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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O rosto de São Paulo: às vezes homem, às vezes anjo

A reconstrução do rosto de São Paulo

Na festa da sua conversão, nesta segunda-feira, 25 de janeiro, um projeto conjunto entre o Departamento de Arqueologia Sacra da Academia Brasileira de Hagiologia (ABRHAGI) e uma artista espanhola revela a reconstrução do rosto de São Paulo. A aparência do Apóstolo “está em perfeita harmonia com a única descrição disponível”, encontrada nos Atos de Paulo e Tecla, e segundo o ícone mais antigo encontrado em junho de 2009 nas catacumbas de Santa Tecla, em Roma. "A pesquisa e os recursos da técnica podem ajudar a proporcionar uma imagem aproximada daquele homem de rosto muito marcante, olhar incisivo e presença envolvente", comentou o cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo.

Andressa Collet – Vatican News

O 25 de janeiro é de aniversário da cidade de São Paulo e de também de festa para o Estado e arquidiocese que festejam o seu padroeiro. Na Solenidade da Conversão de São Paulo Apóstolo, a Igreja no mundo recorda o dia em que – o então chamado Saulo, seu nome original – alcançou a conversão, a caminho de Damasco: Jesus o transformou de perseguidor dos cristãos ao maior Apóstolo do seu Evangelho. Segundo o cardeal Odilo Pedro Scherer, "São Paulo é muito inspirador para a nossa Igreja, pelo seu imenso amor a Cristo e ao Evangelho, seu ardor missionário e sua capacidade de perseverar na missão, apesar de tantos contratempos e sofrimentos".

O ícone mais antigo de São Paulo

Nascido na cidade de Tarso, na Cilícia, atual Turquia, Saulo aparentava ser um jovem baixo e magro, com feições morenas e de olhos escuros. Com a conversão, viajou o mundo, evangelizando e sendo perseguido, tanto que foi martirizado em Roma. As relíquias se encontram na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Já o ícone mais antigo do apóstolo foi encontrado há pouco mais de 10 anos também na capital italiana, como explica o especialista em relíquias da Arquidiocese de São Paulo, Fábio Tucci Farah, que também é um dos fundadores do Departamento de Arqueologia Sacra da Academia Brasileira de Hagiologia (ABRHAGI): 

“Em junho de 2009, o L’Osservatore Romano divulgou uma descoberta extraordinária nas catacumbas de Santa Tecla: o ícone mais antigo de São Paulo, datado entre o final do século quarto e início do quinto. Abaixo de uma espessa camada removida por laser, especialistas da Pontifícia Academia Romana de Arqueologia descobriram o afresco de um homem calvo de rosto magro e comprido, barba escura, nariz avantajado. Embora São Paulo possua uma vasta – e variada – iconografia, o ícone descoberto nas catacumbas de Santa Tecla está em perfeita harmonia com a única descrição disponível de sua aparência, encontrada nos Atos de Paulo e Tecla, um texto apócrifo que remonta, possivelmente, ao século segundo. Nele, São Paulo aparece como um homem de pequena estatura, com as sobrancelhas unidas, careca, de pernas arqueadas, olhos encovados e um grande nariz aquilino."

“Com poesia: às vezes, parecia um homem. Às vezes, um anjo.”

E foi justamente com essas características e com o afresco encontrado nas catacumbas que Farah e a artista espanhola, Gyrleine Costa, recriaram o rosto de São Paulo. O projeto segue as linhas de trabalho já desenvolvidas para representar o retrato artístico de Santa Joana d’Arc e a reconstrução facial artística de São Tiago Zebedeu, um dos apóstolos mais próximos de Jesus e testemunha de Sua Transfiguração. O especialista brasileiro, então, dá detalhes da nova criação:

“Para esse trabalho, também levamos em consideração algumas características étnico-raciais, o modo de vida de São Paulo e, claro, a personalidade que salta de suas inúmeras epístolas. Não queríamos simplesmente apresentar o retrato de um fariseu de Tarso, que percorreu milhares de quilômetros como missionário, no século I. Nosso objetivo era apresentar um homem com semblante de anjo que falasse às pessoas do século XXI. Um missionário que, passados quase dois milênios, ainda encanta a plateia.”

Projeto em parceria com o Museu de Arte Sacra de SP

Segundo o arcebispo de São Paulo, "conhecer melhor a sua figura humana é um desejo natural, embora ele tenha vivido em tempos ainda desprovidos dos recursos fotográficos, hoje tão comuns e acessíveis a todos em nossos dias. No entanto, a pesquisa e os recursos da técnica podem ajudar a proporcionar uma imagem aproximada daquele homem de rosto muito marcante, olhar incisivo e presença envolvente".

O especialista em relíquias revela, assim, em primeira mão, que a reconstrução facial de São Paulo faz parte de um projeto que está sendo desenvolvido em parceria com o Museu de Arte Sacra de São Paulo chamado “A Verdadeira Face dos Apóstolos de Cristo”. Oportunamente, o trabalho vai ganhar uma exposição para apresentar a reconstrução artística do rosto de todos os apóstolos. 

Vatican News

Papa adverte que a salvação não é automática, requer nossa conversão

Papa Francisco na oração do Ângelus na biblioteca.
Foto: Vatican Media

Vaticano, 24 jan. 21 / 09:32 am (ACI).- Durante a oração do Ângelus neste domingo, 24 de janeiro, o Papa Francisco advertiu que "a salvação não é automática", mas é um dom de amor que exige uma resposta livre e nossa conversão.

Ao refletir sobre a passagem do Evangelho de São Marcos deste terceiro domingo do tempo comum (Mc 1,14-20), que relata quando Jesus Cristo disse “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho”, o Santo Padre sublinhou que“ Jesus não usou meias palavras”, mas antes dirigiu uma mensagem “que nos convida a refletir sobre dois temas essenciais: o tempo e a conversão”.

“A salvação não é automática; a salvação é um dom de amor e como tal oferecido à liberdade humana. Quando se fala de amor, se fala de liberdade: um amor sem liberdade não é amor, pode ser interesse, pode ser medo, muitas coisas, mas o amor é sempre livre e como tal, requer uma resposta livre: requer conversão”, disse o Papa.

Nesse sentido, o Santo Padre destacou que conversão é “mudar a mentalidade e mudar a vida: não mais para seguir os modelos do mundo, mas o de Deus, que é Jesus, seguir Jesus, como Jesus fez e como Jesus nos ensinou".

“Esta é uma mudança decisiva de visão e atitude. De fato, o pecado trouxe ao mundo uma mentalidade que tende à afirmação contra os outros e até contra Deus”, advertiu.

Por isso, o Papa alertou para o perigo da “mentalidade do engano, que tem sua origem no pai do engano, no grande mentiroso, o diabo, o pai da mentira, é assim que Jesus o define”.

Deste modo, o Santo Padre convidou a “reconhecer nossa necessidade de Deus e de sua graça; a ter uma atitude equilibrada em relação aos bens terrenos; a sermos acolhedores e humilde para com todos; a conhecer e a realizar-nos no encontro e no serviço aos outros", porque "para cada um de nós, o tempo em que podemos acolher a redenção é curto: é a duração de nossa vida neste mundo".

Em seguida, o Papa relatou uma ocasião em que administrou o Sacramento da Unção dos Enfermos a um idoso que lhe disse "minha vida voou, eu acreditava que era eterna" e acrescentou que é isso que "nós, os idosos, sentimos".

“A vida é um dom do amor infinito de Deus, mas é também um momento para verificar nosso amor por Ele. Portanto, cada momento, cada instante de nossa existência é um tempo precioso para amar a Deus e ao próximo, e assim entrar na vida eterna”, acrescentou o Papa.

Neste sentido, o Santo Padre sublinhou que “cada vez, cada fase tem seu próprio valor e pode ser um momento privilegiado de encontro com o Senhor” e acrescentou que “a fé nos ajuda a descobrir o significado espiritual destes tempos: cada um deles contém um chamado particular do Senhor, ao qual podemos dar uma resposta positiva ou negativa”.

Assim, o Papa recordou o exemplo da resposta de Simão, André, Tiago e João que “eram homens maduros, tinham o seu trabalho como pescadores, tinham vida familiar... E, no entanto, quando Jesus passou e os chamou, eles imediatamente deixaram as redes e o seguiram”.

“Queridos irmãos e irmãs, estejamos atentos e não deixemos Jesus passar sem recebê-lo. Santo Agostinho dizia: 'Tenho medo de Deus quando passa'. Medo de quê? De não o reconhecer, de não o ver, de não o receber”, afirmou o Papa.

Por fim, o Santo Padre rezou para que a Virgem Maria “nos ajude a viver cada dia, cada momento como um tempo de salvação, no qual o Senhor passa e nos chama a segui-lo. Cada um de acordo com sua própria vida. E que a Virgem nos ajude a converter da mentalidade do mundo, aquelas fantasias do mundo que são fogos de artifício, para a do amor e do serviço ”.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

ACI Digital

CONVERSÃO DO APÓSTOLO PAULO

Conversão do apóstolo Paulo, Fra Angelico 

«Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada? De acordo com o que está escrito: por sua causa somos mortos todos os dias, fomos reputados como ovelhas para abate. Mas em todas estas coisas nos esforçamos pela graça d’Aquele que nos amou. Eu estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos, nem os poderes, nem coisas presentes, nem o futuro, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus por nós em Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rm 8, 35-39).

O Senhor é paciente e a sua graça se manifesta de muitas maneiras e em muitos lugares. Ele esperou Saulo no caminho de Damasco para mudar seu coração e torná-lo Santo e um de seus Apóstolos mais fiéis; abraçou-o com sua Luz e sua Voz enquanto ele galopava rumo à cidade, onde se refugiavam muitos cristãos, que o Sumo Sacerdote o havia autorizado a expulsar.

Fariseu de nascimento e defensor da ortodoxia

Saulo era judeu, pertencente à seita dos fariseus, a mais rigorosa. Por isso, para ele, que se formou na escola de Gamaliel, era muito natural transformar a mais fiel observância da lei mosaica na mais terrível perseguição dos primeiros cristãos. Depois de expulsá-los de Jerusalém, decidiu expulsá-los até de Damasco, onde haviam se escondido. O Senhor o esperava bem ali.

Encontro com Jesus

Ao cair do cavalo, Saulo teve medo daquela força misteriosa e perguntou: "Quem é você?". E ouviu: "Aquele Jesus que você persegue". E perguntou ainda: "Senhor, o que quer que eu faça?". E lhe respondeu de novo: "Vá a Damasco e lá lhe mostrarei a minha vontade". Assim, cego e mudo, mas com espírito renovado, chegou a Damasco, onde ficou três dias em jejum e oração constante, até a chegada do sacerdote Ananias - outro Santo que a Igreja também celebra hoje - que o batizou no amor de Cristo e lhe deu, novamente, não apenas a visão dos olhos, mas também a do coração.

Evangelização no caminho

Paulo começou a sua pregação precisamente em Damasco, para depois continuar em Jerusalém. Ali, encontrou-se com Pedro e com os outros apóstolos. No início, os apóstolos estavam desconfiados, mas, depois, o acolheram entre eles e lhe falaram longamente sobre Jesus.
Em seguida, Paulo voltou para Tarso, sua cidade natal, onde continuou sua obra de evangelização, defrontando-se sempre com a perplexidade de muitos, judeus e cristãos, pela sua mudança de vida.
Por fim, Paulo deixou Tarso e se deslocou para Antioquia, onde manteve contato com a comunidade local. Ele foi o primeiro e verdadeiro missionário da história, que sentiu a necessidade de levar a Palavra a todos os povos. Desde então, ninguém pôde separá-lo do amor de Cristo.

Vatican News

domingo, 24 de janeiro de 2021

Da Constituição Sacrossanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II

Imagem: Editora Cléofas

Da Constituição Sacrossanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, do Concílio Vaticano II

(N.7-8.106)                 (Séc.XX)

Cristo sempre presente em sua Igreja

Cristo está sempre presente em sua Igreja, principalmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois quem o oferece agora, através do ministério dos sacerdotes, é aquele mesmo que se ofereceu na cruz, como, mais intensamente ainda, sob as espécies eucarísticas. Está presente pela sua virtude nos sacramentos, pois quando alguém batiza é Cristo quem batiza. Está presente por sua palavra, pois é ele quem fala, quando se lê a Sagrada Escritura na Igreja. Está presente, enfim, na oração e salmodia da Igreja, ele que prometeu: Onde dois ou três se reúnem em meu nome, aí estou no meio deles.

De fato, nesta obra tão grandiosa em que Deus é perfeitamente glorificado e santificados os homens, Cristo une estreitamente a si sua esposa diletíssima, a Igreja, que invoca seu Senhor e, por ele, presta culto ao eterno Pai.

Portanto, com razão, considera-se a liturgia como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, onde os sinais sensíveis significam e, do modo específico a cada um, realizam a santificação do homem. Assim, pelo Corpo místico de Jesus Cristo, isto é, sua Cabeça e seus membros, se perfaz o culto público integral. Por este motivo, toda celebração litúrgica, por ser ato do Cristo sacerdote e de seu Corpo, a Igreja, é a ação sagrada por excelência, cuja eficácia nenhuma outra obra da Igreja iguala no mesmo título e grau.

Participando da liturgia terrena saboreamos antecipadamente a liturgia que se celebra na santa cidade, a Jerusalém celeste, para onde nos dirigimos como peregrinos, lá onde Cristo se assenta à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo. Juntamente com todos os exércitos celestes, cantamos hinos de glória ao Senhor. Venerando a memória dos santos, esperamos ter parte em sua companhia. Finalmente, estamos na expectativa do Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo, que aparecerá, Ele, nossa vida, e nós também apareceremos com Ele na glória.

A Igreja, seguindo a tradição dos apóstolos cuja origem remonta ao próprio dia da ressurreição, celebra o mistério pascal cada oito dias, que por isto se chama dia do Senhor ou domingo. Neste dia devem os fiéis reunir-se para escutar a palavra de Deus e participar da eucaristia, a fim de se lembrarem da paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus, dando graças a Deus que os recriou para a esperança viva pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos. Assim é o domingo a festa primordial e, como tal, seja apresentado e inculcado à piedade dos fiéis para que se lhes torne dia de alegria e de descanso dos trabalhos. Todas as outras celebrações, a não ser que sejam realmente de máxima importância, não passem à sua frente porque é o fundamento e o cerne de todo o ano litúrgico.

https://liturgiadashoras.online/

Nas pegadas de Jesus Cristo, devemos seguir firmes

Foto Ilustrativa: Bruno Marques/cancaonova.com

A fé em Jesus nos leva a vivermos como Ele viveu; e a maneira de Jesus viver é totalmente contrária ao modelo de vida que nos é apresentado pelo mundo tão conturbado. Somos convidados a sermos testemunhas fiéis na fé, na caridade, no bom exemplo cristão, porque “O Bem nunca Muda”. Por isso, durante este espaço da vida que temos aqui na Terra, precisamos ser adestrados no amor. Assim como aprendemos a cantar cantando, a nadar nadando, a tocar violão tocando, também se aprende amar amando.

Por isso Deus nos pôs ao lado uns dos outros e nos fez família. Suscitou no coração de cada um de nós a capacidade de amar. Na vida, há momentos de luz e de sombras: às vezes, tudo parece claro; outras vezes, não se vê bem quase nada. Nossa fé passa também por períodos contrastantes que até se alternam num ciclo de presença e de ausência. Trata-se de uma pedagogia da vida, do próprio mistério de Deus que se dá a conhecer, mas nos indica que Ele se ausenta sem deixar de estar presente. Esse aparente paradoxo traz consigo uma possibilidade de nos fazer crescer na fé. Para quem crê, não é difícil descobrir a misteriosa, mas real presença de Cristo.

Como caminhar seguindo os passos de Jesus?

Caminhar nas pegadas de Jesus, hoje, é ser chamado a uma vida comunitária, como resistência contra-cultural, enraizada no silêncio, na solidão e na oração, em solidariedade com todos, especialmente os mais pobres de nossa sociedade. Assim como as plantas não crescem se puxarmos suas folhas, mas ao contrário, só crescerão quando as regarmos e oferecemos o calor do sol e uma terra fértil, assim também somos nós. Ninguém cresce se não encontrar um ambiente que ofereça gratuitamente amor declarado, presença sincera, verdade amorosa, vibrante encorajamento. É dessa forma que fazemos com que plantas e pessoas cresçam tornando-se tudo o que possuem como semente.

Eduardo Rocha Quintella
Fraternidade S. J. da Cruz OCDS-BH Adorador noturno Boa Viagem

Portal Canção Nova

PAIS DA IGREJA: Catequeses Mistagógicas (Parte 8/8)

São Cirilo de Jerusalém (313-350)

Catequeses Mistagógicas

VI.6 O Pater

11. Depois disso, tu dizes aquela oração que o Salvador transmitiu aos discípulos, atribuindo a Deus, com pura consciência, o nome de Pai e dizes: «Pai nosso, que estás nos céus». Ó incomensurável benignidade de Deus! Aos que o tinham abandonado e jaziam em extremos males, é concedido o perdão dos males e a participação da graça, a ponto de ser invocado como Pai. Pai nosso que estás nos céus. 1 Os céus poderiam bem ser os que portam a imagem do celestial, nos quais Deus habita e vive.

12. «Santificado seja teu nome». Santo é por natureza o nome de Deus, quer o digamos ou não. Mas uma vez que naqueles que pecam por vezes é profanado, segundo o que se diz: «Por vós meu nome é continuamente blasfemado entre as nações», oramos que em nós o nome de Deus seja santificado. Não que por não ser santo chegue a sê-lo, mas porque em nós ele se torna santo quando nos santificamos e praticamos obras dignas de santificação.

13. «Venha o teu reino». É próprio de uma alma pura dizer com confiança: «Venha o teu reino». Quem ouviu Paulo dizer: «Que o pecado não reine em vosso corpo mortal» e se purificar em obra, pensamento e palavra, dirá a Deus: «Venha o teu reino».

14. «Seja feita a tua vontade, assim no céu como na terra». Os divinos e bem-aventurados anjos de Deus fazem a vontade de Deus, como Davi dizia no salmo: «Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos, heróis poderosos, que executais sua palavra». Rezando, pois, com vigor, dize isto: como nos anjos se faz a tua vontade, Senhor, assim na terra se faça em mim.

15. «Nosso pão substancial dá-nos hoje». O pão comum não é substancial. Mas este pão é substancial, pois se ordena à substância da alma. Este pão não vai ao ventre nem é lançado em lugar escuso mas se distribui sobre todo o organismo, em proveito da alma e do corpo. O «hoje» equivale a dizer de «cada dia» , como também dizia Paulo: «Enquanto perdura o hoje».

16. «E perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores». Temos muitos pecados. Caímos, pois, em palavra e em pensamento e fazemos muitas coisas dignas de condenação. «E se dissermos que não temos pecado, mentimos», como diz João. Fazemos com Deus um pacto pedindo-lhe nos perdoe nossos pecados como também nós perdoamos ao próximo suas dívidas. Tendo presente, portanto, o que recebemos em troca do que damos, não sejamos negligentes, nem deixemos de perdoar uns aos outros. As ofensas que se nos fazem são pequenas, simples, fáceis de reconciliar. As que nós fazemos a Deus são enormes e temos necessidade só de sua benignidade. Cuida, então, que por faltas pequenas e simples contra ti não te excluas do perdão, por parte de Deus, dos pecados gravíssimos.

17. «E não nos induzas em tentação», Senhor. Porventura com isto o Senhor nos ensina a pedir que de modo algum sejamos tentados? Como se encontra em outro lugar: «Aquele que foi tentado não tem experiência» e ainda: «Tende por suma alegria, meus irmãos, se cairdes em diversas provações»? Mas jamais entrar em tentação é o mesmo que ser submerso por ela. A tentação, pois, se assemelha a uma torrente difícil de atravessar. Os que, então, não são submersos nas tentações, atravessam, como bons nadadores, sem serem arrastados pela corrente. Os que não são assim, uma vez que entram, são submersos. Assim, por exemplo, Judas, entrando na tentação da avareza, não passou a nado, mas, submergindo, afogou-se corporal e espiritualmente. Pedro entrou na tentação de negação, mas, tendo entrado, não submergiu; antes, nadando com vigor, se salvou da tentação.

Escuta novamente, em outro lugar, o coro dos santos todos rendendo graças por terem sido subtraídos à tentação: «Tu nos provaste, ó Deus, acrisolaste-nos como se faz com a prata. Deixaste-nos cair no laço; carga pesada puseste em nossas costas; submeteste-nos ao jugo dos tiranos. Passamos pelo fogo e pela água, mas tu nos conduziste ao refrigério». Tu os vês falar abertamente de sua travessia sem serem vencidos? «Tu nos conduziste ao refrigério». Chegar ao refrigério é ser livrado da tentação.

18. «Mas livra-nos do Mal». Se a expressão «não nos induzas em tentação» significasse não sermos de modo algum tentados, não se diria: «Mas livra-nos do Mal». O Mal é o demônio, nosso adversário, do qual pedimos ser libertos.

Depois, terminada a prece, dizes: «amém», selando com este amém – que significa «faça-se» – o que se contém na oração ensinada por Deus.

VI.7 Comunhão

19. Depois disso, diz o sacerdote: «As coisas santas aos santos». As coisas são as oferendas aí colocadas, pois receberam a vinda do Espírito Santo. Santos sois também vós, julgados dignos do Espírito Santo. As coisas santas, então, convêm aos santos. Em seguida vós dizeis: «Um é o santo, um o Senhor, Jesus Cristo». Verdadeiramente um é o santo, santo por natureza. Nós, porém, se santos, o somos não pela natureza, mas pela participação, ascese e prece.

20. Depois dessas coisas, ouvis o cantor que, com uma melodia divina, vos convida à comunhão dos santos mistérios, dizendo: «Provai e vede como o Senhor é bom». Não confieis o julgamento ao gosto corporal, mas à fé inabalável. Pois provando não provais pão e vinho, mas o corpo e sangue de Cristo que aqueles significam.

21. Ao te aproximares [da comunhão], não vás com as palmas das mãos estendidas, nem com os dedos separados; mas faze com a mão esquerda um trono para a direita como quem deve receber um Rei e no côncavo da mão espalmada recebe o corpo de Cristo, dizendo: «Amém». Com segurança, então, santificando teus olhos pelo contato do corpo sagrado, toma-o e cuida de nada se perder. Pois se algo perderes é como se tivesses perdido um dos próprios membros. Dize-me, se alguém te oferecesse lâminas de ouro, não as guardarias com toda segurança, cuidando que nada delas se perdesse e fosses prejudicado? Não cuidarás, pois, com muito mais segurança de um objeto mais precioso que ouro e pedras preciosas, para dele não perderes uma migalha sequer?

22. Depois de teres comungado o corpo de Cristo, aproxima-te também do cálice do seu sangue. Não estendas as mãos, mas inclinando-te, e num gesto de adoração e respeito, dize «amém». Santifica-te também tomando o sangue de Cristo. E enquanto teus lábios ainda estão úmidos, roça-os de leve com tuas mãos e santifica teus olhos, tua fronte e teus outros sentidos. Depois, ao esperares as orações [finais], rende graças a Deus que te julgou digno de tamanhos mistérios.

23. Conservai inviolavelmente essas tradições e vós mesmos guardai-vos sem ofensa. Não vos separeis da comunhão nem pela mancha do pecado vos priveis desses santos e espirituais mistérios.

«O Deus da paz santifique-vos completamente.
Conserve-se inteiro o vosso espírito,
e a vossa alma e o vosso corpo sem mancha,
para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo»,
a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.»

Mais sobre São Cirilo de Jerusalém em SOPHIA..

FONTES DA CATEQUESE / 12 - Coordenador: Frei Alberto Beckhäuser, O.F.M.

SÃO CIRILO DE JERUSALÉM - CATEQUESES MISTAGÓGICAS

Tradução de Frei Frederico Vier, O.F.M. - Introdução e notas de Frei Fernando Figueiredo, O.F.M. - Petrópolis, Editora Vozes Ltda., 1977

ECCLESIA

Senado francês revoga lei que facilitava o aborto e acabava com a objeção de consciência

Senado francês | InfoCatólica
Senadores anulam lei aprovada pela Assembleia Nacional que visava expandir facilidade para a realização do aborto que, na França, chegou a 230 mil em 2019: um aborto a cada três nascimentos.

Redação (23/01/2021, 13:45, Gaudium Press) O Senado da França votou a favor de uma proposta que anula lei aprovada pela Assembleia Nacional que estendia e facilitava casos de realização do aborto.

Na votação da moção que rejeitou a lei aprovada há meses pela Assembleia Nacional, 201 senadores votaram a favor e 142 contra.

O projeto de lei agora anulado visava estender o período do aborto de 12 para 14 semanas, abolir o período de reflexão de dois dias em caso de sofrimento psicossocial, eliminar a cláusula de consciência específica para médicos e enfermeiras e, por fim, estender a possibilidade de as parteiras realizarem abortos até a décima semana de gestação.

Destaques de pronunciamentos de senadores durante a votação

A senadora Florence Lassarade destacou que “o estágio de 12 semanas não foi determinado por acaso, é nessa época que o embrião se torna um feto”. A senadora observou que com 14 semanas é possível determinar 99% do sexo do bebê.

Já o senador Pierre Charon afirmou em seu pronunciamento durante a discussão que “o alongamento da demora judicial é a manifestação de uma falha nas políticas de saúde. Na verdade, o número de abortos é impressionante.”

Ele afirmou que nesse sentido, a contracepção, há muito apresentada como meio de prevenção do aborto, falhou. Nesse sentido, o senador recordou que a própria Laurence Rossignol, promotora e defensora da lei agora rejeitada, afirmou: “3 em cada 4 abortos são realizados por mulheres que usam anticoncepcionais”.

Por sua vez, Colette Mélot denunciou: “230 mil abortos em 2019 é demais!” Em 2019, houve um aborto para cada 3 nascimentos na França. (JSG)

(Da Redação Gaudium Press, com informações e foto InfoCatólica)

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações 2021

Papa Francisco na Audiência Geral. Foto: Vaticano Media

Vaticano, 24 jan. 21 / 08:37 am (ACI).- A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou no sábado, 23 de janeiro, a mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que acontecerá no dia 16 de maio, Solenidade da Ascensão do Senhor, com o tema: “Vem e verás. Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”.

O tema do Dia Mundial das Comunicações de 2021 se baseia na passagem do Evangelho de São João (Jo 1, 46) e o Santo Padre quis “dedicar a Mensagem à chamada a ‘ir e ver’, como sugestão para toda a expressão comunicativa que queira ser transparente e honesta: tanto na redação dum jornal como no mundo da web, tanto na pregação comum da Igreja como na comunicação política ou social”.

O jornalismo “como exposição da realidade, requer a capacidade de ir aonde mais ninguém vai: mover-se com desejo de ver. Uma curiosidade, uma abertura, uma paixão. Temos que agradecer à coragem e determinação de tantos profissionais (jornalistas, operadores de câmara, editores, cineastas que trabalham muitas vezes sob grandes riscos), se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras esquecidas foram noticiadas”, escreveu o Papa.

A seguir o texto completo da mensagem do Papa Francisco:

 “Vem e verás” (Jo 1, 46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são

Queridos irmãos e irmãs!

O convite a «ir e ver», que acompanha os primeiros e comovedores encontros de Jesus com os discípulos, é também o método de toda a comunicação humana autêntica. Para poder contar a verdade da vida que se faz história (cf. Mensagem para o LIV Dia Mundial das Comunicações Sociais, 24 de janeiro de 2020), é necessário sair da presunção cómoda do «já sabido» e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las, recolher as sugestões da realidade, que nunca deixará de nos surpreender em algum dos seus aspetos. «Abre, maravilhado, os olhos ao que vires e deixa as tuas mãos cumular-se do vigor da seiva, de tal modo que os outros possam, ao ler-te, tocar com as mãos o milagre palpitante da vida»: aconselhava o Beato Manuel Lozano Garrido aos seus colegas jornalistas. Por isso, este ano, desejo dedicar a Mensagem à chamada a «ir e ver», como sugestão para toda a expressão comunicativa que queira ser transparente e honesta: tanto na redação dum jornal como no mundo da web, tanto na pregação comum da Igreja como na comunicação política ou social. «Vem e verás» foi o modo como a fé cristã se comunicou a partir dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia.

Gastar as solas dos sapatos

Pensemos no grande tema da informação. Há já algum tempo que vozes atentas se queixam do risco dum nivelamento em «jornais fotocópia» ou em noticiários de televisão, rádio e websites que são substancialmente iguais, onde os géneros da entrevista e da reportagem perdem espaço e qualidade em troca duma informação pré-fabricada, «de palácio», autorreferencial, que cada vez menos consegue intercetar a verdade das coisas e a vida concreta das pessoas, e já não é capaz de individuar os fenómenos sociais mais graves nemas energias positivas que se libertam da base da sociedade. A crise editorial corre o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua, sem «gastar a sola dos sapatos», sem encontrar pessoas para procurar histórias ou verificar com os próprios olhos determinadas situações. Mas, se não nos abrimos ao encontro, permanecemos espectadores externos, apesar das inovações tecnológicas com a capacidade que têm de nos apresentar uma realidade engrandecida onde nos parece estar imersos. Todo o instrumento só é útil e válido, se nos impele a ir e ver coisas que de contrário não chegaríamos a saber, se coloca em rede conhecimentos que de contrário não circulariam, se consente encontro que de contrário não teriam lugar.

Aqueles detalhes de crónica no Evangelho

Aos primeiros discípulos que querem conhecer Jesus, depois do seu Batismo no rio Jordão, Ele responde: «Vinde e vereis» (Jo 1, 39), convidando-os a permanecer em relação com Ele. Passado mais de meio século, quando João, já muito idoso, escreve o seu Evangelho, recorda alguns detalhes «de crónica» que revelam a sua presença no local e o impacto que teve na sua vida aquela experiência: «era cerca da hora décima», observa ele! Isto é, as quatro horas da tarde (cf. 1, 39). No dia seguinte (narra ainda João), Filipe informa Natanael do encontro com o Messias. O seu amigo, porém, mostra-se cético: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe não procura convencê-lo com raciocínios, mas diz-lhe: «vem e verás» (cf. 1, 45-46). Natanael vai e vê, e a partir daquele momento a sua vida muda. A fé cristã começa assim; e comunica-se assim: com um conhecimento direto, nascido da experiência, e não por ouvir dizer. «Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos…»: dizem as pessoas à Samaritana, depois de Jesus Se ter demorado na sua aldeia (cf. Jo 4, 39-42). O método «vem e verás» é o mais simples para se conhecer uma realidade; é a verificação mais honesta de qualquer anúncio, porque, para conhecer, é preciso encontrar, permitir à pessoa que tenho à minha frente que me fale, deixar que o seu testemunho chegue até mim.

Agradecimento pela coragem de muitos jornalistas

O próprio jornalismo, como exposição da realidade, requer a capacidade de ir aonde mais ninguém vai: mover-se com desejo de ver. Uma curiosidade, uma abertura, uma paixão. Temos que agradecer à coragem e determinação de tantos profissionais (jornalistas, operadores de câmara, editores, cineastas que trabalham muitas vezes sob grandes riscos), se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras esquecidas foram noticiadas. Seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes: um empobrecimento para a nossa humanidade.

Numerosas realidades do planeta – e mais ainda neste tempo de pandemia – dirigem ao mundo da comunicação um convite a «ir e ver». Há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico, de manter uma «dupla contabilidade». Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. Quem nos contará a expetativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, América Latina e África? Deste modo as diferenças sociais e económicas a nível planetário correm o risco de marcar a ordem da distribuição das vacinas anti-Covid, com os pobres sempre em último lugar; e o direito à saúde para todos, afirmado em linha de princípio, acaba esvaziado da sua valência real. Mas, também no mundo dos mais afortunados, permanece oculto em grande parte o drama social das famílias decaídas rapidamente na pobreza: causam impressão, mas sem merecer grande espaço nas notícias, as pessoas que, vencendo a vergonha, fazem a fila à porta dos centros da Cáritas para receber uma ração de víveres.

Oportunidades e insídias na web

A rede, com as suas inumeráveis expressões nos social, pode multiplicar a capacidade de relato e partilha: muitos mais olhos abertos sobre o mundo, um fluxo contínuo de imagens e testemunhos. A tecnologia digital dá-nos a possibilidade duma informação em primeira mão e rápida, por vezes muito útil; pensemos nas emergências em que as primeiras notícias e mesmo as primeiras informações de serviço às populações viajam precisamente na web. É um instrumento formidável, que nos responsabiliza a todos como utentes e desfrutadores. Potencialmente, todos podemos tornar-nos testemunhas de acontecimentos que de contrário seriam negligenciados pelos meios de comunicação tradicionais, oferecer a nossa contribuição civil, fazer ressaltar mais histórias, mesmo positivas. Graças à rede, temos a possibilidade de contar o que vemos, o que acontece diante dos nossos olhos, de partilhar testemunhos.

Entretanto foram-se tornando evidentes, para todos, os riscos duma comunicação social não verificável. Há tempo que nos demos conta de como as notícias e até as imagens sejam facilmente manipuláveis, por infinitos motivos, às vezes por um banal narcisismo. Uma tal consciência crítica impele-nos, não a demonizar o instrumento, mas a uma maior capacidade de discernimento e a um sentido de responsabilidade mais maduro, seja quando se difundem seja quando se recebem conteúdos. Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade: a ir, ver e partilhar.

Nada substitui o ver pessoalmente

Na comunicação, nada pode jamais substituir, de todo, o ver pessoalmente. Algumas coisas só se podem aprender, experimentando-as. Na verdade, não se comunica só com as palavras, mas também com os olhos, o tom da voz, os gestos. O intenso fascínio de Jesus sobre quem O encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios. Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-No falar. Com efeito, n’Ele – Logos encarnado – a Palavra ganhou Rosto, o Deus invisível deixou-Se ver, ouvir e tocar, como escreve o próprio João (cf. 1 Jo 1, 1-3). A palavra só é eficaz, se se «vê», se te envolve numa experiência, num diálogo. Por esta razão, o «vem e verás» era e continua a ser essencial.

Pensemos na quantidade de eloquência vazia que abunda no nosso tempo, em todas as esferas da vida pública, tanto no comércio como na política. «Fala muito, diz uma infinidade de nadas. As suas razões são dois grãos de trigo perdidos em dois feixes de palha. Têm-se de procurar o dia todo para os achar, e, quando se encontram, não valem a procura». Estas palavras ríspidas do dramaturgo inglês aplicam-se também a nós, comunicadores cristãos. A boa nova do Evangelho difundiu-se pelo mundo, graças a encontros pessoa a pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite – «vem e verás –, conquistados por um «extra» de humanidade que transparecia brilhou no olhar, na palavra e nos gestos de pessoas que testemunhavam Jesus Cristo. Todos os instrumentos são importantes, e aquele grande comunicador que se chamava Paulo de Tarso ter-se-ia certamente servido do e-mail e das mensagens eletrónicas; mas foram a sua fé, esperança e caridade que impressionaram os contemporâneos que o ouviram pregar e tiveram a sorte de passar algum tempo com ele, de o ver durante uma assembleia ou numa conversa pessoal. Ao vê-lo agir nos lugares onde se encontrava, verificavam como era verdadeiro e frutuoso para a vida aquele anúncio da salvação de que ele era portador por graça de Deus. E mesmo onde não se podia encontrar pessoalmente este colaborador de Deus, o seu modo de viver em Cristo era testemunhado pelos discípulos que enviava (cf. 1 Cor 4, 17).

«Nas nossas mãos, temos os livros; nos nossos olhos, os acontecimentos»: afirmava Santo Agostinho, exortando-nos a verificar na realidade o cumprimento das profecias que se encontram na Sagrada Escritura. Assim, o Evangelho volta a acontecer hoje, sempre que recebemos o testemunho transparente de pessoas cuja vida foi mudada pelo encontro com Jesus. Há mais de dois mil anos que uma corrente de encontros comunica o fascínio da aventura cristã. Por isso, o desafio que nos espera é o de comunicar, encontrando as pessoas onde estão e como são.

Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos,
e partir à procura da verdade.

Ensinai-nos a ir e ver,
ensinai-nos a ouvir,
a não cultivar preconceitos,
a não tirar conclusões precipitadas.

Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém,
a reservar tempo para compreender,
a prestar atenção ao essencial,
a não nos distrairmos com o supérfluo,
a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade.

Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo
e a honestidade de contar o que vimos.

Roma, em São João de Latrão, na véspera da Memória de São Francisco de Sales, 23 de janeiro de 2021.

ACI Digital

III Domingo do Tempo Comum - B

Dom Paulo Cesar Costa
Arcebispo de Brasília

O Reino de Deus está Próximo

A primeira leitura colocou diante de nós a pregação de Jonas. Jonas deve dirigir-se à grande cidade de Nínive. Ela é uma cidade pagã.  O centro da pregação do profeta é “ainda quarenta dias e Nínive será destruída” (Jonas 3,4).  Os ninivitas acreditam em Deus, fazem penitência e Deus salva a cidade. O livro de Jonas nos mostra que o amor de Deus não é exclusivo de Israel, mas aberto a todo homem e mulher que se voltam para Ele com o coração sincero, arrependendo-se de sua maldade, de seu pecado. Deus é paciente e espera do homem a conversão, a mudança de vida, de atitudes. Os “Quarenta dias” significam o tempo da paciência de Deus. Nínive, hoje, representa a grande cidade moderna na sua grande complexidade e que deve ser objeto da nossa evangelização, da nossa missão, onde o anúncio do amor de Deus deve encontrar cada ser humano.

O Evangelho nos apresenta Jesus, que, depois da prisão de João Batista, vai para a Galiléia pregando o Evangelho de Deus: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc1, 15). No Evangelho de São Marcos, grande parte do seu ministério, Jesus o desenvolve na Galiléia; ela é a pátria de Jesus.  É na Galiléia que Jesus coloca em movimento o anúncio do Reino de Deus. A expressão “Reino de Deus” quer dizer que chegou o tempo – e  este se dá com Jesus de Nazaré – em que Deus está reinando na história. Jesus, através dos seus gestos, milagres e da sua pregação, coloca em movimento o Reinado de Deus. O Reino de Deus é inseparável de Jesus Cristo.  Não é simplesmente a prática do bem, da justiça etc. O cristianismo não se resume simplesmente em uma ética, é seguimento de uma pessoa, Jesus Cristo. Na origem do caminho de fé, não está uma decisão ética, mas o encontro com a pessoa de Jesus Cristo que muda a vida, a existência, faz tomar rumos novos, caminhos novos.  Papa Francisco afirma que “Jesus Cristo é a descoberta fundamental, que pode fazer uma mudança decisiva na nossa vida, enchendo-a de significado”.

O Evangelho termina com o chamamento de alguns discípulos. Jesus os encontra onde eles estão. Estão no seu ambiente de trabalho, conduzindo a sua vida ordinária. Simão e André que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores; Tiago e João, filhos de Zebedeu, consertavam as redes. São chamados a se tornarem pescadores de homens. Eles seguiram Jesus. Jesus nos encontra onde estamos, nas situações concretas da vida, no dia-a-dia. Jesus não lhes oferece nenhuma segurança, nenhum projeto de vida. O chamado é para segui-lo. É num caminho de discipulado, é seguindo Jesus que vamos tomando as suas feições e nos tornando discípulos- missionários.

Seguir Jesus é a grande riqueza da nossa vida. Os ninivitas e os quatro primeiros discípulos de Jesus são exemplo de escuta obediente do anúncio da salvação. Ontem foram eles, hoje, somos nós. Que a escuta do Senhor, que continua nos falando hoje, molde o nosso coração de discípulos missionários.

Folheto: O Povo de Deus

Arquidiocese de Brasília

S. FRANCISCO DE SALES, BISPO DE GENEBRA, DOUTOR DA IGREJA, FUNDADOR DA ORDEM DA VISITAÇÃO, PADROEIRO DA IMPRENSA CATÓLICA

S. Francisco de Sales, Francisco Bayeu y Subìas 

Francisco nasceu em Thorens-Glières, França, em uma nobre e antiga família de Barões de Boisy, na província de Savoia. Estudou nos melhores colégios franceses e, para satisfazer o sonho de seu pai de seguir a profissão de Jurisprudência, estudou Direito na Universidade de Pádua, onde amadureceu certo interesse pela teologia. Ao formar-se, com o máximo das notas, regressou à França, em 1592, onde se escreveu na Ordem dos Advogados. Porém, seu grande desejo era ser padre, tanto que, no ano seguinte, em 18 de dezembro, foi ordenado sacerdote, com 26 anos de idade. Três dias depois, celebrou sua Primeira Missa. Nomeado arcipreste do Capítulo da Catedral de Genebra, Francisco manifestou seus dons zelo e caridade, diplomacia e equilíbrio.

Com o agravar-se do Calvinismo, ofereceu-se como voluntário para evangelizar a região de Chablais. Nas suas pregações, em busca do diálogo, depara-se com portas fechadas, neve, frio, fome, noites ao relento, emboscadas, insultos e ameaças. Então, aprofundou a doutrina de Calvino, para compreendê-la melhor e explicar as diferenças com o credo católico. Ao invés de recorrer só à pregação e ao debate teológico, criou um sistema de publicação, ou seja, fixar em lugares públicos ou levar de porta em porta folhetos impressos, com a explicação das verdades da fé, de modo simples e eficaz. As conversões não foram muitas, mas cessaram as hostilidades e os preconceitos contra o catolicismo.

A seguir, Francisco estabeleceu-se em Thonon, capital de Chablais, onde se dedicou, entre outras coisas, às visitas aos enfermos, às obras de caridade e aos encontros pessoais com os fiéis. Depois, pediu sua transferência para Genebra, cidade símbolo da doutrina Calvinista, com o desejo de atrair muitos fiéis para a Igreja católica.

Episcopado em Genebra e encontro com Francisca de Chantal

Em 1599, Francisco foi nomeado Bispo coadjutor de Genebra e, após três anos, a diocese passou completamente sob seus cuidados, com sede em Annecy. Ali, entregou-se totalmente, sem reservas: visitas às paróquias, formação do clero, reorganização dos mosteiros e conventos, maior dedicação à pregação, às catequeses e às iniciativas para os fiéis; com seu catecismo em forma de diálogo e sua perseverança e doçura na direção espiritual, conseguiu várias conversões.

Em março de 1604, durante uma pregação quaresmal em Dijon, conheceu Joana Francisca Fremyot de Chantal, com a qual instaurou uma grande amizade e uma profunda direção espiritual epistolar. Em 1608, dedicou-lhe um livro intitulado Filotea ou Introdução à vida devotaFilotea era o nome ideal de quem ama ou quer amar a Deus. Francisco escreveu este volume para resumir, em modo conciso e prático, os princípios da vida interior e ensinar a amar a Deus, com todo o coração e com todas as forças, na vida diária. Sua intenção era dar uma formação, plenamente cristã, a quem vivia no mundo e tinha tarefas civis e sociais. Esta sua obra teve um grande sucesso!

Fundação da Congregação da Visitação

A longa e intensa colaboração entre Francisco e Joana produziu grandes frutos espirituais, entre os quais a fundação da Congregação da Visitação de Santa Maria, em 1610, em Annecy, com a finalidade de visitar e socorrer os pobres.

Oito anos mais tarde, a Congregação tornou-se Ordem Contemplativa e as monjas foram chamadas Visitandinas. Francisco escreveu suas Constituições, inspiradas na regra de Santo Agostinho. No entanto, Joana de Chantal acrescentou-lhe a determinação de que as religiosas se dedicassem também à educação e instrução das crianças, especialmente de famílias abastadas.

Em 1616, Francisco escreveu Teotimo ou Tratado do amor de Deus, uma obra de extraordinário conteúdo teológico, filosófico e espiritual, como uma longa carta ao amigo “Teotimo” sobre a vocação essencial de cada homem: “viver é amar”. O texto indicava os melhores meios para um encontro pessoal com Deus.

Francisco de Sales faleceu no dia 28 de dezembro de 1622, em Lyon, com a idade de 52 anos. No ano seguinte, seus restos mortais foram trasladados para Annecy.

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF