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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

“A aurora do ‘dia do Sol’”. A exposição eucarística e a antífona mariana

A aurora do dia do Sol (Opus Dei)

“A aurora do ‘dia do Sol’”. A exposição eucarística e a antífona mariana

A bênção com o Santíssimo Sacramento e a antífona mariana dos sábados nos preparam para a celebração dominical e unem os nossos dois grandes amores, Cristo e Maria, em um momento da semana.

11/06/2024

“No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos”[1]. É deste modo que São Justino começa a sua descrição da liturgia eucarística dos primeiros cristãos, pouco mais de um século depois da morte de Cristo. Desde a ressurreição do Senhor no “dia do Sol”, os cristãos não deixaram de celebrar juntos a fração do pão no primeiro dia da semana, que cedo rebatizaram como Dies Domini ou Dominicus: o Dia do Senhor.

Dentro do tesouro de piedade cristã que se vive na Obra, há duas práticas que têm em comum o seu caráter de preparação para o Dia do Senhor, porque são características do sábado e constituem como um prólogo da celebração dominical: a exposição eucarística e o cântico ou recitação de uma antífona mariana. Usando uma imagem, podíamos dizer que são o primeiro resplendor – no fundo do horizonte – do dia que nos traz o Sol que nasce do alto (cf. Lc 1, 78) e que começará a brilhar em algumas horas. São, portanto, como a aurora do dia do Sol.

Além disso, estas práticas unem os nossos dois grandes amores, Cristo e Maria, em um momento da semana. “Procura dar graças a Jesus na Eucaristia, cantando louvores a Nossa Senhora, a Virgem pura, a sem mancha, aquela que trouxe ao mundo o Senhor. E, com audácia de criança, atreve-te a dizer a Jesus: – Meu lindo Amor, bendita seja a Mãe que te trouxe ao mundo! Com certeza que Lhe agradas, e Ele porá na tua alma ainda mais amor”[2].

Comer com os olhos

A origem histórica da exposição e bênção eucarísticas encontra-se no desenvolvimento da espiritualidade e da teologia sobre a Eucaristia que ocorreu na Idade Média. Os ensinamentos da Igreja que respondiam e refutavam quem negava a presença real de Cristo na Eucaristia, bem como o milagre de Bolsena (1263) – que deu origem à festa de Corpus Christi –, suscitaram um grande movimento de devoção no povo cristão. O florescimento das procissões eucarísticas, o gesto da genuflexão diante das sagradas espécies, a sua elevação durante a consagração da Missa e a maior importância que o sacrário adquiriu nos templos são algumas das manifestações da progressiva reverência ao Santíssimo Sacramento que o Espírito Santo suscitava na Igreja.

Crescia nos fiéis um desejo ardente de contemplar a Hóstia Santa para se nutrir espiritualmente dela: era a chamada manducatio per visum (comer com os olhos). No entanto, surgiu um problema: esta visão ficava limitada ao tempo da sua elevação durante o cânone da Missa. Por isso, algumas dioceses da Alemanha começaram a difundir no século XIV o costume de manter o Santíssimo Sacramento exposto durante períodos de tempo mais longos, em momentos diferentes da celebração eucarística. A exposição era animada por cânticos tirados da Liturgia das Horas e da Missa da festa de Corpus Christi, cujos textos foram compostos por São Tomás de Aquino: Pange linguaO salutaris Hostia,Tantum ergoEcce panis angelorum

O culto eucarístico fora da Missa continuou a se difundir nos séculos seguintes, especialmente depois do Concílio de Trento (1545-1563). A reforma da liturgia que ocorreu depois do Concílio Vaticano II quis continuar a fomentar esta prática, sublinhando a sua íntima conexão com a santa Missa: “Os fiéis, ao adorarem o Cristo presente no Sacramento, lembrem-se de que está presença decorre do Sacrifício e tende à Comunhão sacramental e espiritual”[3]. A exposição e bênção eucarísticas constituem, em outro momento do dia, a continuidade natural da celebração da Missa: dela nascem e a ela conduzem. A adoração ajuda-nos a ser “almas de Eucaristia”, atentos a Ele de manhã à noite e da noite até à manhã: “Aprendemos então a agradecer ao Senhor mais outra delicadeza: que não tenha querido limitar a sua presença ao instante do Sacrifício do Altar, mas tenha decidido permanecer na Hóstia Santa que se reserva no Tabernáculo, no Sacrário”[4].

Um coração que começa a cantar

A tradição de venerar especialmente a Santíssima Virgem na véspera de domingo é antiquíssima na Igreja. Talvez o seu antecedente remoto seja a reunião dos discípulos ao redor de Maria no Sábado Santo; enquanto a escuridão e a incerteza reinavam nos seus corações, ela, modelo de discípula e de crente, constituiu a continuidade da presença do Seu Filho no mundo. Um autor medieval, Cesáreo de Heisterbach (+ 1240), explicava-o assim: “Só Maria manteve a fé na ressurreição do Seu Filho, dentro da desesperança geral de Sábado Santo, quando Cristo jazia morto no sepulcro. A devoção mariana do sábado compreende-se a partir do domingo, o dia comemorativo da ressurreição”[5].

Junto com o Dia do Senhor, desde tempos antigos observou-se também em algumas regiões uma certa veneração, com diversos tons, pelo sábado, como o prelúdio ou o irmão do domingo. O costume de celebrar a Missa de Santa Maria aos sábados remonta a Alcuíno de York (+ 804), teólogo e conselheiro de Carlos Magno, que compôs uma série de Missas para os dias da semana, que eram celebradas quando não se comemoravam memórias de santos. Além disso, não muito depois, difundiu-se amplamente o costume de rezar o Pequeno Ofício de Santa Maria no sábado da Liturgia das Horas.

Durante o século XIII, surgiu em Itália uma devoção vespertina conhecida como a laude, que consistia numa celebração com cânticos ao fim do dia ou da semana, entre os quais não podia faltar um dedicado a Santa Maria, sobretudo a Salve Regina. Posteriormente, difundiu-se realizar a laude na presença de Cristo sacramentado, conservado na píxide ou visível no ostensório. No fim, o povo era abençoado com a Eucaristia e despedido. Deste modo, embora a tradição de venerar a presença permanente de Jesus e a de honrar a Virgem Maria especialmente ao sábado tenham surgido na Igreja de modo independente, ambas confluíram felizmente no final da Idade Média. Esta foi a origem de uma tradição litúrgica e devocional que se manteve ao longo dos séculos.

São Josemaria gostava de considerar que, quando o coração transborda de amor, estala em cantos. Muitas vezes mostrou-nos como rezar com canções humanas com sentido divino. Efetivamente, dedicou a Santa Maria com frequência as suas serenatas de amor: “Canta diante da Virgem Imaculada, recordando-lhe: Ave, Maria, Filha de Deus Pai; Ave, Maria, Mãe de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa de Deus Espírito Santo… Mais do que tu, só Deus!”[6]. Em toda a sua história, a Igreja não deixou de cantar louvores à Virgem Maria, confirmando o que Ela própria anunciou no Magnificat: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1, 48).

Desde o começo da Obra

São Josemaria quis que os sábados fossem dias para manifestar especialmente o nosso amor à Senhora, de diversos modos: através de mais alguma mortificação e do canto ou recitação de uma antífona mariana, especialmente a Salve Regina e o Regina Cœli na Páscoa. Além disso, desde os primeiros passos da Obra, nos centros de São Rafael fazia-se neste dia uma coleta para comprar flores para enfeitar a sua imagem no oratório e para ajudar os pobres da Virgem, obra de caridade que o fundador do Opus Dei viu o seu pai realizar com frequência.

Num ponto de Forja, São Josemaria explica alguns dos motivos pelos quais quis que na Obra se vivessem estes pormenores de carinho com a Virgem Maria: “Há duas razões, entre outras - dizia de si para si aquele amigo -, para que desagrave a minha Mãe Imaculada todos os sábados e nas vésperas das suas festas.

– A segunda é que, em vez de dedicarem à oração os domingos e as festas de Nossa Senhora (que costumam ser festas nos vilarejos), as pessoas os dedicam - basta abrir os olhos e ver - a ofender o Nosso Jesus com pecados públicos e crimes escandalosos.

– A primeira: que os que queremos ser bons filhos não vivemos com a devida atenção, talvez empurrados por satanás, esses dias dedicados ao Senhor e à sua Mãe.

- Já percebes que, infelizmente, essas razões continuam a ser muito atuais, para que também nós desagravemos”[7].

Nas primeiras décadas do século XX na Espanha era frequente em igrejas e oratórios a prática da sabatina, que consistia em recitar algumas orações e cânticos a Nossa Senhora, como o Terço e a Salve Rainha, e podia incluir alguma breve pregação. São Josemaria participou nelas com a família em Barbastro e no seminário em Saragoça. Sabemos também notícia de que, como muitos outros sacerdotes da época, oficiava com frequência a bênção eucarística como parte do seu ministério em Madri, também com aqueles primeiros rapazes que frequentavam as atividades da Obra: no Patronato de Enfermos, nas aulas de formação cristã no asilo Porta Cœli, nos recolhimentos na igreja dos redentoristas ou na academia-residência DYA aos sábados e em alguns retiros e solenidades. O primeiro círculo de São Rafael que o fundador do Opus Dei deu a três estudantes acabou com a exposição eucarística: era sábado, 21 de janeiro de 1933. Ao dar a bênção, São Josemaria entreviu projetada no tempo a fecundidade que ao longo dos séculos ia ter esse trabalho apostólico com jovens: “Terminada a aula, fui à capela com aqueles rapazes, tomei o Senhor sacramentado no ostensório, elevei-o, abençoei aqueles três..., e eu via trezentos, trezentos mil, trinta milhões, três bilhões (...). E fiquei aquém, porque é uma realidade passado quase meio século. Fiquei aquém, porque o Senhor foi muito mais generoso”[8].

Como parte da história do Opus Dei, em dezembro de 1931, São Josemaria resolveu que a Salve rainha fosse cantada aos sábados nos centros. Quanto à bênção eucarística desse dia, parece que se foi consolidando de modo progressivo na vida de família, unindo-se habitualmente ao cântico da antífona mariana.

Além disso, na Obra, a bênção eucarística pode ser entendida também no contexto do prolongamento que São Josemaria desejava que a Santa Missa tivesse ao longo do dia, com várias manifestações de piedade[9], para santificar a vida diária na e através da graça da Missa e da Comunhão. Portanto, estando submersos nos compromissos do dia a dia – em que o Senhor nos chama –, essa continuidade da Missa pode ser estimulada de vários modos, quer participemos ou não de uma bênção eucarística: com uma visita ao Santíssimo, jaculatórias, a comunhão espiritual, etc. Compreende-se que a prática de piedade da bênção eucarística – embora não faça parte dos costumes do espírito do Opus Dei – tenha surgido com naturalidade, por desejo de São Josemaria, nos centros e atividades da Obra em determinados dias, tais como as solenidades ou algumas festas litúrgicas, em celebrações de família, em momentos em que procuramos renovar a nossa vida espiritual junto do Senhor com calma – como num dia de recolhimento espiritual – e todas as semanas, ao sábado, dia habitualmente um pouco mais tranquilo e que nos prepara para o dia eucarístico por excelência: o domingo.

No horizonte da alma

A participação em família na Eucaristia dominical nos permite experimentar a proximidade de Deus em nossas vidas, graças à escuta da palavra de Deus, da homilia, da Comunhão e do encontro com a comunidade cristã. O cântico ou recitação da antífona mariana e também, se as nossas circunstâncias permitirem, a participação na exposição eucarística dos sábados, podem se tornar modos de preparar a nossa alma para esse momento central da semana e para aumentar o nosso amor a Jesus sacramentado. Poderíamos dizer que ambas as práticas constituem exercícios para avivar concretamente o desejo de receber o Senhor. “Só se recuperarmos o gosto da adoração é que se renova o desejo. O desejo leva-te à adoração e a adoração renova em ti o desejo. Porque o desejo de Deus cresce apenas permanecendo diante de Deus. Porque só Jesus cura os desejos. Do quê? Cura-os da ditadura das necessidades. Com efeito, o coração adoece quando os desejos coincidem apenas com as necessidades; ao passo que Deus eleva os desejos e purifica-os; cura-os, sanando-os do egoísmo e abrindo-nos ao amor por Ele e pelos irmãos”[10]. O culto eucarístico fora da Missa educa a alma para desejar ardentemente a Comunhão sacramental e espiritual: a adoração tende à união. A antífona mariana faz-nos crescer no amor a Maria, cuja missão é sempre conduzir-nos a Jesus.

Para evitar que as duas práticas, se tornem rotineiras pelo fato de repetidas semana após semana (a rotina é o “sepulcro da verdadeira piedade”)[11], pode ser útil meditar pausadamente sobre os textos que são cantados ou se rezados todos os sábados: os hinos eucarísticos, as leituras bíblicas, as orações, ladainhas e antífonas marianas. Neste sentido, durante o tempo de silêncio da exposição, entramos em diálogo interior com Cristo e saboreamos o que foi cantado ou lido. Não se trata apenas de uma simples pausa, mas de um recolhimento que nos permite concentrar-nos no que é verdadeiramente importante na nossa vida, para depois transmitir isso aos outros. “Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de ‘anunciar o que vimos e ouvimos’, a fim de que todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1Jo 1, 3)”[12]. Ao mesmo tempo, a liturgia também nos convida a manter essa atitude de recolhimento em cada Missa, de maneira “que a palavra de Deus realize efetivamente nos corações o que ressoa nos ouvidos”[13].

Despertar o desejo de receber o Senhor. Saborear as palavras dirigidas a Deus. Cada um pode ver o modo de saborear e participar com mais amor nas celebrações litúrgicas. Este esforço repetido, próprio de uma pessoa apaixonada, para fazer de cada uma delas um momento de encontro único com Jesus, pode abrir horizontes insuspeitados à nossa vida de piedade.

Deste modo, a exposição eucarística e a antífona mariana dos sábados facilitarão que o resplendor do Sol, que é Cristo, brilhe com uma claridade especial nos nossos corações na véspera do domingo, enchendo o horizonte da alma com uma aurora de amor e de esperança. Especialmente o cântico mariano, que é um conjunto de elogios carinhosos, vai aquecer a nossa alma em devoção a Maria. “É uma mulher maravilhosa – exclamava o São Josemaria numa tertúlia –, a criatura mais esplêndida que o Senhor pôde criar, cheia de perfeições. Gostar de galanteios não é uma imperfeição. Portanto, já sabes: tu e eu vamos elogiá-l’A”[14].


[1] São Justino, Apologia, n. 67, 3.

[2] São Josemaria, Forja, n. 70.

[3] A Sagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa, n. 80.

[4] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 154.

[5] cf. A. Heinz, Der Tag, den der Herr gemacht hat. Gedanken zur Spiritualität des Sonntags, “Theologie und Glaube” 68 (1978) 40-61.

[6] São Josemaria, Caminho, n. 496.

[7] Ibid.Forja, n. 434.

[8] Andrés Vázquez de Prada, O fundador do Opus Dei, vol. I, p. 440.

[9] cf. São Josemaria, Forja, n. 69; Cristo que passa, n. 154, entre outros textos possíveis.

[10] Francisco, Homilia, 06/01/2022.

[11] São Josemaria, Caminho, n. 551.

[12] Bento XVI, Mensagem, 20/05/2012.

[13] Missal Romano, Ordenação das leituras da Missa, n. 9.

[14] São Josemaria, citado em San Josemaría Escrivá de Balaguer a los pies de la Virgen de Guadalupe, em SEDS, número especial, México, 02/10/1976, Ed. de Revistas S. A.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/a-aurora-do-dia-do-sol-a-exposicao-eucaristica-e-a-antifona-mariana/

Papa Francisco: o martírio é fator de união entre todos os cristãos

Papa Francisco: o martírio é fator de união entre todos os cristãos (Vatican Media)

Aos participantes de Congresso promovido pelo Dicastério das Causas dos Santos, o Pontífice falou das característica do mártir, "perfeito discípulo de Cristo". No martírio, afirmou, há igualdade entre as confissões cristãs.

Vatican News

O Santo Padre recebeu em audiência aos participantes do Congresso “Martírio e doação da vida”, organizado pelo Dicastério das Causas dos Santos. 

Desde a antiguidade, afirmou o Papa, os fiéis em Jesus sempre tiveram grande consideração por quem pagou pessoalmente, com a própria vida, o seu amor a Cristo e à Igreja. Faziam dos sepulcros locais de culto e de oração. No martírio, se encontram as características do perfeito discípulo, que imitou Cristo ao renegar a si mesmo e tomar a própria cruz e, transformado pela sua caridade, mostrou a todos a potência salvífica da sua Cruz.

“Vem-me à mente o martírio daqueles corajosos líbicos ortodoxos: morreram dizendo 'Jesus'. 'Mas padre, eram ortodoxos!' Eram cristãos. São mártires e a Igreja os venera como próprios mártires. Com o martírio há igualdade. O mesmo acontece em Uganda com os mártires anglicanos. São mártires! E a Igreja os toma como mártires.”

Francisco citou então os três elementos fundamentais do martírio, reconhecidos pela Igreja. Primeiro: o mártir é um cristão que, para não renegar a própria fé, sofre conscientemente uma morte violenta e prematura. "Também um cristão não batizado, que é cristão no coração, confessa Jesus Cristo no batismo de sangue." Segundo: o assassinato é perpetrado por um perseguidor movido pelo ódio contra a fé ou a outra virtude a ela relacionada. Terceiro: a vítima assume uma atitude inesperada de caridade, paciência e mansidão, a exemplo de Jesus crucificado. O que muda, nas diferentes épocas, não é o conceito de martírio, mas as modalidades concretas com as quais, num determinado contexto histórico, isso acontece.

“Também hoje, em muitas partes do mundo, existem numerosos mártires que dão a própria vida por Cristo. Em muitos casos, o cristão é perseguido porque, impulsionado pela sua fé em Deus, defende a justiça, a verdade, a paz e a dignidade das pessoas”, explicou Francisco.

O Pontífice citou a Bula de convocação do próximo Jubileu, na qual definiu os mártires como o “testemunho mais convincente da esperança”. Por isso, pediu que fosse instituída a "Comissão dos Novos Mártires – Testemunhas da Fé" em vista do Ano Santo. Diferentemente das causas do martírio, esta Comissão reúne a memória daqueles que, no âmbito de outras confissões cristãs, souberam renunciar à vida para não trair o Senhor. 

Outra iniciativa citada pelo Papa foi o motu proprio de julho de 2017 (Maiorem hac dilectionem), estabelecendo que o Servo de Deus que ofereceu a própria vida tenha exercitado pelo menos em grau ordinário as virtudes cristãs e que, sobretudo após sua morte, esteja circundado de fama e sinais de santidade para prosseguir com a causa de beatificação e canonização. 

Quando falta a figura do perseguidor, o traço distintivo da oferta da vida é a existência de uma condição externa, objetivamente verificável, na qual o discípulo de Cristo se coloca livremente e que leva à morte. Também no extraordinário testemunho deste tipo de santidade, concluiu Francisco, resplende a beleza da vida cristã, que sabe fazer-se dom sem medida, como Jesus sobre a cruz. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Santa Francisca Xavier Cabrini: A santa que quase embarcou no Titanic

Foto de santa Francisca Xavier Cabrini (1880) e pintura "The Steamship Titanic" (1913), de Harry J. Jansen. | Museu Marítimo Nacional, Greenwich, Inglaterra, domínio público via Wikimedia Commons

Santa Francisca Xavier Cabrini: A santa que quase embarcou no Titanic

Por Joseph Pronechen*

13 de nov de 2024

Santa Francisca Xavier Cabrini estava na Itália com as irmãs da ordem que fundou em abril de 1912. Ela planejava visitar suas fundações na França, na Espanha e na Inglaterra antes de viajar de navio de volta aos EUA em abril para continuar seu trabalho na cidade de Nova York.

Nascida na Itália, santa Francisca Xavier Cabrini, conhecida como madre Cabrini, é a padroeira dos imigrantes e a primeira cidadã dos EUA a ser canonizada. O papa Pio XII celebrou a cerimônia de canonização da santa em 7 de julho de 1946. Nos EUA, a santa é celebrada no dia 13 de novembro.

Suas irmãs religiosas na Inglaterra esperavam ansiosamente pela visita de sua fundadora e superiora, que na época tinha 62 anos de idade. Para ajudar a tornar sua viagem de volta aos EUA mais confortável, elas compraram uma passagem para ela e reservaram passagem em um transatlântico, o RMS Titanic.

Embora santa madre Cabrini fosse uma viajante que faria 24 travessias transatlânticas para estabelecer sua fundação, seus hospitais e seus orfanatos, santa madre Cabrini não gostava de viagens pelo oceano, pois quase se afogou quando era criança.

Enquanto as freiras na Inglaterra a esperavam, chegou à madre Cabrini a notícia de que havia problemas no Hospital Columbus fundado por ela em Nova York. O hospital estava lotado e havia negócios urgentes para resolver relacionados a uma nova expansão do hospital. Ela não podia esperar. Tinha que voltar para arrecadar o dinheiro necessário para prosseguir com o projeto. Ela, então, partiu mais cedo de Nápoles, Itália, decepcionando as freiras na Inglaterra que reservaram sua passagem no Titanic.

O prefixo “RMS” em “RMS Titanic” significava “Royal Mail Ship” (Navio do Correio Real) porque também transportava correspondência sob contrato com o British Royal Mail (Correio Real Britânico) — um importante contexto para algo que santa Madre Cabrini escreveu em uma carta de 5 de maio de 1912 para a irmã Gesuina Dotti:

“Recebi apenas duas de suas cartas até agora, e se você enviou cinco, então deve ser dito que elas foram para as profundezas com o Titanic. Se eu fosse para Londres, eu poderia ter partido com ele, mas a Divina Providência, que observa constantemente, não permitiu. Deus seja louvado”.

Outra quase colisão no mar

Esse não foi o único episódio de santa madre Cabrini com um iceberg.

Em 1890, em sua segunda viagem a Nova York, ela estava entre mil passageiros no navio La Normandie. O mar estava muito agitado uma noite e a maioria dos passageiros pulou o jantar e ficou em suas cabines — exceto santa madre Cabrini e outras cinco pessoas. Ela sabia da situação perigosa e, de volta à cabine, permaneceu pronta para salvar suas irmãs e a si mesma se o chamado viesse para ir aos botes salva-vidas.

Posteriormente, ela disse que "o Bom Senhor ... nos embalou para dormir em uma grande gangorra, balançando-nos para frente e para trás".

Mas isso foi só o começo. Enquanto a tempestade rugia no dia seguinte, ela arriscou ir para o convés, encontrou uma cadeira em um lugar relativamente seguro e escreveu uma carta. Nela, ela escreveu:

“Vocês deveriam ver como o mar é lindo em seu grande movimento, como ele incha e espuma! É realmente uma maravilha! … Se vocês estivessem todas aqui comigo, filhas, cruzando este imenso oceano, vocês exclamariam: 'Oh, quão grande e maravilhoso é Deus em suas obras!' ”

Isso foi escrito por alguém que não gostava nem um pouco de navegar. Talvez porque dois dias antes ela tinha, como diz um artigo sobre ela, “comparado a tranquilidade do mar à alegria experimentada por uma alma que permanece na paz da graça de Deus. Não importa quais fossem as circunstâncias, ela era capaz de ver o amor de Jesus brilhar”.

Mas isso não foi tudo o que ocorreu na viagem.

Em seguida, por volta da meia-noite, “sentimos um forte solavanco e o navio parou de repente”, escreveu ela.

Ela e suas irmãs religiosas vestiram-se e prepararam-se para embarcar em botes salva-vidas, se necessário. O problema acabou sendo algo errado com o motor. Naquele momento, “o mar ficou calmo e lindo” e o navio ficou praticamente imóvel até que o motor fosse consertado pela manhã e o navio pudesse prosseguir. A avaria causou um atraso de 11 horas — um atraso que provavelmente salvou o navio e os passageiros de um desastre.

Dois dias depois, disse santa madre Cabrini, “por volta das 11, nos vimos cercados por icebergs em todas as partes do horizonte... eles eram cerca de 12 vezes maiores que o nosso navio”. O capitão reduziu a velocidade do navio para navegar lenta e cuidadosamente pelo campo de gelo para evitar colidir com as “imensas fortalezas irregulares”.

Uma história registrada no santuário de santa madre Cabrini nos EUA descreveu o evento assim: “Madre Cabrini observou que, embora eles tenham reclamado quando o motor quebrou, a crise foi uma grande graça. Sem esse atraso, o encontro do navio com os icebergs teria ocorrido no escuro, provavelmente com consequências terríveis”.

'Apoiada pelo meu Amado'

Certa vez, um trem no qual a santa viajava de um orfanato para outro foi atingido por tiros disparados por inimigos de ferrovias nos arredores de Dallas, no Estado do Texas, EUA. Ela ficou imperturbável e disse posteriormente como uma bala "mirada na minha cabeça caiu para o meu lado, enquanto deveria ter perfurado meu crânio".

Quando os que estavam a bordo do trem ficaram chocados com o ocorrido, ela lhes disse: "Foi o Sagrado Coração a quem eu confiei a viagem".

Pouco depois desse incidente, ela escreveu em uma carta: “Eu não escrevi e disse que estou viva milagrosamente?”

Do Titanic a La Normandie e Dallas, não havia dúvidas sobre a Providência Divina na vida de santa madre Cabrini. Ela escreveu: “Apoiada pelo meu Amado, nenhuma dessas adversidades pode me abalar. Mas se eu confiar em mim mesma, cairei. Em qualquer dificuldade que eu possa encontrar, quero confiar na bondade do Sagrado Coração de Jesus, que nunca me abandonará”.

*Joseph Pronechen é redator da equipe do National Catholic Register desde 2005 e, antes disso, foi correspondente regular do jornal. Seus artigos apareceram em várias publicações nacionais, incluindo a revista Columbia , Soul , Faith and Family , Catholic Digest , Catholic Exchange e Marian Helper . Seus artigos sobre religião também foram publicados no Fairfield County Catholic e em grandes jornais. Ele é autor de Fruits of Fatima — Century of Signs and Wonders . Ele é graduado e anteriormente lecionou inglês e cursos de estudo de cinema que desenvolveu em uma escola secundária católica em Connecticut (EUA). Joseph e sua esposa Mary residem na Costa Leste.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/60051/santa-francisca-xavier-cabrini-a-santa-que-quase-embarcou-no-titanic

A confissão sacramental

Sacramento da Penitência  (© Mirek Krajewski)

O sacramento da Confissão tem a finalidade de reconciliar o fiel com Deus e com a Igreja. “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1 Jo 1,8).

Luís Eugênio Sanábio e Souza - Escritor, Juiz de Fora - MG

Fiel às Sagradas Escrituras e às tradições apostólicas, a Igreja Católica crê e ensina que Jesus Cristo, em virtude de sua autoridade divina, transmitiu o poder de perdoar pecados aos homens para que o exerçam em seu nome.   Diante dos apóstolos, Cristo afirmou : “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (João 20,23; II Epístola aos Coríntios 5,18). Em virtude da sucessão apostólica, os bispos (sucessores dos apóstolos) e os padres (colaboradores dos bispos) continuam a exercer o poder de perdoar todos os pecados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.  Todavia, este poder, concedido aos homens, pressupõe e inclui a ação salvífica do Espírito Santo (João 20,22). Santo Tomás de Aquino ensinava que “o sacramento não é realizado pela justiça do homem que o confere ou o recebe, mas pelo poder de Deus” (Santo Tomás, S,Th. III,68,8). Assim, o sacerdote não é o Senhor, mas o servo do perdão de Deus.

Através do Concílio de Trento (ano 1545), a Igreja recordou que os sacramentos foram instituídos por Cristo como sinais eficazes da graça. Vale lembrar que a fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra os sacramentos, confessa a fé recebida dos apóstolos. O sacramento da Confissão tem a finalidade de reconciliar o fiel com Deus e com a Igreja. “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1 Jo 1,8). A Igreja afirma que “a confissão individual e integral seguida da absolvição continua sendo o único modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, salvo se uma impossibilidade física ou moral dispensar desta confissão” (Catecismo da Igreja Católica n° 1484). A confissão dos pecados, mesmo do ponto de vista simplesmente humano, nos liberta e facilita nossa reconciliação com os outros.  A absolvição tira o pecado, mas não remedeia todas as desordens que ele causou. Muitos pecados prejudicam o próximo. É preciso fazer o possível para reparar este mal (por exemplo restituir as coisas roubadas, restabelecer a reputação daquele que foi caluniado, ressarcir as ofensas e injúrias). Conforme o mandamento da Igreja, “todo fiel, depois de ter chegado à idade da discrição, é obrigado a confessar seus pecados graves, dos quais tem consciência, pelo menos uma vez por ano” (CDC, cânon 989). Apesar de não ser estritamente necessária, a confissão das faltas cotidianas (pecados veniais) é vivamente recomendada pela Igreja. Com efeito, a confissão regular de nossos pecados veniais nos ajuda a formar a consciência, a lutar contra nossas más tendências, a deixar-nos curar por Cristo. A Igreja declara que todo sacerdote que ouve confissões é obrigado a guardar segredo absoluto a respeito dos pecados que seus penitentes lhe confessaram, sob pena de excomunhão automática (CDC, cânon 1388). Este segredo, que não admite exceções, chama-se “sigilo sacramental”, porque o que o penitente manifestou ao sacerdote permanece “sigilado” pelo sacramento. Por fim, vale lembrar que “não há pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar. Não existe ninguém, por mau e culpado que seja, que não deva esperar com segurança seu perdão, desde que seu arrependimento seja sincero. Cristo, que morreu por todos os homens, quer que, em sua Igreja, as portas do perdão estejam sempre abertas a todo aquele que recua do pecado” (Catecismo da Igreja Católica n° 982).  

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Da Homilia de um Autor do século segundo

A esperança nos faz ver horizontes (Diocese de Luz)

Da Homilia de um Autor do século segundo

(Cap.10,1-12,1; 13,1: Funk 1,157-159)

Perseveremos na esperança

Cumpramos, portanto, irmãos meus, a vontade do Pai que nos chamou, para termos a vida, e cultivemos a virtude; abandonemos o vício, precursor de nossos crimes, e fujamos da impiedade e assim os males não nos agarrarão. Porque, se nos esforçarmos por viver bem, a paz nos acompanhará. Por esta razão, não podem encontrá-la os homens que, presa de temores humanos, preferem o prazer presente à promessa futura. Ignoram quanto tormento traz consigo a volúpia deste mundo e que delícias encerra a promessa do futuro. E se fizessem isto só para si, ainda seria tolerável; mas insistem em inculcar más doutrinas nas pessoas inocentes, sem saber que incorrerão em dupla condenação, eles e os que os ouvem.

Quanto a nós, sirvamos a Deus com coração puro, e seremos justos. Se, porém, incrédulos diante das promessas de Deus, não o servimos, seremos extremamente infelizes. A palavra profética ensina: Infelizes os falsos e hesitantes de coração, que dizem: Já escutamos isto há muito, desde o tempo de nossos pais; esperando dia após dia, nada aconteceu. Ó loucos, comparai-vos à árvore, por exemplo, à videira: primeiro caem as folhas, depois vem o broto, em seguida a uva verde e por fim a uva madura. Assim meu povo sofre agitações e angústias; receberá os bens, depois.

Irmãos meus, não sejamos indecisos, mas perseveremos na esperança e obteremos o prêmio. É fiel aquele que prometeu dar a cada um segundo suas obras. Cumprindo a justiça diante de Deus, entraremos em seu reino e receberemos o prometido que ouvidos não ouviram, olhos não viram, nem jamais subiu ao coração do homem (cf. 1Cor 2,9).

Esperemos, então, a cada momento, na caridade e na justiça, o reino de Deus, apesar de não conhecermos o dia da chegada de Deus.

Vamos, irmãos, façamos penitência, convertamo-nos para o bem; porque estamos cheios de insensatez e de maldade. Lavemo-nos dos pecados passados e mudando profundamente nosso modo de pensar seremos salvos. Não sejamos aduladores, nem procuremos agradar somente aos irmãos, mas também aos de fora, por amor da justiça, para que o Nome não seja blasfemado por nossa causa (cf. Rm2,24).

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

O Papa: Maria é instrumento do Espírito Santo na sua ação santificadora

Audiência Geral - 13 de outubro de 2024 - Papa Francisco (Vatican News)

"Entre os vários meios pelos quais o Espírito Santo realiza a sua obra de santificação na Igreja – Palavra de Deus, Sacramentos, oração – há um muito especial: a piedade mariana", disse o Papa no início de sua catequese.

https://youtu.be/eZpaEy9OnS8

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o Espírito Santo na Audiência Geral, desta quarta-feira (13/11), realizada na Praça São Pedro.

"Entre os vários meios pelos quais o Espírito Santo realiza a sua obra de santificação na Igreja – Palavra de Deus, Sacramentos, oração – há um muito especial: a piedade mariana", disse o Papa no início de sua catequese.

Segundo Francisco, "na tradição católica há sempre este lema, esta expressão: "Ad Iesum per Mariam". Nossa Senhora nos faz ver Jesus. Ela nos abre as portas, sempre! Nossa Senhora é a mãe que nos conduz pela mão em direção a Jesus. Maria nunca aponta para si mesma: Nossa Senhora aponta para Jesus. Esta é a piedade mariana: a Jesus pelas mãos de Nossa Senhora".

"São Paulo define a comunidade cristã como “uma carta de Cristo, redigida por nosso ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações”. Maria, como primeira discípula e figura da Igreja, é também uma carta escrita com o Espírito de Deus vivo", disse ainda Francisco.

Ao dizer o seu “sim” ao anúncio do anjo é como se Maria dissesse a Deus: “Eis-me aqui, sou uma tábua de escrever: que o Escritor escreva o que quiser, faça de mim o que quiser o Senhor de todas as coisas”.

Eis, portanto, como a Mãe de Deus é instrumento do Espírito Santo na sua ação santificadora. No meio da profusão interminável de palavras ditas e escritas sobre Deus, sobre a Igreja e sobre a santidade, ela sugere apenas duas palavras que todos, mesmo os mais simples, podem pronunciar em qualquer ocasião: “Eis-me aqui” e “fiat”. Maria é aquela que disse “sim” a Deus e, com o seu exemplo e a sua intercessão, incita-nos a dizer-Lhe também o nosso “sim”, cada vez que nos vemos confrontados com uma obediência a cumprir ou uma prova a vencer.

De acordo com o Papa, "em todos os momentos da sua história, mas particularmente neste momento, a Igreja encontra-se na situação em que se encontrava a comunidade cristã após a Ascensão de Jesus ao céu. Ela deve anunciar o Evangelho a todos os povos, mas está à espera do “poder do alto” para o poder fazer. E não esqueçamos que, naquele momento, como lemos nos Atos dos Apóstolos, os discípulos estavam reunidos ao redor de “Maria, mãe de Jesus”.

É verdade que havia outras mulheres com ela no cenáculo, mas a sua presença é diferente e única entre todas. Entre ela e o Espírito Santo existe um vínculo único e eternamente indestrutível que é a própria pessoa de Cristo, “encarnado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria”, como rezamos no Credo. O evangelista Lucas sublinha deliberadamente a correspondência entre a vinda do Espírito Santo sobre Maria na Anunciação e a sua vinda sobre os discípulos no Pentecostes, usando algumas expressões idênticas em ambos os casos.

O Papa recordou que São Francisco de Assis, "numa das suas orações, saúda a Virgem como “filha e serva do Rei Altíssimo, o Pai Celeste, mãe do Santíssimo Senhor Jesus Cristo, esposa do Espírito Santo”. Filha do Pai, Mãe do Filho, Esposa do Espírito Santo! Nenhuma palavra mais simples poderia ilustrar a relação única de Maria com a Trindade".

"Como todas as imagens, esta da “esposa do Espírito Santo” não deve ser absolutizada, mas tomada pela quantidade de verdade que contém, e é uma verdade muito bela. Ela é a esposa, mas é, antes disso, a discípula do Espírito Santo", disse ainda Francisco. "Aprendamos com ela a ser dóceis às inspirações do Espírito, especialmente quando Ele nos sugere que “nos levantemos depressa” e vamos ajudar alguém em necessidade, como ela fez logo depois que o anjo a deixou", concluiu.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Música litúrgica e o encontro pessoal com Cristo

Música litúrgica (Presbíteros)

Música litúrgica e o encontro pessoal com Cristo

16 de outubro de 2024

Não há muito tempo a música era considerada, nos documentos magisteriais, apenas como um elemento potenciador da piedade dos fiéis. Neste momento, ensina-se que ela faz parte integrante e necessária da liturgia solene. Ou seja, ela é também, por fazer parte da Liturgia, epifania do Mistério celebrado. Como evoluiu até nós esta visão tendo em conta os documentos do magistério?

Como se sabe o movimento litúrgico e outros fatores levaram a uma evolução na conceção da Liturgia, a considera-la mais do que simples ritualidade, atribuindo-lhe uma dimensão teológica. Antes do Vaticano II os sacramentos eram considerados apenas como instrumentos da graça. Ou seja, o importante eram os elementos para a validez dos mesmos. O resto era apenas cerimónia litúrgica e tinha o objetivo de suscitar a devoção dos fiéis.

No motu próprio de Pio X, «Tra le solicitudine », logo no primeiro ponto ainda se diz: «A música sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis.» Ao ler estas palavras, poder-se-ia pensar que se estava a abrir lugar para afirmar a sacramentalidade da música sacra pois, na medida em que ela participa do fim da própria liturgia, poderia, portanto, contribuir para manifestar o Mistério de Cristo. [2]  Porém, veja-se como prossegue o mesmo ponto:

«A música concorre para aumentar o decoro e esplendor das sagradas cerimônias; e, assim como o seu ofício principal é revestir de adequadas melodias o texto litúrgico proposto à consideração dos fiéis, assim o seu fim próprio é acrescentar mais eficácia ao mesmo texto, a fim de que por tal meio se excitem mais facilmente os fiéis à piedade e se preparem melhor para receber os frutos da graça, próprios da celebração dos sagrados mistérios.»

Ou seja, mais do que epifania de salvação ou do Mistério Pascal, a música tem um «ofício»: dispor os fiéis para receber a graça de Deus.

Na mesma linha segue Pio XI, na Bula Divini Cultus, de 20 de dezembro de 1928:

«É, portanto, muito importante que tudo o que é destinado à beleza da liturgia seja regulado por leis e prescrições da Igreja, de modo que as artes sirvam verdadeiramente, como é mister, quais nobres servas do culto divino[3]

E este carácter de nobre serva irá permanecer ainda em 1947, pois, Pio XII, na Mediator Dei, apresenta o gregoriano como uma música que contribui para aumentar a fé e a piedade dos presentes. Nessa linha continua Pio XII em 1955 na encíclica Musicae sacrae disciplina ao afirmar que a música sacra:

«Ocupa lugar de primeira importância no próprio desenvolvimento das cerimônias e dos ritos sagrados. Por isso, deve a Igreja, com toda diligência; providenciar para remover da música sacra, justamente por ser esta a serva da sagrada liturgia, tudo o que destoa do culto divino ou impede os féis de elevarem sua mente a Deus[4]

A perspectiva no pré-concilio é a de que a música, mais do que lugar de experiência do Mistério, dispõe para isso, excitando a devoção dos fiéis.

Com a Sacrosanctum Concilium dá-se uma mudança profunda:

«A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene.»[5]

Estas últimas palavras são chave e, no contexto dos pontos 5 a 7 da mesma constituição, em que se dá o passo da tal visão da liturgia como mera ritualidade para lugar de experiência pessoal do Mistério de Cristo, elas irão adquirir especial força.

Porém, o ponto 112 continua logo a seguir sublinhando «a função ministerial da música sacra no culto divino». Elena Massimi[6] afirma mesmo, depois de estudar o iter redacional da constituição conciliar, que este ponto talvez não tivesse a intenção de afirmar que a música litúrgica é, efetivamente, epifania do Mistério como tem sido citado. Admite que este ponto foi lido depois em ligação com os pontos iniciais da SC, mas considera que os padres conciliares não estariam ainda firmes nesta visão e que, por isso, SC vai ser um documento de transição para uma visão mais profunda e teológica da liturgia e, dentro desta, da música sacra.

Com a carta apostólica Desiderio Desideravi do Papa Francisco apresenta-se uma visão da liturgia que permite olhar para a música litúrgica vendo-a como potenciadora desse encontro pessoal com o Mistério de Cristo. Este carácter epifânico pode ser deduzido de pontos como os seguintes:

«A encarnação para além de ser o único acontecimento novo que a história conhece, é também o método que a Santíssima Trindade escolheu para nos abrir a via da comunhão. A fé cristã ou é encontro com Ele vivo, ou não é.[7]

«A Liturgia garante-nos a possibilidade desse encontro. Não nos basta ter uma vaga recordação da última Ceia: nós precisamos de estar presentes nessa Ceia, de poder ouvir a sua voz, de comer o seu Corpo e beber o seu Sangue: precisamos d’Ele. Na Eucaristia e em todos os sacramentos é-nos garantida a possibilidade de encontrar o Senhor Jesus e de ser alcançados pela potência da sua Páscoa.»[8]

Mas, este encontro como se dá?

« Esta implicação existencial acontece – em continuidade e coerência com o método da encarnação – por via sacramental. A Liturgia é feita de coisas que são exatamente o oposto de abstrações espirituais: pão, vinho, azeite, água, perfume, fogo, cinzas, pedra, tecido, cores, corpo, palavras, sons, silêncios, gestos, espaço, movimento, ação, ordem, tempo, luz.»[9]

Olhemos, então, para os sons. Eles ajudam a exprimir o Mistério, a tocá-lo, a entrar em contacto com ele.

«A Liturgia não nos deixa sós na busca individual de um suposto conhecimento do mistério de Deus, mas toma-nos pela mão, juntos, como assembleia, para nos conduzir para dentro do mistério que a Palavra e os sinais sacramentais nos revelam. E fá-lo, em coerência com o agir de Deus, seguindo a via da encarnação, através da linguagem simbólica do corpo que se prolonga nas coisas, no espaço e no tempo.»[10]

A liturgia, com tudo o que a integra, torna presente o Mistério Pascal e permite-nos vivenciá-lo. E a música é, sem dúvida, um elemento de especial importância.[11] Assim o expressam Gianni Cavagnoli e Elena Massimi no editorial da revista litúrgica dedicada aos sons da liturgia:

«Na liturgia não nos limitamos a cantar, ou a escutar melodias; na liturgia somos imersos num verdadeiro e próprio ambiente sonoro: o som dos passos, da água derramada, o tinir do turíbulo, o fruir do ar nos tubos do órgão… Todo o universo sonoro que se cria contribui para imergir o fiel na celebração, no mistério. E numa liturgia entendida em geral como rito, mesmo aquilo que é aparentemente secundário, torna-se epifania do mistério».[12]

Pedro Boléo Tomé


[1] Artigo inspirado em MASSIMI, E., La musica nella liturgia: epifania del Mistero. Riflessioni alla lucce del “magistero recente”.

[2] Assinalamos que não será qualquer música que poderá adquirir essa qualidade.

[3] «È dunque molto importante che tutto ciò che è destinato alla bellezza della liturgia sia regolato da leggi e prescrizioni della Chiesa, in modo che le arti servano veramente, come è doveroso, quali nobili ancelle al culto divino»

[4] Pio XII, Musica sacra e sacra liturgia n. 13

[5] SC 112

[6] MASSIMI, E., La musica nella liturgia: epifania del Mistero. Riflessioni alla lucce del “magistero recente”

[7] DD 10

[8] DD 11

[9] DD 42

[10] DD 19

[11] A Igreja não deixa de cantar aos domingos, festas e solenidades porque sabe que, sem a música, realidades como a alegria da Ressurreição, a união com a liturgia celeste, a transformação do cosmos num canto de louvor à Trindade, etc., seriam facilmente reduzidas a “ideias” ou “conteúdos mentais”, quando na realidade se trata de realidades sobrenaturais, chamadas a implicar toda a pessoa, tanto na sua corporalidade, como na sua dimensão espiritual. Isto é, a Igreja quer que os seus filhos cantem a ação litúrgica não por capricho ou extravagância, mas porque há aspetos do mistério de Deus que foram confiados ordinariamente à mediação da experiência musical: REGO, J., Apontamentos de uma conferência para sacerdotes dada em Roma (16:XII.2023)

[12] CAVAGNOLI. G. e MASSIMI, E., Una liturgia di suoni, RIVISTA LITURGICA trimestrale per la formazione liturgica, Quinta serie, anno CX, fascicolo 4, ottobre–dicembre 2023.

fonte: Celebração Litúrgica

https://presbiteros.org.br/musica-liturgica-e-o-encontro-pessoal-com-cristo1/

São Josafá

São Josafá (A12)
12 de novembro
Localização: Ucrânia
São Josafá

João Kuncewycz nasceu de família cristã ortodoxa da Ucrânia, em 1580. Estudou filosofia e teologia. Aos 20 anos tornou-se monge na Ordem de São Basílio, recebendo o nome de Josafá, e em pouco tempo era nomeado superior do convento. Possuía enorme capacidade intelectual e vivência da caridade cristã.

Além disso, São Josafá era um monge exemplar no seguimento das regras monásticas. Com apenas 37 anos assumiu o arcebispado de Polotsk, e dedicou-se imediatamente à formação do clero e à catequização dos fiéis (o que ainda hoje é urgentemente necessário).

 Na sua época, sentia-se já o grave problema da divisão das igrejas ortodoxas orientais, que haviam se separado de Roma por volta do ano 1000, não reconhecendo a autoridade do Papa. Josafá muito trabalhou para a reconciliação, ao longo da sua vida. Em 1596, o sínodo de Brest reuniu os rutenos com Roma, mas este exemplo não foi seguido por outras igrejas orientais, que se sentiram traídas, tendo os cismáticos passado a perseguir os católicos.

Por causa do seu zelo na reunificação, São Josafá foi caluniado e teve que enfrentar muitos contratempos, acabando por se tornar vítima de martírio: numa visita pastoral, a 12 de novembro de 1623, sua comitiva foi atacada e muitos dela covardemente assassinados, matança à qual o santo bispo se opôs perguntando aos agressores: “Meus filhos, por que matais os meus familiares? Se procurais a mim, aqui estou!”.

Logo o maltrataram horrivelmente e o mataram. Porém, quase todos os seus assassinos, depois processados e condenados, abjuraram o cisma e se converteram, um fruto da caridade de Deus e, certamente, da firmeza exemplar de São Josafá.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O desejo de Cristo de formar um único rebanho, sob a autoridade de um único pastor, na unidade de uma única Igreja é algo que não pode ser negligenciado. A separação dos católicos (“diabo” significa dividir) é um mal para a Igreja e o mundo. São Josafá lutou contra o Cisma, a ponto de doar a própria vida, e por isso é reconhecido como precursor do Ecumenismo (movimento que busca a boa convivência entre os diferentes cristãos e, mais essencialmente, a reunificação dos diversos cismáticos com a Igreja Católica). Porém, de forma alguma a Verdade pode ser “adaptada” em nome de uma união baseada em mero consenso de conveniências e interesses; isto seria uma união de oposição a Deus! O correto senso ecumênico está centrado no reconhecimento da única Igreja diretamente fundada por Cristo, por meio dos Apóstolos chefiados por São Pedro, assistida perenemente pelo Espírito Santo e tendo por legítima Mãe a Virgem Maria – a Igreja Católica (= universal, para todos os seres humanos, filhos de Deus), Apostólica (confiada diretamente aos Apóstolos por Jesus mesmo), Romana (referência ao local da morte – entrada na vida celeste – de São Pedro, chefe inequívoco dos Apóstolos, nas palavras de Cristo: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja […] Eu te darei as chaves do reino dos céus […]” (cf. Mt 16, 15-19); e “Apascenta as Minhas ovehas.” (cf. Jo 21, 17); ora, quem apascenta as ovelhas é o pastor, que tem sobre elas autoridade…).

Oração:

Deus Eterno e Todo-Poderoso, que a Vossos pastores associastes São Josafá, a quem destes a graça de lutar pela justiça até a morte, concedei-nos, por sua intercessão, suportar por Vosso amor as adversidades, sem jamais abrir mão da Verdade, e correr ao encontro de Vós, que sois a nossa vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Origem das Fake News

Árvore do Conhecimento (YouTube)

ORIGEM DAS FAKE NEWS

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

A difusão global da língua inglesa introduziu a expressão “fake news” no vocabulário dos povos ao redor da terra. É o novo nome para a velha “mentira”, a qual é uma bola de neve, quanto mais rola, tanto mais aumenta. Algo bem ao gosto de nossa época que julga a mentira tanto melhor, quanto mais verdadeira aparece. 

Fake news, se olharmos no dicionário equivale a nossos conceitos de falso, engano, fraude, falsificação, todos estes conceitos tem como pano de fundo a mentira. Reparemos que a notícia falsa que passa por verdade tem de fato, um famoso fundador: a serpente que tenta Adão e Eva no jardim do Paraíso (cf. Gn 3,1-7). A serpente é o diabo, “o pai da mentira (Jo 8,4). 

A sedução teve lugar à sombra de uma árvore que é um símbolo, mais que uma espécie botânica: a árvore do “bem e do mal”, ou seja os dois polos extremos, dentro dos quais situa-se a lei moral, aquilo que é bom ou mal para o ser humano. É a “arvore do conhecimento”! 

Esta árvore pertence a Deus e é Ele, nosso criador que nos dá estes valores para serem vividos para nosso bem. Os valores morais nos precedem e nos superam, são mandamentos de Deus. Caminho para a felicidade. O ser humano, ao violar a lei de Deus, se coloca no lugar de Deus, rejeitando seu Criador e tomando seu lugar.  

O problema não é querer ser semelhante a Deus, isto o somos por criação, o problema é querer ser semelhante a Deus rejeitando o próprio Deus. Deus que é verdade, ao rejeitar Deus, opta-se pelo caminho da mentira e da falsidade. Simplesmente porque o homem é de natureza humana e não de natureza divina. É criatura. 

Na recusa de aceitar os mandamentos da Lei de Deus, o ser humano é impulsionado pelas “fake news”, propostas pela serpente. A serpente sussurra aos ouvidos de Eva que Deus tem inveja do ser humano. Ele não deseja seu crescimento no conhecimento e na liberdade. Portanto, o ser humano é que deve decidir tudo por si mesmo, sem precisar de Deus para nada. É o ateísmo pratico, celebrado por nossa cultura, cada vez mais com o nome de secularismo. 

A serpente esconde de Eva que esta atitude é um ato de rebelião, que tem como consequência o “pecado original”, ou seja, a desorganização do mundo maravilhoso como Deus o criou. O mundo governado pelo homem sem Deus se torna terra de catástrofes: a terra ao invés de ser cultivada como um jardim, é explorada como  uma mina de carvão, em todas as suas dimensões. O ser humano põe fogo na casa…Não é o que vivemos? 

A falsidade prolifera e se propaga hoje em dia como verdade objetiva e convincente, mas na realidade, faz mal e tem consequências devastadoras. Os mentirosos estão na origem de todos os crimes que assolam a terra, dizia Plutarco, sábio da Grécia antiga. Há pessoas que mentem pelo prazer de mentir, porque a mentira se torna também um vício. Assim temos hoje uma comunicação doente com a doença da “fake news”, que é a mentira com aparência de verdade. O mentiroso quer sempre ter razão, apesar dos desmentidos que evidenciam a mentira. É o que vemos nas redes sociais todo dia. 

Porém, a consciência humana só encontra repouso na verdade. Quem mente, ainda que não seja descoberto, tem em si próprio a punição: a degradação de sua consciência nesta vida. E na eternidade: “o lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte”(Apocalipse 21,8). 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Onde andam os corações? – breve síntese da “Dilexit nos”

Papa Francisco durante a Viagem Apostólica ao Timor Leste - foto Lusofonias  (Tony Neves, Espiritanos em Roma)

O Papa Francisco acaba de nos surpreender, em plena Assembleia Sinodal (24.10), com a publicação da sua quarta encíclica: ‘Amou-nos!’. O tema é absolutamente inesperado: o Coração de Jesus, sugerindo a evolução de uma devoção tradicional para uma espiritualidade moderna.

P. Tony Neves, em Roma

Eu já li, já sublinhei e expliquei à Vaticanews o que acho que o Papa Francisco quer. Penso que o seu objetivo maior é que os cristãos olhem para Cristo, como o grande ‘cardiologista’ que tem um grande coração, mas que, sobretudo, tem uma grande capacidade de tratar corações. O que eu acho interessante neste documento, é que é estudado, de uma forma muito profunda e radical, o mundo que, em muitos aspetos e momentos, parece ter perdido o seu coração, porque se notam muitos problemas ‘cardíacos’ na humanidade hoje: muita injustiça, muita fome, muita violência, muita guerra, muita desigualdade, também muito afastamento de Deus, que é o ‘cardiologista’ por excelência.

E esses valores - segundo o Papa, segundo esta encíclica -  resultam de alguma incapacidade que as pessoas têm demonstrado em olhar para Deus como a fonte do amor e, por isso, o ‘Amou-nos!’ remete para o essencial da vida, para o essencial da humanidade, para o essencial da Igreja: a urgência de amar, pois  Cristo disse: ‘como o Pai me amou, Eu também vos amei e vocês serão meus amigos se vos amardes uns aos outros como irmãos’. Quer dizer, no fundo no fundo, é esta a mensagem para um mundo que tem problemas ‘cardíacos’, ou seja, tem alguma dificuldade de amar: a solução está na fonte, o Coração de Jesus e, por isso, é necessário olhar para este coração trespassado, para este Deus que se oferece, que se dá pela vida dos outros e torna-se urgente aumentar os índices de amor na humanidade.

Podemos dizer que esta encíclica é a chave de interpretação deste pontificado. Li também diversos comentários nesse sentido e concordo. Esta encíclica acaba por resumir as grandes linhas do pensamento do Papa Francisco: a misericórdia, a ternura, a escuta dos outros, a atenção a quem é pequenino, o ter muito cuidado com a falta de humanidade em atitudes, em decisões políticas, em decisões económicas, em partilhas sociais. Eu creio que isso tudo está muito presente na encíclica e, sobretudo, há propostas… porque o que eu acho de bom neste Papa Francisco, seguindo a tradição da Igreja, é que ele não passa a vida a deitar abaixo, a denunciar. Nós denunciamos o que é de denunciar, mas sobretudo nós anunciamos, propomos, lançamos reflexões que abrem caminhos de felicidade, de mais humanidade, de Salvação…  dizemos nós, em linguagem mais cristã –  assim concluí a minha reflexão partilhada na Rádio Vaticano.

P. Tony Neves nos estúdios da Rádio Vaticano (Vatican Media)

Volto ao texto da encíclica para destacar algumas frases que mais me marcam: ‘É necessário que todas as ações sejam colocadas sob o “controle político” do coração’ (13); ‘É aí, nesse Coração, que finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar’ (30); ‘O resultado é negativo quando vivemos, muitas vezes, um cristianismo que esqueceu a ternura da fé, a alegria do serviço, o fervor da missão pessoa-a-pessoa, a cativante beleza de Cristo, a gratidão emocionante pela amizade que Ele oferece e pelo sentido último que dá à vida (80);  É por isso que a oração mais popular, dirigida como um dardo ao Coração de Cristo, diz simplesmente: ‘Eu confio em Vós’. Não são necessárias mais palavras’ (90); ‘Mas sempre vencerá a misericórdia, que alcançará a sua expressão máxima em Cristo, palavra definitiva de amor’ (100); ‘S. Teresinha, quando tinha quinze anos, encontrou uma maneira de resumir a sua relação com Jesus: ‘Aquele cujo coração batia em uníssono com o meu’ (134); ‘Os Santuários consagrados ao Coração de Cristo, espalhados por todo o mundo, são uma atraente fonte de espiritualidade e fervor’(149); ‘Reconhecer que diante d’Ele sempre estamos em débito, nunca em crédito’ (159); ‘Isto convida-nos agora a procurar aprofundar a dimensão comunitária, social e missionária de toda a autêntica devoção ao Coração de Cristo.

Com efeito, o Coração de Cristo, ao mesmo tempo que nos conduz ao Pai, envia-nos aos irmãos. Nos frutos de serviço, fraternidade e missão que o Coração de Cristo produz através de nós, cumpre-se a vontade do Pai’(163); ‘É preciso voltar à Palavra de Deus para reconhecer que a melhor resposta ao amor do seu Coração é o amor aos irmãos’ (167); ‘S. João Paulo II dizia também que ‘para construir a civilização do amor’, a humanidade de hoje precisa do Coração de Cristo. Precisa da vida, do fogo e da luz que vêm do Coração de Cristo’(184).

E conclui o Papa Francisco: ‘O que está expresso neste documento permite-nos descobrir que o que está escrito nas encíclicas sociais Laudato si’ Fratelli tutti não é alheio ao nosso encontro com o amor de Jesus Cristo, pois bebendo desse amor tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum’ (217).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF