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sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

'Convidamos um homem para passar o Natal em nossa casa

Ronnie Lockwood usando um chapéu de papel de Natal e Ronnie segurando Lloyd, filho de Rob e Dianne Parson, à mesa de Natal (Crédito: Rob Parsons)

'Convidamos um homem para passar o Natal em nossa casa. Ele ficou conosco por 45 anos'

Autor: Charlie Buckland

De BBC País de Gales

25 dezembro 2025

O Natal é frequentemente considerado uma época de boa vontade, mas o ato de bondade de um jovem casal britânico há 50 anos mudou suas vidas para sempre.

Em 23 de dezembro de 1975, Rob Parsons e sua esposa Dianne estavam se preparando para o Natal em sua casa em Cardiff, País de Gales, quando ouviram alguém bater à porta.

À porta da sua casa estava um homem com um saco do lixo contendo os seus pertences na mão direita e um frango congelado na esquerda.

Rob estudou o rosto do homem e lembrou-se vagamente dele como Ronnie Lockwood, alguém que ele via ocasionalmente na escola dominical quando era menino e com quem lhe diziam para ser gentil, pois ele era "um pouco diferente".

"Eu disse: 'Ronnie, o que é essa galinha?' Ele respondeu: 'Alguém me deu de presente de Natal'. Então eu disse uma palavra que mudou a vida de todos nós. E não sei bem por que as disse. Eu disse: 'Entre'."

Com apenas 27 e 26 anos na época, o casal sentiu-se compelido a acolher Ronnie, que era autista.

Eles prepararam frango para ele, deixaram-no tomar banho e concordaram em deixá-lo ficar para o Natal.

O que começou como um ato de compaixão transformou-se em uma amizade única, marcada pelo amor e pelo compromisso, que durou 45 anos, até o dia em que Ronnie faleceu.

Rob, agora com 77 anos, e Dianne, agora com 76, estavam casados havia apenas quatro anos quando receberam Ronnie em sua casa.

Ronnie tinha então quase 30 anos e estava sem casa desde os 15, vivendo em Cardiff e arredores e mudando constantemente de emprego — Rob às vezes o via em um clube juvenil que ele administrava.

Para que ele se sentisse o mais bem-vindo possível, pediram à família que lhe trouxesse um presente de Natal, qualquer coisa, desde um par de meias a perfumes.

"Agora consigo lembrar-me dele. Ele estava sentado à mesa de Natal, tinha aqueles presentes e chorava porque nunca tinha conhecido aquele tipo de sentimento de amor, sabe?", disse Dianne.

"Foi realmente incrível de se ver."

Ronnie, fotografado com Lloyd, filho de Rob e Dianne, no Natal, era muito prestativo ao ajudar com as crianças e costumava dizer: "Sou bom com crianças, sim" (Crédito: Rob Parsons)

O casal planejava deixá-lo ficar até o dia seguinte ao Natal, mas quando o dia chegou, eles não conseguiram expulsar Ronnie e procuraram orientação das autoridades.

O centro para sem-teto disse a eles que Ronnie precisava de um endereço para conseguir um emprego, disse Rob, mas "para conseguir um endereço, você precisa de um emprego".

"É esse o dilema em que se encontram muitos sem-teto."

Ronnie Lockwood tinha autismo e ficou sem teto depois de ser expulso de um centro de acolhimento aos 15 anos de idade (Crédito: Rob Parsons)

Colocado em um lar adotivo quando tinha apenas oito anos, Ronnie desapareceu de Cardiff aos 11 anos, disse Rob, e foi somente quando ele estava pesquisando para seu livro, A Knock on the Door, que descobriu o que aconteceu com ele.

Ele foi enviado para uma escola a 320 km de distância, referida num relatório como uma "escola para meninos com deficiência mental", e viveu lá durante cinco anos.

Ele não tinha amigos lá. Não tinha nenhum assistente social que o conhecesse. Não tinha professores que o conhecessem.

Rob disse que Ronnie costumava perguntar "eu fiz algo errado?", algo que eles acreditam que ele aprendeu durante o tempo que passou na escola.

"Ele sempre se preocupava em ter ofendido você ou feito algo errado."

Aos 15 anos, Ronnie foi mandado de volta para Cardiff "para nada", segundo eles.

Dianne diz que Ronnie "se revelou" ajudando com as crianças quando ela sofria de síndrome de fadiga crônica (Crédito: Rob e Dianne Parsons)

O casal disse que Ronnie era um pouco estranho no início, pois tinha dificuldade em fazer contato visual e mantinha a conversa ao mínimo.

"Mas então passamos a conhecê-lo e, na verdade, passamos a amá-lo", disseram eles.

Eles ajudaram Ronnie a conseguir um emprego como coletor de lixo e o levaram para comprar roupas novas depois de descobrirem que ele usava as mesmas roupas que ganhou quando era adolescente na escola.

"Não tínhamos filhos, era como vestir os nossos filhos para a escola, éramos pais orgulhosos", disse Rob.

"Quando saímos da loja, ela [Dianne] me disse: 'Ele trabalha como lixeiro, mas nós o vestimos como se trabalhasse no Hotel Dorchester (um hotel de luxo em Londres)", disse Rob, rindo.

Rob, que era advogado, acordava uma hora mais cedo para levar Ronnie ao trabalho antes de ir para o seu próprio emprego.

Quando chegava em casa, Rob disse que Ronnie costumava estar sentado ali, apenas sorrindo, e uma noite ele perguntou: "Ronnie, o que está te divertindo tanto?"

Ronnie respondeu: "Rob, quando você me leva para o trabalho pela manhã, os outros homens perguntam: 'Quem é aquele que te leva para o trabalho naquele carro?' E eu respondo: 'Ah, é meu advogado'".

"Não achamos que ele estivesse orgulhoso por ter sido levado ao trabalho por um advogado, mas achamos que talvez ele nunca tivesse tido alguém para levá-lo no seu primeiro dia de aula", disse Rob.

"E agora ele está quase com 30 anos... finalmente alguém está no portão."

Rob e Dianne fotografados com Ronnie (à direita) e seus dois filhos, Lloyd e Katie, em 1988 (Crédito: Rob Parsons)

Ronnie tinha muitos rituais aos quais eles se acostumaram, incluindo esvaziar a máquina de lavar louça todas as manhãs, ao que Rob fingia surpresa para evitar a decepção de Ronnie.

"É difícil parecer surpreso quando você recebe na terça-feira a mesma pergunta que recebeu na segunda-feira, mas esse era o Ronnie."

"Fizemos isso durante 45 anos", disse ele, rindo.

"Ele obviamente tinha dificuldade para ler e escrever, mas comprava o South Wales Echo (um jornal local) todos os dias", acrescentou Dianne.

Ronnie comprava para eles os mesmos cartões-presente da Marks and Spencer (uma loja de departamento) todo Natal, mas a cada ano ele ficava igualmente animado com a reação deles.

Rob e Dianne, com cerca de 20 anos, tiveram dois filhos e cinco netos (Crédito: Rob Parsons)

Ronnie passava grande parte do seu tempo livre na igreja local, recolhendo doações para os sem-teto e preparando os serviços religiosos, alinhando "meticulosamente" as cadeiras.

Dianne lembrou-se de um dia em que ele chegou a casa com um par de sapatos diferente e ela perguntou: "Ronnie, onde estão os seus sapatos?"

Ele disse a ela que um morador de rua precisava deles.

"Ele era assim mesmo. Era incrível", disseram.

Um dos momentos mais difíceis foi quando Dianne adoeceu com a síndrome da fadiga crônica, pois ela se lembra de dias em que não conseguia sair da cama.

"Eu tinha uma filha pequena de três anos, Rob estava fora a trabalho", disse Dianne.

Mas ela disse que Ronnie era "notável" e se destacava, preparando mamadeiras para o filho Lloyd, ajudando nas tarefas domésticas e brincando com a filha Katie.

"[Ronnie] estava lá antes de eles chegarem e estava lá quando eles partiram com seus próprios filhos", diz Rob (Crédito: Rob e Dianne Parsons)

Embora admitissem que a dinâmica tinha suas dificuldades, incluindo a luta contra o vício em jogos de azar de Ronnie por 20 anos, eles não conseguiam imaginar suas vidas sem ele.

"Não é algo que eu recomendaria como estratégia", disse Rob, "mas Ronnie enriqueceu nossas vidas de muitas maneiras".

"Ele tinha um grande coração, Ronnie. Era gentil, era frustrante", disse Dianne.

"Às vezes eu era sua mãe, às vezes eu era sua assistente social e às vezes eu era sua cuidadora."

"Um dia, alguém perguntou a eles [seus filhos]: 'Como vocês lidavam com o Ronnie quando seus amigos vinham à sua casa?' E eles responderam: 'Bem, nós realmente não pensamos nisso, ele é apenas o Ronnie'."

Rob acrescentou: "Nossos filhos nunca conheceram a vida sem Ronnie. Ele estava lá antes deles nascerem e continuou lá depois que eles partiram, com seus próprios filhos."

Ronnie era voluntário regular no banco de alimentos da igreja local e ajudava a organizar uma partida de futebol no dia seguinte ao Natal por 25 anos (Crédito: Rob Parsons)

Uma vez o casal considerou apoiar Ronnie para que ele vivesse de forma independente, alguns anos depois de ele se mudar para lá.

À medida que seus dois filhos cresciam e o espaço parecia limitado em sua casa com apenas um banheiro, eles abordaram Ronnie para sugerir que ele alugasse um apartamento na mesma rua.

Mas, ao entrarem, ele repetiu aquela pergunta familiar: "Eu fiz algo errado?"

Rob disse que Dianne o mandou sair da sala, começou a chorar e disse: "Não consigo fazer isso".

Algumas noites depois, Ronnie entrou no quarto deles e perguntou: "Nós três somos amigos íntimos, não somos?"

"Eu disse 'sim, Ronnie, nós três somos amigos íntimos'", disse Rob.

"E ficaremos juntos para sempre, não é?", perguntou ele.

E houve uma pausa, provavelmente muito longa. Olhei para a Di e disse: "Sim, Ronnie, ficaremos juntos para sempre".

"E nós ficamos"

Ronnie faleceu em 2020, aos 75 anos, após sofrer um derrame, e o casal diz sentir muita saudade dele.

Ronnie deixou £ 40.000 (R$ 298 mil) para instituições de caridade em seu testamento, que era exatamente a quantia necessária para consertar o telhado do centro Lockwood (Crédito: Rob Parsons)

Apenas 50 pessoas puderam comparecer ao seu funeral devido à pandemia de covid, mas "os ingressos estavam mais disputados do que um show do Coldplay", brincou Rob.

Eles receberam pelo menos 100 cartões de condolências, desde "professores da Universidade de Oxford até políticos e desempregados".

Após sua morte, um novo centro de bem-estar no valor de £ 1,6 milhão (R$ 11,9 milhões), anexo à Igreja Glenwood em Cardiff, recebeu o nome de Lockwood House, em homenagem a Ronnie.

Mas o prédio antigo e o novo não combinavam muito bem, e eles precisavam de financiamento extra para concluir a reforma.

"Mas eles não precisavam se preocupar", disse Rob.

"Quase ao centavo, era a quantia exata que Ronnie havia deixado para o centro em seu testamento. No final, o sem-teto colocou um teto sobre as nossas cabeças."

"Não é incrível? Acho que tudo isso estava destinado a acontecer", disse Dianne.

"As pessoas nos perguntam como isso aconteceu em 45 anos, mas a verdade é que, de certa forma, aconteceu um dia de cada vez."

"Ronnie trouxe riqueza para nossas vidas", conclui ela.

Reportagem adicional de Greg Davies

Fonte: https://www.bbc.com/

Muito além do Natal: como é a Lapônia, a terra gelada do Papai Noel

Papai Noel em trenó de renas, Ruka (Kuusamo), região norte da Ostrobótnia, Lapônia, Finlândia (Foto: Roberto Moiola/Sysaworld/Getty Images)

Região no extremo norte da Europa mistura lendas natalinas, povos ancestrais, renas, aurora boreal e invernos de congelar.

Por: Redação Terra

25 dez 2025 - 04h59

O Natal toma conta das vitrines, decorações e do imaginário coletivo.  A época transporta a nossa imaginação para um lugar com neve branquinha, casas iluminadas e trenós com renas — algo que parece um conto de fadas. No entanto, esse cenário é realidade na Lapônia, uma região real, habitada, diversa e cheia de curiosidades. Na prática, a terra do Papai Noel vai além do imaginário, e é um dos locais mais fascinantes (e gelados) do planeta.

A Lapônia não é um país, mas uma grande região histórica e cultural localizada no extremo norte da Europa. Seu território se espalha por quatro países: Finlândia, Suécia, Noruega e uma pequena parte da Rússia. Grande parte da área fica acima do Círculo Polar Ártico, o que explica tanto o frio intenso quanto um de seus fenômenos mais famosos, a aurora boreal, visível em várias épocas do ano, especialmente no inverno.

Vista aérea noturna do parque de diversões Vila do Papai Noel e dos mercados de Natal em Rovaniemi, Lapônia, Finlândia (Foto: Roberto Moiola/Sysaworld/Getty Images)

A paisagem é marcada por florestas de coníferas, montanhas cobertas de neve, lagos congelados e longos períodos de luz ou escuridão extrema. No verão, o sol praticamente não se põe; é o chamado “sol da meia-noite”. Já no inverno, há semanas em que o dia mal clareia. As temperaturas podem variar bastante, no verão, os termômetros chegam a 20°C, e no inverno, não é raro registrar -30°C ou até -40°C em algumas áreas.

Quem vive na Lapônia?

Vista aérea dos telhados nevados de casas vermelhas e da torre sineira sob um céu flamejante ao amanhecer, cidade da igreja de Gammelstad, Luleå, Suécia (Foto: Roberto Moiola/Sysaworld/Getty Images)

Entre os habitantes da Lapônia estão os Sámi, povo indígena que vive na região há milhares de anos e mantém tradições ligadas à criação de renas, à pesca e ao artesanato. Além deles, há populações urbanas que vivem em cidades como Rovaniemi (Finlândia), Kiruna (Suécia) e Narvik (Noruega), combinando modos de vida modernos com uma forte relação com a natureza. No dia a dia, o inverno rigoroso exige roupas térmicas, casas bem isoladas e atividades ao ar livre adaptadas ao frio.

Renas em frente a casas típicas de madeira pintadas de vermelho, Fazenda de Renas Torassieppi, Torassieppi, Lapônia, Norte da Finlândia (Foto: James Strachan/Getty Images)

A fauna local parece saída de um livro infantil --ou de um filme de Natal. Renas estão por toda parte e são um símbolo regional, mas não estão sozinhas. A Lapônia também abriga alces, ursos, lobos, linces, raposas-do-ártico e diversas espécies de aves. Em áreas de preservação, como parques nacionais e centros de conservação, esses animais vivem soltos em ambientes naturais.

Papai Noel

Papai Noel admirando escultura de gelo na região da Lapônia, com a aurora boreal ao fundo (Foto: Roberto Moiola/Sysaworld/Getty Images)

E o Papai Noel? A associação da Lapônia com o bom velhinho começou a ganhar força no século 20, especialmente na Finlândia. Em 1927, um radialista finlandês afirmou em um programa de rádio que o Papai Noel morava na Lapônia, mais precisamente em uma montanha chamada Korvatunturi. A ideia pegou. Décadas depois, a cidade de Rovaniemi se consolidou como a “capital oficial” do Papai Noel, com direito a vila temática, escritório, correio e até uma linha imaginária marcando o Círculo Polar Ártico.

Hoje, a lenda virou também um motor do turismo, mas sem apagar a identidade local. A Lapônia segue sendo um lugar de contrastes: ancestral e moderna, silenciosa e cheia de histórias, congelante e acolhedora.

Fonte: https://www.terra.com.br/

NATAL 2000: O Legado de Abraão: Um Presente de Natal

A Apresentação no Templo, Batistério de Parma | 30Giorni.

NATAL 2000

Arquivo 30Dias nº 12 - 2000

O Legado de Abraão: Um Presente de Natal

A intervenção do Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, publicada no Osservatore Romano em 29 de dezembro.

Um texto do Cardeal Joseph Ratzinger publicado no Osservatore Romano.

No Natal, trocamos presentes para alegrar uns aos outros e, assim, compartilhar da alegria que o coro de anjos anunciou aos pastores, recordando o dom por excelência que Deus concedeu à humanidade ao nos dar seu Filho, Jesus Cristo. Mas esse dom foi preparado por Deus ao longo de um extenso período, no qual — como diz Santo Irineu — Deus se acostuma a estar com o homem e o homem se acostuma à comunhão com Deus. 

Essa história começa com a fé de Abraão, o pai dos crentes, também o pai da fé dos cristãos e nosso pai pela fé. Essa história continua nas bênçãos concedidas aos patriarcas, na revelação a Moisés e no êxodo de Israel para a terra prometida. Uma nova etapa se inicia com a promessa a Davi e seus descendentes de um reino eterno. Os profetas, por sua vez, interpretam a história, chamando ao arrependimento e à conversão, e assim preparando os corações dos homens para receber o dom supremo. Abraão, pai do povo de Israel, pai da fé, é, portanto, a raiz da bênção; Nele, “todas as famílias da terra serão benditas” ( Gn 12,3). 

A tarefa do povo escolhido é, portanto, dar o seu Deus, o único e verdadeiro Deus, a todos os outros povos, e, na realidade, nós, cristãos, somos herdeiros da sua fé no único Deus. A nossa gratidão dirige-se, portanto, aos nossos irmãos judeus que, apesar das dificuldades da sua história, preservaram, até aos dias de hoje, a fé neste Deus e testemunham-no perante outros povos que, privados do conhecimento do único Deus, “viviam nas trevas e na sombra da morte” ( Lc 1,79).

O Deus da Bíblia Hebraica, que também é a Bíblia dos cristãos, juntamente com o Novo Testamento, por vezes infinitamente terno, por vezes severamente inspirador de temor, é também o Deus de Jesus Cristo e dos apóstolos. A Igreja do segundo século teve de resistir à rejeição deste Deus pelos gnósticos, especialmente por Marcião, que contrastava o Deus do Novo Testamento com o Deus demiurgo-criador de quem provinha o Antigo Testamento. 

A Igreja, contudo, sempre manteve a fé em um só Deus, criador do mundo e autor de ambos os Testamentos. A consciência de Deus presente no Novo Testamento, que culmina na definição joanina "Deus é amor" ( 1 João 4:16), não contradiz o passado, mas antes abrange toda a história da salvação, que teve Israel como protagonista inicial. Portanto, as vozes de Moisés e dos profetas ressoaram na liturgia da Igreja desde o princípio até os dias de hoje; o Saltério de Israel é também o grande livro de orações da Igreja. Consequentemente, a Igreja primitiva não se opôs a Israel, mas simplesmente se considerou sua legítima continuação. 

A esplêndida imagem de Apocalipse 12, uma mulher vestida de sol e coroada com doze estrelas, grávida e sofrendo as dores do parto, representa Israel dando à luz aquele "que governaria todas as nações com vara de ferro" ( Sl 2,9); e, no entanto, essa mulher se transforma no novo Israel, mãe de novos povos, e é personificada em Maria, a Mãe de Jesus. Essa unificação de três significados — Israel, Maria, Igreja — mostra como, para a fé cristã, Israel e a Igreja eram e são inseparáveis.

Sabemos que todo nascimento é difícil. Certamente, desde o início, a relação entre a Igreja nascente e Israel foi frequentemente conflituosa. A Igreja era considerada por sua mãe uma filha degenerada, enquanto os cristãos consideravam sua mãe cega e obstinada. Na história do cristianismo, as relações já difíceis degeneraram ainda mais, muitas vezes dando origem ao antijudaísmo, que levou a atos deploráveis ​​de violência ao longo da história. Mesmo após a experiência final e execrável do Holocausto. Foi perpetrado em nome de uma ideologia anticristã, que buscava atingir a fé cristã em suas raízes abraâmicas, no povo de Israel. 

Não se pode negar que uma certa resistência insuficiente por parte dos cristãos a essas atrocidades se explica pelo legado antijudaico presente na alma de muitos cristãos. Talvez precisamente por causa do drama dessa última tragédia, tenha nascido uma nova visão da relação entre a Igreja e Israel, um desejo sincero de superar todo tipo de antijudaísmo e iniciar um diálogo construtivo de entendimento mútuo e reconciliação. 

Para que tal diálogo seja frutífero, deve começar com uma oração ao nosso Deus para que nos conceda, a nós cristãos, antes de tudo, maior estima e amor por este povo, os israelitas, que "pertencem à adoção, à glória, às alianças, à promulgação da lei, ao culto, às promessas, aos patriarcas; dos quais, segundo a carne, vem o Cristo, que é sobre todos, Deus bendito para sempre. Amém" ( Rm 9,4-5), e isso não apenas no passado, mas também no presente, "porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis" ( Rm 11,29). 

Oremos também para que Ele conceda aos filhos de Israel um maior conhecimento de Jesus de Nazaré, seu filho e o dom que nos legaram. Visto que ambos aguardamos a redenção final, oramos para que nossa jornada se dê em direções convergentes.

É evidente que nosso diálogo como cristãos com os judeus se dá em um nível diferente daquele que mantemos com outras religiões. A fé testemunhada na Bíblia dos judeus, o Antigo Testamento dos cristãos, não é para nós outra religião, mas o fundamento da nossa fé. Portanto, os cristãos – e hoje, cada vez mais, em colaboração com seus irmãos judeus – leem e estudam esses livros das Sagradas Escrituras com tanta atenção, como parte de sua própria herança. É verdade que o Islã também se considera filho de Abraão e herdou o mesmo Deus de Israel e dos cristãos, mas segue um caminho diferente, que exige outros parâmetros de diálogo.

Retomando a troca de presentes de Natal com a qual iniciei esta meditação, devemos primeiro reconhecer que tudo o que temos e fazemos é um dom de Deus, obtido através da oração humilde e sincera. É um dom que deve ser partilhado entre diferentes grupos étnicos, entre religiões que buscam uma maior compreensão do mistério divino, entre nações que buscam a paz e povos que procuram construir uma sociedade onde reinem a justiça e o amor. Este é o programa delineado pelo Concílio Vaticano II para a Igreja do futuro, e nós, católicos, pedimos ao Senhor que nos ajude a perseverar neste caminho.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O primeiro “Natal da paz” de Leão XIV

Mosaico realizado pelo artista italiano Alberto Salietti para o apartamento papal em 1955 (Vatican News)

Sete meses após o início de seu Pontificado, o Papa se prepara para celebrar pela primeira vez os ritos do Natal. Hoje à noite, 24 de dezembro, a missa na Basílica do Vaticano.

Vatican News

“O Natal do Senhor é o Natal da Paz”. O Papa Leão recorda mais uma vez um dos temas fortes de seu magistério no cartão, elaborado pela Prefeitura da Casa Pontifícia, com o qual ele apresenta seus primeiros votos na Natividade do Senhor e no Jubileu da Esperança. A frase escolhida é tirada do Sermão 26 do primeiro Papa a levar seu nome, São Leão Magno. A imagem da capa retoma um mosaico realizado pelo artista italiano Alberto Salietti (1892-1961) para o apartamento pontifício em 1955.

O cartão de felicitações do Papa (Vatican News)

Ontem à noite, 23 de dezembro, o Papa Leão, ao responder às perguntas dos jornalistas do lado de fora da Villa Barberini, em Castel Gandolfo, pediu às pessoas de boa vontade “pelo menos na festa do nascimento do Salvador, um dia de paz”. Aquela paz “desarmada e desarmante” que ele invocou ao aparecer no Balcão das Bênçãos, logo após ser eleito Sucessor de Pedro.

Os ritos do Natal

O Pontífice se prepara, portanto, para celebrar os ritos do Natal a partir desta noite, 24 de dezembro, quando às 22h (hora local – 18h de Brasília) presidirá na Basílica do Vaticano a Missa da Noite pela Solenidade do Natal do Senhor. Serão dez crianças com flores nas mãos que acompanharão o Papa na procissão até o presépio da Basílica, vindas da Coreia do Sul, Índia, Moçambique, Paraguai, Polônia e Ucrânia. No dia seguinte, 25 de dezembro, será celebrada a missa do dia em São Pedro, às 10h, (6 da manhã no Brasil) seguida da bênção “Urbi et Orbi” às 12h, no Balcão Central da Basílica.

No dia 26 de dezembro, Santo Estêvão, primeiro mártir da Igreja, o Papa recitará a oração do Angelus na Praça São Pedro, assim como no domingo, 28 de dezembro. No final de 2025, quarta-feira, 31 de dezembro, o Papa realizará a audiência geral e, à tarde, às 17h, as Primeiras Vésperas e o Te Deum em agradecimento pelo ano que passou.

As celebrações de janeiro

No dia 1º de janeiro de 2026, Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, na Basílica de São Pedro, às 10h, será celebrada a Missa pelo 59º Dia Mundial da Paz e, em seguida, o Angelus. Para a ocasião, Leão XIV escreveu uma mensagem sobre o tema: “A paz esteja com todos vocês. Rumo a uma paz desarmada e desarmante”, na qual se encontra uma forte denúncia contra a corrida ao rearmamento em curso no mundo. De fato, os dados referem um aumento de 9,4% em 2024 nas despesas militares.

No dia 4 de janeiro de 2026, domingo, o Angelus na Praça São Pedro e no dia 6, Epifania do Senhor, às 9h30, a missa e o encerramento da Porta Santa com a conclusão do Jubileu 2025 dedicado à esperança. No domingo, 11 de janeiro, é a festa do Batismo do Senhor, o Papa celebrará a missa na Capela Sistina e administrará o sacramento a algumas crianças.

A Missa de Natal

No calendário das celebrações papais, Leão XIV reintroduziu a Missa do dia de Natal, que seus antecessores, o Papa Francisco e o Papa Bento XIV, nunca celebraram. A última vez foi com São João Paulo II, em 25 de dezembro de 1994.

A mídia do Vaticano para as celebrações papais oferecerá um serviço de tradução em língua de sinais (LIS) e legendas para pessoas com deficiência auditiva e comunicativa. No canal do YouTube da Vatican News, em colaboração com a irmã Veronica Donatello da Conferência Episcopal Italiana, a tradução em LIS e na língua de sinais espanhola será transmitida ao vivo da missa de 24 de dezembro. O serviço, ao qual se junta também o francês para a ocasião, está previsto também para a Mensagem de Natal e a Bênção “Urbi et Orbi” do dia de Natal.

No canal do YouTube e nos canais de áudio da Vatican News e, para algumas línguas, também no Facebook, estão previstas crônicas em português do Brasil, francês, italiano, inglês, espanhol, alemão, árabe, chinês, polonês, vietnamita e português.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

O Natal não se resume a um dia!

Ludovic Farine - Shutterstock

Prof. Felipe Aquino - publicado em 20/12/17 - atualizado em 25/12/25

Fique por dentro de todas as festas católicas de dezembro e janeiro!

O Natal não se resume a um dia nem celebra simplesmente o Nascimento de Jesus.

Na verdade, o Natal é um tempo litúrgico, formado por cinco festas que celebram no rito da Santa Liturgia o mistério da Manifestação do Filho de Deus em nossa natureza humana. Assim: Natal é o Tempo no qual a Igreja, na sua Celebração eucarística, ao celebrar os santos Mistérios, entre em comunhão real e verdadeira com o Mistério da Manifestação, da Vinda, do nosso Salvador e Deus bendito na nossa natureza humana!

O Filho eterno do Pai manifestou-Se na nossa pobre humanidade para enriquecê-la com a Sua divindade; Ele veio para nos dar a graça da comunhão, da amizade com Ele – é isso a salvação!

Cinco festas; ei-las:

1 - A Solenidade do Natal do Senhor

No dia 25 de dezembro. Na pobreza da gruta de Belém contemplaremos como frágil criança Aquele que é o Forte e eterno Deus: “Porque um Menino nos nasceu, um filho nos foi dado, Ele recebeu o poder sobre os Seus ombros e Lhe foi dado este Nome: Conselheiro-maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno, Príncipe-da-Paz” (Is 9,5). Neste Dia santíssimo (que é celebrado durante oito dias) a Igreja dobra os joelhos diante do Salvador, juntamente com Maria, José e os pastores; a Igreja canta o “Glória a Deus nas alturas” juntamente com os anjos, a Igreja ilumina-se de alegria como o céu da noite santa de Belém.

2 - No Domingo entre os dias 25 e 1º de janeiro a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família

O Filho de Deus assumiu em tudo a nossa condição humana: entrou numa família, na vida miudinha de cada dia; Ele veio verdadeiramente viver a nossa aventura. Assim, santificou as famílias de modo especial: “Desceu com eles para Nazaré e era-lhes submisso” (Lc 2,51).

3 - Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus

No dia 1º de janeiro, Oitava do Natal. “(Os pastores) foram, então, às pressas, e encontraram Maria, José e o Recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,16). A Igreja contempla o Menino que nasceu em Belém e Nele reconhece o Deus eterno e perfeito, reclinado no colo de Maria. Por isso chama-a Mãe de Deus, quer dizer, Mãe do Filho de Deus feito homem! Dando este título à Virgem a Igreja, desde suas origens, professa sua fé na divindade de Jesus. Primeiro de Janeiro é uma das grandes festas marianas.

4 - Solenidade da Epifania do Senhor

No Domingo entre 2 e 8 de janeiro. É a festa chamada Festa de Reis. Mas, é bem mais que isso: a palavra “epifania” significa “manifestação”. Os magos, vindos dos povos pagãos, representam toda a humanidade que vem adorar o Salvador e reconhecê-Lo como a luz para iluminar as nações. Deus manifesta a Sua salvação a todos os povos: “O Senhor fez conhecer Sua salvação, revelou Sua justiça aos olhos das nações. Os confins da terra contemplaram a Salvação do nosso Deus” (Sl 97,2.3).

5 - A Festa do Batismo do Senhor

No Domingo após a Epifania. Com ela termina o tempo do Natal. O Pai apresenta o Seu Filho: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Eu Me comprazo!” (Mt 3,17). Com esta festa encerra-se o ciclo de festas da Manifestação do Senhor. A Igreja, mais uma vez, renova sua certeza e vive essa graça, experimenta-a e anuncia ao mundo: “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua glória!” (Jo 1,14).

Que vivamos bem este tempo do Natal, tão rico e santo!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Mensagem de Natal | 2025

Mensagem de Natal (arqbrasilia)

24/12/2025

Queridos irmãos e irmãs,

neste santo Natal, somos convidados a contemplar o mistério do Deus que Se faz criança e vem habitar no meio de nós para nos colocar, pela fé, na beleza da vida nova. Dele aprendemos a ser uma Igreja mistagógica, que vive profundamente a liturgia e conduz todos ao encontro transformador com Cristo; Igreja sinodal, que caminha unida, escutando o Espírito Santo na diversidade dos dons; Igreja missionária, que se coloca permanentemente a caminho para anunciar, com alegria e coragem, a Boa Nova do Reino.

Que o Menino de Belém, manso e humilde, fortaleça nossas famílias, nossas comunidades e nossas pastorais; e faça da Arquidiocese de Brasília um sinal luminoso de esperança, justiça e paz para nossa cidade e para todo o mundo.

Com afeto e bênção, desejamos a todos um Feliz e Santo Natal!

Dom Paulo Cezar Costa 
Arcebispo de Brasília

Dom Antonio de Marcos, Dom Denilson Geraldo, Dom Ricardo Hoepers, Dom Vicente Tavares
Bispos Auxiliares de Brasília

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Papa na Missa do Galo: não há espaço para Deus se não houver espaço para o homem

Santa Missa da Noite de Natal 2025 - Papa Leão XUV (Vatican Media)

Ao celebrar a Santa Missa na Noite Santa do Natal, o Papa recordou que Deus não se revela na grandeza dos céus, mas na humildade de um Menino colocado na manjedoura. "Para encontrar o Salvador, não é preciso olhar para cima, mas contemplar o que está embaixo, a luz divina que irradia deste Menino ajuda-nos a ver o homem em cada vida nascente", afirmou.

https://youtu.be/d0v3C3wnbas

Thulio Fonseca - Vatican News

O Papa Leão XIV presidiu a sua primeira Missa do Galo como Sucessor de Pedro, na Basílica de São Pedro, nesta quarta-feira, 24 de dezembro. “Queremos celebrar juntos a festa do Natal. Jesus Cristo, que nasceu por nós, nos traz a paz e o amor de Deus. Boas festas a todos vocês”, foram as palavras do Papa antes da celebração, ao saudar os fiéis que acompanharam a cerimônia pelos telões instalados na Praça de São Pedro, inclusive debaixo de chuva.

A Santa Missa, que contou com a presença de 6 mil fiéis, foi precedida pela tradicional Kalenda, o antigo anúncio solene do nascimento do Senhor. Em seguida, o Pontífice desvelou a imagem do Menino Jesus, momento em que os sinos da Basílica tocaram e as luzes se acenderam, marcando liturgicamente o início do Natal.

LEIA A HOMILIA NA ÍNTEGRA

A estrela que ilumina a noite da humanidade

Em sua homilia, Leão XIV recordou a longa busca da humanidade por sentido e verdade, muitas vezes projetada no céu e nas estrelas, mas incapaz de oferecer respostas duradouras. Durante séculos, afirmou, os povos tentaram decifrar o próprio destino olhando para o alto, permanecendo, porém, na escuridão, até que, nesta noite santa, uma luz verdadeiramente nova se acende na história. O Papa então explicou que o Natal não celebra uma ideia, mas uma presença viva que entra na história:

“É o Natal de Jesus, o Emanuel. No Filho feito homem, Deus não nos dá algo, mas a si mesmo. [...] Para encontrar o Salvador, não é preciso olhar para cima, mas contemplar o que está embaixo: a onipotência de Deus resplandece na impotência de um recém-nascido. [...] É divina a necessidade de cuidado e calor, que o Filho do Pai partilha na história com todos os seus irmãos. A luz divina que irradia deste Menino ajuda-nos a ver o homem em cada vida nascente.”

Papa Leão XIV durante a Santa Missa de Natal   (@Vatican Media)

Onde não há espaço para o homem, não há espaço para Deus

Retomando palavras de Bento XVI, o Papa Leão advertiu sobre uma das grandes feridas do nosso tempo: a exclusão do homem, sobretudo dos mais frágeis. Quando a dignidade humana é obscurecida, afirmou, desaparece também a capacidade de acolher, “então não há espaço sequer para os outros, para as crianças, para os pobres, para os estrangeiros”. E, com clareza pastoral, o Pontífice recordou que a acolhida de Deus passa necessariamente pela acolhida do próximo:

"Na terra não há espaço para Deus se não houver espaço para o homem: não acolher um significa não acolher o outro. Em vez disso, onde há lugar para o homem, há lugar para Deus: então um estábulo pode tornar-se mais sagrado do que um templo, e o ventre da Virgem Maria é a arca da nova aliança."

A humildade de Deus cura a soberba do homem

O Santo Padre convidou os fiéis a admirar a sabedoria do Natal, recordando que Deus responde às expectativas humanas não com poder, mas com humildade e proximidade: “Perante as expectativas dos povos, Ele envia um bebê, para que seja palavra de esperança; perante a dor dos miseráveis, Ele envia um indefeso, para que seja força para se levantarem.” Num mundo marcado por injustiças, Leão XIV foi direto ao afirmar:

“Enquanto uma economia distorcida leva a tratar os homens como mercadoria, Deus torna-se semelhante a nós, revelando a infinita dignidade de cada pessoa. Enquanto o homem quer tornar-se Deus para dominar o próximo, Deus quer tornar-se homem para nos libertar de toda a escravidão. Será este amor suficiente para mudar a nossa história?”

Segundo o Papa, a resposta se revela no instante em que, como os pastores, despertamos da noite da morte para a luz da vida nascente, contemplando o Menino Jesus ao lado de Maria, José e de uma multidão do exército celeste. Estes, de forma desarmada e desarmante, proclamam a glória de Deus, cuja manifestação na terra é a paz, pois “no coração de Cristo palpita o vínculo que une no amor céu e terra, Criador e criaturas”.

Leão XIV durante a Santa Missa   (@Vatican Media)

Natal: festa da fé, da caridade e da esperança

Ao recordar que se aproxima o término do Jubileu e evocando as palavras do Papa Francisco no último Natal, Leão XIV sublinhou que este é um tempo de gratidão pelo dom recebido e, ao mesmo tempo, de missão. Por fim, o Santo Padre sintetizou o significado profundo do Natal para a vida da Igreja:

“Proclamemos, então, a alegria do Natal, que é festa da fé, da caridade e da esperança. É festa da fé, porque Deus se faz homem, nascendo de uma Virgem. É festa da caridade, porque o dom do Filho redentor se realiza na dedicação fraterna. É festa da esperança, porque o Menino Jesus a acende em nós, tornando-nos mensageiros da paz. Com estas virtudes no coração, sem temer a noite, podemos ir ao encontro do amanhecer do novo dia.”

Ao final da celebração, Leão XIV levou em procissão a imagem do Menino Jesus até o presépio da Basílica de São Pedro, acompanhado por crianças que ofereceram flores ao Salvador.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Papa invoca o dom da paz para o mundo, responsabilidade de todos

Mensagem de Natal e Bênção "Urbe et Orbi" - Papa Leão XIV (Vatican Media)

"Quem não ama não se salva, está perdido". Jesus Cristo é a nossa paz, porque nos liberta do pecado e nos indica o caminho a seguir para superar os conflitos, interpessoais aos internacionais. "Sem um coração livre do pecado, um coração perdoado, não se pode ser homens e mulheres pacíficos e construtores de paz. Foi por esta razão que Jesus nasceu em Belém e morreu na cruz: para nos libertar do pecado. Ele é o Salvador.

https://youtu.be/G3qAiNBkgAI

MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA LEÃO XIV
NATAL 2025
Balcão central da Basílica Vaticana
Quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

"Queridos irmãos e irmãs,

«Exultemos de alegria no Senhor, porque nasceu na terra o nosso Salvador. Hoje desceu do Céu sobre nós a verdadeira paz» (Antífona de entrada da Missa da Meia Noite). Assim canta a liturgia na noite de Natal e assim ressoa na Igreja o anúncio de Belém: o Menino que nasceu da Virgem Maria é Cristo Senhor, enviado pelo Pai para nos salvar do pecado e da morte. Ele é a nossa paz: Aquele que venceu o ódio e a inimizade com o amor misericordioso de Deus. Por isso, «o Natal do Senhor é o Natal da paz» (São Leão Magno, Sermão 26).

Porque não havia lugar para Ele na hospedaria, Jesus nasceu num estábulo. Assim que nasceu, a sua mãe Maria «envolveu-o em panos e recostou-o numa manjedoura» (cf. Lc 2, 7). O Filho de Deus, por meio do qual tudo foi criado, não é recebido e o seu berço é uma pobre manjedoura para animais.

O Verbo eterno do Pai, que os céus não podem conter, escolheu vir ao mundo desta forma. Por amor, desejou nascer de uma mulher, para partilhar a nossa humanidade; por amor, aceitou a pobreza e a rejeição e identificou-se com quem é descartado e excluído.

No Natal de Jesus, já se perfila a escolha de fundo que orientará toda a vida do Filho de Deus, até à morte na cruz: a escolha de não nos fazer carregar o peso do pecado, mas de o carregar Ele por nós, de assumir sobre Si esse peso. Só Ele o podia fazer. Ao mesmo tempo, porém, mostrou o que só nós podemos fazer, ou seja, assumir cada um a sua parte de responsabilidade. Sim, porque Deus, que nos criou sem nós, não pode salvar-nos sem nós (cf. Santo Agostinho, Discurso 169, 11. 13), isto é, sem a nossa livre vontade de amar. Quem não ama não se salva, está perdido. E quem não ama o irmão que vê, não pode amar Deus que não vê (cf. 1 Jo 4, 20).

Irmãs e irmãos, eis o caminho da paz: a responsabilidade. Se cada um de nós, a todos os níveis, em vez de acusar os outros, reconhecesse em primeiro lugar as próprias falhas, pedisse perdão a Deus e, ao mesmo tempo, se colocasse no lugar dos que sofrem, mostrando-se solidário com os mais fracos e oprimidos, então o mundo mudaria.

Leão XIV da sacada central da Basílica de São Pedro   (@Vatican Media)

Jesus Cristo é a nossa paz porque, em primeiro lugar, nos liberta do pecado e, em segundo lugar, nos indica o caminho a seguir para superar os conflitos, quaisquer que sejam eles, desde os interpessoais aos internacionais. Sem um coração livre do pecado, um coração perdoado, não se pode ser homens e mulheres pacíficos e construtores de paz. Foi por esta razão que Jesus nasceu em Belém e morreu na cruz: para nos libertar do pecado. Ele é o Salvador. Com a sua graça, cada um pode e deve fazer a sua parte para rejeitar o ódio, a violência, a contraposição e para praticar o diálogo, a paz, a reconciliação.

Neste dia de festa, desejo enviar uma calorosa saudação paterna a todos os cristãos, em especial àqueles que vivem no Médio Oriente e que recentemente, na minha primeira viagem apostólica, desejei encontrar. Ouvi os seus receios e conheço bem o seu sentimento de impotência perante dinâmicas de poder que os ultrapassam. O Menino que hoje nasce em Belém é o mesmo Jesus que diz: «Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 33).

D’Ele invocamos justiça, paz e estabilidade para o Líbano, a Palestina, Israel e a Síria, ao confiarmos nestas palavras divinas: «A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre» (Is 32, 17).

Ao Príncipe da Paz, entregamos o inteiro Continente Europeu, pedindo-Lhe que continue a inspirar um espírito comunitário e colaborativo, fiel às suas raízes cristãs e à sua história, solidária e acolhedora com quem passa necessidade. Rezemos de modo especial pelo povo ucraniano tão massacrado: que o barulho das armas acabe e que as partes envolvidas, apoiadas pelo empenho da comunidade internacional, encontrem a coragem de dialogar de modo sincero, direto e respeitoso.

Leão XIV saúda os 26 mil fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro   (@Vatican Media)

Do Menino de Belém, imploramos paz e consolação para as vítimas de todas as guerras em curso no mundo, especialmente as esquecidas; e para quantos sofrem por causa da injustiça, da instabilidade política, da perseguição religiosa e do terrorismo. Recordo de modo particular os irmãos e irmãs do Sudão, do Sudão do Sul, do Mali, do Burquina Faso e da República Democrática do Congo.

Nestes últimos dias do Jubileu da Esperança, rezemos ao Deus feito homem pela querida população do Haiti, para que, cessando toda a forma de violência no país, possa progredir no caminho da paz e da reconciliação.

O Menino Jesus inspire todos os que têm responsabilidades políticas na América Latina, para que, ao enfrentarem os inúmeros desafios, deem espaço ao diálogo pelo bem comum e não a preconceitos ideológicos e de parte.

Ao Príncipe da Paz, pedimos que ilumine Mianmar com a luz de um futuro de reconciliação: devolva a esperança às jovens gerações, guie todo o povo birmanês por vias de paz e acompanhe aqueles que vivem sem casa, segurança ou confiança no futuro.

A Ele pedimos que restaure a antiga amizade entre a Tailândia e o Camboja e que as partes em causa continuem a empenhar-se pela paz e reconciliação.

A Ele confiamos também as populações do Sul asiático e da Oceania, duramente provadas pelas recentes e devastadoras calamidades naturais, que com gravidade atingiram inteiras populações. Perante tais provações, convido todos a renovar com convicção o nosso empenho comum em socorrer quem sofre.

Pontífice concede a bênção Urbi et Orbi   (@Vatican Media)

Queridos irmãos e irmãs,

na escuridão da noite, «o Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina» (Jo 1, 9), porém «os seus não o receberam» (Jo 1, 11). Não nos deixemos vencer pela indiferença em relação a quem sofre, porque Deus não é indiferente às nossas misérias.

Fazendo-se homem, Jesus assume a nossa fragilidade, identifica-se com cada um de nós: com aqueles que não têm mais nada e perderam tudo, como os habitantes de Gaza; com quem está a braços com a fome e a pobreza, como o povo do Iémen; com aqueles que fogem da própria terra em busca de um futuro noutro lugar, como os muitos refugiados e migrantes que atravessam o Mediterrâneo ou atravessam o Continente americano; com aqueles que perderam o trabalho e com os que o procuram, como tantos jovens que têm dificuldade em encontrar emprego; com aqueles que são explorados, como muitos trabalhadores mal remunerados; com aqueles que estão na prisão e, muitas vezes, vivem em condições desumanas.

Ao coração de Deus chega a invocação de paz que se eleva de todas as partes da terra, como escreve um poeta:

«Não a paz de um cessar-fogo,
nem a visão do lobo e do cordeiro,
mas antes
como quando no coração a excitação termina
e apenas se pode falar de um grande cansaço.
[...]
Venha de repente,
como as flores selvagens,
porque o campo
precisa dela: paz selvagem».[1]

Neste santo dia, abramos o nosso coração aos irmãos e irmãs que passam necessidades e sofrem. Ao fazê-lo, abrimos o nosso coração ao Menino Jesus, que, com os braços abertos, nos acolhe e revela a sua divindade: «a quantos o receberam, aos que nele creem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1, 12).

Em poucos dias, o Ano Jubilar terminará. As Portas Santas fechar-se-ão, mas Cristo, nossa esperança, permanecerá sempre conosco. Ele é a Porta sempre aberta, que nos introduz na vida divina. É a alegre notícia deste dia: o Menino que nasceu é Deus feito homem; Ele não vem para condenar, mas para salvar; a sua não é uma aparição fugaz; Ele vem para ficar e dar-se a si mesmo. N’Ele, todas as feridas são curadas e todos os corações encontram repouso e paz. «O Natal do Senhor é o Natal da paz».

Desejo a todos, de coração, um feliz e santo Natal.
_______________

[1] Y. Amichai, “Wildpeace”, in The Poetry of Yehuda Amichai, Farrar, Straus and Giroux, 2015.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Papa na Missa de Natal: estamos ao serviço de uma presença que suscita o bem

Natal do Semhor - Santa Missa presidida pelo Papa Leão XIV (Vatican Media)

Em sua homilia na missa de Natal, Leão XIV recordou que "a paz de Deus nasce de um choro de criança acolhido, de um pranto ouvido: nasce entre ruínas que invocam solidariedades renovadas". O Pontífice disse que "fragilizada se encontra a carne das populações indefesas, provadas por tantas guerras em curso ou concluídas, deixando escombros e feridas abertas. Fragilizadas estão as mentes e as vidas dos jovens obrigados a pegar em armas".

https://youtu.be/cTxuGgk_XeM

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Leão XIV presidiu a missa de Natal, na Basílica de São Pedro, na manhã desta quinta-feira, 25 de dezembro.

O Pontífice iniciou sua homilia com um trecho do Livro do Profeta Isaías: «Irrompei em cânticos de alegria». É o que diz "o mensageiro da paz a todos aqueles que se encontram entre as ruínas de uma cidade inteiramente por reconstruir".

"A paz existe e já está no meio de nós", disse o Papa Leão, recordando "a surpresa que a liturgia do Natal coloca diante de nós: o Verbo de Deus aparece e não sabe falar, vem até nós como um recém-nascido que apenas chora e dá vagidos. «Fez-se carne» e, embora crescerá e um dia aprenderá a língua do seu povo, agora fala apenas a sua presença simples e frágil.

“«Carne» é a nudez radical à qual, em Belém e no Calvário, falta até a palavra; como a não têm muitos irmãos e irmãs despojados da sua dignidade e reduzidos ao silêncio. A carne humana pede cuidados, invoca acolhimento e reconhecimento, procura mãos capazes de ternura e mentes dispostas à atenção, deseja palavras bonitas.”

"Eis a forma paradoxal segundo a qual a paz já está entre nós: o dom de Deus envolve-nos, procura acolhimento e mobiliza a dedicação. Surpreende-nos porque se expõe à rejeição, encanta-nos porque nos arranca da indiferença", disse ainda Leão XIV.

“É um verdadeiro poder o de nos tornarmos filhos de Deus: um poder que permanece enterrado enquanto estivermos distantes do choro das crianças e da fragilidade dos idosos, do silêncio impotente das vítimas e da melancolia resignada de quem faz o mal que não quer.”

A seguir, o Pontífice recordou as palavras do Papa Francisco na Evangelii gaudium: «Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura».

"Queridos irmãos e irmãs, uma vez que o Verbo se fez carne, agora a carne fala, brada o desejo divino de nos encontrar. O Verbo ergueu no meio de nós a sua frágil tenda", disse ainda Leão XIV, acrescentando:

“E como não pensar nas tendas de Gaza, expostas durante semanas à chuva, ao vento e ao frio, e nas tendas de tantos outros deslocados e refugiados em todos os continentes; ou nos refúgios improvisados de milhares de pessoas sem-abrigo dentro das nossas cidades? Fragilizada se encontra a carne das populações indefesas, provadas por tantas guerras em curso ou concluídas, deixando escombros e feridas abertas. Fragilizadas estão as mentes e as vidas dos jovens obrigados a pegar em armas, que precisamente na frente de batalha percebem a insensatez do que lhes é exigido e a mentira de que estão embebidos os discursos inflamados daqueles que os enviam para a morte.”

"A paz de Deus nasce de um choro de criança acolhido, de um pranto ouvido: nasce entre ruínas que invocam solidariedades renovadas, nasce de sonhos e visões que, como profecias, invertem o curso da história. Sim, tudo isso existe, porque Jesus é o Logos, o sentido a partir do qual tudo tomou forma", sublinhou o Papa Leão, recordando que por Jesus «é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência». "Este mistério interpela-nos a partir dos presépios que construímos, abre-nos os olhos para um mundo em que a Palavra ainda ressoa, «muitas vezes e de variados modos», e continua a chamar-nos à conversão", sublinhou.

De acordo com o Papa, "o Evangelho não esconde a resistência das trevas à luz, descreve o caminho da Palavra de Deus como uma estrada intransitável, repleta de obstáculos. Até hoje, os autênticos mensageiros da paz seguem o Verbo neste caminho, que finalmente alcança os corações: corações inquietos, que muitas vezes desejam justamente aquilo a que resistem".

“Assim, o Natal motiva novamente uma Igreja missionária, impelindo-a pelos caminhos que a Palavra de Deus traçou para ela. Não estamos ao serviço de uma palavra prepotente – já ressoam por toda parte –, mas de uma presença que suscita o bem, conhece a sua eficácia e não reivindica o seu monopólio.”

"Eis o caminho da missão: um caminho em direção ao outro", sublinhou Leão XIV, ressaltando que "em Deus, cada palavra é uma palavra dirigida, é um convite à conversação, uma palavra que nunca é igual a si mesma". "É a renovação que o Concílio Vaticano II promoveu e que veremos florescer apenas caminhando juntos com toda a humanidade, sem nunca nos separarmos dela", disse ainda o Papa Leão, recordando que "o contrário é mundano: ter-se a si mesmo como centro".

Segundo o Pontífice, "o movimento da Encarnação é um dinamismo de conversação" e, de acordo com ele, "haverá paz quando os nossos monólogos se interromperem e, fecundados pela escuta, cairmos de joelhos diante da carne despojada do outro". "Precisamente nisto, a Virgem Maria é a Mãe da Igreja, a Estrela da evangelização, a Rainha da paz. Nela compreendemos que nada nasce da exibição da força e tudo renasce a partir do poder silencioso da vida acolhida".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

O Natal em tons de cinza: A realidade dos excluídos na Casa dos Pobres

Frei Luiz Favaron | Divulgação | Aleteia

Paulo Teixeira - publicado em 24/12/25

Enquanto a maioria das famílias se prepara para as festividades de fim de ano com luzes, banquetes e trocas de presentes, existe um grupo para o qual o calendário parece ter estagnado em uma rotina de invisibilidade e sobrevivência.

 No coração da "Casa dos Pobres", na periferia de São Paulo,  Frei Luiz Favaron compartilha uma reflexão profunda sobre o impacto — ou a falta dele — que o Natal exerce sobre aqueles que ele descreve como "os mais pobres entre os pobres". 

Para este público, a marginalização é tão profunda que atinge até a percepção de pertencimento espiritual. O Frei relata que, durante as celebrações eucarísticas de domingo, um número considerável de frequentadores da casa opta por sair e não participar do rito. "Penso que eles acham e sentem que a igreja não é para eles" , observa o religioso, evidenciando o abismo que a exclusão social cava entre o indivíduo e as instituições. 

Na tentativa de reaproximar esse povo da mensagem cristã, Frei Luiz utiliza a imagem do presépio não como um adorno estético, mas como um reflexo da realidade crua das calçadas. Ele frequentemente lembra aos acolhidos que a origem de Cristo guarda uma semelhança direta com a jornada deles. "Digo que Jesus nasceu na rua, como muitos deles estão agora vivendo na rua". 

O impacto dessa afirmação é imediato e inexplicável. "Quando falo isso, se faz um profundo silêncio. Tem algo misterioso que se manifesta nesse momento. Eu não sei explicar". É neste silêncio que a figura de Deus parece ser a única âncora que resta a quem já foi destituído de tudo. 

A vida sem cores

Apesar dos esforços da Casa dos Pobres em proporcionar um ambiente festivo — com almoços diferenciados, salões enfeitados e músicas temáticas —, Frei Luiz confessa sentir uma ponta de frustração diante da apatia causada pela miséria extrema. Para o homem que vive à margem, a data no calendário não altera a urgência da fome ou a necessidade de roupas e material de higiene. 

"Para esse povo mais pobre, Natal e Ano Novo é a mesma coisa que todo outro dia do ano", afirma o Frei. Ele descreve a existência desse grupo como uma jornada sem matizes: "A vida deles é cinza, não tem mais sonhos, não tem mais desejos, são pessoas tão humilhadas e excluídas que a capacidade de projetar o futuro ou desejar algo além da sobrevivência imediata foi neutralizada”. 

Gratidão

Mesmo inseridos nesse cenário de desesperança e "vida cinza", o comportamento desses homens e mulheres diante da divindade surpreende quem os atende. Existe uma resistência espiritual que desafia a lógica do consumo e da troca, tão presentes no Natal comercial. 

O Frei destaca que, ao serem incentivados a apresentar seus pedidos a Deus, os acolhidos raramente solicitam bens materiais ou mudanças de sorte. Em vez disso, o foco se volta inteiramente para o reconhecimento do que ainda possuem. "Quando a gente pede para eles de fazer algum pedido a Deus, eles só agradecem, eles não pedem nada, só agradecem". A gratidão se manifesta pelas coisas mais fundamentais: pela vida, pelo prato de comida e pelo acolhimento recebido na Casa dos Pobres. 

Essa lição de fé e resiliência, vinda de quem habita as margens da sociedade, encerra o ano de Frei Luiz com um sentimento de assombro e respeito pelo mistério que envolve a relação entre o criador e a criatura nos momentos de maior vulnerabilidade. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF