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segunda-feira, 6 de junho de 2022

Namoro, tempo de conhecer e escolher

Namoro | Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

Quando você vai comprar um sapato ou um vestido, não leva para casa o primeiro que experimenta, é claro. Você escolhe, escolhe (…), até gostar da cor, do modelo, do preço, e servir bem nos seus pés ou no seu corpo. Se você escolhe com tanto cuidado um simples sapato, uma calça, quanto mais cuidado você precisa ter ao escolher a pessoa que deve viver ao seu lado para sempre!

Talvez você possa um dia mudar de casa, mudar de profissão, mudar de cidade, mas não poderá trocar de esposa ou de marido.

É claro que você não vai escolher a futura esposa, ou o futuro marido, como se escolhe um sapato. Já dizia o poeta que “com gente é diferente”. Mas, no fundo será também uma criteriosa escolha.

Se você quiser levar para casa o primeiro par de sapatos que você calçou, só porque o preço é bom, pode ser que você se arrependa depois quando perceber que não era de couro legítimo, mas sintético.

Se você escolher namorar aquela garota, só porque ela é “fácil”, pode ser que você chore depois se ela o deixar por outro, fazendo o seu coração sangrar.

Se você decidir levar aquele par de sapatos, só porque é bonito e está na moda, mesmo que aperte um pouco os seus pés, pode ser que depois você volte do baile com ele nas mãos porque não o aguenta mais nos pés.

Se você escolher aquele rapaz só porque ele é um “gato”, pode ser que amanhã ele faça você chorar quando se cansar de você.

O namoro é este belo tempo de saudável relacionamento entre os jovens, onde, conhecendo-se mutuamente, eles vão se descobrindo e fazendo “a grande escolha”.

Já ouvi alguém dizer,erradamente, que “o casamento é um tiro no escuro”; isto é, não se sabe onde vai acertar; não se sabe se vai dar certo.

Isto acontece quando não há preparação para a união definitiva, quando não se leva a sério o amor pelo outro.

A preparação para o seu casamento começa no namoro, quando você conhece o outro e verifica se há afinidade dele com você e com os seus valores.

O casamento só é um “tiro no escuro”, para aqueles que se casaram sem se conhecer, porque, então, namoraram mal.

Se o seu namoro for sério, seu casamento não será um tiro no escuro, e nem uma roleta da sorte.

O seu casamento vai começar num namoro.

É claro que a primeira exigência tem que ser a reta intenção sua e do outro, mesmo que ninguém esteja pensando ainda em noivado.

Não brinque com o namoro, não faça dele apenas um passa – tempo, ou uma “gostosa” aventura; você estaria brincando com a sua vida e com a vida do outro.

Só comece a namorar quando você souber porque vai namorar.

Mais importante do que a idade para começar a namorar, 15 anos, 17 anos, 22 anos, é a sua maturidade.

A idade em que você deve começar a namorar é aquela na qual você já pensa no casamento, com seriedade, mesmo que ele esteja ainda longe.

Para que você possa fazer bem uma escolha, é preciso que saiba antes o que você quer. Sem isto a escolha fica difícil.

Não é verdade que quando você sai para comprar um sapato, já sabe qual é a cor que prefere, o modelo e o preço adequado ao seu bolso?

Que tipo de rapaz você quer?

Que qualidades a sua namorada deve ter?

O que você espera dele ou dela?

Esta premissa é fundamental.

Se você não sabe o que quer, acaba levando qualquer um… só porque caiu na sua frente.

Os valores do seu namorado devem ser os mesmos valores seus, senão, não haverá encontro de almas.

Se você é religiosa e quer viver segundo a Lei de Deus, como namorar um rapaz que não quer nada disso?

É preciso ser coerente com você.

Não basta que o sapato seja bonito, tem que servir nos seus pés.

Se você tem uma boa família, seus pais se amam, seus irmãos estão juntos, então será difícil construir a vida com alguém que não tem um lar e não dá importância para o valor da família.

Quem não experimentou o calor de um lar não sabe dar valor para a família. Será difícil construir uma família junto com alguém que não entende a sua importância.

As leis de Deus e da Igreja são exigentes e determinam o nosso comportamento. Será impossível vivê-las se o outro não os aceita.

Tenho encontrado muitos casais de namorados e de casados que vivem uma dicotomia nas suas vidas religiosas; e isto é motivo de desentendimento entre eles.

Há jovens que pensam assim: “eu sou religiosa e ele não; mas, com o tempo eu o levo para Deus”.

Isto não é impossível; e tenho visto acontecer muitas vezes. No entanto, não é fácil. E a conversão da pessoa não basta que seja aparente e superficial; há que ser profunda, para que possa satisfazer os seus anseios religiosos.

Não se esqueça que a religião é um fator determinante na educação dos filhos, para aqueles que a prezam.

Não tenho dúvida de dizer a você que não renuncie aos seus valores na escolha do outro.

Se é lícito você tentar adequar-se às exigências do outro, por outro lado, não é lícito você matar os seus valores essenciais para não perdê-lo.

Não sacrifique o que você é, para conquistar alguém.

Há coisas secundárias dos quais podemos abdicar, sem comprometer a estrutura básica da vida, mas há valores essenciais que não podem ser sacrificados.

Você poderá aceitar uma vida mais simples e mais pobre do que aquela que você tinha na sua família, ou poderá viver numa outra cidade que não é a que você gostaria, etc.

São preferências periféricas, que são superadas pelo amor que o outro dedica a você. Mas aquilo que é essencial, não pode ser abdicado.

Já vi muitas moças cristãs aceitarem um namoro com alguém divorciado, por medo de ficarem sós. É melhor ficar só, do que violar a Lei de Deus; pois ninguém pode ser plenamente feliz se não cumpre a vontade d’Aquele que nos criou.

Portanto, saiba o que você quer, e saiba conquistá-lo sem se render. Não se faça de cego, nem de surdo, e nem de desentendido.

Para que você possa chegar um dia ao altar, você terá que escolher a pessoa amada; e, para isto é fundamental conhecê-la.

O namoro é o tempo de conhecer o outro. Mais por dentro do que por fora.

E para conhecer o outro é preciso que ele “se revele”, se mostre. A recíproca é verdadeira.

Saiba que cada um de vocês é um mistério, desconhecido para o outro. E o namoro é o tempo de revelar (tirar o véu) esse mistério.

Cada um veio de uma família diferente, recebeu valores próprios dos pais, foi educado de maneira diferente e viveu experiências próprias, cultivando hábitos e valores distintos.

Tudo isto vai ter que ser posto em comum, reciprocamente, para que cada um conheça a “história” do outro. Há que revelar o mistério!

Se você não se revelar, ele não vai conhecê-la, pois este mistério que é você, é como uma caixa bem fechada e que só tem chave por dentro.

É a sua intimidade que vai ser mostrada ao outro, nos limites e na proporção que o relacionamento for aumentando e se firmando.

É claro que você não vai mostrar ao seu namorado, no primeiro dia de namoro, todos os seus defeitos.

Isto será feito devagar, na medida que o amor entre ambos se fortalecer.

Mas há algo muito importante nesta revelação própria de cada um ao outro: é a verdade e a autenticidade.

Seja autêntico, e não minta.

Seja aquilo que você é, sem disfarces e fingimentos mostre ao outro, lentamente, a sua realidade.

Não faça jamais como aquele rapaz que, querendo conquistar uma bela garota, garantiu-lhe que o pai tinha um belo carro importado…; mas quando ela foi conferir havia só um velho fusca na garagem.

A mentira destrói tudo, e principalmente o relacionamento.

Mas para que você faça uma boa comunicação de você mesmo é preciso que tenha autocrítica e auto aceitação. Só depois é que você pode se revelar claramente. É preciso coragem para fazer esta auto análise e se conhecer, para se revelar.

Não tenha vergonha da sua realidade, dos seus pais, da sua casa, dos seus irmãos, etc.

Se o outro não aceitar a sua realidade, e deixá-lo por causa dela, fique tranquilo, esta pessoa não era para você, não o amava.

Uma qualidade essencial do verdadeiro amor é aceitar a realidade do outro.

O amor pelo outro cresce na medida que você o conhece melhor. Não se ama alguém que não se conhece.

Não fique cego diante do outro por causa do brilho da sua beleza, da sua posição social ou do seu dinheiro. Isto impediria você de conhecê-lo interiormente e verdadeiramente.

Lembre-se de uma coisa, aquilo que dizia Saint Exupéry: “o importante é invisível aos olhos”. “Só se vê bem com o coração”. São Paulo nos lembra que o que é material é terreno e passageiro, mas o que é espiritual é eterno.

Tudo o que você vê e toca pode ser destruído pelo tempo, mas o que é invisível aos olhos está apegado ao ser da pessoa e nada pode destruir. Esse é o seu verdadeiro valor.

O carro que ele tem hoje, amanhã pode não ter mais.

A beleza do corpo dela hoje, amanhã não existirá mais quando o tempo passar, os filhos crescerem…

Mas aquilo que está no “ser” dele ou dela, ficará sempre, e é isto que dará estabilidade ao casamento e garantirá a felicidade duradoura de você, da família e dos filhos.

Portanto, conheça a “história” e o “coração” da pessoa que está hoje ao seu lado. Quem ele é?

Logo que a criança entra na escola e aprende a ler, já começa a estudar a história do Brasil.

É para que ela conheça o Brasil; e conhecendo-o, compreenda-o, ame-o, ajude-o…

O mesmo se dá entre as pessoas.

Quando você mergulha na história do outro, conhece os seus dramas e os fatos que a determinaram, então você o compreende melhor e tem mais motivações para compreendê-lo, tem mais paciência para ouvi-lo, perdoá-lo e ajudá-lo.

Aí está o segredo de um relacionamento profundo e que propicia um conhecimento interior adequado de ambas as partes.

E aqui você percebe porque é importante que o relacionamento seja maduro; cada um vai expor ao outro o seu coração, as suas reservas mais secretas.

É por isso que o namoro não pode ser uma brincadeira sem qualquer responsabilidade.

Você precisa saber guardar as confidências do outro, mesmo amanhã se o namoro terminar.

Há coisas que temos de ter a grandeza de levar para o túmulo conosco, sem revelar a ninguém.

Quando alguém abre-lhe o coração está depositando toda a confiança em você, e espera não ser traído.

Portanto, cuidado com o que você conta a terceiros sobre o seu namoro; nem tudo poderá ser contado aos outros.

Você não gostaria que ele revelasse aos outros as sua confidências, então não revele as confidências dele.

Jesus nos manda não fazer aos outros aquilo que não queremos que seja feito conosco. É uma regra de ouro.

Quando conhecemos o interior de uma caverna vemos coisas belas, mas outras assustadoras. Há belos lagos escondidos, com águas cristalinas, e formações calcáreas bonitas; mas há também cantos escuros com morcegos e outros bichos. Nem por isso a caverna deixa de ser atraente e rica.

Da mesma forma a pessoa que está a seu lado. No seu interior há belas passagens, mas pode haver também recantos escuros. Saiba valorizar o que há de belo no interior da pessoa, antes de deter-se nos seus pontos escuros.

Saiba ver no outro, primeiro o que ele tem de bom, e só depois encare o seu lado difícil. Saiba elogiar e fazer crescer o que há de bom, e cure com carinho as feridas que precisam ser tratadas.

Isto mostra-nos que não há o chamado “amor a primeira vista”.

O amor não é um ato de um momento, mas se constrói “a cada momento”. Não se pode conhecer uma pessoa “à primeira vista”, é preciso todo um relacionamento.

Só o tempo poderá mostrar se um namoro deve continuar ou terminar, quando cada um poderá conhecer o interior do outro, e então, puder avaliar se há nele as exigências fundamentais que você fixou.

Um indício de que o relacionamento começou bem é a ausência de brigas e desentendimentos, por pequenas coisas sobretudo.

Se nesta fase feliz do namoro, onde as preocupações de cada um são poucas, já existem muitas brigas, creio que isto seja um sinal de que a coisa não vai bem.

Não há que se ter escrúpulos para terminar um namoro; basta que haja sinceridade e delicadeza para que o seu término não deixe feridas em cada um.

Eis aqui uma questão importante; você não pode criar uma esperança vazia no outro, levá-lo às alturas nos seus sonhos, e depois, de repente, jogar tudo no chão. Seria uma covardia!

Não brinque com os sentimentos e com a vida do outro, da mesma forma que você não quer que faça assim com a sua. Não alimente no outro esperança falsa.

É válido tentar prolongar um pouco aquele namoro difícil, para tentar ainda um discernimento melhor; mas você não deve iludir o outro nem um dia a mais, se chegou à conclusão que não é com esta pessoa que você vai poder construir uma vida a dois.

É melhor ter a coragem de terminar hoje um namoro que não vai bem, do que chorar amanhã por ter perdido o tempo em um relacionamento infrutuoso.

O tempo de namoro é também o tempo de conhecer a família do outro.

Conhecer a família é imprescindível para você conhecer a história da pessoa, já que ela é seu fruto.

Em todas as famílias há valores próprios, denominadores comuns, frutos da cultura familiar e da educação, isto que o povo chama de “berço”. Ali você encontrará valores e desvalores; e saiba que o seu namorado vai trazê-los para o relacionamento com você.

Isto é certo. Portanto, para conhecer bem e poder escolher bem, você terá que olhar “de olhos abertos” a realidade familiar do outro que se põe diante de você; não para discriminar, mas para conhecer.

É um grave engano pensar que você vai namorar, e quem sabe casar-se com ele ou com ela, e não com a sua família; e que portanto, a sua família não importa.

A voz do sangue fala muito forte em todos nós; e, se não soubermos lidar com ela, muitos estragos podem acontecer.

Não se assuste com aquilo que você não gostar na família dele; aceite a sua realidade, e não a condene. Saiba discernir com sabedoria e coragem se nesta realidade que você encontrou há aqueles valores mínimos que você já fixou para a sua vida.

Não feche os olhos para a realidade da família do outro, para que você possa conhecê-lo. Saiba que nunca você vai encontrar uma família ideal, mas procure conhecê-la, para conhecer quem está com você.

Conhecendo a família dele você vai conhecer muito daquilo que está no seu interior.

Toda família tem uma série de valores e também de problemas.

Você terá que avaliar também isto para chegar ao discernimento sobre o seu namoro.

Não se trata de “julgar” a família do outro, e muito menos de menosprezá-la; mas você tem o direito de construir a sua vida e a sua família sobre valores que lhe são caros.

É verdade que mesmo de famílias complicadas, e às vezes até destruídas, podem sair belas criaturas, mas saiba que isto não é a regra geral.

O normal é que as pessoas bem formadas estejam nas famílias que se prezam.

Tudo isto é importante para que o seu casamento, no futuro, não seja “um tiro no escuro”.

O importante é ter os olhos abertos e não se fazer de cego. O coração não pode cegar o espírito.

Não deixe de ouvir a opinião de seus pais.

Muitos namoros e casamentos foram mal porque os jovens não quiseram ouvir os pais. Eles são experientes, e amam você, de verdade. Não se faça de surdo às suas advertências. Eles conhecem os perigos da vida muito melhor do que você.

Para você meditar: Seja!

Se você não puder ser um pinheiro no topo de uma colina,

Seja um arbusto no vale.

Mas seja o melhor arbusto à margem do regato.

Seja um ramo, se não puder ser uma árvore.

Se não puder ser um ramo, seja um pouco de relva

E dê alegria a algum caminho.

Se você não puder ser almíscar, seja então apenas uma tília.

Mas a tília mais viva do lago!

Não podemos ser todos capitães; temos de ser tripulação.

Há alguma coisa para todos nós aqui.

Há grandes obras e outras menores a realizar,

E é a próxima tarefa que devemos empreender.

Se você não puder ser uma estrada, seja uma senda.

Se não puder ser o sol, seja uma estrela.

Não é pelo tamanho que terá êxito ou fracasso.

Mas seja o melhor do que quer que você seja! (Douglas Malloch)

Retirado do livro: “Namoro”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

Fonte: https://cleofas.com.br/

Seminário São José – RJ: entre nós, um Cardeal

Seminário São José - RJ | arqrio

No último dia 29 de maio o Santo Padre anunciou que irá criar 21 novos cardeais para a Igreja Romana, em consistório a ser realizado no dia 29 de agosto deste ano. Pedindo orações pelos novos purpurados, o Papa Francisco recorda que esse é um serviço que confirma a adesão do escolhido a Cristo, ajudando o Bispo de Roma em seu ministério e promovendo “o bem de todo o fiel Povo Santo de Deus”. Toda a Igreja se alegra com a eleição desses novos membros do Sacro Colégio dos Cardeais, mas de modo especial o Brasil, pois dentre os 21 nomeados estão dois brasileiros: o catarinense D. Leonardo Ulrich Steiner, OFM, Arcebispo Metropolitano de Manaus, e o fluminense D. Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília.

Nossa Arquidiocese de modo ainda mais especial se alegra com a criação de D. Paulo Cezar como cardeal, pois aqui, durante cinco anos, exerceu ele o seu episcopado como bispo auxiliar. E nessa alegria se une também o nosso Seminário Arquidiocesano São José, onde D. Paulo fez a sua formação teológica, sendo, portanto, o primeiro Cardeal a ter estudado nesta que é a primeira casa de formação sacerdotal diocesana do Brasil, com quase três séculos de história.

Oriundo da diocese de Valença, D. Paulo Cézar fez seus estudos filosóficos no Seminário N. Sra. do Divino Amor na diocese de Petrópolis. Entre 1989 e 1992, cursou no Seminário São José do Rio de Janeiro a Teologia, período em que recebeu os ministérios de Leitor e Acólito (1990) e a ordenação diaconal (1991), apresentando ao fim do curso teológico a monografia intitulada “A ‘Kenosis’ na Revelação do Amor de Deus”. Ordenado sacerdote em 5 de dezembro de 1992 na Catedral de Valença pelo bispo diocesano D. Dom Frei Elias James Manning, O.F.M. Conv., exerceu intensa atividade pastoral como vigário e pároco, seguindo depois para Roma doutorou-se em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Os laços com a Arquidiocese do Rio de Janeiro, iniciados em nosso Seminário, se estreitam ainda mais quando D. Paulo se torna professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, exercendo inclusive o cargo de diretor do Departamento de Teologia.

Em novembro de 2010 o Papa Bento XVI o nomeava bispo titular de OEscus e auxiliar de nossa arquidiocese, realizando-se a sagração em fevereiro de 2011 em nossa Catedral por D. Orani, sendo consagrantes o bispo de Valença, D. Fr. Elias, e o bispo emérito de Nova Friburgo, D. Rafael Llano Cifuentes. D. Paulo escolheu como lema Omnia sustineo propter electos – Tudo suporto pelos eleitos (2 Tm 2, 10).

Quando em 1739 D. Antônio de Guadalupe fundou o primeiro seminário do Brasil, deixou ele claro em sua bula de criação que o Seminário São José deve ser o lugar onde os que se destinam ao estado sacerdotal sejam “criados e instruídos nas letras e virtudes com que dignamente possam subir a tão alto ministério e fazerem-se capazes para bem servirem as Igrejas”. Hoje, 282 anos depois, a história de nosso Seminário comprova a fidelidade mantida a esse imperativo de seu fundador, cioso em formar fiéis ministros de Deus não só para a Igreja particular do Rio, mas para toda a Igreja Universal, como afirma o atual reitor, Côn. Leandro Câmara, ao falar da criação de D. Paulo Cezar como Cardeal:

“O nosso seminário, que já viu tantos filhos que nele foram formados serem chamados ao episcopado, entra neste domingo da Ascensão do Senhor para a esteira dos que já formaram homens que em determinado momento de sua caminhada missionária foram chamados à diaconia do cardinalato. Bendizemos a Deus pelo dom do serviço à Igreja Universal que é o cardinalato, para o qual Deus dá a graça aos que chama de terem um coração dilatado. Que este filho dileto de São José, Dom Paulo César Cardeal Costa (ex-aluno de nosso seminário arquidiocesano), seja cada vez mais cumulado de bençãos para fazer o bem a todos aos quais é enviado em missão. E que o nosso seminário continue a árdua e nobre missão de formar bons pastores segundo o coração de Cristo para sua Igreja.”

No Seminário São José grandes teólogos, como Mons. Maurílio Teixeira-Leite Penido e D. Estêvão Bettencourt, OSB já lecionaram; bispos como D. Carlos Alberto Navarro e D. Assis Lopes já estudaram e trabalharam na formação; figuras de relevo da sociedade brasileira como o jornalista e acadêmico Carlos Heitor Cony por ali passaram; sinais de santidade, como o Servo de Deus D. Othon Motta e o Servo de Deus Guido Schäffer ali viveram. São dons que o Senhor nos concede para percebermos como ele, formador primeiros das almas e das vocações, em todos os momentos da história acompanha a sua Igreja e a faz crescer com tantos testemunhos, nos mais variados carismas e serviços, para o bem de seu povo e a propagação de seu reino. Alegrando-nos com o dom do cardinalato de D. Paulo Cezar Costa, confiamos ao Senhor essa sua nova missão, garantindo-lhe nossas orações, e buscando sempre mais responder com sinceridade e fidelidade ao chamado do Senhor, alegrando-nos com os dons e dádivas que Ele nos concede a cada dia para nossa santificação e edificação no meio de sua Igreja.

TEXTO: Seminarista Eduardo Douglas

FOTOS:Côn. Leandro Câmara

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Pode celebrar a missa em qualquer lugar?

SJMV Jeunes
Père Gaspard Craplet
Por Valdemar De Vaux

O que diz a lei canônica sobre as missas fora das igrejas?

Para ir à missa depois de uma agradável caminhada numa trilha, praia ou nas montanhas, não é raro os padres celebrarem a Eucaristia fora das igrejas. Por vezes mesmo em lugares pouco habituais! Por exemplo, os peregrinos da Associação de Enfermeiros da França participam todos os anos da missa no vagão do trem que os leva a Lourdes!

VdV

Escrito para auxiliar na santificação do Povo de Deus, o Código de Direito Canónico tem previsto tudo (ou quase tudo). Sobre este ponto, nomeadamente a possibilidade de celebrar a Missa fora de uma igreja, refere-se (como frequentemente faz) ao discernimento dos padres. De fato, embora esteja aberta a outras possibilidades, recorda que a norma é celebrar num lugar consagrado para este fim:

Cân. 932 — § 1. A celebração eucarística realize-se em lugar sagrado, a não ser que a necessidade exija outra coisa; neste caso, deve realizar-se em lugar decente.

Uma Eucaristia dignamente celebrada

Nesse sentido, para se celebrar uma Missa num caiaque virado após uma descida de um rio ou no topo de um pico recentemente escalado, teria de haver uma “necessidade”. Se o direito canónico parece flexível nesse ponto, é porque é feito para o bem dos fiéis, para que estes não se vejam impedidos de celebrar a Missa, fonte e cume da vida cristã. Ao mesmo tempo, porém, é um memorial da Paixão e Ressurreição de Jesus, e por isso a Eucaristia deve ser celebrada dignamente.

Embora esta dignidade passe antes de mais nada pelo lugar escolhido para a celebração, também requer outros elementos para assegurar um ambiente adequado ao Corpo e ao Sangue de Cristo:

Cân. 932 — § 2. O Sacrifício eucarístico deve realizar-se sobre altar dedicado ou benzido; fora do lugar sagrado, pode utilizar-se uma mesa apropriada, mas sempre com toalha e corporal.

O fato de a lei confirmar essa necessidade mostra que o objetivo é evitar qualquer ataque, moral ou material, a Jesus verdadeiramente presente sob as espécies de pão e vinho. O caiaque instável e o cume da montanha atormentado por uma confusão de excursionistas não parecem, portanto, apropriados.

Uma instrução publicada em 2004 pela Congregação para o Culto Divino, o dicastério do Vaticano dedicado à liturgia, acrescenta também que para celebrar a Missa em qualquer lugar que não seja um lugar de culto divino é necessária a autorização do Ordinário do lugar, que é responsável por “apreciar a necessidade” de tal iniciativa.

Compreende-se, portanto, que apesar da popularidade das missas ao ar livre, elas deveriam de fato responder a uma urgência: por exemplo, a impossibilidade de participar da missa num dia em que existe um preceito para fazê-lo, ou a necessidade de um moribundo… Na história da Igreja, este é o caso de muitos padres que foram presos ou proibidos de celebrar os mistérios divinos… mas não é o caso de explorarmos tais excessos admiráveis para acobertar a nossa preguiça (ou pior ainda: o nosso desejo de extravagância).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Atentado na Nigéria: quando a dor não interessa

O desinteresse de muitos pela humanidade da África, é equivalente aos muitos
interesses, ocultos e evidentes, pelos seus recursos | REUTERS

O terrível massacre ocorrido em uma igreja católica na Nigéria não recebeu o devido destaque em muitos dos principais meios de comunicação do mundo. De fato, há um sofrimento de segunda classe que causa outro sofrimento, que vem do sentir-se esquecido, de ver que a própria dor, por maior que seja, não merece atenção.

Sergio Centofanti

É impressionante entrar na internet entre os principais jornais do mundo e não ver nas primeiras notícias, com poucas exceções, o drama do massacre ocorrido em uma igreja católica na Nigéria durante a Missa de Pentecostes. Há muitas décadas que lemos nos jornais africanos a denúncia de que o continente está fora da atenção internacional, não apenas por suas tragédias, mas talvez também e acima de tudo pelo que é belo e positivo nesta terra. Isto não é um lamento de vitimismo, mas a simples constatação de uma realidade: o desinteresse de muitos pela humanidade da África diante dos muitos interesses, ocultos e evidentes, pelos seus recursos.

As imagens do massacre são terríveis. É um mistério o mal que se abate com ferocidade sobre pessoas indefesas orando em um dia de festa e mata tantas vidas, mesmo das que continuam a viver: há muitas crianças entre as vítimas. É impressionante ver tanta dor negligenciada. É impressionante ver a indiferença, a falta de compaixão, a incapacidade de se deter diante daqueles que sofrem.

O primeiro apelo do pontificado do Papa Francisco foi para a África Central, onde ele abriu antecipadamente a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia. Precisamos de um coração que se abra para os mais pobres, para os excluídos, para aqueles que são esquecidos. Sua primeira viagem foi para Lampedusa, para prestar homenagem aos muitos migrantes que sonhavam com uma vida melhor e morreram porque não encontraram uma mão estendida para salvá-los.

Há muitas guerras e crises esquecidas, não apenas na África. Basta pensar na Síria, Iêmen, Afeganistão, Mianmar, Haiti, para citar apenas algumas. Pensando nestes sofrimentos esquecidos, pensando nesta pequena cidade nigeriana, Owo, o cenário de um massacre dramático, vem à mente a profecia de Isaías quando afirma que um dia os povos verão a justiça de Deus e cada cidade negligenciada, cada pessoa esquecida e abandonada verá claramente o amor de seu Salvador:

Receberás um nome novo, que a boca do Senhor enunciará. Serás uma coroa gloriosa nas mãos do Senhor, um turbante real na palma do teu Deus. Já não te chamarão “Abandonada”, nem chamarão à tua terra “Desolação”. Antes, serás chamada “Meu prazer está nela”, e tua terra, “Desposada”. Com efeito, o Senhor terá prazer em ti e se desposará com a tua terra. Como um jovem desposa uma virgem, assim te desposará o teu edificador. Como a alegria do noivo pela sua noiva, tal será a alegria que o teu Deus sentirá em ti.  (...) Eis que a tua salvação está chegando, eis com ele o teu salário: diante dele a sua recompensa. Eles serão chamados “O povo santo”, “Os redimidos do Senhor”. Quanto a ti, serás chamada “Procurada”, “Cidade não abandonada”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Gerardo Tintori

S. Gerardo Tintori | arquisp
06 de junho

São Gerardo Tintori

Até o ano do seu nascimento, 1135, os hospitais que surgiram na Europa foram fundados, a maioria, por obra de religiosos. Mas o de Monza, sua cidade natal, em 1174, quem o fez nascer foi ele, Gerardo Tintori. Ele investiu toda a fortuna que herdou do seu pai, um nobre muito rico, nos doentes abandonados. Colocou a obra sob o controle da prefeitura e dos religiosos da igreja de São João Batista, e reservou para si o trabalho mais exaustivo: carregar nas costas os doentes recolhidos nas ruas, banhá-los, alimentá-los e servi-los.

Alguns voluntários se juntaram a ele, que os organizou como um grupo de leigos, unidos, entretanto, por uma disciplina de vida celibatária. Gerardo era considerado santo ainda em vida por todos os habitantes da cidade. A tradição diz que ele conseguiu impedir uma enchente do rio Lambro, salvando o hospital da inundação; que também enchia as despensas prodigiosamente com alimentos, e a cantina com vinho.

A ele eram atribuídos outros pequenos prodígios, envoltos de delicadeza e poesia: consta que Gerardo pediu aos sacristãos da igreja que o deixassem fazer penitência rezando toda a noite dentro dela, prometendo para eles cestas de cerejas frescas e maduras. E no dia seguinte, de fato, entregou as cerejas maduras para todos. Todavia era o mês de dezembro, nevava e não era a época das cerejas maduras.

Quando ele morreu, no dia 6 de junho de 1207, começaram as peregrinações à sua sepultura, na igreja de Santo Ambrósio, mais tarde incorporada à paróquia da igreja com seu nome. Correu a voz popular contando outros milagres atribuídos à sua intercessão e seu culto propagou-se entre os fiéis.

O reconhecimento canônico de sua santidade só foi obtido por iniciativa do bispo de Milão, Carlos Borromeu, hoje santo, que encaminhou o pedido a Roma. Em 1583, foi proclamada sua canonização pelo papa Gregório XIII.

São Gerardo Tintori é um dos padroeiros da cidade de Monza, e seus compatriotas dedicaram-lhe, no século XVII, um monumento; e até hoje o chamam de "Pai da Cidade". Na igreja de São João Batista, em que ele fazia orações e penitências, pode ser visto seu retrato pintado, onde está representado vestindo roupas surradas, descalço e com uma cesta de cerejas maduras, como as que distribuiu naquela noite de inverno europeu.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

domingo, 5 de junho de 2022

Dia Mundial do Meio Ambiente

Foto: Getty Images

Ecoado há 50 anos em Estocolmo, ideal ganha nova luz sob cenário de guerra, fome, inflação e crise climática. “Temos responsabilidade de ação”, diz Marcelo Furtado, da Coalizão Brasil.

Por Vanessa Barbosa, do Um Só Planeta

05/06/2022


Nas últimas décadas, o mundo tem experimentado avanços científicos e tecnológicos em velocidade jamais vista na história da civilização. Adquirimos o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo o que nos cerca.


Se, por um lado, progredimos em muitos aspectos como sociedade, também deixamos um rastro de pegadas de impacto pesadas no caminho. Na esteira da pandemia de Covid-19, enfrentamos guerra, aumento da fome e aprofundamento de crises ambientais, sociais e econômicas, que parecem se retroalimentar. Como orquestrar uma resposta sistêmica a esses desafios e ao maior de todos --- a crise climática -- que ameaça aprofundar as mazelas contemporâneas?


Olhar para trás, aprender com o passado, rever planos e promessas para reorientar a rota e fortalecer o propósito comum é uma saída. Não à toa o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2022, celebrado neste domingo (5) traz o tema #UmaSóTerra, o mesmo que ecoou 50 anos atrás durante um marco para o ambientalismo: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de 1972, ocorrida em Estocolmo, na Suécia. Neste ano, também celebramos os 30 anos da Rio 92, que contou com presença maciça de chefes de estado e deu origem a importantes documentos que até hoje balizam as discussões de alto nível sobre meio ambiente no mundo.


Sobre tudo isso e mais um pouco, Um Só Planeta conversou com o ambientalista e membro fundador da Coalizão Brasil Clima Floresta e AgriculturaMarcelo Furtado. Além de passar em revista os desdobramentos desses grandes encontros, Marcelo analisa os desafios e oportunidades para efetivamente agirmos como um só Planeta e construirmos uma Terra mais próspera, justa, resiliente e saudável.


“Estocolmo posicionou politicamente a questão ambiental mostrando que desenvolvimento a qualquer custo não era um caminho para a sociedade e que aquela ideia de poluir primeiro para ganhar dinheiro e só depois falar de questões sociais e ambientais era uma visão equivocada”, contou. “Naquele momento, começamos a ver grandes crises de contaminação e poluição, que despertaram na população a consciência de que não dava para viver ignorando a preservação ambiental”.


Duas décadas depois da conferência de Estocolmo, a urgência do desenvolvimento sustentável mobilizou as discussões na ECO-92, no Rio de Janeiro, que reuniu diplomatas e chefes de Estado de 183 países. Nasciam ali acordos globais para enfrentar desafios como a desertificação, perda de biodiversidade e as emissões crescentes de gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global.

O documento Agenda 21 foi um dos principais resultados desse encontro, que mostrou a importância de governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da sociedade refletirem global e localmente sobre a forma pela qual poderiam cooperar para solucionar os problemas socioambientais, incluindo a erradicação da pobreza e da fome.


Proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica direcionam o programa de ação que, na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, daria origem à Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, com 17 objetivos globais. Como o termo “agenda” sugere, trata-se de um guia de um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI pautado por uma sociedade global mais pacífica, justa, sustentável.


Para Marcelo, existe um grande vácuo entre toda a "arquitetura de compromissos" desenhada e a implementação de ações efetivas que impactem a sociedade positivamente. A atual intensificação das mudanças climáticas, inflação elevada, insegurança energética e alimentar, acentuadas pela guerra da Rússia na Ucrânia, compartilham um chamado comum, diz ele.


“O quanto nós, como sociedade, ao deixarmos de fazer a lição de casa que tinha que ser feita estamos pagando um preço cada vez mais alto. Mas quem paga de verdade o preço mais alto são os mais pobres e mais vulneráveis”, enfatiza. Essa constatação impõe aos países a necessidade de rever políticas agrícolas, econômicas e energéticas a partir da perspectiva da justiça ambiental e climática.

“Por que nossa agricultura ainda não é sustentável como deveria ser? Por que o Brasil, como grande produtor de alimentos, ainda tem altíssimos índices de desmatamento?”, provoca. “Sem natureza não tem economia. O que faz com que consigamos produzir alimentos e produzir energia nesse país é o fato de termos uma floresta amazônica em pé produzindo água”, afirma o ambientalista e cofundador da Coalizão Brasil Clima Floresta e Agricultura.


“Nós temos uma responsabilidade de ação. Faltou vontade política dos governos? Não há dúvida. Mas ao mesmo tempo há uma responsabilidade que as empresas têm que executar, o setor financeiro, o setor energético e alimentar. Os consumidores têm responsabilidade nas suas escolhas e nós, como cidadãos, também temos responsabilidade grande, seja como atores de transformação através de nosso voto, seja como como demandantes [de mudanças] em todos os seus níveis, municipal, estadual, federal e global”, defende.


Marcelo reconhece que o mundo já teve momentos melhores como "sociedade planetária integrada", diferentemente do sentimento de polarização que predomina atualmente, mas diz que foram essas experiências do passado que nos deixam uma mensagem de esperança. "Talvez seja exatamente em momentos de retrocesso que precisamos revisitar marcos importantes para mostrar que a sociedade não aceita retrocessos, que o único caminho que temos é de ir pra frente com urgência, solidariedade e cooperação".


Fonte: https://umsoplaneta.globo.com/

O que é o relativismo?

Relativismo | Mscperu.org

O que é o relativismo?

Em síntese: O relativismo é uma corrente que nega toda verdade absoluta e perene assim como toda ética absoluta, ficando a critério de cada indivíduo definir a sua verdade e o seu bem. Opõe-se-lhe o fundamentalismo, que afirma peremptoriamente a existência de algumas verdades e algumas normas fundamentais. .. O indivíduo se torna o padrão ou a medida de todas as coisas. Tal atitude está baseada em fatores diversos, entre os quais o historicismo: com efeito a história mostra que tudo evolui e se tornam obsoletas coisas que em tempos passados eram plenamente válidas. A Igreja rejeita o relativismo, mas também não aceita o fundamentalismo: ao lado de verdades e normas perenes, existem outras, de caráter contingente e mutável. Ao cristão toca o dever de testemunhar ao mundo de hoje que a profissão d fé e a Moral católicas nada têm de obscurantista e de recusa dos autênticos valores da civilização contemporânea.

No fim do século passado manifestou-se com certa pujança o fenômeno do relativismo. Segundo esta corrente, o intelecto humano não pode alcançar a verdade como tal, mas apenas aspectos enquadrados dentro do subjetivismo de quem os professa. Essa relativização da Verdade e da Ética tem conseqüências de vasto alcance na vida moderna, de modo que lhe dedicaremos as páginas subseqüentes. Trataremos de apresentar as notas típicas do relativismo, suas causas e a atitude que cabe ao cristão assumir diante do problema.

1. Relativismo: em que consiste?

O relativismo é a recusa de qualquer proposição filosófica ou ética de valor universal e absoluto. Tudo o que se diga ou faça é relativo ao lugar, à época e demais circunstâncias nas quais o homem se encontra. No setor da filosofia não se poderia falar da verdade ou erro-falsidade, como na área da Moral não se poderia apregoar o bem a realizar e o mal a evitar. O homem (indivíduo) seria a medida de todas as coisas, como já dizia o filósofo grego Protágoras. Em conseqüência o comportamento do homem ignora a lei natural, que é a lei de Deus incutida a todo ser humano desde que ele dispõe do uso da razão; da mesma forma a sociedade só conhece e respeita as leis que os seus governantes lhe propõem sem questionar a consonância dessas leis (ditas “positivas”) com a lei do Criador: por conseguinte, se as leis dos governantes legalizam o aborto, a clonagem, o anti-semitismo. .., a população lhes obedece, não levando em conta que, antes da palavra do legislador humano, existe a do Legislador Divino, que é a mesma para todos os homens.

Os comentadores dessa situação chegam a falar de uma “ditadura do relativismo”, contra a qual não há como apelar para uma instância ulterior, mas elevada ou mais profunda. A essa ditadura aludia o então Cardeal Joseph Ratzinger aos 18 de abril de 2005 na homilia da Missa preparatória do conclave:

Baseando-se em Ef 4, 14 (“não vos deixeis sacudir por qualquer vento de doutrina”), advertia o pregador: “Quantos ventos de doutrina viemos a conhecer nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modalidades de pensar…! O pequeno barco do pensamento de não poucos cristãos foi freqüentemente agitado por essas ondas, lançado de um extremo para o outro: do marxismo ao liberalismo ou mesmo libertinismo, do coletivismo ao individualismo radical, do ateísmo a um vago misticismo religioso, do agnosticismo ao sincretismo. .. Todos os dias nascem novas seitas e se realiza o que diz São Paulo sobre a falsidade dos homens, sobre a astúcia que tende a atrair para o erro (Ef 4, 14). O ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é muitas vezes rotulado como fundamentalismo. Entrementes o relativismo ou o deixar-se levar para cá e para lá por qualquer vento de doutrina aparece como orientação única à altura dos tempos atuais. Constitui-se assim uma ditadura do relativismo, que nada reconhece de definitivo e deixa como último critério o próprio eu e suas veleidades”.

Assim é posta de lado a metafísica, de acordo com a advertência de Ludwig Wittgenstein: “É preciso não falar daquilo que a mente do homem não atinge”.

Examinemos sumariamente algumas modalidades do relativismo:

1.1. Relativismo filosófico

Não se pode pretender chegar a uma verdade objetiva, pois a mente humana não conhece a realidade como ela é, mas como o sujeito a consegue enquadrar dentro dos seus parâmetros de pensamento. A verdade portanto não é aquilo que a filosofia clássica ensina (conformação do intelecto com a realidade em si), mas, ao contrário, é a conformação da realidade com o intelecto. A verdade assim é algo de subjetivo, pessoal, em vez de ser objetiva e universal, para todos os homens. Já que não há um intelecto só para todos os homens, mas cada qual tem seu intelecto, diverso do intelecto do próximo ou mesmo oposto a este, em conseqüência há muitas verdades. Cada um tem a sua própria verdade.

1.2. Relativismo ético

Não existem normas morais válidas para todos os homens; os valores éticos variam de acordo com as fases da história e das culturas; há normas e opiniões subjetivas, que o indivíduo formula para si mesmo, fazendo uso da sua liberdade, que é refreada apenas pelos limites que os direitos alheios lhe opõem.

O relativismo assim descrito conhece um único absoluto, a saber: o ser humano ou, mais precisamente, a liberdade de cada ser humano. Essa liberdade é indiscutível .

Pergunta-se agora:

2. Quais as causas do fenômeno relativista?

Apontaremos cinco causas:

2.1. Filosofia imanentista

Imanência opõe-se a Transcendência. Significa a negação de todo valor que esteja além do alcance da experiência humana. Ora o relativismo contemporâneo é ateu; vê na religião e na Moral católicas um obstáculo  e um adversário, pois Deus parece escravizar o homem e a Moral católica parece destinada a tornar o homem infeliz ou cerceado. Como pode o ser humano levar Deus em conta, já que todo tipo de conhecimento não é senão uma “representação” mental e subjetiva?

2.2. O historicismo

O historicismo ensina que “tudo é histórico” ou provisório e variável; o que ontem era importante, hoje deixa de ser tal. Ora a verdade é conhecida e vivida na história, sujeita a contínuas mudanças; ela é “filha do seu tempo”. Tudo o que é verdadeiro e bom é tal unicamente para o seu tempo, e não de modo universal, para todos os tempos e todos os homens. Nenhuma cultura tem o direito de se julgar melhor do que as outras; todos os modos de pensar e viver têm o mesmo direito.

2.3. O contínuo e insaciável progresso

Apesar de todas as dificuldades e hesitações por que passa a ciência, há quem julgue que ela trará ao homem as almejadas respostas; proporcionará um crescente bem-estar, porque desvinculadas de qualquer ligação religiosa ou moral. Tenha-se em vista a teoria da evolução, que deu início à nova concepção da humanidade,. .. a época das luzes, que sucedeu ao “obscurantismo” medieval… os regimes democráticos, que tomam o lugar do ancien regime ou da monarquia absoluta dos reis…

2.4. O ceticismo

O ceticismo ensina que não há verdades objetivas e normas morais sempre válidas e que, mesmo que as houvesse, o homem não seria capaz de as apreender. Na época moderna, o ceticismo desponta com René Descartes (+ 1650), que propõe a “dúvida metódica” e vai dominando o pensamento posterior sob formas diversas: agnosticismo, empirismo, positivismo de Augusto Comte, fideísmo, “o pensamento fraco” (como dizem).

O relativismo é marcado também pelo ceticismo. A verdade é pragmática, prática: são verdadeiras e válidas as teorias que levam a resultados concretos satisfatórios; se determinada concepção resolve (ao menos aparentemente) um problema concreto, é tida como verídica e ponto de referência para o comportamento humano.

2.5. O utilitarismo

Associado ao ceticismo, o utilitarismo só aceita o que pode ajudar a viver em certo bem-estar aqui e agora. Tal bem-estar é geralmente hedonista, ou seja, avesso ao sacrifício, à renúncia, ao incômodo e tem por programa: “Maximizar o prazer e minimizar a dor”.

Exposto sumariamente o que seja o relativismo, resta perguntar:

3. Como diante dele se situa a Igreja?

Responderemos em duas etapas

3.1. A Igreja não é fundamentalista

O fundamentalismo é uma atitude que teve origem no ambiente protestante dos Estado Unidos na segunda metade do século XIX: apega-se ferrenhamente a certas proposições da Bíblia e não permite que sejam estudadas à luz das pesquisas lingüísticas e arqueológicas modernas, pois a ciência poria em perigo a fé. Portanto professa a criação do mundo em seis dias de 24 horas; Moisés seria o autor do Pentateuco tal como chegou até nós; o livro de Daniel terá sido escrito por inteiro nos tempos de Nabucodonosor (século VI a.C.)… O mundo moderno é dominado por Satanás, que Jesus derrotará definitivamente quando vier (e talvez venha em breve) a julgar os homens.

Fundamentalista é, por exemplo, a atitude do Islã, que propõe:

1) o Corão é livro divinamente inspirado e deve ser entendido ao pé da letra;

2) o Islã deve reger as leis do Estado, pois todos devem conformar-se aos preceitos de Alá.

O fundamentalismo, aliás, também penetrou em outras correntes religiosas, como o Judaísmo e o próprio Cristianismo (em alguns de seus setores).

Há também o fundamentalismo leigo, não religioso, principalmente no campo da política, quando se procura impor à sociedade o fanatismo de um chefe “carismático” e tirânico.

Pois bem; a Igreja não é fundamentalista. Ela aceita e promove os estudos bíblicos voltados para a lingüística, à arqueologia, a paleontologia. .. Professa que a Bíblia é inspirada por Deus, que utilizou formas de pensamento antigo e oriental para se revelar. A Igreja reconhece que, fora dela, existem valores suscitados pelo próprio Deus ou, como diziam os Padres da Igreja, existem “sementes do Verbo” (logoi spermatikói); cf. Declaração Nostra Aetate nº 2 do Concílio do Vaticano II. Professa outrossim a liberdade religiosa ou o direito que todo ser humano tem de estudar livremente a questão religiosa e viver de acordo com suas conclusões sem ser coagido a abraçar algum Credo que violente a sua consciência, nem adotar o ateísmo; ver Declaração Dignitatis Humanae do Concílio:

“2. Este Concílio Vaticano declara que a pessoa humana tem direito à liberdade religiosa. Consiste tal liberdade em que todos os homens devem ser imunes de coação, tanto por parte de pessoas particulares, quanto de grupos sociais e de qualquer poder humano, de tal modo que, em matéria religiosa [in re religiosa], ninguém seja obrigado a agir contra a própria consciência, nem seja impedido de agir de acordo com ela, em particular e em público, nem só ou associado a outros, dentro dos devidos limites.

Declara, além disso, que o direito à liberdade religiosa está realmente fundado na própria dignidade da pessoa humana, tal como é conhecida tanto pela palavra revelada de Deus como pela própria razão. Este direito da pessoa humana à liberdade religiosa deve ser de tal forma reconhecido no ordenamento jurídico da sociedade que se transforme em direito civil”.

Para evitar mal-entendidos, seja dito: o Concílio apregoa a liberdade para pesquisar o problema religioso. Essa pesquisa, porém, é obrigatória, pois se trata de dar sentido à vida; se Deus existe, o rumo é um; se não existe, o rumo é outro. Ninguém está autorizado a fugir dessa pergunta: Deus existe? …Mas pesquise sem sofrer coação.

Há portanto um meio-termo entre o fanatismo cego fundamentalista e o relativismo. Quem não é relativista, não é necessariamente fanático.

3.2. A Igreja professa a Verdade Absoluta

A inteligência humana foi feita para a Verdade e não para a penumbra das semi-verdades ou do erro. O homem aspira naturalmente à Verdade; esta aspiração congênita não pode ser frustrada num mundo em que as demandas têm sua resposta; com efeito

– para o olho, há a luz para a qual ele foi feito.
– para o ouvido, há o som.
– para os pulmões, há o ar.
– para o estômago, há o alimento.

Não haveria então resposta para as aspirações mais elevadas do ser humano à Verdade e ao Bem?

A Igreja sabe que a Palavra de Deus revela com veracidade quem é Deus e qual o seu plano de salvação. Fora das verdades da fé, julga que o homem, pesquisando através de altos e baixos, pode chegar ao conhecimento da Verdade Absoluta.

O fato, porém, de professar a Verdade Absoluta não deve tornar o fiel católico cego e fanático. Sim; muitos seres humanos podem estar professando o erro, julgando que o erro é a verdade; estão de boa fé numa fé (ou religião) errônea. Deus não lhes pedirá contas daquilo que Ele não lhes revelou, mas há de julgá-los de acordo com os ditames da sua consciência que, sincera e candidamente, os impelia ao erro.

É o que ensina o Concílio do Vaticano II em Lumen Gentium nº 16.

“O Salvador quer que todos os homens sejam salvos. Aqueles portanto que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas de coração sincero buscam a Deus e se esforçam, com o auxílio da graça, por cumprirem com obras a sua vontade conhecida pela voz da consciência, também esses podem alcançar a salvação eterna. A Divina Providência não recusa os meios necessários para a salvação àqueles que, sem culpa, ainda não chegaram ao conhecimento explícito de Deus, mas procuram com a graça divina viver retamente”.

Há um só Deus para todos os homens; Ele distribui suas luzes sobre todo indivíduo como lhe apraz e não pede mais do que a justa resposta da criatura à Palavra que o Senhor lhe comunica.

Ao proclamar a verdade absoluta, a Igreja não ignora a influência, às vezes prejudicial, das culturas na formulação dos juízos religiosos e éticos de cada indivíduo, mas os católicos crêem que esses possíveis obstáculos e desvios podem ser corrigidos pela insistência de quem procura sinceramente.

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, Osb.,
Nº 531, Ano 2006, Página 394.

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF