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terça-feira, 8 de agosto de 2023

Maria Peregrina - Parte II

Papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima na Missa do Envio no Parque Tejo, em Lisboa  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Na sua Encíclica Evangelii Gaudium, no número 287, o Papa Francisco já apontava assim a respeito de Maria como Guia e Estrela da Evangelização, peregrina e itinerante na fé: “À Mãe do Evangelho vivente, pedimos a sua intercessão a fim de que este convite para uma nova etapa da evangelização seja acolhido por toda a comunidade eclesial. Ela é a mulher de fé, que vive e caminha na fé, (cf. LG, 52-62) e «a sua excepcional peregrinação da fé representa um ponto de referência constante para a Igreja»

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Temos muitos títulos de Maria, mas, se pensarmos bem, há mais este que também poderíamos dizer: a Virgem «que sai correndo», sempre que há um problema; sempre que A invocamos, Ela não demora a vir; é solícita. Nossa Senhora solícita (...). Apressa-Se, para estar perto de nós, apressa-Se porque é Mãe. Em português, dizemos «apressada» – observa-me D. Ornelas. «Nossa Senhora apressada»! E é assim que acompanha a vida de Jesus; e não Se esconde depois da Ressurreição, acompanha os discípulos à espera do Espírito Santo; e acompanha a Igreja que começa a crescer depois do Pentecostes. Nossa Senhora que Se mostra solícita e Nossa Senhora que acompanha. Acompanha sempre. Nunca é protagonista. O gesto com que Maria Mãe acolhe é duplo: primeiro acolhe e depois aponta para Jesus. Maria, na sua vida, não faz senão indicar Jesus: «Fazei o que Ele vos disser». Segui Jesus. (Papa Francisco em Fátima)”

"Peregrinar" é um verbo que distingue também as Jornadas Mundiais da Juventude, que neste ano de 2023 em Lisboa teve por tema «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39) . Em sua passagem pelo Santuário de Fátima no sábado, 5 de agosto, o Papa Francisco referiu-se a Virgem Maria como "Nossa Senhora solícita" e "Nossa Senhora apressada". Ela que, como mãe, acompanhou a vida de Jesus, foi às pressas às montanhas para auxiliar sua prima  Isabel, já idosa. Maria Peregrina, também acompanha a nossa peregrinação terrena. Padre Gerson Schmidt*:

"No último dia 03 de agosto, dentro da programação da JMJ, o Papa Francisco encontrou-se com os jovens universitários na Universidade Católica Portuguesa (UCP), situada no centro de Lisboa, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude.  O Instituto é reconhecido como uma das melhores universidades de Portugal. A reitora da Universidade Católica Portuguesa, professora Isabel Capeloa Gil, dirigiu palavras de acolhida ao Papa. O Papa Francisco, agradecendo as palavras de acolhida, disse assim:  "Obrigado, senhora reitora, pelas suas palavras".

O Papa, no início de seu discurso, afirmou "que todos nos sentimos «peregrinos», palavra esta cujo significado merece ser meditado".  E continuou assim: "Na imagem do «peregrino», espelha-se a condição humana, pois todos somos chamados a confrontar-nos com grandes interrogativos para os quais não basta uma resposta simplista ou imediata, mas convidam a realizar uma viagem, superando-se a si mesmo, indo mais além. Trata-se de um processo que um universitário compreende bem, pois é assim que nasce a ciência. E de igual modo cresce também a busca espiritual", frisou o Santo Padre Francisco. E continuou dizendo assim: "peregrino é caminhar em direção a uma meta ou buscando uma meta. Há sempre o perigo de caminhar num labirinto, onde não há meta. Também não há saída. Desconfiemos das fórmulas pré-fabricadas - elas são labirínticas -, desconfiemos das respostas que parecem estar ao alcance da mão, daquelas respostas tiradas da manga como cartas de baralho; desconfiemos das propostas que parecem dar tudo sem pedir nada. Desconfiemos. A desconfiança é uma arma para poder seguir em frente e não ficar andando em círculos". "Procurar e arriscar: são os dois verbos do peregrino", sublinhou Francisco.

Estamos refletindo a dinâmica de Nossa Senhora Peregrina, dentro da perspectiva da Lumen Gentium, nos números 52 a 69, motivados pelo tema da JMJ de 2023: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39).  O Papa, tendo enviado uma mensagem com antecedência para a Jornada Mundial, já escrevia sobre a visita de Maria à sua prima Santa Isabel que é carregada de importância no sentido da superação da indiferença para com o próximo, para visitar espaços e pessoas necessitados de sua ajuda feita com carinho, com amor. Quando os passos humanos são habitados por Deus levam de uma forma direta ao coração dos irmãos, das irmãs, sobretudo dos jovens.

O Papa lembra as aparições que Maria fez, por graça do Senhor em muitos lugares pelo mundo afora, proporcionando ternura e compaixão, pedindo às pessoas, orações em favor da paz no mundo. Muitos santuários, capelas ergueram-se com a imagem de Nossa Senhora, fazendo os fiéis pedirem graças, para as suas necessidades e para o mundo. O Papa afirmou quantas expressões marianas percebem-se pela piedade popular. É a relação de proximidade entre a Mãe do Senhor e o seu povo que se visitam de uma forma recíproca.

Em Maria há uma pressa de peregrina, mas uma pressa fundamentada, diz o Papa Francisco. A pressa de voltar-se para o alto, para Deus e para o outro faz com que as pessoas busquem o essencial na vida. O Papa falou da pressa boa, interessante como foi a de Maria que era fundamentada em Cristo que carregava em vista de ajudar à sua prima Isabel. Se os jovens carregam também algumas pressas dêem lugar para o bem, para o mundo ser melhor, na família, na comunidade e na sociedade. Maria teve um encontro maravilhoso com Isabel, porque esta experimentou uma intervenção divina, porque o Senhor lhe deu na sua velhice um filho. A saudação de Maria fez com que Isabel ficasse cheia do Espírito Santo (Lc 1,41). O Espírito Santo vem em socorro da pessoa humana quando se vive uma verdadeira hospitalidade pelo fato de ter no centro o hóspede, o Senhor Jesus. Zaqueu acolheu bem a Jesus, com muita alegria, em sua casa (Lc 19, 5-6).

Na sua Encíclica Evangelii Gaudium, no número 287, o Papa Francisco já apontava assim a respeito de Maria como Guia e Estrela da Evangelização, peregrina e itinerante na fé: “À Mãe do Evangelho vivente, pedimos a sua intercessão a fim de que este convite para uma nova etapa da evangelização seja acolhido por toda a comunidade eclesial. Ela é a mulher de fé, que vive e caminha na fé, (cf. LG, 52-62) e «a sua excepcional peregrinação da fé representa um ponto de referência constante para a Igreja» (cf. Redemptoris Mater, 6). Ela deixou-Se conduzir pelo Espírito, através dum itinerário de fé, rumo a uma destinação feita de serviço e fecundidade. Hoje fixamos n’Ela o olhar, para que nos ajude a anunciar a todos a mensagem de salvação e para que os novos discípulos se tornem operosos evangelizadores (Proposito, 58). Nesta peregrinação evangelizadora, não faltam as fases de aridez, de ocultação e até de um certo cansaço, como as que viveu Maria nos anos de Nazaré enquanto Jesus crescia: «Este é o início do Evangelho, isto é, da boa nova, da jubilosa nova. Não é difícil, porém, perceber naquele início um particular aperto do coração, unido a uma espécie de “noite da fé” – para usar as palavras de São João da Cruz – como que um “véu” através do qual é forçoso aproximar-se do Invisível e viver na intimidade com o mistério. Foi deste modo efetivamente que Maria, durante muitos anos, permaneceu na intimidade com o mistério do seu Filho, e avançou no seu itinerário de fé» (cf. Redemptoris Mater, 17)”.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Um canto de esperança

Os jovens do Caminho Neocatecumenal no Encontro Vocacional JMJ Lisboa 2023 / neocatechumenaleiter

OS JOVENS DO CAMINHO NEOCATECUMENAL ENCHEM DE CÂNTICOS AS CIDADES DE EUROPA

A 37ª Jornada Mundial da Juventude (Lisboa, 1-6 de agosto de 2023), teve um último momento extraordinário de alegria no encontro dos mais de setenta e cinco mil Jovens do Caminho Neocatecumenal, chegados de todo o mundo, com a Equipa Responsável Internacional do Caminho, o Iniciador Kiko Argüello, Padre Mario Pezzi e Ascensión Romero.

Desde o início das Jornadas Mundiais da Juventude (Roma 1986), o Kiko e a Carmen intuíram que elas oferecem uma grande oportunidade aos jovens do Caminho: depois de terem peregrinado, preparando-se para os encontros com o Santo Padre, os jovens reúnem-se com o Bispo local e com outros Bispos, “para encher as redes”, mediante uma grande chamada vocacional ao presbiterado, à vida religiosa e missionária, a formar famílias cristãs e a convocar as mesmas famílias para a missão.

Durante a peregrinação da JMJ de Colónia (2005), o Kiko e a Carmen também tiveram a ideia de que, além da oração e da escuta da Palavra que caracterizam estes dias, os jovens fossem enviados, numa missão de anúncio do Evangelho nas cidades por onde passassem.

Também este ano, em Espanha — país de passagem natural para chegar a Lisboa — assim como em Portugal, milhares e milhares de rapazes e moças chegaram a muitas cidades e praças levando a alegria e a esperança do amanhã, para que estes países não esqueçam as suas raízes cristãs: o cristianismo que está na origem da sua história, da sua cultura e de tudo o que os tornou grandes.

Em todas estas cidade ressoou a boa notícia do Evangelho, o anúncio daquele acontecimento que comoveu e mudou o mundo: a boa notícia da vitória de Cristo sobre a morte. Os jovens deram testemunho do seu encontro com Jesus Cristo na sua própria vida.

Esta peregrinação integrou-se nos diversos encontros com o Santo Padre, o Papa Francisco, na Vigília e na participação na Eucaristia final de domingo de manhã.

Na tarde do dia seguinte, 7 de agosto, teve lugar o encontro dos 75.000 jovens do Caminho, no Passeio Marítimo de Algés, presidido pelo Patriarca de Lisboa, Card. Manuel José Macário do Nascimento Clemente, acompanhado pelo Núncio em Portugal, D. Ivo Scapolo, por outros seis cardeais: Jean-Claude Hollerich (Luxemburgo), Gérald C. Lacroix , Arcebispo de Quebec (Canadá), Odilo P. Scherer, Arcebispo de São Paulo (Brasil), Sean P. O’Malley, Arcebispo de Boston (USA), Antonio M. Rouco Varela, Arcebispo emérito de Madrid e por mais 47 bispos. O Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Card. Kevin J. Farrell, enviou o doutor Paul Metzlaff, do “Setor Jovem”, como seu representante.

O Presidente da Câmara, Dr. Isaltino Morais, e vários membros do município de Oeiras, lugar onde ocorreu o evento, também honraram o encontro com a sua presença. Este foi o lugar onde, no passado domingo, o Santo Padre agradeceu e saudou os 25.000 voluntários da JMJ 2023.

No dia seguinte, no mesmo palco, além dos Cardeais e Bispos, estavam presentes as equipas itinerantes das 114 nações que acompanharam os jovens nas suas peregrinações.

Encontro Vocacional JMJ 2023 Lisboa – Kiko Argüello e P. Mario Pezzi

Depois da introdução e do cântico “Eu venho reunir”, o Kiko fez a apresentação dos jovens, chamando-os pelo seu país de origem. Em seguida, convidou os vários presbíteros a levar ao palco, em procissão, a imagem da Virgem de Fátima, ao som do cântico “Shlom lej Mariam” — as palavras em aramaico que o Anjo dirigiu a Maria (“Ave, Maria”) . No lado oposto do palco, a grande cruz e mais à esquerda uma imagem da serva de Deus, Carmen Hernández Barrera, iniciadora do Caminho com o Kiko – recordada várias vezes durante o encontro – , e cuja causa de beatificação foi aberta pela Arquidiocese de Madrid no passado mês de dezembro.

Seguiu-se a proclamação do segundo capítulo dos Atos dos Apóstolos, o anúncio de Pedro no dia de Pentecostes e depois o anúncio do kerygma feito pelo Kiko: “Anuncio-vos uma notícia que se cumpre agora: a própria essência divina, a substância revelada e manifestada em Cristo, é que Deus é Amor por ti, Amor total”.

O Kiko convidou os jovens a levantar o olhar para a grande cruz do palco e fez-lhes uma pergunta: “Sabem o que isto significa? Que Deus te ama! Deus não se pode negar a si mesmo. Essa é precisamente a natureza divina: quer ser um em ti, quer estar em ti. Deus está presente em toda a criação, mas quer estar em ti, não como o está na criação, mas no Espírito Santo, como pessoa, totalmente em ti, fazendo-se um contigo para que tu participes do Mistério da Trindade, que é Amor. Este Amor regenera-te, faz-te participar da natureza divina e adota-te como Filho. Este Amor divino em ti torna-te capaz de amar”.

É realmente comovedor o grito:” Cristo ressuscitou”, repetido pelo Kiko, ao qual os 75.000 jovens responderam: “Verdadeiramente ressuscitou”.

A liturgia da Palavra terminou com o canto solene do Evangelho do dia: a multiplicação dos pães e dos peixes (Mt 14, 13-21) e a homilia do Patriarca de Lisboa, Presidente do encontro.

María Ascensión Romero / neocatechumenaleiter

O terceiro momento do encontro, as chamadas vocacionais, começou com o cântico “Carmen 63” e a apresentação do Kiko. O Padre Mario Pezzi dirigiu uma palavra aos jovens, convidando-os a não ter medo de oferecer a sua vida ao Senhor, dando a sua própria experiência de mais de cinquenta anos de gozoso presbiterado, vividos nos cinco continentes; Ascensión Romero —missionária na Rússia durante muitos anos— que faz parte da Equipa Responsável desde 2018, recordou as palavras finais do Papa na homilia de domingo: “Não tenhais medo”, animando os jovens a abandonarem-se ao Senhor.

Neste momento, após uma pausa de silêncio, tiveram lugar as chamadas vocacionais, fruto da vivência dos último dias. Em primeiro lugar, o Kiko convidou os jovens que se sentissem chamados ao sacerdócio a pôr-se de pé. Ao som do cântico “Eu venho reunir”, palavras extraídas do capítulo 66 da profecia de Isaías, anunciando a obra do Senhor, que virá reunir todas as nações, subiram ao palco mais de 2.000. Estes jovens iniciarão um processo de discernimento vocacional nas suas dioceses. Em segundo lugar, fez-se a chamada das moças que sentissem a vocação para a vida contemplativa ou para a missão: levantaram-se 1.500 e subiram ao palco, cantando “Tu és formoso”. Também elas serão acompanhadas pelos seus presbíteros e catequistas, num processo de discernimento.

O presidente invocou o Espírito Santo sobre os jovens que responderam a esta chamada e que subiram ao palco, e cada um recebeu a benção do Patriarca e dos Bispos presentes.

O encontro terminou com o cântico a Maria, “Um grande sinal apareceu no céu”, e com a benção do Patriarca.

O verdadeiro sentido deste acontecimento, destes frutos, não se pode entender sem o caminho de fé que os preparou: não é a emoção de um momento, mas a ação de Deus que atua no coração de cada um, mediante uma iniciação crista séria e longa, durante anos, vivida nas suas comunidades, dentro das próprias paróquias.

Encontro Vocacional JMJ 2023 Lisboa – Procissão de entrada com a Virgem de Fátima / neocatechumenaleiter

Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 - 

Transmissão do Encontro Vocacional:

https://youtu.be/aonknGwf_Ww

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Vigília da JMJ: o culminar de uma “viagem muito longa”, física e espiritual, para milhares de jovens

© Raquel Duarte | JMJ Lisboa 2023

Por Cyprien Viet - Isabella H. de Carvalho

A vigília da Jornada Mundial da Juventude, no sábado, reuniu um milhão e meio de jovens no "Campo da Graça", no Parque Tejo, perto do estuário do Tejo. Depois de um dia de calor abrasador e festivo, os jovens desfrutaram de um momento de adoração na presença do Papa Francisco, o que, para alguns, cristalizou um regresso à fé católica.

Foi em uma atmosfera fervilhante que o Papa Francisco chegou por volta das 20h30, aplaudido ruidosamente pelos mais de um milhão de jovens reunidos nessa área a 13 quilômetros do centro de Lisboa. Depois de caminhar sob o calor sufocante até as áreas reservadas para os vários grupos presentes, os jovens ouviram o Papa Francisco exortá-los a levar “sua alegria aos outros”, porque a alegria é “missionária” e não pode permanecer fechada em si mesma, insistiu ele.

Em uma breve meditação, em grande parte improvisada em espanhol, o Papa Francisco enfatizou que “o amor de Jesus é a única coisa livre na vida”, convidando as pessoas a se deixarem guiar por Jesus em sua jornada. “Aquele que desiste e para de caminhar cai”, advertiu o Papa Francisco. A vigília também foi pontuada por danças e cantos, e por um balé de drones desenhando a inscrição “Rise Up” no céu, antes de um momento de adoração.

Alberto, um seminarista coreano que se tornará diácono no próximo ano, vivenciou a vigília com “um coração ardente”. “Os jovens vieram aqui dizendo que Deus está aqui e que Ele está nos chamando”, enfatiza. Em um momento em que o número de fiéis está diminuindo, “isso pode nos dar a força para seguir em frente e simplesmente seguir o caminho pelo qual Jesus andou”, insiste.

O “evento-chave” da JMJ

Para Tobias, um voluntário de 36 anos do Zimbábue, “a vigília é claramente o evento-chave porque é onde levamos nossas mensagens para voltar para casa, para o que precisamos fazer espiritualmente”. Ele acredita que a Igreja Católica está passando por uma mudança que deve assumir a forma de uma “peregrinação” para os jovens. A presença do Papa “é uma bênção para nós e nos dá vida”, enquanto “muitos de nós pensam que não temos futuro, que este é o fim de nossas vidas”.

Para Aleksandra, 26 anos, da Polônia, a JMJ atingiu seu auge “nesta noite, porque todos os jovens estão no mesmo lugar, sob o céu, sob o pôr do sol. A adoração foi muito bonita”, diz a polonesa, que também participou da JMJ em Cracóvia, em seu país, em 2016. “Não é comum vir aqui e dormir ao ar livre, mas é uma coisa boa para os jovens, quando temos internet o tempo todo, uma vida confortável em nossas casas, é uma boa experiência”, admite.

Rodney Coco, um jornalista das Ilhas Maurício que veio acompanhar o grupo de 180 jovens de sua diocese, observa que o número de jovens presentes no Campo do Graça corresponde a toda a população de seu país. “Essa atmosfera me toca e me estimula, principalmente pela dimensão de peregrinação que levou os jovens a caminharem até esse local para encontrar Cristo. Acho muito bonito ver todos esses jovens comprometidos que se atrevem a vir aqui, é a esperança da Igreja”, explica o jovem de 30 anos, que está vivenciando sua primeira JMJ no momento desta reportagem.

“Queremos mostrar ao Papa que ele pode contar conosco”

Ségolène, uma jovem francesa que veio com a associação Fratello, que cuida de pessoas com deficiência mental, ficou emocionada ao participar da vigília. “Ela tem um significado maravilhoso porque todos os jovens do mundo estão juntos. Você pode ver que a Igreja é jovem, bonita e dinâmica. Nós, os jovens, queremos mostrar ao Papa que estamos lá e que ele pode contar conosco”, confessa a jovem, que quer promover a causa da canonização do padre polonês Jerzy Popieluszko junto ao Papa e aos jovens para pedir sua “intercessão pela Europa”.

Para Kelly, da Suíça, essa vigília marca um novo começo em sua fé. “Há três anos, eu estava com raiva do Senhor por causa de acontecimentos em minha vida. Eu disse ao Senhor: ‘Você não é um pai se me faz sofrer assim’. Mas este ano, durante a Quaresma, algo deu um clique e eu disse a Deus: ‘Vamos tentar confiar um no outro novamente'”.

Finalmente vindo para a JMJ depois de ser contatada pela associação Fratello, essa assistente de cuidados está acompanhando três jovens na JMJ, que estão assistindo à vigília na tela em seu local de acolhimento em Lisboa. Mas ao participar pessoalmente desse encontro, Kelly está se reconectando com sua fé, nesse espaço aberto com vista para o vasto estuário do Tejo, que flui em direção ao Oceano Atlântico. “É como se, depois de atravessar o oceano, as ondas se acalmassem e eu pudesse ver o porto novamente. É como voltar para casa depois de uma viagem muito, muito longa”, ela confidencia.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Íntegra da coletiva de imprensa do papa Francisco na volta da JMJ Lisboa 2023

Papa Francisco na coletiva de imprensa ao voltar de Lisboa a Roma, em 6 de agosto. Daniel Ibáñez (ACI Prensa)

AVIÃO PAPAL, 07 Ago. 23 / 09:18 am (ACI).- No voo de volta de Lisboa, Portugal, a Roma (Itália) após participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023, o papa Francisco conversou com os jornalistas sobre vários temas, entre eles o seu estado de saúde, sua oração à Virgem Maria em Fátima e o drama dos abusos sexuais na Igreja.

Abaixo, a íntegra da coletiva de imprensa do papa Francisco, transcrita e traduzida pelo Vatican News:

Papa Francisco

“Boa noite e muito obrigado por esta experiência. Hoje, há um aniversário. Parabéns, depois chegará o bolo!” 

Aura Miguel, da Rádio Renascença.

Santidade, antes de tudo obrigado por sua visita a Portugal. Todos já a consideravam um sucesso. Todos muito contentes. Obrigado por ter vindo. Encontrei um alto chefe da polícia, que me disse que nunca tinha visto uma multidão assim obediente e pacífica. Foi belíssimo. A minha pergunta diz respeito a Fátima. Nós sabemos que o senhor foi ali e rezou em silêncio na capelinha. Porém, havia uma grande expectativa, no local justamente onde Nossa Senhora fez um pedido para rezar pelo fim da guerra (e estamos em guerra neste momento infelizmente) de uma renovação da parte do Santo Padre, publicamente, de uma oração pela paz. Os olhos de tudo o mundo estavam fixados sobre o senhor ontem pela manhã, em Fátima. Por que não o fez?

Papa Francisco:

Rezei, rezei. Rezei a Nossa Senhora e rezei pela paz. Não fiz propaganda. Mas rezei. E devemos continuamente repetir esta oração pela paz. Ela, na Primeira Guerra Mundial, tinha pedido isto. E eu, desta vez, isto pedi a Nossa Senhora. Rezei. Não fiz publicidade.

Pergunta 2 - Joao Francesco Gomez – Observador:

Em fevereiro deste ano, foi publicado um relatório sobre a realidade dos abusos em Portugal, quase 5000 crianças foram vítimas nas últimas décadas. E eu pergunto: o senhor foi informado sobre este relatório entregue aos bispos? Que pensa deveria acontecer com os bispos que sabiam dos casos de abusos e não os comunicaram às autoridades?

Papa Francisco:

Como sabem, de modo muito reservado, recebi um grupo de pessoas que foram abusas. Como sempre faço nesses casos, dialogamos sobre esta peste, esta peste terrível. Na Igreja, se seguia mais ou menos a mesma conduta que se segue atualmente nas famílias e nos bairros...se encobre. Pensemos que 42 % dos abusos acontecem nas famílias ou nos bairros. Ainda devemos amadurecer e ajudar a descobrir essas coisas. Desde o escândalo de Boston, a Igreja se conscientizou que não podia seguir caminhos aleatórios, mas se deveria segurar o “touro pelo chifre”. Dois anos e meio atrás, houve uma reunião dos presidentes das Conferências Episcopais, onde foram fornecidas também estatísticas oficiais sobre os abusos. E é grave, a situação é muito grave. Na Igreja, há uma frase que estamos usando continuamente: tolerância zero, tolerância zero. E os pastores, que de alguma maneira não assumiram sua responsabilidade, devem arcar com esta irresponsabilidade. O mundo dos abusos é muito duro e, por isto, exorto a serem muito abertos sobre tudo isso. O que me perguntaram como está indo o processo na Igreja portuguesa, está indo bem. Está indo bem e com serenidade se busca a seriedade nos casos de abusos. Os números, às vezes, se revelam exagerados, um pouco pelos comentários que sempre gostamos de fazer, mas a realidade é que está indo bem e isto me dá certa tranquilidade. Gostaria de tocar em um ponto e gostaria de pedir a colaboração de vocês, jornalistas. Vocês têm um telefone hoje? Um telefone. Bem, em qualquer um desses telefones, a pagamento ou com uma senha, se tem acesso a abuso sexual contra menores. Isso entra em nossas casas e o abuso sexual contra menores é filmado ao vivo. Onde é filmado? Quem são os responsáveis? Esta é uma das pragas mais graves, ao lado de todo o mundo (...) mas quero sublinhar isso porque, às vezes, não nos damos conta de que as coisas são assim tão radicais. Quando se usa uma criança para fazer espetáculo de um abuso, se chama a atenção. O abuso é como "comer" a vítima, né?, ou pior, machucá-la e deixá-la viva. Conversar com pessoas abusadas é uma experiência muito dolorosa, o que também me faz bem, não porque em agrada ouvir, mas porque me ajuda a assumir esse drama. Ou seja, para a sua pergunta eu diria o que eu disse: o processo está andando bem, estou informado de como estão as coisas. As notícias podem ter ampliado a situação, mas as coisas estão andando bem a esse respeito. Mas também, com isso, digo a vocês, de alguma forma, ajudem, ajudem para que todos os tipos de abusos possam ser resolvidos, o abuso sexual, mas não é o único. Existem também outros tipos de abuso que clamam aos céus: o abuso do trabalho infantil, o abuso do trabalho com crianças e é usado; o abuso das mulheres, certo? Ainda hoje, em muitos países, fazem-se cirurgias nas meninas: retira-se-lhes o clitóris, e isto é hoje, e faz-se com uma navalha, e adeus... Crueldade... E o abuso do trabalho, isto é, dentro do abuso sexual, que é grave, e tudo isso: existe uma cultura do abuso que a humanidade deve rever e converter.

Pergunta 3 - Jean-Marie Guénois - LE FIGARO 

Santo Padre, como está a sua saúde, como prossegue a convalescência? O senhor não leu ou leu somente pequenos trechos de cinco discursos. É sem precedentes nas viagens: por quê? Teve problema nos olhos, cansaço? Textos demasiados longos? Como se sente? E se me permite uma pequena pergunta sobre a França. O senhor irá a Marselha, mas nunca visita a França. A população não entende, talvez muito pequena ou o senhor tem algo contra a França? 

Papa Francisco:

A minha saúde vai bem. Os pontos foram tirados, levo uma vida normal, uso uma faixa por dois ou três meses para evitar uma (...incompreensível...) até que os músculos estarão mais fortes. A vista. Naquela paróquia, cortei o discurso porque havia uma luz na frente e não conseguia ler, vinha a luz e por isso cortei. Algumas pessoas, através do Matteo, perguntaram por que eu abreviei as homilias que vocês têm. Quando falo, não as homilias acadêmicas, busco fazê-lo de maneira mais clara. Quando falo, sempre busco a comunicação. Vocês viram que mesmo na homilia acadêmica, alguma brincadeira, alguma risada faço para controlar a comunicação. Com os jovens, os discursos longos tinham o essencial da mensagem, o essencial da mensagem, e eu agia ali segundo sentia a comunicação. Vocês viram que fiz algumas perguntas e logo o eco me indicava para onde ia a coisa, se estava errado ou não. Os jovens não mantêm muito tempo de atenção. Imagine que se você faz um discurso claro com uma ideia, uma imagem, um afeto, podem acompanhar por oito minutos. Entre parêntesis, na Evangelii Gaudium, a primeira exortação que fiz, escrevi um longo, longo capítulo sobre a homilia. Porque aqui está um pároco (referindo-se ao Pe. Benito Giorgetta, pároco de Termoli, ndr), que sabe que as homilias às vezes são uma tortura, uma tortura, que falam blá, blá, e as pessoas… Em alguma cidadezinha, não sei se em Termoli,  os homens saem para fumar e voltam. A Igreja deve se converter neste aspecto da homilia: breve, clara, com uma mensagem clara e afetuosa. Por isso, eu controlo como vai com os jovens e os faço dizer. Mas eu abreviei porque me interessa a ideia com os jovens. E passemos à França. Fui a Estrasburgo, irei a Marselha, mas na França não. Há um problema que me preocupa, que é o problema Mediterrâneo. Por isso, vou à França. É criminoso a exploração dos migrantes. Aqui na Europa não, porque somos mais cultos, mas nos lager do norte da África… eu recomendo uma leitura. Há um pequeno livro, pequeno, que escreveu um migrante que para ir da Guiné à Espanha levou creio três anos porque foi capturado, torturado, escravizado. Os migrantes naqueles lagers do norte: é terrível. Neste momento – semana passada – a associação Mediterranea Saving Human estava fazendo um trabalho para resgatar os migrantes que estavam no deserto entre a Tunísia e a Líbia, porque os haviam abandonado ali para morrer. Aquele livro de chama “Hermanito” - em italiano “Fratellino” (Irmãozinho) – mas se lê em duas horas, vale a pena. Leiam e verão o drama dos migrantes ao se aventurarem. Os bispos do Mediterrâneo farão este encontro, também com algum político, para refletir seriamente sobre o drama dos migrantes. O Mediterrâneo é um cemitério, mas não é o maior cemitério. O maior cemitério é o norte da África. É terrível isto, leiam. Vou a Marselha por isto. Na semana passada, o presidente Macron disse que tem intenção de ir a Marselha e estarei ali um dia e meio: chegarei à tarde e terei o dia seguinte inteiro. 

(O senhor não tem nada contra a França – afirma Matteo Bruni, repetindo a pergunta):

Não. Não, a respeito disto é uma política. Estou visitando os pequenos países europeus. Os grandes países, Espanha, França, Inglaterra, deixo para depois, no final. Mas como opção comecei pela Albânia e assim os menores. Não há nada. A França, duas cidades: Estrasburgo e Marselha.

Pergunta 4 - Emma Elisabeth Hirschbeck - ARD ROMA

O Santo Padre em Lisboa disse-nos que na Igreja há lugar para todos, todos, todos. A Igreja está aberta a todos, mas ao mesmo tempo nem todos têm os mesmos direitos, oportunidades, no sentido de que, por exemplo, mulheres e homossexuais não podem receber todos os sacramentos. Santo Padre, como explica esta incoerência entre uma Igreja aberta e uma Igreja que não é igual para todos? Obrigada.

Papa Francisco:

Você me faz uma pergunta sobre dois pontos de vista diferentes. A Igreja é aberta a todos, depois existem leis que regulam a vida dentro da Igreja. Alguém que está dentro está de acordo com a legislação, o que você diz é uma simplificação: “Não pode receber os sacramentos”. Isso não significa que a Igreja seja fechada, cada um encontra Deus pelo próprio caminho dentro da Igreja, e a Igreja é mãe e guia cada um pelo seu caminho. Por isso não gosto de dizer: venham todos, mas tu, este, mas o outro... Todos, cada um na oração, no diálogo interior, no diálogo pastoral, procura uma forma de seguir em frente. Para isso, fazer uma pergunta: por que os homossexuais não… Todos! E o Senhor é claro: doentes. Saudáveis, velhos e jovens, feios e bonitos… bons e maus! Há como um olhar que não entende essa inserção da Igreja como mãe e pensa nela como uma espécie de empresa que para entrar tem que fazer isso, fazer desta forma e não de outra... Outra coisa é a ministerialidade da Igreja, que é o modo para levar em frente o rebanho e uma das coisas importantes é a paciência, na ministerialidade: acompanhar as pessoas passo a passo em seu caminho de amadurecimento. Cada um de nós tem esta experiência: que a Igreja mãe nos acompanhou e nos acompanha no seu próprio caminho de amadurecimento. Não gosto da redução, isso não é eclesial, isso é gnóstico. É como uma heresia gnóstica que está um pouco na moda hoje. Um certo gnosticismo que reduz a realidade eclesial e isso não ajuda. A Igreja é mãe, acolhe todos, e cada um faz o próprio caminho dentro da igreja, sem publicidade, e isso é muito importante. Obrigado pela coragem de fazer esta pergunta. Obrigado.

O Papa deseja compartilhar uma opinião sobre a JMJ, fala Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé 

Como vivi a JMJ. Esta é a quarta que vivo. A primeira foi no Rio de Janeiro, que era monumental, a la brasileña, bela. A segunda em Cracóvia, a terceira no Panamá, esta é a quarta. Esta é a mais numerosa. Os dados concretos, verdadeiros, eram mais de um milhão. Antes ainda, na vigília à noite calculava-se um milhão e quatrocentos e um milhões e seiscentos mil. Impressionante a quantidade. Bem preparada! Esta é aquela que eu vi melhor preparada.

E os jovens são uma surpresa. Os jovens são jovens. Aprontam, a vida é assim. Mas procuram seguir em frente. E eles são o futuro. A questão é acompanhá-los. O problema é saber acompanhar. E é que não se separem das raízes. Por isso insisto tanto no diálogo entre velhos e jovens, os avós com os netos. Esse diálogo é importante, mais importante do que o diálogo entre pais e filhos. Os avós, as raízes. Depois, os jovens são religiosos, eles buscam fé, não artificial. …eles procuram um encontro com Jesus e isso não é fácil... Alguns dizem, mas os jovens nem sempre seguem uma vida segundo a moral. Mas quem de nós não cometeu um erro moral na própria vida? Todos! Com qualquer dos mandamentos. Cada um de nós tem as próprias quedas na própria história. A vida é assim. Mas o Senhor sempre nos espera porque é misericordioso, é pai. E a misericórdia supera tudo......Isso queria dizer sobre a JMJ.

Pergunta 6 - Justin Scott Clellan – CNS

Falando de JMJ. Ouvimos nestes dias alguns testemunhos de jovens que lutaram pela saúde mental, com a depressão. O senhor já lutou com isso? E se alguém decidir cometer suicídio, o que diria à família dessa pessoa que sofre com o ensinamento católico sobre o suicídio, pensando que tenha ido para o inferno?

Papa Francisco:

Hoje o suicídio juvenil é importante, importante em número. A mídia não fala tanto, porque não é informado às mídias. Fiquei – não a confissão, não – em diálogo com os jovens, porque aproveitei para dialogar. Um bravo jovem me disse: posso lhe fazer uma pergunta? O que o senhor pensa sobre o suicídio? Ele não falava a nossa língua, mas eu entendi bem e começamos a conversar sobre o suicídio. E no final ele me disse: obrigado, porque ano passado estava indeciso se cometia ou não. Tantos jovens angustiados, deprimidos, mas não só psicologicamente... depois em alguns países que são muito, muito exigentes na universidade, os jovens que não conseguem se formar ou encontrar aquele trabalho se suicidam, porque sentem uma vergonha muito grande. Não digo que seja uma coisa de todos os dias, mas é um problema, um problema atual, uma coisa que acontece.

Bruni: Obrigado Sua Santidade por suas respostas

Papa Francisco: obrigado a vocês pelo que fizeram e não se esqueças hein… 'Hermanito', 'Fratellino', o livro do migrante. Obrigado!

Fonte: https://www.acidigital.com/

O Papa aos sacerdotes de Roma: trabalhar com os leigos e tomar cuidado com o clericalismo

O Papa com alguns sacerdotes e seminaristas de Roma (foto de arquivo)  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

"Obrigado pelo seu ministério, que muitas vezes se realiza no meio de tanto esforço, incompreensão e pouco reconhecimento", escreve o Papa Francisco aos sacerdotes da Diocese de Roma. "A mundanidade espiritual é perigosa porque é um modo de vida que reduz a espiritualidade à aparência. Como idoso, e de coração, digo a vocês que me preocupa quando recaímos nas formas do clericalismo", adverte Francisco.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco enviou uma carta aos sacerdotes da Diocese de Roma, nesta segunda-feira (07/08).

Na missiva, o Pontífice renova o seu agradecimento aos sacerdotes pelo seu testemunho, pelo seu serviço, pelo bem oculto que fazem, pelo perdão e consolo que dão em nome de Deus. "Obrigado pelo seu ministério, que muitas vezes se realiza no meio de tanto esforço, incompreensão e pouco reconhecimento", escreve ainda o Pontífice.

Segundo o Papa, o "ministério sacerdotal não se mede pelos sucessos pastorais". No centro da vida sacerdotal está "o permanecer no Senhor para dar frutos" e não "o frenesi da atividade". "A ternura que nos consola brota da sua misericórdia, da acolhida do "magis" da sua graça, que nos permite ir adiante no trabalho apostólico, suportar os reveses e fracassos, alegrar-nos com simplicidade de coração, ser mansos e pacientes, e recomeçar sempre, estender as mãos aos outros", ressalta.

"Os nossos necessários "momentos de recarga" não ocorrem apenas quando descansamos fisicamente ou espiritualmente, mas também quando nos abrimos ao encontro fraterno entre nós: a fraternidade conforta, oferece espaços de liberdade interior e não nos faz sentir sozinhos diante dos desafios do ministério", sublinha o Papa.

A mundanidade espiritual é perigosa 

"Neste nosso tempo, o que nos pede o Senhor, para onde nos orienta o Espírito que nos ungiu e nos enviou como apóstolos do Evangelho?" "Na oração, me vem à mente: que Deus nos pede para ir fundo na luta contra a mundanidade espiritual", ressalta.

De acordo com o Papa, "a mundanidade espiritual é perigosa porque é um modo de vida que reduz a espiritualidade à aparência: nos leva a ser «comerciantes do espírito», homens vestidos de formas sagradas que, na realidade, continuam pensando e agindo segundo as modas do mundo. Isso acontece quando nos deixamos fascinar pelas seduções do efêmero, pela mediocridade e pela rotina, pelas tentações do poder e da influência social, da vanglória e do narcisismo, da intransigência doutrinal e do esteticismo litúrgico, formas e maneiras nas quais a mundanidade «se esconde atrás de aparências de religiosidade e até de amor à Igreja», mas na realidade «consiste em buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal»".

Ainda segundo Francisco, "a mundanidade espiritual é uma tentação "gentil" e por isso ainda mais insidiosa. Na verdade, ela se insinua sabendo se esconder bem atrás das boas aparências, até mesmo dentro de motivações "religiosas". E, mesmo que a reconheçamos e a afastemos de nós, mais cedo ou mais tarde ela volta disfarçada de outro modo".

"Precisamos de vigilância interior, de guardar a mente e o coração, alimentar o fogo purificador do Espírito dentro de nós, porque as tentações mundanas voltam e "batem" de maneira educada. «São os "demônios educados": entram educadamente, sem que eu perceba»", escreve ainda o Papa.

Atenção a não cair no clericalismo

A seguir, Francisco se detém num aspecto desta mundanidade: o clericalismo. "Como idoso, e de coração, digo a vocês que me preocupa quando recaímos nas formas do clericalismo; quando, talvez sem perceber, damos às pessoas a impressão de que somos superiores, privilegiados, colocados «no alto» e, portanto, separados do resto do Povo santo de Deus". "Como me escreveu uma vez um bom sacerdote: "O clericalismo é um sintoma de uma vida sacerdotal e laical tentada a viver na função e não no vínculo real com Deus e com os irmãos". Em suma, denota uma doença que nos faz perder a memória do Batismo recebido, deixando em segundo plano a nossa pertença ao mesmo Povo santo e levando-nos a viver a autoridade nas várias formas de poder, já não percebendo a duplicidade, sem humildade, mas com comportamentos distantes e soberbos", frisa o Papa.

"A preocupação centra-se no "eu": o próprio sustento, as próprias necessidades, o louvor recebido para si e não para a glória de Deus. Isto acontece na vida de quem cai no clericalismo: perde o espírito de louvor porque perdeu o sentido da graça, o estupor pela gratuidade com que Deus o ama, aquela confiante simplicidade de coração que faz estender as mãos ao Senhor", escreve Francisco na carta aos sacerdotes.

A seguir, o Papa indicou "o antídoto quotidiano contra a mundanidade e o clericalismo: olhar para Jesus crucificado, fixar todos os dias o olhar n'Aquele que se esvaziou e se humilhou até à morte por nós".

"Este é o espírito sacerdotal: fazer-nos servos do Povo de Deus e não senhores, lavar os pés dos nossos irmãos e não esmagá-los debaixo dos nossos pés. Portanto, permaneçamos vigilantes em relação ao clericalismo", ressalta o Papa.

Não assumir um "espírito clerical"

A seguir, Francisco recorda que "o clericalismo pode dizer respeito a todos, também aos leigos e aos agentes pastorais". Segundo o Papa, "pode-se assumir um "espírito clerical" no levar adiante ministérios e carismas, vivendo de maneira elitista o próprio chamado, fechando-se no próprio grupo e erguendo muros para fora, desenvolvendo laços possessivos em relação aos papéis na comunidade, cultivando atitudes presunçosas e arrogantes em relação aos outros".

De acordo com o Papa, "os sintomas são a perda do espírito de louvor e da gratuidade alegre, enquanto o diabo se insinua, alimentando lamentos, negatividade e insatisfação crônica com o que está mal, ironia que se torna cinismo. Assim, nos deixamos absorver pelo clima de crítica e raiva que se respira ao redor, ao invés de sermos aqueles que, com simplicidade e mansidão evangélica, com bondade e respeito, ajudam nossos irmãos e irmãs a saírem das areias movediças da intolerância".

"Vamos em frente com entusiasmo e coragem: trabalhemos juntos, entre sacerdotes e com os irmãos e irmãs leigos, iniciando formas e caminhos sinodais, que nos ajudem a despojar-nos de nossas seguranças mundanas e "clericais" para buscar, humildemente, caminhos pastorais inspirados pelo Espírito, para que a consolação do Senhor chegue realmente a todos", conclui a carta do Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Entre o Tabor e o Calvário, o que fazer?

Transfiguração do Senhor (Guadium Press)

Engana-se quem julga que a Transfiguração de Nosso Senhor foi apenas um marco na vida dos Apóstolos. Então, qual é o significado deste grandioso acontecimento para nós?

 Redação (06/08/2023 12:33, Gaudium Press) Os Evangelhos narram não só as inúmeras ocasiões nas quais transparecem claramente a natureza humana de Nosso Senhor, mas também abundantes fatos que manifestam a divindade de Jesus: desde os sobrenaturais fatos que envolveram o seu nascimento, sua glorificação por parte do Pai e do Espírito Santo no momento de seu Batismo, os inúmeros milagres, como curas de cegos, leprosos e coxos; ressurreições, domínio sobre a natureza e tantos outros sinais por Ele realizados. No entanto, sem dúvida, já prefigurando a glória de sua Ressurreição, a manifestação mais clara de sua divindade deu-se na Transfiguração, comemorada na liturgia de hoje.

Uma preparação para o Calvário

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o Sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram Moisés e Elias conversando com Jesus (Mt 17,1-3).

Ali, no alto do Tabor, Moisés e Elias representavam o Antigo Testamento: Moisés, a lei; Elias, o profetismo. Eram as duas grandes figuras do povo eleito que lá estavam, diante do Filho de Deus.

Quem seria capaz de imaginar todos os fulgores que os três Apóstolos contemplaram naquele momento? Trata-se de algo realmente indescritível!

Mas qual era a intenção de Nosso Senhor ao manifestar sua glória a esses três discípulos?

“Coincidentemente”, foram os mesmos – Pedro, Tiago e João – que Nosso Senhor chamou junto a Si para que vigiassem com Ele no momento de sua agonia no Jardim das Oliveiras (Cf. Mc 14,33; Mt 26,37). Terá sido mesmo mera coincidência?

Diz muito acertadamente um antigo adágio que “as palavras comovem, mas os exemplos arrastam”. De fato, “um ensino puramente doutrinário não é capaz de, por si só, mover o homem a transformar sua vida”.[1] Tendo em vista as duras provas pelas quais seus discípulos deveriam passar, Nosso Senhor poderia ter-lhes anunciado apenas com palavras a glória que estava reservada a Ele e, de alguma forma, também a todos que lhe fossem fiéis. Contudo, era tão grande o seu amor por eles, e tão grandes as dificuldades que teriam de enfrentar, que Ele preferiu não apenas anunciar-lhes a sua glória, mas quis também manifestar-lhes tal glória.

Além disso, como afirma São Tomás de Aquino, “para trilharmos bem um caminho, é necessário termos um conhecimento prévio do fim. […] E isso sobretudo é necessário, quando o caminho é difícil e áspero, a jornada laboriosa, mas belo o fim”.[2]

Assim sendo, a Transfiguração foi para os Apóstolos uma preparação feita por Jesus para os sofrimentos que lhes aguardavam, de modo que eles “não só se sentiriam robustecidos para enfrentar os traumas de sua Paixão, como também mais facilmente ajudariam seus irmãos a solidificar a Santa Igreja, e fortaleceriam os fiéis ao longo dos tempos”.[3] Neste sentido, ainda comenta o Papa São Leão Magno: “Era preciso que os Apóstolos concebessem em sua alma esta forte e ditosa firmeza, e não tremessem ante a aspereza da cruz que eles deveriam levar”.[4] Esse acontecimento foi, portanto, de suma importância para a própria perseverança e fidelidade não apenas destes, mas também dos demais Apóstolos, e até mesmo, da própria Santa Igreja.

Deste modo, enganar-se-ia muito o leitor se julgasse que a Transfiguração de Nosso Senhor foi um marco apenas naquele contexto histórico, e que, em nossos dias, este fato, belo em sua narração, não repercutiria em nossas vidas.

Entretanto, sem dúvida alguma, este acontecimento nos traz um ensinamento belíssimo, a qual devemos guardar como um verdadeiro tesouro.

Os “Tabores” de Deus em nossas almas

Conforme asseveram os teólogos, Deus derrama graças místicas sobre todos os que trilham as vias da salvação, e nenhum homem está excluído de recebê-las.[5] Elas são como tesouros preciosíssimos, como “montes Tabor” onde Nosso Senhor transfigura-Se diante de nós. Quem não terá sentido, alguma vez, uma grande alegria interior, uma consolação sobrenatural ao assistir a uma santa Missa, ao escutar uma bela pregação ou ao contemplar uma imagem piedosa?

Tudo isso são visitas de Deus à nossa alma, e devem ser guardadas não apenas na memória, mas sobretudo, no coração, onde devem ser gravadas a ferro e fogo, de modo que nunca venham a apagar-se. E, muitas vezes, elas nos são concedidas tendo em vista alguma provação pela qual tenhamos que passar em breve. Nestas ocasiões, patenteia-se de modo especial o desvelo que Deus tem por cada um de nós: antes mesmo de lhe pedirmos auxílio, Ele já nos está amparando.

Nossa atitude perante essas graças deve ser semelhante à de São Pedro na Transfiguração: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, e outra para Elias” (Mt 17,4). Ou seja, se pudéssemos, nunca permitiríamos que elas deixassem nossa alma.

Entretanto, para nossa salvação, Deus permite não apenas os agradáveis momentos de “Tabor”, mas também os árduos momentos do “Calvário”.

Saibamos, pois, fazer frutificar e corresponder a todas as graças que recebemos de Deus, pois, no momento da prova, elas serão nosso amparo, nossa força e nossa vitória.

Por Lucas Rezende


[1] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os evangelhos. LEV: Città del Vaticano, v.7, 2013, p. 136.

[2] SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q. 45, a.1.

[3] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Op. cit., p. 137.

[4] SÃO LEÃO MAGNO. Hom. Sabb. Ante II Dom. Quadr. Sur la Transfiguration, hom. 38 [LI], n. 2. In: Sermons. Paris: Du Cerf, 1961, v. 3, p. 16-17.

[5] Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. Les trois âges de la vie intérieure. Paris: Du Cerf, 1995, v. 1, p. 27.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

São Sisto II e companheiros mártires

São Sisto II e companheiros mártires (comshalom)

07 de agosto

São Sisto II e companheiros mártires, valentes guerreiros da fé.

Celebramos, neste dia, um desses homens que soube transformar o terrível em glória, a partir do seu testemunho de fé, amor e esperança em Cristo Jesus. Santo que, junto dos seus companheiros mártires, entregou a vida em sinal de fidelidade, sendo recompensado junto dos seus com o tesouro da eternidade no Céu.

A Igreja viveu grandes e dolorosos combates ao longo desses quase 20 séculos de existência. Em toda sua trajetória, os anos que se seguiram de 250 até 260 foram, sem dúvidas, uns dos mais terríveis. Porém, o que tiveram de terríveis e dolorosos, tiveram também de gloriosos. Duas das figuras que se destacaram por sua fúria e ódio contra os cristãos foram os imperadores Décio e Valeriano. 

Algumas das vítimas desses massacres foram o Papa Sisto II e seus companheiros, os quais celebramos no dia de hoje. Sisto e seus companheiros foram grandes servos de Deus que, por meio de sua fidelidade incondicional a Jesus, souberam transformar os terríveis massacres que sofreram em anúncio do Reino dos Céus.

Sisto II pertence à lista dos cinco papas que foram de modo consecutivo brutalmente martirizados por causa de Jesus e sua mensagem de fé, paz e amor verdadeiro. Esse Pastor fiel governou a Igreja por apenas um ano (257 a 258), entretanto, um ano tão intenso quanto sua fé e amor a Deus. Sua oferta de vida fortaleceu ainda mais a paz e a unidade no seio da Igreja, contribuindo, assim, para que Cristo, a paz real, pudesse ser anunciado a mais e mais corações.

Ritual de dor e amor de São Sisto e seus companheiros

Sisto foi decapitado pela guarda do Império logo após ser preso enquanto presidia a Santa Missa no cemitério da via Ápia. Junto com esse grande pastor, foram também executados seis de seus sete diáconos, que o auxiliavam nas celebrações e no pastoreio dos fiéis. Pouparam, ainda que por pouco tempo, o diácono Lourenço, que era  tesoureiro de São Sisto. Pouparam-no até serem conduzidos aos bens da Igreja, em seguida, também o assassinaram. 

Essas atrocidades começaram a ocorrer por ordem do imperador Valeriano (+260). Segundo as orientações do monarca, a pena de morte poderia ser aplicada contra os bispos, padres e diáconos da religião cristã “sem nenhum julgamento, bastando apenas a verificação de identidade.” Em outras palavras, ser padre, bispo ou diácono, por si só, já era sentença de morte certa.   

Desta forma, foi nesse cenário de ódio e dor que São Sisto II e seus companheiros ofertaram suas vidas. Foram recompensados por sua fidelidade com os tesouros da eternidade no Céu. Puderam dizer como o Apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda.” (2Tm 4,7-8). 

Que Deus nos oriente, pelo exemplo e intercessão de São Sisto II e seus companheiros. Que este exemplo nos anime a nunca negociarmos Jesus pelas ilusões deste mundo. 

São Sisto II e companheiros mártires, rogai por nós!

Fonte: https://comshalom.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF