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segunda-feira, 24 de julho de 2023

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (6/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos 

CARD. Alfons M. Stickler

             7. O Celibato no direito canônico clássico.

Quase ao mesmo tempo começou a vida e a atividade do direito da Igreja direito. O monge camaldulense João Graciano compôs aproximadamente em 1142 em Bolonha seu “Concórdia discordantium canonum” em seguida simplesmente chamado de “Decreto de Graciano”, no qual foi recolhido todo o material jurídico do primeiro milênio da Igreja e harmonizou, pelo menos tentou fazê-lo, as mais variadas normas. Com ele começava a escola do Direito da Igreja, associada à sua paralela do Direito Romano, e que será chamada de escola dos glossistas ou glossadores, ou seja, dos intérpretes das compilações do direito eclesiástico (e do Direito Romano) e dos seus textos legais. 

O decreto de Graciano trata também, naturalmente, a questão e a obrigação da continência dos clérigos, especificamente, nas distinções 26 – 34 e mais adiante nas distinções 81 – 84, da primeira parte. O mesmo irá acontecer também em outras partes do Corpus Juris (Canonici), que desde então vai se formando, com a promulgação das respectivas leis. 

Para compreender corretamente as explicações que os canonistas deram destas leis devemos considerar que, tal como os seus colegas romanistas, não realizaram a investigações e estudos histórico-jurídicos, o que só ocorreu mais tarde na escola dos cultos, ou seja, na escola jurídica humanística dos séculos XVI em diante. Não devemos, portanto, nos surpreender que os glossadores, ou seja, a escola jurídica clássica, haja desconhecido – também no domínio da canonística – uma crítica em sentido próprio das fontes e dos textos. 

Isto é  importante para o nosso assunto, pois ao falar de Graciano imediatamente encontramos o fato de que na questão do celibato eclesiástico aceitou como algo realmente ocorrido no Concílio de Nicéia a fábula histórica de Pafnucio, e a assumiu acriticamente, junto com o cânon 13 do Concílio Trullano II de 691, a diferença da práxis celibatária da Igreja ocidental e da oriental. Embora esta não fosse uma ocasião para ele justificar a razão as diferentes práticas da Igreja Latina, tanto ele como a escola clássica de Direito Canônico colocam a atenção no motivo da diferente obrigação na questão da continência do clero maior oriental. Voltaremos a falar deste diferente tratamento histórico do celibato na Igreja Oriental. 

Temos de dizer agora, no entanto, que, precisamente devido a esta negligência crítica as dúvidas já existentes no Ocidente sobre este assunto, e que Gregório VII e outros reformadores, incluindo especialmente Bernoldo de Constança, tinham reconhecido, não produziram uma impressão decisiva sobre a escola canonística, que reconheceu também as deliberações do Concílio Trulano II como plenamente válidas para a Igreja Oriental. Nesse mesmo Concílio, como veremos, foi fixada a disciplina celibatária da Igreja bizantina e das dependentes dela.

 No entanto, como já mencionamos, não existia entre os canonistas medievais nenhuma dúvida sobre a obrigação para a Igreja Ocidental, da continência de todo o clero maior. E isto, na verdade, porque conheciam bem os documentos dos Concílios ocidentais, os já tratados anteriormente, sobretudo dos Concílios africanos (Graciano, no entanto, não demonstra conhecer o cânon 33 de Elvira), dos Pontífices Romanos e dos Padres. Todos os canonistas estavam, em geral, de acordo com que a proibição do casamento para os clérigos maiores devia ser atribuída aos Apóstolos: tanto ao exemplo deles como às suas disposições. Alguns atribuíam aos Apóstolos a proibição do uso do matrimonio contraído antes da Ordenação, outros a disposições legislativas posteriores, sobretudo dos Romanos Pontífices, começando por Siríaco. Tentavam explicar as razões sobre as que se baseia tal proibição, ainda que com argumentos em parte contrapostos. Uns o relacionavam com um voto, expresso ou tácito, ou com a Ordem anexa, ou com uma disposição solene da legítima autoridade. Frente à dificuldade de que ninguém pode impor a outro um votum, se tratava de encontrar a solução na constatação de que não se tentava impor à pessoa, mas somente ao ofício, que trazia anexa esta condição. Que a Igreja pudesse fazê-lo não oferecia nenhuma dúvida a qualquer canonista, que o explicavam com argumentos bem interessantes e convincentes.

A doutrina que mais convence afirma que esta disposição podia ficar unida através de uma lei, sobretudo Pontifica, à Ordem Sagrada, e que isso era o que realmente tinha sido realizado desde os primeiros tempos da Igreja pelos Concílios e pelos Romanos Pontífices, tanto para o caso dos bispos, como para os sacerdotes e diáconos. No caso dos subdiáconos só havia sido decidido definitivamente a partir do Papa Gregório I. Nenhum canonista medieval duvidada, por outro lado, que esta obrigação vinculava ilimitadamente desde o momento de sua introdução. É particularmente destacável o fato de que alguns glossadores façam referência explícita, como fontes da obrigação da continência clerical, a normas meramente tradicionais, que já existiam antes de sua prescrição legal, e a que uma obrigação originada por m voto não era dispensável nem mesmo pelo Papa. Por este motivo se inclinavam pela teoria que punha a causa eficiente da obrigação numa lei, pois o Papa sim podia dispensar de uma lei geral. De todos os modos, um bom número deles eram da opinião de que uma dispensa deste tipo podia ocorrer somente em alguns casos particulares e não em geral, porque isso equivalia à abolição de uma obrigação contrária ao status ecclesiae, coisa que nem para o Papa era possível. 

Após esta exposição sintética do pensamento dos glossistas sobre o celibato eclesiástico, corretamente entendido, vigente na Igreja, vale à pena mencionar alguns dos mais importantes textos sobre nosso tema, que podem ser considerados especialmente representativos dessa doutrina. 

Primeiro devemos mencionar Raimundo de Peñafort. Esse autor compôs também o Liber Extra do Papa Gregório IX (parte central do Corpus Iuris Canonici) e pode pois ser considerado como homem de confiança do Papa, e é também representante qualificado da ciência canonística, já então bem madura. No que diz respeito à origem e ao conteúdo da obrigação de continência dos homens casados antes da sagrada Ordenação diz: “Os bispos, sacerdotes e diáconos devem observar a continência também com sua esposa (de antes). Isto é o que os Apóstolos ensinaram com seu exemplo e também com suas disposições, como alguns dizem, para quem a palavra “ensinamento” (Dist. 84, can. 3) pode ser interpretada de maneira diversa. Isto foi renovado no Concílio de Cartago, como na citada disposição Cum in merito do Papa Siríaco”. Depois de resumir outras explicações, se refere Raimundo às razões para a introdução de tal obrigação: “a razão era dupla: uma, a pureza sacerdotal, para que possam obter com toda sinceridade o que com sua oração pedem a Deus” (Dist. 84 , cap. 3 e dict. 1 p. c. 1 Dist. 31); “a segunda razão é que possam orar sem impedimentos (1 Cor 7, 5) e exercer seu ofício, pois não podem fazer as duas coisas: servir à mulher e à Igreja, ao mesmo tempo”.

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Ucrânia: com morte e destruição em Odessa, Papa renova pedido pela paz

A Catedral da Transfiguração atingida em Odessa  (ANSA)

Após a oração do Angelus, o Papa renovou o convite para rezar pela paz, especialmente pela "querida Ucrânia", e mencionou o ataque de mísseis que ocorreu na cidade durante a noite, que também atingiu a catedral.

Antonella Palermo - Vatican News

Nas palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo (23) não faltou a referência ao que aconteceu durante a noite na cidade de Odessa, na Ucrânia, que sofreu um forte ataque de 19 mísseis russos: Catedral da Transfiguração, uma das mais importantes e maiores catedrais ortodoxas de Odessa, sofreu vários danos.

“E continuemos a rezar pela paz, especialmente pela querida Ucrânia, que continua sofrendo com morte e destruição, como infelizmente aconteceu novamente esta noite em Odessa.”

Arquidiácono Palchuk: enorme destruição

"A destruição é enorme, metade da catedral está agora sem teto", disse o arquidiácono Andrii Palchuk enquanto documentos e objetos de valor eram levados para fora do prédio, cujo piso foi inundado pela água usada pelos bombeiros para apagar o fogo. Palchuk, conforme relatado pela agência de notícias LaPresse, disse que o dano foi causado por um míssil russo que penetrou no prédio até o porão. Duas pessoas que estavam dentro do prédio no momento ficaram feridas. "Mas, com a ajuda de Deus, nós vamos restaurá-la", disse o arquidiácono, em lágrimas.

Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia: crime de guerra

Trata-se de um monumento protegido pela Unesco, assim como todo o centro histórico de Odessa. Ele foi designado no início deste ano, apesar da oposição russa. Nesse meio tempo, o número de mortos aumentou para duas pessoas e 22 feridos, de acordo com o ministro do Interior, Igor Klymenko. Quatro crianças também estavam entre os feridos. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia fala de um "crime de guerra".

De acordo com o secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, com os ataques com mísseis em Odessa, os russos estão tentando isolar completamente o acesso da Ucrânia ao Mar Negro, neutralizando assim os esforços internacionais para restaurar o funcionamento do corredor de grãos, o que informa Unian.

A Itália se compromete a reconstruir a catedral

"Os ataques em Odessa, a morte de inocentes, a destruição da Catedral da Transfiguração nos ferem profundamente. Os agressores russos estão demolindo celeiros, privando milhões de pessoas famintas de alimentos. Eles devastam nossa civilização europeia, seus símbolos sagrados. Um povo livre", diz uma nota divulgada pelo Governo da Itália, "não se deixa intimidar, a barbárie não prevalecerá. A Itália, com sua experiência única em restauração, está pronta para se envolver na reconstrução da Catedral de Odessa e de outros tesouros do patrimônio artístico da Ucrânia".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Cristina

Santa Cristina (diocesedearacatuba)

24 de julho

Santa Cristina

Origens

Cristina nasceu no ano 288 d.C., na região da Itália chamada Toscana, vizinha do lago de Bolsena. Era filha de um oficial do exército romano chamado Urbano. Seu pai atuava em Tir, região da Etrúria, que é parte da Toscana. Aproveitando que o império romano perseguia os cristãos, Urbano, que era um homem rude, perseguia os seguidores de Cristo abusando de seu poder militar. Vivendo numa família com tal pai, seria difícil imaginar que Cristina se tornasse cristã. Deus, porém, tem seus caminhos insondáveis.

https://youtu.be/8V58oA_Bq9k

A força dos cristãos toca o coração da menina

Para tentar sufocar o movimento cristão, que se alastrava no império romano, Urbano submeteu vários seguidores de Cristo a interrogatórios terríveis e humilhantes, no espaço de sua própria casa. Isso aconteceu durante alguns anos. A menina Cristina acompanhava tudo, impressionada com a serenidade e alegria que os cristãos enfrentavam os piores constrangimentos. Através do testemunho dos cristãos, ela começou a conhecer Jesus e quis conhecer mais profundamente esta fé que tantos perseguiam. Vendo a maneira que eles reagiam, ela não conseguia entender porque eles eram perseguidos.

Abraçando a fé contra o próprio pai 

Uma escrava cristã ficou presa na casa de Cristina por um bom tempo. Ao ver que Cristina tinha o coração aberto e queria conhecer Jesus, a escrava preparou-a para receber o batismo. Terminada sua preparação, ela foi batizada sem que o pai o soubesse. A partir de então, seu comportamento mudou. Ela passou a defender os cristãos e a se interessar pela comunidade cristã local.

Perseguida pelo próprio pai

O pai desconfiou e começou a pressioná-la, ordenando-a a cultuar os ídolos romanos, oferecendo incenso a eles. Cristina, porém, disse não. Pressionada pelo pai, ela respondeu: 'Tolo é vosso medo, tola a vossa advertência; diante de um deus cego aos sofrimentos do povo, surdo ao clamor dos fracos, eu não peço favores e não acendo uma vela. Ao Deus vivo, ao Senhor do céu e da terra que nos enviou seu Filho Jesus, a este, sim, apresento sacrifícios de verdade e amor'.

Testemunho de uma menina em meio à perseguição

O pai, inconformado, ameaçou Cristina, mas pensava que aquilo seria "coisa de criança". Cristina, porém, segui firme, participando da Eucaristia e de reuniões de oração dos cristãos. Além disso, visitava os presos, dava esmola para os pobres e ajudava os doentes. Cheia de coragem, vendeu as imagens de ídolos que tinha em sua casa (e isso valia um bom dinheiro) para ajudar os pobres. Seu pai, ao descobrir tudo isso, ficou furioso. Por isso, ele mesmo chicoteou Cristina. Muitos de sua casa lhe pediram para que ela aceitasse a vontade do pai, mas ela respondia: 'Deixar a vida não me custa; abandonar minha fé, isto nunca'.

A ira se volta contra o pai

Urbano, pai de Santa Cristina, cada vez mais furioso e inconformado, prosseguiu com as torturas, amarrando a filha e lançando-a ao fogo. A história conta que, nesse momento, um anjo protegeu-a e as chamas não lhe fizeram mal. Mais irado ainda, Urbano mandou prender a filha. Cristina permaneceu em oração, entregando seu coração e sua vida ao Senhor. Urbano, então, mandou amarrá-la a uma pedra de moinho e jogá-la no lago. Conta-se que, milagrosamente, a pedra boiou e Cristina não se afogou. A fúria de Urbano foi tão forte que seu coração não resistiu e ele morreu de infarto.

Morta pelo sucessor do pai

Após a morte do pai, Santa Cristina foi presa, acusada de ser a responsável pela morte de Urbano. O sucessor de Urbano, chamado Dio, submeteu Santa Cristina a terríveis torturas  como jogá-la ao fogo. Porém, mais uma vez, o fogo não a queimou. Ordenou, então, que ela fosse jogada às víboras, mas nenhuma picou a menina. Mandou cortar sua língua mas, mesmo assim,  ela continuou cantando louvores ao Senhor. A essa altura, os cristãos se fortaleceram na fé e vários outros se converteram a Jesus vendo o testemunho inacreditável de uma menina de apenas doze anos. Então, Dio ordenou que ela fosse morta a flechadas. Aprouve ao Senhor Deus chamar Santa Cristina para si através desse tipo de morte. Ela faleceu no dia 24 de julho do ano 300.

Protetora contra a depressão psicológica

O testemunho de Santa Cristina nos lembra, mais uma vez, que Deus escolhe aquele que é pequeno, fraco, indefeso, para confundir os fortes e poderosos. Através da fragilidade física desta menina, o Senhor mostrou que a verdadeira força vem dEle. Por isso, ela é invocada contra os males da depressão psicológica. O deprimido se sente o último, pequeno, sem forças para reagir. O testemunho de Santa Cristina mostra de onde vem esta força da qual tanto precisamos. Santa Cristina conheceu verdadeiramente o Senhor Jesus e não se desfez deste conhecimento ao preço de sua própria vida. Que o Senhor nos dê a graça de conhece-lo nesta profundidade para enfrentarmos a depressão e todos os obstáculos desta vida, perseverando na fé e prontos para testemunhar que pertencemos a Ele.

Relíquias de Santa Cristina no Brasil 

Em 1927, partes de ossos de Santa Cristina foram trazidas de Roma para a cidade de Campinas, SP, pelo segundo bispo da diocese, Dom Francisco de Campos Barreto, fundador da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado. As relíquias foram colocadas na capela da Casa Geral da Congregação. Depois, foram trasladadas para a Basílica Nossa Senhora do Carmo, no centro da cidade, no dia 23 de outubro de 2010. Elas foram assentadas no altar do Sagrado Coração de Jesus, junto com a imagem de Santa Cristina. 

Oração a Santa Cristina

"Nós vos suplicamos, Senhor, ouvi as súplicas de Santa Cristina, virgem e mártir que intercede por nós diante de vosso trono. Nós cremos na comunhão dos santos, que nos ajudam porque Vós permitis. Que ela, que sempre vos agradou pelo mérito de sua castidade e pela sua grande fé que a levou a testemunhar vosso poder pelo martírio, possa alcançar de Vós a graça de que tanto necessito: (fazer o pedido). Eu vos peço por Nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém."

Rezar 1 Pai Nosso, 1 Ave Maria e o Glória ao Pai.

Santa Cristina, virgem e mártir, rogai por nós.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

domingo, 23 de julho de 2023

O desafio de ter muitos filhos

Yuri A | Shutterstock / #image_title

Por Francisco Borba Ribeiro Neto

As taxas de natalidade declinam porque os casais não querem ter filhos. Muitos querem ver aí simplesmente um problema de individualismo e ideologização dos adultos atuais, mas o problema é mais complexo.

No artigo anterior, vimos que os dados do Censo de 2022 apontam para a queda da fertilidade das famílias brasileiras, isso é, á redução do número de filhos por família. Esse fato assusta os formuladores de políticas públicas porque muda tanto o perfil do crescimento econômico quanto as necessidades sociais do País. Com população mais envelhecida, um país depende mais do crescimento da produtividade do trabalhador para se desenvolver economicamente. O foco das suas políticas sociais muda, deixando de se concentrar nos jovens e passando a se concentrar nos idosos.

Tudo isso afeta diretamente a vida das famílias – que são, de certa forma, a causa do problema. As taxas de natalidade declinam porque os casais não querem ter filhos. Muitos querem ver aí simplesmente um problema de individualismo e ideologização dos adultos atuais, mas o problema é mais complexo e tem raízes profundas, que devem ser consideradas.

A necessidade de garantir a reprodução social dos jovens

A cada geração, existe não apenas uma reprodução biológica, mas também uma reprodução social dos membros da família. Todos queremos que nossos filhos possam, no mínimo, levar uma vida digna e com condições iguais às nossas. Nenhum pai ou mãe se sentiria bem sabendo que seus filhos estão tendo menos conforto e menos oportunidades do que eles próprios tiveram em suas vidas.

Esse desejo de dar aos próprios filhos ao menos aquilo que receberam dos pais não é sinal de individualismo ou mesmo de consumismo. Contudo, em nossa sociedade, passa cada vez mais por um aumento continuo do poder de consumo da família. No passado, o filho de um agricultor precisava de muito pouco para poder se tornar um agricultor igual ao pai. Hoje, o filho de um engenheiro vai precisar de muitos recursos para se educar e poder ser um engenheiro igual ao pai. Quanto mais tecnológica se torna a sociedade, mais recursos a criança e o jovem demandam para poderem se desenvolver integralmente e ocupar lugares sociais semelhantes aos de seus pais. E isso gera, evidentemente, uma pressão econômica sobre a família.

A situação da mulher também mudou bastante – e nem sempre os desafios associados a essas mudanças são percebidos. Ter uma profissão deixou de ser um privilégio masculino e as mulheres entraram no mercado de trabalho e procuram se realizar profissionalmente assim como os homens. Isso é ótimo, só que se torna cada vez mais difícil sustentar a família apenas com um provedor. Para a maior parte das famílias, os dois salários são necessários para garantir vida digna – pensando, por vida digna, em ao menos garantir as condições para que os filhos tenham as mesmas oportunidades dos pais.

Antes de censurarmos ideologias materialistas e individualistas ou egoísmos pessoais, temos que atentar para um grande problema que pesa sobre as mulheres. A maternidade foi tratada, ao longo da história, como um “nobre sacrifício” da mulher – “ser mãe é padecer no paraíso”, como diz o ditado popular – sem que se contemplasse a necessidade de seu desenvolvimento integral como pessoa. A maternidade, ao invés de uma doação pela qual se opta, foi tratada como um sacrifício ao qual não se podia escapar. A ideia de uma conciliação harmônica entre vida pessoal e familiar, trabalho e maternidade, não foi nem cultivada, nem adequadamente trabalhada, em grande parte da população. Desnecessário dizer que os maridos só agora estão se dando conta das aspirações de suas esposas e de suas obrigações perante a família. Sob esse aspecto, temos que reconhecer que houve (e continua havendo, infelizmente) falta de condições para um desenvolvimento humano integral das mulheres enquanto mães.

Tudo isso cria um “caldo de cultura” adequado para as piores ideologias. Mas não adianta nada censurar essas ideologias sem ajudar a superar as dificuldades objetivas das quais elas se alimentam

Muitos desafios para as famílias

As famílias precisam do apoio do Estado, com políticas públicas adequadas e eficientes para enfrentar suas dificuldades. A história recente tem mostrado que não é possível dar boas soluções aos problemas das famílias, particularmente daquelas mais fragilizadas economicamente, sem um apoio do Estado. Isso não implica numa estatização da vida familiar, como alguns querem, numa situação onde a liberdade e a autonomia das famílias são sacrificadas para que o Estado atenda a suas necessidades básicas. Pelo contrário, a ação do Estado deve visar a liberdade e a autodeterminação das famílias, sua capacidade de realizar seu projeto de vida com dignidade também no plano material. Como isso será feito, se diretamente por ação de órgãos governamentais, se por meio de organizações sociais ou mesmo por empresas realmente focadas no bem comum, dependerá da história de cada realidade e dos recursos efetivamente disponíveis. Mas vale enumerar algumas necessidades mais evidentes.

Em primeiro lugar, saúde digna para todos. O Sistema Único de Saúde brasileiro é uma grande realização social de nosso País. Contudo, enfrentamos grandes dificuldades em garantir o atendimento digno para todos. O crescimento dos planos de saúde pagos cria uma grande pressão econômica sobre as famílias, que só poderá ser minimizada, nas condições históricas da saúde no Brasil, com a melhoria do atendimento público. Paralelamente, enfrentamos o desafio de uma educação de qualidade para todos. Nossas escolas formam mal, tem evasão elevada e, para a classe média, custam caro. Saúde e educação são dois grandes obstáculos para as famílias crescerem e terem mais filhos – e representam desafios concretos, que não podem ser resolvidos apenas com discursos ou boas intenções, implicam em políticas públicas adequadas e/ou uma condição de vida favorável das famílias (maior poder aquisitivo ou facilidades tais como apoio de parentes ou condições de trabalho particularmente favoráveis).

O ambiente de trabalho, na maior parte dos casos, também não colabora para o crescimento das famílias. Mulheres em idade fértil são muitas vezes preteridas nos empregos, não se pensa adequadamente em políticas de pessoal pensadas para que os homens participem mais na educação dos filhos, o home office (que ajuda os pais a ficarem perto dos filhos) é uma realidade que engatinha no País, em grande parte sob o impulso do período da pandemia.

Por fim, o cuidado com os anciãos e com as pessoas com incapacidades é um problema no Brasil. Em teoria, essa deveria ser uma responsabilidade compartilhada entre a família e o Estado, mas muitas vezes isso não acontece. Particularmente para as famílias de baixa renda, mas também para as de classe média, ter uma pessoa dependente em casa se torna um peso difícil de administrar – e certas concepções ideológicas, até bem-intencionadas, costumam fazer mais mal do que bem para a gestão das políticas públicas.

A presença social da Igreja pode ser de grande ajuda em todas essas situações, mas esse é um tema para o terceiro é último artigo dessa série.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O futuro e o presente em questão

O futuro e o presente (Nérus)

O FUTURO E O PRESENTE EM QUESTÃO

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Cada vez mais, crianças e jovens aumentam seus conhecimentos, mas nem sempre sabem utilizá-los no cotidiano para qualificar a vida ou mesmo compreendê-la. Nesse cenário complexo, encontra-se a evangelização cristã. Somos filhos do nosso tempo, marcados pelas novidades e mudanças que afetam, profundamente, nosso modo de ver a realidade e de viver. 

Esperar é próprio do ser humano. O tempo da juventude é comumente apresentado como um tempo de projetos, de preparação para a vida futura, para as realizações da vida adulta. É necessário aprender a esperar.  

Contudo, como falar da esperança cristã para quem quer viver o eterno presente? Muitas pessoas parecem experimentar o fenômeno que se pode chamar de “presentismo”. Trata-se da experiência que limita as buscas e realizações humanas ao imediato, ao efêmero, pouco importando projetos com pretensão de alcançar objetivos no longo prazo. Não mais se sentem impelidos a se organizarem e a proporem novos rumos para a história presente. 

Pode-se dizer que, em muitos casos, ocorreu a passagem de uma consciência ética, histórica e utópica para uma simples consciência do presente. A questão sobre o futuro não é mais preocupação. A priori, será preciso considerar a importância do presente e da experiência do hoje. Há novidades e preocupações nessa reflexão. Talvez o que “salta primeiro aos olhos” são os limites dessa nova relação com o futuro e a esperança. A experiência “presentista” pode ser traduzida como uma vivência individual que coloca, em primeiro lugaro próprio benefício, às vezes egoísta e narcísico, sem envolver o outro em suas realidades pessoais.  

É preciso, contudo, perceber o significado positivo que pode haver nessas novas tendências, como, por exemplo, levar a vida de modo mais tranquilo, vivenciando a beleza da felicidade no presente. Descobre-se, assim, a chance que o presente traz, rejeitando qualquer posição que imponha renúncias em nome da uma felicidade eterna e mesmo de opção política radical, que exigiria levar a vida de modo muito sério e tenso.  

Em Jesus, encontra-se a síntese de esperar a vida eterna e viver, aqui e agora, a beleza do presente. A salvação implica experiência no tempo que aponta para a eternidade. A cura de um doente, a expulsão de demônios, o perdão dos pecados e a tempestade acalmada são indícios do futuro Reino de Deus que chegará até os contemporâneos de Jesus. A missão da libertação iniciou naquele hoje, ocasião em que se realizava a Escritura. (Lc 4, 21). A festa com Jesus já iniciou para todos os tempos e em todos os lugares; é a festa da liberdade promovida pelo Deus que veio na Encarnação e virá no final dos tempos. Essa festa, entretanto, não pode ser apenas um projeto ideal ou um sonho longínquo.  

O desejo de ter felicidade imediata pode ser uma excelente forma de acolher a vida como um dom a ser saboreado na provisoriedade. E justamente, nessa caducidade de tudo, pode-se encontrar o eterno. Entre as coisas que passam, ser capaz de abraçar o que não passa.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (5/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos 

CARD. Alfons M. Stickler

          4. O testemunho dos Padres e dos escritores eclesiásticos 

Os Padres e os escritores eclesiásticos pertencem à categoria das mais importantes testemunhas da fé e da tradição nos primórdios da Igreja. 

Sobre a questão da continência do clero é conveniente escutar primeiro a Santo Ambrósio. Na sua sede em Milão, na qualidade de “Consularis Aemiliae et Liguriae“, Ambrósio, eleito bispo, se tornou rapidamente um dos mais importantes homens da Igreja do Ocidente. No que diz respeito ao nosso assunto, este Pastor, especialmente sensível às obrigações jurídicas, devido a sua anterior atividade civil, tinha idéias muito claras. Ensina que os ministros do altar que estavam casados antes de sua Ordenação, não deveriam continuar usando do matrimônio depois da Ordenação, ainda que essa obrigação não tivesse sido sempre observada do modo devido, nas regiões mais remotas. Confrontado com a permissão vétero-testamentário, deve-se ver um novo mandato do Novo Testamento, pois os sacerdotes deste estão obrigados a uma oração e a um ministério santo constante e contínuo. 

São Jerônimo, que conhecia bem, por experiência própria tanto a tradição do Ocidente como a do Oriente, disse na sua refutação do ano 393 a Joviniano, sem insinuar nenhuma distinção entre Ocidente e Oriente, que o Apóstolo Paulo, na famosa passagem de sua carta a Tito, ensinou que um candidato casado à Ordem sagrada deveria ter casado uma só vez, deveria ter educado bem aos filhos que tivesse, mas não podia procriar outros filhos. Devia, portanto dedicar-se à oração e ao serviço divino e não só por um tempo limitado, como no Antigo Testamento, como conseqüência, “si semper orandum et ergo semper et semper carendum matrimonio”. 

Em sua dissertação “Adversus Vigilantium” do ano 406, São Jerônimo repetia o dever dos ministros do altar de ser sempre continentes. E neste sentido afirma que esta é a prática da Igreja do Oriente, do Egito e da Sé Apostólica, onde só se aceita clérigos celibatários e continentes, ou, se são casados, que tenham renunciado previamente à vida matrimonial. Já no seu “Apologeticum ad Pammachium” tinha dito que também os Apóstolos eram “vel virgines vel post nuptias continentes”; y que “presbiteri, episcopi, diaconi aut virgines eiguntur aut vidui aut certe post sacerdotium in aeternum pudici“.

Santo Agostinho, bispo de Hipona desde o ano 395/96, não só conhecia bem a obrigação geral do clero maior à continência, senão que havia participado nos Concílios de Cartago onde tal obrigação tinha sido repetidamente afirmada, apontando sua origem nos mesmos Apóstolos e numa constante tradição do passado. Não se conhece nenhuma dissidência sua em tais ocasiões. Em sua dissertação “De coniugiis adulterinis” também afirma que homens casados, que de repente e por isso mesmo, quase em contra de sua vontade, fossem chamados a fazer parte do clero maior e ordenados, estão obrigados à continência, tornando-se assim um exemplo para aqueles leigos que, por viver longe de suas mulheres, são vulneráveis especialmente ao adultério. 

O quarto grande Padre da Igreja Ocidental, Gregório Magno, já foi exposto como testemunha da continência dos ministros sagrados ao examinar os Romanos Pontífices. 

Da prática disciplinar ocidental considerada até o momento concluímos que: a continência própria dos três últimos graus do ministério clerical se manifesta na Igreja como uma obrigação que se remonta aos começos da Igreja, e que foi transmitida como um patrimônio da tradição oral. Após a era de perseguição e, especialmente, as como conseqüência das conversões cada vez mais numerosas, que exigiu também numerosas ordenações, houve amplas transgressões dessa obrigação, contra ao quais os Concílios e a solicitude dos Romanos Pontífices procederam cada vez com maior insistência por meio de leis e disposições escritas. Nestas aparecem também as conseqüências de tais transgressões, que consistem na suspensão ou expulsão do sagrado ministério. 

Tudo isto nunca é apresentado como uma inovação, mas é sempre posto em referência com a origem da Igreja. Estamos autorizados, portanto, conforme as regras de um correto método jurídico-histórico, a considerar dita práxis como uma verdadeira obrigação vinculante transmitida por tradição oral antes de ter sido fixado por leis escritas. Quem quiser afirmar o contrário não somente se oporia a uma metodologia científica válida, mas também estaria tachando de mentirosos – porque de ignorância não poderiam ser acusados – a todos os testemunhos unânimes que até agora escutamos.

         5. Evolução da questão nos seguintes séculos

Nesta base, deduzida da prática da Igreja primitiva, podemos acompanhar o desenvolvimento do celibato eclesiástico nos séculos seguintes. Primeiro, vamos nos referir ao Ocidente. 

Tal como nos primeiros tempos, também nas épocas posteriores muitos dos ministros sagrados eram sem dúvida escolhidos entre os homens casados. Esta situação é demonstrada pelo fato de que muitos Concílios da Espanha e da Gália insistir repetidamente (e sem interrupção) na obrigação da continência desses ministros. 

As sanções foram atenuadas em algumas ocasiões, como, por exemplo, no Concílio de Tours, no ano 461, onde não se pune já com a e excomunhão para toda a vida, mas apenas com a exclusão do serviço eclesiástico. 

Além disso, é cada vez mais enfatizada a preocupação da Igreja para dispor de candidatos às ordens maiores que sejam celibatários e para reduzir o número dos candidatos casados, já que a experiência mostrava o perigo permanente da debilidade humana ante as obrigações assumidas por estes candidatos. 

Outra disposição que deve ser constantemente recordada e renovada foi a proibição de qualquer clérigo maior para viver sob o mesmo teto com mulheres que não oferecesse plena confiança pelo que se refere à observância da continência. 

Para estabelecer um juízo de conjunto sobre a disciplina celibatária na Europa medieval, são muito significativas as disposições relativas à Igreja Insular (Irlanda – Bretanha). Os Livros Penitenciais, que refletem fielmente a vida e a disciplina em vigor nesta igreja em muitos aspectos demonstram inequivocamente a validade, para os clérigos maiores insulares previamente casados, das mesmas obrigações que estamos vendo. O que continuasse usando do matrimônio com sua esposa era considerado culpado de adultério e castigado convenientemente. Se essas obrigações onerosas eram exigidas e observadas substancialmente também na Igreja insular, na qual estavam em vigor rudes costumes entre os seus habitantes, dos quais esses livros nos dão uma viva prova, temos uma ótima demonstração de que o celibato era também possível ali, ainda que, provavelmente, só por uma nobre tradição que ninguém punha em dúvida. 

Juntamente com os perigos gerais periódicos que ameaçavam sempre e em toda parte a continência do clero, sempre existiu na história da Igreja momentos, circunstâncias e regiões onde surgiram perigos extraordinários que provocavam de modo muito especial à autoridade da Igreja. As dificuldades deste tipo eram produzidas pelas heresias bastante difundidas. Um exemplo é o arianismo dos visigodos, ainda a operar após a conversão ao catolicismo de seu reino na Península Ibérica. O Concílio de Toledo de 569 e o de Zaragoza em 592 emanaram normas explícitas neste sentido para os clérigos provenientes do arianismo.

          6. A Reforma gregoriana

Uma das mais graves crises que afetou a continência do clero foi a que se deu em todas as regiões da Igreja Católica ocidental, afetadas pelas desordens que levaram à reforma Gregoriana. Essas regiões eram aquelas partes da Europa onde tinha penetrado, com maior ou menor difusão, o chamado sistema beneficial eclesiástico, que basicamente dominou toda a vida pública e, mais tarde, também a vida privada da Igreja e da sociedade eclesiástica. 

Os bens patrimoniais do benefício eclesiástico, que estavam ligados a todos os ofícios da Igreja, altos ou baixo, conferiam ao detentor do benefício, e portanto também do ofício, uma grande independência econômica e por isso, freqüentemente profissional, uma vez que o ofício que acompanhava ao benefício não se podia retirar facilmente. A concessão do benéfico-ofício, que vinha realizada com freqüência através de leigos que possuíam esse direito – proveniente da Igreja em sentido estrito ou lato – situavam nos ofícios eclesiásticos de bispos, abades e inclusive de párocos a candidatos com freqüência pouco preparados e até mesmo indignos. A concessão e a designação dos ofícios por parte de leigos poderosos, que neste assunto atendiam mais aos interesses seculares e profanos que aos espirituais e religiosos da Igreja, conduzia aos outros dois males fundamentais: a simonia, ou seja, a compra dos ofícios, e o nicolaismo, isto é, a estendida violação do celibato eclesiástico. 

Após o fracasso das reformas regionais, os Papas começaram a enfrentar esta situação difícil da Igreja europeia. Conseguiram, devido ao empenho de Gregório VII, enfrentar este grave perigo que tinha envolvido à hierarquia da Igreja em todos os seus graus. 

 Assim, esse perigo levou a um impulso decidido para a reintegração da antiga disciplina celibatária; para isso foi necessário cuidar especialmente a eleição e a formação dos candidatos ao sacerdócio, para o qual se limitava cada vez mais a aceitação de homens casados, buscando assim o retorno a uma observância geral da obrigação da continência. 

Outra conseqüência importante desta reforma é a disposição, solenemente declarada no segundo Concílio de Latrão do ano de 1139, de que os casamentos contraídos pelos clérigos maiores, como também os das pessoas consagradas mediante votos de vida religiosa, não só eram ilícitos, mas também inválidos. Isto levou a um grande equívoco difundido ainda hoje: o de que o celibato eclesiástico foi introduzido somente a partir do Concílio Lateranense II. Na realidade, ali só se afirmou que era inválido o que sempre tinha sido proibido. Esta nova sanção confirmava, de fato, uma obrigação existente há muitos séculos.

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

A incrível história de um sacerdote ordenado em um campo de concentração nazista

Beato Karl Leisner – Campo de concentração nazista de Dachau / Foto: Wikipedia Domínio Público - Flickr Jordan (CC-BY-NC-ND-2.0)

REDAÇÃO CENTRAL, 18 Jul. 23 / 05:00 am (ACI).- Durante a Segunda Guerra Mundial, o campo de concentração nazista de Dachau, localizado na Alemanha, era o lugar para onde os membros do clero eram enviados. Foi neste local de dor e morte que aconteceu um incrível evento: a ordenação de um sacerdote católico.

A história do beato Karl Leisner é narrada no livro “La Baraque des prêtres, Dachau, 1938-1945” (O Pavilhão dos Padres, Dachau, 1938-1945) , escrito pelo jornalista francês Guillaume Zeller.

Karl Leisner nasceu na Alemanha em 1915 e cresceu na cidade de Cléveris. Desde jovem sentiu o chamado ao sacerdócio e ingressou no seminário de Munique quando tinha 19 anos. Nesse tempo, também se uniu ao movimento apostólico de Schoenstatt, ao qual pertenceu até a sua morte.

Em 1939, foi ordenado diácono, mas contraiu tuberculose e teve que ser internado em um hospital. Em novembro desse mesmo ano, Leisner foi preso pela Gestapo, a polícia secreta nazista, porque um companheiro o delatou por criticar Hitler.

Foi transferido a uma prisão na cidade de Freiburg e, em 14 de dezembro de 1941, os nazistas o enviaram ao campo de concentração de Dachau.

Em seu livro, Zeller assinalou que entre os anos de 1938 e 1945, foram enviados a esse campo de concentração 2576 sacerdotes, seminaristas e monges católicos. Desses, 1034 faleceram nessa prisão.

Zeller indicou que nesse local os nazistas se dedicavam a “desumanizar e degradar os prisioneiros” e afirmou que “o campo de Dachau continua sendo o maior cemitério de sacerdotes católicos no mundo”.

As duras condições de vida do campo de concentração fizeram com que a saúde de Leisner piorasse. Entretanto, o jovem nunca perdeu a alegria. Segundo narra uma biografia sua publicada no site de Schoenstatt, o beato era “capaz de alegrar e atrair os outros” e animava os prisioneiros tocando o violão que seus amigos conseguiram lhe enviar.

A tuberculose o debilitava cada vez mais e o jovem sentia que se reduziam as possibilidades de que fosse ordenado sacerdote. Mas, tudo mudou quando o bispo da diocese francesa de Clermont-Ferrand, dom Gabriel Piguet, chegou como prisioneiro em 6 de setembro de 1944.

Como somente o bispo pode conceder a ordenação sacerdotal, Leisner pediu a um sacerdote belga, padre Leo de Coninck, que intercedesse em seu favor ante dom Piguet. O bispo aceitou com a condição de que esta ordenação tivesse a autorização do Arcebispo de Munique, Cardeal Michael Faulhaber, porque era a ele que Leisner devia obediência.

O trâmite para conseguir a autorização foi realizado por uma jovem chamada Josefa Imma Mack, que anos mais tarde se tornaria religiosa. Mack conhecia os sacerdotes e religiosos que estavam presos em Dachau porque alguns desses vendiam às pessoas as flores e frutas que cultivavam lá.

O ‘Catholic Herald’ narrou que esta jovem conseguiu entregar aos prisioneiros as cartas nas quais o cardeal Faulhaber concedia a autorização para ordenar Leisner sacerdote. Conseguiu inclusive o óleo do crisma, uma estola e os livros litúrgicos.

Graças à intervenção diplomática do Vaticano, os nazistas autorizaram que se construíssem uma capela no Bloco 26 do campo de concentração de Dachau. O sacrário, o altar, os bancos e os candelabros foram elaborados com materiais disponíveis na prisão. A primeira missa foi celebrada em 21 de janeiro de 1941.

Em seu livro, Guillaume Zeller descreveu que a cerimônia de ordenação do beato Leisner, realizada em 17 de dezembro de 1944, “teve um impacto duradouro entre os sacerdotes que estiveram presentes”.

Nesse dia, o jovem diácono usava a alva sobre o uniforme de listras que os prisioneiros usavam. Até mesmo alguns dos paramentos do bispo, como a casula e a mitra, foram feitos pelos próprios sacerdotes prisioneiros.

A ordenação de Leisner também motivou vários gestos de solidariedade por parte de protestantes e judeus. Um grupo de pastores ajudou a organizar a cerimônia e um violinista judeu se ofereceu para tocar perto da capela para gerar uma distração.

Dom Piguet escreveu em suas memórias que ao presidir a celebração sentiu “como se esta tivesse sido na minha catedral ou na capela do meu seminário. Nada, não faltava nada no que diz respeito à grandeza religiosa de tal ordenação, que é provavelmente única nos anais da história”.

Padre Leisner presidiu sua primeira e única missa em 26 de dezembro de 1944, porque sua saúde se agravou. Foi libertado do campo de concentração em 4 de maio de 1945, cinco meses depois de sua ordenação.

Nessa época, sua doença estava na fase final e passou as últimas semanas de sua vida em um hospital em Munique, onde faleceu rodeado por sua família em 12 de agosto daquele mesmo ano.

As últimas palavras que escreveu em seu diário foram: “Abençoa, oh Altíssimo, também os meus inimigos!”.

Padre Karl Leisner foi beatificado por são João Paulo II em 23 de junho de 1996, em Berlim, junto com padre Bernhard Lichtenberg, que faleceu em 1943, enquanto era transferido para Dachau.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Reflexão Para o XVI Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho do domingo  (©LIGHTFIELD STUDIOS - stock.adobe.com

A Palavra, de acordo com a parábola, poderá ser comida pelos pássaros, poderá cair entre as pedras e não criar raízes e, finalmente, poderá cair entre os espinhos e morrer sufocada.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A demora na realização das promessas de Deus possibilita aos discípulos e a nós, entrarmos em crise. Percebendo essa situação, Jesus conta para eles e para nós, a parábola das sementes.

A Palavra de Deus é, em si mesma, boa e, se bem apresentada, produzirá muitos frutos; mas isso não depende só da Palavra; depende também das diversas situações em que se encontra o terreno onde ela é depositada, isto é, das diversas respostas.

A Palavra é oferecida e exatamente por ser oferecida, conserva em si todo o risco da negligência, do descaso, da não aceitação, da oposição.

De acordo com a parábola, ela poderá ser comida pelos pássaros, poderá cair entre as pedras e não criar raízes e, finalmente, poderá cair entre os espinhos e morrer sufocada.

Vamos refletir sobre cada um desses alertas feitos por Jesus. O primeiro se refere à semente que pode ser ciscada pelos pássaros. É o nosso medo do sofrimento, em relação ao caminho da cruz, tantas vezes abordado por Jesus e a busca incessante de realizações, de êxito. É  como aquela pessoa que vê na possibilidade de exercer um serviço eclesial, como uma ocasião de prestígio, de ter status.

A semente que caiu entre as pedras e não criou raízes, representa aqueles que só externamente aceitaram a Palavra. Ela não foi aceita com profundidade. Teme-se que a adesão a Cristo seja ocasião de constrangimento, de envergonhar-se.

A que caiu entre os espinhos é a semente sufocada, imagem de muitíssimos cristãos. As preocupações da vida presente, a atração exercida pelo ter, pelo poder, pelo possuir, pelo ganhar se impõem, são obstáculos para o acolhimento da Palavra.

A Palavra não é ineficaz, mas falta o acolhimento. A Palavra se adapta às condições do terreno, ou melhor, aceita as respostas que o terreno dá e que com freqüência  são negativas. É necessário preparar o terreno, os corações, para que percam o endurecimento causado pelos ídolos das  ideologias, do consumismo, do dinheiro, do prazer, das demais riquezas.

Se o terreno, se os corações forem trabalhados pela simplicidade, pela autenticidade, pela educação libertadora daqueles ídolos, a Palavra descerá qual chuva fina, penetrando a terra e fazendo a semente frutificar.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF