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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Catequeses Mistagógicas (Parte 2/8)

São Cirilo de Jerusalém (313-350)

Catequeses Mistagógicas

I.3 Particularidades da Igreja de Jerusalém

Através das próprias catequeses de São Cirilo podemos ter uma idéia da Igreja de Jerusalém. O costume da catequese era cuidadosamente observado em Jerusalém. Se em outras Igrejas a exposição do Credo se resumia a duas, três ou mais apresentações, em Jerusalém se lhe dedicava todo o tempo da Quaresma. Compreende-se o motivo pelo qual o conjunto das catequeses nos oferece todo um sistema doutrinário. Na Catequese Preliminar ele nos faz ver a importância conferida a esta ação catequética: «Aprende o que ouves e guarda-o para sempre. Não creias serem estas homilias habituais. Também elas são boas e dignas de fé» 3.

Cirilo pronuncia as catequeses na Igreja da Ressurreição e na Capela do Santo Sepulcro. Para que alguém fosse admitido ao catecumenato exigia-se, segundo menciona Eusébio, a imposição das mãos e a oração. O primeiro Concílio de Constantinopla (381) nos fala dos exorcismos e da insuflação, feitos em três dias consecutivos. No primeiro dia, diz o Concílio, fazemo-los cristãos; no segundo catecúmenos; no terceiro os exorcizamos, soprando por três vezes o rosto e os ouvidos e assim os catequizamos4. São Cirilo se refere expressamente aos exorcismos5, os quais são recebidos com a face coberta com um véu: «O teu rosto foi coberto com um véu, a fim de que todo o teu pensamento não estivesse disperso, e o olhar, divagando, não fizesse vagar também o coração» 6.

Após o primeiro grau de Catecumenato passa-se ao dos Competentes com todo um período de preparação e que antecedia em algumas semanas à Páscoa. O bispo lhes dirigia uma exortação, seguida da inscrição nos registros da Igreja. Esta se fazia, em Jerusalém, no princípio da Quaresma e num mesmo dia. Recebiam então o nome de fiéis. «Vê que, sendo chamado fiel, tua intenção não seja de um infiel» 8.

Findo o que se seguia à preparação imediata para o batismo que compreendia duas partes principais:

a) Preparação ascética: que Cirilo descreve na Catequese Preliminar, na primeira e na segunda Catequese. Três obras a caracterizam: o jejum, a penitência e a confissão dos pecados.

Jejum: o jejum se estendia, na comunidade jerosolimitana, pelo espaço de 40 dias, inclusive os sábados e domingos, e abarcava também a abstinência de vinho e carnes. Além deste jejum quaresmal existia o jejum pascal, muito mais rigoroso.

Penitência: acentua-se não só a penitência externa, mas também a interna como meio imprescindível para uma digna recepção do batismo. Diz Cirilo: «Prepara teu coração para receberes as doutrinas, para participares dos sagrados mistérios». É o convite à renúncia a todo mau hábito e à purificação dos pecados. «Deixa desde já toda obra má; que tua língua não fale palavras inconvenientes; que teu olhar já não peque mais e que teu espírito não se ocupe com coisas vãs.” Este espírito de penitência é fruto da graça de Deus implorada na oração. Por isso Cirilo insiste que seus ouvintes sejam assíduos à oração: “Reza com insistência a fim de que Deus te faça digno dos celestes e imortais mistérios. Não cesses nem de dia nem de noite”. Quarenta dias, no entanto, é pouco tempo de preparação para os que viveram entregues às vaidades. Daí a necessidade de receber com toda devoção os exorcismos, assistir às catequeses com pureza de intenção.

Confissão: São Cirilo desenvolve de modo todo especial o inciso sobre a confissão dos pecados. No início da primeira Catequese ele exclama: «Vós que estais cobertos com o manto das transgressões e estais ligados com as cadeias dos vossos pecados, escutai a voz profética que diz: Lavai-vos, purificai-vos». Em outra Catequese ele repete: «Quão excelente é confessar-se».

A segunda Catequese é praticamente uma grande exortação à confissão apresentada não como mero relato de pecados, mas expressando uma situação existencial e conseqüente vontade de mudar de vida. Os termos que ocorrem para designar a confissão são significativos: (confissão) e (penitência).

b) Preparação catequética: Nota-se aqui a diferença da Igreja de Jerusalém das demais Igrejas. Como já dissemos acima, em Jerusalém se emprega toda a Quaresma para explicar o Credo, enquanto nas demais igrejas a exposição do Credo se restringe a duas ou mais apresentações. Cirilo profere vinte e três catequeses, o que por si só exprime a importância que é dada à catequese na preparação batismal. As dezoito primeiras se dirigem aos que se preparam para o batismo e comentam basicamente o Credo artigo por artigo. As últimas cinco são pronunciadas para os recém-batizados, durante a semana da Páscoa, na capela do Santo Sepulcro. As cinco tratam da doutrina, dos ritos e cerimônias dos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia. 

I.4 Apresentação geral de sua obra

Como já assinalamos Cirilo pronuncia vinte e três catequeses que podem ser divididas em dois blocos distintos: As dezoito primeiras pronunciadas em preparação para o batismo e as cinco últimas aos já batizados. Quase todas foram proferidas na Igreja do Santo Sepulcro e, como observa J. Quasten, «uma nota conservada em diversos manuscritos recorda que elas foram copiadas em estenografia, ou, ainda; que elas representam a transcrição de um de seus ouvintes, e não uma cópia «manu propria» do bispo». Precede às dezoito primeiras uma alocução preliminar ou introdução geral, na qual Cirilo prepara os ouvintes para receber, com maior proveito, as instruções pré-batismais. Após uma ardorosa recepção: «Já vos impregna, ó iluminandos, o odor da bem-aventurança»20, o bispo acentua a necessidade da penitência e purificação dos pecados, da prece e da disciplina pessoal e de uma intenção livre de todo interesse mundano para se aproximar do sacramento de iniciação. O mesmo é repetido nas duas primeiras catequeses, que versam sobre o pecado e a penitência. Na terceira, ele trata do batismo e de seus efeitos. A quarta é um breve compêndio da doutrina sobre a fé. Aí ele expõe as verdades necessárias ao homem para que ele se salve. Em primeiro lugar, alude ao Credo onde se professa o Deus Criador, seu Filho Jesus Cristo e o Espírito Santo. Em seguida, apresenta a doutrina cristã sobre o homem, sua natureza, sua vida moral e seu fim último. Finalmente, discorre sobre o conhecimento de Deus e de nós mesmos, fundado na Sagrada Escritura.

Da quinta à décima oitava Catequese Cirilo dá uma explicação detalhada dos artigos do Credo, que se aproxima muito da fórmula do Concílio de Constantinopla (381). Por exemplo, na quinta ele expõe a palavra Credo. Segue-se o primeiro artigo: “Creio em um só Deus” e assim por diante.

As Catequeses Mistagógicas (19-23) versam sobre os sacramentos recebidos pelos neófitos na vigília pascal. Doutrina que permanecera até então oculta. Daí o nome de catequeses mistagógicas. Nas duas primeiras, o bispo busca explicar as cerimônias que precederam ao batismo. Na terceira fala da Confirmação; na quarta da Eucaristia e na quinta trata da Divina liturgia.

ECCLESIA

A testemunha é aquele que oferece seu corpo

Revista Galileu - Globo

mar/abr - 2012


O cardeal Georges Cottier: a imagem da lua ajuda a perceber a natureza da Igreja e o horizonte da sua missão


pelo cardeal Georges Cottier


Lendo o L’Osservatore Romano, fiquei impressionado com um artigo escrito pelo cardeal Kurt Koch e publicado em 27 de janeiro passado com um título um tanto singular. O artigo se intitulava “Eclesiologia lunar”. E resenhava o livro Chiesa cattolica. Essenza, realtà, missione, do cardeal Walter Kasper, recentemente publicado na Itália pela editora Queriniana. Nas passagens do livro que a resenha ajudou a valorizar, encontrei deixas que me parecem preciosas, sobretudo tendo em vista o Ano da Fé e o próximo sínodo dos bispos sobre a nova evangelização.


O título da resenha do cardeal Koch remete a uma analogia tradicional aplicada à Igreja já pelos Padres dos primeiros séculos e retomada também na Idade Média: aquela segundo a qual a natureza da Igreja pode ser entendida usando a figura da lua. A lua traz luz à noite, mas a luz não vem dela, vem do sol. Assim é a Igreja: ela traz luz ao mundo, mas essa luz não é sua. É a luz de Cristo. “A Igreja”, comenta o cardeal Koch em sua resenha, “não deve querer ser sol, mas alegrar-se por ser lua, por receber toda a sua luz do sol e fazê-la resplandecer dentro da noite”. Ao receber a luz de Cristo, a Igreja vive toda a sua plenitude de letícia, “já que ela”, como confessou Paulo VI no Credo do povo de Deus, “não possui outra vida a não ser a da graça”.

 

Na vigília do Ano da Fé, a imagem da lua ajuda a perceber também quais são a natureza da Igreja e o horizonte próprio de sua missão.


A comparação com a lua não deve ser tomada como uma marginalização da missão da Igreja. A Igreja é a seu modo responsável pela luz de Cristo que é chamada a refletir. Essa luz não deve ser obscurecida. A Igreja deve refletir, e não ofuscar ou apagar em si esse reflexo. Como faz a lua durante a noite, ela deve difundir a luz de Cristo na noite do mundo, que, abandonado a si mesmo, permaneceria no pecado e na sombra da morte. Era o que notava Paulo VI em seu discurso de abertura da segunda sessão do Concílio Vaticano II: “Só depois desta obra de santificação interior, poderá a Igreja mostrar o seu rosto ao mundo inteiro, dizendo: quem me vê a mim, vê a Cristo, assim como Cristo disse de si mesmo: ‘Quem me vê a mim, vê também o Pai’” (Jo 14,9).

 

A imagem da lua ajuda também a entender a dinâmica própria da missão a que a Igreja é chamada. Como o mesmo Paulo VI reconhecia na exortação apostólica Evangelii nuntiandi (1975), “o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres”, e, se escuta os mestres, “é porque eles são testemunhas”. Nietzsche falou de “desconfiança metódica”. Nesse sentido, sobretudo em nossos tempos, a forma mais adequada e mais desarmante com que a luz da palavra de Deus se oferece ao mundo é a do testemunho. Também nisso a imagem da lua sugere pontos de reflexão e conforto.


A testemunha é por definição um teste, alguém que testifica algo de um outro, sem acrescentar coisas suas. Também o testemunho de fé cristã não coincide com lançar-se em atividades, com um acréscimo de outros compromissos às coisas da vida. Muito menos significa fazer propaganda ou proselitismo de certas ideias.


A testemunha é aquele que oferece seu corpo, põe à disposição a concretude de sua condição humana para que nela aja e resplandeça a graça do Senhor. Fazendo, assim, exatamente o que faz a lua, sobre cujo corpo opaco se reflete a luz irradiada pelo sol. “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto”, escreve São Paulo na Carta aos Romanos (Rm 12,1). E, como sugeriu Bento XVI em sua recente Lectio divina dada no Seminário Romano Maior, a oferta do nosso corpo, da nossa vida cotidiana é a condição pela qual “o nosso corpo unido ao corpo de Cristo torna-se glória de Deus, torna-se liturgia”, e o próprio corpo se torna “a realização da nossa adoração”. A ação da graça sobre a vida das testemunhas se manifesta na santidade, que justamente por isso não é uma conquista reservada a poucos, mas uma possibilidade real que se apresenta à vida concreta de todos os batizados, como sugeriu também o beato João Paulo II na carta apostólica Novo millennio ineunte. A santidade é o que melhor expressa o íntimo mistério da Igreja.


A realidade que permite o encontro dos homens com Cristo é a própria vida de seus discípulos, que não são ativistas de uma mensagem extrínseca em relação às suas vidas. Como ensina o Concílio Vaticano II, a graça opera sobre eles de modo que a riqueza de seu dom não pode ser retida e quase sequestrada de maneira egoísta, como uma posse da qual excluir os outros. Ao contrário, esta se comunica gratuitamente por força própria, resplandecendo no fulgor da fé, da esperança e da caridade que dá testemunho de Cristo na própria vida dos cristãos: “fide, spe, caritate fulgentes”, como está escrito no parágrafo 31 da Lumen gentium. Disse uma vez padre Luigi Giussani: “Nós damos o verdadeiro anúncio por meio daquilo que Cristo perturbou na nossa vida, acontece por meio da perturbação que Cristo realiza em nós: tornamos Cristo presente por meio da mudança que Cristo realiza em nós. É o conceito de testemunho”.


O que vale para cada indivíduo batizado vale também para a Igreja. A Igreja não tem de inventar nada. Como faz a lua com o sol, ela apenas põe seu corpo à disposição para que a graça possa refletir-se nele. Quando a Igreja pretende atestar a si mesma, não parece nem atraente nem alegrada e consolada pelo Senhor. E mesmo as questões eclesiais acabam fatalmente por ser marcadas por aquela “vanglória que vai contra a verdade e não me pode fazer feliz e bom” a que acenou Bento XVI em seu último encontro com os párocos de Roma.


Para a Igreja, como para cada cristão, essa oferta de seu corpo e de sua condição para que neles aja e resplandeça a graça do Senhor se exprime como pedido, ou seja, como oração. Porque é simples pôr à disposição, essa oferta tem como forma própria o pedido, ou seja, a oração. É nesse sentido que devem ser registradas as palavras do cardeal Kasper no final do seu livro, quando escreve que “a Igreja do futuro será sobretudo uma Igreja de orantes”. Na invocação da oração que pede, mas também na oração de louvor, atestamos a nossa dependência de Deus. Nela o que se acentua não é a sujeição, mas o fato de sermos agraciados. Sendo criaturas livres, a nossa liberdade se realiza na satisfação de acolher o dom, de modo que produzam fruto em nós recursos dele que para nós seriam impensáveis.

 

O testemunho dos cristãos e a missão da Igreja se realizam num contexto que é muitas vezes marcado por contrariedades e oposições. São os sofrimentos apostólicos, de que já falava São Paulo. Em muitos países ocidentais vemos o surgimento de movimentos anticristãos agressivos. Cresce a negação da fé. Cresce também a Igreja, mas os cristãos sofrem perseguições em muitas partes do mundo. Tudo isso não nos deve surpreender. Os evangelhos, as cartas de São Paulo e também o Apocalipse já nos dizem que a perseguição faz parte da condição da Igreja neste mundo. E com o último Concílio a Igreja reencontrou de maneira mais intensa o que sempre soube e viveu em seus santos, como Francisco de Assis: que diante de dificuldades e perseguições há uma maneira evangélica, gostaria quase de dizer um “estilo” evangélico, de reagir, que é o descrito nas Bem-Aventuranças. Há, porém, uma certa maneira de responder às adversidades que continua a ter como perspectiva última aquilo que se expressou, no passado, nas Cruzadas. Às vezes ouvimos discursos que tomam como ponto de partida as perseguições ou a chamada “cristianofobia” para estabelecer estratégias de batalha. No entanto, os próprios acontecimentos da história já esclareceram a todos que a perspectiva da Cruzada representa uma mundanização e uma instrumentalização do cristianismo, e seu esgotamento representou uma libertação e uma vantagem para a Igreja. Além disso, faz-nos sempre perder o foco pensar que existem épocas mais amadas por Deus do que outras. É uma tentação milenarista que não corresponde ao autêntico sensus fidei. Deus ama também o nosso tempo, com todos os seus problemas. Em vez de nos dobrarmos em nostalgias utópicas e enganadoras, é preciso olhar para o que o Concílio Vaticano II definiu como sinais dos tempos. Por exemplo, os intensos fenômenos migratórios atuais representam uma circunstância concreta para experimentar de verdade – e talvez pela primeira vez de maneira tão intensa – a universalidade do Evangelho. Hoje um europeu, para encontrar e conhecer um chinês, já não precisa percorrer milhares de quilômetros. Ele encontra os chineses, os indianos, os árabes cotidianamente nas metrópoles e nas pequenas cidades de sua nação. A situação é em certo sentido semelhante à vivida e abraçada por Santo Agostinho, quando a chegada de novos povos marcou o fim de uma certa fase histórica, mas abriu novas possibilidades de difusão para a força desarmada do anúncio cristão.

 

Nesse sentido, são um conforto para todos as palavras proferidas por Bento XVI nos últimos tempos. Quando o Papa repete que “a Igreja não existe para si mesma, não é o ponto de chegada, mas deve apontar para além de si, para o alto, acima de nós”, e quando acrescenta que “a Igreja não se autorregula, não confere a si mesma o seu próprio ordenamento, mas recebe-o da Palavra de Deus, que escuta na fé e procura compreender e viver”, essas expressões, usadas na homilia para a festa da cátedra de São Pedro, atingem com realismo amoroso e apaixonado o próprio mistério da Igreja. E podem ajudar a todos a intuir os perigos e as possibilidades que marcam o caminho da Igreja no tempo nas atuais circunstâncias.


Revista 30Dias


Santo Inácio de Loyola: os 3 tipos de humildade

Pixabay - CC0

A humildade, segundo o criador dos Exercícios Espirituais, é um processo crescente.

O primeiro tipo de humildade é necessário à salvação eterna

E consiste em me rebaixar e me humilhar tanto quanto me for possível, para obedecer em tudo à Lei de Deus, Nosso Senhor, de tal modo que, mesmo que me tornassem senhor de todas as coisas criadas neste mundo ou mesmo que estivesse em risco a minha própria vida temporal, nunca pensaria em transgredir um mandamento, fosse ele divino ou humano.

O segundo tipo de humildade é uma humildade mais perfeita que a primeira

E consiste nisto: encontro-me num ponto em que não desejo nem sou propenso a possuir a riqueza mais do que a pobreza, a querer a honra mais do que a desonra, a desejar uma vida longa mais do que uma vida curta, quando as alternativas não afetam o serviço de Deus, Nosso Senhor, nem a salvação da minha alma.

O terceiro tipo de humildade é a humildade mais perfeita

É quando, incluindo a primeira e a segunda, sendo iguais o louvor e a glória da Sua divina majestade, para imitar a Cristo, Nosso Senhor, e me assemelhar a Ele mais eficazmente, desejo e escolho a pobreza com Cristo pobre em vez da riqueza, o opróbrio com Cristo coberto de opróbrios em lugar de honrarias; e desejo mais ser tido por insensato e louco por Cristo, que, antes de todos, foi tido como tal, do que “sábio e prudente” neste mundo (Mt 11, 25).

Aleteia

Papa reitera: a unidade é sempre superior ao conflito

Celebração das Vésperas na Basílica São Paulo-fora-dos-muros,
em 25 de janeiro de 2018  (Vatican Media)

"Permanecei no meu amor e produzireis muito fruto" é o tema da semana de Oração pela Unidade dos Cristão desse ano.

Jackson Erpen - Vatican News

Nos apelos que costuma fazer após rezar o Angelus, o Papa Francisco recordou o início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que no hemisfério norte é celebrada de 18 a 25 de janeiro, enfatizando que “a unidade é sempre superior ao conflito:

Amanhã é um dia importante: tem início a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Este ano, o tema refere-se à advertência de Jesus: "Permanecei no meu amor e produzireis muito fruto" (cf. Jo 15,5-9). Na segunda-feira, 25 de janeiro, concluiremos com a celebração das Vésperas na Basílica de São Paulo fora-dos muros, juntamente com os representantes das outras comunidades cristãs presentes em Roma. Nestes dias rezemos juntos para que se cumpra o desejo de Jesus: "Que todos sejam um" (Jo 17, 21). A unidade, que é sempre superior ao conflito.

A celebração das Vésperas na Basílica de São Paulo fora-dos-muros terá transmissão em português pelo Vatican News.

A Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), traduziu para o português subsídios para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e para todo o ano 2021, preparados e publicados conjuntamente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas.

A primeira Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, nos moldes da atual, nasceu por iniciativa do inglês Spencer Jones, anglicano, e do estadunidense Paul James Francis Wattson, episcopal (anglicano americano). No ano de 1907, o rev. Jones sugeriu a instituição, em 29 de junho de cada ano, de um dia de oração pelo retorno dos anglicanos, e de todos os outros cristãos, à unidade com a Sé Romana. No ano seguinte Wattson ampliou a ideia, propondo-a em forma de uma oitava para pedir a Deus "a volta de todas as outras ovelhas ao aprisco de Pedro, o único pastor". É precisamente a este ano (1908) que o nascimento oficial da semana em curso é convencionalmente atribuído. Wattson decidiu iniciar a oitava no dia da festa da Confissão de Pedro (uma variante protestante da festa da Cátedra de São Pedro que se festejava em 18 de janeiro) e de concluí-la com a festa da Conversão de São Paulo. Desde então, essas duas datas (18 e 25 de janeiro) marcam o início e o fim da Oitava no Hemisfério Norte. No hemisfério Sul, por sua vez, as Igrejas geralmente celebram a Semana de Oração no período de Pentecostes.

Vatican News

Estes são os 3 chamados que Deus faz ao longo da vida, segundo o Papa Francisco

Papa Francisco durante a oração do Ângelus. Foto: Vatican Media

Vaticano, 17 jan. 21 / 12:30 pm (ACI).- O Papa Francisco presidiu a oração do Ângelus neste domingo, 17 de janeiro, e explicou quais são os 3 chamados que Jesus faz a cada um ao longo da vida: o chamado à vida, o chamado à fé e o chamado a um estado de vida particular.

Do Palácio Apostólico do Vaticano, o Pontífice explicou que cada um desses chamados "é uma iniciativa do seu amor".

O primeiro chamado de Deus é para a vida. “Com a qual nos constitui como pessoas; é um chamado individual, porque Deus não faz as coisas em série”.

Depois, “Deus nos chama à fé e para fazer parte da sua família, como filhos de Deus”.

E, finalmente, “Deus nos chama a um estado particular de vida: a doar-nos no caminho do matrimônio, no do sacerdócio ou na vida consagrada”.

O Papa explicou que estes chamados “são formas diferentes de realizar o projeto de Deus, aquele que Ele tem para cada um de nós, que é sempre um plano de amor. Mas Deus chama sempre. E a maior alegria para cada crente (para cada fiel) é responder a este chamado, oferecer-se inteiramente ao serviço de Deus e dos irmãos”.

“Mas diante deste chamado do Senhor que nos chega de mil maneiras, mesmo por meio de pessoas, acontecimentos felizes e tristes, às vezes a nossa atitude pode ser de rejeição, porque nos parece em contraste com as nossas aspirações; e também o medo, porque o consideramos muito exigente e incômodo. Mas o chamado de Deus é amor, e se responde a ele somente com o amor".

O Santo Padre explicou este ensinamento a partir do Evangelho deste segundo domingo do tempo comum, onde se apresenta “o encontro de Jesus com os seus primeiros discípulos”.

“A cena se passa no rio Jordão, um dia após o batismo de Jesus. E foi o próprio João Batista quem apontou o Messias para dois deles com estas palavras: 'Eis o Cordeiro de Deus!'”.

Aqueles dois discípulos, “confiando no testemunho do Batista, seguem Jesus que o percebe e pergunta: ‘O que estais procurando?’, E perguntam-lhe: 'Mestre, onde moras?' Jesus não responde: "Eu moro em Cafarnaum ou Nazaré", mas diz: "Vinde ver". Não é um cartão de visita, mas um convite para uma reunião”.

“Os dois o seguem e naquela tarde permanecem com Ele. Não é difícil imaginá-los ali sentados, fazendo perguntas a ele e, sobretudo, ouvindo-o, sentindo que seus corações se aquecem sempre mais, enquanto o Mestre fala”.

“Eles sentem a beleza das palavras que correspondem à sua maior esperança. E de repente descobrem que, à medida que escurece à sua volta, explode neles, em seus corações, uma luz que somente Deus pode dar”.

Terminado o encontro com o Mestre, “eles saem e voltam com seus irmãos, essa alegria, essa luz transborda de seus corações como um rio caudaloso. Um dos dois, André, diz a seu irmão Simão - a quem Jesus chamará Pedro quando o encontrar-: ‘Encontramos o Messias’".

Esse encontro com Jesus, explicou o Papa Francisco, é um encontro “que nos fala do Pai, nos faz conhecer o seu amor. E assim também em nós surge espontaneamente o desejo de comunicá-lo às pessoas que amamos: ‘Encontrei o Amor’, ‘encontrei o Messias’, ‘encontrei Jesus’, ‘encontrei o sentido da minha vida’. Em uma palavra: ‘Encontrei Deus’.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Os cristãos face à vacina é tema de Conferência internacional

Profissional de saúde conversa pessoa prestes a receber uma dose de
uma vacina contra o coronavírus na Igreja de São Paulo, Abu Dhabi

Enquanto as redes sociais e os meios de comunicação mantêm o debate sobre a vacina contra a Covid-19 e com esse, inúmeras notícias tendenciosas e falsas, a Academia Latino-Americana de Líderes Católicos propõe uma discussão aberta com especialistas em questões científicas, éticas e sociais.

Alina Tufani - Vatican News

Um cristão deve se vacinar? É moralmente obrigatório? É seguro ser vacinado? Quais serão as consequências sociais e econômicas? Com base nessas quatro questões, a Academia Latino-Americana de Líderes Católicos propõe uma Conferência internacional sobre a posição dos cristãos em relação às vacinas contra a Covid-19, e que se realizará, em modo virtual, na próxima terça-feira, dia 19 de janeiro.

A motivação do evento é o intenso debate na opinião pública, onde "fake news", além de absurdas teorias da conspiração "estão envenenando alguns ambientes católicos", explica em seu convite a ALLC que considera de vital importância para o futuro da humanidade, a massificação da vacina em todas as classes sociais.

Na apresentação do encontro, a instituição laica explica que a Santa Sé, assim como o próprio Papa Francisco, deixou clara a relevância, necessidade e importância de apoiar a campanha de vacinação que será realizada ao longo deste ano em todo o mundo.

Neste contexto, recorda as duas importantes declarações da Santa Sé sobre o tema: “Reflexões morais sobre vacinas preparadas a partir de células procedentes de fetos humanos abortados” da Pontifícia Academia para a Vida e a “Nota da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a moralidade do uso de algumas vacinas contra a Covid-19”, de 21 de dezembro de 2020.

A Academia Latino-americana de Líderes Católicos quer contribuir para esta campanha global de vacinação com um encontro onde, além de fazer eco à posição da Igreja Católica, se proponha uma discussão multidisciplinar do tema, isto é, sob a ótica da Doutrina Social da Igreja, a medicina (infectologia) e ciências sociais.

Neste sentido, haverá três oradores principais: o cardeal Seán O'Malley, arcebispo de Boston e presidente do Pontifício Conselho para a Proteção de Menores; a cientista e imunologista sueca do Instituto Karolinska em Estocolmo, Katerina le Blanc e Enrique García Rodríguez, ex-tesoureiro do Banco Ibero-americano de Desenvolvimento (BID) e presidente do Conselho de Administração do Trust for the Americas.

O diretor geral da Academia de Líderes Católicos, José Antonio Rosas, entrevistado por Vida Nueva Digital, também participante do projeto, destacou que a Conferência é muito importante por um simples motivo: milhares de vidas estão “em jogo”.

“Se as pessoas não forem vacinadas - explicou - colocam em risco não só as próprias vidas, mas também as das suas famílias; e assim nunca poderemos sair desta tremenda crise que vive a humanidade”.

Nesse sentido, Rosas expressou a convicção de que o cristão tem a obrigação moral de promover a vacinação e esclarecer muitas das fake news e teorias absurdas que circulam nas redes sociais.

A conferência será aberta pelo cardeal Carlos Aguiar, arcebispo primaz do México e poderá ser seguida pela plataforma Zoom em espanhol, inglês, português e italiano. Para participar você deve se cadastrar no site https://www.liderescatolicos.net/vacunas/.

A conferência também será transmitida no canal da Academia no YouTube: https://www.youtube.com/liderescatolicos.

Vatican News Service - ATD

Santa Margarida da Hungria

Sta. Margarida da Hungria | ArqSP

Margarida era uma princesa, filha do rei Bela IV, da Hungria e da rainha Maria, de origem bizantina. Ela nasceu no castelo de Turoc, em 1242, logo foi batizada, pois os reis eram fervorosos cristãos. Aos dez anos, o casal real a entregou para viver e ser preparada para os votos religiosos, no mosteiro dominicano de Vespem, em agradecimento pela libertação da pátria dos Tártaros.

Dois anos depois, fez a profissão de fé de religiosa num novo mosteiro, fundado para ela por seu pai, na Ilha das Lebres, localizada no rio Danúbio, perto de Budapeste. Em 1261, tomou o véu definitivo, entregando seu coração e sua vida a serviço do Senhor, tendo uma particular devoção pela Eucaristia e Paixão de Cristo. Ela realmente, era especial, foi um exemplo de humildade e virtude para as outras religiosas. Rezava sempre, e fazia penitencias, se oferecendo como vítima proposital, para a salvação do seu povo.

Margarida, não desejou ter uma cultura elevada. Sua instrução se limitou ao conhecimento primário da escrita e da leitura, talvez apenas um pouco mais que isto. Ela pedia que lhe lessem as Sagradas Escrituras e confiava sua direção espiritual ao seu confessor, o dominicano Marcelo, que era o superior da Ordem.

Possuía um ilimitado desapego às coisas materiais, amando plenamente a pobreza, o qual unido à sua vida contemplativa espiritual, a elevou a uma tal proximidade de Deus, que recebeu o dom das visões. Ela se tornou uma das grandes místicas medievais da Europa, respeitada e amada pelas comunidades religiosas, pela corte e população. Morreu em 18 de janeiro de 1270, no seu mosteiro.

A sua sepultura se tornou meta de peregrinação, pelas sucessivas graças e milagres atribuídos à sua intercessão. Um ano depois da sua morte, seu irmão, Estevão V, rei da Hungria, encaminhou um pedido de santidade, à Roma. Mas este processo desapareceu, bem como um outro, que foi enviado em 1276. Porém na sua pátria e em outros paises, Margarida já era venerada como Santa.

Depois de muitos desencontros, em 1729 um processo chegou em Roma, completo e contendo dados de autenticidade inquestionável. Neste meio tempo as relíquias de Margarida tinham sido transferidas, por causa da invasão turca, do convento da Ilha das Lebres para o de Presburgo em 1618.

Em 1804, mesmo sem o reconhecimento oficial, seu culto se estendia na Ordem Dominicana e na diocese da Transilvânia. No século XIX, sua festa se expandiu por todas as dioceses húngaras. A canonização de Santa Margarida da Hungria foi concedida pelo papa Pio XII em 1943, em meio ao júbilo dos devotos e fiéis, de todo o mundo, especialmente pelos da comunidade cristã do Leste Europeu, onde sua veneração é muito intensa.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

domingo, 17 de janeiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Catequeses Mistagógicas (Parte 1/8)

São Cirilo de Jerusalém (313-350)

Catequeses Mistagógicas

Prefácio

A obra catequética de São Cirilo de Jerusalém compõe-se de duas Catequeses. No presente volume apresentamos as Catequeses Mistagógicas. Deixamos para um próximo volume a Catequese Preliminar e as dezoito Catequeses Pré-batismais. Publicamos em primeiro lugar as Catequeses Mistagógicas não só pela importância das mesmas, mas por constituírem uma unidade de doutrina que nos abre as portas para uma melhor compreensão e aproveitamento das demais Catequeses.

As Catequeses de S. Cirilo são consideradas como sendo a coleção catequética, após a de Agostinho, a mais completa que a Antigüidade nos legou. Através delas podemos apreciar o conteúdo de tudo quanto constituía a educação religiosa ministrada aos que se convertiam ao Cristianismo. O Credo, detalhadamente comentado, é tido como uma jóia preciosa do tesouro teológico da Igreja Primitiva. Nas Catequeses Pré-batismais o Credo, muito semelhante ao Credo Niceno-constantinopolitano, nos é transmitido com comentários e interpretações próprias da época. Nas Catequeses Mistagógicas é o culto cristão: Batismo, Confirmação, Celebração Eucarística, com o respectivo rito, que é explicado. Pelas Catequeses temos acesso ao anúncio da fé da Igreja Primitiva e às manifestações culturais desta fé.

A tradução de toda a obra catequética foi feita por fr. Frederico Vier, O.F.M. Durante os últimos anos de sua vida, ele consagrou as horas que lhe sobravam do cansativo trabalho de Revisor e Vice-Diretor da Editora Vozes a este trabalho de tradução das Catequeses de S. Cirilo. É a ele que dedicamos esta obra como expressão de uma vida de dedicação incansável e de perseverança inexaurível. Era com amor que o víamos horas a fio tentando descobrir a melhor expressão, o termo mais apropriado para designar o pensamento do bispo de Jerusalém. A experiência de anos na revisão de textos e manuscritos o tornou sensível às sutilezas da língua e solidificou seu desejo de fidelidade ao autor. Infelizmente, a morte o colheu antes que tivesse concluído a obra. Coube-nos, com a colaboração de fr. Salésio Hillesheim, O.F.M., concluí-la.

Petrópolis, 21 de agosto de 1976.
Frei Fernando A. Figueiredo, O.F.M.

I. Introdução

I.1 Dados biográficos

No ano 348 tornou-se Cirilo bispo da cidade de Jerusalém, onde provavelmente nasceu por volta do ano 315. Fora em 345 ordenado sacerdote por Máximo II, a quem sucederia após sua morte ou deposição levada a efeito pelos eusebianos. Muito depressa Acácio, metropolita da Província e um dos chefes dos eusebianos, investe contra Cirilo, defensor da fé de Nicéia. Seguem-se acusações mútuas acerca da fé de cada um. Cirilo é exilado por três vezes em uma situação parecida à de São João Crisóstomo com Teófilo de Alexandria.

Em 358/9 o concílio de Seleucia o restabelece em sua sé episcopal. No ano seguinte será desterrado por ordem do Imperador Constâncio, movido por Acácio e seguidores. Ele permanece no desterro até 362, quando é favorecido pela anistia geral proclamada por Juliano. Porém, em 367, apesar da morte de Acácio, ele volta ao exílio até que, em 378, Graciano decreta a suspensão do desterro para todos os bispos. Em 381 encontramo-lo entre os padres conciliares do primeiro Concílio de Constantinopla. A liturgia ocidental e oriental comemora no dia 18 de março a sua morte, que deve ter-se dado no ano de 387.

É necessário distinguir em Cirilo o teólogo e a testemunha da fé e da Tradição cristã, de modo geral, e da Igreja de Jerusalém, em particular. Como teólogo ele não apresenta a profundidade doutrinal dos Padres da segunda metade do século IV, defensores da ortodoxia, como Santo Atanásio e Santo Hilário ou teólogos como São Basílio e os demais Padres Capadócios que marcarão o pensamento teológico, influenciando as gerações futuras. Mas é uma valiosa testemunha da Tradição antiga e eco da fé católica professada em Nicéia e, mais tarde, no primeiro Concílio de Constantinopla.

I.2 Caracterização da época

Uma rápida visão da época em que viveu Cirilo ajudar-nos-á a melhor apreender o motivo que subjaz a muitos ditos seus ao longo de suas obras.

No século II a Igreja se vê diante de correntes religiosas que se esforçam para exercer uma espécie de sedução sobre os homens de seu tempo: a gnose e as religiões de Mistério. O gnosticismo continuará presente nos séculos posteriores sob formas diversas, sendo combatido por Justino, Santo Ireneu, Tertuliano e o autor dos Philosophumena. Localizar-se-á, sobretudo, no Egito e na Síria. A gnose fala de uma centelha divina no homem, o qual, provindo do reino divino, caiu neste mundo. Aqui o homem se encontra submisso ao destino, ao nascimento, à morte e tem necessidade de ser despertado por seu arquétipo celeste ao qual ele finalmente se reunirá. Esta libertação se dá pelo conhecimento (gnose), que consiste essencialmente em conhecer-se, melhor, se reduz à necessidade de reconhecer o elemento divino que constitui o verdadeiro «eu». Liberta-se assim de todos os «poderes» que o retêm no «profano» e no erro.

Ao mesmo tempo que tais correntes angariavam adeptos, no interior da Igreja se assistia ao surgimento de doutrinas anti-trinitárias. Incapazes de admitir a diversidade de Pessoas na unidade de uma e mesma Natureza divina, negavam alguns a divindade do Cristo reduzindo-o a um simples homem dotado de extraordinários poderes e virtudes (dinamistas), ou explicavam sua personalidade como mera modalidade da de Deus Pai (modalistas, patripassianos). Em relação ao Filho, temos Noeto e Práxeas; em relação ao Espírito Santo, temos Sabélio.

Daí à doutrina sustentada por Ário, sacerdote da Igreja de Alexandria, seria um passo. Logo após a vitória sobre Licínio, Constantino, único imperador, escreve a Alexandre, bispo de Alexandria, para que ele se ponha de acordo com Ário. Alexandre se escandalizara com as posições cristológicas de seu sacerdote Ário, que, de mil maneiras, mesmo através de cânticos populares, ensinava que o Cristo não é verdadeiramente Deus. Em uma carta a Eusébio de Nicomedia, Ario expõe sua posição: «Ele (o Cristo) começou a existir por um ato de vontade. Antes de ser gerado Ele não era». Tal discussão culminará com o primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia, em 325, onde se proclamará, contra o arianismo, a divindade do Filho e sua consubstancialidade (homoousía) com o Pai. A luta ariana (318-381) coincide com a vida de São Cirilo e caracteriza este período. Concílios e sínodos, fórmulas e mais fórmulas de fé, mútuas condenações constituem a tecedura desta luta. Para aumentar a confusão dos fiéis, surgiram, dentro das correntes heterodoxas, outras com matizes diversos, uma mais extremada, a dos anomeus, outra mais mitigada; a dos semi-arianos ou homoioúsios. A muitos faltavam serenidade e magnanimidade, deixando-se envolver em intrigas e mesmo fraudes e violências.

Em meio a tal situação se destacam a ousadia e a sobriedade, a profundidade e a mente esclarecida de um Basílio Magno, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa, Cirilo de Alexandria e outros. São Cirilo em suas catequeses alerta os fiéis não só contra as afirmações anticristãs provindas do meio gentílico ou judaico, mas também contra as asserções heréticas. Enumera os vícios dos deuses adorados pelos pagãos, assim como de seus adoradores. Busca no A.T. anúncios e prefigurações do N.T., em oposição aos judeus, e mostra a unidade de ambos os Testamentos, o que era rejeitado pelos gnósticos. Levanta-se contra os hereges, cujas obras ele diz ter lido: «Estas coisas, fala Cirilo, estão nos livros dos maniqueus, eu as li, porque não cria nos que me falavam delas; e as examinei cuidadosamente para segurança vossa e ruína dos outros». 2

Muito se escreveu sobre o fato de Cirilo jamais empregar o termo homooúsios: consubstancial. Todavia, a simples leitura de suas catequeses nos mostra um Cirilo preocupado em ser o mais simples possível, evitando sempre que possível o emprego de termos teológicos. Ele tem diante de si pessoas pouco versadas em doutrina cristã, às quais deseja transmitir de modo acessível e com proveito suas instruções. Daí o fato de ele expor a doutrina em uma terminologia fundamentalmente bíblica. Ademais, o termo homooúsios foi compreendido por alguns em um sentido sabeliano, que Cirilo tantas vezes combate. 

ECCLESIA

Qual a diferença entre liberdade e libertinagem?

Ivo Fernandes - blogger
por Prof. Felipe Aquino
Twitter: @pfelipeaquino

Liberdade ou libertinagem?

A maior aspiração do ser humano é a liberdade seguida de felicidade. E isso é consequência natural de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gen 1,26), para participar de sua vida bem-aventurada. Deus pôs em nós uma sede infinita, para que somente n’Ele ela pudesse ser saciada.

Santo Agostinho (354-430), depois de buscar a felicidade nos prazeres do mundo, na retórica e oratória, no maniqueísmo e em tantas outras estripulias, somente saciou seu coração quando encontrou o Evangelho. Mais adiante, lamentou ter demorado tanto para ter descoberto a verdadeira fonte da felicidade: “Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida amei, por que desejei outra coisa senão Vós?”.

O Criador não quis para nós uma felicidade pequena, essa que se encontra entre as coisas do mundo: o prazer dos sentidos, o delírio das riquezas ou o fascínio do poder e do prestígio. Tudo isso é ilusão, porque o que está abaixo de nós não pode satisfazer nossa alma. Isso é muito pouco para nós! Deus quis que a nossa felicidade fosse muito maior, quis que nossa felicidade fosse Ele próprio. Esse é um grande ato de amor do Pai para conosco. O Pai sempre quer o melhor para o filho.

Ser livre ou ser libertino?

É preciso distinguir entre liberdade e libertinagem, entre ser livre e ser libertino. Liberdade, sem compromisso com a verdade e com a responsabilidade, torna-se libertinagem; e esta jamais poderá gerar felicidade, já que vai desembocar no pecado. E “o salário do pecado é a morte” Rom 6,23).

Ser livre não é fazer tudo o que se quer. Não! Muitas vezes, isso é loucura. A verdade é o trilho da verdadeira liberdade, e esta, sem verdade, é loucura. Será liberdade assegurar que dois mais dois são cinco? Será liberdade desrespeitar o manual do seu aparelho de TV e, em vez de ligá-lo em uma tomada de 127 volts, como alerta o manual, você teimar em ligá-lo em outra de 220 volts?

Será liberdade, por exemplo, usar drogas, para se sentir livre, mesmo destruindo a vida?

Da mesma forma, será liberdade usar o sexo sem o compromisso do casamento apenas por prazer, mesmo sabendo que ele poderá gerar uma gravidez despreparada, um aborto, um adultério? Não! Tudo isso não é liberdade, mas sim loucura!

Liberdade não pode ser confundida com libertinagem. Posso dar socos no ar à vontade, mas sem atingir o nariz do meu irmão. Pregar a liberdade de expressão, sem respeitar os direitos dos outros, equivale à perversão intelectual e a volta à barbárie.

A liberdade de expressão não dá o direito a alguém de ofender ou ridicularizar o pai ou a mãe dos outros. Defender a liberdade absoluta de expressão é, muitas vezes, uma forma de corporativismo doentio, de uma mídia, às vezes, mal formada, sem princípios éticos, que mascara a truculência e o arbítrio, e se esconde atrás de uma interpretação maldosa da lei.

A liberdade, que faz a felicidade, é alicerçada na verdade e na responsabilidade. Fora disso é loucura, libertinagem, irresponsabilidade, é pecado que vai gerar a dor, sofrimento e lágrimas. Não queira experimentá-la. É muito melhor aprender com o erro dos outros. Abra os olhos e tenha coragem de ver!

Experimente, hoje, dar a um jovem tudo o que ele quiser: dinheiro à vontade, prazer até não poder mais, curtição de toda natureza, e você verá que a sua fome de felicidade continuará insaciada. Não fosse isso verdade, não teríamos tantos jovens de famílias ricas, mas delinquentes, envolvidos com drogas, crimes etc. Por outro lado, vá a um mosteiro e pergunte a um monge, que abdicou de todos os prazeres do corpo e do espírito, para abraçar somente a Deus, se lhe falta algo para ser feliz. A resposta será não! Nada lhe falta para ser feliz.

A liberdade só atinge a perfeição quando está ordenada para Deus, seu bem último. Quanto mais praticar o bem e a virtude, tanto mais livre a pessoa será. Enquanto as paixões nos dominarem, não seremos livres nem felizes. Enquanto o espírito do homem for escravo da sua carne e da sua sensibilidade, esse ainda não será livre, e ainda viverá se arrastando pela vida.

No tempo de Carnaval, parece que se oficializou a prática do pecado, a liberação de todo vício e de todos os mais baixos instintos. Pobre criatura humana ferida pelo pecado original! Mergulha na lama mais fétida, achando que sairá dela perfumada.

O pior de tudo é quando as autoridades constituídas, que deveriam primar pelo bom senso, pelo pudor, equilíbrio entre outros, agem ao contrário disso e fomentam a imoralidade e a depravação, distribuindo fartamente a camisinha e a pílula do dia seguinte, para que haja “sexo seguro”.

O cristão que vive segundo a lei de Cristo sabe que tudo isso é mau e aumenta o sofrimento e a escravidão da pessoa; por isso, não compactua com essa situação.

“Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito” (Rm 12,2).

Prof. Felipe Aquino - Ed. Cléofas

Na íntegra: as três partes do Segredo de Fátima - e uma interpretação

Aleteia

O pedido de Nossa Senhora não está sendo cumprido por nós.

Em 1917, Nossa Senhora apareceu em Fátima, Portugal, para três pastorzinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta. Maria fez revelações que, mais tarde, ficaram conhecidas como “O Segredo de Fátima“.

A 1ª e a 2ª parte do segredo foram escritas por Lúcia no ano de 1941 e conhecidas logo em seguida. Já a 3ª parte do segredo foi escrita em 1944, em uma correspondência privada a ser aberta somente pelo Santo Padre. No dia 26 de junho de 2000, a 3ª parte do segredo foi finalmente publicada pelo Vaticano.

Conheça a íntegra das três partes:

1ª e 2ª parte do Segredo de Fátima

Transcrição na íntegra das palavras da Irmã Lúcia, contendo a revelação da primeira e da segunda partes do segredo de Fátima:

“(…) o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar. A primeira foi, pois, a vista do inferno! Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados nesse fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e fazia estremecer de pavor.

Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e acrosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros.

Esta vista foi um momento, e graças à nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição); se assim não fosse, creio que teríamos morrido de susto e pavor.

Em seguida, levantamos os olhos para Nossa Senhora, que nos disse com bondade e tristeza: Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração.

Se fizerem o que eu disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar, mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo dos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz”.

3ª parte do Segredo de Fátima

O conteúdo da terceira parte do Segredo de Fátima, anunciado em 13 de julho de 1917, em Fátima, e que a Ir. Lúcia, a única das três videntes ainda viva, redigiu em 3 de janeiro de 1944, é o seguinte:

“Escrevo em ato de obediência a Vós, meu Deus, que me mandais por meio de Sua Excelência Reverendíssima, o Sr. Bispo de Leiria, e da Vossa e minha Santíssima Mãe. Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco mais alto, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda.

Ao cintilar despedia chamas que pareciam incendiar o mundo. Mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro. O anjo, apontando com a mão direita para a terra, com voz forte dizia: Penitência, penitência, penitência.

E vimos numa luz imensa, que é Deus, algo semelhante a como se veem as pessoas no espelho, quando lhe diante passa um bispo vestido de branco. Tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre. Vimos vários outros bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande cruz, de tronco tosco, como se fora de sobreiro com a casca. O Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade, meia em ruínas e meio trêmulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena. Ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho.

Chegando ao cimo do monte, prostrado, de joelhos, aos pés da cruz, foi morto por um grupo de soldados que lhe disparavam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns após os outros os bispos, os sacerdotes, religiosos, religiosas e várias pessoas seculares. Cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da cruz, estavam dois anjos. Cada um com um regador de cristal nas mãos recolhendo neles o sangue dos mártires e com eles irrigando as almas que se aproximavam de Deus”.

Um comentário de Sergio Vellozo, da Canção Nova

Nossa Senhora, em Fátima, fez um diagnóstico, mostrou os riscos e prescreveu os remédios. Ela ofereceu à humanidade meios para se livrar de males ameaçadores representados nas visões dadas às três crianças. Na medida em que usamos o remédio, o mal é vencido. Almas são salvas de cair no inferno e guerras destruidoras que atingem a Igreja são afastadas, adiadas.

O mundo viveu durante vários anos a chamada guerra fria, em que o conflito com a Rússia e todo o bloco soviético podia explodir a qualquer momento numa guerra nuclear. O remédio oferecido em Fátima, uma especial consagração ao Imaculado Coração, ficou por longo tempo sem a aplicação devida. Foi somente depois de ser salvo por milagre de um atentado em 13 de maio de 1981, aniversário das aparições, que João Paulo II se ocupou das revelações de Fátima. Quando, em 1984, nosso querido Papa fez a consagração solene nos moldes prescritos por Nossa Senhora, o remédio celestial começou a agir. Bastaram cinco anos para o mundo assistir ao desmantelamento do bloco soviético.

Parte do tratamento prescrito cabia ao Papa e aos bispos, mas a outra parte cabe a cada um de nós. Como temos feito a comunhão reparadora? Qual a visão pior: a da primeira parte ou a da última parte do segredo? A queda do muro de Berlim é um testemunho de como os remédios oferecidos pela Mãe são eficazes. Diante de tudo, só posso pedir misericórdia, pois tenho sido relaxado no uso destes remédios para o bem de tantos. Penitência! Penitência! Penitência!, dizia o anjo em 1917. Que diria ele agora?

Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF