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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Papa inicia novo ciclo de catequeses sobre a esperança

Audiência Geral, 18 de dezembro de 2024 - Papa Francisco (Vatican News)

Na Audiência Geral desta quarta-feira (18/12), o Papa Francisco deu início ao ciclo de catequeses que acompanhará o Ano Jubilar. “Jesus Cristo, nossa esperança: Ele é a meta de nossa peregrinação e o caminho a ser percorrido”, afirmou o Santo Padre.

Thulio Fonseca - Vatican News

O Papa Francisco introduziu, na manhã desta quarta-feira, 18 de dezembro, o novo ciclo de catequeses que terá como tema: “Jesus Cristo, nossa esperança”, e que se desenvolverá no decorrer do Ano Santo. Aos milhares de fiéis reunidos na Sala Paulo VI, o Pontífice destacou que a reflexão será dividida em partes, começando com a infância de Jesus, narrada pelos Evangelistas Mateus e Lucas. “Os Evangelhos da infância relatam a concepção virginal de Jesus, seu nascimento do ventre de Maria, e a paternidade legal de José, que insere o Filho de Deus na dinastia de Davi”, explicou Francisco.

“Jesus nos é apresentado como recém-nascido, criança e adolescente, submisso a seus pais e, ao mesmo tempo, consciente de estar totalmente dedicado ao Pai e ao seu Reino.”

A genealogia de Jesus 

O Papa ressaltou a importância da genealogia apresentada no Evangelho de Mateus, que inaugura o Novo Testamento: “A genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1). Trata-se de uma lista que demonstra “a verdade da história e da vida humana”, disse Francisco, sublinhando que ela revela uma narrativa rica em significado espiritual:

“A genealogia do Senhor é constituída a partir da história verdadeira, onde se encontram nomes no mínimo problemáticos e se sublinha o pecado do rei Davi... Tudo, porém, conclui-se e floresce em Maria e em Cristo”.

Audiência Geral com o Papa Francisco (Vatican Media)

O Santo Padre destacou três elementos presentes na genealogia: um nome, que contém uma identidade e missão únicas; a pertença a uma família e povo; e a adesão de fé ao Deus de Israel.

O papel das mulheres 

Uma particularidade do Evangelho de Mateus é a inclusão de cinco mulheres na genealogia de Jesus: Tamar, Raab, Rute, Betsabeia e Maria. Francisco enfatizou que, enquanto as primeiras quatro são estrangeiras, o que sinaliza a universalidade da missão de Cristo, Maria inaugura algo completamente novo:

“Maria marca um novo início, porque em sua história já não é a criatura humana a protagonista da geração, mas o próprio Deus. ‘Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo’ (Mt 1,16).”

Milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem 

"Jesus é filho de Davi, inserido por José nessa dinastia e destinado a ser o Messias de Israel, mas é também filho de Abraão e de mulheres estrangeiras, destinado a ser 'Luz das nações' (cf. Lc 2,32)."

Francisco se deteve também na dimensão profundamente humana de Jesus, que, apesar de sua missão divina, foi reconhecido em Nazaré como “filho de José” ou “filho do carpinteiro” (Jo 6,42; Mt 13,55). “O Filho de Deus entrou no mundo como todos os filhos dos homens, tanto que em Nazaré será chamado assim”, sublinhou o Pontífice.

Gratidão aos antepassados e à Igreja 

Concluindo a catequese, o Papa convidou os fiéis a despertarem a memória grata pelos seus antepassados e pela Igreja, que nos transmite a vida eterna em Jesus Cristo: “Rendamos graças a Deus, que, por meio da mãe Igreja, nos gerou para a vida eterna, a vida de Jesus, nossa esperança.”

Papa Francisco durante a Audiência Geral (Vatican Media)

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Malaquias, Profeta

São Malaquias (A12)
18 de dezembro
Localização: Israel
São Malaquias

São Malaquias é um dos profetas menores do Antigo Testamento, reconhecido por suas visões e mensagens de Deus para o povo de Israel. Ele viveu aproximadamente no século V a.C., em um tempo em que a nação enfrentava crises espirituais e morais. Malaquias foi chamado por Deus para exortar o povo a retornar à fidelidade.

Seu livro é conhecido por suas mensagens de correção e advertência, especialmente aos líderes religiosos da época. Malaquias criticou fortemente a corrupção no Templo e o desprezo pelas leis de Deus, chamando os sacerdotes e o povo ao arrependimento e à purificação.

Uma de suas profecias mais conhecidas fala sobre a vinda de um mensageiro que prepararia o caminho para o Senhor, uma passagem interpretada como uma referência a João Batista e ao próprio Cristo. Assim, Malaquias é visto como o profeta que anuncia a Nova Aliança.

Ele enfatizou a necessidade de sinceridade na adoração e a importância de viver uma vida de acordo com os mandamentos de Deus. Para ele, a verdadeira fé se manifestava em ações justas e no respeito pela Aliança com o Senhor.

Sua missão profética trouxe uma mensagem de esperança e renovação, incentivando o povo a preparar-se para a vinda do Salvador. O nome Malaquias significa meu mensageiro, refletindo seu papel como porta-voz de Deus.

Malaquias deixou um legado importante para a fé judaico-cristã, lembrando-nos da importância da fidelidade e da preparação para o encontro com Deus.

Reflexão:

A espiritualidade de São Malaquias nos convida a refletir sobre nossa relação com Deus e a viver com autenticidade nossa fé. Ele nos ensina que a verdadeira devoção não está apenas nas palavras, mas nas atitudes e no respeito pela aliança com o Senhor. Malaquias nos lembra da importância de nos prepararmos espiritualmente, vivendo em retidão e integridade. Que possamos seguir seu exemplo e buscar uma vida de santidade, sempre prontos para o encontro com o Senhor.

Oração:

São Malaquias, profeta da aliança, ajuda-nos a viver com fidelidade e a buscar sempre a vontade de Deus em nossas vidas. Amém. Intercede por nós para que possamos ser autênticos em nossa fé e viver com sinceridade e retidão diante de Deus. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

A Igreja Unida em Oração pela Vida e Missão do Papa Francisco

Papa Francisco (arqbrasilia)

A Igreja Unida em Oração pela Vida e Missão do Papa Francisco

A Santa Igreja Católica celebra com profunda reverência e gratidão o 88º aniversário do Santo Padre, Papa Francisco, nesta terça-feira (17/12). Um pastor que, desde sua eleição em 2013, tem encantado o mundo com sua mensagem de misericórdia, humildade e compromisso com os mais necessitados.

  • dezembro 17, 2024

Neste dia especial, a Igreja é convocada a estar unida em oração pela vida e missão do Papa, cujo pontificado tem sido marcado por uma profunda espiritualidade centrada na caridade e na solidariedade, que tem inspirado milhões de fiéis, convidando-os a refletirem sobre o sentido da vida e o papel de cada um na construção de um mundo mais justo e fraterno.

Em uma de suas mensagens mais tocantes, durante o Angelus de 29 de junho de 2020, o Santo Padre desafiou os fiéis a questionarem a forma como vivem sua existência: “A maior graça é doar a vida, é fazer da vida um dom. E isso vale para todos, na família, no trabalho e para quem é consagrado.”

Papa Francisco convidou os fiéis a refletirem sobre o verdadeiro sentido da vida, questionando se estão vivendo em função das necessidades passageiras ou se estão construindo a existência sobre a base sólida de Jesus Cristo.

“E eu, como vivo a vida? Penso só nas necessidades do momento ou acredito que a minha verdadeira necessidade é Jesus, que faz de mim um dom? E como construo a vida, sobre as minhas capacidades ou sobre o Deus vivo?”, questionou o Papa.

Essas indagações nos convidam a repensar nossos valores e prioridades, a reconhecer que a vida é um dom precioso que deve ser vivido com generosidade e amor. O Papa Francisco, com sua espiritualidade profundamente marcada pela simplicidade e pela proximidade com os excluídos, tem sido um exemplo vivo de como fazer da vida um dom, consagrando-se ao serviço dos outros e ao anúncio do Evangelho.

Neste 88º aniversário, a Igreja é chamada a estar unida em oração pelo Santo Padre, pedindo a Deus que o fortaleça, ilumine e abençoe em sua missão de servir à humanidade.

Que Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia, interceda por Sua Santidade, protegendo-o e acompanhando-o em cada passo de sua jornada. Que ela nos ajude a colocar Jesus na base de cada dia, como o Papa nos desafia a fazer, e a viver nossa vida como um dom, oferecendo-a generosamente a Deus e aos irmãos.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Renovação da Igreja do Vaticano II pede que fiéis comunguem em pé

Fila para a comunhão. Imagem referencial. | Djavan Rodriguez|Shutterstock

Renovação da Igreja do Vaticano II pede que fiéis comunguem em pé, diz cardeal americano

Por Tyler Arnold*

16 de dez de 2024

O arcebispo de Chicago, EUA, dom Blase cardeal Cupich, disse que os católicos devem receber a comunhão em pé para evitar gestos que chamem a atenção para si mesmos. Em carta publicada no jornal arquidiocesano Chicago Catholic na semana passada, o cardeal Cupich disse que “a norma estabelecida pela [Santa] Sé para a Igreja universal e aprovada pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA é que os fiéis caminhem juntos como uma expressão de sua vinda como corpo de Cristo e recebam a Sagrada Comunhão em pé”.

Embora as diretrizes emitidas pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) digam que receber a comunhão em pé é a norma, uma pessoa não pode ter a comunhão negada por estar de joelhos.

“A norma para a recepção da Sagrada Comunhão nas dioceses dos EUA é de pé”, diz a instrução geral do Missal Romano. “Não se deve negar a Sagrada Comunhão aos comungantes porque eles se ajoelham. Em vez disso, tais casos devem ser abordados pastoralmente, dando aos fiéis catequese adequada sobre as razões para essa norma”.

“Todos nós nos beneficiamos da renovação da Igreja inaugurada pelo Concílio Vaticano II”, escreveu dom Cupich. “Ao reconhecer essa relação entre como adoramos e o que cremos, os bispos no concílio deixaram claro que a renovação da liturgia na vida da Igreja é central para a missão de proclamar o Evangelho”.

“Seria um erro reduzir a renovação a uma mera atualização de nossa liturgia para se adequar aos tempos em que vivemos, como se fosse uma espécie de lifting litúrgico”, prossegue a carta do arcebispo de Chicago. “Precisamos da restauração da liturgia porque ela nos dá a capacidade de proclamar Cristo ao mundo”.

“A lei da oração estabelece a lei da crença é nossa tradição”, escreveu dom Cupich. “Quando os bispos assumiram a tarefa de restaurar a liturgia seis décadas atrás, eles nos lembraram que esse princípio antigo desfruta de um lugar privilegiado na tradição da Igreja. Ele deve continuar a nos guiar em todas as épocas”.

O cardeal diz que interromper a caminhada até a comunhão “só diminui essa poderosa expressão simbólica, pela qual os fiéis avançando expressam sua fé de que são chamados a se tornar o próprio Corpo de Cristo que recebem”.

“Certamente a reverência pode e deve ser expressa por meio de uma reverência antes da recepção da Sagrada Comunhão, mas ninguém deve se envolver em um gesto que chame a atenção para si mesmo ou interrompa o fluxo da caminhada”, disse dom Cupich. “Isso seria contrário às normas e à tradição da Igreja, que todos os fiéis são instados a respeitar e observar”.

A carta não diz diretamente quais gestos específicos chamam “atenção para si mesmo”. A CNA, agência em inglês da EWTN News, entrou em contato com a arquidiocese pedindo esclarecimentos, mas não teve resposta.

Por séculos antes do concílio Vaticano II, concluído em 1965, a norma no rito latino era receber a comunhão na língua e de joelhos. A Constituição do concílio sobre a sagrada liturgia, Sacrosanctum Concilium, promulgada em 1963, não fez nenhuma alteração a essa norma.

A Sagrada Congregação para o Culto Divino emitiu o documento Memoriale Domini em 1969 para permitir a prática de receber a hóstia na mão e de pé, mas disse que as conferências episcopais devem "evitar todo risco de falta de respeito ou de falsa opinião com relação à Sagrada Comunhão, e de evitar quaisquer outros efeitos maléficos que possam se seguir".

*Tyler Arnold é repórter do National Catholic Register. Já trabalhou no site de notícias The Center Square e suas matérias foram publicadas em vários veículos, incluindo The Associated Press, National Review, The American Conservative e The Federalist.

 Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/60515/renovacao-da-igreja-do-vaticano-ii-pede-que-fieis-comunguem-em-pe-diz-cardeal-americano

SARTRE: O filósofo francês e o nascimento de Jesus (II)

A adoração dos Magos , detalhe, Gentile da Fabriano, Galeria Uffizi, Florença | 30Giorni

Arquivo 30Giorni 12 - 2003

Sartre e o nascimento de Jesus. Um começo de promessa. Não foi feito.

O filósofo francês e o nascimento de Jesus

Natal de 1940: o escritor francês, internado num campo de prisioneiros alemão, compõe uma história para ser recitada num quartel. É o texto teatral Bariona, ou le Fils du tonnrre. Encontramos um Sartre inédito que por um instante parece comovido pelo carinho maravilhado de Maria, pelo olhar de José e pela esperança dos Magos e dos pastores diante do menino Deus. "Eles juntam as mãos e pensam: algo começou. E eles estão errados..."

por Massimo Borghesi

2. O nascimento de Jesus como a “primeira manhã do mundo”. 

Sartre não se tornou ateu porque, como órfão, rejeitou a figura do padrasto. As idiossincrasias anticatólicas de Charles Schweitzer desempenharam um papel muito maior na dissolução da fé juvenil do seu sobrinho. Como prova disso há uma obra, escrita em 1940, em que é desmentida a tese de Moeller, segundo a qual Sartre «queria negar ser “filho”». É o texto teatral Bariona, ou le Fils du tonnerre , agora traduzido para o italiano pela primeira vez por Christian Marinotti Edizioni 20, que Sartre compôs durante a sua estadia num campo de prisioneiros alemão. Moeller menciona-o de passagem: «Num campo de prisioneiros compôs uma canção de Natal para ser recitada num quartel»21; nem poderia ser de outra forma, já que a primeira publicação da obra, em 500 exemplares esgotados, data de 1962. Nela surge um Sartre inédito, distante dos resultados niilistas de La nausea , aberto à esperança despertada pelo novum de aniversário. Um Sartre que reconhece a positividade do ser e sabe descrever, com rara delicadeza, o afeto maravilhado de Maria, junto com a modéstia protetora de José, pelo “menino Deus”.

Em junho de 1940, após a derrota do exército francês, Sartre foi feito prisioneiro pelos alemães. Em agosto foi transferido para a Alemanha, para o campo de prisioneiros de Trier, onde permaneceu até abril de 1941. Além das privações e dos abusos, não foi um período negativo para Sartre. A experiência de solidariedade entre presos irá afastá-lo da sua solidão, do ressentimento de Roquentin, do seu desprezo pelo mundo. É a premissa daquela passagem ao marxismo na qual mais tarde acreditará encontrar a possibilidade de um “grupo em fusão”, de uma vida autêntica, unida na luta. «No Stalag encontrei uma forma de vida coletiva que já não conhecia depois da École Normale, e quero dizer que em suma fui feliz ali»22. Lá ele conheceu alguns padres, incluindo o abade Marius Perrin, de quem se tornou amigo. «Em suma» escreve Annie Cohen-Solal «você se sente como uma irmandade com padres. Apesar das discussões intermináveis ​​sobre a fé"23. No campo, observa Merleau-Ponty, «este anticristo estabeleceu relações cordiais com um grande número de padres e jesuítas»24.

É neste contexto que nasceu a ideia de uma obra teatral que Sartre escreveu para o Natal de 1940. Os ensaios aconteciam no hangar que o padre Boisselot obteve do comandante do campo para rezar missas, para concertos e apresentações teatrais. Nas suas linhas essenciais a obra conta a história de um chefe de aldeia judeu, Bariona, que, confrontado com a ordem do procurador romano relativa ao aumento dos impostos, aceita o pagamento enquanto pede aos habitantes locais que não tenham mais filhos. Roma só poderá exercer o seu poder sobre o deserto. Em seu imperativo suicida, Bariona ainda não sabe que sua esposa Sara está esperando um filho. A dramática descoberta não o faz desistir de sua escolha, escolha à qual sua esposa se opõe. É neste contexto que Bariona é informado pelos pastores do nascimento do Messias num estábulo de Belém; esta notícia, que aos seus olhos tem o sabor de uma grande ilusão, de um engano. O líder judeu medita em seu coração para matar a criança, para suprimir esta esperança vazia. Ao chegar a Belém, encontra Sara e, perto da cabana, uma multidão ajoelhada, emocionada e feliz. Surpreso, ele desiste de seu plano e, ao saber da notícia de que Herodes quer matar Jesus, reúne seus homens, recolhe suas armas e, sabendo que vai morrer, vai ao encontro dos capangas do rei. Sartre ficou muito feliz com seu trabalho. Escrevendo a Simone de Beauvoir disse: «Fiz um mistério de Natal muito comovente , ao que parece, tanto que um dos atores teve vontade de chorar enquanto actuava»25. Trinta anos depois, pelo contrário, daria uma interpretação negativa, sublinhando os objetivos políticos da peça : «Fiz Bariona, que era muito ruim, mas continha uma ideia teatral […]. Os alemães não compreenderam a alusão ao compromisso, simplesmente viram-no como um espetáculo de Natal"26. E ainda: «Se tomei o assunto da mitologia do cristianismo, não foi porque a direção do meu pensamento tivesse mudado, talvez momentaneamente, durante a prisão. Tratava-se de encontrar, de acordo com os sacerdotes presos, um sujeito que na noite de Natal pudesse alcançar a maior unidade entre cristãos e não-crentes”27.

Tudo isso tem sua própria verdade. Não há outra forma de explicar o final claramente político, num sentido anti-alemão, da obra. Contudo, também é verdade, como observa Cohen-Solal, que para Sartre é uma “experiência mais importante do que parecia”28. Não é por acaso que, no mesmo período, se apaixonou por Claudel e Bernanos: «As duas grandes descobertas que fiz no terreno foram O sapatinho de cetim e O diário de um padre caipira . São os únicos livros que realmente me marcaram profundamente"29. Bariona , na realidade, é muito mais que um panfleto político , de luta, ainda que este aspecto esteja claramente presente. Nele Sartre abordou uma percepção do mistério do nascimento e da maternidade, bem como do mistério cristão, como nunca fez e não fará mais em sua obra. Neste sentido constitui verdadeiramente, como escreve Antonio Delogu na introdução à edição italiana, «uma verdadeira excepção»30 no âmbito do pensamento de Sartre. Bariona é, antes de tudo, a fuga da visão de mundo expressa em La nausea e nas histórias de The Wall , uma visão que ainda está no centro de Ser e Nada . As palavras que Bariona diz a Sara para convencê-la a matar a criança que tem no ventre expressam o niilismo existencialista do primeiro Sartre: «Mulher, esta criança que queres dar à luz é como uma nova edição do mundo. Através dele as nuvens e a água e o sol e as casas e a tristeza dos homens existirão mais uma vez. Você recriará o mundo, ele se formará como uma crosta espessa e negra ao redor de uma pequena consciência escandalizada que permanecerá ali prisioneira, no meio da crosta, como uma lágrima. Você entende que enorme inconsistência, que monstruoso erro de tato seria conduzir o mundo fracassado a novos espécimes? Ter um filho é aprovar do fundo do coração a criação do mundo, é dizer ao Deus que nos atormenta: “Senhor, tudo está bem e agradeço-te por teres criado o universo”. Você realmente quer cantar esse hino? […]. A existência é uma lepra horrível que nos corrói a todos e os nossos pais foram os culpados”31.

Não gerar é expiar a culpa dos pais, a culpa de Deus. É rejeitar uma criação impura e malsucedida. Bariona expressa todo o ressentimento da rebelião gnóstica, “cátara”, de um niilismo que odeia o ser. A negação do filho é a negação de um novo começo . O que existe merece perecer: a morte é o julgamento do mundo. Diante da pergunta de Sara: “E se fosse mesmo assim a vontade de Deus que procriássemos?”32, Bariona pede um sinal, a manifestação de Deus. Ele pede um sinal, mas na realidade não quer acreditar: “. Não vou pedir graça e não vou agradecer. […] Mesmo que o Eterno tivesse me mostrado seu rosto nas nuvens, eu ainda me recusaria a ouvi-lo, pois sou livre e, contra um homem livre, o próprio Deus nada pode fazer. Pode reduzir-me a pó ou acender-me como uma tocha [...] mas nada pode fazer contra este pilar de bronze, contra esta coluna inflexível: a liberdade do homem»33.

Bariona é Sartre, o Sartre prometeico da liberdade absoluta, da negação da alteridade como forma suprema de autonomia. O Sartre que se proíbe qualquer esperança possível, entendida como fuga, como deserção da dureza inexorável da existência. Bariona não pode ter esperança, esperar pelo Messias. «Este mundo é uma queda interminável, você sabe bem disso. O Messias seria alguém que deteria esse colapso, que reverteria repentinamente o colapso das coisas [...] e nasceríamos velhos para depois rejuvenescermos até a infância”34. Isto não é possível: «A dignidade do homem reside no seu desespero»35. Até agora nada de novo. Ele é o Sartre mais conhecido, o Sartre “existencialista”. Porém, na obra aparece a figura do Rei Sábio Belsazar, personificado no palco por Sartre, um ator improvisado. Baldassarre representa o novo momento que ocorre na visão de Sartre, o momento da esperança : «é verdade que somos muito velhos e muito sábios e conhecemos todo o mal da terra. Por isso, quando vimos esta estrela no céu, os nossos corações alegraram-se como os das crianças e tornámo-nos crianças e iniciamos o nosso caminho, porque queríamos cumprir o nosso dever de homens de esperança. Quem perder a esperança, Bariona, será expulso da sua aldeia [...]. Mas para quem tem esperança, tudo sorri para ele e o mundo é dado de presente”36.

A esperança de Belsazar é a esperança de Sara. Também ela quer ir a Belém: «Lá está uma mulher feliz e satisfeita, uma mãe que deu à luz todas as mães, e é como uma permissão que ela me deu: a permissão de trazer o meu filho ao mundo. Quero vê-la, vê-la , essa mãe feliz e sagrada”37.

A intenção de sua esposa não faz Bariona recuar. Tendo aprendido com uma espécie de vidente o destino da morte do Messias crucificado, amadurece nele a decisão de matar a criança para o bem do seu povo, de «conservar neles a chama pura da revolta»38. Chegando a Belém, em frente ao estábulo, Bariona surpreende Maria por trás, ela não vê Jesus nos braços de sua mãe, só vê José. «Mas eu vejo o homem. É verdade: como ele olha para isso! Com que olhos! O que ele poderia ter por trás daqueles dois olhos claros, claros como duas profundezas límpidas neste rosto doce e enrugado? Que esperança? […] Para encontrar coragem para extinguir esta jovem vida entre meus dedos, eu não deveria ter visto isso primeiro no fundo dos olhos de seu pai. Vamos, estou derrotado”39. O olhar de José fixo em Jesus detém a mão assassina de Bariona, que não pode deixar de invejar a alegria maravilhada da multidão que veio adorar o menino. Uma felicidade ilusória, do seu ponto de vista, mas evidente: «Deram-se as mãos e pensam: algo começou. E eles estão errados, é claro, e caíram numa armadilha e pagarão caro por isso mais tarde; mas mesmo assim, eles terão tido este minuto; eles têm sorte de poder acreditar em um começo. O que há de mais comovente para o coração de um homem do que o início de um mundo e de uma juventude com traços ambíguos e o início de um amor, quando tudo ainda é possível, quando o sol está presente no ar e nos rostos […]. E estou na grande noite terrestre, na noite tropical do ódio e da desgraça. Mas – poder enganador da fé – para os meus homens, milhares de anos depois da criação, a primeira manhã do mundo nasce nesta sala, à luz de uma vela»40.

Bariona não compartilha desta esperança. «Eis: eles cantam e eu estou apenas no limiar da sua alegria [...]. Eles me abandonaram e minha esposa está entre eles e eles se alegram, tendo esquecido até mesmo a minha existência. Eles estão na estrada do lado do mundo que termina e estão do lado do mundo que começa. Sinto-me mais sozinho à beira da sua alegria e oração do que na minha aldeia deserta”41. Só agora, incapaz de participar da alegria comum, Bariona está verdadeiramente só. Uma solidão aparentemente superada apenas na sétima cena, a última da obra, em que Bariona finalmente muda de ideia e reúne seus homens para salvar Jesus dos mercenários de Herodes. É a parte mais “política” e, talvez, a menos bem sucedida que justifica o julgamento imediato dado pelo Abade Perrin no dia seguinte à atuação: «Neste Bariona não há nada do mistério do Natal clássico: não se pode ver a Virgem nem Criança, exceto em filigrana […]. Os homens de Bariona partem, talvez para a morte, mas morrerão para que a esperança dos homens livres não seja assassinada”42.

O acórdão é relevante e, no entanto, não totalmente exaustivo. Na realidade, Sartre nunca esteve tão perto de compreender o mistério cristão, esse novo começo que torna possível a esperança. Início ligado ao nascimento de um filho. Como afirma Bariona: «Um Deus-Homem, um Deus feito da nossa carne humilde, um Deus que aceitaria conhecer aquele sabor de sal que está no fundo da nossa boca quando o mundo inteiro nos abandona, um Deus que aceitaria antecipadamente sofrer o que sofro hoje [...]. Vamos, é uma loucura"43. Esta loucura transforma-se em “espanto ansioso” no olhar terno e trêmulo de Maria. «Ele olha para ele e pensa: “Este Deus é meu filho. Esta carne divina é a minha carne. Ela é feita de mim, ela tem meus olhos e esse formato da boca dela é o formato da minha. Ele se parece comigo. Ele é Deus e se parece comigo." E nenhuma mulher teve seu Deus por destino apenas para ela. Um Deus pequeno que pode ser abraçado e coberto de beijos, um Deus caloroso que sorri e respira, um Deus que pode ser tocado e que vive”44.

Sartre nunca mais escreverá assim, nem sobre Deus nem sobre o homem. A obra do Natal de 1940 permanecerá, deste ponto de vista, uma “exceção”, como se o ambiente peculiar do acampamento o tivesse aproximado do mistério da existência. O suficiente, porém, para nos dar uma das mais belas representações do Natal na literatura do século XX.

Notas

20J.-P. Sartre, Bariona, ou le Fils du tonnrre , Paris 1970, trad. isto., Bariona ou o filho do trovão . Uma história de Natal para cristãos e não crentes , Milão 2003.
21 cap. Moeller, “Jean-Paul Sartre ou a recusa do sobrenatural”, cit. , pág. 348.
22 J.-P. Sartre, Oeuvres romanesques , Paris 1981, p. LXI.
23 A. Cohen-Solal, Sartre , Nova York 1985, trad. isto., Sartre , Milão 1986, p.188.
24 M. Merleau-Ponty, Sens et non sens , Paris 1948, trad. isto., Sentido e absurdo , Milão 1967, p. 61.
25 J.-P. Sartre, Lettres au Castor et à quellques autres , Paris 1983, trad. isto., Cartas a Castoro e outros amigos , Milão 1985, p. 657.
26 Cit. em: S. De Beauvoir, La Cérémonie des adieux, Paris 1981, p. 238.
27 M. Contant - M. Rybalka, Les Ecrits de Sartre – Chronologie, Bibliographie commentée , Paris 1970, p. 564.
28 A. Cohen-Solal, Sartre , cit. , pág.191.
29 Entrevista de Sartre com Claire Vervin para o artigo Lectures de jailniers , em Les lettres françaises , 2 de dezembro de 1944, p. 3.
30 A. Delogu, “Um mistério de Natal muito comovente”, Introdução a: J.-P. Sartre, Bariona ou o filho do trovão , cit. , pág. VII.
31 J.-P. Sartre, Bariona ou o filho do trovão , cit. , pág. 36.
32 Op. cit. , pág. 38.
33 Op. cit. , pág. 61.
34 Op. cit. , pág. 64.
35 Op. cit. , pág. 68.
36 Op. cit. , pp. 70-71.
37 Op. cit. , pág. 72.
38 Op. cit. , pág. 89.
39 Op. cit. , pág. 97.
40 Op. cit. , pág. 101.
41 Op. cit. , pág. 102.
42 M. Perrin, Avec Sartre au Stalag XII D , Paris 1980, p. 78.
43J.-P. Sartre, Bariona ou o filho do trovão , cit. , pág.78.
44 Op. cit., pág. 91.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Padre Lício: Como lidar com a depressão de fim de ano

Pe. Lício de Araujo Vale Diocese São Miguel Paulista - SP | Vatican News)

Este é um momento que nos faz refletir sobre tudo aquilo que vivemos neste ano, e tudo aquilo que queremos para nós no ano seguinte.

Padre Lício de Araujo Vale Diocese São Miguel Paulista - SP

No final de ano, é muito comum que algumas pessoas não entrem no tão esperado "espírito natalino". Nem sempre a festividade contagia o indivíduo, mas pelo contrário, sentimentos de ansiedade, solidão, tristeza, estresse e depressão podem vir à tona, e por sinal, são até mais comuns durante esta época. Se você se sente mais para baixo diante das festividades natalinas, e até mesmo com o ano novo, saiba que você não é o único, e há diversas explicações para isso.

Frustração e angústia

Este é um momento que nos faz refletir sobre tudo aquilo que vivemos neste ano, e tudo aquilo que queremos para nós no ano seguinte. É comum que algumas pessoas reflitam sobre suas expectativas não realizadas, e criem novas para o futuro, muitas vezes até exageradas como uma forma de compensar tudo que não foi elaborado neste ano, mas este sofrimento pode vir muitas vezes acompanhado de uma estagnação, e isso pode se tornar um ciclo que se repete.  É importante que se olhe para trás e perceba que você se constituí com base em tudo que você fez até então, e tudo o que você não fez, também! Se perceba no hoje, e reflita "o que eu sou com base no que fui até então, e o que quero ser com base no que sou agora". A melhor comparação que podemos fazer é com nosso eu do passado, use-o como motivação para se desenvolver, mas mantendo suas expectativas de acordo com a realidade, e reconhecendo seus limites e impasses, deixe de lado "projetos exagerados", planeje apenas o que realmente te fará bem, e deixe de lado o passado, pois o mesmo existe para ser superado.

Solidão

Nas festividades do final de ano, podemos perceber cada vez mais um "complexo de período perfeito". Cada vez mais vemos na TV, redes sociais e mídias no geral, imagens de famílias se reunindo no Natal, casais celebrando, pessoas cercadas de amigos na virada de ano, mas sabemos também que só são mostrados os lados bons nestas propagandas ou fotos de Instagram, e de forma exagerada e manipulada. É comum que tenhamos saudades de pessoas que já passaram tal época conosco, ou também o desejo de simplesmente ter alguém especial, mas devemos considerar que cabe a nós então, reavaliarmos de quem estamos nos cercando, de quem queremos estar próximos, o que podemos fazer para no ano seguinte estarmos mais satisfeitos. Usar estes sentimentos como motivação para um melhor desenvolvimento, e não se apegar a rótulos, de forma que possamos criar a nossa própria festividade, nossas próprias maneiras e tradições de comemoração, aproveitando os detalhes também por nós criados. Se você quiser que o Natal seja uma boa época para maratonar aqueles filmes que você ama, sozinho, não há problema nisso! Desde que lhe faça feliz.

Estes sentimentos de insatisfação, podem servir como uma ponte para nosso autoconhecimento, sendo ele um bom caminho para bem-estar e desenvolvimento pessoal. A psicoterapia também entra como uma ótima forma de se explorar, se permitir, e se amar! Não deixe de cuidar de si mesmo, reconheça o que te limita, e o que te motiva.

 Como lidar com a depressão nas festas de fim de ano?

Para quem sofreu alguma perda é normal sentir algum vazio nesta época do ano, para que isso não aconteça, é importante realizar algumas atitudes que aliviam esses sentimentos negativos, como:

  • Planejar uma viagem em família ou com amigos ao invés de passar o feriado sozinho em casa;
  • Não se sinta obrigado a nada! Caso algum evento ou situação esteja te fazendo mal, você tem todo o direito de ir embora;
  • Voluntariado: organize uma ação em que você distribui presentes às crianças carentes ou alimentos para ceia em comunidades pobres, a solidariedade é capaz de efeitos muito positivos tanto para quem faz quanto para quem recebe;
  • Participar da missa na Comunidade, rezar em casa, fazer a Leitura Orante, nos fazem reconectar com a Igreja e com o Senhor;
  • Entrar em contato com a natureza. Uma caminhada no parque ou na praia pode ser uma experiência positiva, capaz de aliviar a mente e gerar sensações de bem-estar.

Ah, e uma última dica muito importante! Ao medir os aspectos positivos e negativos de nossas vidas, devemos alimentar o otimismo e a esperança. Que a força da esperança encha o nosso presente, pois é a esperança que dá o sabor viver a vida!

Vídeo:

https://youtu.be/L96v90rdoyc

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São João da Mata, Sacerdote e Fundador dos Trinitários

São João da Mata (A12)
17 de dezembro
Localização: França
São João da Mata

São João da Mata nasceu na França, em 1154, em uma família cristã que o educou na fé e nos valores evangélicos. Desde jovem, ele demonstrou grande interesse pela vida religiosa, buscando dedicar sua vida a Deus. Ele foi ordenado sacerdote e começou a exercer seu ministério com profundo zelo e compaixão.

Durante uma de suas missas, teve uma visão em que Deus lhe mostrou a missão à qual ele seria chamado: resgatar cristãos capturados e escravizados por muçulmanos. Movido por essa experiência, ele fundou a Ordem da Santíssima Trindade, também conhecida como Ordem dos Trinitários, com o objetivo de libertar os escravos e trazer esperança aos oprimidos.

A missão dos Trinitários era dupla: resgatar fisicamente os cativos e dar-lhes apoio espiritual, ajudando-os a reintegrar-se na sociedade e a fortalecer sua fé. A Ordem rapidamente cresceu, atraindo muitos seguidores que se dedicaram a essa obra de misericórdia.

Ao longo de sua vida, São João da Mata conseguiu libertar inúmeros cristãos, estabelecendo um sistema de resgate que funcionava através de doações e ajuda de nobres europeus. Sua dedicação à causa dos escravos o fez conhecido em toda a Europa, e ele recebeu o apoio de diversos reis e papas.

Mesmo diante das dificuldades, ele manteve seu compromisso com os mais necessitados. São João da Mata faleceu em 1213, mas seu legado continuou através da Ordem dos Trinitários, que permaneceu ativa na libertação de cativos.

Hoje, ele é lembrado como um verdadeiro servo de Deus, que não mediu esforços para levar liberdade e dignidade aos que mais precisavam.

Reflexão:

A espiritualidade de São João da Mata é marcada pelo amor ao próximo e pela busca da justiça. Ele nos ensina que a fé deve ser vivida em ações concretas, especialmente no serviço aos que estão em situação de escravidão e sofrimento. Como ele, somos chamados a ser instrumentos de libertação e esperança para os oprimidos. Seu exemplo nos convida a refletir sobre nossa responsabilidade de ajudar aqueles que estão presos em situações de sofrimento. Que possamos pedir sua intercessão para que sejamos sempre solidários e prontos a agir em favor dos mais necessitados.

Oração:

São João da Mata, fundador da Ordem dos Trinitários, ajuda-nos a ter um coração compassivo e a lutar pela justiça e pela dignidade de todos. Amém. Que o teu exemplo de amor aos oprimidos nos inspire a servir a Deus através do serviço aos irmãos.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Do Tratado sobre a Contemplação de Deus, de Guilher­me, abade do Mosteiro de Saint-Thierry

Deus nos amou primeiro (Comunidade Católica Nova Aliança)

Do Tratado sobre a Contemplação de Deus, de Guilher­me, abade do Mosteiro de Saint-Thierry
(Nn. 9-11: SCh 61,90-96)

Deus nos amou primeiro

Somente vós sois realmente Senhor, vós para quem dominar sobre nós é salvar-nos; enquanto, para nós, servir-vos nada mais é do que ser salvos por vós.

Senhor, de vós procede a bênção e a salvação para vosso povo. Mas que salvação é esta senão a graça que nos concedeis de vos amar e de ser amados por vós?

Por isso, Senhor, quisestes que o Filho que está à vossa direita, o homem que fortalecestes para vós, fosse chamado Jesus, isto é, Salvador: pois ele vai salvar o povo de seus pecados (Mt 1,21) e em nenhum outro há salvação (At 4,12). ]Ele nos ensinou a amá-lo, ao nos amar primeiro e até à morte de cruz. Por seu amor e sua dileção, suscita nosso amor por ele, que nos amou primeiro e até o fim.

Foi assim mesmo: vós nos amastes primeiro para que vos amássemos. Não tínheis necessidade de ser amado por nós, mas não poderíamos atingir o fim para o qual fomos feriados se não vos amássemos.

Eis por que, tendo falado outrora a nossos pais muitas vezes e de muitos modos por intermédio dos profetas, nestes últimos tempos nos falastes pelo vosso Filho, pelo vosso verbo; por ele é que os céus foram criados, e pelo sopro de seus lábios, todo o universo (Sl 32,6).

Para vós, falar por meio do vosso Filho não foi outra coisa senão trazer à luz do sol, isto é, manifestar claramente o quanto e como nos amastes, vós que não poupastes vosso próprio Filho, mas o entregastes por todos nós. E ele também nos amou e se entregou por nós.

É essa, Senhor, a Palavra que nos dirigistes, o Verbo todo-poderoso. Quando todas as coisas estavam envolvidas no silêncio (cf. Sb 18,14), ou seja, nas profundezas do erro, ele desceu do seu trono real (Sb 18,15) para combater energicamente todos os erros e fazer triunfar suavemente o amor.

E tudo o que ele fez, tudo o que disse na terra, até aos opróbrios, até aos escarros e às bofetadas, até à cruz e à sepultura, não foi senão a palavra que nos dirigistes em vosso Filho, suscitando pelo vosso amor o nosso amor por vós.

Bem sabíeis, ó Deus, Criador dos homens, que este amor não pode ser imposto, mas que é necessário estimulá-lo no coração humano. Porque onde há coração não há liberdade, e onde não há liberdade também não há justiça.

Quisestes assim que vos amássemos, pois não podería­mos ser salvos com justiça sem vos amar; e não poderíamos amar-vos sem receber de vós esse amor.

Por isso, Senhor, como diz o Apóstolo do vosso amor e nós também já dissemos, vós nos amastes primeiro; e amais primeiro todos os que vos amam.

Nós, porém, vos amamos com o afeto do amor que pusestes em nós. Mas vosso amor, vossa bondade, ó suma­mente bom e sumo bem, é o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho. Desde o princípio da criação ele pairava sobre as águas, isto é, sobre os espíritos indecisos dos filhos dos homens; ele se oferece a todos, atrai tudo a si, inspirando, encorajando, afastando as coisas nocivas, providenciando as úteis, unindo Deus a nós e unindo-nos a Deus.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

SARTRE: O filósofo francês e o nascimento de Jesus (I)

Madonna e o Menino , Giovanni Bellini, Museu Castelvecchio, Verona | 30Giorni

Arquivo 30Giorni 12 - 2003

Sartre e o nascimento de Jesus. Um começo de promessa. Não foi feito.

O filósofo francês e o nascimento de Jesus

Natal de 1940: o escritor francês, internado num campo de prisioneiros alemão, compõe uma história para ser recitada num quartel. É o texto teatral Bariona, ou le Fils du tonnrre. Encontramos um Sartre inédito que por um instante parece comovido pelo carinho maravilhado de Maria, pelo olhar de José e pela esperança dos Magos e dos pastores diante do menino Deus. "Eles juntam as mãos e pensam: algo começou. E eles estão errados..."

por Massimo Borghesi

1. O ateísmo de Sartre: uma filosofia sem autoria?

«Qual é a verdadeira face de Sartre?» Charles Moeller se perguntou num esplêndido ensaio dedicado ao autor1. «Será a experiência existencial da náusea, face à superabundância cega e obscena da natureza? Ou essa náusea é apenas uma consequência? Existe, originalmente, uma opção, uma escolha a favor de um certo tipo de experiência humana em detrimento de outros? Por outras palavras, a náusea é o facto fundamental ou é a escolha do pensamento ateísta que obriga a ver apenas um lado da vida e sempre o mesmo?”2. Para responder à pergunta, Moeller tenta decifrar o “paradoxo” do homem Sartre, para redescobrir o nível de experiência por trás de seu pensamento. Este nível é apreendido a partir de uma lacuna, a da paternidade, que afeta toda a visão de mundo do filósofo. Não escreveu talvez, recordando a sua infância, «naquela época éramos todos, mais ou menos, órfãos de pai: os nossos pais ou estavam mortos ou estavam na frente, e os que restavam, deficientes, covardes, tentavam ser esquecidos pelo próprios filhos; era o reino das mães"3? Para Moeller «parece que faltava a Sartre uma experiência fundamental, a da paternidade. […] Faltou-lhe a experiência do vínculo íntimo que une o sentido de Deus e o sentido da paternidade»4. Órfão, ele presencia, ainda na infância, a entrada na casa de um padrasto, novo marido de sua mãe. É uma situação semelhante à de Baudelaire, autor estudado por Sartre, em quem poderia encontrar uma situação semelhante à sua. «Talvez tenha vivido o mesmo drama, mas resolveu-o de uma forma diferente, com a negação orgulhosa da paternidade, com a afirmação violenta da autonomia absoluta, que em breve fará do eixo da sua filosofia»5. Hipótese difícil de certificar, segundo o crítico, mas que não pode ser evitada. «Não consigo superar a impressão de que o sentimento de “ser demais”, que parece tão profundo na obra (pense na cena raiz de La nausée ), encontra uma das suas razões no facto de Sartre ser órfão e viver como um estranho com seu padrasto"6. A rejeição da condição filial torna-se rejeição do mundo, percebido como estranho. Como homem “estrangeiro” (A. Camus) se encontra numa existência absurda, é “excesso”, criatura não desejada por ninguém, transeunte desolado e anônimo de uma metrópole imersa em neblina. Jean-Paul Sartre, segundo Moeller, «queria negar ser “filho”»7. Tal como o homem moderno, que «quer ficar “sem pai e sem mãe”»8, a sua filosofia abole qualquer ideia de dependência . A liberdade, como autonomia absoluta e criativa, é negação da alteridade, da natureza, de Deus. A liberdade é a negação de toda raiz, vínculo, relacionamento. Sartre gosta do “nada”: o “para si”, a consciência, é o vazio que dissolve a “coisidade” bruta do mundo. No meio, entre o “nada” do ego e a realidade reificada, não existem mais pessoas , rostos, afetos. A filosofia da liberdade como negatividade exclui, até L'être et le neiant , qualquer experiência de positividade . Num mundo dominado pela má-fé, o universo de Sartre parece ambíguo, sórdido, perturbador. A luz da graça não atravessa a noite. Como observou Gabriel Marcel, o sistema de Sartre é o mais lógico de recusa de qualquer perdão que já foi apresentado. Para Deus, o estranho por excelência, o inimigo da liberdade e da autonomia, não há lugar. O existencialismo sartreano é estritamente ateísta.

Tudo isso é verdade. Moeller captou muito bem a dinâmica que leva Sartre a negar qualquer alteridade, com dupla exclusão de Deus e do mundo. Tal como ele compreende a necessidade de o ateísmo se radicalizar em anti-teísmo, numa opção contra Deus, no entanto, permanecem alguns pontos em aberto na sua análise que merecem uma reflexão apropriada. Entre elas, em primeiro lugar, a ideia de que o anticristianismo de Sartre está correlacionado com a sua condição de órfão, com o seu ressentimento edipiano para com o padrasto. O problema é na verdade mais complexo. Moeller não conseguiu resolvê-lo, pois seu ensaio, de 1957, não pôde aproveitar aquela preciosa confissão autobiográfica de Les mots , publicada pela Gallimard em 1964. A rejeição de Sartre a Deus, sua orgulhosa autonomia, permaneceram para ele um “nó secreto”. o que é difícil de desvendar já que “Sartre, ao contrário de Gide, nunca se coloca em primeiro plano ”9. Isto é o que acontece em Les motsonde o filósofo traça um retrato de sua infância, de seus desejos, de sua posição religiosa. Este último, longe de ser determinado pela ausência do pai, é antes dominado pela figura do avô, Charles Schweitzer, protestante e veementemente anticatólico. «Em privado, por lealdade às nossas províncias perdidas, para grande alegria dos antipapais, seus irmãos, ele nunca perdeu a oportunidade de ridicularizar o catolicismo: os seus discursos à mesa assemelhavam-se aos de Lutero. Em Lourdes ele era inesgotável: Bernadette tinha visto “uma mulherzinha trocando de camisa” [...]. Contava a história da vida de São Labre, coberto de piolhos, e de Santa Maria Alacoque, que recolhia os excrementos dos enfermos com a língua. Essas mentiras me foram úteis [...] arrisquei ser vítima da santidade. Meu avô me enojou para sempre: vi através de seus olhos, aquela loucura cruel me enojou com a insipidez de seus êxtases, me aterrorizou com seu desprezo sádico pelo corpo"10.

Sartre, dividido entre o avô protestante e a mãe católica, fechado a “um Deus próprio”, vive uma tensão profunda. «Essencialmente, isso me deixou infeliz: fui levado à descrença não pelo conflito de dogmas, mas pela indiferença dos meus avós. No entanto, eu era um crente: de camisa, ajoelhado na cama, com as mãos entrelaçadas, fazia a oração todos os dias, mas pensava cada vez menos no bom Deus”11. Recordando aquela época, Sartre confessa que conta «a história de uma vocação fracassada: precisava de Deus, Ele me foi dado, recebi-o sem compreender que o procurava. Não conseguindo criar raízes em meu coração, vegeta em mim e depois morre. Hoje, quando me falam Dele, digo [...]: Há cinquenta anos, sem aquele mal-entendido, sem aquele erro, sem aquele acidente que nos separou, poderia ter havido algo entre nós»12.

O lugar deixado vazio por Deus é ocupado pela literatura, pela arte de escrever. «Este pastor fracassado, fiel à vontade de seu pai, preservou o Divino para infundi-lo na cultura. […] Descobri esta religião feroz e tornei-a minha para dourar a minha vocação desvanecida […] Tornei-me cátaro, confundi literatura com oração, fiz dela um sacrifício humano»13. Sartre sente-se predestinado , escolhido, “analista do submundo”. «Daí veio aquela cegueira lúcida que sofri durante trinta anos. Certa manhã, em 1917, em La Rochelle, eu esperava alguns colegas que iriam me acompanhar ao ensino médio; atrasaram-se e logo já não sabia mais o que inventar para me distrair: resolvi pensar no Todo-Poderoso. Imediatamente caiu no céu e desapareceu sem dar qualquer explicação: não existe, disse a mim mesmo com um educado espanto, e pensei que o problema estava resolvido. E de certa forma foi resolvido, pois nunca tive a menor tentação de reabri-lo depois. Mas permaneceu o Outro, o Invisível, o Espírito Santo, aquele que foi o fiador do meu mandato e que governou a minha vida através de grandes forças anônimas e sagradas. Foi ainda mais difícil me livrar dele porque ele tinha se instalado na minha nuca [...]. Durante muito tempo, escrever foi pedir à Morte, à Religião, de forma disfarçada, que arrancasse a minha vida ao acaso"14. Esta  , quando Sartre escreve Les mots, está perdido. «A ilusão retrospectiva está em migalhas; o martírio, a salvação, a imortalidade, tudo se deteriora, o edifício cai em ruínas, apanhei o Espírito Santo nas caves e afugentei-o; o ateísmo é um empreendimento cruel e de longo prazo"15. Consciente de que «a cultura não salva nada nem ninguém, não justifica»16, pois «nos livramos de uma neurose, não nos curamos»17, Sartre não pode, no entanto, deixar de reconhecer como «desgastado, apagado, humilhado, encurralada, preterida em silêncio, todas as feições da criança permaneceram no cinquentenário"18. Os personagens literários amados na adolescência continuam vivos em nossa memória. «Griselda não está morta. Pardaillan ainda vive em mim. E Strogoff. Eu só dependo daqueles que dependem apenas de Deus, e eu não acredito em Deus. Vá descobrir. De minha parte, não consigo entender e às vezes me pergunto se não jogo Vinciperdi e não tento pisotear minhas esperanças anteriores só para que tudo seja multiplicado cem vezes para mim. Neste caso eu seria Filoctetes: magnífico e fedorento, este inválido deu tudo, até o arco, sem condições: mas no fundo, podes ter a certeza que espera a sua recompensa”19. 

Notas

1 Ch. Moeller, Littérature du XXe siècle et christianisme, II, La foi en Jésus-Christ , Tournai-Paris 1957, capítulo “Jean-Paul Sartre ou a recusa do sobrenatural”, trad. it., em Ch. Moeller, Literatura moderna e cristianismo , Milão 1995, p. 348.
op. , pp. 348-349.
3 J.-P. Sartre, Les mots , Paris 1964, trad. isto., Le Parole , Milão 1968, p. 214.
4 C. Moeller, “Jean-Paul Sartre ou a recusa do sobrenatural”, cit. , pág. 350.
op. , pp. 350-351.
op. , pág. 351.
op. , pág. 406.
op. , pág. 401.
op. , pág. 351.
10 J.-P. Sartre, Palavras , cit. , pág.95.
11 Op. cit. , pág. 96.
12 Op. cit. , pp. 97-98.
13 Op. cit. , pp.169 e 170.
14 Op. cit. , pp. 236-237.
15 Op. cit. , pág. 238.
16 Op. cit., p. 239.
17 Ibidem.
18 Ibidem.
19 Op. , pág. 240.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O manto e a sombra de Jesus: a igreja, lar de nossa santidade (II)

combate-proximidade-missão (Opus Dei)

O manto e a sombra de Jesus: a igreja, lar de nossa santidade

Quando Cristo nos alcança em sua Igreja e nos deixa tocar seu manto, a força que sai dele é a sua própria santidade. Ele nos transforma para que possamos usufruir da “largura, do comprimento, da altura e da profundidade de seu coração”.

09/12/2024

Uma força que transforma

Do manto de nosso Senhor e da sombra de Pedro emerge uma força capaz de curar o corpo; mas, sobretudo, de converter o coração. Quando Cristo nos alcança em sua Igreja e nos deixa tocar seu manto, a força que sai dEle é a sua própria santidade. Assim vai nos transformando para que Ele viva em nós, e possamos usufruir “a largura, o comprimento, a altura e a profundidade” do seu coração (Ef 3,18).

Esta dilatação do coração leva-nos a tornar nossa aquela experiência de são Paulo: fazer-se “tudo para todos, a fim de salvar a todos” (1 Cor 9,22). Quando a Igreja realmente se torna nossa casa, percebemos que desejamos com obras que todos possam experimentar o amor de Deus em suas vidas. “Deus nos chamou (...) para fazer que conheçam a Jesus Cristo tantas inteligências que não sabem nada dele e – ao querer-nos em sua Obra – deu-nos também um modo apostólico de trabalhar, que nos move à compreensão, à desculpa, à caridade delicada com todas as almas”[11].

Um belo sinal de que a força transformadora do coração do Senhor encontra acolhida em nós é que começam a desaparecer certas distâncias ou barreiras interiores para com os outros, que antes pareciam muito difícil de superar. Os motivos humanos que originavam essas atitudes deixam de ser a última palavra e a força do amor de Deus impõe-se com paz em nós. O Senhor dilata o nosso coração para que ele se possa abrir em caridade fraterna para com todos os homens e em todas as direções. Sentimo-nos em comunhão com todos, de modo que nada do que diz respeito aos outros é indiferente para nós.

Jesus quis formar seus primeiros seguidores com esse espírito. Ao escolher os doze, não procurou criar um círculo de pessoas homogêneas, antes pelo contrário. Por isso, humanamente falando, não faltaram motivos para divisão entre. Era quase uma provocação levar a conviver dia após dia pessoas de proveniências, sensibilidades políticas e estratos sociais tão diferentes. E, no entanto, é justamente assim que a Igreja renasce continuamente: quando, por amor ao Senhor e ao Evangelho, os motivos humanos de divisão já não têm a última palavra. O amor de Deus triunfa em nossa conduta quando deixamos que a Igreja faça prevalecer em nós o desejo da comunhão por cima da fácil tendência à divisão.

A santidade que a Igreja suscita em nossa alma por isso também se manifesta num forte desejo de reconciliação, de perdão e de unidade profunda entre todos os filhos de Deus. A comunhão dos santos já não é vista como um ideal, algo que sabemos que é verdadeiro, mas que nos aparece inalcançável. Experimentamos o que escrevia nosso Padre: “cada um sentirá, à hora da luta interior, e à hora do trabalho profissional, a alegria e a força de não estar só”[12]. Essa união com todos na Igreja torna-se assim, um chamado entusiasta ao qual queremos responder com atitudes novas, nascidas do coração de Cristo: “Compreendei-vos, desculpai-vos, amai-vos, vivei com a certeza de estar sempre nas mãos de Deus, acompanhados pela sua bondade (...). Nunca vos sintais sós, sempre acompanhados, e estareis sempre firmes: os pés no chão, e o coração lá em cima, para saber seguir o que é bom”[13].

Dar esperança

Ao lado dessa nova capacidade de amar, a força que sai do Senhor e da sua Igreja leva-nos a olhar a realidade através de uma nova lente: a esperança. O Papa Francisco quis precisamente que celebrássemos o próximo Jubileu da Redenção nessa chave[14]. Jesus continua caminhando através da história e em meio à humanidade. O seu manto é mais amplo do que nossos olhos podem ver. Somos tomados pela certeza de que o Senhor continua atuando, tocando e deixando-se alcançar pelos homens em meio à agitação de um mundo que em tantas coisas parece desorientado. Sem deixar de ver o drama da história, com toda a sua de dor e tragédia, a santidade que a Igreja semeia em nós ajuda-nos a não ceder ao desânimo ou a nostalgia diante de um mundo aparentemente pós-cristão, como se a ampliação ou o estreitamento de certas esferas de influência fossem tudo o que se pode esperar como triunfos ou lamentar como derrotas.

“Depois de ter conhecido Jesus, nós só podemos perscrutar a história com confiança e esperança. Jesus é como uma casa, e nós estamos dentro dela, e das janelas desta casa olhamos para o mundo. Portanto não nos fechemos em nós mesmos, não tenhamos saudades de um passado que se presume dourado, mas olhemos sempre para a frente, para um futuro que não é só obra das nossas mãos, mas que antes de tudo é uma preocupação constante da providência de Deus”[15].A santidade que nasce do seio da Igreja faz-nos recordar que o Senhor está fazendo continuamente “novas todas as coisas” (Ap 21,5). Onde alguns poderiam ver unicamente decadência, nós vemos, apesar de tudo, o germe de uma transformação. Nas bodas em que o vinho acaba, descobrimos a condição necessária para que tragam o novo, aquele que só Cristo pode trazer.

“O desafio mais importante para a Igreja – e para a sociedade em seu conjunto – é dar esperança para cada pessoa, especialmente para os jovens, as famílias e aqueles que padecem de mais necessidades materiais ou espirituais”[16]. E a esperança que a Igreja deseja inspirar em nossos corações é a certeza de que o Senhor não deixa de vir em auxílio dos homens; e que o verdadeiramente definitivo na história é a realidade de nossa redenção, que continua presente e cresce, não obstante a cizânia.


São Josemaria escrevia aos fiéis do Opus Dei que se acostumassem a olhar “primeiro e sempre a Igreja santa”[17]. São palavras que na realidade, valem para todos os cristãos. Na Igreja, o olhar do da pessoa de fé vê o próprio Cristo vivendo entre nós. O mesmo que caminhava entre as multidões e que agora se aproxima de nós, toca-nos e santifica-nos. O olhar de fé vê nela o manto inconfundível de Cristo, que está muito perto de nós, para nos dar vida e comunicar o seu amor infinito. Com este olhar, chega também um sentimento de profunda confiança e afeto, de modo de que tudo que vem dela encontrará sempre em nosso interior “uma atitude de abandono filial esperançoso”[18]. Receberemos assim, como nos dizia São Josemaria, “qualquer notícia que nos venha da Esposa de Jesus Cristo”[19]. Porque não duvidamos que dela só podem vir coisas boas, e que cada uma delas orienta-se sempre para a principal de todas: a nossa santidade.


[11] São Josemaria, Carta 4, n. 1.

[12] São Josemaria, Caminho, n. 545.

[13] São Josemaria, Em diálogo com o Senhor, n. 79

[14] Cfr. Papa Francisco, Spes non confundit, Bula de convocação do Jubileu ordinário do ano 2025.

[15] Papa Francisco, Audiência, 11/10/2017.

[16] Mons. F. Ocáriz, Entrevista de 3/07/2017.

[17] São Josemaria, Carta 18, n. 27.

[18] Mons. F. Ocáriz, Mensagem, 13/09/2023.

[19] São Josemaria, Carta 8, n. 54.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-manto-e-a-sombra-de-jesus-a-igreja-lar-de-nossa-santidade/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF