A ação missionária de Paulo, conhecido como “o Apóstolo dos
Gentios”!
Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico
Redentorista
“Conforme diz a Escritura: ‘Todo o que nele crê jamais
será decepcionado’. Portanto, não há distinção entre judeus e gentios,
pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o
invocam. Porque: ‘Todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo!’ (Rom
10, 11-13)
Ao ler a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, frequentemente encontramos a palavra gentios, razão pela qual muitas pessoas perguntam sobre o seu significado.
A palavra, geralmente empregada no plural, designa as nações
distintas do povo judeu. Originária do hebraico “goyim” e do grego “ethnos”, os
termos significam nações ou povos e ao longo dos textos bíblicos, o termo
gentios é utilizado para descrever aqueles povos que não faziam parte do povo
judeu escolhido por Deus.
Descendentes de Abraão, os judeus se consideravam, antes da
vinda de Cristo, como o povo escolhido por Deus. Como as nações não-judaicas
não adoravam o verdadeiro Deus, tendo práticas religiosas diferentes, eram
consideradas até mesmo idólatras ou imorais. O termo gentios muitas
vezes nas Escrituras Sagradas assumia um significado depreciativo.
Os hebreus estabeleciam uma divisão entre o povo, que
definiam como eleito e os gentios, posteriormente denominados pagãos. Os
povos asiáticos e europeus que se converteram ao cristianismo, nos seus
primórdios eram considerados gentios.
Eles podiam, porém, conviver com os judeus, fazendo negócios
e morando entre eles. A Lei de Moisés não permitia maltratar estrangeiros (Lev
19,33-34). Mas um gentio não tinha o mesmo estatuto que um judeu, não podendo
se casar com um judeu e nem entrar em seu templo. Porém, se um gentio se
convertesse ao judaísmo e fosse circuncidado, ficaria mais integrado na
comunidade e seus bisnetos seriam considerados judeus de pleno direito (Dt
23,7-8).
O Apóstolo dos gentios
No início de sua missão, aos poucos a Igreja saiu do mundo
judaico, entrando no mundo greco-romano. A unidade política chamada de Pax
Romana e o contexto cultural do helenismo favoreceram
muito sua expansão.
Num contexto religioso pluralista havia espaço para a
propagação do cristianismo, até que começasse a ser considerado uma religião
perigosa por desestabilizar o status quo reinante do império, com a pregação de
um único Deus vivo e verdadeiro, advindo um processo de perseguição que duraria
mais de 300 anos.
A religião popular do império era composta de formas
variadas de superstição como a consulta à astrologia, crença no destino, magia,
interpretação de sonhos, oráculos e profecias. E acima de tudo estava o culto
ao imperador considerado como Deus. O fato de o cristianismo não admitir essas
práticas religiosas e pelo fato de a religião ser uma das bases de sustentação
do império, as mudanças propostas pelo cristianismo não foram bem aceitas.
A cultura helênica com sua filosofia provocou um sincretismo
religioso e cultural que ajudou muito na difusão do cristianismo. O fato de
existir uma língua comum chamada de Koiné que era o grego popular usado no
comércio e no trato diário favoreceu a expansão do cristianismo.
Neste contexto é que Paulo, acertadamente denominado
como “Apóstolo dos Gentios”, desenvolveu sua missão,
realizando diversas viagens missionárias. Em cada cidade visitada, primeiro
pregava aos Judeus nas Sinagogas, mas como em geral sua pregação não era bem
aceita, buscava então os gentios e prosélitos.
A pregação de Paulo chamava à conversão e a partir dela
vinha a fundação de comunidades independentes das sinagogas. Depois de sua
estadia numa comunidade ele a animava com visitas e com cartas, das quais
diversas foram conservadas no Novo Testamento.
Não fosse a pregação de Paulo e de seus companheiros como
Barnabé e a abertura aos gentios o rosto da Igreja seria bem diferente, não
tendo hoje a projeção geográfica que possui.
A evangelização dos gentios se normatiza
Inicialmente houve muita discussão entre os apóstolos se
deviam ou não pregar o Evangelho de Jesus Cristo aos gentios e se o evangelho
deveria ter ou não o colorido próprio da cultura e da religião dos judeus como
a necessidade de circuncisão.
Paulo, o “Apóstolo dos Gentios”, assumiu então a missão de
evangelizar as pessoas, judeus ou gentios, certificando-se de que todos
conhecessem a mensagem e a obra salvadora de Jesus Cristo. Ele se tornou um dos
primeiros a propor uma evangelização ‘inculturada”.
Inicialmente a salvação era vista como exclusiva do povo de
Israel, mas ao longo dos textos bíblicos, vai ficando mais claro que Deus tem
um plano de salvação para todos os povos, incluindo os gentios. No Novo
Testamento, a vinda de Jesus Cristo é apresentada como o cumprimento desse
plano de salvação e a mensagem do evangelho é estendida a todas as nações, não
apenas aos judeus.
A queda de Jerusalém no ano 70 d.C. libertou o cristianismo
do messianismo judeu favorecendo a expansão missionária da Igreja nascente
junto aos gentios que não haviam conhecido Cristo.
Em sua pregação Paulo se dirige primeiro aos Judeus, depois
aos pagãos e também ao povo e aos apóstolos em Jerusalém.
Aos poucos vai se constituindo então um Querigma central da
evangelização dos apóstolos, tendo entre eles a Paulo; o ensinamento direto é
feito como testemunho da vida e da ação de Cristo, acompanhado do testemunho de
vida e de sinais sobrenaturais. E assim o cristianismo se abre aos gentios e a
salvação é dada a conhecer a todos os povos!
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