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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Angelus: o martírio não é fraqueza ou defesa de ideologias, é dom de salvação

Angelus, 26 de dezembro de 2024 - Papa Francisco (Vatican News)

“Infelizmente, ainda hoje, há em várias partes do mundo muitos homens e mulheres perseguidos, às vezes até à morte, por causa do Evangelho”, recordou Francisco no Angelus de hoje, 26 de dezembro, festa do mártir Santo Estevão.

https://youtu.be/SNcptM-Rjxs

Thulio Fonseca - Vatican News

Nesta quinta-feira, 26 de dezembro, data em que a Igreja celebra Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão, o Santo Padre reuniu-se com os fiéis na Praça São Pedro, para a oração do Angelus, e destacou o profundo significado dessa memória litúrgica.

“Ainda que à primeira vista Estêvão pareça sofrer impotentemente uma violência, na realidade, como um homem verdadeiramente livre, ele continua a amar até mesmo os seus assassinos e a oferecer sua vida por eles, como Jesus, oferece sua vida para que se arrependam e, perdoados, possam receber o dom da vida eterna.”

Sinais vivos do amor

O Pontífice sublinhou que Estêvão é testemunha de um Deus que deseja “que todos os homens sejam salvos”, e seu exemplo reflete a vontade divina de acolher e perdoar, sempre buscando o bem de todos:

“Infelizmente, ainda hoje, há em várias partes do mundo muitos homens e mulheres perseguidos, às vezes até à morte, por causa do Evangelho. Também para eles vale o que dissemos sobre Estêvão. Eles não se deixam executar por fraqueza, nem para defender uma ideologia, mas para tornar todos participantes do dom da salvação. E fazem isso, em primeiro lugar, precisamente para o bem dos seus algozes, dos seus assassinos, e rezam por eles."

Fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro (Vatican Media)

Testemunhas corajosas do Evangelho

Ao concluir, o Papa convidou os fiéis a se perguntarem: “Sinto o desejo de que todos conheçam a Deus e sejam salvos? Sei querer o bem até mesmo daqueles que me fazem sofrer? Interesso-me e rezo por tantos irmãos e irmãs perseguidos por causa da fé?”.

Que Maria, Rainha dos Mártires, finalizou Francisco, "nos ajude a sermos testemunhas corajosas do Evangelho para a salvação do mundo".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Este santo morreu no dia de Natal e num abrigo para os sem-teto

Public domain

Philip Kosloski - publicado em 27/12/23 - atualizado em 12/12/24

Santo Alberto Chmielowski teve grande influência na vida de São João Paulo II. Ele foi um pintor e também dedicou sua vida ao serviço dos pobres.

Um dos santos mais influentes na vida de São João Paulo II foi Santo Alberto Chmielowski, um defensor dos pobres e sofredores de Cracóvia, Polônia.

Além de pintor, Santo Alberto também se sentiu chamado por Deus para servir os desafortunados de sua comunidade local.

São João Paulo II elogiou seu coração caridoso quando o canonizou em 12 de novembro de 1989:

"Neste serviço incansável e heroico em favor dos desfavorecidos, ele finalmente encontrou o seu caminho. Ele encontrou Cristo. Ele tomou sobre si o seu jugo e a sua carga; e não foi apenas “aquele que faz caridade”, mas tornou-se irmão daqueles a quem servia. O irmão deles."

Santo Alberto foi um verdadeiro irmão dos pobres e desabrigados; viveu com eles em um abrigo que ele fundou.

Ele até morreu naquele abrigo no dia de Natal de 1916, passando seus últimos momentos com seus irmãos, os pobres.

Nosso Irmão de Deus

Seu exemplo inspirou muito São João Paulo II, que até escreveu um artigo sobre ele, como explica Filip Mazurczak no National Catholic Register:

Em 1949, o jovem padre Karol Wojtyła escreveu um artigo sobre ele intitulado Nosso Irmão de Deus. Uma lenda cracoviana conta que o irmão Albert conheceu Vladimir Lenin (que viveu em Cracóvia depois de ter sido expulso da Rússia) e debateu com ele sobre a melhor forma de aliviar a pobreza. O artigo apresenta diálogos imaginários entre o santo e o revolucionário comunista, mostrando poderosamente a diferença entre a abordagem cristã e a marxista: a primeira argumenta que a pobreza pode ser superada vendo a imagem de Deus no indivíduo, enquanto a última reduz tudo à luta de classes e argumenta que os ricos devem ser violentamente derrubados."

É justo que ele tenha morrido no dia de Natal, dia que recorda a humildade e a pobreza de Jesus Cristo, nascido num estábulo.

Santo Alberto nasceu para uma nova vida enquanto estava em um abrigo para moradores de rua.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2023/12/27/este-santo-morreu-no-dia-de-natal-e-num-abrigo-para-os-sem-teto

Lumen Fidei: sobre a fé

Lumen Fidei (ACN)

CARTA ENCÍCLICA
LUMEN FIDEI
DO SUMO PONTÍFICE
FRANCISCO

SOBRE A FÉ

1. A luz da fé é a expressão com que a tradição da Igreja designou o grande dom trazido por Jesus. Eis como Ele Se nos apresenta, no Evangelho de João: « Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas » (Jo 12, 46). E São Paulo exprime-se nestes termos: « Porque o Deus que disse: "das trevas brilhe a luz", foi quem brilhou nos nossos corações » (2 Cor 4, 6). No mundo pagão, com fome de luz, tinha-se desenvolvido o culto do deus Sol, Sol invictus, invocado na sua aurora. Embora o sol renascesse cada dia, facilmente se percebia que era incapaz de irradiar a sua luz sobre toda a existência do homem. De fato, o sol não ilumina toda a realidade, sendo os seus raios incapazes de chegar até às sombras da morte, onde a vista humana se fecha para a sua luz. Aliás « nunca se viu ninguém — afirma o mártir São Justino — pronto a morrer pela sua fé no sol ».[1] Conscientes do amplo horizonte que a fé lhes abria, os cristãos chamaram a Cristo o verdadeiro Sol, « cujos raios dão a vida ».[2] A Marta, em lágrimas pela morte do irmão Lázaro, Jesus diz-lhe: « Eu não te disse que, se acreditares, verás a glória de Deus? » (Jo 11, 40). Quem acredita, vê; vê com uma luz que ilumina todo o percurso da estrada, porque nos vem de Cristo ressuscitado, estrela da manhã que não tem ocaso.

Uma luz ilusória?

2. E contudo podemos ouvir a objeção que se levanta de muitos dos nossos contemporâneos, quando se lhes fala desta luz da fé. Nos tempos modernos, pensou-se que tal luz poderia ter sido suficiente para as sociedades antigas, mas não servia para os novos tempos, para o homem tornado adulto, orgulhoso da sua razão, desejoso de explorar de forma nova o futuro. Nesta perspectiva, a fé aparecia como uma luz ilusória, que impedia o homem de cultivar a ousadia do saber. O jovem Nietzsche convidava a irmã Elisabeth a arriscar, percorrendo vias novas (…), na incerteza de proceder de forma autónoma ». E acrescentava: « Neste ponto, separam-se os caminhos da humanidade: se queres alcançar a paz da alma e a felicidade, contenta-te com a fé; mas, se queres ser uma discípula da verdade, então investiga ». [3] O crer opor-se-ia ao indagar. Partindo daqui, Nietzsche desenvolverá a sua crítica ao cristianismo por ter diminuído o alcance da existência humana, espoliando a vida de novidade e aventura. Neste caso, a fé seria uma espécie de ilusão de luz, que impede o nosso caminho de homens livres rumo ao amanhã.

3. Por este caminho, a fé acabou por ser associada com a escuridão. E, a fim de conviver com a luz da razão, pensou-se na possibilidade de a conservar, de lhe encontrar um espaço: o espaço para a fé abria-se onde a razão não podia iluminar, onde o homem já não podia ter certezas. Deste modo, a fé foi entendida como um salto no vazio, que fazemos por falta de luz e impelidos por um sentimento cego, ou como uma luz subjectiva, talvez capaz de aquecer o coração e consolar pessoalmente, mas impossível de ser proposta aos outros como luz objetiva e comum para iluminar o caminho. Entretanto, pouco a pouco, foi-se vendo que a luz da razão autónoma não consegue iluminar suficientemente o futuro; este, no fim de contas, permanece na sua obscuridade e deixa o homem no temor do desconhecido. E, assim, o homem renunciou à busca de uma luz grande, de uma verdade grande, para se contentar com pequenas luzes que iluminam por breves instantes, mas são incapazes de desvendar a estrada. Quando falta a luz, tudo se torna confuso: é impossível distinguir o bem do mal, diferenciar a estrada que conduz à meta daquela que nos faz girar repetidamente em círculo, sem direção.

Uma luz a redescobrir

4. Por isso, urge recuperar o carácter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um carácter singular, sendo capaz de iluminar toda a existência do homem. Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve porvir em última análise de Deus. A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo. Por um lado, provém do passado: é a luz duma memória basilar — a da vida de Jesus –, onde o seu amor se manifestou plenamente fiável, capaz de vencer a morte. Mas, por outro lado e ao mesmo tempo, dado que Cristo ressuscitou e nos atrai de além da morte, a fé é luz que vem do futuro, que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso « eu » isolado abrindo-o à amplitude da comunhão. Deste modo, compreendemos que a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas. Dante, na Divina Comédia, depois de ter confessado diante de São Pedro a sua fé, descreve-a como uma « centelha / que se expande depois em viva chama / e, como estrela no céu, em mim cintila ». [4] É precisamente desta luz da fé que quero falar, desejando que cresça a fim de iluminar o presente até se tornar estrela que mostra os horizontes do nosso caminho, num tempo em que o homem vive particularmente carecido de luz.

5. Antes da sua paixão, o Senhor assegurava a Pedro: « Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça » (Lc 22, 32). Depois pediu-lhe para « confirmar os irmãos » na mesma fé. Consciente da tarefa confiada ao Sucessor de Pedro, Bento XVI quis proclamar este Ano da Fé, um tempo de graça que nos tem ajudado a sentir a grande alegria de crer, a reavivar a percepção da amplitude de horizontes que a fé descerra, para a confessar na sua unidade e integridade, fiéis à memória do Senhor, sustentados pela sua presença e pela ação do Espírito Santo. A convicção duma fé que faz grande e plena a vida, centrada em Cristo e na força da sua graça, animava a missão dos primeiros cristãos. Nas Atas dos Mártires, lemos este diálogo entre o prefeito romano Rústico e o cristão Hierax: « Onde estão os teus pais? » — perguntava o juiz ao mártir; este respondeu: « O nosso verdadeiro pai é Cristo, e nossa mãe a fé n’Ele ».[5] Para aqueles cristãos, a fé, enquanto encontro com o Deus vivo que Se manifestou em Cristo, era uma « mãe », porque os fazia vir à luz, gerava neles a vida divina, uma nova experiência, uma visão luminosa da existência, pela qual estavam prontos a dar testemunho público até ao fim.

6. O Ano da Fé teve início no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. Esta coincidência permite-nos ver que o mesmo foi um Concílio sobre a fé, [6] por nos ter convidado a repor, no centro da nossa vida eclesial e pessoal, o primado de Deus em Cristo. Na verdade, a Igreja nunca dá por descontada a fé, pois sabe que este dom de Deus deve ser nutrido e revigorado sem cessar para continuar a orientar o caminho dela. O Concílio Vaticano II fez brilhar a fé no âmbito da experiência humana, percorrendo assim os caminhos do homem contemporâneo. Desta forma, se viu como a fé enriquece a existência humana em todas as suas dimensões.

7. Estas considerações sobre a fé — em continuidade com tudo o que o magistério da Igreja pronunciou acerca desta virtude teologal [7] — pretendem juntar-se a tudo aquilo que Bento XVI escreveu nas cartas encíclicas sobre a caridade e a esperança. Ele já tinha quase concluído um primeiro esboço desta carta encíclica sobre a fé. Estou-lhe profundamente agradecido e, na fraternidade de Cristo, assumo o seu precioso trabalho, limitando-me a acrescentar ao texto qualquer nova contribuição. De fato, o Sucessor de Pedro, ontem, hoje e amanhã, sempre está chamado a « confirmar os irmãos » no tesouro incomensurável da fé que Deus dá a cada homem como luz para o seu caminho.

Na fé, dom de Deus e virtude sobrenatural por Ele infundida, reconhecemos que um grande Amor nos foi oferecido, que uma Palavra estupenda nos foi dirigida: acolhendo esta Palavra que é Jesus Cristo — Palavra encarnada –, o Espírito Santo transforma-nos, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas da esperança para o percorrermos com alegria. Fé, esperança e caridade constituem, numa interligação admirável, o dinamismo da vida cristã rumo à plena comunhão com Deus. Mas, como é este caminho que a fé desvenda diante de nós? Donde provém a sua luz, tão poderosa que permite iluminar o caminho duma vida bem sucedida e fecunda, cheia de fruto?

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 29 de Junho, solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, do ano 2013, primeiro de Pontificado.

FRANCISCUS


[1]  Dialogus cum Tryphone Iudaeo, 121, 2: PG 6, 758.

[2]  Clemente de Alexandria, Protrepticus, IX: PG 8, 195.

[3] « Brief an Elisabeth Nietzsche (11 de Junho de 1865) », in: Werke in drei Bänden (Munique 1954), 953-954.

[4] Divina Comédia, Paraíso, XXIV, 145-147.

[5] Acta Sanctorum, Iunii, I, 21.

[6] « Embora o Concílio não trate expressamente da fé, todavia fala dela em cada página, reconhece o seu carácter vital e sobrenatural, supõe-na íntegra e forte e constrói sobre ela os seus ensinamentos. Bastaria lembrar as declarações conciliares (...) para nos darmos conta da importância essencial que o Concílio, coerente com a tradição doutrinal da Igreja, atribui à fé, à verdadeira fé, aquela que tem Cristo como fonte e, como canal, o magistério da Igreja » [Paulo VI, Audiência Geral (8 de Março de 1967): Insegnamenti V (1967), 705].

[7] Cf., por exemplo, Conc. Ecum. Vat. I, Const. dogm. sobre a fé católica Dei Filius, III: DS 3008-3020; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a divina Revelação Dei Verbum, 5; Catecismo da Igreja Católica, 153-165.

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Fonte: https://www.vatican.va/

Tem início o Jubileu da esperança: tempo de misericórdia e perdão

Abertura da Porta Santa e Santa Missa na Véspera de Natal (YouTube)

Com o rito solene da abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco inaugurou o Jubileu de 2025, o "Jubileu da esperança". Na sequência, o Santo Padre presidiu à celebração da Santa Missa na noite de Natal do Senhor, no interior da Basílica.

https://youtu.be/0jXgiPbwG0s

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

“Ancorados em Cristo, cruzamos o limiar deste templo santo e entramos no tempo da misericórdia e do perdão, para que a cada homem e a cada mulher seja aberto o caminho da esperança que não desilude.” 

Com esta oração, o Papa Francisco abriu a Porta Santa da Basílica de São Pedro, inaugurando o 28º Jubileu da história da Igreja Católica.

A abertura da Porta Santa foi precedida por um momento de preparação, com a proclamação das profecias bíblicas do nascimento do Salvador.

Ao abrir-se da porta, o Santo Padre em silêncio deteve-se em oração, enquanto soavam os sinos da Basílica. O Pontífice foi o primeiro a atravessá-la, seguido por ministros, 54 representes do povo de Deus provenientes dos cinco continentes e alguns concelebrantes, que se dirigiram ao Altar da Confissão para dar prosseguimento à celebração eucarística enquanto se entoava o hino do Jubileu, intitulado “Peregrinos de esperança”.

Depois da leitura da calenda, a imagem do Menino Jesus foi desvendada, e após as flores oferecidas por algumas crianças, incensada.

Papa carrega o Menino Jesus (Vatican Media)

Há esperança para você!

Em sua homilia, o Papa leu o anúncio contido no Evangelho de Lucas: “Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor”.  

“É esta a nossa esperança. Deus é o Emanuel, é Deus conosco. (...) A esperança não está morta, a esperança está viva e envolve a nossa vida para sempre!”

Deus perdoa sempre e tudo, recordou o Pontífice. Com a abertura da Porta Santa, afirmou, a porta da esperança foi escancarada para o mundo e Deus diz a cada um: “Há esperança também para você!”. E há esperança para todas as situações de desolação: "E há tantas desolações neste tempo. Pensemos nas guerras, nas crianças metralhadas, nas bombas nas escolas ou nos hospitais".

O Evangelho relata que os pastores, tendo recebido o anúncio do anjo, «foram apressadamente» (Lc 2, 16). Para Francisco, esta é a indicação para reencontrar a esperança: apressadamente. 

“Apressadamente, vamos ver o Senhor que nasceu para nós, para podermos então traduzir a esperança nas situações da nossa vida. Porque a esperança cristã não é um "final feliz de um filme" que deve ser aguardado passivamente: é a promessa do Senhor a ser acolhida aqui e agora, nesta terra que sofre e geme.”

Papa reza diante do presépio (Vatican Media)

Não nos detenhamos na mediocridade e na preguiça, exortou o Pontífice. Devemos nos indignar com as coisas que não estão bem e ter a coragem de as mudar; devemos ser “sonhadores que nunca se cansam”.

A esperança não tolera a indolência dos sedentários e a preguiça dos que se acomodaram no seu próprio conforto; não admite a falsa prudência dos que não se arriscam por medo e o calculismo dos que só pensam em si próprios; é incompatível com a vida tranquila dos que não levantam a voz contra o mal e contra as injustiças cometidas diretamente sobre os mais pobres. 

Pelo contrário, a esperança cristã exige de nós a audácia de antecipar hoje essa promessa, através da nossa responsabilidade e compaixão. "E aqui, talvez, nos fará bem nos perguntas sobre a própria compaixão: eu tenho compaixão? Sei 'sentir com'? Pensemos nisso."

É tempo de esperança!

“Irmãos e irmãs, este é o Jubileu, este é o tempo da esperança!”

É tempo de transformação para a nossa mãe Terra, desfigurada pela lógica do lucro; para os países mais pobres, sobrecarregados de dívidas injustas; para todos aqueles que são prisioneiros de antigas e novas escravidões; para os lugares profanados pela guerra e pela violência.

“Nesta noite, irmã, irmão, é para você que se abre a ‘porta santa’ do coração de Deus. Jesus, Deus-conosco, nasce para você, para nós, para cada homem e mulher. E com Ele a alegria floresce, com Ele a vida muda, com Ele a esperança não desilude.”

É tempo de esperança! (Vatican Media)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O local de descanso do apóstolo Tiago, irmão de João

O ensaio de Mordechay Lewy revisado nestas páginas está publicado na revista Sismel Hagiographica (XVII, 2010, pp. 131-174) | 30Giorni

Arquivo 30Giorni nº. 12 - 2010

O local de descanso do apóstolo Tiago, irmão de João.

Os acontecimentos ligados à trasladação das relíquias de Tiago Maior. Um estudo interessante de Mordechay Lewy, embaixador de Israel junto à Santa Sé.

por Lorenzo Cappelletti

Como sabem todos aqueles que estiveram na Terra Santa e visitaram e conheceram os lugares e as comunidades cristãs que ali residem, tanto a memória de São Tiago Maior (filho de Zebedeu e irmão de João) como a de Tiago Maior Menos (aquele que a tradição latina identifica com Tiago de Alfeu) estão ambos ligados à igreja de São Tiago, no bairro arménio de Jerusalém, aquele que ocupa o sector sudeste da chamada Cidade Velha.

No volume XVII da Hagiographica , a revista hagiográfica da Sismel (Sociedade Internacional para o Estudo da Idade Média Latina), Mordechay Lewy, atual embaixador de Israel junto à Santa Sé, mas também com currículo de importante estudioso, publicou um interessante artigo sobre as relíquias do apóstolo Tiago Maior e em particular sobre os acontecimentos relativos à veneração da relíquia da sua cabeça.

Existem várias tradições que ligam o apóstolo Tiago Maior à Espanha galega. O que ele gostaria que ali tivesse pregado, embora baseado num texto mais antigo, parece ser o resultado de uma interpolação posterior. A notícia da transferência de suas relíquias parece muito mais confiável. Mas – e é precisamente aí que reside a contribuição de Lewy – quando e em que medida ocorreu esta tradução? Foi todo o corpo que chegou a Compostela ou apenas uma parte dele?

História Compostelana relata duas versões diferentes. Segundo o que Lewy chama de “ translatio de Maurício” – pelo papel nela desempenhado pelo bispo de Coimbra Maurício (mais tarde arcebispo de Braga em 1108 e antipapa com o nome de Gregório VIII em 1118) – a cabeça de Tiago teria sido roubado por Mauricio em peregrinação a Jerusalém. Tendo sido mantida no convento beneditino de Carrión, em Castela, a cabeça, em 1116, foi finalmente doada pela rainha Urraca, uma vez que ela arrebatou Carrión do seu marido Alfonso, o Batalhador, ao bispo de Compostela Gelmirez, que logo se tornaria metropolitano (1120). ).

A tradição de que todo o corpo chegou a Compostela é chamada por Lewy de " translatio leonina ", por se basear num texto apócrifo - relatado pela História Compostelana e de forma ligeiramente diferente também pelo Codex Calixtinus - atribuído ao Papa Leão III ( portanto, com reivindicação de maior antiguidade e autoridade, tendo Leão III sido o santo papa que coroou Carlos Magno).

Esta tradição tende a prevalecer quando o prestígio da sé compostelana cresce e as suas reivindicações aumentam não apenas como sé metropolitana, mas até como sé apostólica. E significa, segundo Lewy, que em Compostela a relíquia da cabeça de Tiago Maior "se tornou" a de Tiago o Menor a partir do século XIV, confirmando a tradição posterior da tradução desta também para Compostela. Nesse contexto, é interessante a notação de Lewy sobre a raridade da cena da decapitação de Tiago, o Maior, na arte ocidental: a coisa, na verdade, seria facilmente explicada devido à doutrina compostelana do totum corpus . Poder-se-ia acrescentar (com Lorenzo Bianchi interessámo-nos pela questão num ensaio sobre uma raríssima iconografia do século XIII presente em Anagni dos irmãos Giacomo e Giovanni juntamente com a sua mãe Salomé) que a iconografia de Tiago Maior antes do século XIV século precisa ser mais explorado, quando ele passa a ser invariavelmente representado junto ao cajado do peregrino. Mas voltemos à Idade Média.

Entretanto, a partir de cerca de 1165 existem fontes escritas que falam da cabeça de Tiago, o Maior, venerada na igreja arménia em Jerusalém, alegando ter vindo de Jaffa para lá; de onde, em vez disso, o corpo sem cabeça de Giacomo navegou milagrosamente em direção a Compostela. Naturalmente, por aqueles latinos que agora consideravam como certa a reivindicação de Compostela de possuir o totum corpus , esta tradição era vista com ceticismo; e foi visto com preocupação especialmente em Compostela.

Em Jerusalém, a veneração da cabeça de São Tiago Maior, segundo Lewy, seria uma tradição cruzada que provavelmente surgiu durante o reinado da rainha Melisende (1143-1152), viúva de Fulk de Anjou, falecida no dia de São Martinho. em 1143. Como prova disso, Lewy, retomando a hipótese de outro, traz um ícone preservado em Santa Caterina al Sinai que vê Tiago o Maior no centro de uma série de três santos, correspondendo a outra série que tem Martinho no centro. A ligação que este ícone estabelece entre Martinho e Tiago, afirma Lewy, seria devida à semi-arménia Melisende (como filha de Balduíno, rei de Jerusalém, e de Morphia de Melitene, princesa de origem arménia) que teria sido a cliente de ambos este ícone é a ampliação da igreja de San Giacomo em Jerusalém contendo a capela dedicada ao mesmo apóstolo. Tudo isto estaria ligado à presença em Jerusalém de uma próspera comunidade arménia para cujas mãos o complexo passa, embora não esteja claro como, em torno de San Giacomo já em meados do século XII. No entanto, segundo Lewy, permanece que a veneração da relíquia de São Tiago Maior em Jerusalém era, até meados do século XIII, uma tradição latina. A tradição armênia formou-se apenas com o desaparecimento da presença latina em Jerusalém. Segundo esta tradição, atestada pela primeira vez por escrito num manuscrito da primeira metade do século XIV, a cabeça de Tiago Maior, uma vez decapitada, foi trazida por um anjo a Tiago Menor que, juntamente com o apóstolo João, colocou em seu próprio assento. Este transporte, segundo Lewy, na verdade esconde a transladação das relíquias de Tiago, o Menor, do vale do Cedron para o Monte Sião, onde se localizava a sede dos armênios que recentemente se tornaram patriarcais (ele escreve a partir de 1313: na realidade, a partir de 1311) e, portanto, necessita de legitimação. Portanto, ao lado da suposta cabeça de Tiago, o Maior, as relíquias de Tiago, o Menor, também encontrariam lugar na catedral dos Armênios. Tanto é assim que, a partir do século XIV, numerosos testemunhos de peregrinos, confundindo os dois Tiago, falam da veneração da cabeça de Tiago, o Menor. A quem Tiago o Menor, ao longo do tempo, a devoção dos peregrinos arménios foi cada vez mais dirigida.

Isto não significa que no contexto latino continuasse a devoção à cabeça de Tiago Maior, perto da qual - temos certos testemunhos dos séculos XV e XVI -, com a permissão dos arménios, a missa foi celebrada pelos franciscanos no dia 25 de julho . Pelo menos até ao século XIX, quando uma polémica que surgiu entre os franciscanos e os arménios levou à retirada desta licença, de modo que hoje é na Quinta-feira Santa que os franciscanos realizam esta procissão e missa na memória de São Tiago em Jerusalém. Maior.

Parece-nos que podemos deduzir de toda a intricada mas emocionante questão que Lewy se inclina, por um lado, para a autenticidade da tradução da cabeça de Tiago, o Maior, para Compostela, enquanto, em vez disso, liga a reivindicação desta Sé de ter o totum O corpus do apóstolo necessita simplesmente de legitimação, visto que Compostela se tornou sede episcopal apenas em 1095 e pouco depois sede arquiepiscopal (1120). Por outro lado, parece-nos que parece autêntica a trasladação das relíquias de Tiago, o Menor, para a actual sede em Jerusalém dos Arménios que, não por acaso, veneram com particular devoção o irmão do Senhor.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O Papa: a Porta Santa que se abre no Natal nos convida a realizar uma passagem

Porta Santa - Vaticano (Vatican Media)

No post sobre o X da abertura do Ano Santo, na noite da solenidade da Natividade do Senhor, Francisco exorta a “entrar naquela vida nova que nos é oferecida pelo encontro com Cristo”.

Amedeo Lomonaco – Vatican News

Cruzar o limiar, passar além. O Natal deste ano abre suas portas para o Jubileu da Esperança. Esse dia, no qual o mundo acolhe o nascimento do Salvador, é a primazia do mistério central da salvação e culmina com a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus. A véspera de Natal está profundamente ligada à Vigília da Páscoa e, como alguns ícones da Natividade também nos lembram, na tradição oriental, o Menino Jesus é retratado sendo envolto em faixas e colocado em uma manjedoura em forma de túmulo. No dia da abertura do Ano Santo de 2025, a ligação entre o Natal e a Páscoa é o foco da postagem na conta X @Pontifex. “A Porta Santa que se abre, na noite de #Natal”, escreve o Papa Francisco, ‘é um convite a fazer uma passagem, uma Páscoa de renovação, para entrar naquela vida nova que nos é oferecida pelo encontro com Cristo’.

A Páscoa é uma passagem. Para os cristãos, é o caminho para uma nova vida, para a salvação. O Jubileu também é uma passagem a ser aberta. Um limiar a ser cruzado no sulco do perdão. A abertura da Porta Santa, sinal da passagem aberta por Cristo, é, portanto, o início do Ano Santo. Ela foi aberta pela primeira vez pelo Papa Martinho V, no Jubileu Extraordinário de 1423, para entrar na Basílica de Latrão. Foi então o Papa Alexandre VI que abriu a Porta Santa na Basílica do Vaticano pela primeira vez no Natal de 1499. O rito permaneceu praticamente inalterado ao longo dos séculos até o Ano Santo de 2000. Já em 1983, por ocasião do Jubileu Extraordinário da Redenção, a remoção da parede de tijolos foi substituída pela abertura das duas portas de bronze.

Francisco abre a Porta Santa

A celebração desta noite faz parte do caminho jubilar que começou em 1300, a pedido do Papa Bonifácio VIII. O Papa Francisco preside o rito de abertura da Porta Santa e a missa na noite da Solenidade do Natal do Senhor. As imagens, transmitidas em todo o mundo, comporão uma sequência de momentos que ficarão gravados na história. São os momentos em que o Papa Francisco se aproxima da Porta Santa. Em seguida, o Pontífice abre a Porta em silêncio. O Papa faz uma pausa em oração. Os sinos da Basílica de São Pedro tocam. Depois de Francisco, cardeais, bispos e alguns representantes do povo de Deus dos cinco continentes passam pela Porta Santa. Neste Jubileu da Esperança, a passagem do povo de Deus pelo limiar da Porta Santa envia uma mensagem de paz e renovação para toda a humanidade.

O Jubileu e o Concílio de Nicéia

O Jubileu do ano 2025 coincide com um aniversário significativo para todos os cristãos: o 1700º aniversário da celebração do primeiro Concílio Ecumênico, o Concílio de Niceia. Um Concílio - recorda-se na nota do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos - que procurou “preservar a unidade da Igreja, minada pela negação, por parte de alguns, da plena divindade de Jesus Cristo e, portanto, também da sua consubstancialidade com o Pai”.  Os Padres do Concílio de Nicéia “aprovaram por unanimidade o Credo que ainda recitamos hoje”. A Porta Santa é o sinal mais importante do Jubileu. Os fiéis são convidados a “atravessar a Porta Santa com fé”, a fé que “todos os cristãos podem professar nas palavras do Credo Niceno”. O rito de abertura da Porta Santa inclui a proclamação de uma leitura do capítulo 10 do Evangelho de São João, que inclui o versículo: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará a pastagem” (v. 9).

Cristãos unidos no louvor a Deus

O gesto de entrar na Basílica pela Porta Santa "deve ser interpretado à luz deste texto" do Evangelho. Entrar pela Porta Santa "expressa a vontade de seguir e ser guiado pelo Filho Unigênito de Deus". Embora o Jubileu ordinário seja uma celebração própria da Igreja Católica, a sua coincidência com o aniversário do primeiro Concílio Ecumênico - diz ainda a nota - oferece "a oportunidade de incluir na celebração irmãos e irmãs de outras Igrejas e Comunhões cristãs". Na Bula de convocação do Jubileu, "Spes non confundit", o Papa Francisco recorda que o aniversário do Concílio de Nicéia "convida os cristãos a unirem-se em louvor e ação de graças à Santíssima Trindade e, em particular, a Jesus Cristo, o Filho de Deus, 'da mesma substância do Pai', que nos revelou este mistério de amor".

Compartilhar a alegria da Igreja Católica

Este Natal, como de costume - enfatiza-se, enfim, no comunicado do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos - estarão presentes na Basílica de São Pedro, para a missa nesta Noite de Natal, "convidados de algumas das outras Igrejas e comunidades cristãs presentes em Roma". Alguns destes representantes ecumênicos "foram convidados a estarem entre aqueles que atravessarão o limiar da Porta Santa depois do Santo Padre". Este convite é um gesto de hospitalidade, que convida "a partilhar a alegria da Igreja Católica na abertura do Jubileu". A sua passagem através da Porta Santa "é um sinal visível da fé que todos os cristãos partilham em Jesus Cristo, o Verbo feito carne - a fé que professamos no Credo Niceno - e da nossa comum fé de que Jesus é a Porta através da qual entramos na vida".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Juazeiro do Norte ganha paróquia maronita, de rito oriental em aramaico

Padre Cícero Santos da Silva celebrando a missa na paróquia pessoal maronita de Nossa Senhora da Assunção. | Crédito: Padre Cícero Santos da Silva.| ACI Digital

Por Nathália Queiroz*

23 de dez de 2024

A cidade de Juazeiro do Norte (CE), na região do Cariri, ganhou uma paróquia maronita, estabelecida por decreto do bispo eparca maronita do Brasil, dom Edgard Amine Madi, em 8 de dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição.

A paróquia pessoal maronita de Nossa Senhora da Assunção funciona provisoriamente no bairro Pedrinhas, no aeroporto. A igreja será construída no bairro Lagoa Seca Norte, onde há maior presença de libaneses e sírios na região do Cariri. Por ser paróquia pessoal, ela não está presa à jurisdição territorial convencional das demais paróquias, mas cobre toda a cidade de Juazeiro do Norte.

O pároco é Cícero Santos da Silva, natural de Juazeiro do Norte, ordenado padre da Eparquia Maronita do Brasil em 2023, em Brasília. Para ele, “a chegada da eparquia através da paróquia Nossa Senhora da Conceição nos traz à memória são João Paulo II que disse que a Igreja possui dois pulmões: um do ocidente e outro do oriente”.

“A Igreja do Cariri passa a respirar com seus dois pulmões, ou seja, passa a ser plena”, disse o padre à ACI Digital. Isso vai permitir ao povo católico “a convivência com a diversidade dos dons que o Espírito de Deus nos concede, tudo em plena comunhão com o santo padre o papa Francisco”, continuou ele.

A Igreja Maronita foi fundada por são Marun, cujos seguidores ficaram conhecidos como “maronitas”. É uma Igreja oriental, que desde o seu surgimento no final do século VI nunca se separou da Igreja Católica e do papa. O rito maronita prevê a celebração da missa em língua siro-aramaico, a língua falada pelos judeus da Palestina da época de Jesus. A Eparquia Maronita do Brasil é liderada pelo bispo eparca, dom Edgard Amine Madi.

Segundo o padre Cícero Santos Silva, “o objetivo central da paróquia é atendimento aos libaneses e siríacos e seus descendentes que vivem na Região do Cariri”. Porém, continuou o padre, a paróquia “está aberta a todos os católicos que amam o Rito Oriental Católico Romano”.

 Nathália QueirozEscrevo para a ACI Digital há oito anos e desde 2023 sou correspondente do Brasil para o telejornal EWTN Notícias. Sou certificada em espanhol pelo Instituto Cervantes. Tenho experiência em redação de conteúdo religioso para mídias católicas em português e espanhol e em tradução de sites religiosos. Sou casada, tenho três filhos e sou catequista há mais de 15 anos. Escrevo de Petrópolis (RJ).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/60617/juazeiro-do-norte-ganha-paroquia-maronita-de-rito-oriental-em-aramaico

ECUMENISMO: «É impossível ser fiel às Escrituras e não levar Maria a sério» (II)

A Virgem Maria, miniatura do Livro das Horas da Bem-Aventurada Virgem Maria, escrita e ilustrada na França, século XV, Catedral de Canterbury | 30Giorni.

Arquivo 30Giorni 12 - 2005

«É impossível ser fiel às Escrituras e não levar Maria a sério»

Um comentário sobre a Declaração Conjunta da Comissão Internacional Anglicana-Católica (ARCIC)
Maria: graça e esperança em Cristo.

por René Laurentin

Um acordo importante

Levaria muito tempo para resumir o documento recente. Destacamos alguns aspectos.
Testemunha uma consideração positiva e até uma devoção fervorosa para com Maria. O acordo baseia-se «nas Escrituras e na tradição comum que precede a Reforma e a Contrarreforma» (século XVI). Escritura e tradição são as constantes do documento: “É impossível ser fiel à Escritura e não levar Maria a sério”.

Seguindo o Evangelho de Lucas, a Declaração Conjunta diz: «A anunciação e a visita a Isabel sublinham que Maria é o único destino da eleição e da graça de Deus».

O novo nome dado a Maria (em grego Kecharitoméne ), implica «uma santificação primordial pela graça divina». É um comentário notável, aberto à Imaculada Conceição.

O documento baseia-se constantemente na concepção virginal de Jesus expressa segundo Mateus e Lucas em termos muito diferentes, mas perfeitamente convergentes e ainda mais significativos. «A concepção virginal pode aparecer antes de tudo como uma ausência, isto é, a ausência de um pai humano. Mas, na realidade, é sinal da presença e da obra do Espírito [...]. Para os crentes cristãos, é um sinal eloquente da filiação divina de Cristo e de vida nova através do Espírito”.

Segundo o documento, portanto, a concepção virginal de Jesus é ao mesmo tempo um fato fundamental da Revelação e um sinal cheio de consequências para a nossa vida, tal como foi desenvolvida pelos Padres da Igreja, para quem a Mãe de Deus só poderia ser virgem. e só uma virgem poderia ser Mãe de Deus.

Alguns teólogos e escritores franceses contestaram vigorosa e insistentemente a virgindade perpétua de Maria, tornando-a mãe de muitos filhos, com forçamento e deformação dos textos bíblicos. O acordo com os anglicanos professa que Maria «permaneceu sempre virgem. Na sua reflexão [anglicana e católica], a virgindade é entendida não apenas em termos de integridade física, mas como uma disposição interior de abertura, obediência e fidelidade unânime a Cristo, que informa o seguimento cristão e produz uma riqueza de frutos espirituais». Este é precisamente o problema, infelizmente mal compreendido, dos Padres da Igreja.

O acordo ARCIC menciona então «o papel de Maria na redenção da humanidade […]. Ela ["nova Eva", especifica o texto] está associada ao seu Filho na vitória sobre o antigo inimigo. [...] A obediência da Virgem Maria abre o caminho para a salvação."

Podemos, portanto, ir muito longe com os anglicanos se evitarmos o título, discutido até entre os católicos, de “corredentora”. João XXIII pediu discretamente à Comissão Doutrinária do Concílio, da qual participei como perito, que não usasse esta palavra.

O acordo também diz respeito ao lugar de Maria no culto. Diz assim: «Após [...] os Concílios de Éfeso e de Calcedônia [...], foi-se estabelecendo gradualmente uma tradição de oração com Maria e de louvor a Maria. Desde o século IV, especialmente no Oriente, está associada ao pedido da sua proteção." Que permanece em uso na Igreja Anglicana até hoje.

Apresentar um relato do documento recente seria demasiado longo. Testemunha uma consideração positiva e até uma devoção fervorosa para com Maria. O acordo baseia-se «nas Escrituras e na tradição comum que precede a Reforma e a Contrarreforma» (século XVI). Escritura e tradição são as constantes do documento: “É impossível ser fiel à Escritura e não levar Maria a sério”. Seguindo o Evangelho de Lucas, a Declaração Conjunta diz: «A anunciação e a visita a Isabel sublinham que Maria é o único destino da eleição e da graça de Deus»

“Festas em sua homenagem” também são aceitas. Admite-se também a legitimidade da festa da Conceição de Maria criada no Oriente no século VII e adotada nas Ilhas Britânicas desde o século XI.
Reconhece a intercessão de Maria e a «sua presença» na vida da Igreja, ao mesmo tempo que admite os exageros da Idade Média que, ambiguamente, chamava Maria de «medianeira com Cristo mediador»; sublinha-se com o Concílio Vaticano II que Cristo é o único mediador e que Maria é a medianeira apenas “em Cristo”, como escreveu João Paulo II, retomando a fórmula admitida perante o Concílio, em 1950, pelo luterano alemão Hans Asmulsen , como tive oportunidade de constatar ainda antes do Concílio, no meu Tribunal traité sur la Vierge Marie .

A fé na intercessão de Maria é ali dada a partir do Concílio de Éfeso (431) e é citada a Ave Maria , cuja difusão se nota no século V, reconhecendo que «os reformadores ingleses criticaram esta invocação e outras formas semelhantes de oração, porque acreditavam que questionavam a única mediação de Jesus Cristo”. O acordo marca, portanto, uma etapa positiva neste ponto. Sublinha-se então que o Concílio Vaticano II endossou a prática ininterrupta de os fiéis pedirem a Maria que rezasse por eles, pois «a função materna de Maria para com os homens em nada obscurece ou diminui esta mediação única de Cristo ( Lumen gentium 60 )». Esta apreciação positiva merece ser mencionada. Um dos últimos parágrafos (p. 34) intitula-se: “Intercessão e mediação na comunhão dos santos”. 

Acordo sobre a origem imaculada e sobre a assunção de Maria 

O novo e notável é o acordo, limitado mas substancial e positivo, sobre as duas definições pontifícias da Virgem Maria (1854 e 1950), muito contestadas não só pela Reforma, mas também pelos ortodoxos. No centésimo quinquagésimo aniversário da definição de Pio IX da origem imaculada de Maria, o documento sublinha que Maria tinha “necessidade de Jesus Cristo”. Um ponto que foi essencial e fundamental para Pio IX, porque ele não definiu apenas a pureza original de Maria. Ele também declarou que Maria foi de fato redimida pela preservação (contra aqueles que pensam que este privilégio era devido à nova Eva, pois ela pertencia à primeira criação e, portanto, distante dos descendentes de Adão).

O documento também reconhece a validade da definição lacónica de Pio XII, porque teve o cuidado de se limitar ao essencial. Ele não quis definir a morte de Maria, mas apenas que “ela foi elevada à glória celestial em corpo e alma”.

Os anglicanos reconhecem que esta é uma formulação harmoniosa da fé comum, porque, uma vez que todos os cristãos são chamados à Ressurreição, nada impede que esta promessa já seja realizada para aquele que gerou corporalmente o Cristo ressuscitado (enquanto por exemplo Karl Rahner quis estender este privilégio para todos os cristãos, ao contrário de Schillebeeckx).

A fé formulada no acordo é então plenamente comum para nós, com a seguinte diferença: o problema que estas duas definições colocam aos anglicanos é que para os católicos são um dogma de fé. Eles acreditam voluntariamente na mesma coisa como uma interpretação correta da fé, mas não como uma obrigação imposta pelo Apocalipse, porque estas duas doutrinas não estão explícitas nas Escrituras.

Alguns católicos, por outro lado, dizem que têm vergonha de justificá-los biblicamente, sem que qualquer censura lhes seja dirigida por isso. De minha parte, demonstrei, com uma leitura penetrante, mas rigorosa das Escrituras, que essas duas doutrinas não estão apenas implícitas, mas formalmente presentes nas Escrituras.

«No entanto», continua a Declaração, «no entendimento católico, tal como expresso nestas duas definições, a proclamação de um determinado ensinamento como dogma implica que o ensinamento em questão seja considerado “divinamente revelado” e, portanto, deve ser acreditado “firme e inviolavelmente”. “por todos os fiéis”. Isto representa um problema para os anglicanos, assim como para outras denominações cristãs. Eles se perguntam se essas expressões de rigor são necessárias. Aderem sem dificuldade às duas doutrinas tal como estão expressas na constituição dogmática Lumen gentium , segundo uma formulação menos jurídica, e segundo a doutrina da constituição dogmática Dei Verbum sobre a Escritura definida como testemunho.

A Anunciação, Heures de Beaufort, início do século XV, Sra. Royal 2 A. XVIII, f. 23, Biblioteca Britânica, Londres | 30Giorni.

Lemos mais adiante na Declaração: «Os anglicanos perguntaram se, entre as condições de um futuro restabelecimento da plena comunhão, eles seriam obrigados a aceitar as definições de 1854 e 1950. Os católicos julgam difícil imaginar um restabelecimento da comunhão em qual a aceitação de certas doutrinas seria exigida de alguns e não de outros. Ao abordar estas questões, temos estado conscientes do facto de que “uma consequência da nossa separação tem sido a tendência tanto dos Anglicanos como dos Católicos de exagerar a importância dos dogmas marianos per se, em detrimento de outras verdades mais estreitamente relacionadas com os fundamentos”. da fé católica” ( Autoridade na Igreja II, n. 30). Anglicanos e católicos concordam que as doutrinas da assunção de Maria e da concepção imaculada devem ser entendidas à luz de uma verdade mais central, a da sua identidade como Theotokos , que por sua vez depende da crença na encarnação.

Segundo o acordo católico-anglicano temos inteiramente a mesma fé em relação à Virgem Maria, mas seria necessário que essas verdades definidas após a separação fossem apresentadas num contexto menos jurídico, de acordo com os esclarecimentos do Vaticano II, mais atento à unidade da fé e à hierarquia dos dogmas.

«Por outro lado, os anglicanos devem aceitar que essas definições são uma expressão legítima da fé católica e devem ser respeitadas como tal, mesmo que tais formulações não tenham sido utilizadas por eles. Existem, nos acordos ecuménicos, exemplos em que o que um parceiro definiu como de fide pode ser expresso pelo outro parceiro de uma forma diferente, como por exemplo na Declaração Cristológica Comum entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Assíria do Oriente (1994) ou na Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação entre a Igreja Católica Romana e a Federação Luterana Mundial (1999)". Concluindo, os signatários do acordo pensam que não só negociaram uma conciliação ou reaproximação, mas que “iluminaram de uma maneira nova o lugar de Maria na economia da esperança e da graça”.

Estas são as últimas palavras: “A nossa esperança é que, enquanto partilhamos aquele único Espírito pelo qual Maria foi preparada e santificada para a sua singular vocação, possamos participar juntamente com ela e com todos os santos no incessante louvor a Deus”.

O acordo espiritual e doutrinal anglicano-católico sobre Maria vai mais longe do que se poderia imaginar, apesar da rigidez e para além dos altos e baixos e dos obstáculos ecuménicos de que se falou e das suas consequências para aquela plena comunhão que o Cardeal Mercier já tinha razão em querer realizar, segundo o nosso desejo comum, que é também a vontade de Jesus Cristo: «Para que sejam um, como o Pai e eu somos um» ( Jo 17,21).

Fonte: https://www.30giorni.it/

O segredo de Éfrata

E tu, Belém-Édrata (Bible)

O SEGREDO DE ÉFRATA 

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Éfrata existe “desde os dias da eternidade”, assim se disse o profeta Miqueias. Ela é esperança daqueles que vivem na opressão e trôpegos pela falta de esperança. 

Éfrata é o antigo nome de Belém, foi ali, em suas portas, que Raquel foi enterrada; foi ali, na poeira do mundo, que a visão de um profeta adquiriu contornos límpidos e se tornou vida. 

Nenhuma cidade, entretanto, existe desde a eternidade, só Deus é eterno, mas Éfrata existe. 

Não existe como a cidade que viríamos a conhecer mais tarde, mas existe na ideia de Deus. 

O tempo aproximado no plano de Deus arremessou a eternidade para a história com a encarnação do filho amado. Foi por isso que Jesus disse: “Eu vim para fazer a tua vontade” (Hb 10,9). 

Oculta desde os abismos do tempo é a vontade de Deus. Nela já estava estabelecida que Éfrata seria o lugar da Encarnação, porque não importa os interstícios do tempo, a vontade de Deus se consumará sempre; e, se consumar no tempo é se fazer, e para que tomemos ciência do que foi feito o evento se tornou humano no Natal. 

Éfrata está por toda parte! Por todo canto testemunhamos o seu desenrolar na ação daqueles que amam a Deus, e nele expressa a sua fé. Éfrata é uma ideia maior que nós mesmos. Nem os mais sábios chegam a dominá-la completamente. Seus mistérios e surpresas germinam quotidianamente nas desconexões das incontáveis vidas e experiências vividas no escorrer do tempo sem fim. 

Embora Éfrata não possa ser conquistada, ela pode ser colhida no estender de seus incontáveis ramos que florescem nas terras abandonadas da existência de quem tem coragem de procurá-la. 

Éfrata é mistério desvelado daquele que deveria vir e veio. Também Malaquias fala desse aparecimento dizendo que Ele é “Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros” (3,2). 

Como fogo da Forja, em Éfrata espera-se aquele que tudo liquefará para modelar de novo a humanidade e o porvir. A forja que tudo transforma não consumirá o mundo, mas o fará ainda melhor, quase outra coisa em vista do que tinha sido até então. A história começou a ser remodelada. E, onde o desespero havia se imposto, a esperança o subjuga e cresce. 

Continua dizendo Malaquias sobre aquele que veio, que o seu forjar é como a barrela que purificará. Como a roupa é lavada com a barrela, também o mundo o será com esta nova presença. 

Éfrata, portanto, não é um lugar, embora em um lugar esteja. Éfrata é o lugar que Deus escolheu para cumprir o seu projeto de amor por nós. Tendo que se encarnar em algum lugar, desde a eternidade Éfrata estava em seu pensamento junta com todas as outras coisas. É a sua ideia que existe desde sempre, pois desde sempre no pensamento de Deus estávamos todos nós. 

Assim, a partir daquela forja irresistível, projetada numa manjedoura, o mundo contemplou o seu porvir e sua salvação nos braços de Jesus Cristo, que existe desde os dias da eternidade! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papas e Jubileus: a abertura da Porta Santa na história

Abertura da Porta Santa no Jubileu da Misericórdia (8 de dezembro de 2015) | Vatican Media

A partir do Ano Santo de 1900, através das crônicas do L'Osservatore Romano e dos arquivos sonoros da Rádio Vaticano, reconstituímos alguns momentos das cerimônias de abertura da Porta Santa. Palavras rituais e momentos de silêncio e emoção nos quais o Pontífice, sozinho e em primeiro lugar, atravessa a Porta e abre o Jubileu.

Amedeo Lomonaco – Vatican News

Uma das imagens simbólicas de todo Jubileu é a do Pontífice cruzando o limiar da Porta Santa. Essa é uma imagem que está profundamente enraizada na Idade Média. O primeiro peregrino a cruzar a porta é sempre o bispo de Roma. De acordo com a descrição feita em 1450 por Giovanni Rucellai da Viterbo, foi o Papa Martinho V, em 1423, que abriu a Porta Santa pela primeira vez na história dos anos jubilares. Naquela ocasião, o pano de fundo foi a Basílica de São João de Latrão. Na Basílica do Vaticano, a abertura da Porta Santa foi registrada pela primeira vez no Natal de 1499. O Papa Alexandre VI queria que ela fosse aberta não apenas em São João de Latrão, mas também nas outras basílicas romanas.

“Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem” (do Evangelho segundo João).”

A abertura da Porta Santa

A abertura da Porta Santa, pelo Papa, marca o início do Jubileu. O Ano Santo de 2025, que está prestes a começar, inclui, após esse rito, a celebração da Santa Missa, na noite do Natal do Senhor, dentro da Basílica do Vaticano. A parede que sela a Porta por dentro foi desmontada nos últimos dias e a caixa de metal, que continha a chave que permite a abertura da Porta, foi retirada. O Papa empurra suas portas de forma simbólica e, por motivos de segurança, o uso do martelo usado para bater no diafragma de tijolos que antes a fechava no lado externo da Basílica foi abandonado. Após o rito presidido pelo Papa, a Porta permanece aberta durante todo o ano para permitir a passagem dos peregrinos. Com esse gesto, é possível vivenciar plenamente a indulgência ligada ao Ano Santo. Cruzar esse limiar também significa que o caminho de conversão de uma pessoa é selada pelo encontro com Cristo, a “Porta” que nos une ao Pai. Os Jubileus fazem parte de uma profunda história de fé que abre suas portas para o mundo. Uma caminhada na qual os passos do Pontífice se unem aos do povo de Deus, nas estradas do perdão. Percorremos os Anos Santos do século XX e do terceiro milênio.

Os dois lados da Porta Santa em São Pedro antes da abertura (foto de arquivo) | Vatican News.

O Jubileu de 1900

Superar o desafio da modernização. Esse foi um dos principais objetivos do Jubileu de 1900. 24 de dezembro de 1899 é o dia da abertura da Porta Santa. Desde as primeiras horas da manhã, escreve o L’Osservatore Romano em sua edição de Natal, vê-se “uma animação incomum” de todas as partes da cidade. Carruagens elegantes, de cardeais, bispos, diplomatas e príncipes, estão se dirigindo “ao maior templo do cristianismo”. Muitos peregrinos também chegam a pé ou em carros “omnibus” para o serviço público. Na praça, o espetáculo se torna “imponente devido ao fluxo de carruagens dos vilarejos em frente à Basílica”. O Papa Leão XIII “primeiro e sozinho” atravessa a Porta e entra na Basílica. Após o término do serviço, as entradas são abertas, permitindo que os fiéis entrem.

O Ano Santo de 1925

Em 24 de dezembro de 1924, véspera de Natal, “a abertura da Porta Santa na Basílica do Vaticano foi realizada pelas mãos de Pio XI”. Com a função solene, escreve o jornal da Santa Sé relatando aquele dia, “o Ano Santo começou”. O rito ocorre no pórtico da Basílica de São Pedro: à esquerda da Porta Santa está o Trono Papal em frente às tribunas reais. No final do pórtico está o coro da Capela Musical Pontifícia. Em frente à estátua de Constantino, antes de entrar no pórtico da Basílica, o Pontífice sobe na cadeira gestatória, encimada pelo baldaquino. Após o canto do “Veni Creator”, Pio XI se aproxima da Porta Santa e, recebendo o martelo doado pelo episcopado do mundo católico, bate três vezes na Porta Santa, pronunciando as palavras rituais. Em seguida, ele cruza a Porta e o Jubileu começa.

Pio XI abre o Jubileu de 1925 (© Biblioteca do Vaticano).

O Jubileu de 1933

No 1900º aniversário da morte de Jesus, foi proclamado um Jubileu extraordinário. No Ano Santo de 1933, mais de dois milhões de peregrinos chegaram a Roma. Em 3 de abril daquele ano, a abertura da Porta Santa marcou o início do Jubileu da Redenção. Durante todo o dia, segundo o L'Osservatore Romano, “a afluência a São Pedro, São João, São Paulo e Santa Maria Maior foi enorme”. Poucas horas após a cerimônia de abertura, Pio XI recebeu, em uma audiência especial, 500 peregrinos da arquidiocese de Milão, que tinham vindo a Roma para assistir à abertura da Porta Santa. Naquela primeira peregrinação do Ano Santo, lembra o jornal diário da Santa Sé, havia “representantes das mais diversas atividades de trabalho”, incluindo trabalhadores ferroviários, funcionários de escritório e eletricistas.

Ano Santo de 1950

Estamos em 24 de dezembro de 1949. O mundo cristão, como o L'Osservatore Romano destaca na primeira página no dia de Natal, “regozija-se com o dom excepcional da graça”: o Papa Pio XII abre a Porta Santa com três golpes de martelo. O Pontífice veste a "falda", uma grande túnica de seda branca, o sobrepeliz, a estola, o manto e a mitra branca. Precedido pelo Sacro Colégio, ele se dirige primeiro à Capela Sistina para a adoração ao Santíssimo Sacramento. Em seguida, ele entoa o hino “Veni Creator” e desce, pela Scala Regia, até a estátua de Constantino.

Pio XII abre o Jubileu de 1950 - (arquivo histórico da Fábrica de São Pedro) | Vatican News.

Pio XII entra então no pórtico da Basílica e recebe o martelo. Pela primeira vez, ele bate na Porta Santa cantando o verso: “Aperite mihi portas Justitiae”. Em seguida, o Pontífice bate na Porta pela segunda vez, cantando “Introibo in domum tuam, Domine”. O próximo golpe de martelo é acompanhado pelas palavras: “Aperite portas quoniam nobiscum est Deus”. Após esse terceiro golpe, a parede da Porta Santa cai. O Pontífice, que segura uma vela que simboliza a fé e a caridade em sua mão esquerda, avança com a cabeça descoberta e entoa o “Te Deum”. O Papa Pacelli cruza a porta primeiro. São 10h55 da manhã e o Jubileu é aberto.

Da Praça de São Pedro vem o eco de um estrondoso aplauso. Na Capela da Santíssima Trindade, Pio XII dirigiu então um discurso aos representantes das Arquiconfrarias e Confrarias da Cidade: “Segundo um antigo costume, confiamos a vocês, amados filhos, a custódia das Portas Santas durante o Ano Jubilar que acaba de começar. Assim, vocês terão a oportunidade de serem testemunhas imediatas de um desses momentos privilegiados de graça, nos quais a Cidade Eterna e o universo católico se encontram unidos no beijo fraterno da paz de Cristo”.

Primeira página do L'Osservatore Romano sobre a abertura do Jubileu em 1950 (Vatican News)

O Jubileu de 1975

O Ano Santo de 1975 foi dedicado à reconciliação. O rito de abertura da Porta Santa, na noite de Natal de 1974, começou com a entrada do Papa Paulo VI, precedido pelo clero ministrante, no átrio da Basílica. Após o canto de invocação ao Espírito Santo, o L'Osservatore Romano recorda que, naquele dia, o Pontífice se aproximou da Porta Santa. O cardeal Penitenciário-Mor lhe entrega o martelo. Paulo VI dá três golpes na Porta e canta, alternando com a assembleia, os versos que se abrem com as palavras: “Abri-me as portas da justiça”.

Quando o cântico termina, o Papa retorna à Cátedra e, nesse momento, a Porta Santa é removida. As ombreiras são banhadas com água abençoada pelos quatro penitenciários da Basílica do Vaticano. Em seguida, a Schola entoa um Salmo e o Pontífice canta a antiga oração “Deus qui per Moysem”. O Papa se ajoelha na soleira da Porta Santa e, segurando a Cruz Pastoral em sua mão, cruza a Porta. No momento da abertura, como pode ser visto no vídeo da época, alguns escombros caíram do alto, atingindo de raspão Paulo VI, felizmente sem nenhuma consequência. A circunstância levou a uma mudança no rito e, desde então, a parede que fechava a porta foi construída dentro da Basílica.

O Papa Paulo VI abre o Jubileu de 1975 (Arquivos Históricos de São Pedro) | Vatican News.

Ano Santo de 1983

Em 1983 foi celebrado o Jubileu da Redenção, uma ponte para o terceiro milênio. João Paulo II convocou o mundo católico a celebrar esse Ano Santo para comemorar o evento da morte e ressurreição do Senhor.

Em 25 de março, solenidade da Anunciação do Senhor, João Paulo II inaugurou o Ano Santo seguindo o rito tradicional da abertura da Porta Santa, localizada no átrio da Basílica de São Pedro. Este é um Jubileu extraordinário porque está sendo celebrado fora do ciclo de 25 anos. Em sua homilia durante a cerimônia de abertura, o Papa Wojtyła lembrou que a Porta é “um símbolo” pelo qual se entra não apenas na Basílica do Vaticano, mas “na dimensão mais sagrada da Igreja, na dimensão da graça e da salvação que ela sempre extrai do Mistério da Redenção”.

Jubileu do Ano 2000

Na noite de Natal, 24 de dezembro de 1999, João Paulo II, envolto em um manto de cores, abriu as portas para o Grande Jubileu do Ano 2000. No longo silêncio que acompanha os gestos do pontífice, a história de dois milênios parece condensada. Ajoelhado, com as mãos postas na cruz, o Papa Wojtyła abre o Ano Santo. É o alvorecer do terceiro milênio. A abertura do Ano Santo em 2000.

Os olhos do mundo, fixos naqueles dezesseis painéis de bronze que compõem a Porta Santa, se iluminam de esperança. João Paulo II, precedido pelos cardeais concelebrantes, chega à Cátedra para abrir a solene celebração. Após o canto do Evangelho, o Papa caminha em direção à Porta Santa e, chegando diante dela, diz em latim: “Esta é a porta do Senhor”. Com passos lentos, João Paulo II segue em direção à Porta, que ele abre às 23h25min. Esses são momentos de grande emoção: o Pontífice se ajoelha na soleira da porta e faz uma pausa em oração por alguns minutos. Um aplauso prolongado começa com a assembleia reunida em São Pedro e no átrio. Do lado de fora, na Praça de São Pedro, mais de cinquenta mil pessoas acompanham o evento nos telões localizados nos vários cantos do hemiciclo de Bernini. E, em todo o mundo, milhões e milhões de pessoas se sintonizaram para acompanhar o Papa cruzando aquele limiar.

João Paulo II abre o Jubileu de 2000 (foto de arquivo) | Vatican News.

Ano Santo de 2015

A abertura do Jubileu Extraordinário da Misericórdia de 2015, no 50º aniversário do final do Concílio Vaticano II, está ligada a duas datas: a de 29 de novembro, dia em que o Papa Francisco abre a Porta Santa da Catedral de Notre-Dame em Bangui, por ocasião de sua viagem apostólica à África, e a de 8 de dezembro, de 2015.

No dia da Solenidade da Imaculada Conceição, a silhueta iluminada do Papa Francisco, filmada em todo o mundo, rompe a meia-luz na qual a Basílica do Vaticano está imersa. A abertura da Porta Santa, relata o L'Osservatore Romano, segue um rito antigo, rico em símbolos, caracterizado por uma imagem sem precedentes: a de Francisco e seu antecessor Bento XVI, naquele momento Papa Emérito, que cruzam “o limiar um após o outro, não antes de trocar um abraço afetuoso no átrio”.

O Papa Francisco abre o Jubileu de 2015 (Vatican News)

O Jubileu é uma dádiva de graça. O Ano Santo de 2025, que está prestes a começar, está em continuidade com esses tempos especiais de graça, cujas origens estão ligadas ao século XIV e ao pontificado de Bonifácio VIII. “Agora”, enfatiza o Papa Francisco na Bula de Indicação ‘Spes non confundit’, ‘chegou a hora de um novo Jubileu, no qual abrir novamente a Porta Santa para oferecer a experiência viva do amor de Deus, que desperta no coração a esperança certa da salvação em Cristo’.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF