciência é incompatível com a fé, ao verem que homens eminentes em ciência prestam rendida homenagem à palavra de Deus. E, pois, que tantos serviços podem prestar a religião aqueles a quem a suma benignidade de Deus concedeu a graça da fé católica e o dom apreciável do talento, nesta febre de estudos por qualquer modo relacionados com as Escrituras, escolham aquele que mais se compadeça com as suas aptidões, e, versados nele, saiam a campo e repilam, que lhes vae nisso grande gloria, os ataques da ciência indigna de tal nome. Vem de molde para aqui e é-nos grato aprovar a benemérita deliberação dalguns católicos de criarem associações que subsidiem largamente e prestem todos os recursos a homens distintos em ciência, a fim de que cultivem aqueles estudos e promovam os seus progressos. Ótimo, em verdade, e muito oportuno nas circunstâncias atuais, este emprego de dinheiro. Quanto menor for o subsídio que os católicos podem esperar dos poderes públicos para o progresso dos seus estudos, tanto maior deve ser a liberalidade dos particulares; e saibam aqueles a quem Deus concedeu riquezas que bom uso fazem delias convertendo-as em defesa do tesouro da verdade revelada.

33. Para que todos estes trabalhos redundem em grande proveito dos estudos bíblicos, instem os eruditos nos princípios que deixamos estabelecidos, e creiam firmemente que Deus, criador e governador supremo de todas as cousas, é também o autor das Escrituras, e que, portanto, nada há na economia do universo, nem nos monumentos históricos que possa contradizê-las. Se, porém, parecer dar-se tal conflito, haja todo o cuidado em compô-lo, já recorrendo ao juízo prudente dos teólogos e intérpretes para apurar o que há de verdadeiro ou verosímil no lugar que se discute, já ponderando com novo cuidado as dificuldades que se aduzem. E não se deve levantar mão deste trabalho sem que desapareça a mínima sombra de conflito, porque, sendo impossível que a verdade se oponha á verdade, ou a interpretação das palavras do texto foi errónea ou a discussão dele mal dirigida. Se nenhuma destas hipóteses puder verificar-se, suspenda-se o juízo até que a verdade apareça. Muitas e graves acusações se levantaram, durante largo espaço de tempo, em nome das ciências, contra as Escrituras; e, todavia, caíram como vãs em completo olvido; vários foram os sentidos dados a certos lugares bíblicos salvo aos que propriamente pertencem à fé e a moral; e, contudo, foram ao depois interpretados com mais justeza e propriedade. É que o tempo mata o erro, mas «a verdade vive sempre e cada vez com mais pujança”. Ora, assim como nunca houve ninguém tão soberbo que se arrogasse o pleno conhecimento de toda a Escritura, quando o próprio Santo Agostinho confessava que era maior a sua ignorância do que a sua ciência da Bíblia, assim também, se algum texto encontrarmos de mui difícil explicação sigamos a norma tão moderada como prudente do mesmo Doutor : — “Melhor é sentir o espirito angustiado ao contemplar sinais cuja significação não conhece, mas que são úteis, do que, interpretando-os inutilmente, libertar-se do jugo da submissão para se precipitar nos laços do erro”. Se os que professam os estudos subsidiários da Bíblia seguirem discreta e fielmente estes Nossos conselhos e mandatos; se, escrevendo e ensinando, aproveitarem o fruto dos seus estudos na redução dos inimigos da verdade e em precaver a juventude contra os danos da fé, então, enfim, poderão exultar de jubilo por dignamente servirem as sagradas Letras e prestarem a fé católica um serviço tal como a Igreja tem direito a esperar da piedade e ciência de seus filhos.

34. Estes são, veneráveis irmãos, os mandatos e exortações que, obedecendo á voz de Deus, julgamos oportuno dirigir-vos acerca dos estudos bíblicos. Está da vossa parte agora procurar que sejam fielmente guardados e observados com o acatamento que é de justiça e de modo que brilhe cada vez mais a devida gratidão para com Deus por ter comunicado ao gênero humano os tesouros da sua sabedoria; e que a suspirada vantagem daqueles estudos redunde sobretudo em proveito da instrução dos jovens aspirantes ao sacerdócio, pois são eles objeto de grande solicitude Nossa e a esperança da Igreja. Com a vossa autoridade e exortações trabalhai com animo varonil, para que nos seminários e academias sujeitas á vossa obediência, os estudos bíblicos tenham o lugar de honra que lhe pertence e progridam. Praza aos céus que floresçam, sob a direção da Igreja, segundo os salutares documentos e exemplos dos Santos Padres e louvável costume dos nossos maiores: que no decurso dos tempos alcancem tais incrementos que redundem em defesa e gloria da verdade católica, divinamente revelada para salvação perene dos povos.

35. Exortamos, finalmente, com paternal caridade, todos os alunos e ministros da Igreja que estudem as sagradas Letras sempre com sumo afeto, reverencia e piedade. Nunca se poderá lograr salutarmente, como é de necessidade, a inteligência das Escrituras sem renunciar a soberba da ciência terrena e perseverar no santo exercício da sabedoria que vem do alto. Iniciada nesta silencia, ilustrada e fortalecida por ela, a inteligência terá admirável luz para conhecer e evitar o que há de mau na silencia humana e converter os seus sólidos frutos noutros tantos meios de salvação eterna. E a alma inflamada em zelo aspirará com mais veemência aos bens inefáveis da virtude e do amor divino: — Bem-aventurados os que investigam os testemunhos de Deus, e com todo o coração o buscam. Animado com a esperança do auxílio divino e confiado na vossa solicitude pastoral, paternalmente concedemos no Senhor a benção Apostólica, penhor de dons celestes e testemunha da Nossa particular benevolência, a vós, a todo o vosso clero e fiéis.

Dada em Roma, em S. Pedro, aos 18 de novembro de 1893, ano decimo sexto do Nosso Pontificado.

Papa Leão XIII


Fonte: Portal Veritatis Splendor

Deus é um Pai que nunca abandona seus filhos

Dorotheum | Public Domain
Por Philip Kosloski

Às vezes esquecemos que Deus é diferente de nossos próprios pais terrenos e continua sendo o principal exemplo da verdadeira paternidade.

Quando chamamos Deus de “Pai”, é tentador comparar Deus à nossa própria experiência com nossos pais terrenos.

Essa perspectiva pode muitas vezes estar contaminada por pais que deixaram suas famílias, traíram suas esposas ou foram displicentes com os filhos.

Em casos extremos, uma pessoa pode até pensar: “Se Deus é ‘pai’, ele deve ser uma pessoa terrível!”

No entanto, essa não é a paternidade de Deus.

O Papa Bento XVI refletiu sobre essa verdade da fé cristã em uma audiência geral em 2013.

Hoje, nem sempre é fácil falar de paternidade. Sobretudo no mundo ocidental, as famílias desagregadas, os compromissos de trabalho cada vez mais exigentes, as preocupações e muitas vezes a dificuldade de adaptar os balanços familiares e a invasão distraída dos mass media no interior da vida quotidiana são alguns dos numerosos factores que podem impedir uma relação tranquila e construtiva entre pais e filhos.

Apesar do que vemos ao nosso redor, Deus continua sendo um Pai fiel.

Mas a revelação bíblica ajuda a superar estas dificuldades, falando-nos de um Deus que nos indica o que significa ser verdadeiramente «pai»; e é sobretudo o Evangelho que nos revela este rosto de Deus como Pai que ama até ao dom do próprio Filho, para a salvação da humanidade.

A paternidade de Deus deve ser o exemplo para todos os pais (não o contrário).

Deus é um Pai que nunca abandona os seus filhos, um Pai amoroso que sustenta, ajuda, acolhe, perdoa e salva, com uma fidelidade que ultrapassa imensamente a dos homens, para se abrir a dimensões de eternidade. «Porque o seu amor é para sempre», como continua a repetir de modo litânico, em cada versículo, o Salmo 136, repercorrendo a história da salvação. O amor de Deus Pai nunca esmorece, nem se cansa de nós; é amor que doa até ao extremo, até ao sacrifício do Filho. A fé doa-nos esta certeza, que se torna uma rocha segura na construção da nossa vida: nós podemos enfrentar todos os momentos de dificuldade e de perigo, a experiência da obscuridade da crise e do tempo da dor, sustentados pela confiança de que Deus não nos deixa sozinhos e está sempre próximo, para nos salvar e nos levar à vida eterna.

Embora possa parecer às vezes que Deus nos abandonou, isso não é verdade.

Deus está sempre ao nosso lado. Muitas vezes é a nossa própria negação de Deus que faz parecer que Ele está distante. Não deixamos Deus entrar em nossas vidas, nós O forçamos a sair com nossos pecados, fechando nosso coração ao Seu amor.

Se quisermos saber o que é a verdadeira paternidade, lembremo-nos da imagem do Filho Pródigo, que Jesus apresenta no Evangelho.

Deus é o Pai que nos espera e está pronto para nos abraçar e realizar uma festa em nossa honra.

Fonte: Aleteia

Parlamento Europeu aprova texto radical pró-aborto

Sessão plenária do Parlamento Europeu em Bruxelas /
MichalPL via Wikimedia (CC BY-SA 4.0)

BRUXELAS, 24 jun. 21 / 03:40 pm (ACI).- O Parlamento Europeu aprovou uma moção que define o aborto como "cuidado essencial de saúde" e considera a objeção de consciência por parte de instituições de saúde que não queiram fazer abortos como "negação de cuidados médicos". Foram 378 votos a favor do Relatório Matić, 255 contra e 42 abstenções na votação durante a sessão plenária do Parlamento Europeu da quinta-feira 24 de junho.

O relatório também declara que violações dos “direitos de saúde sexual e reprodutiva” são “uma forma de violência contra mulheres e meninas.”

Durante o debate da quarta-feira 23 de junho que antecedeu a votação, o deputado croata Predrag Matić, autor do projeto do relatório, disse: “Amanhã é um grande dia para a Europa e para todo o mundo progressista. Amanhã decidimos sobre pôr a Europa como uma comunidade que escolhe viver no século XXI ou no XVII. Não deixem a história lembrar de nós como os atrasados.”

A Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE) disse ser "eticamente insustentável" classificar o aborto como um serviço de saúde "essencial". O arcebispo de Luxemburgo, cardeal Jean-Claude Hollerich, presidente da COMECE sustentou que o aborto não pode ser considerado um direito humano e afirmou que o relatório fere o princípio de subsidiariedade que é um dos fundamentos da União Europeia, já que as questões de saúde são da alçada dos Estados nacionais que integram a União Europeia e não dos organismos do bloco.

O arcebispo Stanisław Gądecki, presidente da conferência episcopal polonesa, criticou o Relatório Matić porque “o aborto é sempre uma violação do direito humano fundamental à vida, uma violação ainda mais abominável porque diz respeito à vida do ser humano mais fraco e completamente indefeso". Polônia e Malta são os dois únicos países da União Europeia onde o aborto sob demanda não é legal.

A Rede Parlamentar para Questões Críticas (PNCI, na sede em inglês), lobby católico pró-vida com sede em Washington, D.C., descreveu o relatório como "extremo" e "radical".

O Relatório Matić, oficialmente conhecido como o "Relatório sobre a situação da saúde e direitos sexuais e reprodutivos na UE, no âmbito da saúde da mulher", foi adotado pela Comissão dos Direitos da Mulher e Igualdade de Gênero do Parlamento Europeu em 11 de maio.

Uma "exposição de motivos" que o acompanhava afirmou que o relatório "chega num momento crucial na UE, com o retrocesso e a regressão dos direitos da mulher ganhando impulso e contribuindo para a erosão dos direitos adquiridos e colocando em perigo a saúde da mulher".

Dois membros do Parlamento Europeu, Margarita de la Pisa Carrión e Jadwiga Wiśniewska, definiram uma "posição minoritária", argumentando que o relatório não tinha "nenhum rigor legal ou formal". "Vai além de suas atribuições ao abordar questões como saúde, educação sexual e reprodução, bem como aborto e educação, que são poderes legislativos pertencentes aos estados membros", escreveram as parlamentares em seu posicionamento.

"Ele trata o aborto como um suposto direito humano que não existe no direito internacional. Isto é uma violação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos principais tratados vinculantes, assim como da jurisprudência do Tribunal Europeu de Direitos Humanos e do Tribunal de Justiça da União Europeia", afirmaram.

As deputadas destacaram que 154 emendas foram apresentadas contra o relatório.

O Centro Europeu de Direito e Justiça (ECLJ pela sigla em inglês), uma ONG com sede em Estrasburgo, França, sugeriu que os apoiadores do relatório estavam procurando "introduzir uma nova norma sem que à primeira vista ela aparentasse ser uma imposição".

"A escolha da instituição nesta estratégia não deve ser subestimada, pois embora as resoluções do Parlamento Europeu não tenham valor jurídico vinculativo, elas são a expressão de uma opinião que o Parlamento deseja dar a conhecer", afirma o ECLJ.

"Uma resolução pode posteriormente servir para legitimar politicamente a ação dos Estados membros ou das instituições; ela se destina a produzir efeitos práticos".

"Mais importante ainda, ela pode expressar uma intenção pré-legislativa que pode posteriormente ser utilizada para justificar atos vinculantes". Não há dúvida, portanto, que um ato do Parlamento Europeu representa a porta de entrada para o coração do sistema normativo".

David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu, deve se encontrar com o Papa Francisco no Vaticano neste fim de semana.

Fonte: ACI Digital

"Caminho dos Santos Mártires do Brasil", resgate de fé e cultura no nordeste do Brasil

Caminho dos mártires do Brasil (Foto: @edinaldo liins)

"O Caminho dos Mártires é um caminho inovador que unido aos demais atrativos de turismo de cada cidade, leva as pessoas a ter um momento de oração ou sua experiência com Deus, sua experiência com a cultura, com a história do local, mas também a ter um momento de lazer, um momento para conhecer aquilo que nós temos nessas cidades, principalmente nas três primeiras cidades, que é a parte litorânea, as praias", conta o idealizador do projeto, Sinédsio Moura.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

"Após a elevação da hóstia e do cálice, erguendo o Corpo do Senhor para a adoração dos presentes, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina."

Os martírios ocorridos em 1645 em Cunhaú e Uruaçu, levaram à honra dos Altares os Protomártires do Brasil Pe. André de Soveral, Pe. Ambrósio Francisco Ferro, o sacristão Mateus Moreira e outros 27 companheiros leigos. A cerimônia de canonização foi presidida pelo Papa Francisco na Praça São Pedro em 15 de outubro de 2017. Sua memória é celebrada pela Igreja no Brasil em 3 de outubro.

Para incentivar e difundir a devoção aos nossos primeiros mártires, foi criado “Caminho dos Santos Mártires do Brasil”, um percurso de fé inspirado também no Caminho de Santiago - uma das mais conhecidas Rotas de Peregrinação - que repassa a história dos mártires, intimamente ligada à invasão holandesa no Nordeste.

Por trás da iniciativa, Sidnésio Moura, coordenador do Fórum Nacional de Turismo Religioso, que ao Vatican News recordou um alerta de 2014 do ex-presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, cardeal Antonio Maria Vegliò: o Turismo Religioso não pode negligenciar a espiritualidade, e a espiritualidade deste segmento é a evangelização.

O Caminho pode ser feito a pé, de bicicleta, de moto, carro ou excursão. Independente da modalidade escolhida pelo peregrino, o objetivo é “levar as pessoas a um pleno encontro com Deus, um pleno encontro de evangelização, de espiritualidade”A exemplo do Caminho de Santiago, o peregrino vai recebendo carimbos na credencial ao longo das etapas do percurso e no final do Caminho recebe o Certificado do Peregrino.

Santuário dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu | Vatican News

Um percurso de fé e cultura

Ao longo da peregrinação estão capelas, igrejas, catedrais, santuários, ruínas, mas também os atrativos de cada localidade. E em se tratando de Nordeste, não poderia faltar também a ênfase à Laudato Si do Papa Francisco, com a vista à área de Proteção Ambiental de Dunas Móveis, onde há 27 lagoas, sem falar na beleza das dunas e praias.

O trajeto tem início no Engenho de Cunhaú, em Canguaretama, onde está a Capela de Nossa Senhora das Candeias - local do primeiro massacre - e o Santuário Chama do Amor. Ali, os peregrinos são acolhidos por sacerdotes, ocasião para conhecer um pouco mais da história dos Santos Mártires e receber uma bênção.

Na localidade, também é possível visitar a comunidade indígena Catu, da etnia Potiguara, originária do antigo aldeamento de Igramació, século XVIII.

O percurso inclui depois o litoral de Nísia Floresta, onde está a Igreja Matriz Nossa Senhora do Ó, com 188 anos. Justamente na localidade que nasceu há quase 60 anos a Campanha da Fraternidade, segundo contou entusiasmado Sidnésio Moura, destacando o aspecto histórico do lugar.

Já no povoado de Hortigranjeira, no município de Nísia Floresta, estão as ruínas da casa de São João Lostau (ou Lostão) Navarro, um dos companheiros do sacristão Mateus Moreira. Segundo relatos históricos, ele foi levado preso ao Forte dos Reis Magos e depois para Uruaçu, local onde ocorreu o segundo massacre e onde foi morto.

De Nísia Floresta o percurso segue para a Via Sacra de Timbó e então para Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte.

“Em Natal – contou o coordenador do Fórum Nacional de Turismo Religioso - nós tínhamos uma antiga Catedral, a Matriz Nossa Senhora da Apresentação. A primeira igreja de Natal foi fundada em 1599, onde no presbitério a gente pode ver preservado o local onde era o primeiro piso”.

Ali, de fato, foi celebrada a primeira Missa em Natal, “e o segundo pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação foi o padre Ambrósio Francisco Ferro”. Mateus Moreira – que ao ter seu coração arrancado exclamou “Louvado seja o Santíssimo Sacramento” - era sacristão da Matriz Nossa Senhora da Apresentação. Ele foi proclamado Padroeiro dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão.

Ruínas da casa de pedra de São João Lostau ou Lostão Navarro,
um dos Santos Mártires do Brasil (Foto: @ednaldoliins)

Mas neste “caminho de evangelização”, Sidnésio conta que também foi incluída a Gruta dos Ciganos, no Santuário dos Ciganos, “o primeiro no mundo onde o peregrino, o turista, vai conhecer 7 mil anos de história dos ciganos”.

O Santuário dos Ciganos fica na praia de Santa Rita, na cidade chamada Extremoz. E ao explicar do porquê da inclusão deste Santuário no roteiro, Sidnésio recordou a primeira visita de um Pontífice a uma comunidade cigana, mais precisamente São Paulo VI, à comunidade nômade de Pomezia, Itália. Uma mudança de olhar e acolhida à comunidade cigana seguida por São João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Ademais, o potiguar destacou as figuras de Santa Sara Kali, Padroeira universal do povo cigano, o Beato Ceferino Giménez Malla - ativista pelas causas romani espanholas - e Beata Emília Fernández Rodríguez de Cortés - cigana mártir.

Da Gruta dos Ciganos retorna-se a Natal, com a visita ao Santuário Nossa Senhora de Fátima, onde está sendo construída a quarta réplica da Capela de Fátima, de Portugal.

Da Capela, a peregrinação segue para São Gonçalo do Amarante, já em Uruaçu, local do segundo massacre, ocorrido em outubro de 1645, e onde é possível conhecer toda a sua história.

O retorno então para Natal, para a visita à Basílica do Mártires, no Bairro Nazaré. “Nesse Santuário – explicou Sidnésio - está a iconografia, a autêntica, verdadeira, a primeira iconografia” quando da beatificação dos Mártires por desejo de São João Paulo II, no ano 2000.

Como foi o martírio

Para quem não conhece a história dos primeiros mártires do Brasil, o coordenador do Fórum Nacional de Turismo Religioso faz um breve relato:

No ano de 1645 os holandeses invadem o Estado do Rio Grande do Norte, eles vêm de Pernambuco. E aí aconteceram os dois massacres no Estado do Rio Grande do Norte. O primeiro massacre acontece no dia 16 de julho de 1645, durante a celebração da Santa Missa dominical, na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, no atual município de Canguaretama, aqui no Estado do Rio Grande do Norte. De acordo com os relatos históricos, após o padre André de Soveral realizar a elevação da Hóstia e do cálice, erguendo o Corpo do Senhor para adoração dos presentes, Jacó Rabe trancou as portas da Capela e com a tropa de índios Tapuias e soldados ordenou a matança de todos os fiéis. Em Uruaçu, o segundo massacre aconteceu três meses depois, no dia 3 de outubro - hoje parte do município de São Gonçalo do Amarante. Com as notícias sobre o ocorrido em Cunhaú, alguns católicos buscaram refúgio na Fortaleza dos Reis Magos, em uma fortificação construída no pequeno povoado de Potengi, que ficava próximo da fortaleza, mas foram atacados pelas tropas de Rabe. Eles resistiram, mas acabaram se rendendo e foram massacrados às margens do rio Uruaçu. Entre os mortos estava o padre Ambrósio Francisco Ferro e o camponês Mateus Moreira. De acordo com os relatos históricos, os invasores holandeses, ofereceram aos fiéis católicos a opção de conversão ao calvinismo, mas eles escolheram martírio e o acolheram entre orações e exaltação à Deus, né.

Mateus Moreira, a gente sabe que quando arrancaram seu coração, quando ele é morto, ele em um brado, em um grito, fala: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”. E isso aí revolta, naquele tempo, naquele momento, os holandeses, a disposição dos fiéis na hora da morte era a de verdadeiros mártires. Ou seja, aceitando voluntariamente o martírio por amor a Cristo. Os assassinos agiam em nome de um governo que hostilizava abertamente a Igreja Católica, a religião do governo português do qual eram adversários. Foram dezenas de mortos. Nos dois episódios, mas apenas 30 foram canonizados, sendo 28 leigos e dois sacerdotes, isso porque devido à violência com que foram mortos, muitos não puderam ser identificados. Isso é, existe um relato que na canonização, quando o Papa Francisco canoniza, ele fala o nome de Ambrósio Francisco Ferro, André de Soveral, Mateus Moreira, seus 27 companheiros e os anônimos. Então para ver que são muito mais Santos do que aquilo que a gente imagina.

Então foi um massacre, foi uma invasão, a invasão holandesa. Na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, o padre Ambrósio, que foi o segundo pároco da igreja, quando soube da invasão holandesa, começou a esconder coisas para que os calvinistas ali não as queimassem – a violência era tão grande - não queimassem dados históricos da igreja. É claro que muitas coisas se perderam, mas uma coisa que não se perdeu, que foi descoberta em 1995 na reforma da Matriz Nossa Senhora da Apresentação – estava escondido na parede - foi o Ostensório. O Ostensório que em alguns momentos solenes, que sai da Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação, em Natal, era o Ostensório escondido dentro da parede. Existia uma abertura, o padre Ambrósio esconde o Ostensório e na reforma foi descoberto. O Ostensório é uma relíquia histórica nossa, então é belíssimo, essa história relacionada aos nossos mártires. Então isso é um resumo daquilo que nós temos, daquilo que nós temos sobre os Santos Mártires. Vale a pena, vale a pena vir conhecer o caminho, vir conhecer a história, vir se aprofundar nessa história, certo, belíssima dos nossos Mártires do Brasil, Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu.

Contato

O “Caminho dos Santos Mártires do Brasil” foi aberto recentemente. O primeiro Tour foi realizado com guias de turismo e já vem despertando interesse. Sidnésio conta já ter recebido ligações de Minas Gerais, Pernambuco, Paraíba, Paraná, e naturalmente do Rio Grande do Norte.

“As pessoas estão querendo se encontrar com Deus, e é esse o diferencial do Caminho dos Mártires, é esse encontro com Deus”, garante o potiguar, especialmente neste período de pandemia em que tantas pessoas perderam algum ente querido.

Os contatos para peregrinações podem ser feitos pelo número (84) 99 06 9597 ou pelo perfil Instagram @sidnesiomoura.

Fonte: Vatican News

S. PRÓSPERO DE AQUITÂNIA, FILÓSOFO

S. Próspero | ArquiSP
25 de junho

SÃO PRÓSPERO DE AQUITÂNIA, FILÓSOFO

Próspero estudou na sua cidade natal, Aquitânia, atual Limoges, França, e logo se tornou escritor e teólogo. As suas obras são quase as únicas fontes de informação sobre ele próprio. Escrevia tanto em verso como em prosa. Por causa do poema "De um esposo a sua mulher", atribuído à sua autoria, chegou-se a supor que ele pudesse ter sido casado. Porém é certo que ele nunca se ordenou sacerdote, embora tenha vivido no mosteiro de Marselha, desde 426. Até morrer, manteve-se apenas um monge leigo. Também não foi mártir e nem patrocinou prodígio algum. Entretanto a Igreja o venera como "Professor da Fé".

No meio dos sacerdotes marselheses, Próspero viu difundir-se a doutrina herética apregoada por Pelágio, que negava o pecado original e a necessidade da graça divina para a salvação humana. Portanto o ser humano seria capaz de salvar-se apenas praticando o bem e segundo a sua própria vontade, pois a graça divina era importante, mas não indispensável.

Próspero, desde o seu ingresso no mosteiro, tomou parte ativa na luta contra os erros doutrinais divulgados por Pelágio, que os monges marselheses se interessavam em sua propagação. Próspero defendeu e trabalhou pessoalmente com Agostinho, pois tinha o mesmo entendimento que ele sobre a graça divina. Por isso contou a Agostinho que os "marselheses" eram-lhe os novos opositores doutrinais. Instigado, Agostinho escreveu aquela que foi a sua maior obra: "Da predestinação dos santos e dom da perseverança". Agostinho morreu logo após, em 430.

Mas nem mesmo após sua morte as críticas dos "marselheses" à sua doutrina atenuaram. Por isso, um ano depois, Próspero decidiu ir a Roma para pedir a intervenção do papa Celestino I. que mandou uma carta aos bispos da França para que acabassem de vez com as críticas ao grande mestre e doutor da Igreja, Agostinho.

Só então Próspero transferiu-se para Roma, em 435, onde continuou com suas obras. Escreveu um comentário sobre os salmos e, principalmente, sobre seu mestre Agostinho, assentando-lhe a doutrina e corrigindo certos exageros encontrados nos seus textos. Próspero captava com facilidade o pensamento muitas vezes obscuro de Agostinho, devido à sua apurada educação literária e filosófica. Ele próprio se tornou um teólogo de rara grandeza para a Igreja.

A partir de 440, Próspero foi convocado pelo papa Leão Magno para ser seu secretário, exercendo a função até depois de 463, quando faleceu. Deixou um grande número de escritos teológicos eclesiásticos, sempre em resposta às diversas calúnias e objeções à rígida doutrina de Agostinho. Aliás, o conteúdo era tão apurado e preciso que continuaram convencendo também os outros pontífices que se sucederam em Roma durante séculos.

O único indício de homenagem a são Próspero de Aquitânia remonta à Antigüidade, que é uma pintura na igreja de São Clemente, em Roma. Sem dúvida, trata-se deste santo, porque naquela igreja o papa Zózimo, em 417, condenou o "pelagianismo", heresia que o grande teólogo combateu ferrenhamente por meio de suas obras.

Próspero de Aquitânia só foi canonizado no século VIII, por isso foi inserido erroneamente no Martirológio Romano por César Baronio, que o confundiu com o bispo de Régio Emilia, seu homônimo, que foi martirizado pela fé no século VIII. Motivo pelo qual os dois santos recebem as homenagens litúrgicas no mesmo dia, 25 de junho.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

São Guilherme de Vercelli

S. Guilherme | ArquiSP
25 de junho

S. GUILHERME, ABADE, FUNDADOR DO MOSTEIRO DE MONTEVERGINE

Guilherme nasceu em Vercelli, no ano de 1085, de uma rica família da nobreza francesa. Aos quinze anos, já vestia o hábito de monge e era um fervoroso peregrino. Percorreu toda a Europa visitando os santuários mais famosos e sagrados, pretendendo tornar-se um simples monge peregrino na Terra Santa. Foi dissuadido ao visitar, na Itália, João de Matera, hoje santo, que lhe disse, profeticamente, que Deus não desejava apenas isso dele. Contribuiu também, para sua desistência, o fato de ter sido assaltado por ladrões de estrada, que lhe aplicaram uma violenta surra.

O incidente acabou levando-o a procurar a solidão na região próxima de Avellino, na montanha de Montevergine. Era uma terra habitada apenas por animais selvagens, onde, segundo a tradição, um lobo teria matado o burro que lhe servia de transporte. Guilherme, então, teria domesticado toda a matilha, que passou a prestar-lhe todo tipo de auxílio.

Vivia como eremita, dedicando-se à oração e à penitência, mas isso durou pouco tempo. Logo começou a ser procurado por outros eremitas, religiosos e fiéis. Acabou fundando, em 1128, um mosteiro masculino, o qual colocou sob as regras beneditinas e dedicou a Maria, ficando conhecido como o Mosteiro de Montevergine.

Dele Guilherme se tornou o abade, todavia por pouco tempo, pois transmitiu o cargo para um monge sucessor e continuou peregrinando. Entretanto tal procedimento se tornou a rotina de sua vida monástica. Guilherme acabou fundando um outro mosteiro beneditino, dedicado a Maria, em Monte Cognato. Mais uma vez se encontrou na posição de abade e novamente transmitiu o posto ao monge que elegeu para ser seu sucessor.

Desejando imensamente a solidão, foi para a planície de Goleto, não muito distante dali, onde, por um ano inteiro, viveu dentro do buraco de uma árvore gigantesca. E eis que tornou a ser descoberto e mais outra comunidade se formou ao seu redor. Dessa vez teve de fundar um mosteiro "duplo", ou seja, masculino e feminino. Contudo criou duas unidades distintas, cada uma com sua sede e igreja própria.

E foi assim que muitíssimos mosteiros nasceram em Irpínia e em Puglia, como revelou a sua biografia datada do século XII. Desse modo, ele, que desejava apenas ser um monge peregrino na Terra Santa, fundou a Congregação Beneditina de Montevergine, que floresceu por muitos séculos. Somente em 1879 ela se fundiu à Congregação de Montecassino.

Guilherme morreu no dia 25 de junho de 1142, no mosteiro de Goleto. Teve os restos mortais transferidos, em 1807, para o santuário do Mosteiro de Maria de Montevergine, o primeiro que ele fundara, hoje um dos mais belos santuários marianos existentes. Em 1942, o papa Pio XII canonizou-o e declarou são Guilherme de Vercelli Padroeiro principal da Irpínia.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Deus, um delírio

Yumpu

Richard Dawkins passou grande parte do ano passado pensando em Deus. Em janeiro, estrelou um programa televisivo sobre Deus e a religião: The Root of All Evil? [“Raiz de todos os males?”]. Deus foi um assunto constante na sua nova página oficial. Dawkins brigou com Deus no rádio, falou de Deus para a revista TIME; chegou mesmo a ler um livro sobre Deus em público e em voz alta.

O livro, evidentemente, era o seu próprio: The God Delusion [traduzido no Brasil como Deus, um delírio]. Dawkins descreve-o como sendo “provavelmente a culminância” da sua guerra contra a religião. Embora seja um catatau de 416 páginas, trata-se de uma leitura fácil e, poderíamos dizer, leve. Há nele poucas coisas que Dawkins não tenha dito antes. O estilo é despojado e a estrutura, concisa.

O autor começa por isentar cientistas como Einstein de quaisquer suspeitas acerca de crenças religiosas e também por condenar o lugar privilegiado que a religião ocupa na sociedade. Depois, argumenta contra o agnosticismo, baseando-se na idéia de que a “hipótese Deus” é científica e, portanto, empiricamente verificável. Os dois capítulos subseqüentes são dedicados a desmontar os argumentos favoráveis à existência de Deus. Um deles trata do argumento ontológico, da primeira via de São Tomás e de diversos argumentos psicológicos; o outro detém-se exclusivamente no argumento do design inteligente. Dawkins foca a sua atenção na religião em geral. Medita sobre as possíveis razões para a ubiqüidade da religião nas sociedades humanas e tenta explicar o sentido moral por meio do conceito darwiniano de seleção natural. Nos três capítulos seguintes, parte para a ofensiva: diz que os preceitos religiosos são imorais, que as crenças religiosas causaram a maioria dos problemas do mundo; chama de abuso mental a educação das crianças numa fé específica. O capítulo final traz a visão de Dawkins sobre o modo como a ciência pode ocupar o papel inspirativo que teria sido usurpado pela religião. Se encarado como um trabalho sério, o livro tem poucos méritos. Há poucas referências diretas a textos de filosofia e teologia (ou mesmo de ciência, diga-se de passagem). Os argumentos mais ricos e conhecidos são os que menos atenção recebem: dedicam-se apenas três páginas a Tomás de Aquino. O tom de conversa confere ao texto clareza pelo preço da superficialidade; Dawkins esgrime abundantes metáforas, mas poucos argumentos. Atua como um franco-atirador. Se as pessoas acreditassem realmente em Deus, não se sentiriam tristes quando estão para morrer. O Deus do Antigo Testamento é “ciumento, mesquinho, injusto, implacável, opressor; um genocida vingativo e sedento de sangue”… (esse epítetos continuam por várias linhas). A maior parte do livro é constituída por episódios pessoais, piadas engraçadinhas sobre fundamentalistas cristãos, terroristas islâmicos e devoções populares católicas, e há ainda histórias de terror sobre o fanatismo religioso.
POPULARIDADE E PERSUASÃO

Por outro lado, é quase certo que Dawkins não quis escrever um trabalho acadêmico. Afinal, ele ocupa a cátedra Charles Simonyi para a Compreensão Pública da Ciência, e “compreensão pública”, para Dawkins, significa somente duas coisas: popularidade e persuasão.

É certo que The God Delusion se tornou popular. Atingiu o segundo lugar na lista de mais vendidos da Amazon.com e atualmente o nono na seção de não-ficção em capa-dura do New York Times. Contudo, a obra deve ser vista num contexto mais amplo. Trata-se de um livro essencialmente moderno. Teve o seu terreno preparado pela série de TV The Root of All Evil? Foi inflado por uma legião de blogueiros e pela página oficial de Dawkins. Chegou tempestuosamente às prateleiras, “cheio de som e fúria”. Particularmente, eu estava esperando também bonés e adesivos de carro promocionais.

A personalidade e a posição de Dawkins asseguraram a popularidade de The God Delusion. E quanto à persuasão? Em primeiro lugar, deixemos claro que Dawkins queria uma persuasão de tipo psicológico. O autor diz explicitamente que deseja conscientizar o público para quatro pontos: a força da seleção natural como ferramenta de explicação do mundo; a educação religiosa como abuso infantil; a possibilidade de se ser feliz, equilibrado, e realizado moral e intelectualmente como ateu; e o “orgulho ateu” como um contraponto da perseguição aos ateus. Dawkins quer que as pessoas “enredadas na religião” sejam capazes de “sair do armário” e assumir o seu ateísmo.

Nesse sentido, o livro pode ser visto como um tipo de guia de auto-ajuda para ateus. O subtítulo poderia ser: Como eu descobri o ateísmo e como você também pode fazê-lo. Há um apêndice com entidades de apóio àqueles que precisam de “ajuda para escapar da religião”. Só faltou mesmo uma seção de encontros (ateu de 40 anos procura uma companheira…). Embora Dawkins ache a idéia do culto à personalidade algo “altamente indesejável”, conforme disse ao Sunday Times, o seu livro está abarrotado de episódios pessoais e risonhas digressões em louvor da sagacidade coletiva do autor e dos seus pares intelectuais. Espera-se que nos sintamos privilegiados por captar esse lampejo do sutil intelecto da elite evolucionista. Mas será que isso persuade alguém?

A SELEÇÃO NATURAL MAL APLICADA

A seleção natural é uma teoria extremamente poderosa e Richard Dawkins nutre uma paixão incomum por expressá-la. Ainda assim, cai numa redundância insolúvel ao aplicá-la à filosofia. Veja-se, por exemplo, a maneira como trata da moral. Sustenta que temos códigos morais porque estes foram uma vantagem seletiva no passado. Como sabemos que os códigos morais eram uma vantagem seletiva? Porque nós os temos. Expressando em silogismo:

1) Os códigos morais existem porque sobreviveram e foram bem-sucedidos.

2) Os códigos morais que sobreviveram e foram bem sucedidos existem.

3) Logo, os códigos morais existem porque existem.

Ficamos, portanto, com uma moral que tínhamos de ter: uma conclusão redundante e determinista. (Curiosamente, Dawkins simplesmente “não está interessado” no tema do livre arbítrio.) A mesma conclusão inadequada vale para as suas aplicações da seleção natural a todos os fenômenos metafísicos: Deus, a causalidade, a verdade e a própria  existência. A seleção natural por si só não é capaz de explicar o porquê de nada.

A próxima conscientização de Dawkins – “não existe essa história de crianças cristãs” – é uma simples manifestação do seu preconceito anti-religioso. Ele admira-se de uma criança religiosa não seja considerada algo tão odioso como o seria uma “criança marxista” ou mesmo uma “criança atéia”. Será que a existência de crianças “inglesas” ou “indianas” o deixa igualmente nervoso? E um “criança judia”? E a “criança aborígene”? No fundo, Dawkins esconde o seu objetivo real – descolar a religião da identidade cultural – com uma acusação sentimental de abuso infantil. (Um dos subtítulos leva o tocante nome de “Em defesa das crianças”).

Acaso o livro de Dawkins atinge a sua meta principal? Fomenta o “orgulho ateu” e ajuda as pessoas que têm fé e inteligência a “saírem do armário”? Parte da resposta ainda está para ser vista. Uma outra parte, pequena, é evidente: as pessoas que concordam com Dawkins provavelmente vão achar o livro engraçado, e talvez desenvolvam um pouco de orgulho. O mais provável é que se tornem arrogantes.

A SÍNDROME DA TORRE DE MARFIM

Pouquíssimas pessoas estão dispostas a seguir Dawkins sem restrições. Isso que ele poderia chamar de “destino solitário de um pioneiro intelectual” pode ser simplesmente a síndrome da torre de marfim. A revista The Economist foi uma das suas poucas fontes de apoio integral – o que não é surpresa. Mas o aliado mais próximo de Dawkins, Daniel Dennett, enxerga alguma utilidade na religião, e não está convencido de que ela devesse “votada à extinção”. O físico Lawrence Krauss, na revista Naturedesejou que o autor “não fosse além das suas forças” e evitasse fazer sermões. O marxista Terry Eagleton descreve Dawkins como alguém  “assombrosamente sacana…, teologicamente analfabeto” que nem sequer fala por todos os ateus. Na verdade, Dawkins seria apenas um representante “da classe média liberal e racionalista da Inglaterra”.

Richard Kirk faz a crítica mais destrutiva do livro, ao qualificá-lo de “um exemplo de descaso…, uma diatribe gárrula  e mal editada”. A crítica constante é de que Dawkins não conhece o seu inimigo; antes, põe um espantalho no seu lugar. Mas isso não é tudo. Dawkins confecciona um espantalho, mas acerta a sua lança nos blocos de feno que estão no cercado. Depois, pragueja contra o capataz que pôs o feno ali e castiga o gado por ter causado um alvoroço. Um exemplo desse seu comportamento quixotesco é o seu argumento central. Dawkins acredita que a assim chamada “hipótese Deus” – a de que “existe uma inteligência sobre-humana e sobrenatural que projetou e criou deliberadamente o universo e tudo o que ele contém, inclusive nós” – é cientificamente suscetível de ser verificada. Ciência, no sentido moderno, é o estudo das coisas naturais ou físicas. Pois então como pode verificar uma hipótese que é, por definição, sobrenatural e metafísica?

Dawkins, na verdade, não acredita que Deus é cientificamente verificável. Mas não admite nenhuma epistemologia além da ciência. O seu raciocínio pode ser resumido da seguinte maneira: não existe realidade imaterial, portanto Deus não existe. Não é de admirar que ele “não esteja interessado” no livre arbítrio, ou na razão da existência da própria matéria. Dawkins não esclarece nenhum problema filosófico real. É um positivista démodé que tem preconceito contra a metafísica; a sua verdadeira querela deveria ser com os estruturalistas e desconstrucionistas, pois foram eles que conduziram o positivismo à sua conclusão lógica e, para Dawkins, indesejada. Mas ele, evidentemente, não se incomoda com isso; toca o tema apenas de passagem ao qualificá-lo de “alta francofonia”.

Dawkins acredita que a maior partes das pessoas estaria delirando, mas alguém poderia perguntar se Dawkins está assim tão sóbrio. As suas afirmações acerca de perseguição e marginalização soam suspeitosamente como paranóia, a sua verborréia nauseabunda beira a obsessão, e ele demonstra uma profunda ausência de noção acerca da sua competência filosófica, ou melhor, da sua falta de competência filosófica. Este livro pode fazer Dawkins perder mais amigos do que ganhá-los. Pode ser que em breve ele esteja navegando sozinho – rumo a quem sabe onde – com a sua própria carga de delírios. Pelo menos, ainda poderá rir das suas próprias piadas.

Phillip Elias

Fonte: Quadrante

https://www.presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF