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terça-feira, 25 de julho de 2023

Os livros de Deus

Os livros de Deus (Opus Dei)

Os livros de Deus

Na Sagrada Escritura ouvimos a Palavra de Deus. Para ajudar-nos a compreendê-la, convém conhecer a tradição da Igreja e recorrer ao Espírito Santo.

11/12/2018

É normal em qualquer comunidade humana que sejam relatadas histórias sobre as próprias origens. Uma reunião familiar, como uma festa de aniversário costuma ser uma ocasião de lembrar acontecimentos importantes ou significativos: uma história dos avós, os méritos de algum ancestral ilustre, a fundação de uma cidade ou a independência de uma nação. Essas narrações não são um simples passatempo ou exercício puramente saudoso da memória, mas contribuem para a formação da identidade da família ou grupo. Desse modo, os membros mais jovens descobrem de onde eles vêm e compreendem melhor quem são. Assim se via o povo de Israel, e assim transmitiu as obras do Senhor de geração em geração: “Quanto ouvimos e aprendemos, o que os nossos pais nos contaram, não o ocultaremos aos seus filhos; senão que contaremos à geração vindoura os louvores do Senhor, seu poder, e as maravilhas que fez”[1]. Também a Igreja — novo povo de Deus — é uma família que recorda e atualiza constantemente os fatos que estão na sua origem: a história do antigo Israel e, acima de tudo, a morte e ressurreição de Jesus.

TAMBÉM A IGREJA É UMA FAMÍLIA QUE RECORDA E ATUALIZA CONSTANTEMENTE OS FATOS QUE ESTÃO NA SUA ORIGEM

Por vezes, esses relatos familiares ou populares são escritos e, depois de receber uma elaboração literária mais ou menos complexa segundo os casos, podem chegar a ser considerados obra de referência para a comunidade em que surgiram. Alguns povos antigos atribuíam as suas próprias escrituras a uma origem divina: para eles, esses livros tinham sido escritos diretamente pelos deuses do céu. Mas quando a Igreja afirma que “Deus é o autor da Sagrada Escritura”[2], quer dizer com isto que também crê que os seus livros caíram do céu? Como a fé católica explica a origem das Escrituras? Qual é a sua relação com a Igreja?

O que significa que Deus seja o autor da Bíblia e que nos fale por meio dela?

A fé anuncia um Deus que criou o céu e a terra, e que respeita a autonomia da sua própria obra. Não procura dominar a inteligência nem a liberdade das criaturas racionais. Também não impõe a sua salvação ao homem, mas a propõe para que, se ele quiser, acolha-a com todo o seu coração. De modo análogo, ao dar-se a conhecer aos seres humanos, quis se servir de uma linguagem que seja compreensível, pois a língua com que o Pai, o Filho e o Espírito Santo se comunicam eternamente entre si — o “idioma divino” — não é acessível para nós.

Por isso, a Igreja explica que Deus dá a conhecer o seu amor aos homens, e leva a cabo o seu plano de salvação, agindo e falando “por meio dos homens e de modo humano”[3].

Sob a luz do mistério de Jesus Cristo, a “plenitude de toda a revelação”[4], é mais fácil entender essa lógica divina. Ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A sua humanidade é caminho para conhecer o mistério de Deus. Isso não impede que, pela sua dimensão humana, tenha querido compartilhar as nossas limitações, exceto o pecado. Não somente teve fome e sede ou ficou cansado, mas também deve ter experimentado o esforço de aprender a ler, de instruir-se na profissão que são José lhe ensinava, etc. Era Deus, porém não renunciou às limitações próprias do que é humano.

Jesus Cristo quis nos falar com palavras humanas, comunicar-nos a sua mensagem de salvação com os modos de exprimir-se de uma época concreta. Analogamente, quando a Igreja fala de “inspiração divina” da Escritura, afirma que o Espírito Santo é o autor principal dos livros sagrados, mas isso não quer dizer que estejam isentos dos limites próprios de qualquer obra humana.

Na Sagrada Escritura, “a palavra de Deus, exprimida em línguas humanas, se assemelha à linguagem humana, como a Palavra do Pai eterno, assumindo a nossa débil condição humana, se fez semelhante aos homens”[5].

A dimensão humana da Bíblia torna-nos acessível a Palavra de Deus. Mas também significa que, ao lê-la, nos deparemos com alguns limites. No entanto, nem sempre se percebe todo o alcance, nem se aceita todas as consequências do anterior. Concretamente, alguns têm uma visão simples demais da Bíblia, de modo que não deixam espaço para nenhum tipo de imperfeição.

Como explicava são João Paulo II, tais pessoas “têm a tendência a crer que, sendo Deus o Ser absoluto, cada uma das suas palavras tem um valor absoluto, independente de todos os condicionamentos da linguagem humana”[6]. Parece que isso é mais respeitoso com a grandeza de Deus, porém, na realidade, equivale a iludir-se e a rejeitar “os mistérios de inspiração relativa à Sagrada Escritura e da Encarnação aderindo a uma falsa noção do Absoluto. O Deus da Bíblia não é um Ser absoluto que, destruindo tudo aquilo que toca, suprimiria todas as diferenças e todos os cambiantes”[7]. Precisamente neste moldar-se ao que é pequeno se manifesta a misericórdia de Deus: esse amor que o leva a adaptar-se aos nossos modos de exprimir-nos, manifestando-se de uma maneira amável, para que a sua grandeza não nos impeça de nos aproximarmos d’Ele.

Vemos isto na obra da Redenção, e também no modo como se dá a conhecer. “Quando se exprime em linguagem humana, Ele não dá a cada expressão um valor uniforme, mas utiliza-lhe os cambiantes possíveis, com uma flexibilidade extrema, e aceita-lhe igualmente as limitações”[8].

A VIDA SANTA DOS QUE SEGUEM CRISTO VAI MANIFESTANDO OS DIFERENTES ASPECTOS DO EVANGELHO

Para evitar uma visão simples demais da Bíblia, é útil lembrar que os livros que a formam forma escritos não somente em diversas épocas, mas também em três línguas diferentes: hebraico, aramaico e grego. Os textos foram escritos por seres humanos, por meio dos quais Deus atuou, sem que, por isso, eles deixassem de ser verdadeiros autores dos seus livros[9].

Assim, por exemplo, quando São Paulo manifesta a uns cristãos sua indignação com palavras fortes, dizendo: “Ó gálatas insensatos!” (Gl 3,1; cfr. 3,3), é ele quem está bravo, não o Espírito Santo! Com certeza, São Paulo admoesta movido pelo Espírito Santo, mas usa um modo de se exprimir de acordo com o seu caráter e os usos linguísticos do ambiente em que vivia.

A Tradição, acréscimos da Igreja à Bíblia?

Outra consequência do caráter divino e humano da Sagrada Escritura é a sua relação com a Igreja. A Bíblia não caiu diretamente do céu, mas é a Igreja que a apresenta a nós, assegurando-nos que Deus nos fala hoje pela Sagrada Escritura. Voltando ao que foi dito no início, o povo de Israel e a Igreja são a família ou comunidade na qual nasceram, tomaram forma e foram transmitidas as narrações, profecias, orações, exortações, provérbios e outros textos que encontramos no Antigo e no Novo Testamento.

Em sentido próprio, a fonte, o ponto de partida ou origem da revelação, é um só: Deus, que se manifestou de modo pleno no seu Filho feito homem, Jesus Cristo. Ele é a Revelação de Deus. A vida e os ensinamentos de Jesus, e especialmente sua paixão, morte e ressurreição — acontecidas “segundo as Escrituras” (cfr. 1 Cor 15, 3-4) — constituem o anúncio que Ele mesmo manda os apóstolos pregarem em todo o mundo.

Esta boa notícia, o Evangelho, transmitido de maneira viva na Igreja, é o conteúdo fundamental da Tradição apostólica, que é escrita (dando origem ao Novo Testamento) e também transmitida na vida da Igreja: o modo de ensinar a fé, a forma que a oração assume na liturgia, o estilo de vida que propõe quando fala de moral.

A Tradição é a própria vida da Igreja em quanto transmite o Evangelho. Por isso, não é correto entendê-la como se fosse somente uma parte da Revelação, que estaria formada pelas verdades que não aparecem claramente na Bíblia. Também não se reduz a fórmulas e práticas que foram sendo acrescentadas com o tempo, nem aos ensinamentos dos Padres ou dos Concílios. Essa confusão se encontrava em alguns autores que falavam da Bíblia e da Tradição como se ambas fossem as “duas fontes” da Revelação divina. Algumas verdades da fé seriam conhecidas graças à Escritura e outras graças à Tradição: por exemplo, o primado de Pedro se encontra nos Evangelhos (cfr. Mt 16, 17–19; Lc 22, 31–32; Jo 21, 1–19), mas que a Assunção de Nossa Senhora não aparece explicitamente no Novo Testamento.

Parecia um esquema simples que resolvia muitos problemas. No entanto, pensar que dispomos de duas fontes de Revelação, como se Deus nos falasse ou por uma ou por outra, não corresponde à realidade. A Bíblia chega a nós dentro da Tradição da Igreja, formando parte dela, e não de modo separado.

Todos os católicos — pelo fato de viver e difundir a fé — são sujeitos ativos da Tradição, tal como todos os membros de uma família participam de alguma maneira na comunicação da sua identidade. A vida santa dos que seguem Cristo vai manifestando os diferentes aspectos do Evangelho, como diz o Papa Francisco: “Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai para refletir e encarnar, em um momento determinado da história, um aspecto do Evangelho”[10]. Nada, nem ninguém fica fora: “a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita”[11].

Por que ler tendo em conta a Tradição?

A Tradição da Igreja é viva. Isso contrasta com a concepção que se têm às vezes da “tradição” ou “tradições” como coisas do passado: as tradições ancestrais de um povo, as festas tradicionais ou inclusive as roupas tradicionais. Na Igreja, a Tradição vem do passado, mas não fica nele. Para explicá-lo, Bento XVI usa uma comparação iluminadora: “A Tradição não é transmissão de coisas ou de palavras, uma coleção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que remonta às origens, o rio vivo em que as origens estão sempre presentes”[12].

Dentro desse rio vivo, que nasce de Cristo e que traz o próprio Cristo para nós, a Igreja recebe e transmite uma coleção de livros que são lhe dados como testemunho inspirado da Revelação divina, isto é, um conjunto de Escrituras que comunicam o que o próprio Deus quis que ficasse consignado por escrito para a nossa salvação. “Mediante a mesma Tradição, conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais profundamente e torna-se incessantemente operante; e assim, Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho”[13].

A TRADIÇÃO, QUE É O LAR ONDE NASCE A SAGRADA ESCRITURA, TORNA-SE TAMBÉM CAMINHO PARA COMPREENDÊ-LA MELHOR

A Tradição, que é o lar onde nasce a Sagrada Escritura, torna-se também caminho para compreendê-la melhor. Acontece algo similar ao exercício que fazemos para apreciar toda a riqueza de uma obra literária: não é o suficiente fazer uma leitura isolada dela, mas prestamos atenção ao contexto em que foi escrita, o horizonte intelectual do autor, a comunidade onde teve origem.

Assim, quando a Igreja indica que a Tradição viva é um critério de interpretação da Bíblia,[14] ou mantém que o “lugar originário da hermenêutica da Bíblia”[15] é a Igreja, o que está propondo é que uma leitura realizada em comunhão com todos os que acreditaram em Cristo abre-nos às riquezas da Sagrada Escritura. É evidente que qualquer pessoa pode ler e, em certa medida, entender a Bíblia, mesmo sem receber o dom da fé.

A diferença está em que, quando um batizado lê os livros bíblicos, não o faz procurando somente decifrar o conteúdo de uns textos antigos, mas propõe-se descobrir a mensagem que Deus quis deixar neles e que agora quer comunicar.

A partir desta perspectiva, também se entende melhor por que para compreender a Bíblia se aconselha tanto recorrer ao Espírito Santo. Antes da sua morte, Jesus anunciou aos seus discípulos que o Espírito Santo lhes ensinaria e lhes recordaria tudo o que ele lhes disse (cfr. Jo 14, 26) e que este os levaria à verdade inteira (cfr. Jo 16, 13).

A leitura da Sagrada Escritura é um momento privilegiado em que se torna realidade esta promessa: o Espírito Santo, autor dos livros sagrados, faz com que entendamos melhor a vida e ensinamentos de Cristo recolhida nos evangelhos, anunciada pelos profetas e explicadas na pregação apostólica.

O Espírito Santo é o vínculo de amor entre os que creem, e nos introduz à comunhão com a Igreja de todos os tempos. O Espírito Santo é “por quem a voz do Evangelho ecoa viva na Igreja, e por ela no mundo”[16].

Juan Carlos Ossandón

Bibliografia

– Concilio Vaticano II, Const. Dei Verbum (18-XI-1965).

– Catecismo da Igreja Católica, nn. 50–141.

– São João Paulo II, Discurso De tout coeur, 23-IV–1993.

– Bento XVI, Audiência geral, 26-IV-2006; Ex. Ap. Verbum Domini (30-IX-2010), especialmente a primeira parte.

* * *

– G. Aranda Pérez, «Inspiración de la Sagrada Escritura» em C. Izquierdo (ed.), Diccionario de teología, Eunsa, Pamplona 2014, 511-517.

– V. Balaguer, «La Constitución dogmática Dei Verbum», Annuarium Historiae Conciliorum 43 (2011) 271–310.

– J. Dupont, «Écriture et Tradition», Nouvelle revue théologique 85 (1963) 337-356.

– C. Izquierdo, «Tradición» en C. Izquierdo (ed.), Diccionario de teología, Eunsa, Pamplona, 2014.

– J. Ratzinger, Lembranças da minha vida (19271977), Paulinas, capítulo “Começo do Concílio e mudança para Münster”.


[1] Sal 78,3-4. Cfr. Francisco, Ex. ap. Amoris Laetitia (19-III-2016), n. 16.

[2] Catecismo da Igreja Católica, n. 105.

[3] Concilio Vaticano II, Const. Dei Verbum, n. 12.

[4] Ibid., n. 2.

[5] Dei Verbum, n. 13. Antes da Dei Verbum, essa analogia tinha sido proposta pelo papa Pio XII na encíclica Divino Afflante Spiritu (30-IX-1943), n. 24 (EB 559; EB = Enchiridion Biblicum). Depois fizeram a sua São João Paulo II (Discurso De Tout Coeur, 23-IV-1993, nn. 6-7; EB 1245-1246), o Catecismo da Igreja Católica (n. 101) e Bento XVI (Ex. Ap.Verbum Domini, 30-IX-2010), n. 18).

[6] São João Paulo II, São João Paulo II, Sobre a Interpretação da Bíblia na Igreja, 23-IV-1993, n. 8 (EB 1247).

[7] Ibidem.

[8] Ibidem.

[9] Cfr. Dei Verbum, n. 11.

[10] Francisco, Exp. ap. Gaudete et exsultate (19-III-2018), n. 19.

[11] Dei Verbum, n. 8.

[12] Bento XVI, Audiência geral, 26-IV-2006.

[13] Dei Verbum, n. 8.

[14] Cfr. Dei Verbum, n. 12.

[15] Cfr. Verbum Domini, nn. 29-30.

[16] Dei Verbum, n. 8.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (7/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

CARD. Alfons M. Stickler

        8. A continuidade da doutrina da Igreja na Idade Moderna

A contínua vida de sacrifício que implica tão grave compromisso só pode ser vivida se for alimentada por uma fé viva, já que a fraqueza humana é sentida continuamente. A motivação sobrenatural só pode ser entendida de modo permanente com essa fé, sempre conscientemente vivida. Se a fé se esfria também diminui a força para perseverar; onde fé morre, morre também a continência. 

Todos os movimentos heréticos e cismáticos que apareceram na Igreja são uma renovada demonstração desta verdade. Uma das primeiras conseqüências que ocorrem entre os seus seguidores é a renúncia da continência clerical. Não pode, portanto, causar surpresa o fato de que também nas grandes heresias e defecções da unidade da Igreja Católica no século XVI, ou seja, entre os luteranos, calvinistas, seguidores de Zwinglio, ou Anglicanos, a renúncia rápida ao celibato eclesiástico. Os esforços de reforma do Concílio de Trento para restaurar a verdadeira fé e a boa disciplina na Igreja Católica, portanto, deveram também abordar os ataques contra a continência dos ministros sagrados.

Da história deste Concílio já é conhecida com absoluta certeza que muitas pessoas, especialmente imperadores, reis, príncipes e mesmo representantes da mesma Igreja, com a boa intenção de recuperar os ministros sagrados que haviam deixado a Igreja Católica, se empenharam em obter uma redução ou uma dispensa desse dever. Mas uma comissão criada pelos Romanos Pontífices para tratar esta questão concluiu, considerando toda a tradição precedente, que se devia manter sem comprometer a obrigação do celibato: a Igreja não estava capacitada para renunciar a uma obrigação válida desde seu começo e depois sempre renovada.

Por razões pastorais se deu permissão especial para que na Alemanha e na Inglaterra os sacerdotes apóstatas, depois de renunciar a toda convivência e utilização do casamento, podiam ser absolvidos e reintegrados ao seu ministério na Igreja Católica. Caso rejeitassem o retorno ao clero, podia ser sanada a invalidez de seu matrimonio; mas, nesse caso, seriam excluídos para sempre do ministério sagrado.

Note-se também que os Padres do Concílio de Trento, não só renovaram todas as obrigações nesta matéria, mas também se recusaram a declarar a lei do celibato da Igreja Latina como uma lei puramente eclesiástica, da mesma forma que haviam negado incluir à Virgem Maria sob a lei universal do pecado original.

Mas a decisão mais radical do Concílio de Trento para salvaguardar o celibato eclesiástico foi a fundação de Seminários para a formação de sacerdotes, que foi estabelecido pelo famoso cânone 18 da Sessão XXIII e imposta a todas as dioceses. Os jovens deveriam ser eleitos para o sacerdócio, formados e fortalecidos para o ministério nestes Seminários.  

Esta decisão providencial, que se tornou realidade progressivamente em todos os lugares permitiu à Igreja contar com tantos candidatos celibatários para os graus superiores do sagrado ministério, que a partir de então, se pode ir prescindindo de ordenar homens casados, o que tinha sido um desejo explícito de muitos Padres conciliares.

Desde então, a noção de celibato até então dominante e muito presente na mentalidade dos fiéis, que incluía tanto a obrigação de continência completa no uso do matrimônio contraído antes da ordenação, bem como a proibição de se contrair novas núpcias, foi restringida a esta última. Daí procede que hoje se entenda o dever do celibato eclesiástico só como proibição de se casar.

A Igreja tem sido sempre forte em preservar a sua tradição em relação ao celibato, mesmo nos tempos difíceis que se seguiram. Um claro testemunho é fornecido pela Revolução do final do século XVIII e início do século XIX. Também se adotou nesta ocasião a prática do século XVI: os sacerdotes que tinham se casado durante a Revolução tinha de decidir: ou renunciar ao matrimônio civil invalidamente contraído, ou procurar sanar esta invalidez na Igreja. No primeiro caso, podiam ser readmitidos ao sagrado ministério; no segundo, ficavam excluídos definitivamente do ministério, como já havia estabelecido a primeira lei escrita sobre esta matéria, que já conhecemos: a do Concílio de Elvira.

A Igreja se opôs também a todas as outras tentativas feitas para abolir o celibato dos ministros sagrados, como os esforços feitos em Baden-Württemberg em tempos de Gregório XVI, ou o movimento Jednota da Mohêmia em tempos de Bento XV. 

É novamente importante a abolição imediata do celibato entre os “velhos católicos” após o Concílio Vaticano I. Não é menos clara a oposição da Igreja contra as tentativas, constantemente renovadas após o Concílio Vaticano II, de ordenar a viri probati, quer dizer, homens casados sem exigir-lhes a renúncia ao matrimônio, ou de permitir o matrimônio dos sacerdotes.

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

São Cristóvão, padroeiro dos motoristas e viajantes

São Cristóvão (Guadium Press)

A Igreja Católica celebra no dia de hoje, 25 de julho, a memória litúrgica de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas e viajantes.

Redação (25/07/2023 10:01, Gaudium Press) São Cristóvão é o padroeiro dos motoristas e, por extensão, dos viajantes. Segundo a lenda grega, São Cristóvão era um bárbaro antropófago, da tribo dos cinocéfalos – homens com cabeça de cão – que se converteu, foi engajado nos exércitos imperiais e se recusou a apostatar, morrendo sob inomináveis torturas.

São Cristóvão (Guadium Press)

Servir o rei mais poderoso da terra

A lenda ocidental, apresenta-o diferentemente: um gigante com mania de grandezas. Servindo um rei poderoso, que, supunha, fosse o maior da terra, deixou-o, quando soube que Satanás era maior e mais poderoso.

Ouvindo qualquer coisa a respeito de Jesus, muitíssimo superior a Satanás, Cristóvão procurou informar-se. Buscou elucidações com um ermitão, e ficou sabendo que Nosso Senhor era absolutamente o reverso do demônio, apreciando os homens pela bondade para com o próximo, não pela grandeza.

São Cristóvão (Guadium Press)

Travessia do rio

Tendo-se fixado à beira de um rio caudaloso, para fazer bem aos semelhantes, propôs-se atravessar de uma margem a outra aqueles que disso necessitavam, valendo-se da força imensa de que era dotado.

Uma noite, um belo menino solicitou os préstimos do gigante. Cristóvão tomou-o nos ombros e iniciou a travessia da corrente.

À medida que avançava pelas águas, mais aquela tenra criaturinha lhe pesava assustadoramente. Que significava aquilo? Como pesava! Era de derrear! Dir-se-ia que levava aos ombros o peso do mundo! E o gigante, arfando e bufando, arrimado no bordão que arcava ao estranho peso, depois de lutar contra a fadiga, todo cansaço, conseguiu atingir a margem oposta, que levara um tempo infindo para ser alcançada.

São Cristóvão (Guadium Press)

Levando Jesus sobre os ombros

Limpando o suor do rosto afogueado, Cristóvão, de narinas dilatadas, sorvendo sofregamente o ar que lhe fugia dos pulmões, exclamou ao menino, já em terra firme:

– O mundo não é mais pesado do que tu!

E o menino, sorrindo-lhe muito docemente, retrucou:

– Tu levaste sobre os ombros, mais do que o mundo todo – levaste o seu Criador! Eu sou o Jesus que tu serves!

Mais tarde, por aquele Jesus que teve a sublime ventura de transportar às costas, o bom gigante inabalavelmente daria a vida, sem se importar com a crueldade dos algozes.

São Cristóvão (Guadium Press)

Padroeiro dos motoristas e viajantes

São Cristóvão, logo, passou a ser invocado pelos condutores de veículos e pelos viajantes, E a fórmula “Christophorum videas, postea tutus eas” tornou-se comum através dos tempos. E aos que iam viajar, para que o fizessem com segurança e sem atrapalhações, aconselhava-se:

– Olha São Cristóvão e vai tranqüilo!

Diz o martirológio, numa síntese:

Na Lícia, São Cristóvão, mártir, que, sob o imperador Décio, tendo sido ferido com varas de ferro e preservado da violência do fogo pelo poder de Jesus Cristo, foi, afinal, atravessado de flechas e recebeu o martírio, pela decapitação.

Fonte: “Vida dos Santos”, Padre Rohrbacher, Volume XIII, p. 341 a 343

https://gaudiumpress.org/

Francisco recebe em audiência a primeira-ministra de Uganda

Francisco com a primeira-ministra de Uganda, Robinah Nabbanja  (Vatican Media)

No encontro com a primeira-ministra Rovina Nabbaja, o Papa se comoveu com a acolhida “generosamente oferecida pelas instituições ugandenses” aos migrantes e refugiados de diversas proveniências, informa a Sala de Imprensa da Santa Sé.

Vatican News

A conversa entre o Papa Francisco e a primeira-ministra de Uganda, Rovina Nabbaja, recebida em audiência, na manhã desta segunda-feira (24/07), durou cerca de vinte minutos. "Entre os temas abordados durante a conversa, o Papa ficou comovido com a acolhida dada aos migrantes e refugiados provenientes não só da África, mas também dos países da Ásia Central, generosamente oferecida pelas instituições ugandenses", informa a Sala de Imprensa da Santa Sé. 

A primeira-ministra ugandense encontrou-se, nesta terça-feira (25/07), com o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, que estava acompanhado pelo secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais, dom Paul Richard Gallagher.

Durante os cordiais colóquios na Secretaria de Estado, foi sublinhada as boas relações entre Santa Sé e Uganda, destacando o papel desempenhado pela Igreja Católica no país. A ocasião foi propícia para discutir temas de interesse comum e trocar ideias sobre a situação da Região.

A troca de presentes com a primeira-ministra de Uganda (Vatican Media)

Os presentes do Papa para a premiê ugandense

Francisco doou a Robinah Nabbaja uma obra de arte em bronze representando uma pomba que carrega um ramo de oliveira, com a escrita "Sejam mensageiros da paz", e também os volumes de documentos papais, a Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, o Documento sobre a Fraternidade Humana e o livro sobre a Statio Orbis de 27 de março de 2020, editado pela Livraria Editora Vaticana.

A obra de bronze doada por Francisco (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Qual dos 12 apóstolos foi o primeiro a sofrer o martírio por Cristo?

São Tiago Maior (Aleteia)

Por Francisco Vêneto

Ele era um dos que Jesus chamava de "filhos do trovão", por conta do caráter forte, enérgico, varonil.

Qual dos 12 apóstolos foi o primeiro a sofrer o martírio por Cristo? Esta foi a pergunta no cerne do recente programa “Encontro com o Pastor“, da Rádio 9 de Julho, pertencente à Arquidiocese de São Paulo. Na edição deste dia 25, o bispo auxiliar dom Carlos Lema Garcia foi o responsável pela condução do programa, já que o cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, estava em viagem ao Vaticano.

Dom Carlos falou da vida e do testemunho do apóstolo São Tiago Maior, cuja festa litúrgica é celebrada pela Igreja no próprio dia 25 de julho. Martirizado por volta do ano 44, ele foi o primeiro dos doze apóstolos a derramar o sangue por amor a Cristo.

Dois Tiagos

São dois os apóstolos de Jesus com esse mesmo nome, recordou o bispo auxiliar de São Paulo: São Tiago Maior, que era irmão de São João Evangelista e filho de Zebedeu e Salomé, uma das mulheres que acompanhavam Jesus; e São Tiago Menor, que foi bispo de Jerusalém e autor da Epístola de São Tiago, uma das cartas que compõem o Novo Testamento.

São Tiago Maior foi um dos três discípulos mais próximos de Jesus, junto com seu irmão João e com São Pedro, o príncipe dos apóstolos. Os três estiveram presentes ao lado do Mestre em situações particularmente privilegiadas, como, por exemplo, a transfiguração de Jesus no Monte Tabor, assim como a oração e a agonia de Jesus no Horto das Oliveiras.

Filhos do trovão

Dom Carlos destacou, evocando a passagem evangélica do chamado de Jesus aos irmãos Tiago e João:

“Ele foi um daqueles que Jesus chamou diretamente quando caminhava ao longo do mar da Galileia. Cristo viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que consertavam as redes, e os chamou”.

O bispo recordou ainda que os dois irmãos ganharam de Cristo o significativo apelido de Boanerges, ou seja, “filhos do trovão”, devido à intensidade do seu caráter forte, enérgico, varonil.

Dom Carlos lembrou também a passagem do Evangelho em que Salomé tentou interceder em favor dos filhos para que eles obtivessem lugar de honra no Reino de Cristo. Nesse episódio, Jesus perguntou aos dois irmãos se estavam dispostos a “beber do mesmo cálice” que Ele beberia, ou seja, se enfrentariam até o fim o próprio derramamento de sangue pelo Mestre.

O primeiro apóstolo mártir

E, de fato, São Tiago Maior bebeu do mesmo cálice da Paixão de Cristo. Ele foi o primeiro dos doze apóstolos a sofrer o martírio pelo Mestre, fiel à pregação salvadora de Jesus. Derramou o sangue sob a tirania do rei Herodes ainda nos primórdios da vida da Igreja.

Era o início dos anos 40 do século I quando Herodes Agripa, neto de Herodes o Grande, “maltratou alguns membros da Igreja e mandou matar à espada Tiago, irmão de João”. Esta informação nos vem de São Lucas, que a registra nos Atos dos Apóstolos (12, 1-2).

Papa Bento XVI comentou a respeito na Audiência Geral de 21 de junho de 2006:

“A notícia tão limitada, privada de qualquer pormenor narrativo, revela, por um lado, o quanto era normal para os cristãos testemunhar o Senhor com a própria vida e, por outro, como Tiago ocupava uma posição de relevo na Igreja de Jerusalém, também devido ao papel desempenhado durante a existência terrena de Jesus”.

“Santiago”, o grande evangelizador da Espanha

O Papa Bento comentou também sobre a tradição que vincula São Tiago à evangelização da Espanha, onde ele é profundamente venerado em um dos santuários mais populares do planeta: o de Santiago de Compostela, cidade que traz o seu nome.

“Uma tradição sucessiva, que remonta pelo menos a Isidoro de Sevilha, narra de uma sua permanência na Espanha para evangelizar aquela importante região do Império Romano. Segundo outra tradição, ao contrário, o seu corpo teria sido transportado para a Espanha, para a cidade de Santiago de Compostela.

Como todos sabemos, aquele lugar tornou-se objeto de grande veneração e ainda hoje é meta de numerosas peregrinações, não só da Europa, mas de todo o mundo. É assim que se explica a representação iconográfica de São Tiago que tem na mão o cajado do peregrino e o rolo do Evangelho, típicos do apóstolo itinerante e dedicado ao anúncio da boa nova, características da peregrinação da vida cristã”.

Dom Carlos Lema finalizou o seu programa exortando os fiéis a seguirem o exemplo de São Tiago Maior e a se perguntarem o que estão entregando a Cristo, além de examinarem a seriedade da própria decisão de amar a Deus até o extremo:

“O exemplo desses apóstolos fica como um sinal de que o amor a Deus deve ser verdadeiro, total, até as últimas consequências”.

A primeira aparição de Nossa Senhora

Vale recordar, nesse contexto, a antiquíssima tradição segundo a qual Nossa Senhora apareceu certa noite ao Apóstolo São Tiago, na Espanha, para encorajá-lo a não esmorecer diante da resistência pagã ao Evangelho. 

Conforme a tradição, a Virgem Santíssima apareceu para São Tiago na região de Caesaraugusta, hoje Saragoça (em espanhol, Zaragoza), acompanhada por um coro de anjos.

Esta seria a primeira aparição de Nossa Senhora – na verdade, uma bilocação, já que ela ainda vivia sobre esta terra naquela época.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

segunda-feira, 24 de julho de 2023

O joio e o trigo

Parábola do joio e do trigo (rumoasantidade)

EVANGELHO – Mt 13,24-43

MENSAGEM

A primeira parábola que nos é proposta é a parábola do trigo e do joio (vers. 24-30). Trata-se de um quadro da vida quotidiana: há um “senhor” que semeia boa semente no seu campo, um “inimigo” que semeia o joio (nome de uma erva gramínea que nasce entre o trigo e o danifica) e “servos” dedicados, preocupados com o futuro da colheita. Tudo parece normal; o anormal é a reação do “senhor” à “crise”: dá ordens para que deixem crescer trigo e joio lado a lado e que só na altura da ceifa seja feita a seleção do bom e do mal, do que é para queimar e do que é para guardar nos celeiros.
A parábola deve ser entendida no contexto do ministério de Jesus. Ele conviveu com os pecadores, com os marginais, com os que levavam vidas moralmente condenáveis. Sentou-se à mesa com gente desclassificada, deixou-se tocar por pecadoras públicas, convidou um publicano a integrar o seu grupo de discípulos… Com esse comportamento “escandaloso”, Ele quis dizer a todos esses que a religião oficial excluía, que Deus os amava e que os convidava a fazer parte da sua família, a integrar a comunidade da salvação, a serem membros de pleno direito da comunidade do “Reino”.
Os fariseus consideravam inaceitável a atitude de Jesus. Para eles, quem não cumpria a Lei tinha de ser excluído do Povo santo de Deus e não tinha o direito de fazer parte do “campo” de Deus. A “lógica” dos fariseus condiz com a “lógica” de Deus?
Nesta parábola, Jesus pretende dar-nos uma lição sobre a “lógica” de Deus. Sugere que a “lógica” de Deus não é uma “lógica” de destruição, de segregação, de exclusão, mas é uma “lógica” de amor, de misericórdia, de tolerância. O Deus de Jesus Cristo é um Deus paciente e misericordioso, lento para a ira e rico de misericórdia, que dá sempre ao homem todas as oportunidades para refazer a existência e para integrar plenamente a comunidade do “Reino”. Ele tem um plano de salvação e de graça que oferece gratuitamente a todos os homens, bons e maus; depois, no tempo oportuno, ver-se-á quem são os maus e quem são os bons. De resto, não é muito fácil separar o bom e o mau, porque as duas realidades coexistem em todos os “campos”, em todos os corações.
O “senhor” da parábola é esse Deus paciente, que dá ao homem todas as oportunidades, que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.
Os “servos” com excesso de zelo são os crentes (que trabalham no campo do “senhor”) rígidos e intolerantes, incapazes de olhar o mundo e o coração dos homens com a bondade, a serenidade e a paciência de Deus.
O “campo” é o mundo e a história, onde coexistem
o trigo (os sinais de esperança, de vida, de amor que tornam este mundo mais belo e mais feliz) e o joio (os sinais de morte, responsáveis pelo sofrimento, pela opressão, pela escravidão). É também o coração de cada homem e de cada mulher, capaz de opções de vida e capazes de opções de morte.
Jesus garante: os métodos de Deus não passam pelo castigo imediato, pela intolerância face às opções dos homens, pela incompreensão dos erros dos seus filhos; os métodos de Deus passam por deixar os homens crescer em liberdade, integrando a comunidade dos filhos de Deus.
Nos vers. 36-43, temos a aplicação que Mateus faz da parábola do trigo e do joio à vida da sua comunidade.
Nesta “explicação”, o eixo central da parábola original passa a ser outro. A problema já não é se na “lógica” de Deus o trigo e o joio podem crescer juntos, mas é a questão do “juízo” que espera bons e maus: Mateus insiste que, no “dia da colheita” (imagem que, nos profetas, se identifica com o dia do “juízo de Deus” sobre os homens e o mundo), os bons receberão a recompensa e os maus receberão o castigo.
Estamos nos finais do séc. I (década de 80). Já passou o entusiasmo dos primeiros anos; a vida das comunidades cristãs é marcada pela monotonia, pela falta de entusiasmo e empenho, pela mediocridade, pelo laxismo. Os cristãos aburguesaram-se e nem sempre vivem de forma empenhada e comprometida a sua fé. Como despertar de novo nos crentes o entusiasmo inicial?
Mateus vai usar os métodos dos pregadores do seu tempo… Recorrendo à linguagem e aos símbolos da apocalíptica, Mateus lembra aos cristãos da sua comunidade o juízo futuro de Deus. Os símbolos utilizados (o joio queimado no fogo, a fornalha ardente, o choro e o ranger de dentes) destinam-se a impressionar os crentes, a obrigá-los a inflectir os seus esquemas de vida e a voltar à fidelidade ao Evangelho. Portanto, não temos aqui uma descrição de como será o “fim do mundo”; o que temos aqui é um convite urgente e emocionado à conversão, ao aprofundamento do compromisso com Jesus e com o Evangelho.
O Evangelho deste domingo propõe-nos ainda duas outras parábolas: a parábola do grão de mostarda (vers. 31-32) e a parábola do fermento (vers. 33). São duas parábolas muito semelhantes, quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma.
Numa e noutra, o quadro é o mesmo: sublinha-se a desproporção entre o início e o resultado final. O grão de mostarda é uma semente muito pequena, que no entanto pode dar origem a um arbusto de razoáveis dimensões; o fermento apresenta um aspecto perfeitamente insignificante, mas tem a capacidade de fermentar uma grande quantidade de massa. Estas duas comparações servem para apresentar o dinamismo do “Reino”. O “Reino” anunciado por Jesus compara-se ao grão de mostarda e ao fermento: parece algo insignificante, que tem inícios muito modestos e humildes, mas contém potencialidades para encher o mundo, para o transformar e renovar. Trata-se de um dinamismo de vida nova que começa como uma pequena semente lançada à terra numa província obscura e insignificante do império romano, mas que vai lançar as suas raízes, invadir história dos homens e potenciar o aparecimento de um mundo novo.
Com estas parábolas, Jesus responde às objecções daqueles que não acreditavam que da mensagem de um carpinteiro de Nazaré, pudesse surgir uma proposta de vida, capaz de fermentar o mundo e a história. Ele garante-nos que o “Reino” é uma realidade irreversível, que veio para ficar e para transformar o mundo. Escutar estas parábolas é receber uma injeção de ânimo e de esperança, capaz de levar a um compromisso mais sério e mais exigente com o “Reino”.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes dados:

• O Evangelho deste domingo garante-nos, antes de mais, que o “Reino” é uma realidade irreversível, que está em processo de crescimento no mundo. É verdade que é difícil perceber essa semente a crescer ou esse fermento a levedar a massa, quando vemos multiplicarem-se as violências, as injustiças, as prepotências, as escravidões… É difícil acreditar que o “Reino” está em processo de construção, quando o materialismo, a futilidade, o comodismo, a procura da facilidade, o efémero sobressaem, de forma tão marcada, na vida de grande parte dos homens e das mulheres do nosso tempo… A Palavra de Deus convida-nos, contudo, a não perder a confiança e a esperança. Apesar das aparências, o dinamismo do “Reino” está presente, minando positivamente a história e a vida dos homens.

• Na verdade, falar do “Reino” não significa falarmos de um “condomínio fechado”, ao qual só tem acesso um grupo privilegiado constituído pelos “bons”, pelos “puros”, pelos perfeitos”, e de onde está ausente o mal, o egoísmo e o pecado… Falar do “Reino” é falar de uma realidade em processo de construção, onde cada homem e cada mulher têm o direito de crescer ao seu ritmo, de fazer as suas escolhas, de acolher ou não o dom de Deus, até à opção final e definitiva. É falarmos de uma realidade onde o amor de Deus, vivo e atuante, vai introduzindo no coração do homem um dinamismo de conversão, de transformação, de renascimento, de vida nova.

• Neste Evangelho temos também uma lição muito sugestiva sobre a atitude de Deus face ao mal e aos que fazem o mal. Na parábola do trigo e do joio, Jesus garante-nos que os esquemas de Deus não preveem a destruição do pecador, a segregação dos maus, a exclusão dos culpados. O Deus de Jesus Cristo é um Deus de amor e de misericórdia, sem pressa para castigar, que dá ao homem “todo o tempo do mundo” para crescer, para descobrir o dom de Deus e para fazer as suas escolhas. Não percamos nunca de vista a “paciência” de Deus para com os pecadores: talvez evitemos ter de carregar sentimentos de culpa que oprimem e amarguram a nossa breve caminhada nesta terra.

• A “paciência de Deus” com o joio convida-nos também a rejeitarmos as atitudes de rigidez, de intolerância, de incompreensão, de vingança, nas nossas relações com os nossos irmãos. O “senhor” da parábola não aceita a intolerância, a impaciência, o radicalismo dos “servos” que pretendem “cortar o mal pela raiz” e arrancar o mal (correndo o risco de serem injustos, de se enganarem e de meterem mal e bem no mesmo saco). Às vezes, somos demasiados ligeiros em julgar e condenar, como se as coisas fossem claras e tudo fosse, sem discussão, claro ou escuro… A Palavra de Deus convida-nos a moderar a nossa dureza, a nossa intolerância, a nossa intransigência e a contemplar os irmãos (com as suas falhas, defeitos, diferenças, comportamentos religiosa ou socialmente incorretos) com os olhos benevolentes, compreensivos e pacientes de Deus.

• Convém termos sempre presente o seguinte: não há o mal quimicamente puro de um lado e o bem quimicamente puro do outro… Mal e bem misturam-se no mundo, na vida e no coração de cada um de nós. Dividir as nações em boas (as que têm uma política que serve os nossos interesses) e más (as que têm uma política que lesa os nossos interesses), os grupos sociais em bons (os que defendem valores com os quais concordamos) e maus (os que defendem valores que não são os nossos), os indivíduos em bons (os amigos, aqueles que nos apoiam e que estão sempre de acordo conosco) e maus (aqueles que nos fazem frente, que nos dizem verdades que são difíceis de escutar, que não concordam conosco)… é uma atitude simplista, que nos leva frequentemente a assumir atitudes injustas, que geram exclusão, marginalização, sofrimento e morte. Mais uma vez: saibamos olhar para o mundo, para os grupos, para as pessoas sem preconceitos, com a mesma bondade, compreensão e tolerância que Deus manifesta face a cada homem e a cada mulher, independentemente das suas escolhas e do seu ritmo de caminhada.

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)

(Parte)
Fonte: www.dehonianos.org

É normal a pessoa sentir medo?

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Por Julia A. Borges

Há uma frase de Santa Teresa Benedita da Cruz que assim diz: “Ter coragem é ir com medo”. Entenda:

Viver é a maior aventura do ser humano, é a experiencia na qual ninguém pede para participar, mas uma vez já estando nela, não há mais a vontade de sair, mesmo com tantos contratempos. A vida desafia, inquieta qualquer capacidade de raciocínio, e convida, muitas e muitas vezes, a ir além da vontade própria, do intuitivo, ou até mesmo do trivial. Viver é estar constantemente entregue às penosas provações que atestam a nossa frágil condição humana. Essa vulnerabilidade, no entanto, é motivo de desagrado ou de vexaminoso para alguns que tentam, custosamente, desafiar o mundo com o único intuito de mostrar que não possuem medo; como gigantes e superiores.

Há uma frase de Santa Teresa Benedita da Cruz que assim diz: “Ter coragem é ir com medo”. Assim como um mundo livre de ameaças não existe, a faculdade do medo presente no ser humano não está lá inutilmente, há um propósito, já que esse sentimento gera uma prudência que possibilita, em vários momentos, o uso racional de nossas habilidades, e possuidores dessa cautela, passamos a ser mais responsáveis pelas nossas ações. Porque, o que se deve entender é que o problema nunca foi sentir medo, mas sim, parar nele, findando com o potencial de ir além, de prosseguir, de evoluir. 

Se o medo faz parte da natureza humana, não será lutando contra ele que venceremos, nem, tampouco, tentando eliminá-lo de nossas vidas; mas devemos ser capazes de entendê-lo e analisá-lo para que através dele, agir com sabedoria e moderação. Afinal, aniquilar tal sentimento colocaria o indivíduo sujeito a situações bem perigosas e que teriam sido evitadas se tivesse feito maiores ponderações. A fraqueza não se encontra na esfera do medo, mas na esfera da desistência. 

Algo a temer

Eis uma coisa apropriada a se temer: o pecado e o que ele faz conosco, individual e coletivamente. Muitos não prestam atenção nisso. Correm para os negócios e vivem despreocupados sobre onde passarão a eternidade. Temem perder a saúde, a ruína financeira e o envelhecimento, coisas sobre as quais o Senhor diz: “Não temas”. Preocupam-se com seus corpos, mas não com suas almas. E deixam de temer a única coisa que deveriam: a proximidade do dia do juízo. 

Quando pequenos, sentimos medo de nossos pais brigarem conosco, sabemos que devemos obedecer suas imposições para que não venham nos censurar depois. O respeito, neste momento da vida, ainda é pelo medo; mas, com o tempo, vamos criando maiores capacidades de compreensão e nosso amor por eles vai se tornando mais e mais real, então, a partir daí, seus pedidos e exigências vão sendo atendidos pelo respeito. Assim também é na relação com Deus: à medida que amadurecemos na fé, esse temor por Jesus deve passar a ser um medo amoroso, pelo qual O temos em grande estima, em vez de nos encolhermos com pavor da punição.

Somos chamados a usar a sabedoria para uma verdadeira união em Cristo, e para tal, é importante entender a nossa capacidade humana, nossa limitação e a inevitável condição do medo, sentimento com o qual devemos conviver diariamente, mas se interpretado com inteligência, saberemos fazer de cada nova circunstância um meio de estar mais próximo de Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Dia Mundial dos Avós e das Pessoas Idosas

Dia Mundial dos Avós e das Pessoas Idosas (vidaefamilia)

DIA MUNDIAL DOS AVÓS E DAS PESSOAS IDOSAS

Dom Jaime Vieira Rocha 
Administrador Apostólico de Natal (RN)

Prezados/as leitores/as! 

Sua misericórdia se estende de geração em geração (cf. Lc 1, 50) 

Esse é o tema escolhido pelo Papa Francisco para o 3º Dia Mundial dos Avós e das Pessoas Idosas, a ser comemorado no próximo dia 23 de julho. O Dia dos Avós e das Pessoas Idosas foi instituído pelo Papa Francisco em 2021. Essa comemoração, instituída pelo Francisco para celebrar os avós e idosos no mês em que a Igreja faz memória de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora e avôs de Jesus, tem o sentido de expressar a atenção, o respeito e o cuidado com aqueles que nos apresentam um caminho de vida cheio de sabedoria. Em sua mensagem, o Papa Francisco ressalta a proximidade dessa comemoração com a Jornada Mundial da Juventude, propondo aquela relação sadia dos jovens e dos idosos: “Neste ano, regista-se uma proximidade estupenda entre a celebração do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos e a Jornada Mundial da Juventude; no tema de ambas, sobressai a ‘pressa’ de Maria (cf. 1, 39) quando visita Isabel, levando-nos assim a refletir sobre a ligação entre jovens e idosos. O Senhor espera que os jovens, ao encontrar os idosos, acolham o apelo a guardar as memórias e reconheçam, graças a eles, o dom de pertencerem a uma história maior”.   

Essa relação deve levar-nos à bela experiência do encontro, da atenção e do reconhecimento da graça divina, presente nos jovens e nos idosos. Justificando a escolha do tema, dentro da relação da Mãe de Jesus com a Mãe do João Batista, o Papa reconhece: “O tema leva-nos a um encontro abençoado: o encontro entre Maria, jovem, e sua parente Isabel, idosa (cf. Lc 1, 39-56). Esta, cheia de Espírito Santo, dirige à Mãe de Deus palavras que, dois milénios depois, cadenciam a nossa oração diária: ‘Bendita és Tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre’ (1, 42). E o Espírito Santo, que já tinha descido sobre Maria, sugere-Lhe como resposta o Magnificat, onde proclama que a misericórdia do Senhor se estende de geração em geração. O Espírito Santo abençoa e acompanha todo o encontro fecundo entre gerações diversas, entre avós e netos, entre jovens e idosos”. O Papa ainda ressalta que o no encontro da jovem Maria com a idosa Isabel manifestou-se a salvação: “No encontro entre Maria e Isabel, entre jovens e idosos, Deus dá-nos o seu futuro. Na realidade, o caminho de Maria e o acolhimento de Isabel abrem as portas à manifestação da salvação: através do seu abraço, a misericórdia irrompe, com alegre mansidão, na história humana”. 

Por fim, o grande apelo de Papa Francisco, uma expressão de seu coração cheio de ternura para com os idosos e os jovens: “A vós, jovens, que estais a preparar-vos para partir para Lisboa ou que vivereis a Jornada Mundial da Juventude na própria localidade, quero dizer: antes de sair para a viagem, ide visitar os vossos avós, fazei uma visita a um idoso sozinho. A sua oração proteger-vos-á e levareis no coração a bênção daquele encontro. A vós, idosos, peço para acompanhardes com a oração os jovens que estão prestes a celebrar a JMJ. Aqueles jovens são a resposta de Deus aos vossos pedidos, o fruto daquilo que semeastes, o sinal de que Deus não abandona o seu povo, mas sempre o rejuvenesce com a criatividade do Espírito Santo”. 

Celebremos esse dia – Dia Mundial dos Avós e das Pessoas Idosas – com grande alegria, com gratidão e peçamos ao Senhor Deus que nos dê sempre um coração generoso, agradecido pelo dom imenso dos avós e das pessoas idosas. Eles são a maturidade da vida que todos necessitamos de contemplar. Jovens, tenham paciência com as pessoas idosas. Idosos não deixem de transmitir a todos, especialmente aos jovens, a força, o vigor e a grande esperança de que todos eles possam viver em dignidade, em generosidade e grande partilha de coração, de amor. À Pastoral da Pessoa Idosa, presente em nossas paróquias, concedo minha bênção e as mais cordiais congratulações pelo trabalho realizado em favor das pessoas idosas.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF