Paulo
Teixeira - publicado em 23/12/25
Importante recordar nesse período o primeiro
presépio da história, montado por São Francisco de Assis em 1223, na pequena
aldeia de Greccio, na Itália.
Em entrevista à Rede Imaculada de Comunicação, Frei
Vitório Mazzuco, destacou que não é apenas uma recordação do que aconteceu
oito séculos atrás, mas um convite para reavaliar como percebemos a presença de
Deus no cotidiano. Segundo o religioso, Francisco não apenas criou uma
representação visual, mas "levou a encarnação de Greccio para
todos os cantos do mundo", reavivando a força do Evangelho através da
simplicidade.
A centralidade do Natal no carisma franciscano
Diferente de outras solenidades, o Natal ocupava um lugar
único no coração de Francisco de Assis. Frei Vitório destaca que o santo tinha
uma reverência especial por esta data, considerando-a a maior das festas.
"Ele tinha a reverência pelo Natal como nenhuma outra solenidade do
Senhor. Porque, embora todas as solenidades mostram como a nossa
salvação foi operada, o Natal mostra que ele vem nascer entre nós, viver entre
nós".
Essa escolha de Deus por tomar a forma de um corpo humano e
habitar a pobreza é o que sustenta o carisma franciscano. O Frei explica que a
trajetória de Francisco é um ciclo que une três pilares: "Presépio,
eucaristia e cruz. São os seus olhos fixos na vida daquele que transplantou
para nós a vida do Pai Celeste". Em Greccio, o objetivo era
representar, da maneira mais fiel possível, o desconforto e a humildade do
estábulo de Belém, transformando a fé em algo palpável.
O Presépio como "colírio" para a humanidade
Frei Vitório utiliza uma metáfora de Santo Agostinho para
descrever a Encarnação: a vinda do Filho de Deus funciona como um
"colírio" que limpa a visão espiritual da humanidade. "A vinda
do Filho em nossa carne é um colírio que consegue tornar perceptível aos nossos
olhos o que os nossos olhos nunca podiam ver". Ao vermos Deus em uma
criança, somos convidados a uma "reumanização". No presépio, diz o
Frei, encontra-se "um trono simples para um menino reumanizado, porque
nele é visível a glória do Pai".
Este processo de enxergar o divino no humano elimina a
distância entre o Criador e a criatura. Deus não apenas observa a humanidade de
longe, mas "vem experimentar a nossa vida, o nosso nascimento,
crescimento, sofrimento, atividades". Ao absorver a nossa vida, Cristo
estabelece um novo patamar de igualdade e irmandade entre todos os seres.
Natal: O jeito de ser fraterno
Para a espiritualidade franciscana, a consequência direta do
Natal é a fraternidade. Não há como celebrar o nascimento de Jesus de forma
isolada ou egoísta. "Para Francisco, o Natal tem jeito de fraternidade,
porque ser irmão, ser irmã, filho e filha é inseparável de ser
fraterno. O amor é impensável sem convivência".
Frei Vitório Mazzuco encerra sua mensagem
reforçando que o Advento e o Natal são tempos de aprendizado sobre o amor
mútuo. A encarnação de Deus deve ser um evento diário, manifestado através do
encontro com o outro. "O amor mútuo, quando se junta, faz todo dia o amor
encarnar-se".

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