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quinta-feira, 27 de março de 2025

A educação no "De Magistro" e a atualidade da pedagogia de Santo Tomás de Aquino

De Magistro (Facebook)

A EDUCAÇÃO NO "DE MAGISTRO" E A ATUALIDADE DA PEDAGOGIA DE SANTO TOMÁS DE AQUINO 

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RS)

A leitura atenta do De Magistro, de Santo Tomás de Aquino, permite redescobrir a profundidade e a atualidade do pensamento tomasiano para a educação, superando preconceitos e lacunas que ainda marcam muitos manuais de Filosofia da Educação. Com frequência, o papel pedagógico de Santo Tomás é negligenciado ou reduzido a um breve apontamento histórico, inserido no contexto da escolástica e da relação entre fé e razão. Contudo, suas contribuições pedagógicas merecem reconhecimento próprio, sobretudo por seu rigor filosófico e clareza antropológica, que oferecem bases sólidas para uma filosofia da educação centrada na dignidade e na estrutura do ser humano. 

Embora não tenha escrito um tratado sistemático sobre educação, o De Magistro — conjunto de artigos da questão 11 do De Veritate — revela com profundidade o pensamento de Aquino sobre o ensino e a aprendizagem. Ao utilizar o método da quaestio disputata, típico da escolástica, Santo Tomás desenvolve reflexões em que debate com honestidade as posições contrárias e expõe sua própria solução, oferecendo um modelo exemplar de diálogo filosófico e acadêmico. 

Um dos principais méritos do De Magistro é sua antropologia unitária, que supera o dualismo corpo-alma herdado do platonismo. Contra as correntes que viam o corpo como obstáculo para o conhecimento e que concebiam a alma como possuidora de ideias inatas, Tomás, inspirado em Aristóteles, afirma que o ser humano é uma unidade substancial de corpo e alma. O conhecimento, nesse contexto, não é reminiscência de verdades preexistentes, mas processo dinâmico que se inicia pelos sentidos e culmina na abstração intelectual, mediante a atuação das faculdades humanas, especialmente o intelecto agente e o intelecto paciente. 

É precisamente nesse quadro que se insere o papel do mestre. Diferente das concepções que marginalizam o ensino exterior, Santo Tomás afirma que o professor não infunde diretamente o saber no aluno, mas é causa instrumental do conhecimento, estimulando, por meio de sinais sensíveis (palavras, exemplos, imagens), o intelecto do discípulo a atualizar em ato o que está em potência. O mestre, portanto, é verdadeiro colaborador do processo educativo, e não mero transmissor de conteúdo. 

Essa concepção pedagógica tem implicações importantes. Primeiro, destaca o protagonismo do educando, cuja atividade intelectual é condição essencial para a aprendizagem. Segundo, redefine o papel do educador, que não substitui, mas auxilia o discípulo no processo de busca da verdade. Em terceiro lugar, reforça a centralidade da razão como luz natural dada por Deus ao homem, tornando desnecessária a intervenção divina especial para cada ato de conhecimento, sem, contudo, excluir a ação da graça na plenitude do saber. 

No De Magistro, Santo Tomás também trata de temas como a possibilidade de alguém ser mestre de si mesmo ou de ser ensinado por anjos, concluindo que o ensino exige sempre um mediador que possua em ato aquilo que o discípulo possui em potência. Assim, o ensino é ato da vida ativa, pois visa o bem do outro, embora se alimente da vida contemplativa, já que trata de realidades inteligíveis e busca a verdade. 

A pedagogia tomasiana, nesse sentido, antecipa elementos valorizados por correntes modernas: a importância da experiência, da descoberta, da autonomia do aluno e da mediação significativa do professor. Para Santo Tomás, aprender é refletir e ensinar é provocar a reflexão. Seu método educativo integra razão, sensibilidade e transcendência, e permanece atual porque se funda numa antropologia realista, que respeita a natureza humana e aposta em sua capacidade de conhecer e se aperfeiçoar. 

Redescobrir Santo Tomás como pedagogo é, pois, um exercício fecundo para renovar a filosofia da educação a partir de fundamentos sólidos, capazes de unir verdade, liberdade e formação integral da pessoa. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A sabedoria de Deus na criação e a Campanha da Fraternidade 2025

O homem e o universo (Vatican News)

Nós estamos na Quaresma e na Campanha da Fraternidade 2025, organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), meditando a Palavra de Deus realizada na criação. Nós percebemos a sabedoria de Deus em criar tão bem as obras, e feitas com amor, pois, elas saíram de suas mãos poderosas, para o bem da humanidade e à gloria divina. Deus Uno e Trino é exaltado pelas suas criaturas, pela forma como foram realizadas.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

A Campanha da Fraternidade tem presente a Ecologia Integral, sendo o seu tema central. Deus viu que tudo era muito bom(Gn 1,31). É preciso uma conversão integral para nós sermos guardiões da casa comum. Vejamos a seguir como esta descrição foi elaborada nos primeiros escritores cristãos na vida eclesial e no mundo social.

A obra dos seis dias em sua sabedoria

Teófilo de Antioquia, Bispo apologista, defensor do cristianismo, século II teve presentes a obra do Senhor nos seus seis dias. Ele disse que nenhuma pessoa explicaria tal grandiosidade, pois ninguém seria capaz de dizer algo digno dela, por causa da soberana grandeza e riqueza da sabedoria de Deus, contidas na criação dos seis dias, senão pela fé e pelo amor. Não foi possível, segundo o autor dizer tudo sobre a criação de Deus, tão grande e tão bela que ela é, de modo que é preciso preservá-la e amá-la por todas as pessoas[1].

O nada veio à criação e a do ser humano

Os autores sacros colocaram que a obra de Deus veio do nada de modo que Ele tirou tudo para fazer todas as coisas. Nada foi coetâneo com Deus; ele próprio é o seu lugar, sendo o Senhor anterior a todas as coisas. Ele criou o ser humano que conheceu o seu Criador, de modo que foi para ele que o preparou o mundo, pois aquele que é criado possui necessidades, sendo que o Incriado, Deus, não tem necessidades[2].

Tudo foi criado em vista do Verbo

Teófilo afirmou que tudo foi criado em vista do Verbo de Deus que se faria carne, gente como nós (cfr. Jo 1,14). Ele as gerou com a sua própria sabedoria, emitindo-a antes de todas coisas. O Verbo fez todas as coisas. Ele é o Senhor de todas as coisas que pelo bem comum foram feitas[3].

O Espírito de Deus

O Bispo Teófilo disse que o Espírito de Deus, desceu sobre os profetas e por meio deles falou sobre a criação do mundo. O Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gn 1, 2 Na verdade não existiam profetas quando foi feito o mundo. No entanto existia sabedoria, e o seu Verbo santo, que sempre estava presente nele[4].

O verdadeiro Deus

Teófilo afirmou que era preciso, diante da criação, o conhecimento do verdadeiro Deus para que fosse amado pelas pessoas e pelos povos. Ele o foi por suas obras grandiosas e feitas com sabedoria, para que em nome do Verbo de Deus fizeram-se o céu e a terra. Logo é dito que a terra era invisível e informe, sem alguma forma de modo que as trevas estavam sobre o abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre as águas (cf. Gn 1,2)[5].

A terra foi dada ao ser humano

Deus deu a terra para o ser humano. Ele começou a construir aqui a sua vida e não o fez pelo telhado antes de ter assentados os alicerces. O poder de Deus se manifestou em fazer as coisas a partir do nada de modo que tudo o que é impossível aos olhos humanos, tudo é possível a partir de Deus. Nós cremos que tudo foi feito pelo Verbo de Deus e a terra é alicerçada pelo solo, colocada de uma forma diferente do abismo na imensidão das águas e também de trevas, porque o céu, criado por Deus, cobria como uma tampa tanto as águas como a terra[6].

Os nomes da criação vem de Deus

Deus deu os nomes para as coisas, segundo Teófilo de modo que o ser humano conheceu as criaturas nas quais ele conviveria juntos, unidos. O fato foi que a ordenação de Deus, isto é o Verbo iluminou a terra e assim Deus chamou à luz `dia` e à noite `trevas`, pois o ser humano não teria sabido chamar à luz dia, nem à noite trevas, como também não saberia dar nome às demais coisas, se não tivessem recebidos os nomes das coisas e dos animais por parte de Deus, que as criou[7].

A diversidade das coisas criadas e a ressurreição

O bispo Teófilo afirmou que a diversidade das coisas foi um dos pontos fundamentais na criação dada por Deus. É fundamental perceber a beleza, a multidão das coisas e como através delas manifestam-se a ressurreição, a vida nova que surge pelas coisas criadas que morrem e ressurgem novamente, sendo prova, testemunho da ressurreição que um dia se realizará pela graça divina em todos os seres humanos pelo bem realizado neste mundo[8].

As coisas criadas para o bem e para o amor

O autor grego, Teófilo afirmou que todas as coisas criadas por Deus tinham como meta a realização da vontade de Deus, em vista do bem, do amor. Assim também o ser humano quando foi criado para coisas boas, conforme a vontade do Senhor. Se as feras chamam-se assim por causa de sua ferocidade não era porque desde o principio fossem más ou venenosas, pois nada do que é mau criou Deus desde o inicio, mas pelo contrário tudo era bom e até muito bom (cf. Gn 1,31), no entanto o pecado do ser humano as tornou más. O fato foi que o ser humano se tornou transgressor, elas também transgrediram[9]. No entanto a graça de Cristo fez o ser humano e os seres vivos viverem a reconciliação com o Senhor Deus Pai criador, pelo seu Espírito.

A sabedoria divina na criação do ser humano

As coisas foram criadas por Deus com sabedoria, assim também a sabedoria divina criou o ser humano. Não existe palavra humana que expressa a sua grandeza: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26). Ele não disse: “Façamos” a nenhuma outra criatura, a não ser a seu próprio Verbo, e à sua Sabedoria[10]. O Senhor também quis ao fazer o ser humano, homem e mulher que após os terem abençoados, se multiplicassem, enchessem a terra, submetendo as coisas para que os servissem, Ele ordenou que desde o principio, se alimentassem com os frutos da terra, sementes, ervas e arvores e os animais fossem os seus comensais, os quais também comeriam todas as sementes da terra (cf. Gn 1,29-30)[11].

Tudo foi feito através do Verbo, a Sabedoria de Deus

Atenágoras de Atenas, padre apologista grego do século II afirmou diante dos pagãos, a existência de um só Deus, incriado, eterno, impassível, rodeado de beleza, pelo qual tudo foi feito através do Verbo que Dele vem, e pelo qual tudo foi ordenado e se conserva. Estando o Filho no Pai e o Pai no Filho por unidade e poder do Espírito, o Filho de Deus é o Verbo do Pai. Desta forma a fé cristã admite a existência de um Deus Pai, um Deus Filho e um Espírito Santo que mostram seu poder na unidade e sua distinção na ordem. Todas as coisas procedem dele, os elementos que estão nos céus, do que há também no mundo, em vista do cuidado de sua boa ordem[12].

 Notas:

[1] Cfr. Segundo Livro a Autólico, 12 de Teófilo de Antioquia. In: Padres Apologistas. São Paulo; Paulus, 1995, pg. 242.

[2] Cfr. Idem, pg. 238.

[3] Cfr. Ibidem, pgs. 238-239.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 239.

[5] Cfr. Ibidem, pg. 239.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 243.

[7] Cfr. Ibidem, pg. 244.

[8] Cfr. Ibidem, pg. 244.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 247.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 248.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 248.

[12] Cfr. Petição em favor dos cristãos, 10. In: Padres Apologistas, pgs. 130-132. 

Fpnte: https://www.vaticannews.va/pt

Tristeza e seus remédios: prazer (1/5)

ILIA NEZNAEV I Shutterstock

Aleteia França - publicado em 25/03/25

Entre os cinco remédios que São Tomás de Aquino defende contra a tristeza, há antes de tudo o deleite, aquela paixão da alma que sentimos quando possuímos um bem que desejamos.

Na Summa Theologica, São Tomás de Aquino oferece uma profunda reflexão sobre as paixões da alma. Evoca onze paixões, incluindo a tristeza. Sentimos tristeza quando estamos na presença de uma doença que nos repele. Por exemplo, fico triste quando reprovo em um exame que preparei. O fracasso, o mal que eu temia, é muito real e presente.

Toda paixão é um movimento do apetite sensitivo (um movimento da alma sensível) que é acompanhado por um efeito corporal. A tristeza é, portanto, um movimento interior - uma emoção - que é acompanhada por uma certa sobrecarga do corpo. Das cinco questões que São Tomás dedica à tristeza, uma necessariamente prende nossa atenção por causa de sua relevância prática: os remédios para a tristeza. Ele menciona cinco remédios. O primeiro que ele menciona é o deleite.

Afugentando a tristeza através do prazer

Como a tristeza, o deleite é uma paixão. É paixão em oposição à tristeza. Sentimos prazer quando estamos de posse de um bem que desejamos. Enquanto a tristeza é acompanhada por uma sobrecarga do corpo, o deleite é acompanhado por um certo dinamismo, uma energia renovada. Por exemplo, gosto de comer aquela torta que tanto queria, ou que aproveito para ouvir aquela música que tanto amo. 

São Tomás tem esta frase deslumbrante: "O deleite é para a tristeza, nos movimentos do apetite, o que o descanso é para a fadiga nos movimentos corporais". Assim como a fadiga corporal é expulsa por seu oposto - descanso - a tristeza pode ser expulsa pelo deleite. Pessoalmente, lembro-me de ter ficado muito afetado com a morte de uma amiga da minha irmã. No dia de seu funeral, minha irmã havia preparado um bolo de chocolate para o retorno da missa. Este lanche foi um verdadeiro consolo para todos nós!

Deleite e tristeza

Qualquer deleite, seja ele qual for, pode afastar a tristeza. É inútil para ela ser o oposto estrito da tristeza: obviamente a ressurreição dessa amiga teria afugentado nossa tristeza! No momento, o que conseguiu afugentar nossa tristeza foi uma delícia de outro tipo: este delicioso bolo de chocolate. Quanto mais forte a tristeza, mais tenderemos a buscar fortes prazeres para nos consolar. São Tomás escreve que muitas vezes tendemos a buscar delícias corporais em vez de espirituais porque são mais sensíveis, mais imediatas. 

Infelizmente, é isso que os vícios nos mostram. O vício em drogas ou pornografia pode ser um sintoma de uma profunda tristeza que a pessoa com a doença está tentando afugentar. Esses excessos ilustram bem o efeito do deleite na tristeza. Isso não significa, no entanto, que buscar consolo no deleite seja sempre uma coisa ruim.

O que me faria sentir bem?

Existe uma maneira virtuosa de expulsar a tristeza por meio do deleite. Um pouco mais adiante, na Summa Theologica, São Tomás fala, por exemplo, da virtude da eutrapelia,  que consiste em afugentar a fadiga da alma por meio do jogo. Cabe a cada um de nós encontrar o que nos faz felizes e realmente descansados. Uma boa refeição? Um passeio no parque? Uma boa leitura? Eu sei pessoalmente que quando a tristeza pesa sobre mim, é hora de eu dar um passeio com meu cachorro! 

Este primeiro remédio proposto por São Tomás é simples e ao mesmo tempo extremamente útil, não apenas para si mesmo, mas também para os entes queridos. Aos amigos que sofrem, talvez possamos perguntar-lhes: “O que vos faria felizes?”. Poderíamos, assim, tentar trazer-lhes algum consolo. O deleite é o primeiro remédio mencionado por São Tomás, e também o mais geral. Os outros quatro remédios mencionados terão um aspecto de prazer.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/03/25/tristeza-e-seus-remedios-prazer-1-5

O Papa: mesmo que a nossa história pareça arruinada, com Deus podemos recomeçar

Sala Paulo VI durante uma Audiência Geral (Vatican Media)

Na segunda catequese dedicada a “A vida de Jesus. Os encontros”, Francisco se concentra na conversa entre Cristo e a mulher samaritana. “Jesus nos espera e se faz encontrar justamente quando pensamos que para nós já não há esperança” e nos ajuda “a reler nossa “história” de uma maneira nova. A imagem da mulher que, sabendo que tinha o Messias diante dela, “corre para chamar as pessoas da aldeia” nos faz entender que é “da experiência de se sentir amado que surge a missão”.

Vatican News

Dando continuidade ao Ciclo de Catequeses para este Jubileu 2025 sobre o tema "Jesus Cristo nossa Esperança", Francisco dedicou sua reflexão, nesta quarta-feira (26/03), à Samaritana dentro da sequência "A vida de Jesus. Os Encontros".

Depois de refletir, na semana passada, sobre o encontro de Jesus com Nicodemos, que foi procurá-lo, "refletimos sobre aqueles momentos em que parece que Jesus estava bem ali nos esperando, naquela encruzilhada da nossa vida. São encontros que nos surpreendem e, a princípio, podemos até ficar um pouco desconfiados: tentamos ser prudentes e entender o que está acontecendo", escreve o Papa.

"Provavelmente, essa também foi a experiência da mulher samaritana, mencionada no quarto capítulo do Evangelho de João", afirma Francisco. "Ela não esperava encontrar um homem no poço ao meio-dia; na verdade, ela não esperava encontrar ninguém. De fato, ela vai buscar água no poço numa hora incomum, quando está muito quente. Talvez essa mulher tenha vergonha de sua vida, talvez tenha se sentido julgada, condenada, não compreendida e, por isso, tenha se isolado, rompido relações com todos."

O encontro com Jesus

"Para ir da Judeia para a Galileia, Jesus poderia ter escolhido outro caminho e não ter atravessado a Samaria. Teria sido até mais seguro, dadas as relações tensas entre judeus e samaritanos", escreve o Papa. "Mas, ele quer passar por ali e para naquele poço, naquela hora! Jesus nos espera e se faz encontrar justamente quando pensamos que para nós já não há esperança. O poço, no antigo Oriente Médio, é um lugar de encontro, onde às vezes são arranjados casamentos, é um local de noivado. Jesus quer ajudar esta mulher a entender onde procurar a verdadeira resposta ao seu desejo de ser amada", ressalta o Pontífice.

"O tema do desejo é fundamental para compreender este encontro. Jesus é o primeiro a expressar o seu desejo: “Dá-me de beber!” Para iniciar um diálogo, Jesus faz-se passar por fraco, deixando assim a outra pessoa à vontade, garantindo que não se assuste. A sede é frequentemente, também na Bíblia, a imagem do desejo. Mas aqui Jesus tem sede, primeiramente, da salvação daquela mulher. «Mas, se Jesus lhe pediu do que beber – diz Santo Agostinho – era da fé dela que Ele tinha sede»."

"Se Nicodemos fora ter com Jesus à noite, aqui Jesus encontra a mulher samaritana ao meio-dia, a hora em que há mais luz. É realmente um momento de revelação", ressalta o Pontífice. "Jesus dá-se a conhecer a ela como o Messias e também ilumina a sua vida. Ajuda-a a reler a sua história, complicada e dolorosa, de uma nova forma: teve cinco maridos e agora está com um sexto que não é marido. O número seis não é aleatório, mas geralmente indica imperfeição. Talvez seja uma alusão ao sétimo marido, aquele que poderá finalmente satisfazer o desejo desta mulher de ser verdadeiramente amada. E esse noivo só pode ser Jesus."

As pessoas reconciliadas levam o Evangelho

"Ao perceber que Jesus conhece a sua vida, a mulher muda a conversa para a questão religiosa que dividia judeus e samaritanos. Isto também nos acontece, por vezes, enquanto rezamos: no momento em que Deus toca a nossa vida com os seus problemas, por vezes perdemo-nos em reflexões que nos dão a ilusão de uma oração bem-sucedida. Na verdade, nós criamos barreiras de proteção. Mas o Senhor é cada vez maior, e àquela mulher samaritana, a quem segundo as normas culturais nem sequer devia ter falado, dá a mais alta revelação: fala-lhe do Pai, que deve ser adorado em espírito e verdade. E quando ela, mais uma vez surpreendida, observa que é melhor esperar o Messias sobre estas coisas, Ele diz-lhe: “Sou eu, quem fala contigo”. É como uma declaração de amor: Aquele que você está à espera sou eu. Aquele que pode finalmente responder ao seu desejo de seres amada", escreve o Papa.

"Neste momento a mulher apressa-se a chamar o povo da aldeia, pois é precisamente da experiência de se sentir amada que surge a missão. E que mensagem poderia ela ter levado senão a sua experiência de ser compreendida, acolhida, perdoada? É uma imagem que nos deveria fazer refletir sobre a nossa procura de novas formas de evangelizar."

"Tal como uma pessoa apaixonada, a samaritana esquece o seu cântaro aos pés de Jesus. O peso daquela ânfora na sua cabeça, de cada vez que regressava a casa, lembrava-a da sua condição, da sua vida atribulada. Mas agora o cântaro é colocado aos pés de Jesus. O passado já não é um fardo; ela está reconciliada. E assim também acontece conosco: para irmos anunciar o Evangelho, precisamos primeiro depositar aos pés do Senhor o peso da nossa história, entregar-Lhe o peso do nosso passado. Só as pessoas reconciliadas podem levar o Evangelho".

Por fim, o Papa convida a não perder a esperança. "Mesmo que a nossa história pareça pesada, complicada, talvez até mesmo arruinada, temos sempre a possibilidade de a entregar a Deus e recomeçar a nossa caminhada. Deus é misericórdia e nos espera sempre!"

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 25 de março de 2025

IGREJA: História de um pequeno milagre (editorial)

As capas dos dois livrinhos | 30Giorni

Arquivo 30Dias n. 04 - 2005

História de um pequeno milagre

No início da década de 1880, um livreto foi impresso em Roma como um auxílio para se confessar bem. Reimpresso diversas vezes, sua tiragem ultrapassou meio milhão de cópias. Recentemente, as orações mais simples da vida cristã foram adicionadas às páginas sobre confissão. A nova edição deste pequeno livro tem um prefácio do Cardeal Ratzinger.

por Lucio Brunelli

No começo era um livro muito, muito fino. Dezesseis páginas, formato 10x14. No frontispício, uma citação do filósofo polonês Stanislaw Grygiel (um comentário sobre a primeira encíclica de João Paulo II, Redemptor hominis) e o título simples, escrito em grandes caracteres roxos da Quaresma: O Sacramento da Penitência ou Confissão . Era o início da década de 1980. E ninguém naquela época poderia imaginar que aquele “mini-vade-mécum” sobre a confissão, tirado do antigo Catecismo de São Pio X, se tornaria um pequeno best-seller. Mais de meio milhão de exemplares foram distribuídos, somando as várias edições que se seguiram até a última versão, Quem reza se salva , enriquecida pelas mais belas orações e cantos da tradição cristã e com prefácio do Cardeal Joseph Ratzinger.
Mas o que é ainda mais surpreendente é a gênese deste pequeno livro. Nasceu de uma experiência vivida em Roma. Foi pensado especialmente para aqueles jovens e adultos que – atraídos por encontros significativos – estavam se aproximando da prática cristã pela primeira vez ou estavam retornando, depois de anos de abandono. Pessoas de todas as idades, gêneros, culturas e opiniões políticas. Não havia problema em doutriná-los, no modelo das escolas partidárias ou, pior, das seitas religiosas; por outro lado, teria sido uma perda de tempo: em média, eram pessoas com um espírito crítico suficiente e saudável. A própria atração experimentada nos encontros com pessoas já cristãs tornava razoável perguntar ao padre ou a amigos mais experientes o que a Igreja exigia, em termos concretos, daqueles que estavam iniciando uma jornada de vida cristã. A confissão, mesmo do ponto de vista existencial, era muitas vezes o primeiro passo.

O problema com os catecismos oficiais – então em circulação – era sua verbosidade incurável. Um mar de palavras em que, no final, era até difícil discernir os termos simples e essenciais do sacramento: o exame de consciência, a distinção entre pecados mortais e veniais, a graça do perdão. Paradoxalmente, o antigo formulário de perguntas e respostas do Catecismo mostrou-se muito mais útil. Com base nesta fonte – e em outros documentos do Magistério – foi possível resumir em poucas páginas tudo o que o crente comum deve saber para poder viver bem o ato da confissão.

Não foi uma operação de nostalgia e muito menos uma reação ideológica contra os ditames do Concílio Ecumênico Vaticano II, do qual, pelo contrário, se aprendia cada vez mais a conhecer e a estimar o espírito de diálogo e de abertura ao próximo. Foi realmente uma descoberta surpreendente dos tesouros desconhecidos da tradição. Tesouros da vida. Simplicidade libertadora. O escritor – um desses “neófitos” a quem o livreto era dirigido – recorda a sua surpresa ao saber naquelas páginas, por exemplo, que segundo a doutrina católica dois em cada quatro dos “pecados que clamam por vingança diante de Deus” (textuais) eram pecados sociais: a “opressão dos pobres” e a “fraude nos salários dos trabalhadores”. Para alguém que quando menino havia experimentado (como muitos outros) a utopia comunista e se apaixonado pelos versos de Pasolini e De André, a surpresa foi descobrir que o Papa antimodernista estava mais “à esquerda” do que muitos eclesiásticos modernos. Se alguém realmente se importasse com o destino dos "oprimidos", não haveria necessidade de perseguir Marx; bastava recorrer à tradição da Igreja. E, de fato, que emoção admirável foi percorrer a lista concisa e prática das “obras corporais de misericórdia” recomendadas a todos os fiéis: alimentar os famintos, hospedar estrangeiros, visitar os doentes e os prisioneiros… Adorável concretude do cristianismo.

A tradição era pensada como uma sala fechada. Agora descobrimos que é uma janela aberta. Ar leve e oxigenado. Tradição, é claro. Assim como a moral católica. Não moralismos: ressentimento pelos infelizes que mal conseguem suportar o gozo dos outros.

O Retorno do Filho Pródigo, Rembrandt, gravura, Pierpont Morgan Library, Nova York |30Giorni

Mas não pensemos que todas essas belas descobertas existenciais foram uma fuga da acusação de pecados individuais. As instruções do livrinho, a esse respeito, eram e são muito claras. Detalhado. Não há melhor síntese literária do modelo de confissão que nos foi proposto do que uma passagem de Miguel Mañara de Oscar Milosz. Onde um recém-convertido Don Juan bate às portas do convento de Caridad, em Sevilha; Ele inunda o abade com lágrimas e expressões místicas de arrependimento, mas logo é interrompido com estas palavras: «O arrependimento do coração não é nada se não sobe aos dentes e inunda os lábios com amargura... Diga: Eu fiz isso, eu fiz aquilo. Falar…". E então o bom Mañara fala e fala… Assassinatos e estupros, não exatamente os escrúpulos de um internato… E ele não para, ele continua contando. A ponto de se atormentar pelos próprios erros. E então o velho abade tem que detê-lo, novamente. "Não devemos mais falar dessas coisas pobres, dessas bobagens, meu garotão, você entendeu? Essas são histórias para deixar para aqueles que ainda são atormentados pelo grande orgulho dos pequenos pecados…». A experiência indizível da misericórdia. Assim, milhares e milhares de jovens e velhos descobriram o coração da experiência cristã. Poucos dias antes de sua doença piorar, o padre Giussani havia sugerido este antigo prefácio da Liturgia Ambrosiana como ponto de partida para a meditação da Páscoa de 2005: «Você se inclinou sobre nossas feridas e nos curou, dando-nos um remédio mais forte que nossas feridas, uma misericórdia maior que nossa culpa. Assim, até mesmo o pecado, em virtude de seu amor invencível, serviu para nos elevar à vida divina." Até o pecado é útil. Em despertar a piedade de Outro. Porque não somos nós, com a nossa própria força, com a nossa própria vontade, que obtemos a tão almejada felicidade. Pio XII disse na década de 1950 que o drama da modernidade é ter perdido a consciência do pecado. Hoje, talvez, as pessoas estejam vivenciando um drama maior. Tendo perdido todas as ilusões sobre a bondade natural do homem, eles vivenciam o mal como um cupim escuro, destrutivo e incurável. Eles não sabem mais, porque não vivenciam mais, que seu próprio mal pode ser curado e perdoado. E esta é provavelmente a causa dessa imensa fragilidade emocional e psicológica que é evidente para todos, especialmente para os mais jovens.

Cristo e a Adúltera, Rembrandt, Sala de Impressão, Munique | 30Giorni

Aprendemos tudo isso graças também ao livreto sobre o sacramento da penitência. Até mesmo aqueles que frequentavam a igreja há anos começaram a usar o livreto. Muitos padres e numerosas comunidades paroquiais – primeiro em Roma e depois em outras cidades – solicitaram isso. Uma difusão espontânea e popular. Tanto a revista semanal Il Sabato quanto a revista mensal 30Giorni a incluíram como um presente para seus leitores. Fornecer números de telefone onde fiéis ou paróquias individuais poderiam solicitar cópias adicionais por um custo modesto. As reimpressões se sucederam em intervalos de alguns anos: outubro de 1990, novembro de 1991, fevereiro de 1995… Nos círculos eclesiásticos, alguns torceram o nariz, não entendendo o espírito positivo e não polêmico da iniciativa. Mas também chegaram reconhecimentos importantes. Em maio de 1995, o regente da Penitenciária Apostólica, Monsenhor Luigi De Magistris, enviou uma carta de recomendação (e algumas sugestões valiosas) ao diretor de 30Giorni. Acrescentando que o livreto havia sido "relatado por nós na Penitenciária ao Comitê Central para o Ano Santo, a fim de preparar – quando surgir a oportunidade – livretos para os peregrinos". E que a ideia era extremamente sábia foi visto em retrospectiva, quando nós, cronistas, testemunhamos a grande afluência de peregrinos no Ano Santo de 2000, que, no entanto, muitas vezes não foram ajudados por instrumentos simples para experimentar aquela dimensão essencial de todo Ano Jubilar que é, precisamente, o sacramento da confissão.

De fato, as reimpressões do livreto, devido à demanda popular, continuaram durante a década de 1990. O último que encontramos data de 1998. Três anos depois, foi publicada a primeira edição de Quem reza se salva. Só ele vendeu 120.000 cópias. O formato de bolso 10x14 permaneceu. Mas as páginas passaram a ser 134. À antiga parte sobre a confissão foram acrescentadas outras seções com as orações mais importantes da piedade cristã: do Angelus ao Regina Coeli, ao Ato de Fé, de Esperança, de Caridade e aos mistérios do Santo Rosário. O espírito sempre foi o mesmo do começo, 25 anos atrás. E o mais incrível hoje é ver meninos e meninas, vestidos e com hobbies como seus colegas, recitando as mesmas orações que nossas avós, com a mesma simplicidade adorável e emoção. Verdadeiros milagres metropolitanos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

As riquezas da fé

'Confiar no Senhor quer dizer ter fé apesar dos pesares, indo além das aparências'. (Opus Dei)

As riquezas da fé

Artigo de São Josemaria, publicado no jornal ABC, de Madri, em 02 de novembro de 1969. Nele, o Fundador do Opus Dei fala do amor à liberdade como um dos tesouros da fé cristã.

12/07/2007

Neste canto às riquezas da fé que é a Epístola aos Gálatas, São Paulo nos diz que o cristão deve viver com a liberdade que Cristo nos conquistou [1]. Esse foi o anúncio de Jesus aos primeiros cristãos, e isso continuará sendo ao longo dos séculos: o anúncio da libertação da miséria e da angústia. A história não está submetida a forças cegas nem é resultado do acaso, mas é a manifestação das misericórdias de Deus Pai. Os pensamentos de Deus estão acima dos nossos pensamentos, diz a Escritura [2]; por isso, confiar no Senhor quer dizer ter fé apesar dos pesares, indo além das aparências. A caridade de Deus — que nos ama eternamente — está por trás de cada acontecimento, ainda que às vezes de uma maneira oculta para nós.

Quando o cristão vive da fé — com uma fé que não é mera palavra, mas realidade de oração pessoal —, a certeza do amor divino se manifesta na alegria, na liberdade interior. Esses nós que às vezes atenazam o coração, esses pesos que esmagam a alma, quebram-se e se dissolvem. Se Deus é por nós, quem será contra nós? [3]. E o sorriso vem logo aos lábios. Um filho de Deus, um cristão que vive vida de fé pode sofrer e chorar: pode ter motivos para experimentar a dor; mas, para estar triste, não.

A liberdade cristã nasce do interior, do coração, da fé. Porém não é algo meramente individual, pois tem manifestações exteriores. Dentre elas, uma das mais características na vida dos primeiros cristãos foi a fraternidade. A fé — a magnitude do dom do amor a Deus — fez com que diminuíssem até desaparecer todas as diferenças, todas as barreiras: já não há judeu, nem grego; nem escravo, nem livre; nem homem, nem mulher: pois todos vós sois um em Cristo [4]. Esse saber-se e amar-se, de fato, como irmãos, por cima das diferenças de raça, de condição social, de cultura, de ideologia, é essencial ao cristianismo.

Não é minha missão falar de política. Tampouco é essa a missão do Opus Dei, uma vez que a sua única finalidade é espiritual. O Opus Dei não entrou nem nunca entrará na política de grupos e de partidos, nem está vinculado a qualquer pessoa ou ideologia. Esse modo de atuar não é uma tática apostólica, nem uma conduta meramente elogiável. Para o Opus Dei é uma necessidade intrínseca proceder assim, pois é algo que exige a sua própria natureza e, além do mais, possui uma autenticação evidente: o amor à liberdade, a confiança na condição própria do cristão no meio do mundo, atuando com completa independência e com responsabilidade pessoal.

Não há dogmas nas coisas temporais. Não está de acordo com a dignidade dos homens o intento de fixar verdades absolutas em questões sobre as quais, necessariamente, cada um tem de contemplar as coisas do seu ponto de vista, segundo os seus interesses particulares, as suas preferências culturais e a sua própria experiência peculiar. Pretender impor dogmas no âmbito temporal conduz, inevitavelmente, a forçar as consciências das pessoas, a não respeitar o próximo.

'Cada homem deve cultivar a experiência de sua autonomia pessoal, com tudo o que isso supõe de acaso, de tentativa e, em algumas ocasiões, de incerteza'.

Não quero dizer com isso que a postura do cristão, perante os assuntos temporais, deva ser indiferente ou apática. De modo algum. No entanto, penso que um cristão tem de tornar compatível a paixão humana pelo progresso cívico e social com a consciência da limitação das suas próprias opiniões, respeitando, por conseguinte, as opiniões dos demais e amando o legítimo pluralismo. Quem não saiba viver assim, não chegou ao fundo da mensagem cristã. Não é fácil chegar, e, de certo modo, não se chega nunca, porque a tendência para o egoísmo e a soberba jamais morre em nós. Por isso, todos estamos obrigados a fazer um exame constante, confrontando as nossas ações com Cristo, para nos reconhecermos pecadores e recomeçar de novo. Não é fácil chegar, mas temos de esforçar-nos.

Deus, ao criar-nos, correu o risco e a aventura da nossa liberdade. Quis uma história que fosse uma história verdadeira, feita de autênticas decisões, e não uma ficção nem um jogo. Cada homem deve cultivar a experiência de sua autonomia pessoal, com tudo o que isso supõe de acaso, de tentativa e, em algumas ocasiões, de incerteza. Não esqueçamos que Deus, que nos dá a segurança da fé, não nos revelou o sentido de todos os acontecimentos humanos. Juntamente com as coisas que, para o cristão, são totalmente claras e certas, há outras — muitíssimas — em que só cabe uma opinião: isto é, um certo conhecimento do que pode ser verdadeiro e oportuno, mas que não pode ser afirmado de um modo incontrovertível. Porque não só é possível que eu me engane como, mesmo tendo eu razão, é possível que os demais também a tenham. Um objeto que parece côncavo a alguém, parecerá convexo aos que estiverem situados numa perspectiva diferente.

A consciência da limitação dos juízos humanos leva-nos a reconhecer a liberdade como condição da convivência. Mas isso não é tudo e, inclusive, não é o mais importante: a raiz do respeito à liberdade está no amor. Se outras pessoas pensam de maneira diferente de mim, será isso uma razão para considerá-las inimigas? A única razão pode ser o egoísmo ou a limitação intelectual daqueles que pensam que não há outro valor além da política e dos empreendimentos temporais. Mas um cristão sabe que não é assim, porque cada pessoa tem um preço infinito, e um destino eterno em Deus: Jesus Cristo morreu por cada uma delas.

'Quando o cristão vive da fé — com uma fé que não é mera palavra, mas realidade de oração pessoal —, a certeza do amor divino se manifesta na alegria, na liberdade interior'.

Somos cristãos quando somos capazes de amar não só a Humanidade em abstrato, mas cada pessoa que passa perto de nós. Uma manifestação de maturidade humana é sentir a responsabilidade por essas tarefas das quais vemos depender o bem-estar das gerações futuras, porém isso não nos pode conduzir a descuidar da entrega e do serviço nos assuntos mais corriqueiros: ter um detalhe amável com aqueles que trabalham ao nosso lado, viver uma verdadeira amizade com os nossos companheiros, compadecer-nos de quem padece necessidade, mesmo que a sua miséria nos pareça sem importância em comparação com os grandes ideais que perseguimos.

Falar de liberdade, de amor à liberdade, é propor um ideal difícil: é falar de uma das maiores riquezas da fé. Porque — não nos enganemos — a vida não é um romance cor-de-rosa. A fraternidade cristã não é algo que vem do céu de uma vez por todas, mas uma realidade que deve ser construída em cada dia. E que tem de sê-lo numa vida que conserva toda a sua dureza, com choques de interesses, com tensões e lutas, no contato diário com pessoas que nos parecerão mesquinhas, e com mesquinharias da nossa parte.

Mas se tudo isso nos desanimar, se nos deixarmos vencer pelo nosso egoísmo ou se cairmos na atitude cética de quem encolhe os ombros, será sinal de que temos necessidade de aprofundar na nossa fé, de contemplar mais a Cristo. Porque só nessa escola é que o cristão aprende a conhecer-se e a compreender os demais, a viver de tal maneira que seja Cristo presente nos homens.

[1] Cf. Gal 4, 31 (Vulgata); Gal 5, 1 (Neovulgata).

[2] Cf. Is 55, 8; Rm 11, 33.

[3] Rm 8, 31.

[4] Gal 3, 28.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/as-riquezas-da-fe/

Vaticano: cúpula sobre longevidade analisa ciência, ética e o futuro da velhice

A coletiva de imprensa sobre o evento internacional (Vatican Media)

Foi apresentada na Sala de Imprensa do Vaticano uma coletiva sobre a última fase da vida com vencedores do Prêmio Nobel e cientistas de renome internacional. O evento, realizado no Centro de Congressos Augustinianum, em Roma, foi organizado pelo Instituto Internacional de Neurobioética (IINBE), com o patrocínio da Pontifícia Academia para a Vida.

https://youtu.be/etpb2emzcPA

Eugenio Murrali - Vatican News

O desafio proposto pela primeira “Vatican Longevity Summit” é criar um modelo de longevidade humana integral, em consonância com a visão do Papa Francisco, que considera a velhice uma graça. A conferência reuniu grandes cientistas e pensadores, com a presença do secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, para enfrentar o teste de um novo paradigma para o último período da existência.

A sociedade, um edifício sem escadas

A iniciativa realizada nesta segunda-feira, 24 de março, no Centro de Congressos Augustinianum, em Roma, foi patrocinada pela Pontifícia Academia para a Vida (PAV), cujo presidente, o arcebispo Vincenzo Paglia, disse: “vivemos no coração de uma contradição gigantesca, porque toda a cultura comum considera a velhice um naufrágio". Uma sociedade que está envelhecendo, mas na qual muitos não sentem a urgência de um tema que o Papa Francisco tem colocado repetidamente no centro do seu magistério. O prelado oferece a imagem de um edifício com quatro andares, as quatro idades, onde, no entanto, faltam escadas e elevadores, ou seja, a comunicação intergeracional. O Pontífice, que proporcionou uma verdadeira “espiritualidade da velhice”, lembrou Paglia, promoveu o diálogo entre as idades, por exemplo, com a instituição de um dia dedicado aos avós. 

Uma longevidade justa e democrática

Vencedores do Prêmio Nobel, cientistas de renome internacional, representantes de instituições contribuíram na reflexão para enriquecer em dignidade e qualidade a idade extrema da vida, um bem comum a ser honrado pela integração da ciência, da ética e da espiritualidade. O principal promotor da conferência, Padre Alberto Carrara, presidente do Instituto Internacional de Neurobioética (IINBE), falou na apresentação, mencionando também o papel desempenhado no nascimento da cúpula por Viviana Kasam, presidente do BrainCircle Italia, que faleceu recentemente. “A tecnologia deve estar a serviço do desenvolvimento integral da pessoa humana”, insistiu Carrara, levantando também a questão da equidade e da democratização das ferramentas em favor da boa longevidade.

Uma sociedade desequilibrada

A questão da equidade foi abordada pelo ganhador do Prêmio Nobel de Química de 2009, o professor Venki Ramakrishnan, que chamou a atenção para o risco de “uma sociedade desequilibrada”, não apenas por causa da diminuição do número de jovens em comparação com os idosos, mas também por causa de um problema social: “se você fizer estudos sobre longevidade, quem será beneficiado?”. E advertiu: “pode-se imaginar que haverá uma sociedade de duas velocidades, na qual os ricos serão ainda mais ricos, terão ainda mais poder”, porque poderão desfrutar dos meios de uma velhice saudável. Outro vencedor do Prêmio Nobel, o professor Shyn'ya Yamanaka, que recebeu o prestigioso Prêmio de Medicina em 2012 por suas descobertas sobre reprogramação celular, também contribui para a reflexão.

A sacralidade do idoso

Um olhar sobre a sacralidade do idoso foi dado no discurso do professor Giulio Maira, fundador e presidente da Fundação Atena, que disse: “o idoso é a expressão máxima do que a sociedade pode fazer pelo homem”. O cientista usou palavras importantes sobre o tema da prevenção e da educação - especialmente para os jovens - para uma vida saudável, longe de excessos, também para permitir que a longevidade seja sustentável. Esse compromisso é necessário para que seja possível recuperar recursos para direcioná-los à pesquisa, mas também, e principalmente, para permitir que os idosos vivam melhor, já que uma porcentagem ainda muito alta é diagnosticada com demência, enquanto devemos chegar a “viver muito tempo, mas com um cérebro saudável”. Acima de tudo, devemos melhorar a velhice do universo feminino, pois é verdade que as mulheres vivem mais, mas “pagam por essa longevidade”.

O conceito atual de cuidado

“Há 100 anos, a idade média nos países industrializados era de cerca de 40-45 anos, hoje é quase o dobro disso”, afirmou o professor Juan Carlos Ipsizua Belmonte, do Salk Institute for Biological Studies, na Califórnia, e correlacionou a velhice alcançada hoje com o desenvolvimento do conceito de cuidado, que se deu principalmente por meio da higiene, dos antibióticos e das vacinas, capazes de diminuir o principal fator de risco, a doença: ”não devemos aumentar a duração da vida como um fim em si mesmo, mas melhorar sua qualidade".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 24 de março de 2025

A Esperança faz viver uma vida nova

Fiel toca a Porta Santa da Basílica São João de Latrão (Vatican News)

"A esperança e a alegria cristã não se orientam simplesmente para um estado futuro, mas é prêmio e graça de Deus, aqui e agora. Ela é vivida na aceitação dos acontecimentos, destinos e tarefas da vida aqui. Mas não é apenas uma construção de um paraíso terrestre, mas que aguarda, na obra salvífica, o Reino definitivo. "

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Se Deus vem, mesmo quando o nosso coração parece uma pobre manjedoura, então podemos dizer: a esperança não está morta, a esperança está viva e envolve a nossa vida para sempre! A esperança não desilude”, disse o Papa Francisco em sua homilia na Missa na Noite do Natal, no início o Jubileu Ordinário de 2025. “E o Jubileu – ressaltou - abre-se para que a todos seja dada a esperança, a esperança do Evangelho, a esperança do amor, a esperança do perdão”. Neste sentido, “olhar para o futuro com esperança equivale a ter também uma visão da vida carregada de entusiasmo para transmitir”.

“A Esperança faz viver uma vida nova”, é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:

São Paulo diz na Carta aos Romanos: “esperar, contra toda esperança” (cf. Rm 4,18). Posteriormente, no capítulo 15, dessa mesma carta, aponta assim: “Ora tudo o que se escreveu no passado é para nosso ensinamento que foi escrito, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que nos proporcionam as Escrituras, tenhamos a esperança (Rm 15,4). E no versículo 12 e 13 é ainda mais incisivo, falando da esperança: “Isaías, por sua vez, acrescenta: Surgirá o rebento de Jessé, Aquele que se levanta para reger as nações. Nele as nações colocarão a sua esperança. Que o Deus da esperança vos cumule de toda alegria e paz em vossa fé, a fim de que pela ação do Espírito Santo a vossa esperança transborde”. Nossa esperança se fundamenta nAquele que se levanta para reger as nações: o Deus da Esperança. Nossa esperança, diz o apóstolo dos gentios, transborde pelo Espírito Santo cumulando-nos de alegria e paz.

O Concílio Vaticano II é considerado um Concílio da esperança, pois apresenta uma Igreja aberta à comunidade. O Concílio Vaticano II abordou a esperança cristã como uma virtude que define o caráter escatológico dos fiéis da Igreja, nossa caminhada para a eternidade, sem prescindir das responsabilidades do tempo atual. Na teologia anterior ao concílio Vaticano II, sobretudo na Idade Média, a fé escatológica era, simplesmente a fé no Além. Assim a unidade entre o aquém e o Além era desfeita. O Aquém era o lugar de prova e experiência, da culpa e da purificação do “vale de lágrimas”. O Além, o lugar de recompensa e de alegria. O concílio Vaticano II, sobretudo na Constituição Gaudium et Spes – a Igreja inserida no mundo – introduziu aqui um novo tom. A esperança e a alegria cristã não se orientam simplesmente para um estado futuro, mas é prêmio e graça de Deus, aqui e agora. Ela é vivida na aceitação dos acontecimentos, destinos e tarefas da vida aqui. Mas não é apenas uma construção de um paraíso terrestre, mas que aguarda, na obra salvífica, o Reino definitivo.

O Papa Bento XVI dedicou, no seu pontificado, a reflexão das três virtudes teologais em três pequeninos documentos: A Carta Apostólica Porta Fidei – falando da fé; as cartas encíclicas Spe Salvi – falando da virtude da Esperança e Deus caritas est – apontando a virtude da caridade. Como estamos refletindo a Esperança, nesse Ano Santo Jubilar, recuperamos pensamentos da Encíclica Spe Salvi, sobre a esperança cristã. O Papa Bento, afirmou que mensagem cristã não era só «informativa», mas «performativa». Significa que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida. Quem tem esperança, afirmava Bento XVI, vive diversamente porque foi lhe dada uma vida nova. A Boa notícia da Ressurreição de Cristo nos faz enxergar a vida com outros olhos e renova todo o nosso viver.

Nesse contexto, da comunicação da mensagem cristã, de uma informação não só funcional, atualizamos esse pensamento de Bento XVI com o Jubileu dos comunicadores com o Papa Francisco, no início desse ano. Ao considerar o território da comunicação mais amplo do que o da informação, o Papa Francisco se liga idealmente àquele que, na esteira do Concílio, foi o promotor das Jornadas Mundiais das Comunicações Sociais: São Paulo VI.

De fato, o Papa Montini - embora bem ciente do quanto a mídia influencia a vida das pessoas e da própria Igreja - queria que o evento anual fosse dedicado a todos os operadores da comunicação, não apenas aos profissionais da mídia. Assim como para seu amado predecessor, a comunicação para Francisco não é apenas um ato funcional. É a “matéria-prima” da existência humana, pois o homem é uma criatura amada por Deus, que se comunica com ele desde o início. De coração a coração. Toda comunicação humana está, portanto, inserida no círculo da comunicação divina. De fato, desde o início de seu pontificado, Jorge Mario Bergoglio sempre enfatizou a importância da comunicação “com o coração”. Para o Santo Padre, é esta palavra que sintetiza todas as mensagens publicadas nos últimos anos para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, pois implica a coragem para ouvir com o coração, falar com o coração, custodiar a sabedoria do coração, compartilhar a esperança do coração. “Por isso, gostaria de acrescentar ao meu apelo pela liberação dos jornalistas outro ‘apelo’ que diz respeito a todos nós: o da “liberação” da força interior do coração. De cada coração!” Ser jornalista, afirmou o Papa, é mais do que uma profissão. É uma vocação e uma missão, com uma responsabilidade peculiar e uma tarefa preciosa. A linguagem utilizada pode acender ou apagar a esperança, pode dar voz aos marginalizados. A propósito, Francisco pediu que seja garantida a liberdade de imprensa e de pensamento, pois a “informação livre, responsável e correta é um patrimônio” a ser preservado e promovido. Foi desta forma que o Sumo Pontífice se dirigiu aos comunicadores no Jubileu dos comunicadores em Roma, no mês de janeiro.”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O Pacto com a Serpente (III)

Imortais caindo no abismo , do livro de Urizen , William Blake, 1794 | 30Giorni

Arquivo 30Dias n. 04/05 - 2011

O Pacto com a Serpente

A Serpente, a tentadora, aparece sob a forma do libertador, daquele que eleva o homem além do bem e do mal, além da "lei", além do Deus antigo, inimigo da liberdade.
Os últimos duzentos anos redescobriram o princípio libertador do mundo afirmado pela seita dos ofitas, um princípio vislumbrado pela concepção sabatiana com seu Messias entregue às serpentes.

por Massimo Borghesi

Conclusão

A teosofia moderna dos opostos, fundada na doutrina hermética da coincidentia oppositorum , leva a uma união perturbadora entre o divino e o diabólico, leva à ideia do Diabo em Deus. «A ideia gnóstica fundamental de que as contradições são polaridades está em ação em todos os lugares», escreveu Romano Guardini em 1964, «Goethe, Gide, CG Jung, Th. Mann, H. Hesse… Todos veem o mal, o negativo […] como elementos dialéticos na totalidade da vida, da natureza» 49 . Essa atitude, para Guardini, «já se manifesta em tudo o que se chama gnose, na alquimia, na teosofia. Ela se apresenta de forma programática com Goethe, para quem o satânico entra até em Deus, o mal é a força original do universo tão necessária quanto o bem, a morte é apenas mais um elemento desse todo, cujo polo oposto se chama vida. Esta opinião foi proclamada em todas as formas e concretizada no campo terapêutico por CG Jung» 50 .

A ideia básica é que a redenção vem através da degradação, a graça através do pecado, a vida através da morte, o prazer através da dor, o êxtase através da perversão, o divino através do diabólico. O fascínio que o negativo – metáfora do demoníaco – exerce sobre a cultura contemporânea depende desta ideia singular: que os caminhos para o paraíso passam pelo inferno, que a “descida ao Hades e a ressurreição” são uma só 51 .

Entregar-se ao diabo, numa singular transposição gnóstica da ideia de que perder-se é encontrar-se, é abrir-se a Deus. Nessa união “sagrada” Satanás e Deus se unem no homem. É a “identidade de Sade e dos místicos” 52 esperada por Georges Bataille. Para ela, o caminho para baixo coincide com o caminho para cima. Fausto não pode mais se arrepender, nem mesmo na hora da morte. O Adversário se tornou cúmplice, “parte” de Deus. É o caminho para se tornar deus . A emoção do nada, da descida ao Inferno, acompanha a descoberta do Ser, de Abraxas, o pleroma sem rosto que permanece, imóvel, no devir do mundo.

Nota:

49 R. Guardini, Diário. Notas e textos de 1942 a 1964 , tr. it., Brescia 1983, p. 245.
50 R. Guardini, Cartas teológicas a um amigo , tr. it., Milão 1979, p. 63.
51 E. Zolla, Descida ao Hades e Ressurreição , Milão 2002.
52 G. Bataille, Fragmentos sobre William Blake, tr. it., em: Poemas Selecionados de William Blake , op. cit., pág. 163.

Fonte: https://www.30giorni.it/

A fé somente um sentimento?

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Paulo Teixeira - publicado em 23/03/25

Mais do que um sentimento ou um conjunto de crenças, a fé é um dom de Deus para que as pessoas possam viver de maneira plena a vida.

Resposta

“Quando professamos a nossa fé, começamos por dizer: ‘Creio’, ou ‘Cremos’. Portanto, antes de expor a fé da Igreja, tal como é confessada no Credo, celebrada na liturgia, vivida na prática dos mandamentos e na oração, perguntemos a nós mesmos o que significa ‘crer’. A fé é a resposta do homem a Deus, que a ele Se revela e Se oferece, resposta que, ao mesmo tempo, traz uma luz superabundante ao homem que busca o sentido último da sua vida”

(Catecismo da Igreja Católica, 26).

Fé e razão

“Compreende-se que, num mundo dividido em tantos campos de especializações, se torne difícil reconhecer aquele sentido total e último da vida que tradicionalmente a filosofia procurava. Mas nem por isso posso, à luz da fé que reconhece em Jesus Cristo tal sentido último, deixar de encorajar os filósofos, cristãos ou não, a terem confiança nas capacidades da razão humana e a não prefixarem metas demasiado modestas à sua investigação filosófica. A lição da história deste milênio, quase a terminar, testemunha que a estrada a seguir é esta: não perder a paixão pela verdade última, nem o anseio de pesquisa, unidos à audácia de descobrir novos percursos. É a fé que incita a razão de sair de qualquer isolamento e a abraçar de bom grado qualquer risco por tudo o que é belo, bom e verdadeiro. Deste modo, a fé torna-se advogada convicta e convincente da razão”

 (Fides et ratio, 56).

Testemunho

“O professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um fato privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele. E este ‘estar com Ele’ introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita. A fé, precisamente porque é um ato da liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita. No dia de Pentecostes, a Igreja manifesta, com toda a clareza, esta dimensão pública do crer e do anunciar sem temor a própria fé a toda a gente. É o dom do Espírito Santo que prepara para a missão e fortalece o nosso testemunho, tornando-o franco e corajoso” 

(Porta fidei, 10).

Construção

“A fé não afasta do mundo, nem é alheia ao esforço concreto dos nossos contemporâneos. Sem um amor fiável, nada poderia manter verdadeiramente unidos os homens: a unidade entre eles seria concebível apenas enquanto fundada sobre a utilidade, a conjugação dos interesses, o medo, mas não sobre a beleza de viverem juntos, nem sobre a alegria que a simples presença do outro pode gerar. A fé faz compreender a arquitetura das relações humanas, porque identifica o seu fundamento último e destino definitivo em Deus, no seu amor, e assim ilumina a arte da sua construção, tornando-se um serviço ao bem comum. Por isso, a fé é um bem para todos, um bem comum: a sua luz não ilumina apenas o âmbito da Igreja nem serve somente para construir uma cidade eterna no além, mas ajuda também a construir as nossas sociedades de modo que caminhem para um futuro de esperança” 

(Lumen fidei, 51).

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/03/23/a-fe-somente-um-sentimento

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF