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segunda-feira, 14 de julho de 2025

O túmulo dos apóstolos: São Paulo

São Paulo | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 10 - 2008

O túmulo dos apóstolos

São Paulo

“Estou persuadido de que Ele tem poder para guardar o bem que me foi confiado”

de Lorenzo Bianchi

Paulo (Saulo), judeu de Tarso, na Cilícia, e cidadão romano, chamado por Jesus para ser um dos apóstolos quando se dirigia a Damasco para organizar a perseguição contra os cristãos, está sepultado em Roma. Ele chegou à capital do Império na primavera de 61, prisioneiro, para ser submetido ao julgamento de Nero, ao qual apelara, enquanto cidadão romano, depois de sua prisão em Jerusalém, em 58, acusado por alguns judeus de ter ultrajado a lei de Moisés. A viagem de Paulo é descrita por Lucas, que o acompanhou, nos Atos dos Apóstolos (At 27, 1-44): de navio até Malta, chegando primeiro às ilhas de Chipre e de Creta, depois a Siracusa, Régio e Putéoli, ou seja, por toda a Via Ápia até Forum Appi (perto de Terracina) e as Tres Tabernae (Pizzo Cardinale, a poucos quilômetros da atual Cisterna), localidades nas quais vieram a seu encontro os cristãos de Roma, para, enfim, chegar à Urbe. Na capital do Império, ficou sob custodia militaris (ou seja, livre para morar em sua casa, mas sob a vigilância de um soldado), à espera do processo, que provavelmente não se realizou, pois seus acusadores não se apresentaram em Roma. Uma tradição indica como morada de Paulo um edifício no Tibre, onde hoje vemos a igreja de São Paulo em Regra (as pesquisas arqueológicas realizadas até hoje confirmam aí a existência de edificações romanas do final do século I d.C.); houve quem quisesse indicar uma outra residência do apóstolo, num período seguinte, perto na domus de Áquila e Priscila, no Aventino, lugar em que hoje vemos a igreja dedicada a Santa Prisca. Libertado da prisão, Paulo talvez não estivesse mais em Roma em 64, ano do início da perseguição de Nero. No entanto, voltou para a capital logo depois, novamente prisioneiro, e dessa vez mantido no cárcere, no ano de 66 ou 67, quando foi processado e condenado ao martírio por decapitação.

A passagem de autoria do papa Clemente já citada a propósito de Pedro nos leva a intuir que a prisão de Paulo e sua condenação se deram por denúncia de cristãos; algumas das palavras do apóstolo dirigidas a Timóteo testemunham seu abandono e sua solidão: “Demas me abandonou por amor do mundo presente. Ele partiu para Tessalônica” (2Tm 4, 10); “Somente Lucas está comigo” (2Tm 4, 11); “Na primeira vez em que apresentei a minha defesa ninguém me assistiu, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja imputado” (2Tm 4, 16).

Várias tradições unem Pedro e Paulo nas circunstâncias do martírio: desde sua detenção à prisão no mesmo Cárcere Mamertino até seu último encontro na Via de Óstia, pouco depois dos limites de Roma; no entanto, como já dissemos, os estudos mais recentes e aceitos tendem a indicar anos diferentes para os martírios de Pedro e Paulo. De qualquer forma, é constante e muito antiga a tradição, originada no século II, que aponta como lugar do martírio de Paulo o chamado Ad Aquas Salvias, pouco além da área habitada da capital, onde investigações arqueológicas do final do século XIX confirmaram testemunhos do século I, e onde também, no século V, foi edificada a igreja de São Paulo Ad Tres fontes, atualmente parte da Abadia das Três Fontes. Seu sepultamento, por sua vez, deu-se numa área de cemitério próxima da Via de Óstia, segundo a tradição num sítio de propriedade de uma certa Lucina (praedium Lucinae); isso nos é testemunhado pela primeira vez pela passagem de Gaio já citada a propósito de Pedro, do final do século II, tempo do pontificado do papa Zeferino (198-217), que diz: “Posso mostrar-te os troféus dos apóstolos. Se quiseres dirigir-te ao Vaticano ou à Via de Óstia, encontrarás os troféus daqueles que fundaram esta Igreja” (in: Eusébio de Cesaréia, História eclesiástica, II, 25, 6-7). É útil repetir mais uma vez aqui que, utilizando a palavra grega trópaion, Gaio não quer aludir em primeiro lugar à estrutura arquitetônica, que sem dúvida deve ter existido, mas, em sentido próprio, a seu conteúdo, ou seja, ao corpo do mártir, no qual se mostrou a vitória de Cristo: é esse o “troféu da vitória”. Vestígios de parte da necrópole em que Paulo foi sepultado, a qual se desenvolveu desde o século I a.C. até o final do século IV, recuperados e cercados, ainda podem ser vistos ao longo da Via de Óstia, perto da atual Basílica de São Paulo. O Liber pontificalis, em que são recolhidas as biografias dos bispos de Roma até a baixa Idade Média, informa-nos que Constantino edificou uma Basílica sobre a sepultura de Paulo, edificação que, portanto, deve ser datada de antes de 337, ano da morte de Constantino. Não foram encontrados vestígios seguros dessa primeira construção, não obstante hipóteses até recentes falem de uma pequena abside (que, a rigor, poderia pertencer a um mausoléu qualquer da necrópole em que se deu o sepultamento de Paulo) que apareceu à frente do altar da basílica durante as escavações de 1850, a qual testemunharia um edifício muito menor que o atual, orientado para o lado oposto. Por volta de 384-386, os imperadores Valentiniano II, Teodósio e Arcádio, num rescrito ao praefectus Urbi Salústio, prescreveram que decorasse (ornare), ampliasse (amplificare) e elevasse, ou melhor, tornasse maior e mais magnífica (attollere) a igreja construída sobre o túmulo do apóstolo, também em razão da notável quantidade de peregrinos. Disso resultou uma basílica com cinco naves, notavelmente alta, com um enorme transepto. De modo geral, essa basílica continuou intacta até o século XIX, quando o terrível incêndio de 26 de julho de 1823 destruiu grande parte dela, sem, porém, causar nenhum dano ao lugar da sepultura de Paulo.

A igreja que conhecemos, reconstruída nas três décadas seguintes, é, portanto, apenas uma cópia da basílica do século IV. O já citado Liber pontificalis (cuja redação remonta ao século VI, mas que seguramente se baseia em fontes bem mais antigas) informa-nos também que Constantino mandou encerrar o corpo de Paulo numa caixa de bronze, cercada e protegida por um ambiente murado, semelhante ao do sepulcro de Pedro. A caixa, sobre a qual se destacava uma grande cruz de ouro de 150 libras de peso, deveria encontrar-se (a falta de verificações impõem o uso do condicional) debaixo do nível do pavimento da basílica constantiniana, mais abaixo que o nível da construção seguinte, dos imperadores Valentiniano II, Teodósio e Arcádio. Ao lugar da sepultura corresponde hoje, mais no alto, o altar central. O arranjo da confissão paulina, tal como acima descrito, não se modificou substancialmente ao longo dos séculos, a não ser no que diz respeito a seu entorno, uma primeira vez na época do papa Leão Magno (440-461), que elevou o transepto, e uma segunda vez quando o papa Gregório Magno (590-604), depois de uma nova elevação do nível do pavimento, mandou escavar uma cripta, que se desdobrava em forma de anel ao redor do túmulo do apóstolo, permitindo o acesso e a visita dos fiéis. Uma parte dessa cripta continua a existir até hoje, diante do altar; o restante foi destruído durante os trabalhos de restauração realizados no século XVI, que deram um acesso mais direto ao lugar em que são conservados os restos mortais de Paulo. No atual nível do presbitério, debaixo do altar, encontra-se uma laje de mármore, formada por duas peças diferentes unidas entre si, nas quais estão esculpidas as palavras “PAULO APOSTOLO MART[YRI]” (“a Paulo apóstolo e mártir”), presumivelmente do século V. Na laje, três furos, um circular e dois retangulares, levam a três ;ão da basílica, na forma como hoje a vemos) pôde observar de perto o que ficou vedado aos olhos de todos durante séculos, e preparou esboços para documentar esse reconhecimento ocasional, que não chegou à abertura da caixa sepulcral. O estudo dessa documentação, unido a alguns ensaios realizados há pouco tempo na região do altar, permitiu constatar a diferença de profundidade entre os níveis do pavimento mais recentes e o da Basílica dos Três Imperadores. Entre esse pavimento e o altar foi encontrada parte do lado mais comprido de algo que foi interpretado como uma caixa de mármore, em cuja tampa um furo circular (hoje fechado) corresponde ao furo circular presente na laje que ficava acima dela, com a epígrafe “PAULO APOSTOLO MART[YRI]”. Até o momento, não foram realizadas pesquisas sobre o interior da suposta caixa. Seja como for, pelo nível em que se encontra, não se trata da sepultura originária de Paulo, que certamente está num nível inferior (debaixo desse deveria estar o nível constantiniano, e mais abaixo ainda, aquele que corresponde ao trópaion citado por Gaio). Não podemos, no entanto, excluir a hipótese de um traslado “vertical” do corpo de Paulo, para um lugar mais elevado, no final do século IV, como o que ocorreu (em época diferente) com o de Pedro. Em 2006, foi removido da confissão da basílica de Via de Óstia o altar moderno dedicado a um São Timóteo mártir do século IV, e assim hoje pode ser vista parte da área que fica debaixo do altar e da laje com a epígrafe.

Papa Bento XVI observa o lugar do túmulo de São Paulo, embaixo do altar central da Basílica de São Paulo Fora dos Muros, através da janela recentemente aberta na cripta | 30Giorni

É oportuno lembrar aqui também, como fizemos a propósito de Pedro, a epígrafe do papa Dâmaso (366-384) na Memoria Apostolorum ad catacumbas da Via Ápia (hoje Basílica de São Sebastião), que diz: “Quem quer que sejas, que buscas conjuntamente os nomes de Pedro e Paulo, sabe que esses santos aqui repousaram [habitasse] um tempo. O Oriente enviou os discípulos – afirmam-no de bom grado – e eles, graças ao sangue do martírio e ao excelso seguimento de Cristo, alcançaram as regiões celestiais e o reino dos justos. Roma mereceu antes disso reivindicá-los como seus cidadãos. Isso canta em vosso louvor Dâmaso, ó novos luminares”. Com base nesse texto, e na presença de grande número de inscrições de invocação conjunta a Pedro e Paulo nas catacumbas, foi formulada a hipótese de um traslado temporário das relíquias dos dois fundadores da Igreja de Roma para esse lugar no período da perseguição iniciada pelo imperador Valeriano (258); mas, como já dissemos, aqui estamos apenas no campo das hipóteses de estudo.

Enfim, uma tradição medieval afirma que tanto a cabeça de Paulo quanto a de Pedro tenham sido conservadas desde o século VIII no Sancta Sanctorum, e depois transferidas pelo papa Urbano V, em 16 de abril de 1369, para dois bustos de prata localizados no baldaquino da Basílica de Latrão. O cardeal Antonelli reconheceu as relíquias em 23 de julho de 1823; investigações científicas foram realizadas há algumas décadas, entre as pesquisas a respeito de Pedro, mas os resultados são incertos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O Papa no Angelus: sejamos todos os dias construtores da paz

Angelus, 13/07/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Em Cristo, Deus fez-se próximo de todos os homens e mulheres; por isso, cada um de nós pode e deve tornar-se próximo daqueles que encontra pelo caminho. Seguindo o exemplo de Jesus, Salvador do mundo, também nós somos chamados a levar consolação e esperança, especialmente àqueles que estão desanimados e desiludidos: disse Leão XIV no Angelus deste domingo (13/07) em Castel Gandolfo, nos Castelos Romanos, onde transcorre estes dias um período de repouso.

https://youtu.be/zWQ9AokAulU

Raimundo de Lima – Vatican News

Que a Virgem Maria, Mãe da Misericórdia, “nos ajude a acolher no nosso coração a vontade de Deus, que é sempre a vontade de amor e salvação, para sermos todos os dias construtores da paz”: foi o pedido do Pontífice à Virgem Santa no Angelus deste domingo (13/07) em Castel Gandolfo, nos Castelos Romanos, onde o Papa transcorre estes dias um período de repouso. A oração mariana foi conduzida por Leão XIV na Praça da Liberdade diante do Palácio Apostólico da pequena cidade do Lácio, onde se encontra a residência de verão do Papa. Numa praça lotada de fiéis e peregrinos, o Santo Padre manifestou sua alegria por encontrar-se ali nestes dias e agradeceu a calorosa acolhida.

O Papa Leão XIV no Angelus em Castel Gandolfo   (@Vatican Media)

No coração do homem, o desejo de salvação

Na alocução que precedeu o Angelus, o Santo Padre destacou que o Evangelho do dia se inicia com uma lindíssima pergunta feita por Jesus: “Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” (cf. Lc 10, 25). Estas palavras, disse o Papa, exprimem um desejo constante na nossa vida: o desejo de salvação, ou seja, de uma existência livre do fracasso, do mal e da morte.

O que o coração do homem espera é descrito como um bem “herdado”: nem se conquista através da força, nem se implora como se fôssemos servos, nem se obtém por contrato. “A vida eterna, que só Deus pode dar - observou - é transmitida ao homem como herança, de pai para filho”.

Amor que socorre e nunca abandona

Eis por que, à nossa pergunta, Jesus responde que, para receber o dom de Deus, é preciso acolher a sua vontade. Está escrito na Lei: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração” e “o teu próximo como a ti mesmo”. Fazendo assim, correspondemos ao amor do Pai: a vontade de Deus é, na verdade, aquela lei de vida que Deus, em primeiro lugar, pratica a nosso respeito, amando-nos por inteiro no seu Filho Jesus.

Irmãos e irmãs, olhemos para Ele! Jesus é a revelação do verdadeiro amor para com Deus e para com o homem: amor que se dá e não possui, amor que perdoa e não demanda, amor que socorre e nunca abandona.

O Papa Leão XIV no Angelus em Castel Gandolfo   (@Vatican Media)

Levar consolação e esperança aos desanimados

Em Cristo, Deus fez-se próximo de todos os homens e mulheres; por isso, cada um de nós pode e deve tornar-se próximo daqueles que encontra pelo caminho. Seguindo o exemplo de Jesus, Salvador do mundo, também nós somos chamados a levar consolação e esperança, especialmente àqueles que estão desanimados e desiludidos. 

Para viver eternamente, portanto, não há que enganar a morte, mas servir a vida, ou seja, cuidar da existência dos outros no tempo que aqui partilharmos. Esta é a lei suprema, que não só está antes de qualquer regra social como lhe dá sentido.

Ao término da oração mariana o Santo Padre concedeu a todos a sua Bênção Apostólica.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 13 de julho de 2025

Redes sociais: cuidar para que seja um passatempo e não busca de fofoca da vida alheia

Worranan Junhom

Mónica Muñoz - publicado em 11/07/25

O popular passatempo das redes sociais deixa de ser algo inócuo quando nos interessamos demasiadamente, sem perceber, pelas desgraças alheias nos transforma em espectadores que faltam à caridade.

As redes sociais vieram para ficar. Sem perceber, nos deixamos envolver por publicações — ou posts — que se tornam virais quando divulgam situações vergonhosas ou desgraças alheias, e a situação piora quando, movidos pela morbidez, buscamos mais informações. E a caridade, onde fica?

A busca pela fofoca

O Papa Francisco, em muitas ocasiões, alertou contra a fofoca, que caminha lado a lado com a murmurar. Em seu último discurso de Natal à Cúria Romana, insistiu:

"Às vezes, falei sobre a murmuração. É um mal que destrói a vida social, faz adoecer o coração das pessoas e não leva a lugar nenhum. O povo diz muito bem: 'são discursos vazios'".

Lamentavelmente, as redes sociais estão carregadas de fofocas de todo tipo. Desde as "notícias", que na maioria das vezes são ruins, até os comentários que as pessoas deixam nas publicações, não nos esquecendo das fake news que nada mais é do que a mentira, propriamente dita.

Porque hoje qualquer pessoa se arroga o direito de dar sua opinião, seja por escrito ou em vídeo, sobre assuntos que deveriam ser privados, mas que são expostos sem pudor, como mortes, acidentes e situações que causam dor às famílias dos envolvidos.

A consequência lógica é que, seja uma pessoa comum, um governante ou uma figura pública, isso gera uma morbidez insana que provoca a busca por detalhes sobre o que aconteceu com o próximo, e não precisamente para orar por ele, mas para satisfazer a curiosidade.

Mas recordemos que as redes sociais não fazem distinções, e quem se afilia a alguma delas deve entender que perde sua privacidade.

Cuidar do que vemos nas redes por caridade

Diz o apóstolo Tiago:

"... ninguém pode dominar a língua, que é um flagelo sempre ativo e cheio de veneno mortal. Com ela bendizemos ao Senhor, nosso Pai, e com ela maldizemos os homens, feitos à imagem de Deus. Da mesma boca saem a bênção e a maldição" (Tiago 3, 8-10).

É muito importante que detectemos quando caímos no vício da morbidez e que nos detenhamos antes de querer averiguar e comentar, pois está em jogo nossa saúde espiritual e a dos irmãos afetados.

E que entendamos que, embora não sejam próximos a nós, devemos agir com respeito diante da dor ou da vergonha alheia, pois ninguém está isento de passar por uma situação desagradável e de ter alguém a expô-la nas redes sem seu consentimento — lamentavelmente.

Mas, acima de tudo, atuemos com caridade. Deus nos pedirá contas de cada palavra inútil e nos premiará por cada boa ação que fizermos aos outros. Portanto, sejamos amáveis e compassivos com todos e não consumamos nem fomentemos conteúdos lixo que possam colocar em risco nossa alma.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/07/11/redes-sociais-cuidar-para-que-seja-um-passatempo-e-nao-busca-de-fofoca-da-vida-alheia/

Curiosidades da Bíblia: Quem foi Pôncio Pilatos?

Bíblia (Vatican News)

Pilatos tornou-se um dos governadores romanos mais conhecidos da história, principalmente por seu papel na condenação de Jesus Cristo à morte na cruz.

Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

Existem alguns personagens que meio “sem querer, querendo” acabaram entrando para a história, ficando seus nomes registrados para a posteridade. Esse é o caso de Pôncio Pilatos, que participou do julgamento de Jesus, tendo o gesto de “lavar as mãos” eternizado, figurando hoje como atitude de quem não deseja se comprometer. Tanto assim, que seu nome entra, inclusive, na oração do Credo, o Símbolo Apostólico do cristianismo.

O que se sabe sobre Pôncio Pilatos

Pilatos tornou-se um dos governadores romanos mais conhecidos da história, principalmente por seu papel na condenação de Jesus Cristo à morte na cruz.

Ele governou a Judeia entre os anos 26 e 36 d.C., residindo na cidade de Cesareia, localizada na costa do Mediterrâneo. Por ser o representante de Roma na região, tinha autoridade sobre questões administrativas, financeiras, militares e judiciais, sendo ainda o responsável por manter a ordem e a paz entre a população local, majoritariamente judaica, com forte identidade religiosa e nacional.

Sabe-se que foi muito conturbada sua administração, pela falta de habilidade em lidar com as questões judaicas. Entre outras coisas, ele foi acusado de usar os recursos do Templo de Jerusalém para construir um aqueduto que levaria água para Cesareia. Os judeus se revoltaram e o acusaram de roubar o dinheiro sagrado. Ele ordenou que seus soldados se infiltrassem entre a multidão para reprimir a manifestação com violência, acarretando a morte de muitos judeus. Mas, o caso mais famoso e controverso de Pilatos foi o julgamento de Jesus Cristo que, preso pelos líderes religiosos dos judeus através do Sinédrio, foi acusado de blasfêmia e de incitar o povo contra Roma. Jesus foi então levado a Pilatos, que tinha autoridade para condená-lo ou determinar a sua liberdade.

O julgamento de Jesus

Os quatro evangelhos narram com detalhes o julgamento de Jesus, cada um acrescentando novos detalhes, mas todos são unânimes ao afirmar que Pilatos não encontrou nenhum motivo para condenar Jesus, e que tentou libertá-lo, oferecendo ao povo a escolha entre soltar Jesus ou Barrabás, um criminoso.

E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo, disse-lhes: Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.  Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte. 16 Castigá-lo-ei, pois e soltá-lo-ei. E era-lhe necessário soltar-lhes um detento por ocasião da festa. Mas toda a multidão clamou à uma, dizendo: Fora daqui com este e solta-nos Barrabás. Barrabás fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade e de um homicídio. Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus. Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o! Crucifica-o! Então, ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei, pois e soltá-lo-ei. Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos e os dos principais dos sacerdotes redobravam.  Então, Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam. E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles. Lucas 23, 13 a 25.

O destino de Pôncio Pilatos

Não há uma comprovação histórica exata sobre o destino de Pilatos após o julgamento de Jesus. O historiador judeu Flávio Josefo afirma que Pilatos foi destituído do cargo por causa de outro conflito com os samaritanos, povo que vivia na região da Samaria.

Fontes antigas dão diferentes versões sobre o fim de Pilatos, mas uma tradição cristã, afirma que Pilatos foi exilado nas Gálias, onde encontrou a morte. Segundo a Igreja Etíope, Pilatos se converteu ao cristianismo e, sendo martirizado, passou a ser venerado como santo.

Pilatos, porém, passou para a história como símbolo de covardia, de injustiça, de ambiguidade, de pragmatismo, de ironia, de falta de piedade ou de arrependimento. Numa linguagem moderna pode-se dizer que Pilatos “ficou em cima do muro” com medo de se comprometer. Por outro lado, ele é um personagem que revela a complexidade das relações os conflitos entre o poder político e religioso, entre a cultura romana e a cultura judaica, entre a história e a tradição.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Viu um homem na cruz e soube que era Deus: a conversão de uma ateia chinesa na Espanha

Shushu, com o marido Josemi e o filho Emmanuel, na Jornada Eucarística Mariana Juvenil (JEMJ) no santuário de Covadonga, Espanha. | Almudena Martínez-Bordiú/EWTN

Por Almudena Martínez-Bordiú*

11 de julho de 2025

A chinesa Shushu chegou à Espanha em 2016 com 23 anos de idade para estudar filologia hispânica. Ela não imaginou que teria um encontro transformador com Cristo Crucificado que a levaria a abraçar a fé católica.

"Não temos mérito algum, tudo se deve ao Senhor que nos guia”, disse Shushu no santuário de Covadonga, Espanha, à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI. “Sua misericórdia é imensa".

Ela estava lá com seu marido e com Emmanuel, seu filho, para falar sobre sua conversão do ateísmo ao catolicismo a milhares de jovens reunidos na inauguração da Jornada Eucarística Mariana Juvenil (JEMJ) em 4 de julho.

Um encontro revelador com Cristo crucificado e o amor e a felicidade das irmãs Servas da Casa da Mãe, na Espanha; levaram Shushu, uma jovem ateia da China, a abraçar a fé católica.

Tudo aconteceu no dia 31 de outubro de 2016 na cidade de Alcalá de Henares. Shushu estava na Espanha havia um mês e tinha ido a uma festa de Halloween, por curiosidade e pela atmosfera festiva. As fantasias grotescas de zumbi, o barulho de correntes arrastando pelo chão e a música alta e soturna perturbaram sua alma.

Inquieta e com o coração pesado, ela decidiu sair e caminhar sem rumo, até que chegou à imponente catedral dos Santos Justo e Pastor, onde começou a ouvir uma música — quase celestial — que contrastava drasticamente com o mal-estar que acabara de sentir.

Atraída por aquela melodia, ela decidiu entrar na igreja, e foi então que seus olhos viram um Cristo crucificado, de quem ela não conseguia desviar o olhar. Aquele encontro marcou uma virada em sua vida.

"Havia uma cruz muito grande, e eu vi Jesus lá, e isso teve um grande impacto em mim", disse ela à ACI Prensa.

Shushu diz que passou sua infância num ambiente profundamente ateu, típico da China comunista, em que nem sua família nem seu círculo mais próximo tinham fé ou falavam sobre Deus.

“Apesar disso, quando olhei para a cruz, pensei: Tem uma pessoa na cruz”, disse ela. “E por intuição sobrenatural, pensei que era Deus, que o próprio Deus estava na cruz, e não poderia ser ninguém mais".

Um olhar paterno

Cheia de paz, Shushu decidiu ir ao confessionário para falar com um padre, sem saber ao certo em que consistia o sacramento da Reconciliação.

Quando terminou de falar, agradeceu ao padre por ouvi-la e, quando estava prestes a sair, o padre abriu a janela do confessionário.

“Ele olhou para mim com um olhar muito especial”, disse Shushu em seu testemunho divulgado na JEMJ.

Naquele padre, diz ela conta, reconheceu "um olhar paternal" que lhe deu "muita confiança", e sentiu que ele a esperava há muito tempo. Foi ele quem a apresentou às irmãs Servas da Casa da Mãe, que se tornaram sua nova "família espanhola".

“Eu não sabia de nada; nunca tinha visto uma freira na minha vida”, diz Shushu com humor e certa desenvoltura. No entanto, ela diz que a felicidade “angelical” delas chamou sua atenção.

“Nunca tinha visto alguém tão feliz, tão alegre, tão jovem”, diz a jovem chinesa. “Decidi me converter depois de conhecer as freiras”.

Queria ser filha de Deus

Então uma das freiras pegou-a pela mão e perguntou: “Você quer ser batizada?” Ao que Shushu perguntou: “O que significa ser batizada?”

"Ela me disse que ser batizada significa ser filha de Deus, como nós”, diz a jovem chinesa. “Naquele momento, eu não entendia nada, nem sabia por que uma chinesa podia ser filha de Deus ou por que Deus é meu Pai".

No entanto, a felicidade que emanava dos rostos das freiras do Lar da Mãe a convenceu.

"Era como se eu sentisse um chamado no meu coração: eu também queria ser batizada; eu queria ser como elas, uma filha de Deus", diz ela

Ela foi batizada com o nome de Shushu Maria.

O caminho para sua conversão não foi fácil, marcado pelas dificuldades inerentes ao crescimento num ambiente profundamente ateu.

No entanto, ela conseguiu seguir em frente graças à orientação e ao testemunho das freiras, cujo apoio foi fundamental para abrir seu coração à fé.

“Fui batizada na mesma igreja onde entrei pela primeira vez e também me casei lá”, diz Shushu. As cerimônias ocorreram diante do crucifixo em que ela conheceu Jesus Cristo.

Hoje, aos 32 anos de idade, ela acredita firmemente que a Espanha é sua “pátria espiritual”, o lugar onde foi batizada e começou “uma nova vida”.

Ela também se sentiu extremamente grata por poder anunciar seu testemunho no santuário de Covadonga, que Shushu diz ser "o coração da Espanha e um lugar muito importante em sua história".

Em Covadonga, o rei Pelaio, primeiro rei de Astúrias, teve uma visão da Virgem Maria que lhe garantiu a vitória contra os muçulmanos. A vitória de Pelayo deu início à reconquista à reconquista da Espanha que se completou em 1492, com a expulsão dos islâmicos da península Ibérica.

*Almudena Martínez-Bordiú é uma jornalista espanhola correspondente da ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, em Roma e no Vaticano, com quatro anos de experiência em informação religiosa.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63599/viu-um-homem-na-cruz-e-soube-que-era-deus-a-conversao-de-uma-ateia-chinesa-na-espanha

Jubileu dos Jovens: do Vaticano à Aparecida no Brasil, programações para renovar a fé

Jubileu dos Jovens (Vatican News)

O Ano Santo também está mobilizando os jovens em todo mundo, como uma oportunidade para renovar a fé e aprofundar a identidade como discípulos missionários. No Vaticano, a programação oficial vai acolher e envolver os peregrinos de 28 de julho a 3 de agosto, com três oportunidades de encontrar o Papa Leão XIV. No Brasil, o Jubileu dos Jovens em Aparecida será realizado em setembro inclusive com Romaria Nacional e Seminário dos Comunicadores.

Andressa Collet - Vatican News

O Jubileu dos Jovens, que começa em menos de 20 dias, já está movimentando milhares deles, inclusive aqueles de língua portuguesa, que virão para ao Vaticano para uma programação intensa de 28 de julho a 3 de agosto. Segundo o arcebispo de Braga, em Portugal, dom José Cordeiro, 1.100 jovens da arquidiocese devem fazer a viagem à Itália, após a missa de envio na Cripta do Santuário do Sameiro em 25 de julho. Partirão de ônibus para Roma, onde irão antecipar as atividades do Jubileu com roteiros religiosos e encontros com entidades de forte ligação à Igreja de Braga.

O encontro com o Papa Leão XIV

Oficialmente, o Jubileu dos Jovens começa em 28 de julho com o acolhimento às caravanas durante todo o dia. No dia seguinte, em 29 de julho, será realizada a missa de boas-vindas na Praça São Pedro para, finalmente em 30 de julho, encontrar o Papa Leão XIV pela primeira vez: será durante a Audiência Geral, retomada nesse dia após o período de repouso do Pontífice em Castel Gandolfo. Além da oferta de eventos de caráter cultural, artístico e espiritual ao jovens em diferentes pontos da cidade de Roma, no primeiro dia de agosto o compromisso é com a Jornada Penitencial no Circo Massimo - com a possibilidade de receber o Sacramento da Reconciliação.

Na noite de 2 de agosto, de um sábado, um novo encontro com o Papa está previsto, durante a Vigília de Oração em Tor Vergata. No domingo, 3 de agosto, o encerramento do Jubileu dos Jovens em companhia de Leão XIV, que preside missa a partir das 9h na Itália, 4h no Horário de Brasília. A celebração será novamente em Tor Vergata, um local situado na periferia de Roma que entrou para a história pela grande missa presidida por João Paulo II durante o Jubileu do Ano 2000.

Info Point do Jubileu, o ponto de referência oficial para os peregrinos e turistas que chegam a Roma para viver o Ano Santo, já está especialmente aberto para os jovens na Via dell'Ospedale, n. 1. Uma equipe de voluntários deverá fazer o acolhimento, organizada em grupos linguísticos para melhor orientar a experiência jubilar dos jovens com informações práticas e indicações logísticas: desde o português, até o espanhol, italiano, inglês, francês e polonês.

O Jubileu dos Jovens no Brasil

Com a distância e os altos custos de uma viagem do Brasil à Itália, muitos jovens brasileiros ficarão impossibilitados de participar das atividades oficiais do Jubileu dos Jovens no Vaticano. A Comissão para a Juventude da CNBB, então, irá promover o evento em nível nacional de 3 a 6 de setembro no Santuário Nacional de Aparecida, em Aparecida (SP), integrando as celebrações do Ano Santo com o tema “Peregrinos da Esperança”. A iniciativa busca reunir jovens de todas as regiões do país em um caminho de fé, comunhão e formação.

A programação inclui encontros formativos, seminário de comunicação e a tradicional Romaria Nacional da Juventude. No dia 3 começa o Encontro Nacional de Responsáveis Diocesanos, Assessores e Líderes Jovens (RDJ 2025) para oferecer um espaço de formação, escuta e planejamento conjunto entre as lideranças que atuam na pastoral juvenil em nível diocesano. Durante três dias os participantes irão refletir sobre os desafios da evangelização da juventude, a sinodalidade na ação pastoral e o papel dos jovens no contexto social e eclesial.

No dia 5 de setembro será realizado o RISE UP: 3º Seminário de Jovens Comunicadores, voltado aos jovens que atuam com comunicação social e evangelização digital. O encontro visa formar jovens comprometidos com a comunicação ética e evangelizadora, em sintonia com as diretrizes da Igreja e abordando temas como produção de conteúdo, redes sociais, inteligência artificial e missão digital. Por fim, no dia 6 será promovida a Romaria Nacional da Juventude. A expectativa é reunir milhares de jovens de diversas dioceses para um dia de celebração e testemunho da fé, marcado por missas, momentos de oração, catequeses e atividades culturais. 

Já dá para fazer a inscrição ao Jubileu em Aparecida

Jubileu dos Jovens em Aparecida faz parte do caminho sinodal da Igreja, que convida todos os fiéis a viverem a esperança como virtude cristã e compromisso com a transformação da realidade. Para a juventude, trata-se de uma oportunidade de renovar a fé, assumir o protagonismo juvenil e aprofundar a identidade como discípulos missionários. As inscrições já podem ser feitas pelo site da CNBB: www.cnbb.org.br.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O túmulo dos apóstolos: São Pedro (Parte (2/2)

A Basílica de São Pedro no Vaticano vista da extremidade da colina do Gianículo, antigamente esta fazia parte dos Jardins de Nero onde ocorreu o martírio dos cristãos de Roma depois do incêndio de 19 de julho do ano 64 | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 10 - 2008

O túmulo dos apóstolos

São Pedro

O discípulo que aprendeu a humildade.

de Lorenzo Bianchi

Entre 1939 e 1949, por vontade de Pio XII, uma escavação arqueológica sob o altar-mor da Basílica Vaticana foi levada a cabo por quatro estudiosos de arqueologia, arquitetura e história da arte – Bruno Maria Apollonj-Ghetti, padre Antonio Ferrua, S.J., Enrico Josi e padre Engelbert Kirschbaum, S.J. –, sob a direção de dom Ludwig Kaas, secretário da Insigne Fábrica de São Pedro. Inicialmente, eles encontraram o monumento de Constantino, um paralelepípedo com cerca de três metros de altura, revestido de mármore pavonáceo e pórfiro. A face anterior desse monumento tinha uma abertura que corresponde ao atual Nicho dos Retábulos, nas Grutas Vaticanas; a posterior, parcialmente recuperada, ainda pode ser vista atrás do altar da Capela Clementina. Escavando ao longo dos lados do monumento constantiniano, foi possível encontrar debaixo dele o túmulo de Pedro. As escavações revelaram uma pequena capela, formada por uma mesa sustentada por duas pequenas colunas de mármore e apoiada num muro rebocado e pintado de vermelho (o chamado “muro vermelho”) em posição correspondente à de um nicho; no chão, diante do nicho, sob uma pequena laje, um túmulo escavado diretamente na terra. A pequena capela, que pode ser datada do século II, logo foi identificada como sendo o “troféu de Gaio”. Mas o túmulo encontrado estava vazio.

Pio XII, como dissemos antes, fez o anúncio do achado. Passado algum tempo desde o fim das escavações e sua publicação, teve início uma segunda fase de já havia sido notado durante as escavações, em novembro de 1941, antes que os pesquisadores chegassem ao túmulo escavado por baixo, na terra, mas, de imediato, sua importância não fora compreendida. Segundo a reconstrução elaborada mais tarde pela arqueóloga Margherita Guarducci, desse lóculo havia sido retirada grande parte do material que continha, a ponto de, no dia seguinte de sua descoberta, um dos escavadores, padre Antonio Ferrua, já tê-lo visto vazio. O certo é que, como viemos a saber vários anos depois do fim das escavações e de sua publicação, provinha dali um importantíssimo documento epigráfico, um fragmento extremamente pequeno (3,2 x 5,8 cm) de reboco vermelho, que ali se depositara, vindo do “muro vermelho” adjacente; sobre esse fragmento, estava grafitado, em grego, a expressão “PETR[Oc] ENI”, ou seja, “Pedro está aqui”, como a interpretou Guarducci. Seus estudos, realizados entre 1952 e 1965, levaram à decifração dos grafitos do “muro g” (que continha o lóculo), mostrando que estes continham uma ampla série de invocações a Cristo, a Maria e a Pedro, sobrepostas e combinadas. Os mesmos estudos, compostos de pesquisas complexas e bem articuladas, realizadas com o máximo rigor científico, levaram também ao reconhecimento do que estava contido no lóculo, ou seja, as relíquias de Pedro, que para lá tinham sido transferidas, antes dos trabalhos ordenados por Constantino, depois de retiradas do túmulo escavado na terra. Encontradas numa pequena caixa nas dependências das Grutas Vaticanas, onde haviam sido depositadas pela pessoa que, anos antes, as extraíra do lóculo, as relíquias, depois de analisadas, revelaram-se pertencentes a um só homem, de compleição robusta, que morrera em idade avançada. Tinham incrustações de terra e mostravam ter sido envolvidas num pano de lã colorida de púrpura, com trama de ouro; as relíquias eram compostas de fragmentos de todos os ossos do corpo, exceto dos ossos dos pés, dos quais não havia o menor vestígio. Esse pormenor, realmente singular, não podia deixar de trazer à memória a circunstância da crucifixão inverso capite (de cabeça para baixo), atestada por uma antiga tradição como símbolo da humildade de Pedro; os resultados desse tipo de crucifixão, ou seja, a separação dos pés, eram visíveis nos restos do corpo encontrado. A mesma circunstância correspondia perfeitamente a um conhecimento bem sólido, do ponto de vista histórico: o do costume romano de tornar espetaculares, para a satisfação do povo, as execuções dos condenados à morte. O cadáver dos executados, privado do direito de sepultura, era abandonado no lugar do suplício. Foi o que ocorreu a Pedro, levado à morte sem nenhuma distinção, entre muitos outros; só quando foi possível recuperar o corpo é que o apóstolo foi sepultado na terra, da maneira mais humilde – provavelmente às pressas, no lugar mais próximo à disposição.

A crucificação inverso capite de Pedro, entre as colinas do Gianículo e do Vaticano, Sancta Sanctorum, cerca de 1277-1280, Roma | 30Giorni

As relíquias que Margherita Guarducci identificou como sendo de Pedro foram reconhecidas como tais pelo papa Paulo VI, que, em 26 de junho de 1968, ligando-se às palavras pronunciadas em 1950 pelo papa Pio XII, anunciou a descoberta durante a audiência pública na Basílica Vaticana: “Novas pesquisas, feitas com extrema paciência e cuidado, foram realizadas nos últimos anos, chegando a um resultado que nós, confortados pelo juízo de pessoas competentes, valorosas e prudentes, acreditamos ser positivo: as relíquias de São Pedro também foram, enfim, identificadas, de um modo que podemos considerar convincente, pelo qual louvamos a quem empregou tamanho e tão longo estudo, e grande esforço. Não se esgotam, com isso, as pesquisas, as verificações, as discussões e as polêmicas. Mas, de nossa parte, parece-nos um dever, no presente estado das conclusões arqueológicas e científicas, dar a vós e à Igreja este anúncio feliz, obrigados como somos a honrar as sagradas relíquias, sufragadas por uma séria prova de sua autenticidade [...]; no caso presente, tanto mais solícitos e exultantes devemos ser, quando temos razões para considerar que foram encontrados os poucos, mas sacrossantos, restos mortais do Príncipe dos Apóstolos”.

Reintroduzidas no dia seguinte no lóculo do “muro g” (com exceção de nove fragmentos, que o Papa pediu e conservou em sua capela privada), as relíquias voltaram há poucos anos a ser expostas aos fiéis.

No que diz respeito aos lugares ligados a Pedro em Roma, é oportuno também assinalar a epígrafe do papa Dâmaso (366-384) na Memoria Apostolorum da Via Ápia ad catacumbas (hoje Basílica de São Sebastião), na qual podemos ler: “Quem quer que sejas, que buscas conjuntamente os nomes de Pedro e Paulo, sabe que esses santos aqui repousaram [habitasse] um tempo”. Com base nesse texto, e na presença de numerosas inscrições de invocação conjunta de Pedro e Paulo nas catacumbas, foi formulada a hipótese de um traslado temporário das relíquias dos dois fundadores da Igreja de Roma para esse lugar no período da perseguição iniciada pelo imperador Valeriano (258); mas, aqui, estamos apenas no campo das hipóteses de estudo.

Devemos lembrar ainda que, dentro das pesquisas realizadas por Guarducci, foi também feito o reconhecimento científico das relíquias que uma tradição medieval identificava como provenientes da cabeça de Pedro, presentes desde o século VIII no Sancta Sanctorum e para lá transferidas pelo papa Urbano V, em 16 de abril de 1369, no interior de um dos dois bustos que se encontram atualmente dentro do baldaquino da Basílica de Latrão. Os resultados desse reconhecimento não negam em nada, porém, a validade do reconhecimento das relíquias de Pedro sob a Basílica Vaticana.

Fonte: Fonte: https://www.30giorni.it/

Reflexão para o 15º Domingo do Tempo Comum (C)

Bom Samaritano (Vatican News)

A misericórdia promove a Vida. Ela não faz rodeios para salvar o ser humano. A Vida está em primeiro lugar.

Vatican News

A primeira leitura da liturgia de hoje nos fala da maravilha que é possuir uma lei feita por Deus e que, por isso mesmo, leva à Vida. Essa Lei está impregnada em nosso ser.

O Livro do Deuteronômio diz que ela “está ao seu alcance: está na sua boca e no seu coração”. Isso significa que não deveremos ficar presos a um código de regras, de prescrições, mas que nos entreguemos, sem reservas, à promoção da Vida.

No Evangelho, a parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus, deixa isso claríssimo. O Mestre dá a essa Lei um nome: misericórdia!

A misericórdia promove a Vida. Ela não faz rodeios para salvar o ser humano.

A Vida está em primeiro lugar. Salvaguardar a Vida, seja de quem for, é a Lei Máxima! E quando se fala em Vida não se restringe à vida física, mas se compreende também a moral, a psíquica, a espiritual.

Fala-se da Vida do Homem. Tudo deve estar subordinado a esse valor, porque Deus é Vida e Ele assim determinou que fosse. Por isso, matar alguém, física ou moralmente é um pecado grave.

Do mesmo modo é desconhecimento da revelação do Amor de Deus, qualquer atitude que demonstre falta de misericórdia. Está escrito: “Quero a misericórdia e não o sacrifício”.

Por que é um samaritano quem pratica a misericórdia na parábola contada por Jesus? Será que Jesus quer simplesmente incomodar os judeus? Não, não é nada disso. Ele até pode ter esse desejo, e certamente o tem, de alertar seus concidadãos. Mas a figura do samaritano, nesta parábola, tem o significado de ser alguém que desconhece um código de leis. Jesus quer destacar que esse homem nascido na Samaria agiu somente por causa de seu coração. Ele teve a sensibilidade de perceber a situação de miséria em que se encontrava o homem assaltado. Ajudou muito para que tivesse compaixão, sua origem samaritana, de marginalizado. Ele se identificou com o pobre coitado e agiu como Deus, isto é, teve compaixão. Segundo Lucas, somente Jesus tem compaixão. É um gesto eminentemente divino! O QUE É MEU É TEU!  QUERO QUE VOCÊ TENHA VIDA!

Podemos apreender o seguinte ensinamento: para alguns, a salvação está no cumprimento das leis; para outros, nos atos realizados dentro de um templo; para o samaritano, está em assumir a Vida e colocar-se a caminho dos que estão sendo privados dela. Ao se solidarizar com o marginalizado, o samaritano encontrou Deus e a verdadeira religião.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 12 de julho de 2025

Por que Moisés teria permitido o divórcio?

Drazen Zigic | Shutterstock

Dário Ramos - publicado em 11/07/25

Uma reflexão sobre matrimônio, divórcio e o princípio do tempos (Cf. Mt 19,1-9)

Alguns fariseus colocaram diante de Jesus um questionamento sobre o matrimônio: Se eles não poderiam repudiar suas mulheres, por que Moisés teria permitido o divórcio? Jesus dá uma resposta que remete ao início de nossa existência: “por causa da dureza do vosso coração, mas no princípio não era assim”. (Cf. Mt 19,1-9)

Quase todo dia os sites de fofoca noticiam rompimentos de namoros, noivados e casamentos entre celebridades. E foi notícia o divórcio de um cantor e uma influencer, famosos por compartilhar a rotina da vida a dois em suas redes sociais. O ‘ex-casal’ fez uma postagem para explicar o porquê da separação, o que causou grande repercussão.

O objetivo não é falar da vida deles ou dos motivos pelos quais eles podem ter se separado. Isso não cabe a ninguém, e poderia estar assumindo uma postura de juiz se fosse comentar sobre a vida pessoal deles. Não é o caso.

Me surpreendeu, no entanto, a reação dos fãs do casal, e sobre isso desejo refletir. Por que nos choca tanto um divórcio se é algo tão comum – no sentido de recorrente - em nosso cotidiano? Por que muitos fãs chegaram a comentar que estavam desiludidos com o amor se a todo o momento recebemos notícias de términos de relacionamentos? Cristo responde: no princípio não era assim.

Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. O papa João Paulo II vem nos ensinar em sua obra que não só o homem sozinho é imagem e semelhança de Deus, mas de forma especial o casal, a comunhão entre homem e mulher -communio personarum-, por serem uma imagem daquilo que Deus é, ou seja, uma comunhão de amor (Pai – Filho – Espírito Santo).  

E não para por aí: a união do casal ainda nos fala sobre aquilo que viveremos um dia no céu, a comunhão eterna com Deus. É claro que, o pecado original e a inclinação que herdamos dele não nos permite ver plenamente esta realidade (esta é a dureza dos nossos corações).

Cada vez que um casal se separa, portanto, não ficamos desiludidos com o casal em si. O divórcio nos causa um impacto porque nos comunica uma mentira: “não é possível viver uma comunhão de amor”. É fato que não conseguimos vivê-la perfeitamente nesta terra. Mas o matrimônio, neste sentido, não quer nos falar só sobre esta terra, quer nos apontar para o que viveremos no céu, a eterna comunhão com Deus.

Ficamos frustrados porque, ao vermos um casal se separando, a analogia que Deus encontrou para nos dizer que fomos feitos para Ele e criados para amar acaba sendo violentada. A história que Deus deseja nos contar por meio de cada casal é interrompida. E nossos corações vão se tornando mais duros e passam a acreditar na mentira que nos é contada. As consequências? Paramos de acreditar na união aqui na terra, e em seguida, na união com Deus no céu.

Mas, não podemos nos esquecer de que é possível e que outros já viveram a união da terra como meio para chegar à união do céu. É o caso de Luís e Zélia Martin (os pais de Teresa de Lisieux e outras 4 religiosas), dos pais de João Paulo II (o casal Wojtyla) cujo processo de beatificação está em andamento e do casal italiano Luigi e Maria Beltrame - os primeiros a serem beatificados juntos. 

Todos esses encontraram no matrimônio um caminho que os levou à comunhão eterna com Deus. A pequena trindade (eis aqui uma analogia) na terra levou cada integrante destas famílias a experimentarem a comunhão com a Trindade no céu.

O divórcio nos choca porque tenta nos convencer de que não fomos criados para uma comunhão, nem nesta terra e nem no céu. A história interrompida volta a ser contada a cada vez que alguém permite que Cristo alcance com a sua redenção o coração duro e o encaminhe para os seus desígnios de amor. Através destes o próprio Deus nos revela esta grande verdade: fomos criados para nos unirmos a Ele. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/07/11/por-que-moises-teria-permitido-o-divorcio/

Almas de Oração (Parte 2/2)

Almas de Oração | Opus Dei

Almas de Oração

Assim como Jesus Cristo frequentemente se retirava sozinho para falar com seu Pai Deus, nós também precisamos de algum tempo diário dedicado a falar com Deus. Esses momentos de silêncio são onde nossa amizade com Jesus Cristo se desenvolve e cresce, por meio de conversas simples, nas quais abrimos nossas almas para Ele.

03/07/2025

O momento de ouvir Deus

É comum que, em algumas ocasiões, seja fácil perceber a presença de Deus, por exemplo, diante de uma experiência muito positiva ou em momentos de meditação. Em outros, será difícil “ouvir Deus”. O que fazer, então? Uma primeira questão é perguntar-nos por que nos custa ouvi-lo nesses momentos, pois é possível que – por inúmeras razões: agitação, acúmulo de tarefas, um certo descuido, etc. – nos falte a disposição adequada para interpelar o Senhor. Esse estado interior pode, inclusive, refletir-se nas relações com os demais, também com uma dificuldade para a escuta. Por isso, podemos perguntar-nos: Como procuro escutar de modo habitual as pessoas que estão ao meu redor? Será que pretendo ouvir Deus quando não sou muito capaz, agora mesmo, nem de ouvir as pessoas? Assim nos aconselha o Papa Leão: É importante que todos aprendamos cada vez mais a escutar, para entrar em diálogo. Em primeiro lugar, com o Senhor: escutar sempre a Palavra de Deus. Depois, também escutar os demais: saber construir pontes, saber escutar para não julgar, não fechar as portas, pensando que nós temos toda a verdade e que ninguém mais pode nos dizer nada[8]. Este é um bom caminho para acostumar nosso ouvido à escuta: evitar ficar fechados em nós mesmos e em nossas ideias, evitar ceder ao excessivo ruído interior pela hiperatividade em que vivemos, ou pela saturação de inputs que recebemos diariamente pelas redes sociais, a música, os jogos, etc. Neste sentido, se aspiramos a ter vida de oração, é necessário educar e treinar nossos sentidos externos e internos para despertá-los e para que nos levem à união com Deus. A isso também contribui o cultivar o silêncio interior com boas leituras (tanto de espiritualidade como literárias), contemplar a natureza, descobrir a beleza nas coisas pequenas, e não pretender encher todo o tempo de atividade. O Espírito Santo habita em nós e, por isso, necessitamos descobrir modos para que, no espaço interior de nossa alma, possamos receber suas inspirações e, portanto, ouvir a voz de Deus.

Suponhamos que já estamos colocando esses meios... Como podemos agora ouvir o que Deus quer nos dizer? Ainda que Ele fale como quer e quando quer, da nossa parte podemos recorrer a um recurso essencial: a Palavra de Deus! Esse é um modo privilegiado para conhecer a sua vontade. Recorrer ao testamento que Ele deixou em nosso nome por meio dos evangelistas é o principal ensinamento da Igreja, pois “o que é a Sagrada Escritura, senão uma carta de Deus onipotente à sua criatura?”[9]. Não há guia melhor para a oração e para a própria vida do que a Vida de Jesus Cristo. “Quando abrires o Santo Evangelho – aconselhava são Josemaria -, pensa que não só deves saber, mas viver o que ali se narra (...). Tudo, cada ponto que se relata, foi registrado, detalhe por detalhe, para que o encarnes nas circunstâncias concretas da tua existência. (...) Nesse Texto Santo, encontras a Vida de Jesus; mas, além disso, deves encontrar a tua própria vida”[10]. Se vamos à oração com desejo de cultivar nossa amizade com Jesus Cristo, nada nos ajudará tanto a conhecê-Lo e a tratá-Lo, a identificar-nos com Ele, como a leitura e meditação do Evangelho.

Logicamente, segundo o estado da nossa alma, será conveniente que variemos nosso modo de rezar se começa a se tornar difícil, monótono, quando nos custa mais usar a imaginação ou converter o ruído interior que talvez tenhamos numa parte da nossa oração. Às vezes, pode nos ajudar permanecer em atitude de adoração, agradecer por tantas coisas, ler algum artigo ou livro de espiritualidade sobre um tema que nos interessa, saborear alguma oração vocal como o Pai Nosso, pedir pelo que nos preocupa ou necessitamos, ou simplesmente estar a sós com quem sabemos que nos ama[11], olhando para o Sacrário – que Ele veja que O estamos procurando-, manifestando assim o quanto O amamos, e que não O abandonamos diante da primeira dificuldade. Em qualquer caso, o Senhor nos convida a não estagnar, a não nos conformar, pois deseja aumentar a intimidade conosco; por isso, a oração está chamada a ser algo vivo.

Precisamente na obra de São Rafael, contamos com um meio orientado a ensinar-nos a ser almas de oração: as meditações. Estes momentos de oração acompanhados pela pregação de um sacerdote, aos quais podemos recorrer semanalmente, podem guiar nossa oração pessoal, abrir-nos horizontes, ensinar-nos a entrar nas cenas do Evangelho, etc., ainda que nunca substituam o esforço que temos de colocar pessoalmente, pois a oração, afinal de contas, é de tu a Tu, no silêncio da nossa alma.

A oração, uma necessidade vital

No conjunto dos meios de formação que há na Obra, a oração pessoal é a chave para que tudo o que recebemos penetre em nossa alma: nela nos detemos para falar com o Senhor sobre o que ouvimos no círculo e aplicá-lo na nossa vida; ali preparamos nossas conversas de direção espiritual e voltamos para assumir como próprios os conselhos que nos deram; dela sai nosso desejo de corresponder ao Senhor, sendo mais generosos através das nossas contribuições econômicas, dando nosso tempo nas visitas aos pobres ou na catequese; ali se acende nosso desejo de fazer com que outras pessoas se aproximem d'Ele, etc.

Pouco a pouco, a oração se converte em uma necessidade vital, ao ser expressão da amizade com Jesus Cristo, até o ponto de notarmos que, quando a abandonamos, o resto não anda, pois na oração se renova a missão que o Senhor nos confia e, por isso, ela é o motor da nossa vida. Quando nos deixamos guiar por Ele, “ajuda-nos a crescer até nos tornarmos ‘carta de Cristo’ (cf. 2 Cor 3, 3) uns para os outros. E é exatamente assim: somos tanto mais capazes de anunciar o Evangelho, quanto mais nos deixamos conquistar e transformar por ele, permitindo que a força do Espírito nos purifique no íntimo, torne simples as nossas palavras, honestos e transparentes os nossos desejos, generosas as nossas ações”[12].


[8] Leão XIV, Homilia, 11-05-2025.

[9] Gregório Magno, Carta a Teodoro médico do Imperador, Ep. V, 46 (CCL 140, 339).

[10] São Josemaria, Forja, 754.

[11] Cfr. Santa Teresa de Jesus.

[12] Leão XIV, Homilia na Celebração Eucarística e tomada de posse da Cátedra Romana como Bispo de Roma, 25.05.2025.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/almas-de-oracao/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF