Translate

domingo, 30 de julho de 2023

Reflexão para o XVII Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho do domingo (Vatican Media)

A parábola de Mateus apresentada hoje pela liturgia, termina com o relato do discernimento feito pelos pescadores que “recolhem os peixes bons nos cestos e jogam fora os que não prestam.”

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

Na primeira leitura extraída do Primeiro Livro dos Reis, fica muito claro a sabedoria de Salomão não apenas pelo conteúdo de sua oração, mas pelo modo como se dirige a Deus. No seu modo de falar com o Senhor, fica explícita sua humildade e a consciência de seu lugar: apesar de rei, diante de Deus ele é servo.

Ele também demonstra sabedoria ao não se sentir proprietário do povo, mas condutor do rebanho que pertence a Deus.

Finalmente ele pede sabedoria para praticar a justiça. Deus não só aceita a oração de Salomão, mas o abençoa com o dom do discernimento em um coração sábio e inteligente.

A parábola de Mateus apresentada hoje pela liturgia, termina com o relato do discernimento feito pelos pescadores que “recolhem os peixes bons nos cestos e jogam fora os que não prestam.”

Jesus, ao falar do Reino dos Céus o comparou a “uma rede lançada ao mar e que apanha todo tipo de peixe”.  Nossa atitude em relação ao Reino, aos seus valores, nos identificará como bons ou não. Até onde somos capazes de renúncias, mudanças de vida, despojamento por causa do Reino, por causa de justiça?

A segunda leitura nos fala de nossa predestinação à felicidade plena.

Deus nos criou para sermos salvos, para agirmos neste mundo em favor da justiça e da paz, como cidadãos do Reino que virá, ou melhor, que já está instaurado neste mundo através da ação dos homens de boa vontade, daqueles que são imagem de Cristo.

Concluindo, podemos tirar para nossa vida que a sabedoria, o discernimento estão presentes no coração daqueles que se sentem servos diante de Deus e dos irmãos, daqueles que possuem e lutam pelos valores do Reino, daqueles que lutam pela justiça e pela paz. Esses confirmam a predestinação para o Céu, pois são no mundo imagem e semelhança de Cristo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Pedro Crisólogo

São Pedro Crisólogo (Guadium Press)

30 de julho, a Igreja lembra a memória de São Pedro Crisólogo, que tinha este nome por ter se destacado principalmente pelo dom da pregação.

Redação (30/07/2022 10:01, Gaudium Press) São Pedro Crisólogo, que significa “palavra de ouro”, como São João Crisóstomo, “boca de ouro”, são cognomes com que a Igreja, até hoje, aclama a oratória desses grandes homens. Eram eles herdeiros ainda da antiga oratória grega e romana, mas, com a incisão ardentíssima do espírito católico, produziram obras de um voo de conteúdo e de linguagem que os tornaram imortais.

São Pedro Crisólogo nasceu em Ímola, não muito distante de Roma, no ano 380. Tornou-se o primeiro bispo ocidental a ocupar a diocese de Ravena, em 424, sendo consagrado pessoalmente pelo Papa Xisto III.

Pedro Crisólogo mostrou-se logo bom pastor, prudente e sem ambiguidades doutrinais. Humildes e poderosos escutava-os ele com igual condescendência e caridade. A imperatriz Gala Placídia o teve como conselheiro e amigo.

Foi considerado um dos maiores pregadores da história da Igreja, e escreveu, no total, cento e setenta e seis homilias de cunho popular, proporcionando incontáveis conversões. Também defendeu a autoridade do Papa, então Leão I, o Grande, sobre a questão monofisita, que pregava Cristo em uma só natureza.

São Pedro Crisólogo tinha este nome por ter se destacado principalmente pelo dom da pregação – Crisólogo significa ‘O homem da palavra de ouro’ (este cognome lhe foi dado a partir do séc. IX).

Pedro Crisólogo morreu numa data incerta, mas ele é venerado pela Igreja no dia 30 de julho de 450, data mais provável do seu falecimento.

Frases de São Pedro Crisólogo

Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos.

Cristo é o Reino que, como grão de mostarda plantado no jardim de um corpo virginal propagou-Se por todo o orbe na árvore da Cruz, e foi tão grande o sabor de Seu fruto que se consumiu com a Paixão, para que todo vivente o deguste e com ele se alimente.

Sem a graça de Deus e sua intervenção direta, ninguém teria forças para resistir à sanha do demônio, pois, como diz São Pedro Crisólogo, sua insaciável crueldade “não se conforma com que os homens se tornem indignos, mas faz com que sejam também promotores de vícios e mestres da delinquência”.

Oração

Ó São Pedro Crisólogo, que dominastes vossas paixões e vos agarrastes à fé em Jesus Cristo para conseguirdes perseverar nas virtudes que vos levaram à santidade, intercedei por nós para que também sejamos perseverantes e entusiasmados tal como o fostes, na exortação aos nossos irmãos que distantes se encontram da Verdade.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

sábado, 29 de julho de 2023

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

Santa Marta (liturgiadashoras)

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 
(Sermo 103, 1-2. 6: PL 38, 613.615) (Séc.V)

Felizes os que mereceram receber a Cristo em sua casa

As palavras de nosso Senhor Jesus Cristo nos advertem que, em meio à multiplicidade das ocupações deste mundo, devemos aspirar a um único fim. Aspiramos porque estamos a caminho e não em morada permanente; ainda em viagem e não na pátria definitiva; ainda no tempo do desejo e não na posse plena. Mas devemos aspirar, sem preguiça e sem desânimo, a fim de podermos um dia chegar ao fim.

Marta e Maria eram irmãs, não apenas irmãs de sangue, mas também pelos sentimentos religiosos. Ambas estavam unidas ao Senhor; ambas, em perfeita harmonia, serviam ao Senhor corporalmente presente. Marta o recebeu como costumam ser recebidos os peregrinos. No entanto, era a serva que recebia o seu Senhor; uma doente que acolhia o Salvador; uma criatura que hospedava o Criador. Recebeu o Senhor para lhe dar o alimento corporal, ela que precisava do alimento espiritual. O Senhor quis tomar a forma de servo e, nesta condição, ser alimentado pelos servos, por condescendência, não por necessidade. Também foi por condescendência que se apresentou para ser alimentado. Pois tinha assumido um corpo que lhe fazia sentir fome e sede.

Portanto, o Senhor foi recebido como hóspede, ele que veio para o que era seu, e os seus não o acolheram. Mas, a todos que o receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,11-12). Adotou os servos e os fez irmãos; remiu os cativos e os fez co-herdeiros. Que ninguém dentre vós ouse dizer: Felizes os que mereceram receber a Cristo em sua casa! Não te entristeças, não te lamentes por teres nascido num tempo em que já não podes ver o Senhor corporalmente. Ele não te privou desta honra, pois afirmou: Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes (Mt 25,40).

Aliás, Marta, permite-me dizer-te: Bendita sejas pelo teu bom serviço! Buscas o descanso como recompensa pelo teu trabalho. Agora estás ocupada com muitos serviços, queres alimentar os corpos que são mortais, embora sejam de pessoas santas. Mas, quando chegares à outra pátria, acaso encontrarás peregrinos para hospedar? encontrarás um faminto para repartires com ele o pão? um sedento para dares de beber? um doente para visitar? um desunido para reconciliar? um morto para sepultar? Lá não haverá nada disso. Então o que haverá? O que Maria escolheu: lá seremos alimentados, não alimentaremos. Lá se cumprirá com perfeição e em plenitude o que Maria escolheu aqui: daquela mesa farta, ela recolhia as migalhas da palavra do Senhor. Queres realmente saber o que há de acontecer lá? É o próprio Senhor quem diz a respeito de seus servos: Em verdade eu vos digo: ele mesmo vai fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá (Lc 12,37).

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

O verdadeiro e autêntico significado do matrimônio

lotsostock I Shutterstock

Por Hozana

O matrimônio é a realidade central de toda a revelação divina, e encerra em si tudo o que Deus deseja transmitir para a pessoa humana.

A modernidade tem produzido, há séculos, ideologias nefastas e perniciosas para a alma e para o ser do homem. A suposta “liberdade” insuflada pelo discurso moderno, aliada ao relativismo, ao utilitarismo, ao niilismo e ao materialismo, tem produzido um homem que se auto-degenera e se consome, desde quando escolheu afastar-se dos universais, e da busca pela verdade.

Uma das consequências desse estado de atual putrefação da consciência do homem é a depreciação e o menosprezo pelo real sentido da instituição familiar.

Seduzido por toda a sorte de convicções e filosofias que esvaziam, por séculos, a real dimensão e importância da família, o homem se vê cada vez mais estimulado e encorajado a viver sem laços familiares verdadeiros, o que vem produzindo, por décadas, famílias cada vez menos numerosas e a escalada absurda do número de divórcios.

A modernidade e o seu feitiço, que se apresenta como a Thémis libertadora do homem, aquela que o conduzirá para felicidade e para o mundo livre, na verdade, não passa de uma carcereira que o tornou cativo, e um cativo que não sabe mais o que é ser livre, e vive acreditando ser livre, quando na verdade está preso em sua própria miséria e solidão.

Encontramos na Teologia do Corpo de São João Paulo II, ela que foi construída pelos princípios da antropologia teológica adâmica, as raízes do fracasso humano na tentativa de ser livre, libertando-se daquilo que, verdadeiramente, o faz completo e livre.

O matrimônio, indissolúvel, que representa o retorno da mulher para dentro do homem, e faz com que ele não se sinta mais só, tem sido cada vez mais achincalhado e trucidado, o que tem carregado o homem, a largos passos, para o abismo da solidão, e para o precipício da morte.

Na criação do homem e de seu corpo humano existe um casamento, na redenção do homem através do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo existe um casamento, e na ressurreição do corpo humano para a vida eterna, também, existe um casamento.

O matrimônio está presente no início, no meio, e no fim do homem. E é por isso que o matrimônio é a coroa de todos os temas das Sagradas Escrituras. Ele é a realidade central de toda a revelação divina, e encerra em si tudo o que Deus deseja acima de tudo transmitir para a pessoa humana, através de Cristo. Ou seja, que Ele nos ama de uma maneira tão intensa e absoluta que deseja ser “um” conosco, na carne, e por meio de seu Filho, Jesus Cristo.

Deus, ao nos criar à sua imagem e semelhança, gravou em nossos corpos o dom de amar como Ele nos ama. E, como iremos compreender no retiro, Deus fez isso através de um Casamento.

Toda a revelação cristã por ser resumida em uma só assertiva: “Deus quer se casar conosco”. E é exatamente isso que nos ensina São Paulo quando escreve aos Efésios. Qual é o verdadeiro significado do matrimônio, então? O matrimônio terreno é a estrada que nos conduz até esse matrimônio último e celeste, onde nos casaremos com o próprio Criador.

No retiro online “São João Paulo II, pelos casamentos e pelas famílias”, faremos um convite à compreensão do mais profundo significado desse sacramento primordial. Vamos refletir, a partir de toda a beleza da Teologia do Corpo de São João Paulo II, sobre qual é o verdadeiro sentido do matrimônio, da sexualidade, do amor e da própria existência da pessoa humana.

Venha redescobrir o amor e viver a plenitude do matrimônio cristão! Clique aqui para se inscrever no retiro.

A graça e a paz! Salve Maria! E que Deus esteja conosco.

Maycon A. Penizolo, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (11/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

CARD. Alfons M. Stickler

        6. Motivos da nova disciplina adotada: a mudança dos textos:

Os Padres do Concílio II Trullano não podiam encontrar nos seus documentos motivos para a distinção entre as duas posições. Provavelmente não queriam fazer referência ao Antigo Testamento porque, como já vimos, nos argumentos ocidentais e, sobretudo nas disposições dos Romanos Pontífices a favor da completa continência se rejeitava explicitamente e com razoes convincentes este paralelismo, como inadequado em relação ao sacerdócio do Novo Testamento. Mas tinham menos motivos ainda para apelar à legislação imperial, que havia antecipado às decisões eclesiásticas ante uma situação possivelmente já generalizada. 

Posto que em Constantinopla tivesse consciência da falsidade do relato de Pafnucio, não restava mais possibilidade para recorrer a testemunhos da antiguidade cristã, que não procedesse da Igreja de Constantinopla, mas de uma Igreja vizinha à deles, cujos cânones disciplinares tinham sido já incluídos no próprio Código geral. Assim havia sucedido com os cânones do Código africano que tratavam expressamente da continência clerical e também faziam referência aos Apóstolos e à tradição antiga da Igreja. 

Uma vez que tais cânones afirmavam a mesma disciplina, isto é, da completa continência, para bispos, sacerdotes e diáconos, devia ser modificado o texto autêntico dos cânones africanos. Não era algo perigoso, pois no Oriente realmente muito poucos podiam verificar o latim genuíno do texto original. 

Deste modo as palavra do cânon 3 de Cartago: “gradus isti tres (…) episcopos, presbyteros et diaconos (…) continentes in omnibus”, foram substituídos no cânon 13 do Concílio Trullano por estas outras: “subdiaconi (…) diaconi et presbyteri secundum easdem rationes a consortibus se abstineant”, sendo que as palavras “easdem rationes”, opostas às palavras do texto original de Cartago, representavam as mudanças introduzidas pelos Padres trullanos.

Mas em todos estes textos, documentalmente manipulados, se conserva, ou melhor, se busca a referência aos Apóstolos e à Igreja antiga para dar ao celibato bizantino e oriental, através destes testemunhos autorizados, o mesmo fundamento que tinha a tradição ocidental, explicitamente indicado por ela em Cartago e noutros lugares. 

Que podemos dizer diante deste procedimento trullano? Os Padres orientais se sentiam, não há dúvidas, autorizados para decretar disposições particulares para a Igreja bizantina, posto que desde muito tempo antes haviam insistido em sua autonomia jurídica no âmbito da administração e da disciplina. Somente se sentiam obrigados pelas decisões doutrinais da Igreja universal, estabelecidas em Concílios Ecumênicos nos quais também eles tinham participado. Pode-se, desde já, reconhecer naqueles Padres – que estabeleciam as normas de validade geral na sua Igreja – o direito de levar em conta só a situação de fato na questão do celibato dos ministros sagrados, para a que viam possibilidade de reforma frutuosa. Que isto fosse possível em um campo no que, como o caso do celibato, está implicada a Igreja universal é outra questão. Mas o que sem dúvida podemos negar é o direito a fazê-lo com este método: ou seja, mediante uma manipulação dos textos que transforma a verdade na sua contrária. 

Para a Igreja Católica ocidental esta atitude dos Padres trullanos pode ser considerada com uma prova a mais, e não sem importância, a favor da própria tradição celibatária, que se considera apostólica e se fundamenta realmente sobre uma consciência comum à Igreja universal antiga; por isso a tradição celibatária ocidental deve ser considerada verdadeira e justa. 

Devemos ainda nos perguntar o que diz a história sobre essa mudança dirigida a obter uma base de apoio para as novas e até agora definitivas obrigações do celibato na Igreja oriental. Os comentários dos canonistas da Igreja bizantina a essa leitura dos cânones africanos permitem compreender que conheciam o texto original autêntico, e que desde o século XVI em adiante – como, por exemplo o comentário de Mateo Blastares – recolhiam dúvidas sobre a exatidão das referências dos Padres do Concílio Trullano II aos textos africanos. Os intérpretes modernos das disposições trullanas sobre o celibato admitem a inexatidão das referências, mas ao mesmo tempo afirmam que o Concílio tinha autoridade para mudar qualquer lei disciplinar para a Igreja bizantina, e para adaptá-la às condições dos tempos. Fazendo uso desta autoridade podiam também mudar o sentido original dos textos para fazê-los concordar com o parecer e a vontade do próprio Concílio. Mas com toda certeza não era objetivamente lícito alterar o original atribuindo a esse uma autenticidade falsa. 

A historiografia do Ocidente reconheceu há muito tempo e se manifestou também por escrito desde o século XVI a manipulação feita pelo Concílio Trullano II, sobre os textos africanos referidos à continência dos ministros sagrados. Cito, por exemplo, a Barônio e, sobretudo, aos editores das diversas coleções de textos conciliares, entre os quais se destaca J. D. Mansi. 

Falta-nos ainda fazer uma referência às marcas da disciplina genuína disciplina celibatária antiga que permaneceu até nossos dias na nova disciplina trullana, quer dizer, à constante preocupação da Igreja pelo perigo grave e contínuo para os ministros sagrados e sua continência, que é a coabitação com mulheres que estejam acima de qualquer suspeita. Seguindo ao já referido cânone 3 do Concílio de Nicéia, de 325, os mesmos cânones trullanos, examinados anteriormente, tratam dele repetidamente. Semelhante preocupação se deve somente pela solicitude geral para salvaguardar a castidade e a continência dos ministros sagrados em ambas as Igrejas. 

O fato de haver conservado para os bispos da Igreja oriental a mesma severa disciplina sobre a continência que se praticou sempre em toda a Igreja, pode ser considerada como um resíduo na legislação trullana de uma tradição que sempre considerou unidos a todos os graus da Ordem Sagrada numa mesma obrigação de completa continência.  

Também não se compreende por que se conservou, com todo rigor, na Igreja oriental a condição de admitir um único matrimônio entre os candidatos ao sacerdócio casados. Como já vimos (e veremos mais detalhadamente) essa condição tem só um significado razoável em função de um empenho definitivo na continência completa. 

É ainda pouco compreensível a proibição absoluta de se contrair matrimônio depois da sagrada Ordenação, que se mantém ainda quando aos ministros sagrados, desde o sacerdote até abaixo, lhes está permitido o uso do matrimônio. 

Ao que se refere às inovações oficialmente introduzidas pelo Concílio Trullano na questão da continência dos clérigos, que reconduzem o conceito neo-testamentário do ministro sagrado ao conceito levítico do Antigo Testamento, devemos nos perguntar como se podia continuar fazendo isso quando o serviço efetivo do altar se estendeu, também na Igreja oriental, a todos os dias da semana. Se fossem consideradas as razões adotadas para o uso do matrimônio por parte dos sacerdotes vétero-testamentário, deveria ter voltado à completa continência completa dos sacerdotes, diáconos e sub-diáconos tal como se praticava no Ocidente, em atenção às disposições do mesmo Concílio Trullano. Mas isto não se fez em nenhuma parte e desse modo o serviço do altar e o ministério do Santo Sacrifício foram desligados da continência, apesar de que sempre haviam estado unidos a ela, pois eram considerados seu motivo último. 

Nas Igrejas particulares unidas à bizantina, que aceitaram a disciplina trullana, não se verificou nos séculos seguintes nenhuma mudança na práxis do celibato dos ministros sagrados. Às comunidades orientais que se uniram a Roma foi concedido poder continuar na sua tradição celibatária diferente. Mas o retorno dos “uniatas” à práxis latina de continência completa não só não encontrou oposição, mas também foi positiva e favoravelmente aceita. O reconhecimento da diversidade de disciplina concedido pelas autoridades centrais de Roma pode ser considerado como um nobre respeito, mas dificilmente como aprovação oficial da mudança da antiga disciplina da continência. Esta opinião parece estar sustentada pela reação oficial que teve a Santa Sé frente ao Concílio Trullano II, como já assinalamos anteriormente. 

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

JMJ - Encontro de Jovens e de cultura, pela fé

JMJ Lisboa 2023 (Canção Nova)

JMJ – ENCONTRO DE JOVENS E DE CULTURAS, PELA FÉ

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Tendo como lema, “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39), terá início no dia primeiro de agosto a XXXVII Jornada Mundial da Juventude (JMJ), na cidade de Lisboa, em Portugal. A citação bíblica escolhida pelo Papa Francisco faz referência à atitude da Virgem de Nazaré, que depois da “Anunciação” do Anjo Gabriel, sabendo que sua prima, já em idade avançada, esperava o nascimento de um filho, pôs-se a caminho para servir a Isabel.  

Essa Jornada Mundial da Juventude, em Portugal, mais precisamente na cidade de Lisboa, tem um caráter particular e familiar para os brasileiros, por questões linguísticas, históricas e religiosas. É a terra de um povo com uma forte identidade religiosa cristã, o berço de Santo Antônio, de Santa Isabel de Portugal e das aparições de Nossa Senhora de Fátima. Um povo hospitaleiro, que traz na sua história uma identidade marcada por guerras, descobrimentos de novas terras, pobreza e imigração, mas também por um forte orgulho de uma identidade nacional, que não se perdeu ao longo dos séculos, e o ajudou a ser protagonista da história, no cenário mundial, através das navegações. Hoje, Portugal é o destino procurado por milhares de brasileiros e pessoas de outros países, que para lá vão em busca de trabalho e melhores condições de vida. 

É nesse contexto multicultural e étnico que será realizada a XXXVII Jornada Mundial da Juventude, contando com a presença do nosso Papa Francisco. Sei que muitos jovens fizeram grandes sacrifícios para poderem participar desta Jornada. Alguns vão caminhar durante vários dias para chegar a Lisboa, das várias regiões da Europa, outros passaram os últimos anos economizando e fazendo promoções, para poderem pagar as despesas da viagem. Tudo por um objetivo: estar na Jornada Mundial da Juventude, encontrar milhares de outros jovens, de mais de cem países, que falam dezenas de línguas diversas, com centenas de culturas diferentes, dispersos nos cinco continentes. Todos irão a Lisboa porque têm algo em comum que os reúne: a fé em Jesus Cristo, o nosso Salvador. 

A fé é algo que ajuda as pessoas a superarem as barreiras da distância, da língua, das raças e das culturas, porque diante de Deus somos aquilo que somos, não contam essas particularidades, que muitas vezes nos impedem, de ver o mundo com os olhos de Deus, de acolher e respeitar o outro, com a sua cultura, a sua dignidade e o seu jeito de ser. A força da mobilização dos jovens e a vontade deles, de poderem encontrar outros jovens de realidades diferentes, é algo contagiante, além da oportunidade de poderem encontrar o Papa Francisco e juntos celebrarem a fé em Jesus Cristo, caminho, verdade e vida que nos conduz ao Pai.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Santa Marta, modelo de despretensão

Santa Marta (Guadium Press)

A irmã de Santa Maria Madalena e de São Lázaro deixou para toda a História um ensinamento de humildade. Ela nos pede que tenhamos os olhos voltados para a glória do Céu e não para os prestígios deste mundo.

Redação (29/07/2023 09:00, Gaudium Press) “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Sem dúvida, trata-se de um antigo trocadilho para admoestar e, oportunamente, para desferir uma educada alfinetada na consciência de um irremediável indolente. De outro lado, pelo jogo natural das circunstâncias, é comum que pensemos nessa frase – tão cheia de sabedoria – diante de alguém muito dedicado e serviçal; nesse momento, não é verdade que esse ditado deixa de ter uma nota de repreensão e logo se transforma em um grande elogio?

Pois bem, de modo especial e elogioso podemos recordar no dia de hoje este sábio trocadilho, já que celebramos a feliz memória de Santa Marta, a irmã de Santa Maria Madalena e de São Lázaro.

Marta, Marta…

Casa de Marta (Guadium Press)

Uma atitude de Jesus em relação a Santa Marta nos chama a atenção: “Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar. Marta, estando preocupada com serviço da casa, veio a Jesus e disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada” (Lc 10, 38-42).

À primeira vista, parece que Nosso Senhor recrimina a atitude de Marta. Ora, Marta estava preocupada em servir, por que Jesus havia de repreendê-la? De fato, Maria havia escolhido a melhor parte; ela estava junto a Ele contemplando seus gestos, admirando-o por suas palavras e não se preocupava com mais nada a não ser com aquilo que realmente importa nesta vida: amar a Deus. Mas por que Marta, por estar preocupada em servi-lo, devia ser repreendida?

É inegável que a contemplação é superior à ação. Assim, por que haveriam de ser maus a ação e o desejo de servir quando são propulsionados pelo amor e pela contemplação? Por que, então, Jesus repreende daquela forma a atitude de Santa Marta?

Para quem Jesus falava?

São Lucas deixa claro no seu Evangelho que Maria se assentou aos pés de Jesus para ouvi-lo falar. Ora, se Nosso Senhor falava, certamente, havia mais pessoas na casa além de Marta e Maria; caso contrário não falaria, mas sim, conversaria.

Com efeito, em sua sabedoria divina, Jesus não poderia deixar passar nenhuma ocasião na qual pudesse ensinar, repreender e guiar rumo à perfeição todos aqueles que conviviam com Ele. Ademais, pelo discernimento dos espíritos e por sua divindade, Jesus fazia com que cada palavra, gesto e olhar viessem como que na medida certa para cada um dos presentes.

Diante desse quadro, podemos admitir que houvesse ali junto a Ele, ouvindo-o, algumas pessoas que não estavam prontas para ouvir certas repreensões, e para as quais Nosso Senhor tinha que usar uma didática muito peculiar.

Uma alma marcada pela despretensão

Vendo na alma de Marta um reflexo de sua própria despretensão, Deus pôde nela encontrar um meio para fazer bem a terceiros. Nosso Senhor bem sabia com que disposições Marta o servia, com que extremos de amor e com que desejos de perfeição. Sobretudo, Nosso Senhor via quão bem ela aceitaria qualquer correção de sua parte, ainda que fosse aparentemente injusta.

Assim, aproveitando-se da circunstância em que ela se aproximou para solicitar a ajuda de sua irmã Maria, Jesus lançou sobre Marta uma repreensão que muito provavelmente cabia a algum – ou alguns – daqueles que estavam presentes. Marta, com toda a humildade, aceita aquela correção e a aplica para si, procurando tirar todo o proveito para atingir um grau de perfeição ainda maior.

Por que a melhor parte?

Em seguida, Nosso Senhor faz questão de dizer que Maria ficara com a melhor parte e que esta não lhe seria tirada. O que o Divino Mestre quis dizer com isto? Aquilo que Santa Marta estava fazendo era errado? Não.

Somente Nosso Senhor conhecia as intenções dos que o ouviam e, portanto, conhecia também que Marta o servia com toda a retidão de alma e boa intenção. Os outros presentes não sabiam disso e imediatamente aplicavam a si a repreensão feita àquela inocente e despretensiosa servidora.

Quando Jesus diz que Maria ficou com a melhor parte, entendemos, quase imediatamente, que Maria escolheu um modo de viver mais elevado, mais de acordo com a vontade de Deus e, enfim, mais santo que o de sua irmã Marta. E que, portanto, Deus ama mais a Maria, e Maria é mais santa (se assim se pudesse dizer) do que Marta.

Isso não deve ser considerado assim. A santidade é algo que não se compara; são aspectos diferentes do mesmo Deus que refulgem de modo também diferente em almas distintas.

Deus queria deixar marcada para a História a virtude conquistada por Santa Maria Madalena, mesmo depois de ter abandonado tudo numa vida desenfreada. Quis mostrar como é possível restaurar tudo o que se perdeu, e como o amor pode tudo. Quis mostrar como a misericórdia de Deus é infinita e capaz de todos os perdões.

A vocação de Marta: um caminho privilegiado

Marta (Guadium Press)

Para Marta foi diferente. Deus reservou o caminho da inocência e da fidelidade por toda a vida. Um caminho privilegiado de uma grande minoria da humanidade; destinado a almas especialmente eleitas e que agradam sobremaneira a Deus. Além desta predileção, Marta também era uma alegria para Nosso Senhor quando, internamente, no mais íntimo de sua alma, fazia refulgir a despretensão.

Maria enxugou os pés de Jesus com os próprios cabelos, uma clara manifestação de amor e serviço; Marta aceitou com mansidão e humildade, no segredo de seu coração, o heroico chamado da despretensão.

Mais uma vez devemos remarcar que não se deve comparar a santidade entre duas almas. Porém, um detalhe do Evangelho nos mostra quanto agrado traz a Deus esta postura de alma tomada por Santa Marta durante sua vida. Escreve São João: Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro (Jo 11, 5).

À primeira vista não significa nada; mas não podia ser que o Deus feito Homem confundisse a ordem dos nomes ou ferisse o princípio de hierarquia ao formular uma frase por mais simples que fosse. Notemos, portanto, como diz o Evangelho: Jesus amava Marta – em primeiro lugar – Maria e Lázaro.

Santa Marta, modelo de equilíbrio e despretensão

Com certeza, além de muitas graças, Santa Marta tem a nos dar hoje alguma lição. Se é verdade que sua irmã Maria Madalena nos traz um modelo de conversão, de penitência, de entrega à vontade de Deus e de restauração, Santa Marta acrescenta ao quadro das virtudes a integridade, a despretensão, a fidelidade à inocência, a humildade diante da repreensão e do serviço a Deus. Ora, este serviço que Santa Marta quer nos ensinar não é, como muitos poderiam pensar, um incontrolável desejo de fazer e de obrar. Aliás, é também pôr em obras a nossa fé, mas com equilíbrio, com serenidade e com o espírito voltado à contemplação das coisas celestes; é fazer e obrar com despretensão, sem nenhum apego, com humildade, sabendo que tudo o que se faz com a intenção de agradar a Deus será transformado em glória no Céu, não em prestígio nesta Terra.

Por Afonso Costa

Fonte: https://gaudiumpress.org/

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Padre Lício: O suicídio de padres no Brasil

Pe. Lício de Araújo Vale (Vatican News)

O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial. No caso dos padres, vários estudos apontam que os principais fatores de risco são o estresse, a solidão e a cobrança excessiva.

Padre Lício de Araújo Vale – Diocese de São Miguel Paulista 

Mesmo a fé sendo uma aliada essencial para dar sentido à vida, e os padres, importantes alicerces para a vivência da fé, algo tem acontecido que extrapola a força da crença e da vocação. Tenho feito o registro do suicídio notificado de padres no Brasil. A minha pesquisa começa com a morte do Pe. Bonifácio Buzzi, aos 57 anos, em Três Corações-MG, em 07 de agosto de 2016 e termina com a morte do Pe. Mário Castro, aos 55 anos, na Diocese de Roraima, em 19/06/2023. De agosto de 2016 a junho de 2023, 40 padres se mataram no Brasil.

O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial. No caso dos padres, vários estudos apontam que os principais fatores de risco são o estresse, a solidão e a cobrança excessiva. O Papa Francisco acrescenta a questão do clericalismo: “O clericalismo é uma peste na Igreja", afirmou ele em entrevista no voo de volta de Fátima, em 14/05/2017.

Nos dias de hoje, tanto a Igreja quanto os próprios sacerdotes enfrentam o desafio de atuar numa sociedade cada vez mais individualista, secularizada e espetacularizada, que apresenta grandes exigências causadas pelas mudanças sociais e pela pluralidade de valores. A evolução experimentada pela sociedade pós-moderna deixou sua marca na vida da Igreja, provocando uma mudança na imagem que as pessoas têm dela e, por conseguinte, de seus sacerdotes.

Diversas contingências incidem na realidade do sacerdote hoje. Neste artigo, convido vocês para de refletirem apenas sobre uma delas: o dilema entre a imagem teológica e a sociológica do presbítero.

Em muitos casos, a imagem teológica do sacerdote se contrapõe à imagem sociológica que lhe é atribuída na sociedade dita pós-moderna. A imagem teológica é aquela que o sacerdote projeta quando celebra os sacramentos, os sacramentais e quando se relaciona com seus colaboradores mais próximos. Por outro lado, a imagem sociológica é aquela que o presbítero recebe da sociedade, muitas vezes diferente daquela que ele tem de si próprio, o que pode causar estresse, solidão e abatimento. A contradição entre essas duas imagens pode levar o sacerdote a subvalorizar a imagem teológica, ou então enclausurar-se nela. Dessa forma, pode mover-se numa ambivalência que lhe facilite passar de uma imagem a outra. Mais ainda, a supervalorização da imagem teológica pode levá-lo a subestimar a imagem sociológica e cultivar o desejo de ocupar um posto na sociedade, ao passo que a infravalorização dessa imagem teológica pode levar a questioná-la e vê-la como um produto de uma teologia exagerada.

Portanto, o desafio dos sacerdotes neste aspecto resume-se a não fugir da realidade, refugiando-se na imagem teológica do presbítero, mas tampouco ignorar a imagem sociológica que se tem deles na sociedade atual. Mais ainda, devem viver coerentemente a dimensão teológica do sacerdócio, tão questionada a partir da realidade social em todos os seus aspectos. É o caso de um sacerdote recém-ordenado que fica deslumbrado com sua imagem teológica, motivo pelo qual nela se refugia e se identifica somente como sacerdote, porém começa a se distanciar de sua humanidade, de seu "ser pessoa" com qualidades e defeitos. Gostaria de lembrar aqui que no caso da vocação sacerdotal o Senhor chama "pessoas". Para "ser padre", é preciso "ser" primeiro.

Assim, evadir-se de sua verdadeira realidade pode resultar em uma personalidade fragmentada, inclusive com o aparecimento de transtornos psíquicos. O século XXI vem se caracterizando pela marcação de um ritmo diferente, no qual reinam o individualismo, a urbanização, a inteligência artificial, o metaverso, ou seja, uma outra realidade. Ser sacerdote no século XXI implica uma descoberta nova para a Igreja, porque os paradigmas anteriores e a experiência dos sacerdotes predecessores não respondem a todas as interrogações que os ministros ordenados atualmente enfrentam. Adaptar-se ao tempo presente mediante serviço fiel e efetivo ao chamado do Evangelho requer olhos e ouvidos atentos aos sinais dos tempos, habilidade para atender aos corações sedentos nesta mudança de época e cuidar de si.

Por fim, é relevante reconhecer a importância e urgência de uma melhor formação inicial nos seminários e noviciados (trabalhando mais efetivamente a dimensão humano-afetiva), a criação de estratégias pastorais mais apropriadas não só para a formação permanente, mas também para o cuidado dos próprios sacerdotes, como também enfrentar o medo e o preconceito em relação à saúde mental dos presbíteros.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

E quando perdoar alguém parece impossível?

Shutterstock | Yuri A

Por Cerith Gardiner

A Oração do Senhor é um lembrete de que o perdão é um processo que começa com um primeiro passo.

Para ser sincera, o meu tipo de oração favorito é aquele que eu mesma faço, que reflete o que está acontecendo na minha vida e no mundo ao meu redor num determinado momento. E independentemente do que ou de como eu rezo, gosto de terminar com um pai-nosso.

Ultimamente, porém, tenho achado muito mais difícil fazer essa oração, porque estou lutando para acreditar no que estou dizendo e me sinto falsa. Sinto que estou decepcionando a Deus.

A vida foi um pouco difícil no ano passado – para dizer o mínimo. Existe alguém na minha vida que causou tanto mal a mim e aos meus filhos que estou achando impossível perdoar. “Eu não vou te perdoar nem sequer em um milhão de anos” é a frase que me vem à mente toda vez que penso na dor que sofremos.

Mas eu sei que devo perdoar aqueles que me ofendem. E me pergunto sobre perdoar aqueles que ofenderam os meus filhos – será que Deus não está esperando demais de uma mãe? Mas no fundo eu sei a resposta.

Não se sinta uma pessoa falsa

Não tenho conseguido tirar da minha mente e das minhas orações a sensação de estar sendo falsa. E isso fez a minha situação atual parecer ainda pior. Felizmente, fui abençoado com colegas que são tão conhecedores e compreensivos em questões da vida espiritual que posso recorrer a eles para pedir conselhos com o clique de um botão.

E recebi um ótimo conselho recentemente: “A última coisa de que você precisa é achar que não está fazendo todo o necessário espiritualmente. Não se sinta falsa. Deus está satisfeito com você. Repita isso para si mesma, ok?”.

Essas palavras gentis me deram o impulso espiritual de que eu precisava, ao mesmo tempo em que me permitiram perceber que todo o processo de perdão é realmente isso – um processo. Um processo que pode ser longo, especialmente em circunstâncias complicadas. E como outro colega me lembrou: “Muitas vezes, o primeiro passo para perdoar é orar pela graça de querer perdoar a pessoa“.

A maravilha do perdão

Eu quero perdoar o indivíduo que nos causou muita dor? Não, ainda não.

Mas essa é a maravilha do perdão. Pode ser um caminho muito difícil, no qual somos chamados a pedir ajuda ao Senhor, embora pareça ir contra todos os instintos do nosso corpo.

Esta é a beleza da Oração do Senhor e o porquê de eu continuar a rezá-la. É um lembrete de que um dia perdoarei. Terei o desejo de perdoar, se continuar orando, e Deus será fiel e ficará feliz com os meus esforços.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (10/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos.

CARD. Alfons M. Stickler

        5. A Legislação do II Concílio Trullano.

Qual foi, então, a legislação da própria Igreja Oriental frente às essas disposições imperiais? Como já foi referido, no Oriente, há uma atividade que é desenvolvida em conjunto com a igreja ocidental com a Igreja sobre questões de fé, mas nunca chegou a uma legislação comum em matéria disciplinar.  

Uma vez que o Concílio Trullano I, do ano 680/81, não tinha emitido disposições disciplinares, o imperador Justiniano II, convocou um segundo Concílio “em Trullo”, no Outono de 690. Nele se tentou reunir todas a legislação disciplinar da Igreja bizantina, e decidir as necessárias atualizações e complementos, incluindo a legalização de situações carentes, de fato, do necessário suporte normativo. Isso foi feito através da promulgação de 102 cânones, que foram acrescentados mais tarde ao antigo Syntagma adauctum, transformando-se dessa forma no último Código da Igreja bizantina. 

Toda a disciplina atualizada no que respeita ao celibato foi fixado de forma vinculativa e com sanções adjuntas em sete cânones (3, 6, 12, 13, 26, 30, 48). Este Concilio II “em Trullo”, também chamado Quinisexto, foi um Concílio da Igreja bizantina, convocado e frequentado somente por seus bispos e mantido pela sua autoridade, que se apoiava de modo decisivo na autoridade de imperador. A Igreja Ocidental não enviou delegados (embora Apocrisário, o legado de Roma em Constantinopla, assistiu a esse Concílio) e nunca reconheceu este Concílio como ecumênico, apesar das repetidas tentativas e pressões, especialmente por parte do imperador. O Papa Sérgio (687 701), que procedia da Síria, negou o reconhecimento. João VIII (872-882) só reconheceu as disposições que não eram contrários à prática de Roma, em vigor até aquele momento. Qualquer outra referência por parte dos Romanos Pontífices aos cânones “trullanos” não deve ser considerada como outra coisa além de uma consideração, com um reconhecimento mais ou menos explícito, do direito particular da Igreja oriental. 

Então, de que fontes derivam as decisões “trullanas” sobre disciplina celibatária bizantina, vinculantes até hoje? Para responder adequadamente a esta pergunta é necessário considerar antes tais disposições. 

Cân. 3: decide que todos os que depois do batismo tenham contraído um segundo matrimônio ou tenha vivido em concubinato, bem como aqueles que se tinham casado com uma viúva, uma divorciada, uma prostituta, uma escrava ou uma atriz não poderiam tornar-se nem bispos, nem sacerdotes, nem diáconos. 

Cân. 6: declara que aos sacerdotes e diáconos não estão autorizados a se casar após a Ordenação. 

Cân. 12: ordena que os bispos não podem, após a Ordenação, coabitar com sua esposa e, por conseguinte, não podem mais usar do matrimônio; 

Cân. 13: estabelece que, ao contrário da prática romana que proíbe o uso do matrimônio, os sacerdotes, diáconos e subdiáconos da Igreja oriental, em virtude de antigas prescrições apostólicas, podem conviver com suas esposas e usar dos direitos do casamento para a perfeição e ordem correta, exceto nos tempos em que prestam o serviço no altar e celebram os sagrados mistérios, devendo ser continentes durante este tempo. Esta doutrina havia sido afirmada pelos Padres reunidos em Cartago: “os sacerdotes, diáconos e subdiáconos devem ser continentes durante o tempo do seu serviço ao altar, tendo em vista o que foi transmitido pelos Apóstolos e observado desde os tempos antigos também nós o custodiemos, dedicando um tempo para cada coisa, especialmente à oração e ao jejum: assim, pois, os que servem no altar devem ser em tudo continentes durante o tempo do seu serviço sagrado, para que possam obter o pedem a Deus com toda simplicidade.” Portanto, quem ouse privar, mais além do que estabelece os cânones apostólicos, aos ministros in sacris, quer dizer, aos sacerdotes, diáconos e subdiáconos da união e comunhão com as legítimas esposas, deve ser deposto, bem como aquele que, sob o pretexto de piedade, expulsa à sua esposa e insiste na separação. 

Cân. 26: decreta que um sacerdote que por ignorância houvesse contraído casamento ilícito tem de se conformar com a sua situação anterior, mas abstendo-se de todo ministério sacerdotal. Esse matrimônio deve ser dissolvido e toda comunhão com a esposa está proibida. 

Cân. 30: permite que os que, com consentimento mútuo, querem viver continentes não devem habitar juntos; isto é válido também para os sacerdotes que residem em países bárbaros (isso é entendido como os que vivem no território da Igreja ocidental). Esse compromisso assumido é, no entanto, uma dispensa dada a esses sacerdotes por sua pusilanimidade e pelos costumes das pessoas ao redor. 

Cân.: 48: manda que a mulher do bispo, que após consentimento mútuo, se separou, deve ingressar num mosteiro depois da Ordenação do marido e deve ser mantida por ele. Pode também ser promovida a diaconisa. 

Destas disposições conciliares resulta o seguinte: o Oriente conhece bem a disciplina celibatária do Ocidente. Apela, como no Ocidente, como apoio à prática diferente, a uma tradição que remontaria até os Apóstolos. De fato, a Igreja bizantina concorda na legislação trullana com a Igreja latina nos seguintes pontos, que como no Ocidente, se fundamenta nos textos sagrados do Novo Testamento: o casamento antes da sagrada Ordenação deve ter ser apenas um, e não com uma viúva ou com outras mulheres que a lei exclui. Não é legítimo um primeiro ou sucessivo casamento após a Ordenação. Os bispos não podem mais ter convivência matrimonial com a esposa, mas devem viver em plena continência, e por isso as mulheres não podem viver com eles, mas devem ser mantidas pela Igreja. Oriente exige ainda o ingresso das esposas num mosteiro ou a ordenação dessas como diaconisas. 

A diferença substancial da prática da Igreja Oriental se refere só aos graus do Ordem sagrado inferiores ao episcopado. Para estes, a abstenção do uso do matrimônio se exige somente durante o tempo do serviço efetivo no altar, que então estava limitado ao domingo ou a outro dia da semana. 

Encontramos aqui, portanto um volta à prática vigente no Antigo Testamento, que a Igreja havia rejeitado sempre explicitamente com razões claras. Pelo contrário, a convivência e o uso do matrimônio durante o tempo livre do serviço direto não somente é defendido aqui com grande resolução, mas que qualquer atitude contrária é castigada com gravíssimas sanções. A compreensível exceção para os sacerdotes que residem na Igreja latina é declarada como uma dispensa que se concede só por causa da evidente debilidade humana de tais sacerdotes e pelas dificuldades que provêm do ambiente, entre as quais está certamente o fato da geral prática de continência do clero ocidental. 

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF